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50 anos da Revolução
Cultural na China
02 URC Revista NOVA CULTURA - www.novacultura.info
SUMÁRIO
EDITORIAL
“O golpe de Estado e suas consequências:
lutar contra a reação e construir o Partido Comunista”
página 03
“Revolução Colorida”
página 26
as consequências: lutar
ruir o Partido Comunista
06 URC Revista NOVA CULTURA - www.novacultura.info
Introdução
Nós, da União Reconstrução Comunista, destacamos desde nossa fundação que a polí-
tica de conciliação de classes e de administração dos interesses das classes dominantes, rea-
lizada pelo Partido dos Trabalhadores (PT) em seus governos com Lula e Dilma, foi o principal
catalisador que levou ao cenário atual, no qual a reação avança raivosamente contra o débil go-
verno petista interna e externamente, até a situação atual do Golpe de Estado via impeachment.
O circo montado em torno do processo de impedimento da presidente eleita em 2010 de-
monstra o fracasso político e histórico do PT e seu descarte, por parte das classes dominantes
submissas aos interesses do imperialismo estadunidense, que, após suas ações deploráveis no
Oriente Médio e África, agora lança sua ofensiva contra os povos da América Latina.
O contexto da crise do sistema capitalista-imperialista a nível mundial leva à intensifica-
ção da agressão do imperialismo norte-americano sobre os recursos estratégicos dos países
dependentes, como aconteceu na Líbia de Kaddafi e o que gerou a agressão indireta e direta
que se estende até hoje na Síria de Bashar Al Assad. Contra a América Latina – região estraté-
gica e tradicional “quintal” do imperialismo norte-americano –, este na última década avançou
contra governos nacionalistas burgueses que, em algum sentido, agiram de forma contrária à
lógica neoliberal que imperou na última década do século XX nos países latino-americanos. Os
governos de Hugo Chávez e Nicolas Maduro na Venezuela, bem como o de Evo Morales na
Bolívia, sofrem há anos guerra de desestabilização, e mesmo governos moderados como os
de Manuel Zelaya em Honduras e Fernando Lugo no Paraguai foram derrubados por manobras
jurídicas e legislativas.
O recrudescimento da crise do sistema imperialista mundial faz com que a aplicação do
programa de austeridade, às custas do sangue e suor do povo brasileiro, seja uma necessidade
urgente para o sistema imperialista, daí a troca de um governo que cumpriu nos últimos anos
boa parte das medidas, mas que tem ligações com movimentos de massas, por um que aplique
um programa neoliberal puro sangue, que faça o serviço que é preciso fazer para salvaguardar
os interesses do capital financeiro e do agronegócio estrangeiros que dominam o país. A che-
gada de Michel Temer ao poder é mais um passo neste sentido.
Tais acordos fazem parte de uma estratégia geral de opressão imperialista, e mesmo Obama
não esconde os interesses por trás de tais acordos: “a construção de muros para nos isolarmos
da economia global somente nos priva das incríveis possibilidades oferecidas por ela. Ao con-
trário, a América deve escrever as normas da economia mundial. A América deve dar ordens.
Outros países devem jogar segundo as regras estabelecidas pela América e nossos parceiros,
e não o contrário. Isso é o que o TPP nos dá o poder de fazer.”
No Brasil, o governo do PT levou a cabo, ainda que de maneira gradual, importantes
medidas liberalizantes que entravam em acordo com o programa imposto para os países pe-
riféricos pelo imperialismo norte-americano, tanto na manutenção do tripé macroeconômico
(manutenção da meta de inflação, do superávit primário e o regime de câmbio flutuante) como
em determinadas privatizações, e, também, na aplicação do ajuste fiscal. No entanto, o caráter
de classe pequeno-burguês do PT considerava possível ser realizada determinada política que
beneficiava conjuntamente os interesses das classes dominantes e os interesses das massas
populares, parte destas organizadas em seu partido. Foi justamente a política de conciliação de
classes que se deu esgotada, e que tornava não mais possível que fosse o governo do PT o re-
presentante dos interesses das classes dominantes. A deterioração do capitalismo-imperialismo
é tamanha que um programa de integração violenta e forçada das cadeias produtivas domésti-
cas à cadeia mundial (o que quer dizer desnacionalização em massa) e uma política de ataque
às massas populares para agravar a superexploração das massas trabalhadoras dos países
semicoloniais não pode mais ser levada a cabo de forma gradual. O método da burguesia que
Lenin chamava de “período do método liberal da burguesia”, onde reinam as concessões ao
movimento popular e políticas de apaziguamento das lutas de classes (inclusive, Lenin enfatiza
que este período é onde mais cresce o oportunismo no seio do movimento operário) deve dar
lugar ao método da coerção, com um programa plenamente neoliberal que não deve ser aplica-
do mais gradualmente, e um partido pequeno-burguês, enraizado no movimento popular, deve
dar lugar a um representante direto das classes dominantes mais reacionárias. Deve-se ter em
mente que a grande burguesia sempre tenderá a romper com a legalidade caso seja necessário
para ela. Foi o que se passou no processo de impedimento de Dilma Rousseff, o que represen-
tou a ruptura com o pacto de conciliação inaugurado nos governos petistas.
Com a entrada em cena do governo radicalmente pró-imperialista de Michel Temer, criam-
-se as condições, seguindo os passos feitos na Argentina, para a aplicação plena deste pro-
grama, atacando nossa indústria nacional, aumentando a concentração de terras improdutivas
no campo, apoiando-se no latifúndio tanto de velho como de novo tipo, reprimindo duramente
quaisquer ações dos movimentos de massas no campo e na cidade, agravando a superexplo-
ração da classe operária, concretizando o desmonte da Petrobrás, etc. O principal documento
que o PMDB apresentou à grande burguesia para se mostrar como representante direto da
submissão ao imperialismo norte-americano, o “Ponte para o Futuro”, expressa interesses de
levar adiante as reformas neoliberais radicais que o PT não conseguiria fazer, como a aplica-
ção generalizada no regime de concessão na exploração do petróleo do pré-sal, a “reforma” na
Previdência Social (o que, no limite, significa transferir sua gestão atual para os grandes bancos
internacionais), privatização gradual da educação e da saúde, e por aí se segue.
O primeiro ato do reacionário Governo Temer, já em seu primeiro dia, parte desta mes-
ma lógica. Foi a criação da MP (Medida Provisória) 727, que cria o Programa de Parcerias de
Investimentos. Esta MP é na verdade uma continuidade do Programa Nacional de Desestati-
zação (inclusive afirmando isso textualmente), institucionalizando o processo privatista através
de um sistema de concessões. Nisso, o processo privatista fica submetido meramente a cargo
dos beneficiários da compra, e o BNDES deve auxiliar a iniciativa privada a partir de um fundo
especial criado para isso! É a primeira ação visando o desmonte da coisa pública. Coloca-se
junto a isto a nomeação de Maria Silvia Bastos Marques como presidente do BNDES, a mesma
que assessorou o desmonte antinacional de FHC nos anos 90. Recentemente, foi aprovada a
MP de liberação de participação do capital estrangeiro nas companhias aéreas brasileiras em
100%. A proposta das terceirizações, em trâmite no Congresso, que deverá aumentar a flexibi-
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lização das leis trabalhistas, aumentar a extensão do trabalho informal, atacando as condições
de trabalho já precárias, faz parte do programa geral de nivelar nossos salários cada vez mais
para o abismo.
Michel Temer caso se volte atrás no apoio ao patronal Programa de Proteção ao Emprego e ou-
tros programas do mesmo gênero. Só assim será possível mobilizar adequadamente as bases
que sustentam sua atividade, dando a ela o seu devido caráter de classe. Outras organizações
de massas, como o MST, MTST, UNE, etc., também podem aqui cumprir um importante papel,
ainda que tais organizações sejam guiadas por posições reformistas, revisionistas e oportunis-
tas. Daí decorre a necessidade de se fazer um correto trabalho de intervenção conjunta com
tais movimentos, buscando isolar os seus setores mais oportunistas e ganhar para as posições
do marxismo-leninismo os seus setores mais avançados.
O desmonte da Petrobras
No que diz respeito ao petróleo da camada do pré-sal, os golpistas querem fazer deste
um dos principais prêmios aos monopólios petrolíferos estrangeiros. O Governo Temer não per-
deu tempo em anunciar, bem como em agir, no sentido de acelerar e aprofundar a entrega desta
inestimável riqueza não-renovável para as grandes potências capitalistas. Já em suas primeiras
entrevistas e declarações ao assumir a presidência, afirmou que apoiaria iniciativas para acabar
com a obrigatoriedade de a Petrobras ser sócia de pelo menos 30% de todos os consórcios do
pré-sal, bem como operadora única dos poços produtores.
Temer também anunciou Pedro Parente como novo presidente da Petrobras, nome que
foi saudado pela grande mídia como alguém de confiança do “mercado’’, alguém que seria in-
cumbido de “limpar” a estatal do estigma da corrupção e das ingerências. O mesmo Pedro Pa-
rente que faz parte de um seleto grupo de ex-ministros do então presidente Fernando Henrique
Cardoso que respondem processos por improbidade administrativa referente a um processo de
resgate de bancos privados em falência, o que custou mais de R$ 2 bilhões aos cofres públicos
na época.
Parente possui também em seu currículo uma passagem por cargos da Petrobras. Ocu-
pou o Conselho Administrativo quando ministro de FHC, de 1999 a 2002, e lá ajudou a aprovar
uma série de medidas privatistas e comprovadamente prejudiciais para a empresa. Entre elas,
o aumento da abertura de capitais, a venda da Refinaria Alberto Pasqualini (Refap) e a vergo-
nhosa mudança do nome da Petrobras para Petrobrax - medida que fora símbolo da tentativa
tucana de privatização e que suscitou forte resistência dos petroleiros e demais trabalhadores,
obrigando-os a recuar.
Atualmente, desta vez sob a tutela do novo governo golpista, retomam-se as tentativas
de entrega da nossa principal estatal e Pedro Parente e Michel Temer declaram apoio direto ao
Projeto de Lei 4567/16, em trâmite no Congresso Nacional e que abre a possibilidade da entre-
ga total do petróleo do pré-sal aos monopólios imperialistas.
Os deputados da base do governo golpista realizam uma série de abusos e irregularida-
des para acelerar o processo de aprovação da PL no Congresso Nacional. A Comissão Especial
da Petrobras na Câmara, que avaliaria as vantagens e desvantagens da proposta, ignora os
argumentos das entidades sindicais e aprovou em uma reunião que havia sido anteriormente
adiada – em manobra clara para desmobilizar os petroleiros que pretendiam pressionar os de-
putados – um parecer favorável à aprovação da lei.
Soma-se a isso outros ataques profundos contra a Petrobras, através do Programa de
Desinvestimentos iniciado por Bendine e aprofundado por Parente. Os alvos da vez são as
subsidiárias de logística, armazenamento e distribuição – a Petrobras Logísticas S.A. e a Trans-
petro. Se considerarmos que todas as grandes empresas de petróleo do mundo hoje são em-
presas integradas – como se diz, do poço ao posto – as duas subsidiárias em questão são
vitalmente estratégicas para a sobrevivência da Petrobras como estatal de envergadura, capaz
de competir com as gigantes do setor privado pelo mundo, além de desenvolver e dinamizar a
indústria nacional.
