EDIÇÃO 71

JAN 2023

ANO 08

Entrevista com Edmilson Costa, Páginas

6e7
Secretário-Geral do PCB
 Janeiro 2023 - Ano 08

EDITORIAL

A vitória eleitoral de Lula
representou importante conquista
das forças populares e democráti-
cas, possibilitando que as batalhas
da classe trabalhadora ocorram em
melhores condições no próximo
período, para o enfrentamento à
agenda neoliberal e aos eventuais
ataques a direitos políticos e sociais,
bem como permitindo um novo
ambiente político no país que abra
espaços à luta organizada na pers-
pectiva do poder popular e do socia-
lismo.
Os últimos anos foram terrí-
veis para o povo brasileiro. O gover-
no Bolsonaro realizou permanente
ataque aos trabalhadores e às traba-
lhadoras, indígenas, quilombolas e à
juventude pobre e preta das perife-
rias, tendo sido o principal responsá-
vel pelas mais de 680 mil mortes na
pandemia. Legalizou o uso de armas,
especialmente para suas milícias,
desenvolveu uma política de ódio
junto à população, uma pauta de
costumes ultrarreacionária, incenti-
vou o racismo, o preconceito contra
as mulheres, os nordestinos, gays,
além de ter promovido a destruição
do meio ambiente.
Essa foi uma vitória impor-
tante, mas não podemos nos conta-
minar pela euforia porque os próxi-
mos meses e anos serão marcados
pelo acirramento da luta de classes.
A derrota eleitoral da extrema direi-
ta não encerra a crise orgânica do
capitalismo brasileiro, que se
expressa na crise econômica, social
e política atual. Afinal, a composição
da ampla aliança construída pelo PT
expressa mais uma vez a conciliação
com a burguesia brasileira e com o
capitalismo.
A posição do PCB será de
total independência política e firme
oposição à continuidade das políti-
cas neoliberais, na luta pela defesa e
ampliação das liberdades democrá-
ticas e dos direitos da classe traba-
lhadora. No nosso entendimento,
para a esquerda socialista, não há
“governo em disputa”, pois os com-
promissos principais do PT e de Lula
são com frações burguesas, as quais,
estas sim, terão protagonismo na
disputa em torno das iniciativas do
futuro governo. Nossa postura será
a de pressionar por meio das mobili-
zações de massas a adoção de políti-
cas por mudanças estruturais e de
atendimento aos interesses e neces-
sidades da classe trabalhadora.
Propomos a reorganização
da classe trabalhadora, para o que
será fundamental a realização do
ENCLAT. Manteremos a atuação nas
frentes nacionais e a unidade de
ação nas lutas populares, priorizan-
do a participação no Fórum Sindical,
Popular e de Juventudes, ao mesmo
tempo em que será necessário arti-
cular a estruturação de uma ampla
frente nacional capaz de reunir os
mais combativos movimentos e
organizações que abracem o progra-
ma de lutas em favor dos interesses
e necessidades da classe trabalha-
dora.
Defendemos a organização
de um Plebiscito Popular pela revo-
gação das contrarreformas neolibe-
rais e seguimos agitando as propos-
tas apresentadas durante a campa-
nha eleitoral: punição exemplar a
Bolsonaro e todos os golpistas, fim
do teto de gastos, revogação da Lei
de Responsabilidade Fiscal, defesa
da Responsabilidade Social, jornada
de 30 horas semanais, combate ao
desemprego, à fome e ao agronegó-
cio, reforma agrária popular, reesta-
tização das empresas estratégicas,
defesa da Petrobras 100% estatal,
educação e saúde públicas e estata-
is, programa para ciência e tecnolo-
gia, direito à moradia, transporte,
segurança pública, cultura, política
de combate às opressões e revisão
da Lei de Anistia.

O Poder Popular, Um jornal a serviço das lutas populares e do socialismo.

