Você está na página 1de 3

Editorial

Reconectar-se com a classe


Se nos perguntarem qual o principal desafio da CUT, do PT, dos
sindicatos, dos movimentos, da esquerda como um todo, nossa
resposta deve ser: reconectar-se com a classe trabalhadora e suas
lutas cotidianas.
E para dar conta deste desafio, os sindicatos seguem tendo um papel
fundamental.
O movimento sindical, se quer reconquistar a confiança dos
trabalhadores e das trabalhadoras, deve unificar lutas e manter
conexão sólida e permanente com o cotidiano da vida da classe. Isso
incluiu vincular a organização e mobilização a pautas que se
conectem, a exemplo das lutas por salários mais justos, recuperação
de direitos trabalhistas, condições de trabalho seguras, igualdade de
gênero, igualdade racial e acesso a serviços públicos de qualidade.
Mas a luta sindical, assim como a luta da esquerda em geral, não é
uma soma de objetivos parciais. Se a classe trabalhadora e a maioria
da sociedade não tiverem uma utopia, não tiverem um projeto
coletivo, de nada serviram os sindicatos, os movimentos, os partidos,
as organizações coletivas.
Portanto, a reconexão com a classe é um movimento complexo.
Envolve os temas cotidianos e envolve temas mais amplos, como a
luta pela redução da jornada de trabalho sem redução de salários,
uma demanda histórica que permanece relevante e encontra-se fora
da pauta atual dos sindicatos, especialmente diante das jornadas
excessivas e das precárias condições de trabalho enfrentadas.
Outro ponto fundamental é uma reforma sindical que permita formas
de financiamento e organização dos sindicatos que combatam a
fragmentação, sejam aprovadas democraticamente pela classe
trabalhadora e que não esteja atrelada ao Estado e proporcione
independência de governos e dos patrões.
A reconstrução do movimento é essencial não apenas para a defesa
dos direitos dos trabalhadores e das trabalhadoras, mas para garantir
a construção de uma sociedade mais justa, que melhore a
perspectiva de bem-estar social, econômico e sustentável. E explicitar
este objetivo de médio e longo prazo é decisivo também para
construir vitórias no curto prazo.
Hoje nossa classe vive o massacre imposto pelo capitalismo
neoliberal ao mundo do trabalho, o adoecimento físico e psíquico
mostram a penúria do cotidiano do trabalho. Sendo assim, é essencial
disputar o campo das ideias e deixar claro, por exemplo, os malefícios
da pejotização, terceirização, da uberização e o que o chamado
empreendedorismo significa de fato para os trabalhadores e
trabalhadoras.
Além disso, é fundamental abordar questões como o home office sob
a perspectiva da classe trabalhadora, considerando o impacto desse
modelo de trabalho nas vidas das pessoas e na organização coletiva.
É crucial melhorar a comunicação sobre as realidades cotidianas,
abordar questões como assédio e sobrecarga de trabalho de forma
eficaz, para recuperar a confiança da classe trabalhadora.
Pesquisas recentes mostram que os sindicatos estão no final da lista
de instituições em que as pessoas confiam, os níveis de sindicalização
nunca estiveram tão baixos. Isso mostra a urgência de uma
reestruturação significativa, para reocupar o terreno perdido para
outras organizações de caráter conservador e neoliberal.
Lamentavelmente, no movimento sindical e em outras frentes, a
disputa político-ideológica está sendo relegada a segundo plano,
resultando em uma perda da identidade anticapitalista do movimento.
As políticas de conciliação de classe são um dos fatores que
contribuíram para esse desvio, que reduz a capacidade de luta do
movimento sindical.
Daí a necessidade do movimento sindical ter a formação para a luta
de classes, a cultura e a comunicação como instrumentos
fundamentais, que sejam capazes de oferecer uma visão de futuro e
um projeto coletivo capazes de inspirar a classe trabalhadora e
coloca-la em movimento.
Em resumo, muita presença no cotidiano da classe, em suas lutas, e
muito esforço para elevar o nosso horizonte de possibilidades. Quanto
mais socialista for a classe, mais êxito teremos nas lutas imediatas.
Este é o pensamento que atravessa todos os textos desta edição de
Página 13, voltado especialmente para as delegadas e delegados
presentes ao Congresso da CUT.
Viva a CUT, viva a classe trabalhadora.
A direção nacional da tendência petista Articulação de Esquerda

Box
Nós da Articulação de Esquerda, fizemos, recentemente, uma
conferência sindical. E está para ser publicado um livro com as
resoluções que produzimos desde a criação do setorial sindical da AE.
Assim, para quem quiser conhecer o que pensamos a respeito da CUT
e do movimento sindical, recomendamos a leitura destes
documentos.

Você também pode gostar