Segundo a tese de doutorado do economista Marcelo Sartorio Loural, a Petrobras foi res-
ponsável por R$ 90 bilhões em investimentos produtivos no Brasil (entendido pelo economista
como investimento que gera uma estrutura produtiva perene e um incremento na capacidade
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de produção) no ano de 2013. Isso equivale ao dobro do que foi investido pela Vale e outras 72
empresas nacionais somadas - que investiram, respectivamente, R$ 25 e 20 bilhões no mesmo
ano. O economista também aponta que a Petrobras dinamiza uma série de cadeias produtivas
- como a naval e a de maquinaria e equipamentos - e que os programas de cortes de gastos da
empresa puxam para baixo todo o quadro de investimentos produtivos no país.
sive blindados israelenses para dispersar protestos. Também fez lobby contra o projeto de lei
aprovado pela Assembleia Legislativo de São Paulo que proibia o uso de bala de borracha pela
polícia contra manifestações.
Em sua posse no Governo golpista, Moraes demonstrou sua clara e manifesta intenção
de ampliar a criminalização dos movimentos de massas. Ao ser questionado sobre as manifes-
tações, afirmou que “como todo movimento social, o MTST [Movimento dos Trabalhadores sem
Teto] tem todo o direito de se manifestar. Mas o MTST, ABC ou ZYH serão combatidos a partir
do momento em que deixam o livre direito de se manifestar para queimar pneus, colocar em
risco as pessoas, que são atitudes criminosas”. E isto não é apenas uma declaração. Quando
ainda ocupava o cargo no Governo Alckmin, Moraes fez uma consulta ao Procurador Geral do
Estado de São Paulo, Elival Ramos, sobre a possibilidade de execução de reintegração de posse
de imóveis públicos ocupados sem a necessidade de que se siga o rito no Judiciário para tal.
O argumento foi justamente de que a discussão jurídica atrasa a recuperação da posse e traz
prejuízos ao governo, uma vez que os motivos destas manifestações comumente são políticos.
Somando-se estas orientações ao comando federal do aparelho repressivo do Estado,
que se demonstra há anos claramente nas ações no campo na defesa dos interesses dos lati-
fundiários e durante os mega-eventos, como será o caso próximo das Olimpíadas na cidade do
Rio de Janeiro, com as diversas violações aos direitos básicos da população fluminense, princi-
palmente nas áreas das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), o cenário que se coloca é de
aprofundamento da criminalização dos movimentos de massas organizados e da ampliação da
violência contra os mais pobres do país.
como um jogo de cartas marcadas, atualmente esta característica básica da falsa democracia
brasileira é desnudada ainda mais. Segundo o PCdoB, um dos objetivos do plebiscito seria o de
“restaurar a democracia”, que fora teoricamente usurpada pelo golpe de Estado. É certo que o
golpe de Estado aprofunda no país uma situação que, sem dúvida, afasta-nos ainda mais tudo o
que se assemelhe à democracia, o que não decorre, contudo, que no período anterior ao golpe
esta democracia já existia. O mínimo que um partido pretensamente Marxista-Leninista deveria
fazer – em tal situação – seria apontar de maneira clara para as massas sobre o real significado
da democracia burguesa, e não falar em democracia de maneira abstrata, nutrindo ilusões com
uma democracia pura, sem um caráter de classes. Não se pode mesmo esperar muito, de fato,
de um partido que há muito tempo abandonou o Marxismo-Leninismo em nome do que existe
de mais podre produzido pelas correntes revisionistas e oportunistas a nível doméstico e inter-
nacional, como apologias à chamada “democracia como valor universal”.
Como se não bastasse, durante a última semana o PCdoB se destacou na Câmara dos
Deputados como um dos principais articuladores da campanha do arquirreacionário e golpista
deputado federal Rodrigo Maia (DEM-RJ) para a presidência da Casa. Esta manobra feita pelos
caciques do PCdoB deixaria até mesmo os elementos mais oportunistas da velha Segunda In-
ternacional de cabelo em pé, dado tamanho cretinismo parlamentar. Segundo “sábios” políticos
do PCdoB, votar em Rodrigo Maia para a presidência da Câmara contribuiria para derrotar o
chamado “centrão” e, assim, criar condições mais favoráveis para lutar contra o Golpe no parla-
mento. Só esquecem nossos sábios do oportunismo que Rodrigo Maia é representante da ala
mais direitista dos golpistas e sua vitória necessariamente só pode fortalecer os próprios gol-
pistas. Os “sábios” do oportunismo e do revisionismo só contribuem para desmoralizar perante
as massas todos aqueles que lutam contra o golpe de Estado. É extremamente importante que
os setores ainda conscientes do PCdoB, que ainda defendem o Marxismo-Leninismo, mas que
pelos mais variados motivos ainda seguem militando no partido revisionista, tomem consciên-
cia do caráter desta organização e se coloquem decididamente no caminho da reconstrução/
reconstituição do genuíno Partido Comunista do Brasil.
Conclusão
O que entra em jogo para os movimentos populares neste momento é o estabelecimento
de uma unidade de todas as forças progressistas contra os interesses reacionários do governo
golpista de Michel Temer, bem como a definição de tática e estratégia corretas para se levar a
cabo uma luta consequente contra o golpe, compreendendo que o golpe faz parte de uma es-
colha da necessidade de ruptura por parte das classes dominantes para conseguir eleger seu
governo “puro-sangue”, dando fim à sua colaboração de classes com o petismo. Nesta situa-
ção, afirmar a luta consequente contra o golpe deve implicar em por um termo às ilusões com a
democracia burguesa, institucionalismos em geral e decisões legalistas de cúpula, como meios
de se encontrar respostas para os problemas das massas populares.
Apenas a unidade dos movimentos de massas em torno de uma plataforma política que
combine a luta antigolpe e contra a ofensiva reacionária com um programa mínimo de reivin-
dicações populares, pode dar o caminho correto para a resistência aos futuros ataques que
virão. O movimento comunista não pode atuar alheio a isso, e é um erro crasso achar que são
meras contradições interburguesas, quando o plano é submeter todo o movimento operário e
o povo a uma ofensiva geral de um programa antipovo e antinação. Tal é a situação oriunda da
debilidade do movimento revolucionário e, por conseguinte, da ausência de um partido revolu-
cionário que fosse marcado pela base de massas, e a reconstrução do Partido Comunista sob
uma sólida base ideológica Marxista-Leninista apresenta-se como a tarefa fundamental para a
reorganização do movimento popular.
O movimento comunista deve trabalhar contra isolacionismos, pela atuação no seio das
massas trabalhadoras, do campo e da cidade, pela defesa intransigente de seus interesses, e
promover a contraofensiva ante os grandes capitalistas e latifundiários ligados ao Imperialismo.
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50 anos da Revoluçã
por Gabrie
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ão Cultural na China
el Duccini
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A “Grande Revolução Cultural Proletária” pode ser considerada, sem sombra de dúvi-
das, o evento mais polêmico que aconteceu na China após a fundação da República Popular
e o início da construção socialista no país. No dia 16 de Maio completou-se 50 anos do início
desta controversa experiência, alvo de intensa demonização por parte da mídia burguesa oci-
dental e dos atuais dirigentes do Partido Comunista da China. O que foi a Revolução Cultural?
Como e por que ela se iniciou e qual deve ser a posição dos comunistas, marxistas-leninistas,
em relação a tal acontecimento? Não buscamos neste artigo dar uma resposta cabal para es-
sas perguntas, nem mesmo expor aqui todos os antecedentes históricos que culminaram na
Revolução Cultural, mas sim apresentar aos nossos leitores certas características gerais de tal
experiência, que sem dúvida deve ser estudada por todos os marxistas-leninistas.
Como já tivemos a oportunidade de tratar em outros artigos da Revista Nova Cultura,
o ano de 1956 representa um ponto de virada no processo de construção do socialismo na
URSS e nos países de Democracia Popular. 1956 é o ano em que Khrushchev lidera um golpe
de Estado que afasta do poder os marxistas-leninistas e impõe ao Partido e ao Movimento
Comunista Internacional o revisionismo moderno (Vero livro Stalin - Um novo olhar. Ludo Mar-
tens. Capítulo X: De Stalin à Khrushchev). O Partido Comunista da China, junto ao Partido
do Trabalho da Albânia, são os Partidos que se levantam de maneira aberta contra o revisio-
nismo moderno, publicando inúmeros documentos e travando uma grande batalha ideológica
que influenciou setores significativos do MCI. Também o Partido Comunista do Brasil (PC do
B) se posicionou abertamente contra o revisionismo moderno de Khrushchev e cia. (Resposta
à Khrushchev).
O Partido Comunista da China não se limitou a combater o revisionismo para fora das
fronteiras da República Popular da China. Ainda em 1957, o Partido levou a cabo a chama-
da “Campanha antidireitista” que visava responder criticamente intelectuais e personalidades
políticas que se opunham ao avanço do processo de construção socialista. Posteriormente, o
Partido Comunista da China promoveu o “Grande Salto à Frente”, movimento que visou a pro-
moção do desenvolvimento econômico do país por meio da intensa mobilização de massas.
Os direitistas e revisionistas no interior do Partido Comunista da China se aproveitaram de
certos erros cometidos nesses processos como forma de atacar a linha representada por Mao
Tsé-tung, que apostava no avanço das relações de produção socialistas e na transformação
ideológica de toda a sociedade.
A Revolução Cultural não foi um movimento lançado do dia para a noite graças ao
capricho de um líder. Apesar de a burguesia mundial assim apresentar a Revolução Cultural,
ela na verdade refletiu uma ampla luta interna que se configurava no interior do Partido Co-
munista e da sociedade chinesa. Essa luta nada mais era do que reflexo do recrudescimento
da luta de classes que segue existindo nas condições do socialismo. Uma das teses que os
revisionistas modernos tentam vender ao conjunto do movimento revolucionário é de que na
sociedade socialista extinguem-se as classes e a luta de classes, fato que tornaria caduca a
Ditadura do Proletariado. Promove-se assim teses anti-marxistas como a do “Estado e Parti-
do de todo o povo”. Essas teses contrarrevolucionárias desarmam o proletariado em sua luta
pela construção da sociedade socialista, bem como servem de base ideológica para que a
burguesia promova de maneira eficaz a restauração do capitalismo.
Todos os países ex-socialistas que restauraram o capitalismo abraçaram tais teses re-
acionárias. A Revolução Cultural teve o mérito histórico de expor de maneira aberta o caráter
farsesco dessas concepções revisionistas. Mao Tsé-tung, sabendo dos riscos de restauração
capitalista na China e valendo-se da observação crítica da experiência de construção do so-
cialismo na URSS, fez questão de demonstrar a importância de persistir promovendo a luta de
classes contra aquelas figuras que utilizavam o seu poder para promover a restauração do ca-
pitalismo, ainda que em palavras falassem em revolução e socialismo. Segundo os chineses,
esses elementos faziam de tudo para travar o processo de avanço da construção socialista,
colocando-se ao lado da promoção da economia individual, do mercado e da conciliação com
o imperialismo. Apresentada como uma “nova etapa da revolução socialista” a Revolução
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Dazibao é uma arma de novo tipo de grande utilidade, podendo ser empregado em
cidades, aldeias, fábricas, cooperativas, estabelecimentos comerciais, organismos go-
vernamentais, centros de ensino, unidades de forças armadas e organizações de vizi-
nhos. Resumindo, em todos os lugares onde existam massas. Seu uso se generalizou
e deve continuar para sempre.