órgão oficial do Partido Comunista Brasileiro (PCB)
Conselho Editorial Edmilson Costa, Antônio Lima Jr., Gabriel Landi, Lucas Silva, Nathália Mozer,
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 Janeiro 2023 - Ano 08
AVANÇAR NAS LUTAS E CONSTRUIR A UNIDADE
DA CLASSE TRABALHADORA EM 2023
Apesar da derrota eleitoral
do fascismo, representado pela figu-
ra obscurantista de Bolsonaro, o ano
de 2022 se encerra com muitos desa-
fios à classe trabalhadora brasileira.
A crise econômica, a pobreza, a
fome, o desemprego, a precarização
das relações de trabalho e das condi-
ções de vida se mantém e se mante-
rão devido às consequências da crise
estrutural e sistêmica do capitalis-
mo.
A vitória de Lula consagrou
essa derrota eleitoral e construiu a
perspectiva de um governo menos
hostil, porém a agitação golpista
continua e a prática da conciliação
de classes petista indica que a con-
cretização de direitos só poderá ser
alcançada com a organização e pres-
são da classe trabalhadora.
Para combater o processo de
destruição da educação, saúde, pre-
vidência públicas, moradia, trans-
porte, as contrarreformas, o teto de
gastos e a precarização será neces-
sário que estiquemos a corda e cons-
truamos as mobilizações contra o
fascismo e o golpismo e pela amplia-
ção de direitos. Para que possamos
impulsioná-las, é mais do que neces-
sário construir fóruns e frentes de
luta regionais, com destaque para o
UNIDADE CLASSISTA
Fórum Sindical, Popular e da Juven-
tude de Luta por Direitos e Liberda-
des Democráticas, que precisa ser
enraizado em todos os estados e no
distrito federal.
Além disso, a crise estaduni-
dense tem causado uma maior insta-
bilidade geopolítica com uma cres-
cente agressividade do imperialis-
mo, o fortalecimento e expansão da
OTAN, uma nova corrida armamen-
tista, o ressurgimento e o fortaleci-
mento do fascismo nos países cen-
trais e periféricos.
O crescimento do fascismo e
o movimento neonazista organiza-
do provocaram vários ataques e
assassinatos recentemente nas ruas
e nas escolas, ilustrando que a derro-
ta eleitoral não intimida os fascistas
e que precisamos da unidade anti-
fascista, construindo a autodefesa
da classe e a possibilidade de uma
contraofensiva.
Desta forma, amplia-se a
necessidade de redobrarmos os
esforços para construir a unidade da
classe trabalhadora e promover as
lutas e greves do próximo ano, avan-
çar na ainda mais na mobilização dos
trabalhadores, sindicatos, movi-
mentos populares e a juventude nos
03
locais de trabalho, moradia e estudo
com a perspectiva do Poder Popular.
É preciso fortalecer a luta
contra as privatizações das empre-
sas e dos serviços sociais públicos,
por uma lei de responsabilidade
social, pela redução da jornada de
trabalho sem redução salarial, a luta
pela legislação social e sindical para
os trabalhadores de plataformas, a
promoção da agenda socioambien-
tal dos trabalhadores, a proteção e
ampliação dos direitos sexuais e
reprodutivos das mulheres, as cam-
panhas pela revogação de todas as
contrarreformas, junto com a cons-
trução de um encontro nacional da
classe trabalhadora – ENCLAT. Em
resumo, devemos enfrentar ao
mesmo tempo as forças da ultradi-
reita, as políticas neoliberais, junto
com os planos do imperialismo e as
oligarquias locais para construirmos
e enraizarmos junto aos diversos
setores da classe trabalhadora a
urgência das lutas e o programa ime-
diato e histórico da classe trabalha-
dora.
AVANTE, CAMARADAS!
UNIDADE CLASSISTA,
FUTURO SOCIALISTA!

O QUE É E O QUE FAZ A
MILITÂNCIA COMUNISTA?
1. A militância comunista é
uma forma de militância política
organizada num partido revolucio-
nário de tipo leninista, cujo principal
objetivo é a construção de um
mundo sem opressões, sem classes
sociais e sem o controle político do
estado. A esse tipo de sociedade,
denominamos comunista, que na
compreensão leninista só pode ser
alcançada através de uma revolução
socialista encabeçada pela classe
trabalhadora e sua vanguarda (parti-
do comunista), que fará a transição
entre o capitalismo e o comunismo.
2. O comunista sabe vincular
a teoria revolucionária à prática con-
creta em que atua, com profunda e
sistemática ligação com as massas
populares, tirando lições dessas
experiências, desenvolvendo nossa
força combativa.
3. A militância comunista, em
qualquer lugar que esteja, deve
estar vinculada em alguma medida à
vida da classe trabalhadora.
4. O revolucionário comunis-
ta não pode se propor apenas a ensi-
nar às massas populares, mas sim ao
TEORIA E PRÁTICA
mesmo tempo deve aprender e
saber ser discípulo destas. Todos os
seus passos levam a marca, a histó-
ria, a memória e a integridade do
povo trabalhador, pois o comunista
sabe que só um estreito vínculo com
os trabalhadores e trabalhadoras
contribui para sua verdadeira educa-
ção política.
5. Um comunista deve possu-
ir uma dose saudável de modéstia
revolucionária. Essa é uma qualida-
de que tem mais importância do que
à primeira vista pode parecer. A
modéstia abre caminhos e fortalece
vínculos no trabalho coletivo, pois
devemos lembrar que nem mesmo
Marx, Engels e Lenin fizeram tudo
sozinhos.
6. A consciência coletiva e o
espírito de trabalho em grupo é a
energia fundamental para as pesso-
as que integram a vanguarda revolu-
cionária. Esse espírito coletivista,
que é lastreado pela modéstia e
camaradagem, deve se converter
em um combustível para a militância
revolucionária.
7. A militância comunista
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Janeiro 2023 - Ano 08
nunca deve esquecer o sentido do
título que usamos: camaradas. Pois a
camaradagem trata-se de sermos
enérgicos, rigorosos, disciplinados,
comprometidos, porém, sem per-
dermos jamais a solidariedade, o
respeito, a sinceridade e a fraterni-
dade, seja com a classe trabalhadora
e as massas populares, seja com nos-
sos camaradas de trincheiras e lutas.
8. Os comunistas sabem que
a convicção e a preparação ideológi-
ca não valem nada sem uma coeren-
te conduta prática, caso contrário
vira academicismo/pedantismo.
Mas uma conduta prática positiva
(que deve evitar o simples tarefis-
mo) é insuficiente se não estiver
acompanhada de uma preparação
ideológica revolucionária.
9. O comunista deve colocar
em prática uma política de paciência
e serenidade, evitando que esta se
transforme em uma política de
negligência, de “passar pano”. Ser
paciente sem ser negligente, sem
deixar passar em branco os proble-
mas e possíveis violações de princípi-
os, seja na política, seja na organiza-
Janeiro 2023 - Ano 08

ção ou no trabalho de massas cotidi- plo do trabalho concreto e da histó- adiante na consciência de classe do
ano. ria de luta do proletariado, o acerto povo brasileiro em direção a derru-
10. Somos permeados por das suas posições. Sem ceder a bai- bada deste sistema que tira nosso
questões pessoais e somos frutos da xarias, ofensas e à pequena política. sangue, suor e lágrimas. Entretanto,
sociedade em que vivemos, mas É preciso qualificar o debate político sabemos que é necessário sempre e
através do trabalho de massas, da sempre, mas não para responder ao sempre vincular esses combates à
formação ideológica, do convenci- insulto com outro insulto, não para vitória final contra a exploração,
mento político e dos princípios mar- cair em armadilhas e picuinhas, e sim dando uma perspectiva classista a
xistas-leninistas, é nosso dever colo- para demonstrar nossa serenidade e essas lutas, sem sufocá-las ou dimi-
car os interesses da causa revolucio- a justeza da causa revolucionária nuí-las, mas ao contrário, contribuin-
nária, do povo trabalhador brasileiro para emancipar a humanidade. do para elevá-las ao máximo.
explorado e oprimido acima dos 14. A militância revolucioná- 16. A militância revolucioná-
nossos interesses particulares. ria sabe que é preciso extrema flexi- ria sabe que a política de indepen-
11. Os militantes comunistas bilidade tática, de mediações, de dência de classe do proletariado,
devem saber ajudar seus camaradas formas de conquistar corações e perante os interesses do grande
a reconhecerem suas falhas e suas mentes do povo trabalhador brasile- capital e da burguesia, faz parte dos
debilidades. Porém, entendendo iro, entretanto, sabe também que a princípios fundadores da causa
que um comunista não deve ser com- defesa dos princípios revolucionári- comunista, entretanto, mediações e
preensivo por tática, por simples os e o horizonte socialista são irre- formas pequeno-burguesas de enca-
conveniência, e sim porque assim o nunciáveis para a construção da revo- rar essa independência podem levar
exigem os princípios revolucionári- lução brasileira e do fim da explora- ao descolamento do nosso povo.
os, procurando não “pesar a mão” de ção do ser humano. Sacrificar esses Portanto, devemos estar sempre
maneira desproporcional nas falhas princípios pelos interesses imedia- alertas, vigilantes e trabalhando
e erros de seus camaradas. tos ou por políticas de manutenção para diminuir ao máximo essas con-
do sistema levaram à ruína uma série taminações.
1 2 . O s c o m u n i s t a s n ã o de lutas e organizações revolucioná-
devem ser desmedidos nem no pes- rias pelo mundo. 17. De norte a sul e no país
simismo nem no otimismo, utilizan- inteiro, os comunistas estarão lado a
do de maneira sábia e equilibrada o 15. A militância comunista lado, estimulando, organizando,
pessimismo da razão e o otimismo sabe que as lutas contra as opres- educando e potencializando as lutas
da vontade. sões são parte fundamental e indis- do proletariado brasileiro.
sociável da luta de classes de manei-
13. Os comunistas sabem ra geral e na América Latina em par-
que, na discussão política, devem ticular. Cada combate e pequena
ser empregados os termos mais vitória contra o machismo, a lgbtfo-
objetivos e coerentes, demonstran- bia, contra os ataques aos povos
do, no debate das ideias, no exem- originários e o racismo, é um passo Leia na íntegra o artigo
de Lucas Silva em :