Quanto aos outros serviços coletivos, como os que foram criados em Taking, tivemos a
ocasião de visitá-los longamente, principalmente em Shangai. Sua primeira particularidade é
terem sido criados pelas próprias mulheres. O que quer dizer que tanto sua organização con-
creta como seu desenvolvimento são resultados concretos das aspirações dessas mulheres por
destruir o caráter privado, familiar, dessas tarefas.”
Os êxitos nesta libertação da mulher da escravidão doméstica fez com que na China se
chegasse ao número de 91% das mulheres do país inseridas na produção social, aos fins de
1971, número impensável na época para qualquer país capitalista. Tal foi a política adotada pela
linha política revolucionária de Mao Tsé-tung, a combinação da socialização do trabalho domés-
tico com a socialização da indústria e da agricultura.
Em 1968, a Federação de Mulheres da China foi substituída pelos Comitês de Mulheres,
onde as mulheres se organizavam e interviam em casos de agressões, abusos e etc. por parte
dos maridos. Nestes comitês também se estabeleceram “grupos de trabalho femininos” onde se
focava em grupos de estudos coletivos entre mulheres, fazendo a assimilação da teoria marxis-
ta-leninista pelo movimento de mulheres. Relata-se que em um bairro de Pequim, se reuniram
60.000 mulheres em torno do estudo da teoria marxista.
Também se formou em Xangai as “Brigadas de meninas de ferro”, onde jovens mulheres
empreendiam as tarefas mais dificeis dentro das mais diversas fábricas, e ganharam grande
destaque ao se engajarem em trabalhos tidos como tipicamente masculinos, como construir
pontes, exploração de petróleo, manutenção de linhas de alta voltagem, etc. Se aumentou o
número de mulheres que trabalhavam na indústria pesada, e cada vez mais mulheres ingres-
savam as fileiras do Exército Popular. Assumiam posições de liderança, e metade dos médicos
no campo na China já eram mulheres. Uma mulher que trabalhava em uma fazenda estatal em
Chongming comenta: ”Mulheres jovens como eu sentiam poucas barreiras de gênero em nossa
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devoção à revolução. Inúmeras jovens líderes mulheres surgiram nesta ilha com oito fazendas.
Esta unidade nunca acreditou em inferioridade feminina e estava livre de pressões sociais a
partir dos papeis de esposa e mãe… Nós nunca nos preocupávamos em sermos vistas como
não femininas por superarmos os homens em nossa performance no trabalho. Quando jovens
líderes, homens e mulheres, se juntavam em reuniões ou sessões de treinamento, falávamos
sobre nosso trabalho e discutíamos teoria Marxista de igual pra igual”
A campanha anticonfuciana dos anos 70 (que se deu mutuamente à reconstituição da
Federação de Mulheres) também criou uma oportunidade para que as associações e comitês
de mulheres dessem um ataque frontal à ideologia patriarcal, ao ligar as ideias patriarcais re-
manescentes na sociedade chinesa aos resquícios de ideologia confuciana. Em artigo de Yang
Polan e Shen Pei-shen de fevereiro de 1974 afirma-se: “Somos nós, as mulheres trabalhadoras,
que temos mais sofrido pelo confucionismo, por isso é que temos os maiores direitos a tomar a
palavra na crítica a Confúcio”.
Mulheres da Federação na rua Yuen Pin, em Fukien organizaram a campanha de “Cinco
destruições, cinco construções” que consistia em:
“1. Destruir as superstições feudais; edificar a concepção segundo a qual o trabalho é que
cria o mundo.
2. Liquidar o antigo sistema matrimonial segundo o qual os pais decidem arbitrariamente(ou
fazem “pressões”) o matrimônio de seus filhos, e consideram o matrimônio como um mer-
cado; reforçar a liberdade do matrimônio, que se faz de uma maneira nova.
3. eliminar a ideologia segundo a qual os homens são nobres e as mulheres humildes, eli-
minar o poder marital. Opor a estes concepções o conceito de igualdade de direitos entre
ambos os sexos; praticar o princípio “a trabalho igual, salário igual”; praticar o controle de
nascimentos.
4. Eliminar a teoria segundo a qual as mulheres são retrógradas ; opor a esta a concepção
segundo a qual as mulheres são “a metade do céu”.
5. eliminar as teorias: “fazer estudos para converter-se em alguém” e “ir ao campo para fazer-
-me ver”; opor à concepção: “estudar para servir ao povo” e “valorizar o trabalho agrícola”“
Para levar a cabo esta campanha, fizeram mobilizações por semanas, que se baseavam
em grupos de estudos, manifestações, reuniões e debates, dazibaos, redação de pequenos
jornais, artigos de imprensa, etc. Reforçaram os cursos de política, e se duplicou o número de
mulheres participantes nestes após a campanha. Cada vez mais, se evocavam unidades femi-
ninas de vanguarda a âmbito nacional, e as mulheres se tornavam uma força motriz na campa-
nha contra o confucionismo.
Fica evidente que uma das tarefas da Revolução Cultural foi a luta para efetivamente se
levar adiante a libertação da mulher, bem como fazer da mulher uma força atuante e destacada
neste processo. Não apenas para fazer da mulher parte da revolução, como também para ela
mesma empreender sua própria libertação, como afirma um correspondente da Peking Review
de Março de 1974: “O pensamento guia por trás do movimento de mulheres na China nunca foi
apenas fazer com que a mulher tomasse parte da luta revolucionária e da produção e negligen-
ciasse a resolução dos problemas particulares das mulheres. Na prática, a iniciativa e entusias-
mo das mulheres na luta revolucionária e produção são enormemente fortalecidos quando se
resolve estes problemas.”
Conclusão
Durante a Revolução Cultural, diversos quadros veteranos do Partido Comunista da Chi-
na foram removidos de seus cargos e criticados como seguidores do caminho capitalista. Entre
estes quadros estão figuras como Liu Shaoqi, Deng Xiaoping, Peng Zhen, Chen Yun, etc. De-
pois, líderes como Lin Piao e Chen Boda, que foram entusiastas da Revolução Cultural e eram
considerados personalidades da “esquerda” do Partido, também foram criticados e expurgados.
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É certo que a Revolução Cultural chinesa foi um fenômeno complexo. Até hoje não existe uma
concordância entre diversas forças do movimento comunista internacional de como interpretar o
seu legado. O próprio Partido Comunista da China, após a chegada ao poder de Deng Xiaoping,
passou a condená-la. na resolução Sobre Alguns Problemas na História do nosso Partido depois
da fundação da República Popular da China, aprovado na VI da Sessão Plenária do XI Comitê
Central do Partido Comunista da China, em junho de 1981, afirma-se que a Revolução Cultural,
“que transcorreu de maio de 1966 até de outubro de 1976, acarretou ao Partido, ao Estado e ao
povo os mais graves revesses e perdas conhecidas desde a proclamação da Nova China”.
A nova direção chinesa passou a afirmar que os princípios que nortearam a Revolução
Cultural não correspondiam aos princípios básicos do marxismo-leninismo. A partir daí, a ênfase
na luta de classes foi substituída pela concentração na construção econômica do país, com a
política de Reforma e Abertura, que segue sendo aplicada até os dias de hoje. Em nossa opi-
nião, o que os fatos posteriores e o desenvolvimento dos acontecimentos na República Popular
da China demonstraram foi que muitas das observações levantadas por Mao Tsé-tung e sus-
tentadas pela linha geral do Partido durante a época da Revolução Cultural eram sim corretas
e estavam de acordo com os princípios básicos do marxismo-leninismo, ainda que algumas
afirmações e posições tomadas pelo Partido durante essa época sejam passíveis de críticas. A
realidade da China atual, onde predominam as relações de produção capitalistas, acompanha-
das de todos os problemas e malefícios desse modo de produção, corrobora nossa afirmação.
Ainda que seja intensa a propaganda de demonização da Revolução Cultural, levada a cabo
pelo próprio Partido Comunista da China, em conluio com vastos setores da burguesia interna-
cional, cada vez mais surge no interior do país estudos e relatos que questionam a versão oficial
sobre o período. Vastos setores das massas, em especial operários, camponeses e gerações
mais velhas, sustentam um sentimento espontâneo de nostalgia ao período. Crescem também
grupos de esquerda, que olham com simpatia para a Revolução Cultural e questionam a linha
oficial do Partido Comunista que defende as políticas de Reforma e Abertura. O surgimento
desses grupos, ainda que possa ser considerado um fenômeno positivo, é acompanhado por
certas debilidades, já que muitos deles, apesar de se considerarem “maoístas”, possuem uma
ideologia eclética e parecem subestimar as contradições que o imperialismo norte-americano
possui com o regime político chinês. A própria análise da chamada “nova esquerda” chinesa
requer um texto à parte, dado a complexidade e diversidade das correntes que a conformam.
A União Reconstrução Comunista, como organização que defende a construção de um
novo Partido Comunista em nosso país, não menospreza a importância do estudo e da anali-
se das experiências socialistas que ocorreram no século passado. Além disso, reivindicamos
abertamente o legado dessas experiências. Nesse sentido, é de extrema importância o estudo
e analise da história da Revolução Chinesa, um dos episódios mais importantes da Revolução
Proletária Mundial no século XX. O debate sobre tal experiência segue se desenvolvendo em
nossa organização. No último período publicamos e divulgamos documentos importantes que
auxiliam no estudo da Revolução Chinesa. Seguiremos publicando-os futuramente.
Sugestão de leitura:
Circular do Comitê Central do Partido Comunista da China (16 de maio de 1966).
Decisão do Comitê Central do Partido Comunista da China sobre a Grande Revolução Cultural
Proletária (8 de agosto de 1966).
Resolução sobre alguns problemas na história do nosso Partido depois da fundação da Repú-
blica Popular da China (junho de 1981).
SNOW, Edgar. A Longa Revolução. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 1973.
GAO, Mobo. The Battle for China´s Past – Mao & The Cultural Revolution.
24 URC Revista NOVA CULTURA - www.novacultura.info
O Presidente Mao disse: “os dazibaos são um novo tipo de arma extremamente útil”.
Os dazibaos revolucionários são algo muito bom!
São “espelhos mágicos” para descobrir todos os monstros. Se cada um de nós se vale des-
tes, é possível descobrir rapidamente e de qualquer ângulo os verdadeiros rostos das sinis-
tras camarilhas anti-Partido e antissocialistas.
Estes dazibaos apresentam diversas opiniões e revelam contradições de toda espécie. Por
meio das ditas opiniões e contradições devemos chegar a compreender a situação, encon-
trar os problemas e resolvê-los.
Estes dazibaos colocam o justo e o injusto nos assuntos primordiais para que todo o mundo
discuta, analise e critique. Isto significa concentrar vinte anos em um dia no que se refere a
educação das massas, e particularmente no que se atem à elevação da consciência prole-
tária da jovem geração.
A atitude que se assuma ante estes dazibaos é uma pauta importante para distinguir entre
os revolucionários autênticos e os falsos e entre os revolucionários proletários e os defenso-
res de “Sua Majestade” na atual grande revolução cultural.
“50 anos da Revolução Cultural na China” URC 25
Você é defensor de “Sua Majestade”? Então morrerá de medo dos dazibaos. Ficará pálido
de terror, suará frio ao vê-los aparecer e tentará de todas as formas impedir que as massas
os escrevam.
O medo dos dazibaos significa medo das massas, medo da revolução, medo da democracia
popular e medo da ditadura do proletariado.
Existem alguns indivíduos com autoridade que tomaram o caminho capitalista; suas cabeças
se parecem com o granito. Não permitem que as massas façam a revolução nem escrevam
dazibaos. E, quando as massas os escrevem, se valem de sua posição e poder e, com uma
quantidade de pretextos, organizam os defensores de “Sua Majestade” para que escrevam
dazibaos contrarrevolucionários para cercar e atacar os dazibaos revolucionários e reprimir
os revolucionários proletários. Não tememos tais ações. O fato serve como exemplo negati-
vo, eleva a vigilância das grandes massas e as ajuda a distinguir entre o justo e o injusto nos
assuntos primordiais. Isto é bastante positivo!
O Presidente Mao disse: “Devemos ter fé nas massas; devemos ter fé no Partido. Estes são
dois princípios fundamentais. Nada conseguiremos se pormos em dúvida estes princípios”.
Precisamos por esta razão - porque temos plena confiança nas massas e porque estamos
absolutamente convencidos de que, sob a direção do Presidente Mao, nosso glorioso, gran-
de e correto Partido goza de um enorme e imutável prestígio entre elas - estimularmos as
massas para que escrevam dazibaos para facilitar nossa luta contra o inimigo, a melhoria do
nosso trabalho e o mais são e gigantesco avanço da nossa causa socialista.
Mobilizemos sem reservas as massas, mobilizemo-nas sem reservas para que escrevam
dazibaos e, sob a bandeira do grande pensamento de Mao Tsé-tung e a direção do Comitê
Central do Partido, levemos resolutamente até o fim da Grande Revolução Cultural Proletária!
Revolução Colorida
por Harpal Brar
Nada é deixado aqui para a imaginação no sentido de tornar claro qual é o verdadeiro significado
do “livre mercado”. Aplaudindo o discurso do primeiro ministro britânico Blair em 2002, na Conferência
do Partido Trabalhista, Niall Fergusson, na época um professor de política da Oxford University, com sua
habilidade de pronunciar o impensável, escreveu:
“Imperialismo pode até ser uma palavra suja, mas o que Tony Blair está clamando essencialmente é a
imposição dos valores ocidentais – é realmente a linguagem do imperialismo liberal. A globalização
política é apenas uma palavra extravagante para imposição de seus pontos de vista e práticas sobre ou-
tros”, adicionando que apenas a América poderia liderar esse novo mundo imperial” (The Guardian, 31
de outubro de 2002).
Enquanto leva a cabo guerras com a finalidade de conquistar a dominação global, o imperialismo,
eternamente vociferando frases hipócritas sobre democracia e humanitarismo, estará sempre preparado
para aniquilar mulheres e crianças sem hesitação. E seus representantes mercenários estão bem dispostos a
justificar tais mortes:
“Nós achamos que o preço vale a pena”, dito pela Embaixatriz dos Estados Unidos Madeleine Albright,
em resposta a uma pergunta que foi feita se as mortes de meio milhão de crianças iraquianas foram um
preço que valeu a pena pagar para sanções (“Punindo Saddam”, CBS TV, programa “60 Minutes”, em
12 de maio de 1996).
Ao proferir as palavras nojentas acima, a Sra. Albright estava apenas seguindo os passos de Winston
Churchill, o implacável defensor do imperialismo britânico, este que tem sido falsamente retratado pelo
jornalismo burguês como o grande defensor da democracia e como um lutador contra o fascismo. Em sua
posição como Secretário Colonial no governo britânico, isso foi o que ele disse a respeito do uso da guer-
ra de gás contra os rebeldes curdos: “eu não consigo entender esse desgosto sobre o uso do gás. Eu sou
fortemente a favor do uso de gás venenoso contra tribos não civilizadas” (Winston Churchill, Secretário
Colonial, a respeito do uso de gás contra os curdos).
A primeira Guerra do Golfo contra o Iraque foi alegadamente travada, entre outras coisas, para
libertar o Kuwait da ocupação iraquiana. Mesmo após a evacuação das tropas iraquianas do Kuwait, o
imperialismo anglo-americano impôs sanções draconianas sobre o Iraque que custou a vida de centenas de
milhares de iraquianos, incluindo meio milhão de crianças – justificadas tão alegremente pela Sra. Albright
– e impôs uma zona de exclusão aérea sobre o norte do Iraque, bem como manteve um bombardeio inces-
sante sobre esse país. O propósito real desta guerra foi desnudado pelo apropriadamente chamado General
William Looney, diretor de bombardeio aéreo do Iraque, nestas palavras:
“Se eles ligarem seus radares nós iremos explodir os malditos SAMs deles. Eles sabem que nós somos
donos do país deles. Nós possuímos seu espaço aéreo... Nós ditamos o modo como vivem e falam. E é
isso o que é demais sobre a América agora. É uma boa coisa, especialmente quando existe ali muito do
petróleo de que precisamos”.
Desde a Segunda Guerra Mundial, através de suas guerras pela dominação do mundo, da Coreia até
a Indochina, do Afeganistão ao Iraque, Líbia e Síria, o imperialismo encabeçado pelos Estados Unidos já
causou a morte de dezenas de milhões de pessoas e devastou países, um após o outro.
De mãos dadas com o uso da força das armas, desenvolveu ferramentas de coerção e subversão. As
agências militares, de Inteligência e propaganda dos Estados Unidos, assim como o Departamento de Defesa
e a CIA, ajudaram financeiramente, após a Segunda Guerra Mundial, quase todas as técnicas de persuasão,
formação de opinião, interrogação e propaganda de massa, do mais simples até o tipo mais sofisticado.
Pouca coisa é deixada à mercê do acaso na venda da “América como um país livre.” Este é o jargão
do imperialismo estadunidense, com o qual é alimentado cada estadunidense desde o berço, junto com seu
leite materno. Repetido milhões de vezes todos os dias, o jargão é exportado para todo o mundo, preparando
assim tanto os estadunidenses em sua terra natal quanto os estrangeiros para o direito moral de o imperia-
lismo norte-americano fazer o que quer, tanto a nível doméstico quanto ultramar.
“Revolução Colorida” (Harpal Brar) URC 29
o que a CIA costumava fazer secretamente nos anos 1960 e início dos anos 1970.
Os quatro principais destinatários dos seus fundos são:
a) O Instituto Democrático Nacional para Assuntos Internacionais;
b) o Instituto Internacional Republicano;
c) uma filial da Federação Americana do Trabalho e Congresso de Organizações Industriais (AFL-CIO,
abreviado em inglês), tais como o Centro de Solidariedade Sindical Internacional;
d) e uma afiliada da Câmara de Comércio (tais como o Centro para a Iniciativa Privada Internacional).
Estas quatro acima, em seguida, transferem fundos para outras organizações nos Estados Unidos e em todo
o mundo.
O “National Endowment for Democracy” (NED) se mete nos assuntos internos de países estrangei-
ros mediante o fornecimento de fundos, conhecimento técnico, treinamento, material educativo, compu-
tadores, máquinas de fax, copiadoras, automóveis e assim por diante, para grupos politicos selecionados,
organizações cívicas, sindicatos, grupos de estudantes, editoras, jornais, etc. Destina-se a promover a (“li-
vre) iniciativa privada, colaboração de classes, a oposição ao socialismo, e a não-interferência do governo
na economia.
O livre Mercado é colocado como sinônimo de democracia, com uma ênfase no investimento es-
trangeiro. Os programas do NED estão em total sintonia com os objetivos básicos da globalização econômi-
ca da Nova Ordem Mundial. Ela financia a Fundação Nacional Cubano-Americana – um aparelho anticu-
bano ultra-fanático; financiou Luis Posada Carriles, que estava envolvido na explosão de um avião cubano
em 1976, que matou 72 pessoas. Em 1997, ele estava envolvido em uma série de explosões causadas por
bombas no Hotel Havana.
O bombardeamento terrorista para a mudança de regime em Cuba e em outros lugares em busca da
globalização traduz-se em democracia no mundo insano do imperialismo. É difícil de nos surpreender que
esta insanidade e duplos padrões deveriam ter levado o já velho Nelson Mandela, a quem os EUA tentou
dissuadir de visitar seu amigo Muammar al Gaddafi, na época o presidente da Líbia, o qual o Imperialismo
estava prestes a assassinar e destruir seu país, a protestar nesses termos consistentes:
“Como eles podem ter a arrogância de ditar como e para onde devemos ir, ou quais os países devem ser
nossos amigos? Gaddafi é meu amigo. Ele nos apoiou quando aqueles que tentaram impedir a minha vi-
sita aqui hoje eram nossos inimigos. Eles não têm moral alguma. Não podemos aceitar que um único Es-
tado assuma o papel de polícia do mundo” (Nelson Mandela, Washington Post, 4 de novembro de 1997).
Infelizmente, não são muitos os líderes ao redor do mundo que possuem a coragem de Mandela para
condenar a hipocrisia do imperialismo e sua missão de dominação em tais termos sinceros como ele o fez.
Agências de propaganda imperialista, de acordo com a evolução das necessidades do capital fi-
nanceiro, estão bem equipadas para transformar adversários deste último em demônios durante a noite ou
pintá-las em cores brilhantes quando tais adversários cedem a sua pressão. Aqui estão dois exemplos – a
primeira relativa à Polônia e segunda à Romênia.
Após o Golpe de Estado de 13 de dezembro de 1981 na Polônia, o General Jaruzelski era caracteri-
zado como um símbolo da “tirania” e do “totalitarismo stalinista”. O periódico Le Figaro de 21 de outubro
de 1989, ao contrário, dizia que Jaruzelski era um soldado devoto ao Partido tentando inventar uma nova
imagem – de um presidente acima de todos os partidos, que encarnaria toda a nação e não uma ideologia.
Com relação à Romênia, seu presidente, Ceausescu, recebeu a medalha real da Coroa Britânia e foi
seu convidado no Palácio de Buckingham. Descrito pela mídia imperialista como um “grande administra-
dor”, um “humanista”, “inimigo dos abusos burocráticos” e como um “homem sábio, que levava uma vida
simples”, a partir de 1989 ele se tornou um “tirano sangrento”, o “Drácula dos Cárpatos”, um “vampiro”,
o “Rei Sol da Romênia” – pela simples razão de haver se oposto veemente à onda contrarrevolucionária
que varria o Leste europeu. Anteriormente, ele havia se oposto à intervenção do Pacto de Varsóvia na Tche-
coslováquia, à intervenção soviética no Afeganistão, e contribuiu para o desenvolvimento do nacionalismo
anti-soviético no alvorecer da quebra do campo socialista.
Ele aceitara empréstimos do Ocidente, permitira o crescimento de privilégios, e espalhara a noção
de que o socialismo poderia ser conciliado com o crescente poder das corporações transnacionais em seu
“Revolução Colorida” (Harpal Brar) URC 31
país. Em 1989, contudo, ele não era mais necessário, dado que aqueles que levantavam abertamente a ban-
deira norte-americana já haviam chegado no poder na Polônia e na Hungria, que coincidiu com o período
em que Ceausescu começara a recuar nas reformas capitalistas.
O imperialismo começou a se digladiar com o socialismo no Leste europeu, assim como na URSS,
logo após o fim da Segunda Guerra Mundial. Fora os levantes contrarrevolucionários inspirados pelo im-
perialismo na República Democrática Alemã, Polônia e Hungria, que foram rechaçados rapidamente pelas
forças conjuntas da União Soviética e dos Partidos Comunistas destes países, o imperialismo e seus lacaios
tiveram sorte na Tchecoslováquia em 1968, durante o que foi conhecido como a Primavera de Praga. A li-
derança do Partido Comunista da Tchecoslováquia encabeçada por Dubcek declarava que a luta de classes
e a ditadura do proletariado eram contraditórias com os objetivos de seu movimento, que queria um “socia-
lismo com face humana” – um eufemismo para a restauração do capitalismo por meio do desmantelamento
da economia socialista planificada e sua substituição por uma economia de mercado, para não falar na
substituição da direção do Partido Comunista por um parlamento burguês pluripartidário.