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POLÍTICA NACIONAL

“Crise brasileira não será resolvida

com medidas paliativas ou
A conciliação
LUTA de classe”
ANTIFASCISTA
nem com medidas paliativas.
CONTRA OPP: O que representou a
vitória eleitoral de Lula e o que
BOLSONARO podemos esperar do novo gover-
no?
E O CAPITAL Edmilson: O dia 30 de outu-
bro pode ser considerado uma data
histórica no Brasil, porque neste dia
a maioria do povo brasileiro sentiu
um enorme alívio por ter derrotado
eleitoralmente o neofascismo. Não
foi uma tarefa fácil porque o inimigo
utilizou de todas as manobras para
continuar no poder, tais como o uso
Entrevista com Edmilson Costa, baixos salários, especialmente com escancarado da máquina governa-
Secretário-Geral do Partido Comu- o golpe militar de 1964, que apro- mental para ganhar votos, a libera-
nista Brasileiro (PCB) fundou a miséria no país. O processo ção de benefícios assistenciais às
de desigualdade social se acelerou vésperas das eleições, a rede de igre-
de maneira acentuada com a implan- jas pentecostais transformando o
O Poder Popular: Você tem tação do neoliberalismo a partir do púlpito em comitê eleitoral, uma
afirmado em artigos e pronuncia- início da década de 90 e chegou a milícia especializada em espalhar
mentos que o Brasil vive hoje uma níveis dramáticos após o golpe de fake news contra a oposição, além
crise orgânica. No que consiste 2016, especialmente com o governo da Polícia Rodoviária Federal reali-
essa crise? Bolsonaro. zando blitzen nos Estados do Nor-
Edmilson: Em primeiro deste, onde Lula tinha grande vanta-
A crise econômica e social se gem, para intimidar eleitores, difi-
lugar, o país registra há quatro déca- tornou mais grave em função da
das um processo de estagnação eco- crise sistêmica do capitalismo mun- cultar a votação e reduzir o número
nômica, com impactos devastado- dial, cujos reflexos no Brasil foram de votantes. A eleição de Lula criou
res, um processo de regressão bastante severos, levando à grave grandes expectativas na militância e
industrial, atraso em relação às fron- crise política, particularmente quan- nos movimentos sociais e populares.
teiras tecnológicas do capitalismo do o boom das commodities desace- Caso não sejam contempladas, have-
atual, como tecnologias da informa- lerou e as classes dominantes brasi- rá muita frustração e poderá ocorrer
ção, inteligência artificial, engenha- leiras exigiram um ajuste econômico uma mudança de ânimo desses movi-
ria genética e biotecnologia, nano- e social radical do governo do Parti- mentos em direção à luta, até
tecnologia, microeletrônica, entre do dos Trabalhadores, o qual, em mesmo porque ainda se guarda na
outros. Essa regressão abriu espaço função de sua base social, não esta- memória o estelionato eleitoral do
para o aumento da influência dos va em condições de realizar na velo- segundo governo Dilma, quando um
setores agrário-exportadores, bem cidade e profundidade exigida pelo banqueiro foi nomeado para a
como àqueles ligados às atividades chamado mercado. Foi nessa con- Fazenda e implementou a política
baseadas na renda da terra, na eco- juntura que a burguesia organizou o neoliberal com os resultados que
nomia e na política do país. Segun- golpe, tendo como mote a surrada todos conhecemos. Essa tensão
do, um dos impactos mais dramáti- luta contra a corrupção encabeçada constante entre a burguesia queren-
cos dessa estagnação pode ser veri- pela Operação Lava a Jato. Em sínte- do preservar seus interesses e o
ficado na área social. O desenvolvi- se, a crise brasileira não é uma sim- movimento social e popular buscan-
mento industrial brasileiro foi reali- ples crise cíclica, mas uma crise orgâ- do mudanças marcará o governo
zado com enorme restrição salarial, nica profunda que não pode ser Lula ao longo dos próximos quatro
o que resultou numa economia de resolvida com a conciliação de classe anos, numa conjuntura que sofrerá

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ainda a presença nefasta das forças
de extrema-direita.
OPP: Como operar o desa-
fio de manter a luta contra o fas-
cismo e pressionar o novo gover-
no a garantir os direitos da classe
trabalhadora?
Edmilson: A derrota eleito-
ral de Bolsonaro foi apenas o primei-
ro passo da luta contra o bolsonaris-
mo que, como expressão política
organizada, é um fenômeno novo na
sociedade brasileira. Trata-se de
uma organização criminosa com
largos tentáculos internacionais,
conta com apoio expressivo de seto-
res da burguesia, entre parcela dos
militares e, inclusive, em setores do
proletariado e das camadas médias.
Possui aparato financeiro expressi-
vo, uma estrutura de comunicação
digital extraordinária e apoio nas
igrejas pentecostais e católicas con-
servadoras. Não hesita em promo-
ver badernas, violência, provoca-
ções, disseminar fake news para
atingir seus objetivos e tumultuar a
conjuntura. Não podemos combatê-
lo com os mesmos métodos usados
contra a velha direita e muito menos
imaginar um combate apenas na
esfera institucional. O combate a
essa extrema-direita deve ser feito
com a pressão organizada das mas-
sas nas ruas, nos locais de trabalho,
moradia e estudo. Só as massas nas
ruas têm condições não só de com-
bater o bolsonarismo, mas especial-
mente de mudar a correlação de
forças em favor dos interesses popu-
lares.
De nossa parte, faremos
todo o possível para colocar bem
alto a palavra de ordem das massas
nas ruas para realizar as mudanças e
abrir espaço para as transformações
sociais. Só uma mudança clara na
correlação de forças em favor das
classes populares será capaz de abrir
espaço para a realização das mudan-
ças profundas de que o povo traba-
lhador necessita. Essa mudança só
pode ocorrer quando milhões deci-
direm colocar na ordem do dia os
seus interesses, quando milhões
forem capazes de impor nas ruas e
07
nos locais de trabalho a força de sua
maioria social. Esta não é uma tare-
fa fácil, mas se não colocarmos
como tarefa central da esquerda
nessa nova conjuntura a luta pela
mudança na correlação de forças,
mais uma vez veremos ocorrer o
pacto das elites tão comum em
nosso país.
OPP: Como os comunistas
do PCB estão se preparando para
atuar nesta nova conjuntura?
Edmilson: Nessa nova con-
juntura é fundamental a reorgani-
zação do movimento sindical, que
hoje não está mais à altura da
necessidade da luta de classes, bem
como é importante a reorganização
dos movimentos de juventude e de
suas entidades, de forma que pos-
sam ter o mesmo papel histórico
que tiveram nos momentos mais
definitivos da história do país. A
reconstrução do movimento operá-
rio e popular é parte fundamental
da construção de um grande movi-
mento organizado de massas.
É necessário ousadia revolu-
cionária, muito trabalho de base,
aliado a uma plataforma concreta
com bandeiras de luta que falem
diretamente sobre as necessidades
mais urgentes das massas, que bus-
que organizá-las para o combate ao
capital, apresentando as propostas
estratégicas que apontem no senti-
do das transformações estruturais.
Os comunistas deverão intensificar
o trabalho de base junto aos traba-
lhadores, em aliança com outras
organizações de esquerda, na pers-
pectiva da construção de uma fren-
te social e política classista que
reúna todos os movimentos sociais,
populares e de juventude que este-
jam dispostos a disputar nas ruas e
locais de trabalho o destino da nova
conjuntura brasileira. No que se
refere especificamente aos comu-
nistas, é fundamental colocar em
movimento todo o Partido e nossos
Coletivos de luta para cumprir essa
tarefa histórica que a luta de classes
está nos colocando. Tenho absoluta
confiança de que a nossa militância,
mais uma vez, estará à altura desse
novo desafio. Ousar lutar, ousar
vencer!
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100 ANOS DA UNIÃO SOVIÉTICA