A Primavera de Praga antecipou a posterior contrarrevolução pacífica em Budapeste e em outros
lugares. O Partido Comunista da Tchecoslováquia forsa completamente paralisado em 1968. Se Dubcek
houvesse permanecido como liderança, certamente passar-se-ia pela mesma evolução que se deu na Hun-
gria e na Tchecoslováquia em fins de década de 1980. A intervenção soviética em 20 de agosto de 1968 pôs
um freio nas atividades de grupos contrarrevolucionários ligados ao imperialismo, e deferiu golpes sobre a
ala revisionista do partido tcheco.
Em 1989, contudo, sabendo que a intervenção soviética poderia ser derrotada, as agências de in-
teligência imperialistas planejaram e executaram um torno da Primavera de Praga, e mobilizaram setores
podres da sociedade e do partido tchecos na direção tomada pelos contrarrevolucionários na Polônia e
Hungria. Duas principais forças se uniram na Tchecoslováquia através da Carta 77, os setores direitistas
católicos romanos e a social-democracia – ambos unidos em sua cruzada contra o socialismo. Para atingir
um público mais amplo, os organizadores da Carta 77 se esforçaram bastante para mobilizar os revisionis-
tas que começaram a sair do Partido Comunista a partir de 1968.
Graças a seus contatos com a mídia imperialista e agências imperialistas de inteligência, eles re-
ceberam uma ampla publicidade como “corajosos democratas” lutando contra o stalinismo e buscando a
salvação através da “teologia católica e evangélica como fonte fundamental da liberdade humana.” Eles
foram caracterizados pela mídia burguesa como defensores da democracia e dos valores humanos univer-
sais, e combatentes obstinados do “totalitarismo” na Tchecoslováquia – valores estes que só podiam ser
conquistados através do desmantelamento da ditadura do proletariado.
A data de agosto de 1978 testemunhou os primeiros encontros entre a Carta 77 e os três principais
líderes do Solidanorsc na Polônia – Adam Michnic, Jacek Karon e Jan Litynski. O Solidanorsc, com seu
patológico anticomunismo, foi uma mescla entre a Primavera de Praga e seu dito “socialismo com face hu-
mana”. Os dois lados assinaram acordos por troca de informações e apoio mútuo, e, juntos, fizeram contatos
com “defensores dos direitos humanos” na Armênia, Geórgia, Lituânia e Ucrânia.
Em 29 de junho de 1989, a Carta 77 fez um apelo para uma permanente ação de massas e por um
referendo nacional para “livrar a mídia de massas e as atividades culturais na Tchecoslováquia de todas as
formas de manipulação e abri-las ao livre debate” – um apelo que foi anunciado amplamente por estações
de rádio mantidas agências de inteligências de países imperialistas e suas imprensas.
O trotskista Petr Uhl foi um dos membros mais ativos deste grupo anticomunista acaudilhado em
torno da Carta 77. Ele admitia abertamente que todos os signatários da Carta 77 “não queriam mais saber de
Marxismo.” Como em todos os outros países socialistas, os trotskistas tchecos eram fervorosos apoiadores
da agitação anti-comunista instigada e organizada pela CIA e por toda a fauna e flora da coalizão daqueles
que clamavam pela volta do livre mercado, ao mesmo tempo em que se iludiam de que todos os outros
apoiadores da Carta 77 estavam inconscientemente ajudando a “vanguarda” trotskista a levar a cabo sua
“revolução política anti-burocrática” pela derrocada do “sistema stalinista”.
Os contrarrevolucionários tchecos, assim como seus semelhantes em outros países socialistas, des-
frutavam de um apoio entusiasmado dos trotskistas do Ocidente, como Ernst Mandel, que dava suas boas-
-vindas abertas ao estouro de contrarrevoluções em país após país, que finalmente se tornaram um esfera
para a absorção continua de corporações imperialistas.
32 URC Revista NOVA CULTURA - www.novacultura.info
Maio de 1989 testemunhou a conferência da ala “reformista” do Partido Comunista Húngaro adotar
um manifesto que marcou uma ruptura clara com todo o passado socialista: renunciou ao comunismo como
uma forma de “despotismo asiático”; reabilitou a contrarrevolução de 1956 e seu líder, Imre Nagy; pro-
moveu a transição para um sistema pluripartidário e para a transformação da economia. Esta ala se tornou
hegemônica no Congresso de 7 de outubro de 1989, que destruiu o Partido Socialista Operário Húngaro e
formou o novo Partido Socialista Húngaro, com as seguintes consignas: economia de mercado, democracia
parlamentar pluripartidária, e socialismo democrático ao invés de comunismo.
A “liberdade de expressão” foi feita através da abertura de Budapeste, em 1989, para os escritórios
da “Rádio Europa Livre”, financiada pela CIA e depois pelo Congresso norte-americano, com um único
barão da imprensa, Rupert Murdoch, comprando 50% das ações de dois famosos jornal e emissora de
televisão húngaros, e outro, Robert Maxwell, também anunciando suas intenções de investir em jornais e
televisões húngaras. Os trotskistas apoiaram com todo entusiasmo a contrarrevolução como a realização
da dita revolução social “anti-burocrática” de Trotski.
No final de novembro, movimentos contrarrevolucionários com nomes conhecidos, como o Solida-
norsc na Polônia, Fórum Cívico – a última encarnação da oposição na Tchecoslováquia, a União dos Demo-
cratas da Bulgária (que nasceu como um movimento ecologista, o Econoglasnost), o Novo Fórum na Ale-
manha Oriental, entre outros, estavam em ascensão. Sem dar um único tiro sequer, esta contrarrevolução,
tomando a forma de procissões de massa pacíficas, marchas de velas e demonstrações, utilizando o slogan
convincente e aparentemente não classista de uma “maior democracia”, derrotou os partidos comunistas
no poder com enorme rapidez. Um após o outro, governos dirigidos por partidos comunistas nos países
do Leste europeu abriram caminho para governos em que elementos anticomunistas ou não-comunistas,
burgueses e pequeno-burgueses, que possuíam há muito fortes laços com o imperialismo e reacionários
locais, prevalecessem. O último a cair foi Nicolau Ceausescu, em dezembro de 1989, sendo assassinado
judicialmente logo em seguida, junto a sua esposa Helena, uma semana depois, em 27 de dezembro.
O porta-voz mais representativo do capital financeiro britânico, o Financial Times, descrevendo
o ano de 1989 como “um verdadeiro ano miraculoso”, declarou então sua presunçosa satisfação: “com
o sangrento levante contra Ceausescu, a era totalitária na história europeia, iniciada por Lênin em 1917,
praticamente terminou, com apenas a Albânia, sozinha, sustentando-se como o único sobrevivente.” (2 de
janeiro de 1990).
Não apenas a pequena Albânia, como também a poderosa URSS, caíriam pouco tempo depois.
Tendo chegado ao poder, os novos governos contrarrevolucionários, completamente bancados pelo
imperialismo, logo tiraram suas luvas de pelicas e revelaram seu punho de ferro da contrarrevolução com
o objetivo de liquidar o socialismo, destruir a economia planificada, e instalar mecânismos de Mercado e o
pluralismo politico – com todas as consequências como desemprego em massa, indigência em larga escala,
crimes e roubo das propriedades do povo pelo imperialismo e sua pequena camarilha de lacaios locais. Esta
foi a essência dos slogans contrarrevolucionários de “libertar o marxismo das distorções stalinistas e burocrá-
ticas”! “A queda do comunismo é acompanhada por reformas econômicas que colocaram um fim ao dogma
da ‘socialização dos meios de produção’. As novas leis estabelecidas em praticamente todos os cantos ‘farão
de 1990 o ano da privatização de empresas’”, declarou o periódico L’Echo de 19 de dezembro de 1989.
Em 20 de dezembro de 1989, Ceausescu declarou corretamente que as demonstrações contrarrevo-
lucionárias contra seu governo foram organizadas em cooperação com círculos reacionários e imperialistas,
bem como com serviços secretos de vários países. A máquina de propaganda imperialista fez uma extra-
vagância de meias-verdades, falsificações e mentiras absurdas. Espalhou a mentira de que 12 mil pessoas
foram mortas em Timisoara – a verdade apareceu e foi demonstrado que foi 90 o número de pessoas mortas,
das quais um número desconhecido dos mortos eram comunistas.
Um informe oficial romeno feito alguns dias após o assassinato de Ceausescu demonstrou que, nas
perturbações que precederam a derrubada de Ceausescu, 688 pessoas por todo o país foram mortas – não
mais que as 76 mil como foi falsamente noticiado pelos órgãos de jornais impressos e eletrônicos do capital
financeiro. E, daqueles mortos, 280 foram militares e civis que trabalhavam no Ministério da Defesa. Mui-
tos eram membros do Partido Comunista e partidários de Ceausescu, e muitos pertenciam à Securitate.
A questão que se levanta: como poderiam governos do Leste europeu, após quatro décadas de cons-
trução socialista, cair de uma forma tão dramática? A resposta se assenta na debilitação dos partidos no
“Revolução Colorida” (Harpal Brar) URC 33
poder através da devastação do revisionismo khrushchevista, que começou a ascender na União Soviética a
partir da morte de Josef Stálin, principalmente a partir do XX Congresso do PCUS, e que então, partir dos
cuidados de Khrushchev, influenciou ou foi imposto sobre Partidos Comunistas do Leste europeu. Após a
intervenção do Pacto de Varsóvia para reprimir a dita Primavera de Praga de 1968, o Partido Comunista da
Tchecoslováquia analisou os desastrosos acontecimentos e chegou às seguintes conclusões baseando-se nas
terríveis experiências que se desdobraram:
“Uma das causas determinantes deste acontecimento catastrófico foi a gradual penetração nos órgãos
de direção do Partido de pessoas que, em maior ou menor escala, traiam o Marxismo-Leninismo e o
internacionalismo proletário, que violavam as normas da vida partidária e os princípios do centralismo
democrático. Estas pessoas gradualmente tomaram os postos de direção do partido. No curso dos últi-
mos anos, o ponto de vista classista acerca dos problemas se enfraqueceu, a vigilância revolucionária e
os princípios ideológicos retrocederam, os métodos pequeno-burgueses, o carreirismo e o oportunismo
cresceram. A formação do homem socialista, a luta pela consciência socialista e contra as tendências
não-classistas não se basearam num programa efetivo, adaptado para nossas condições, e em nosso
programa haviam fortes evidências de forças pequeno-burguesas, bem como influências e tradições
social-democratas. Aspectos internacionais de nossa evolução, que foram determinados por um agudo
antagonismo de classes do mundo contemporâneo, reforçaram a urgência da luta política e ideológica.
Nenhuma luta contra o oportunismo de direita em ascensão no partido foi levada a cabo, o que refletia
tanto as ações dos setores pequeno-burgueses e influências internacionais. A liderança de nosso Partido
também não tirou as conclusões necessárias da contrarrevolução húngara, nem preparou o partido para
utilizar os métodos devidos para confrontar a debilidade ideológica, que os imperialistas passaram a
utilizar como sua principal arma nos países socialistas.”
As perspectivas da luta
armada nas Filipinas
“As perspectivas da luta armada nas Filipinas” URC 35
36 URC Revista NOVA CULTURA - www.novacultura.info
1º ponto
Unir as massas para derrubar o sistema semicolonial e semifeudal através da Guer-
ra Popular e concluir a revolução nacional-democrática
De acordo com suas declarações anteriores, Duterte pode facilmente concordar com uma
mudança radical ou substancial no sistema semicolonial e semifeudal, mas não com sua derruba-
da através de uma Guerra Popular. Ele é único por se declarar como o primeiro presidente de es-
querda das Filipinas e como um socialista, mas não como comunista. Ele também diz ser contra a
luta armada e, neste sentido, é a favor de negociações de paz com a Frente Democrática Nacional
e está disposto a cooperar no sentido de realizar reformas básicas ou mudanças radicais.
Tendo sido ele meu aluno durante seus dias de estudante de faculdade e um antigo membro
do Kabataang Makabayan2, associado ao BAYAN3, ele compreende quais são as forças que geram
[1] O camarada Sison refere-se, aqui, aos seguintes movimentos de massas: Anakbayan; Liga dos Estudantes Filipinos; Movimento dos Es-
tudantes Cristãos das Filipinas; Panday Sining-KARATULA; União Nacional dos Estudantes das Filipinas; Aliança dos Editores Universitários
das Filipinas; membros do Kabataan.
[2] A organização Kabataang Makabayan (tradução: Juventude Patriótica) fora fundada por revolucionários filipinos no ano de 1964, como
um movimento de massas juvenil que contém em suas fileiras jovens estudantes, operários, camponeses, intelectuais e de outros estratos,
de 15 a 35 anos. O programa mínimo da Kabataang Makabayan é levar a cabo a revolução democrática filipina, ainda não concluída, contra
a dominação estrangeira e feudal no país, e elevar a classe operária como classe dirigente da revolução democrática de novo tipo. A organi-
zação possui a perspectiva da construção do socialismo. Nos dias de hoje, a Kabataang Makabayan integra as fileiras da Frente Democrática
Nacional, sendo uma de suas organizações membro.
[3] BAYAN é uma organização fundada no ano de 1985, no calor da luta contra a ditadura militar de Ferdinand Marcos. BAYAN expressa
uma sigla que significa Bagong Alyansang Makabayan, ou, em português, Nova Aliança Patriótica. Trata-se de uma organização de massas
democrática e de atuação legal e aberta, cuja atuação se dá principalmente nas regiões urbanas. Esta se opõe à opressão do imperialismo
norte-americano, do feudalismo e do capitalismo burocrático nas Filipinas, e defende a revolução democrático-nacional dirigida pela classe
operária como a única solução para pôr fim ao regime de opressão nacional sobre o povo filipino.
“As perspectivas da luta armada nas Filipinas” URC 39
as condições semicoloniais e semifeudais no país. Ele se coloca contra a dominação dos Estados
Unidos e outras potências estrangeiras sobre o país, contra a exploração feudal e a corrupção bu-
rocrática. Ele, contudo, se declarou contrário a luta armada. A questão que então se coloca é se é
ou não possível concluir a revolução nacional-democrática na ausência de uma Guerra Popular.
Ele pode argumentar que, como presidente e comandante-chefe das forças armadas rea-
cionárias, da polícia e outras forças auxiliares, ele possui a força armada para garantir reformas
que o povo demanda contra o imperialismo e a oligarquia. Mas, na história, há muitos exemplos
de líderes carismáticos ou chefes de Estado que sucumbiram à manipulação econômica neoli-
beral, neocolonial e financeira, que foram sujeitos a golpes de Estado por suas próprias forças
armadas ou a processos de impeachment pelo Congresso, após terem ultrapassado os limites
impostos pelo imperialismo norte-americano e os oligarcas.
Se ele concordar em realizar reformas sociais, econômicas e políticas básicas em con-
junto com a Frente Democrática Nacional, ele também deve concordar em politizar, organizar e
mobilizar o povo para um governo de unidade nacional, paz e desenvolvimento. Devem haver
garantias para desenvolver todos os meios necessários para satisfazer as demandas do povo,
principalmente das massas trabalhadoras, e para resistir de formas efetiva às manobras de de-
magogia e violências por parte dos imperialistas e oligarcas inimigos do povo.
A maneira com a qual o Presidente Duterte foi eleito, a atual composição de seu go-
verno e suas próprias declarações mostram que ainda há um longo caminho no sentido de se
negociar profundos acordos em termos de reformas sociais, econômicas e políticas que sejam
satisfatórias para o povo. Um cessar-fogo interino é possível para gerar uma atmosfera boa e
favorável para a libertação de mais de 500 presos políticos e para acelerar as negociações de
paz. Porém, a vigilância revolucionária é necessária para defender as forças patrióticas e pro-
gressistas, assim como a própria presidência de Duterte, que pode sofrer ameaças por parte
dos Estados Unidos e reacionários locais.
Como expus, eu conclamo a juventude filipina a continuar seus esforços em unir as mas-
sas para derrubar o sistema semicolonial e semifeudal através da Guerra Popular e pela conclu-
são da revolução nacional-democrática. Esta tarefa é válida na ausência de qualquer tratado de
paz final que seja satisfatório para o povo. Mesmo quando houver – e caso haja – algum tratado
do tipo, a partes contratantes e o povo devem ainda assim estar preparados para levar a cabo,
defender e desenvolver as reformas básicas estabelecidas em acordo.
Qualquer trégua ou aliança com a presidência de Duterte deve se justificar no sentido
de servir aos direitos e interesses democráticos e nacionais do povo filipino. Enquanto a presi-
dência de Duterte avançar no sentido destes pontos colocados, quaisquer de suas contradições
internas, imperfeições ou atitudes inadequadas devem ser sujeitas à análise crítica e submeti-
das a propostas construtivas. As forças patrióticas e progressistas devem manter sua iniciativa
independente. Um equilíbrio entre unidade e luta deve ser mantido, com a última sempre tendo
bases justas e razoáveis, com o objetivo de melhorar ou fortalecer a aliança.
2º ponto
Fundar uma república democrático-popular e um governo democrático de coalizão
Nas negociações de paz com o governo de Duterte, o que está em vista não é uma re-
pública democrático-popular sob a direção da classe operária e o Partido Comunista baseada
na aliança operário-camponesa. Para se fundar uma república deste tipo, deve-se derrubar as
classes exploradoras dos grandes capitalistas compradores e latifundiários através da Guerra
Popular. Porém, o tipo de república agora possível é uma na qual a participação do Partido Co-
munista dentro e fora do governo não seja mais banida, mas incentivada.
O que está em vista é um governo de coalizão que envolva a participação do Partido
Comunista junto a outras forças patrióticas e progressistas. É um governo de unidade nacio-
nal, paz e desenvolvimento. É um espectro político dentro do qual todas as forças patrióticas
e progressistas podem crescer, pois uma base comum de trabalho por reformas básicas, que
40 URC Revista NOVA CULTURA - www.novacultura.info
resultou de negociações de paz realizadas com sucesso, foi assentada. E o Partido Comunista
pode mostrar que é quem melhor serve o povo com seu programa e ações concretas a respeito.
O presidente Duterte deve receber o mérito por haver oferecido a possibilidade de um
governo de coalizão antes mesmo de vencer as eleições. E, no processo de formar seus mi-
nistérios, ele generosamente ofereceu ao Partido Comunista quatro pastas ministeriais relacio-
nadas a trabalho, reforma agrária, bem-estar social e meio-ambiente. O Partido Comunista e a
Frente Democrática agradeceram ao presidente por fazer essa oferta, e apontou os progressis-
tas legais que puderam assumir as seguintes pastas, enquanto que os líderes revolucionários
devem focar, primeiramente, no progresso das negociações de paz. Os progressistas são ainda
minoria nos ministérios de Duterte. As ações de Duterte, porém, antes e depois das eleições,
foram assim um incentivo para o movimento de massas patriótico.
A tarefa da juventude filipina, a este respeito, é ajudar a desenvolver um governo democráti-
co de coalizão para se avançar no sentido de desenvolver uma república democrático-popular. Os
jovens devem apoiar as iniciativas patrióticas e progressistas, bem como as medidas tomadas em
aliança com um governo outrora completamente reacionário. Os jovens devem continuar a ajudar
no fortalecimento do movimento de massas nas cidades e no campo, bem dos órgãos do poder
político no campo que servem como uma forte base para desenvolver um governo de coalizão.
3º ponto
Construir o Exército popular revolucionário e o sistema de defesa popular
O presidente Duterte já declarou em várias ocasiões ser contra a luta armada, bem como
pela existência de um único exército nas Filipinas. Tal proposição deve ser testada diante do
que é possível no imediato, que é um cessar-fogo interino, bem como negociações futuras para
se pôr fim às hostilidades e predisposições entre as forças armadas de ambos os lados. Há
muitas possibilidades a se considerar no sentido de lidar com dois exército opostos que cessam
de lutar um contra o outro.
Nenhum genuíno movimento armado revolucionário jamais aceitou a capitulação e seu
desmantelamento completo enquanto o lado oposto permanece intacto e se fortalecendo. Tré-
gua e aliança são as possibilidades mais concretas. As unidades armadas revolucionárias po-
dem se tornar guardas do meio ambiente e da indústria sob condições de paz e desenvolvimen-
to. A integração das forças armadas também é possível, como na experiência da Revolução
Chinesa. O desmantelamento mútuo também é possível se as unidades armadas se tornaram
desnecessárias diante da existência da paz. Os oficiais armados de ambos lados podem então
optar por obterem emprego na indústria ou voltarem a trabalhar na lavoura, como beneficiários
da genuína reforma agrária.
Stalin: o homem
Certamente, muitas poupanças podem ser feitas para o desenvolvimento dos serviços
públicos caso haja uma paz justa e duradoura. Porém, caso as reformas sociais, econômicas
e políticas sejam realmente sérias, profundas e estruturais o suficiente, os Estados Unidos e
suas forças reacionárias locais certamente levarão a cabo a contrarrevolução armada, tentarão
armar um golpe de Estado reacionário, uma guerra civil ou mesmo uma guerra de invasão aber-
ta perpetrada pelo imperialismo norte-americano. Por conta desta possibilidade, devem haver
que a burguesia
perspectivas concretas para se organizar a resistência popular.
A juventude filipina deve apoiar a trégua e a aliança com o propósito de se conquistar a
unidade nacional, a paz e o desenvolvimento, e deve sempre se colocar alerta e preparada para
enfrentar a contrarrevolução armada, bem como uma agressão ou intervenção estrangeiras. Ao pri-
meiro sinal de uma ameaça séria e iminente de agressão contra o povo filipino, a juventude filipina
4º ponto
Apoiar e promover os direitos democráticos do povo
“As perspectivas da luta armada nas Filipinas” URC 41
Todo o povo filipino deve apoiar e promover seus direitos democráticos: seus direitos
políticos, civis, econômicos, sociais e culturais contra aqueles que o oprimem e exploram. Os
direitos fundamentais do povo são mostrados no Programa para uma Revolução Democrático-
-Popular e no Guia para a Fundação de um Governo Popular. A Frente Democrática Nacional
das Filipinas também teve sucesso em elaborar, em conjunto com o governo de Manila, o Acor-
do sobre os Direitos Humanos e a Lei Humanitária Internacional utilizando a Carta Internacional
de Direitos Humanos e a Convenção de Genebra como pontos de referência.