A URSS e a
superioridade
do Socialismo

Pioneiros no acampamento Artek, 1963 - Sputnik

O dia 30 de dezembro mar- Bretanha isto só veio a acontecer em Descanso e lazer não eram um privi-
cou o 100º aniversário da funda- 1918; nos EUA, em 1920 e na França, légio, mas um direito constitucional.
ção do primeiro estado operário em 1944. O estado socialista forneceu uma
do mundo. A criação da União das Na Rússia soviética, de 1917 grande rede de institutos culturais e
Repúblicas Socialistas Soviéticas a 1920, quase 4 milhões de mulhe- esportivos gratuitos que estavam à
foi o resultado prático da Grande res aprenderam a ler e a escrever, disposição do povo. A primeira casa
Revolução de Outubro de 1917, o enquanto de 1922 a 1928 as repre- de lazer foi construída em Peters-
evento mais importante da histó- sentantes femininas nos sovietes burgo (Leningrado) em 1920, sendo
ria moderna. aumentaram 9 vezes (830.700 tra- uma iniciativa do próprio V.I.Lenin.
balhadoras e agricultoras). Durante No início de 1940, já existiam 3.600
casas de lazer que podiam atender a
Em seus 69 anos de existên- a década de 1970, enquanto nos quase 470.000 trabalhadores,
cia, apesar de todas as falhas, fra- Estados Unidos apenas 5% dos mem- enquanto na década de 1980 havia
quezas e erros existentes, a União bros do governo federal e dos mais de 14.000 centros de lazer e
Soviética provou a superioridade do governos estaduais eram mulheres, férias para 45 milhões de pessoas.
sistema socialista sobre o capitalis- 35,6% dos membros do Soviete
mo, promovendo conquistas sem Supremo eram mulheres. Na União
precedentes para a humanidade em Soviética foram estabelecidas leis Saúde e Educação
todas as áreas da vida social. Pela especiais para proteger as mulheres
primeira vez na história, sob a lide- trabalhadoras durante o período de Na União Soviética havia uma
rança do Partido Comunista, foi gravidez: 4 meses de licença mater- ampla rede estatal de saúde, que
alcançada uma organização social nidade com salário integral para fornecia serviços médicos gratuitos
superior, radicalmente diferente de cada mulher. para toda a população. Antes da
todos os sistemas anteriores. Revolução de Outubro, na Rússia
Direitos dos trabalhadores czarista, a expectativa de vida era de
Direitos das Mulheres apenas 32 anos. Depois de 1917, em
poucos anos, a expectativa de vida
Na União Soviética havia trabalho aumentou para 44 anos (1920). Em
A grande Revolução de Outu- estável e permanente para todos, a 1987, a URSS tinha a mesma taxa de
bro de 1917 abriu caminho para a semana de trabalho era uma das expectativa de vida do mundo oci-
emancipação social e a libertação mais curtas do mundo, e todos dental (69 anos).
das mulheres da classe trabalhado- tinham direito ao lazer semanal, Durante a construção socia-
ra. Antes, na Rússia czarista, a com subsídios anuais estáveis e inte- lista, o número de médicos de todas
mulher estava sujeita a várias discri- grais. A Previdência Social dos traba- as especialidades aumentou rapida-
minações de classe e sexo: 80% lhadores era prioridade absoluta do mente, enquanto a mortalidade
delas ganhavam metade do salário Estado socialista. Um sistema abran- i n f a n t i l ( q u e n a R ú s s i a p r é -
de seus colegas do sexo masculino, e gente de benefícios de aposentado- revolucionária era um grande pro-
87% não sabiam ler e escrever. Um ria foi criado com a importante con- blema) diminuiu 10 vezes. Em mea-
dos primeiros decretos da Revolu- quista de baixas idades de aposenta- dos da década de 1980, aproximada-
ção foi conceder plenos direitos doria (55 anos para mulheres e 60 mente 160 milhões de pessoas pas-
políticos às mulheres; na Grã- anos para homens). savam por exames de saúde preven-