O presidente Duterte declarou que irá focar em sua cruzada contra o crime e a violência
civil, e seu senso de urgência em implementar sua plataforma de reformas teve o efeito de des-
tacar questões como direitos humanos, especialmente direitos civis e políticos. Sua plataforma
de reforma entusiasmou e mobilizou milhões de pessoas de forma espontânea para sua cam-
panha eleitoral e iniciativas políticas. Isso possui um potencial gigantesco para se organizar as
massas num sentido democrático.
A juventude Filipina deve estar consciente do fato de que ela constitui a grande maior
parte do povo, de que é ela a camada mais aberta para as mudanças sociais fundamentais,
e que são os jovens os mais resolutos e militantes em reivindicar e perseguir estas mesmas
mudanças. Os jovens devem persistir na luta para assentar, defender e desenvolver os direitos
democráticos do povo.
5º ponto
Acabar com todas as relações desiguais com os EUA e outras potências estrangeiras
A declaração recente do presidente Duterte de que não se deve depender dos Estados
Unidos para assuntos de segurança nacional é bem-vinda. Após o Tribunal Permanente de Arbi-
tragem decidir em favor das Filipinas acerca de sua disputa marítima com a China, a China terá
menos razões para usurpar a Zona Econômica Exclusiva e a Plataforma Continental Estendida
das Filipinas, e o país terá mais segurança em desenvolver relações com a China e para jogar
no lixo os acordos executivos desiguais com os Estados Unidos, como o Acordo de Forças em
Cooperação e o Acordo de Cooperação Mútua de Defesa.
O povo filipino deve salvaguardar sua soberania nacional e independência, bem como
a integridade territorial de seu país. O povo filipino deve seguir reivindicando o fim de todos os
tratados, acordos e arranjos que envolvam relações desiguais com outros países nas esferas
econômica, financeira, política e militar. A juventude filipina deve usar sua inteligência para dar
fim à tradição reacionária e à prática de subserviência às potências imperialistas. Estas perpe-
tuaram as condições de elevado desemprego, subdesenvolvimento e pobreza generalizada.
6º ponto
Realizar a genuína reforma agrária, promover a cooperação agrícola, aumentar a
produção e empregos rurais através da modernização da agricultura e da industrializa-
ção rural, e assegurar a sustentabilidade agrícola
É muito bom que o presidente Duterte tenha nomeado um líder camponês de longa data,
Rafael Mariano, como Secretário da Reforma Agrária. O anterior governo de Aquino fizera o pro-
grama da já falsa reforma agrária entrar em colapso dois anos atrás. Mais de 80% dos supostos
beneficiários da reforma agrária não conseguiram amortizar as terras que lhes foram destinadas.
As terras sempre são novamente acumuladas nas mãos de alguns poucos, que o fazem no âmbi-
to do próprio programa da falsa reforma agrária. O camarada Paeng4 está agora responsável por
efetivar uma nova lei de reforma agrária que distribua as terras para aqueles que nela trabalham.
O povo filipino, os próprios camponeses e toda a juventude filipina devem lutar pela
adoção do genuíno programa de reforma agrária que envolva a distribuição gratuita das terras
[4] Camarada Paeng é o nome revolucionário do líder camponês Rafael Mariano.
42 URC Revista NOVA CULTURA - www.novacultura.info
7º ponto
Derrubar a dominação conjunta dos Estados Unidos e de outras potências impe-
rialistas, bem como dos capitalistas compradores e dos latifundiários sobre a economia
nacional. Levar a cabo a industrialização nacional e construir uma economia indepen-
dente e autossustentada
8º ponto
Adotar uma política social profundamente progressista
É de muito bom grado o presidente Duterte haver nomeado Judy Taguiwalo como Se-
cretária do Bem-Estar Social e Desenvolvimento. Certamente teremos alguém para nos ajudar
no que tange à distribuição temporária de bens de ajuda humanitária, bem como de fundos de
reconstrução e outros recursos para lidarmos com os desastres sociais e naturais. Porém, o
caminho para erguer o padrão de vida popular é o desenvolvimento da economia através da
industrialização nacional e reforma agrária. Tais medidas irão gerar a expansão do emprego e
melhores condições de trabalho nas linhas de produção e nas empresas pequenas e médias.
O povo filipino e a juventude devem apoiar o plano para o desenvolvimento econômico, criar e as-
segurar condições democráticas para direcionar os benefícios de uma economia em crescimento
para o povo. O povo deve exercer seus direitos democráticos para reivindicar melhores condições
de vida e trabalho, aumento dos benefícios sociais e a melhoria e aumento dos serviços públicos.
9º ponto
Promover uma cultura nacional, científica e de massas
como um caminho para melhorar a vida das crianças e da juventude, bem como para assegurar
um progresso duradouro para o povo. Ele anunciou sua intenção de realocar recursos no sentido
de libertar a educação e saúde públicas da corrupção e de muitos projetos e programas inúteis
e caros. Duterte manifestou críticas ao K-125 e apontou uma personalidade democrática para a
secretaria de Educação. Ainda que mais recursos sejam direcionados para beneficiar a educação,
o povo filipino e a juventude devem reivindicar uma cultura nacional, científica e de massas. De-
vemos promover um sistema cultural e educacional de tipo patriótico, que tenha orgulho de sua
herança nacional e que esteja a par das necessidades atuais da nação. Devemos libertar-nos dos
preconceitos medievais e feudais. Devemos utilizar a ciência e tecnologia para aprofundar o de-
senvolvimento econômico. Devemos assegurar que a educação e a cultura sirvam às necessida-
des e demandas do povo, principalmente às massas trabalhadoras de operários e camponeses.
10º ponto
Defender os direitos à autodeterminação nacional e democracia do povo muçulma-
no, dos povos de Cordillera e de outras minorias nacionais ou povos indígenas
O governo Duterte propõe a substituição do atual modelo de Estado unitário para um Es-
tado federativo. Acredita-se que o federalismo seja o melhor caminho para assegurar ao povo
muçulmano a autonomia regional e uma fatia justa da riqueza que é produzida em sua própria
região. Opositores argumentam que o federalismo iria estimular forças separatistas. Qualquer
que seja a forma de governo, o povo filipino e a juventude devem defender os direitos à auto-
determinação nacional e democracia do povo muçulmano, dos povos de Cordillera6 e de outras
minorias nacionais ou povos indígenas.
11º ponto
Avançar na emancipação revolucionária das mulheres em todas as esferas
Quando era prefeito da cidade de Davao, Duterte reconheceu e apreciou o papel das mu-
lheres na vida pública, criou instalações e estruturas para mulheres e crianças com necessidades,
e demonstrou deplorar a violência contra a mulher. O que ainda falta ser visto é o que mais ele
poderá fazer para defender a igualdade de gênero e ajudar a aumentar as elevadas potencialida-
des das mulheres que durante muito tempo foram suprimidas pelo patriarcado. O povo filipino e a
juventude devem avançar na emancipação da mulher em todas as esferas da vida social. Não há
esfera em que as mulheres não possam exercer atividades até mesmo melhores que seus seme-
lhantes homens, caso elas sejam reconhecidas como iguais e desfrutam de oportunidades iguais.
12º ponto
Adotar uma política externa ativa, independente e pacífica
[5] Trata-se de um programa educacional feito sob orientação do neoliberalismo durante o período da gerência do oligarca Benigno Aquino
III (2010-2016). De acordo com organizações democráticas como a Liga dos Estudantes Filipinos, o programa K-12 levou à evasão escolar
de cerca de 700 mil a 1 milhão de estudantes filipinos desde o início de sua aplicação.
[6] Cordillera é uma região nas Filipinas localizada ao norte da ilha de Luzon. Ali, vários povos indígenas travam lutas populares contra as
violações feitas por empresas madeireiras, mineradoras e do agronegócio sobre seus territórios originários. Em Mindanao, o povo muçulmano
reivindica sua autodeterminação nacional.
44 URC Revista NOVA CULTURA - www.novacultura.info
RESENHA: “A Reunificação da Alemanha” de Moniz Bandeira URC 44
resenha
Luiz Alberto de Vianna Moniz Bandeira é um autor indispensável para quem queira en-
tender o Brasil e o Mundo contemporâneos. Formado em Direito e doutor em Ciência Política
pela Universidade de São Paulo. Ele também é professor titular aposentado de História da Po-
lítica Exterior do Brasil, no Departamento de História da Universidade de Brasília. Possui ainda
o título de Doutor Honoris Causa pela UniBrasil e pela UFBA. A Formação do Império Ameri-
cano, Cartéis e Desnacionalizações, Presença Americana no Brasil, Brizola e o Trabalhismo, A
Segunda Guerra Fria, O “milagre alemão” e o desenvolvimento do Brasil, entre outras de suas
obras são leituras necessárias. Sua obra – editada pela primeira vez em 1992 – é também uma
peça valiosa para a compreensão da História Contemporânea e a formação da geopolítico dos
nossos dias. Gostaríamos de emitir algumas opiniões sobre seu trabalho. Como já assinala-
mos, a obra do Professor Moniz Bandeira é extremamente valiosa e no geral temos uma visão
positiva sobre ela. Porém, também discordamos fortemente se suas opiniões em alguns pontos
46 URC Revista NOVA CULTURA - www.novacultura.info
políticos. Mesmo em Estados muito mais pobres do que a Alemanha Oriental, a consequência
não foi uma ruptura tão grave como a passagem do capitalismo ao socialismo, por exemplo. Por
que então se deveria esperar invariavelmente a restauração do capitalismo na RDA?
Admitimos que a situação da RDA era bastante excepcional, sem dúvida. Ela havia se
constituído em uma situação política exótica – a divisão da Alemanha, pelas potências aliadas,
após a segunda guerra mundial. E existia, lado a lado, com outro Estado alemão, em um terri-
tório que era reconhecido, por todos os habitantes, como uno. É onde começa o segundo argu-
mento de Moniz Bandeira para explicar a inevitabilidade da bancarrota do regime do SED e a
unificação alemã. Moniz explica, e nisso concordamos com ele, que politicamente o regime do
SED havia ruído. A partir de 1989, ainda as vésperas da queda do Muro de Berlim, a situação
política havia se tornado insustentável.
A abertura da fronteira da Hungria com a Áustria abriu a possibilidade do êxodo maciço
das populações da RDA para a RFA. As manifestações de massa contra o governo tornaram-se
avassaladoras. E, sobretudo, o próprio SED havia sido de fato liquidado. Na maré montante das
manifestações antissocialistas de massa, as bases do Partido se rebelaram, organizando mani-
festações, ocupando os prédios do Partido e exigindo a sua “transformação”. O grande proble-
ma é que o autor pretende que tudo isso foi fruto do “regime stalinista”. Para ele, a ruptura de
1956, promovida pelo XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética, não significou
um abandono efetivo do “stalinismo”, mas sua continuidade. Sobretudo na RDA, este regime
teria permanecido inalterado mesmo depois da ascensão de Gorbachev ao poder na URSS.
É verdade Honecker não pode ser identificado a Gorbachev e o homem dos soviéticos no
SED, a partir da segunda metade dos anos 1980, foi Hans Modrow e não ele. Porém, não pode-
mos falar de Honecker como um “stalinista”. Ele foi alçado ao poder na Alemanha Oriental, em
1971, por um golpe de mão dos soviéticos que depuseram Ulbricht, seu antigo homem de con-
fiança transformado em um empecilho, por se opor a uma aproximação da URSS com a RFA
por cima dos interesses da RDA. A partir de 1973, ele mesmo procurou aproximar-se do gover-
no de Bonn, tornando a RDA economicamente dependente dos imperialistas alemãs-ocidentais.
Depois que a RFA salvou a Alemanha Oriental da bancarrota com imensos empréstimos, em
1983, Honecker passou a ser malvisto pelos dirigentes soviéticos. No entanto, em 1987, ele
rejeitou a Perestroika e a Glasnost e defendeu a continuidade do socialismo na RDA. Em 1988,
em meio ao auge da degenerescência contrarrevolucionária da Glasnot ele proibiu revistas
soviéticas, com conteúdo abertamente anticomunista, de circularem na Alemanha Oriental. Foi
quando Kremlin decidiu derruba-lo. Esse é outro ponto importante. A obra do Professor Moniz
Bandeira não deixa subsistir dúvidas sobre isso, a URSS revisionista atuou descaradamente
para derrubar dirigentes que não correspondiam aos seus interesses, assim como qualquer
potência imperialista faria. Quanto a Honecker, na RDA, ele afirma:
(...) torna-se claro que a URSS não só não impediria como até mesmo desejava uma rápida
transformação na RDA. Era natural, portanto, que Gorbatschow instrumentalizasse o KGB
para desestabilizar, inclusive, se necessário, com a realização de covert actions e spolling
actions, e remover aqueles dirigentes de países do Leste europeu que se opunham aos
objetivos econômicos e políticos, tanto internos quanto externos, da URSS. E, para tanto, ci-
dadãos soviéticos não precisavam aparecer. O KGB sempre contara com agentes nacionais,
tais como Erich Mielke e Markus Wolf, dirigentes do STASI, sempre servis à sua orientação.
(BANDEIRA, 1992: p. 160)
Dessa maneira, os agentes soviéticos no interior do SED começaram a agir para realizar
seu golpe de Estado. Como eles mesmos admitiram posteriormente, sob essas condições é que
se dá a substituição de Honecker por Krenz, em 1989.
Essa é nossa opinião sobre Honecker: ele foi levado ao poder na condição de um fan-
toche de Brejnev, quando os revisionistas soviéticos buscaram conter os arroubos de indepen-
dência de Walter Ulbricht na direção do SED. Durante as quase duas décadas em que esteve
no poder, agiu como um fiel aliado do governo de Bonn e dos imperialistas alemães-ocidentais,
48 URC Revista NOVA CULTURA - www.novacultura.info
tornando a RDA dependente de seus capitais e empréstimos. Ele não estava, porém, disposto a
ir tão longe quanto Gorbachev e liquidar os últimos vestígios do socialismo e da ditadura do pro-
letariado. Lutou, no final de seus dias, contra a propagação das ideias anticomunistas na RDA,
porém, os seus métodos, meramente administrativos, se mostraram totalmente ineficazes.
Honecker buscou banir as ideias ultrarrevisionistas dos soviéticos, proibindo as suas
revistas de circularem. Mesmo nos piores momentos das divergências sino-soviética, Mao Tse-
-tung e o Partido Comunista da China editaram as obras completas de Khrushchev em chinês.
Eles travaram uma aberta, franca e polêmica troca de opiniões com a direção soviética. Sua
postura adiou a restauração do capitalismo na China em várias décadas. O fracasso da luta
pela manutenção do socialismo travada por Honecker, no final dos anos 80, pode ser medido
pela facilidade com que a população da Alemanha Oriental, sobretudo a mais jovem, abandona
os ideais socialistas pelo desejo de alcançar os padrões de consumo da Alemanha Ocidental e
como arriscavam tudo atravessando a fronteira da Hungria com a Áustria.
Não estamos em condições de avaliar mais profundamente o processo gradual de apro-
fundamento do revisionismo no interior daquele país e de seu partido e como ele levou aos
poucos à ruína do socialismo. A obra do Professor Moniz Bandeira não tem como objetivo em-
preender esse estudo, tendo em vista suas opiniões. Porém, nos traz alguns indicativos. Em
1956, após o XX Congresso do PCUS, o governo de Ulbricht adotou o programa conhecido
como Novos Rumos. Ele previa a desaceleração dos ritmos de industrialização do país em fa-
vor do aumento dos padrões de consumo. Considerando as condições da Alemanha Oriental,
é possível que a ausência de uma política econômica mais autárquica possa ter debilitado a
construção do socialismo. Já sabemos que, nos anos 1970, ela se aproximou economicamente
da RFA e terminou por se tornar economicamente dependente desta, na década seguinte.
Todavia, devemos levar em conta que, durante quase uma década (1945-1953), a URSS
removeu boa parte das instalações industriais da RDA, sob a forma de reparações de guerra.
Esse é outro ponto onde o livro do Professor Bandeira termina por compactuar com as posições
anticomunistas. É verdade que as indenizações de guerra cobradas pela URSS se transforma-
ram num fardo extremamente oneroso para a economia alemã-oriental nos anos de sua recupe-
ração. Porém, não é justo considerar ilegítimas essas exigências. Os soviéticos haviam sofrido
o maior ônus durante a segunda guerra mundial, quebrando o grosso da máquina de guerra de
Hitler e sofrendo com a perda de 25 milhões de vidas. Sua economia encontrava-se arrasada no
pós-guerra e precisava ser reconstruída. Em 1950 ela somente havia recuperado os níveis de
produção de 1940 e era, além do mais, a maior potência econômica do bloco socialista recém-
-formado, em sua maioria composto por economias pobres e debilitadas pela anterior ocupação
alemã. Seu fortalecimento era a única garantia do socialismo em meio as tensões políticas e
ameaças militares dos primeiros anos efervescentes da guerra fria.
De qualquer maneira, permanece verdadeiro o fato de que esse ônus foi cobrado ao povo
alemão-oriental durante os seus anos mais difíceis. Além do mais, o programa de industrializa-
ção do primeiro plano quinquenal da RDA exigia uma carga a mais de sacrifício, que foi cobrado
na forma de elevação da jornada de trabalho no setor industrial, sem uma contrapartida salarial.
Isso disponibilizou o combustível necessário à sublevação contrarrevolucionária, em 1953, que
só foi contida com a ação das tropas do Exército Vermelho. Já então, assentou-se a possibili-
dade da adoção do programa que posteriormente sintetizaria a orientação do “Novos Rumos”.
Tinha-se em vista responder àquelas condições objetivas que possibilitaram que os agentes do
imperialismo conseguissem agitar uma parcela da população contra o socialismo. Essa orien-
tação encontra então seu defensor na pessoa de Lavrenti Beria. Logo depois, ele seria preso e
executado sob a acusação de querer capitular perante a contrarrevolução e entregar o socia-
lismo na Alemanha Oriental. As condições por trás da execução de Beria ainda nos parecem
bastante obscuras e não podemos chegar a conclusões definitivas sobre esse aspecto.
Outro aspecto da influência do revisionismo sobre as condições que levaram à dege-
nerescência da situação na RDA é o político. O livro do professor Moniz Bandeira dá bastante
ênfase a esse ponto quando aponta como a corrupção havia se generalizado entre as instân-
RESENHA: “A Reunificação da Alemanha” de Moniz Bandeira URC 49
NOVA
www.no
CULTURA
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Figuras do Movimento Operário URC 51
Francisco Julião
Francisco Juliano Arruda de Paula (1915-1999), nascido no seio
de uma família católica donos de engenho, na cidade de Boa Jar-
dim, em Pernambuco, foi um dos mais proeminentes líderes do
movimento camponês do Brasil. Trabalhando como advogado,
abraçou a causa dos condenados do campo, da luta campone-
sa, enxergou a realidade do cambão, arrendamento e do foro, e
compreendeu as diferenças entre o Código Civil que aprendeu na
faculdade e a realidade concreta do cotidiano da vida do campo. A
partir daí se empenhou em, como advogado, recorrer à Justiça a
fim de combater tais práticas pré-capitalistas. Descobriu na prática
o caráter de classe da legislação e que apenas a organização dos
camponeses e trabalhadores rurais poderia mudar sua situação.
Filiou-se primeiramente ao Partido Republicano, mas desiludido,
logo em seguida se filiou ao recém-criado Partido Socialista Bra-
sileiro (PSB). Ali já chamava a atenção do DOPS de Pernambuco,
onde o tachavam de “comunista” e “elemento esquerdista”. Em
1951, escreveu um livro de contos de nome “Cachaça”, onde co-
loca o alcoolismo como instrumento dos latifundiários. Além disso,
também escreveu poemas, cordéis, romances, ensaios e outros
contos, entre eles “Até Quarta, Isabela”, relato em forma de prosa escrito no cárcere após ser preso
pela ditadura militar-fascista em 1964, “Cambão”, ensaio publicado no México onde denuncia a ser-
vidão feudal da qual era submetida o camponês de Pernambuco, e o romance “Irmão Juazeiro”. Em
1954 foi eleito deputado estadual pelo PSB, junto com Josué de Castro. Em 1955, foi chamado por
um grupo de camponeses de Engenho Galileia, a advogar em defesa deles que estavam ameaçados
de serem despejados pelo proprietário da terra. Esse grupo possuía uma associação chamada So-
ciedade Agrícola e Pecuária dos Plantadores de Pernambuco, que depois, passou a ser chamada de
“ligas camponesas” pela imprensa reacionária e deputados udenistas. As Ligas Camponesas, então,
quando surgiram, fundada por João Firmino, José Ayres dos Prazeres, entre outros moradores de
Galileia, possuía como principal reivindicação o enterro digno aos camponeses que eram mortos.
Colocou como eixo reivindicatório das Ligas Camponesas, duas pautas: abolição do cambão e não
pagar o aumento do foro. Em 1957, visando expandir a liga e aumentar a luta pela reforma agrária,
chamou as Ligas para o Primeiro Congresso Camponês de Pernambuco. Em 1961 as Ligas já conta-
vam com comitês regionais em dez Estados brasileiros, tendo 25 núcleos no Estado de Pernambuco,
principalmente na Zona da Mata.
Em abril de 1960, Julião viajou pela primeira vez para Cuba, onde também estreitou laços de amiza-
de com Fidel Castro. Também viajou para a URSS e visitou a China Popular. Após o Golpe de 1964,
Julião teve seu mandato de deputado de 62 cassado, e foi preso em maio do mesmo ano. Foi solto
nos fins de setembro, mediante um habeas-corpus, onde partiu para o exílio no México. Mesmo che-
gando a retornar para o Brasil após o fim da ditadura militar, voltou para o México onde morreu de
infarto em 1999. Todos os progressistas devem reivindicar seu legado de combatente do povo, em
defesa da reforma agrária, hoje levantando a atualíssima bandeira da destruição do latifúndio.
URC
UNIÃO RECONSTRUÇÃO COMUNISTA
A União Reconstrução Comunista (URC) visa ser um polo aglutinador
de todos os militantes revolucionários e ativistas descontentes com os
rumos tomados pelo movimento comunista em nosso país, destruído
e corroído pelo revisionismo e oportunismos de direita e esquerda.
Após longos estudos e debates e um ano da fundação do Coletivo Ban-
deira Vermelha, conquistamos, enfim a base da unidade orgânica que
deve nortear nossa prática: a unidade ideológica na teoria do proleta-
riado desenvolvida por Marx, Engels, Lenin, Stalin e Mao; a luta pela
refundação do Partido Comunista com base na teoria revolucionária
do proletariado; a necessidade de se levar a cabo a Revolução Prole-
tária dentro das condições concretas de nosso país.
www.uniaoreconstrucaocomunista.blogspot.com