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tivos anuais, enquanto mais de 35
milhões estavam sob monitoramen-
to médico constante e gratuito.
Durante o mesmo período, existiam
na União Soviética mais de 28.000
enfermarias estatais para mulheres
e crianças.
Uma conquista única da cons-
trução do socialismo na União Sovié-
tica foi a completa eliminação do
analfabetismo e o rápido aumento
do nível educacional. Antes da Revo-
lução de Outubro de 1917, apenas
37,9% dos homens de língua russa e
12,5% das mulheres de língua russa
sabiam ler e escrever. Desde o início,
o governo soviético fez um esforço
colossal para eliminar o analfabetis-
mo. Aproximadamente 50 milhões
de adultos aprenderam a ler e escre-
ver nos anos entre 1920-1940; em
1937, 75% da população total sabia
ler e escrever. Na década de 1960, o
analfabetismo havia sido completa-
mente eliminado.
O programa educacional
soviético garantia educação gratuita
para todas as crianças, educação
pré-escolar, educação universitária
gratuita e acessível à classe trabalha-
dora e aos agricultores, creches
públicas, escolas primárias e secun-
dárias. De 1918 a 1990, mais de 135
milhões de russos concluíram o ensi-
no superior. Enquanto no mundo
capitalista o direito à educação se
tornava objeto de lucratividade e
privatizações, na URSS os estudan-
tes tinham livre acesso a todos os
níveis educacionais. Não havia taxas
no ensino superior da União Soviéti-
ca e, além disso, havia acesso total
ao seguro médico, bem como a vári-
os esportes e eventos culturais.
Ciência e Cultura
Não há nenhum setor da
ciência durante o século 20 em que a
União Soviética não tenha sido uma
força de liderança. A cada ano, 20%-
25% das invenções em todo o mun-
do, em quase todos os aspectos da
tecnologia, pertenciam à URSS. O
primeiro ser humano a viajar para o
espaço foi um cidadão soviético,
Yuri Gagarin. Vladimir Demikhov, um
médico soviético, foi um pioneiro no
transplante de órgãos vitais. O físico
soviético Grigoriy Ayzenberg foi o
inventor da antena de rádio,
enquanto Yuri Denisyuk inventou a
holografia 3D. O cientista soviético
Igor Kurchatov e sua equipe esta-
vam por trás do desenvolvimento da
primeira usina nuclear.
A União Soviética foi o lar de
algumas das figuras mais emblemá-
ticas das artes do século 20: compo-
sitores como Sergei Prokoviev, Dmi-
tri Shostakovich, Aram Khachaturi-
an, autores e poetas como Maxim
Gorky, Vladimir Mayakovsky, cineas-
tas icônicos como Andrei Tarkovsky
e Sergei Eisenstein, dançarinos, pin-
09
tores, esculturas, atores, etc. Uma
enciclopédia inteira não é suficiente
para incluir a imensa contribuição da
União Soviética nas ciências, na cul-
tura e nos esportes.
A URSS provou a superioridade
do socialismo sobre o
capitalismo
Ao contrário da barbárie
capitalista, o sistema socialista, base-
ado no planejamento central da
economia sob controle dos traba-
lhadores e na propriedade social dos
meios de produção, conseguiu satis-
fazer as necessidades básicas do
conjunto da população. Hoje, o capi-
talismo em sua fase imperialista
nada mais tem a oferecer aos povos,
a não ser a pobreza, a miséria, as
desigualdades, as guerras e a des-
truição do meio ambiente. É por isso
que a luta por outra sociedade, a
luta pelo socialismo, é mais relevan-
te do que nunca.
Leia na íntegra o artigo de Nikos Mot-
tas (KKE), editor-chefe da página Em
Defesa do Comunismo em:

DEFESA DA LIBERDADE DE CULTO:
MEMÓRIA DO POVO NEGRO!
Os cultos afro-brasileiros
foram perseguidos e criminalizados
durante longo período da história, e
ainda hoje sofrem preconceito no
Brasil. Os povos africanos escraviza-
dos e trazidos à força ao Brasil cria-
ram ou adaptaram as religiões para
que as pudessem praticar. Essas reli-
giões nascem, portanto, como
forma de resistência ao colonialismo
e ao catolicismo imposto aos negros
em nosso país. Ao longo do século
19, sob as diretrizes do higienismo, a
polícia apreendeu imagens de ori-
xás, ferramentas de culto e outros
objetos sagrados que até hoje estão
em posse do Museu da Polícia Civil.
No dia 21 de janeiro é cele-
brado o Dia Nacional de Combate à
Intolerância Religiosa e essa luta
também perpassa a história dos
comunistas brasileiros. O escritor,
militante e deputado federal comu-
nista Jorge Amado já se mobilizava
para tratar da liberdade de crença e
exercício dos cultos religiosos na
década de 1940. Toda a perseguição
sofrida pelos praticantes dessas
religiões sempre foi questão muito
presente na obra de Jorge Amado.
Eleito em 1945 para a Assembleia
Nacional Constituinte, o escritor foi
autor da proposta que estabeleceu
MOVIMENTO NEGRO
a ampla liberdade de culto religioso
no Brasil na Constituição Federal de
1946.
A data de 21 de janeiro foi
escolhida em alusão à morte da Ialo-
rixá baiana Gildásia dos Santos e
Santos – conhecida como Mãe Gilda,
fundadora do terreiro de candom-
blé Ilê Asé Abassá. A candomblecista
teve sua casa e seu terreiro invadi-
dos por um grupo de outra religião e
foi acusada de charlatanismo. Após
a publicação de uma matéria jorna-
lística intitulada “Macumbeiros e
Charlatões lesam o bolso e a vida
dos clientes”, Mãe Gilda e o marido
foram perseguidos, sofreram várias
agressões físicas e verbais e depre-
dações dentro do espaço religioso.
Após o ocorrido, teve um infarto
fulminante e morreu.
Nestes tempos em que o
obscurantismo e a manipulação
orquestrada pela extrema direita se
fazem presentes com destaque na
conjuntura atual, resgatar a memó-
ria de luta e resistência dos povos
escravizados e combater a desinfor-
mação são tarefas de alta importân-
cia nos nossos círculos de atuação
militante.
“Nós, comunistas, sabemos
respeitar as religiões; somos pela
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Janeiro 2023 - Ano 08
liberdade completa de consciência e
não desejamos, de forma alguma,
que essa liberdade seja utilizada
pelos dominadores, pelos fascistas,
pelos reacionários, pelos senhores
feudais para acorrentar o nosso
povo, miseravelmente, como o têm
feito.
Não combatemos religiões,
porque não seria útil, proveitoso,
nem mesmo científico, visto como a
religião só desaparecerá quando
desaparecerem os antagonismos de
classe. É necessário compreender
que, hoje, todo o povo sofre sem
que seus dominadores se lembrem
de procurar ver se os que estão
sendo explorados são católicos,
positivistas, teosofistas, ateus, ou
pertencem a qualquer outro credo
religioso. O patrão, capitalista
explorador, não paga melhor salário
a seus operários, porque se trata de
um católico se a religião desse
patrão antiprogressista é a católica.
O sistema de exploração é o mesmo.
A única divisão que se pode fazer no
seio da sociedade é realmente entre
os explorados e os exploradores.”
A Religião, o Estado, a Família -
Carlos Marighella,
4 de julho de 1946
Janeiro 2023 - Ano 08
PCM HOMENAGEIA O CAMARADA IVAN PINHEIRO
O Comitê Central do Parti-
do Comunista do México instituiu a
medalha David Alfaro Siqueiros ao
mérito revolucionário, com o propó-
sito de render o devido reconheci-
mento e homenagem aos veteranos
comunistas, que será entregue a
cada realização de seus congressos
partidários. A primeira solenidade
neste sentido ocorreu nos marcos
do VII Congresso do PCM, em 17 de
dezembro de 2022. Nesta primeira
edição, receberam a condecoração
os veteranos militantes comunistas
mexicanos Mario Rivera Ortiz, Narci-
so Sánchez e Héctor Colio, a peruana
Flor de Maria Sánchez (PC Peruano)
e os gregos Aleka Papariga e Dimi-
tris Kutsumbas. E o PCM decidiu por
concedê-la também a um comunista
brasileiro, destacado quadro do
PCB, por sua contribuição ao inter-
nacionalismo proletário e ao movi-
mento comunista latino-americano:
o camarada Ivan Pinheiro.
O Partido Comunista do
México criou a medalha David Alfaro
Siqueiros como um reconhecimento
à militância comunista consequen-
te, em resgate ao nome do “comu-
INTERNACIONAL
nista mais exemplar do México”, nas
palavras de Pavel Blanco, Secretário-
Geral do PCM, em entrevista conce-
dida à camarada Marianna Rodri-
gues, que representou o Comitê
Central do PCB no VII Congresso dos
comunistas mexicanos. Ainda
segundo Pavel, Siqueiros, mais
conhecido por sua obra artística, foi
dirigente do Partido Comunista
durante muitos anos, fundador do
periódico El Machete e membro da
Internacional Comunista.
David Alfaro Siqueiros foi um
dos maiores pintores mexicanos e
um dos protagonistas do muralismo
mexicano, juntamente com José
Clemente Orozco e Diego Rivera. A
atividade artística de Siqueiros sem-
pre foi acompanhada de intensa
atividade política e, na verdade, foi
uma extensão do seu posicionamen-
to político. Por conta de sua militân-
cia sindical e comunista, foi preso
inúmeras vezes e se exilou no Chile,
onde recebeu a solidariedade do
amigo Pablo Neruda, na época côn-
sul no México.
O fato de a condecoração
recordar David Alfaro Siqueiros valo-
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riza importantes aspectos que mar-
cam a militância comunista, dentre
os quais destacam-se, na vida deste
histórico revolucionário mexicano, o
trabalho de organização, agitação e
propaganda entre as massas e sua
dedicação ao internacionalismo
proletário, como voluntário na Guer-
ra Civil Espanhola, em que foi um
heroico Comandante de Brigada,
conhecido como “El Coronelazo”.
A homenagem prestada pelo
PCM ao camarada Ivan Pinheiro,
militante histórico e ex Secretário
Geral do Partido Comunista Brasilei-
ro, se deu como um reconhecimento
à heróica luta dos militantes do PCB
que, sob a liderança de Ivan, Zuleide
Faria de Mello, Edmilson Costa e
outros, garantiram a continuidade
da sua existência nos anos 1990, no
enfrentamento à tentativa de liqui-
dação do Partido. Pavel Blanco afir-
mou por fim que a luta contra os
liquidacionistas foi exemplar e ren-
deu frutos, pois “hoje é possível ver
muitos jovens comunistas, estudan-
tes, mulheres, nas ruas do Brasil com
a bandeira do PCB, lutando pelos
melhores interesses da classe ope-
rária, do povo e dos trabalhadores.
Pensamos que prestando essa home-
nagem a Ivan Pinheiro estamos
estendendo o reconhecimento ao
PCB”.
Assista na íntegra a entrevista de
Pavel Blanco, Secretário Geral do
Partido Comunista do México em:
Leia também o pronunciamento do
camarada Ivan Pinheiro no Congres-
so do PCM:

UNIÃO DA JUVENTUDE COMUNISTA
DEFENDER OS DIREITOS DA JUVENTUDE
TRABALHADORA E APROFUNDAR
A LUTA IDEOLÓGICA
A derrota de Bolsonaro nas
urnas pode significar maior respeito
às liberdades democráticas e com
isso melhorar as condições de luta
dos setores da classe trabalhadora
que estão mobilizados para impedir
ou responder aos ataques contra os
trabalhadores, em especial a juven-
tude. Apesar de reconhecer este
aspecto, não podemos depositar
todas as esperanças da vitória nas
últimas eleições.
O assim chamado progressis-
mo que ronda os governos de “cen-
tro-esquerda” latino-americanos é
heterogêneo em sua composição,
com graus variados de compromisso
popular, e altamente limitado em
sua propositura, inclusive não sendo
capaz de assegurar as grandes vitóri-
as aos trabalhadores, como nos
denunciam a queda na qualidade de
vida na Argentina e no México. A
incapacidade de a via institucional
superar a ordem atual das coisas se
agrava com a união entre setores
políticos distintos no interesse de
assegurar o controle dos processos,
escamoteando os interesses da clas-
se trabalhadora - que deveriam ser
estrategicamente centrais - em
nome da governabilidade, garantin-
do a exploração capitalista.
As forças hegemônicas das
ditas esquerdas brasileiras se prepa-
ram para repetir os erros históricos
cometidos pelo petismo nos últimos
períodos e aprofundar o processo
de esvaziamento das pautas da clas-
se trabalhadora, rifando por com-
pleto a luta ideológica para senta-
rem-se à mesa dos patrões. Portan-
to, o momento histórico que se ini-
cia nos impõe manter a firmeza pela
continuidade da luta pelas liberda-
des democráticas, por direitos -
Janeiro 2023 - Ano 08
ainda que limitados - conquistados a pós-graduação e residentes. O não
duras penas e, sobretudo, pelos inte- pagamento de bolsas e auxílios, os
resses da classe trabalhadora. gigantescos cortes orçamentários
É com essa firmeza que das instituições públicas de ensino,
devemos aprofundar também nossa as contrarreformas aprovadas e a
luta ideológica: efetivando uma opo- escalada de privatizações precisam
sição consequente às contradições ser encaradas de frente e revoga-
do reformismo, combatendo o que das, sob a perspectiva de melhoria
passou a ser chamado de “bolsona- dos serviços públicos, garantia dos
rismo” e apresentando a alternativa direitos dos trabalhadores e busca
revolucionária às massas. Tarefas pela soberania popular.
árduas em tempos árduos, mas a Precisamos encarar os desa-
propaganda deve ser nossa arma fios e as lutas que seguirão nesse
mais bem calibrada para conseguir ano, com toda responsabilidade
lidar com as sortes e os reveses que necessária para formular diante da
se apresentarem. realidade, entendendo que a via
eleitoral foi um breve momento de
uma longa luta que os diferentes
NENHUMA CONCESSÃO setores da classe trabalhadora terão
AOS GOLPISTAS! pela frente. Desse modo, devemos
trabalhar no sentido de reacender
as insatisfações populares e dar a
É na conciliação com os mili-
elas direção, uma vez que difusa,
tares que temos um elemento novo
junto às organizações mais avança-
para o presente momento. O golpis-
das da classe. É hora de trabalhar
mo foi incentivado pública e ampla-
junto à base da classe contra a conci-
mente pelos militares e alas civis do
liação e para barrar a extrema direi-
bolsonarismo, resultando em ações
ta.
armadas que, embora de pequenas
proporções, foram bem organiza-
das, indicando um potencial risco PUNIÇÃO PARA TODOS
constante com o qual devemos lidar. OS GOLPISTAS!
A conciliação do progressismo com
EM DEFESA DAS LIBERDADES
os militares é a repetição cômica do
erro político de 1979 com toques de DEMOCRÁTICAS!
crueldade, anistia ampla e irrestrita PELOS DIREITOS DA CLASSE
com o movimento na ativa e ofensi- TRABALHADORA E DA
va. Não permitiremos! JUVENTUDE!
O bolsonarismo e seus alia- PELO PODER POPULAR,
dos atuam para intensificar a preca- RUMO AO SOCIALISMO!
rização de diferentes setores públi-
cos, como educação e saúde, que já
estavam extremamente fragilizados
pela EC 95 (a emenda do teto de
gastos). Nos últimos meses, vimos,
mais uma vez, o não pagamento das Leia na íntegra a
bolsas/salários dos estudantes de Nota da UJC em: