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20/10/2023, 12:36 Classes e Movimentos Sociais

CLASSES E MOVIMENTOS SOCIAIS


CAPÍTULO 4 - OS DESAFIOS DO ASSISTENTE
SOCIAL NO Â MBITO DOS MOVIMENTOS
SOCIAIS

Claudilene Pereira de Souza

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Introdução
Nesta unidade, estudaremos os desafios do assistente social no âmbito dos movimentos sociais e do
panorama desses movimentos no contexto local. Veremos sobre a origem e a evolução histó rica dos “novos
movimentos sociais” e um dos principais movimentos no contexto regional, o Movimento Zapatista.
Além disso, veremos sobre a origem e a organização dos principais movimentos sociais no Brasil. Você sabe
quais são as principais reivindicaçõ es, conquistas e derrotas desses movimentos? Você conhece a
importância da relação entre o Serviço Social e os movimentos sociais? Você sabe quais são os principais
desafios do assistente social no âmbito dos movimentos sociais?
Então, para responder essas e outras questõ es, estudaremos a relação entre o Serviço Social e os principais
desafios do assistente social, assim como a origem, o desenvolvimento, as principais reivindicaçõ es,
conquistas e derrotas dos movimentos sociais brasileiros.
Bons estudos!

4.1 Desafios do assistente social no âmbito dos movimentos


sociais
A relação entre o Serviço social e os movimentos sociais não é somente necessária, essa relação foi — e ainda
é — decisiva para a constituição do projeto ético-político profissional. Apesar dessa denominação ter sua
origem nos anos 1990, ela já fazia parte dos debates desde a década de 1970, no período que começou um
“[…] movimento político, teó rico e acadêmico-profissional de ruptura com o conservadorismo no Serviço
Social” (ABRAMIDES; DURIGUETTO, 2014, p. 26).
Nesse contexto, o projeto profissional do Serviço Social inicia uma nova tendência na profissão, superando
seu papel tradicional pedagó gico em favor da constituição de uma nova “cultura profissional” que tenha como
referência a emancipação da classe trabalhadora através de sua mediação com os movimentos sociais
(ABRAMIDES; DURIGUETTO, 2014).

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VOCÊ QUER LER?

O livro “Movimentos sociais e Serviço Social: uma relaçã o necessá ria” (2014),
organizado por Maria Beatriz Abramides e Maria Lú cia Duriguetto, apresenta uma
coletâ nea de artigos de diversos autores. Está dividido em duas partes: a primeira
apresenta artigos sobre os “Movimentos sociais e a luta de classes na
contemporaneidade”, enquanto a segunda traz artigos que debatem os “Movimentos
Sociais e Serviço Social: produçã o de conhecimento, formaçã o, intervençã o e
organizaçã o político-profissional”.

Apó s os anos 1990 ocorreu uma mudança nas relaçõ es econô micas, sociais e políticas no Brasil causadas,
principalmente, pela implantação das políticas neoliberais no país. Essas transformaçõ es afetaram
diretamente a classe trabalhadora e as organizaçõ es que representam essa classe, como os sindicatos e os
movimentos sociais. Temos como exemplos: o estímulo as privatizaçõ es das empresas estatais, a
flexibilização dos direitos sociais e trabalhistas, a diminuição ou retirada das coberturas sociais, gerando o
“[…] desemprego, aumentando a exploração da força de trabalho e corroendo os sistemas pú blicos de
seguridade social” (ABRAMIDES; DURIGUETTO, 2014, p. 179).
Vamos assistir a um vídeo sobre a temática para melhor conhecermos esse cenário? Acompanhe!

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Nesse sentido, para compreender os desafios do assistente social no âmbito dos movimentos sociais é
necessário entender as categorias de análise que envolvem esse assunto. Por isso, a partir de agora,
estudaremos a origem e a organização dos “novos movimentos sociais”.

4.1.1 Origem e desenvolvimento dos “novos movimentos sociais”


Os “novos movimentos sociais” também são denominados de “movimentos sociais contemporâneos ou
emergentes” e aparecem em determinados momentos como complemento ou como alternativa aos
movimentos sociais clássicos, como é o caso do movimento sindical e também dos partidos políticos de
esquerda.
Em nível internacional, a procura de alternativas às lutas sindicais fez com que nascessem, durante o final dos
anos 1960 e início dos anos 1970 (tendo como referência os processos revolucionários, as lutas contra
ditaduras militares, principalmente na América Latina e no Brasil e também o Maio de 1968 — iniciado na
França), açõ es de resistência da classe trabalhadora, que além de lutar por melhores condiçõ es de trabalho e
salários, também lutavam por mudanças econô micas, sociais e políticas na sociedade (MONTAÑ O;
DURIGUETTO, 2011).

VOCÊ SABIA?
Maio de 1968: O ano de 1968 “marca a entrada em cena do movimento
estudantil como protagonista de grandes mobilizações na Europa, EUA e Amé rica
Latina”. Uma das principais bandeiras de luta que unificou o movimento
estudantil internacionalmente foi a luta contra a Guerra do Vietnã . O “maio de
1968” contribuiu para que nascessem “movimentos que levantaram bandeiras
político-culturais progressistas” como os movimentos feministas (pelo direito ao
divórcio) e os movimentos negros – “Malcom X, Panteras Negras, Luther King”, que
levantavam bandeiras “pelos direitos civis dos negros norte-americanos”, como
també m os movimentos ambientalistas e movimentos contra lgbtfobia, entre
outros (MONTAÑ O; DURIGUETTO, 2011, p. 258).

Nesse contexto, nascem os chamados “novos movimentos sociais” ou movimentos sociais contemporâneos
ou emergentes, como “[…] o movimento de protesto mundial contra a Guerra do Vietnã, o maio parisiense de
68, os movimentos ecoló gicos, urbanos, antinucleares, feministas, dos homossexuais, pelos direitos civis dos
negros nos Estados Unidos” etc. (MONTAÑ O; DURIGUETTO, 2011, p. 265).

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O limite do movimento social clássico (sindical) foi que, apesar de ter lutado contra o sistema de exploração
capitalista em defesa dos interesses da classe trabalhadora, até esse período, não conseguiu abranger e
articular as lutas em relação às outras reivindicaçõ es dos novos movimentos sociais emergentes.
Alan Bihr (1998) afirma que os movimentos sociais emergentes possuem duas características principais: a
primeira se refere a “uma relação de indiferença ou mesmo de hostilidade” no que diz respeito às formas de
organização e as referências políticas e ideoló gicas do movimento sindical/operário clássico, pois, na análise
desses movimentos, o movimento sindical se preocupava somente com as relaçõ es econô micas de
exploração entre capital e trabalho, não se preocupando em absorver outras reivindicaçõ es para além dessas
relaçõ es. A segunda característica é que esses movimentos sociais emergentes costumam ter uma postura
“antiEstado” e “antipartidos políticos” (BIHR, 1998).
Os movimentos contemporâneos também têm elementos positivos, como de colocar no panorama político
questõ es como: “[…] gênero, raça, etnia, religião, sexualidade, ecologia” (BIHR, 1998, p. 152), entre outros.
Vários desses movimentos também reivindicam questõ es relacionadas a saú de, educação, moradia,
transporte, entre outros. Esses fatores ajudam a mostrar que as relaçõ es vão para além da esfera econô mica,
mas, também, estendem-se para as relaçõ es sociais, ampliando a totalidade do processo de produção e
reprodução da vida em sociedade.
Outro limite dos movimentos sociais contemporâneos são que eles limitam seu alcance político, pois, em
geral, essas lutas não são realizadas em conjunto com a classe trabalhadora em sua totalidade e também
porque essas lutas, geralmente, acabam tendo um caráter de reivindicaçõ es específicas, então, esses
movimentos têm a tendência de se extinguir quando suas demandas e reivindicação são atendidas (BIHR,
1998). Apesar desses limites, não se pode desconsiderar a importância das lutas e das reivindicaçõ es dos
movimentos sociais contemporâneos.
Apó s você ter estudado sobre a contextualização histó rica dos “novos movimentos sociais”, veremos agora
sobre a importância das lutas dos movimentos indígenas na América Latina através do Movimento Zapatista
no México.

4.2 Panorama dos movimentos sociais no contexto regional:


o Movimento Zapatista (México)
O Movimento Zapatista é composto, em sua maioria, por indígenas de várias etnias e também por
camponeses. Além de reivindicarem a “[…] autogestão, autodeterminação e autonomia dos povos indígenas”
(MONTAÑ O; DURIGUETTO, 2011 p. 282), que na prática são a delimitação do territó rio, regulamentação das
terras indígenas, preservação da língua, cultura, entre outros. Também é um movimento que tem um caráter
anticapitalista e anti-imperialista, lutando contra a mundialização do capital e o neoliberalismo. Suas
principais formas de luta são: ocupaçõ es de terras, greves, bloqueio de estradas, marchas, entre outros. Vários
desses movimentos indígenas e camponeses têm a influência do marxismo clássico, combinando também
questõ es étnicas, linguísticas e culturais).
Apó s termos conhecido o Movimento Zapatista, estudaremos, a partir de agora, a origem e a evolução
histó rica dos principais movimentos sociais em nível internacional e como esses movimentos se formaram e
se organizaram no Brasil.

4.2.1 Panorama dos movimentos sociais no contexto local:


movimentos sociais no Brasil
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) nasce oficialmente em 1984. Uma das
principais conquistas do MST foi recolocar a questão da reforma agrária em debate na sociedade e no Estado
brasileiro por meio do questionamento da propriedade privada (ocupação de latifú ndios).

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VOCÊ QUER VER?

O curta-metragem “O que é agroecologia”, produzido por Rafael Forsetto e Kiane Assis,


foi vencedor do Concurso Global de Vídeos da Juventude sobre Mudanças Climá ticas –
TVEBioMovies 2019, na categoria “alimentaçã o e saú de humana”, promovido pela
Organizaçã o das Nações Unidas (ONU). O vídeo mostra a produçã o agroecológica dos
agricultores do MST do Assentamento Contestado, localizado na Lapa, no Estado do
Paraná . Saiba mais em: https://mst.org.br/2019/09/11/filme-sobre-mst-e-
agroecologia-ganha-premio-da-onu (https://mst.org.br/2019/09/11/filme-sobre-
mst-e-agroecologia-ganha-premio-da-onu)/.

Suas principais formas de luta são as ocupaçõ es de latifú ndios (grandes propriedades rurais) improdutivos,
marchas, atos pú blicos etc. Em seus princípios filosó ficos e pedagó gicos o MST trabalha a questão da “[…]
cooperação, educação de classe, a formação da sociedade por meio de valores humanistas e socialistas”
(MONTAÑ O; DURIGUETTO, 2011, p. 276) voltados para as transformaçõ es econô micas, políticas e sociais da
sociedade.

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Figura 1 - Protesto das mulheres do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) pela Reforma
Agrária no Brasil
Fonte: Joa Souza, Shutterstock, 2020.

O MST também compõ e o movimento internacional de camponeses denominado Via Campesina. O projeto
político do MST é realizar a reforma agrária e também construir uma sociedade justa e igualitária, através da
articulação das lutas populares com os trabalhadores e movimentos sociais urbanos (MONTAÑ O;
DURIGUETTO, 2011).
Quanto ao Movimento Negro, as lutas dos movimentos de combate à discriminação racial na América Latina
e no Brasil tem como principal influência os movimentos “libertários de descolonização” da Á frica, no
combate ao apartheid na Á frica do Sul e nas lutas pelos direitos civis dos negros nos Estados Unidos.
Destacam-se nessas lutas: Marthin Luther King, Malcom X e o Partido Pantera Negra para Autodefesa.

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VOCÊ O CONHECE?

Angela Davis (1944) é professora e filósofa, foi integrante do Partido Panteras Negras.
Foi presa em 1970, ficando conhecida internacionalmente em razã o da campanha pela
sua libertaçã o. Integrou o Partido Comunista dos Estados Unidos, sendo candidata a
vice-presidente da Repú blica em 1980 e 1984. Autora de diversos livros, entre eles:
“Mulheres, raça e classe” (2016) e “Mulheres, cultura e política” (2017), ambos
publicados no Brasil pela editora Boitempo. Saiba mais em:
https://www.geledes.org.br/angela-davis/ (https://www.geledes.org.br/angela-
davis/).

No Brasil, o Movimento Negro de forma mais organizada surgiu no final do século XIX. Em 1931 se constituiu
a Frente Negra Brasileira, que além de lutar contra a discriminação étnico-racial, também reivindicava “[…]
condiçõ es mais justas de acesso a população negra ao mercado de trabalho” (MONTAÑ O; DURIGUETTO, 2011,
p. 282).
Essa Frente se tornou um partido político em 1936, sendo extinta em 1937 pelo governo de Getú lio Vargas.
Com o fim do Estado Novo, em 1945, ocorreu uma “[…] rearticulação de entidades negras” (MONTAÑ O;
DURIGUETTO, 2011, p. 282). A partir de 1964, com a instauração do regime militar no Brasil, essas
organizaçõ es foram desarticuladas e suas lideranças perseguidas, voltando a se rearticular em meados da
década de 1970.
Um fator que marcou a organização da luta dos negros no Brasil foi a manifestação nas escadarias do Teatro
Municipal de São Paulo, em 1978, “[…] contra o preconceito racial e contra os atos de violência, como o
assassinato do operário negro Robson Silveira da Luz, durante uma sessão de tortura” (MONTAÑ O;
DURIGUETTO, 2011, p. 283). A repercussão nacional dessa mobilização contribuiu para fundar várias
entidades negras em diversos Estados, como o Movimento Negro Unificado contra a Discriminação Racial
(MNU).
Em 1978, na segunda Assembleia do MNU, a data 20 de novembro foi declarada como “Dia Nacional da
Consciência Negra” em homenagem a Zumbi dos Palmares.

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Figura 2 - 20 de novembro: Dia da Consciência Negra


Fonte: Paul Craft, Shuttertock, 2020.

Em 1988, ano em que se comemorava o centenário da Abolição da Escravatura no Brasil, ocorreram diversas
manifestaçõ es organizadas pelo Movimento Negro, com o objetivo de denunciar o preconceito racial e as más
condiçõ es econô micas, políticas e sociais nas quais a população negra estava submetida. Uma das conquistas
mais marcantes do Movimento Negro foi ter conseguido incorporar na Constituição de 1988 importantes
reivindicaçõ es como “[…] a criminalização do racismo (art. 5º) e o reconhecimento da propriedade das terras
de remanescentes de quilombos (art. 68)” (MONTAÑ O; DURIGUETTO, 2011, p. 283). A partir de 1990 ocorre
uma propagação de ONGs que trabalham no campo da cultura, pesquisa, no apoio institucional as vítimas de
racismo e da violência policial.
No interior do Movimento Negro há duas vertentes principais: a primeira, “[…] prioriza a conquista do poder
político-institucional — mandatos, assessorias parlamentares, cargos em ó rgãos oficiais, criação e gestão dos
conselhos de defesa dos direitos da população negra”; a segunda, “[…] prioriza a ampliação da base social do
movimento, ou seja, o fortalecimento das entidades e de suas articulaçõ es internas” (MONTAÑ O;
DURIGUETTO, 2011, p. 284).
Além disso, há setores que defendem a luta antirracista desvinculada da questão de classe, acreditando que a
“[…] questão racial, e não a de classe, é o fator fundamental para a inserção e ascensão social dos sujeitos”
(MONTAÑ O; DURIGUETTO, 2011, p. 284). Outros setores acreditam que, no capitalismo, a luta antirracista
deve estar vinculada à questão da luta de classes, pois não há como combater o preconceito étnico-racial
desvinculado das relaçõ es de exploração que o modo de produção capitalista impõ e para toda classe
trabalhadora.

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O Movimento Feminista, desde a sua origem, realizou lutas de enfrentamentos ao sistema patriarcal-
capitalista, como a luta contra a propriedade privada e também enfrentou e questionou o papel do Estado, da
família e da Igreja em relação à “[…] elaboração e reprodução dos valores, preconceitos e comportamentos
que tinham como base as diferenças bioló gicas entre os sexos” (CISNE; GURGEL, 2008, p. 70).
É importante ressaltar que nem todo “movimento de mulheres é feminista”. O movimento feminista tem como
principal característica lutar “contra todas as formas de opressão, subalternidade e discriminação sobre as
mulheres”, lutando, assim, pela “liberdade, autonomia e igualdade” para todas. Já o movimento de mulheres se
refere às “[…] reivindicaçõ es de acesso ao consumo coletivo e melhores condiçõ es de vida” (MONTAÑ O;
DURIGUETTO, 2011, p. 285).
Entre os séculos XVIII e XIX ocorreram as primeiras lutas feministas e de mulheres nos Estados Unidos e na
Europa. Suas principais reivindicaçõ es eram sobre o papel da mulher na sociedade e seus direitos. Nesse
período, ocorreram manifestaçõ es sobre o casamento, em defesa do livre amor, do direito feminino do voto e
rechaçando a exploração do trabalho das mulheres.
Nos anos 1960, o movimento feminista na Europa e nos Estados Unidos “[…] inaugura sua chamada segunda
onda”, com bandeiras de lutas em torno da “[…] sexualidade das mulheres e de sua opressão no espaço
doméstico” (MONTAÑ O; DURIGUETTO, 2011, p. 285).

VOCÊ SABIA?
A Primeira Onda do Movimento Feminista ocorreu entre o final do sé culo XIX e
início do sé culo XX coordenado por mulheres dos Estados Unidos e Reino Unido,
tendo como principais protagonistas mulheres “[…] brancas, de classe mé dia e
insatisfeitas com o seu estado de submissã o e opressã o”. Suas principais
reivindicações eram: igualdade jurídica, direito ao voto para as mulheres, acesso à
educaçã o formal e “[…] à s profissões liberais, alé m da oposiçã o a casamentos
arranjados e à propriedade de mulheres casadas por seus maridos”. (CONSOLIM,
2017).

Na América Latina, as primeiras lutas feministas ocorreram no final do século XIX, principalmente pelo
direito ao voto. No século XX, a partir da década de 1970, as mulheres que organizavam a luta do movimento
feminista eram, em sua maior parte, da militância ou ex-militantes de organizaçõ es de esquerda, pois “[…] foi
no exílio que as mulheres latino-americanas tomaram contato com o feminismo internacional e iniciaram sua
organização política como feministas” (MONTAÑ O; DURIGUETTO, 2011, p. 285).
As principais reivindicaçõ es desse movimento na América Latina eram: “[…] libertação da classe
trabalhadora, autonomia e a relação entre a luta feminista e a luta partidária” (MONTAÑ O; DURIGUETTO,
2011, p. 285). Nesse período, as feministas buscavam legitimar suas lutas que eram vistas “[…] por parte da

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esquerda como um desvio da luta central, a luta de classes”. (MONTAÑ O; DURIGUETTO, 2011, p. 286).
No caso brasileiro, nas duas primeiras décadas do século XX, “[…] as mulheres trabalhadoras participam dos
movimentos operários e das greves por melhores condiçõ es de trabalho e pela diminuição da jornada de
trabalho” (MONTAÑ O; DURIGUETTO, 2011, p. 285). Nesse período ocorreu a fundação do “Partido
Republicano Feminista”, que tinha como principal objetivo mobilizar as mulheres na luta pelo direito ao voto
e a criação da “Associação Feminista”, de caráter anarquista, que “[…] teve forte influência nas greves operárias
de 1918, em São Paulo” (MONTAÑ O; DURIGUETTO, 2011, p. 286).
No início dos anos 1920 ocorreu no Brasil o crescimento do nú mero de organizaçõ es de mulheres, que
realizaram diversas lutas pelo direito ao voto e por uma legislação trabalhista que amparasse as mulheres
trabalhadoras (MONTAÑ O; DURIGUETTO, 2011).
Na década de 1960, as mulheres também cumpriram um importante papel apoiando e participando das
mobilizaçõ es a favor das “Reformas de Base” propostas pelo governo do presidente João Goulart. Na década
de 1970, ocorreu um crescimento dos movimentos feministas brasileiros, acompanhado pelo “[…]
ressurgimento das lutas e dos movimentos sociais pela redemocratização” (MONTAÑ O; DURIGUETTO, 2011,
p. 286). Nesse período é fundado o “Movimento Feminista pela Anistia”.
No Brasil, o movimento feminista e de mulheres começou nas camadas médias, expandindo-se para as
camadas populares através das organizaçõ es de bairros. Suas principais reivindicaçõ es eram lutar “[…] pela
anistia geral e irrestrita; por bens de consumo coletivo nos bairros da periferia; por melhores condiçõ es de
trabalho e igualdade salarial para homens e mulheres” (MONTAÑ O; DURIGUETTO, 2011, p. 286-287) etc.
Entre as reivindicaçõ es feministas específicas estavam “[…] as lutas contra o controle de natalidade às classes
trabalhadoras; a legalização do aborto; o direito à assistência maternidade” (MONTAÑ O; DURIGUETTO, 2011,
p. 286) entre outras.
Existem três principais tendências dentro do Movimento Feminista na América Latina e no Brasil: a primeira
tendência tem uma “perspectiva socialista”, compreendendo que a emancipação da mulher depende da
construção de um projeto de sociedade que se contraponha ao capitalismo, para alcançar a igualdade e a
liberdade para todas e todos; a segunda propõ e a “[…] igualdade e a liberdade para as mulheres por meio de
reivindicaçõ es de direitos que consubstanciam a cidadania nos marcos do capitalismo” (MONTAÑ O;
DURIGUETTO, 2011, p. 287), ou seja, lutam pela cidadania das mulheres sem romper com as relaçõ es sociais,
econô micas e políticas da sociedade capitalista; e a terceira é o feminismo aliado ao pensamento pó s-
moderno, limitando-se ao “[…] culturalismo, atuando na subjetividade, no simbó lico e nas ‘representaçõ es
sociais’” (MONTAÑ O; DURIGUETTO, 2011, p. 287).

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Figura 3 - Protesto pelo fim de todas as formas de violência contra as mulheres


Fonte: Mariana Topfstedt, Shutterstock, 2020.

Apesar das diferenças teó ricas e nos métodos de açõ es práticas para atingir seus objetivos, há reivindicaçõ es
que unificam a luta das mulheres dentro do movimento feminista, como o “[…] direito ao aborto legal e
seguro, a luta por autonomia sobre o corpo e sobre a vida e pelo fim de todas as formas de violência contra a
mulher (físicas, psicoló gicas, sexuais e sociais)” (MONTAÑ O; DURIGUETTO, 2011, p. 287), como também
contra a submissão da mulher em todas as esferas da sociedade, sejam elas familiar, econô mica, social,
cultural ou política.
A organização do Movimento LGBT se inicia com a rebelião ocorrida no dia 28 de junho de 1969 “[…] contra
a repressão policial em um bar frequentado por gays, lésbicas e travestis em Nova York” (MONTAÑ O;
DURIGUETTO, 2011, p. 291-292), as pessoas reagiram à repressão policial que desencadeou em “confrontos
violentos com a polícia”. A partir desse ocorrido, o dia 28 de junho foi declarado como o “Dia do Orgulho Gay”
(atualmente LGBT).
Antes da década de 1960 já existiam, na Europa, diversas organizaçõ es e militantes de defesa dos direitos dos
homossexuais, que “[…] sofreram desde perseguição e discriminação da sociedade até ao confinamento e
assassinato nos campos de concentração do nazismo” (MONTAÑ O; DURIGUETTO, 2011, p. 292).
No final da década de 1960 ocorreu um crescimento desse movimento, principalmente, na Europa e nos
Estados Unidos, onde seus militantes começaram a confrontar a sociedade publicizando seus afetos, além de
realizar campanhas pú blicas através de abaixo-assinados e mobilizaçõ es que foram importantíssimas para
mudar as leis homofó bicas em seus países. Podemos reiterar como exemplos dessas conquistas “[…] a
retirada da homossexualidade do rol de doenças da Associação Americana de Psiquiatria e o fim da
discriminação no emprego” (MONTAÑ O; DURIGUETTO, 2011, p. 292). Foi também nesse período que as
lésbicas começaram a se organizar dentro dos movimentos feministas, que a “princípio não as incluíam”.
Em razão das mobilizaçõ es do maio de 1968, foram se formando e se desenvolvendo movimentos LGBT em
diversos países da América Latina. Entre as décadas de 1970 e 1980 muitos dirigentes dos movimentos LGBT
que começaram a se formar na América Latina eram “[…] lideranças, membros ou dissidentes de partidos
comunistas ou grupos de esquerda” (MONTAÑ O; DURIGUETTO, 2011, p. 292).

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É importante destacar que, nesse período, a maioria da esquerda não foi sempre aberta com homossexuais e
suas lutas, uma vez que eram vistas como “lutas menores” por alguns setores da esquerda. O movimento
LGBT também cresce e se desenvolve no processo de redemocratização da América Latina, principalmente,
“[…] em reação aos ataques e ao aumento do preconceito decorrente do surgimento da epidemia da AIDS,
considerada, pelos setores conservadores da sociedade, como a ‘peste gay’” (MONTAÑ O; DURIGUETTO, 2011,
p. 292, grifo dos autores).
No contexto brasileiro é a partir do final da década de 1970 que nascem as organizaçõ es e as lutas do
movimento LGBT. O primeiro grupo homossexual brasileiro foi o Somos fundado em São Paulo no final dos
anos 1970. Nos anos 1980, outros grupos foram criados, como o Grupo Gay da Bahia, que lutou ativamente
para que fosse retirado do Conselho Federal de Medicina a homossexualidade do rol de doenças (conquistada
em 1985). Também em 1985 foi fundado, no Rio de Janeiro, o movimento Triângulo Rosa, que contribuiu
ativamente para que os movimentos de homossexuais participassem na Assembleia Constituinte de 1986,
com a finalidade de colocar o termo “[…] orientação sexual no rol dos impeditivos de discriminação”
(MONTAÑ O; DURIGUETTO, 2011, p. 292, grifos dos autores), porém, sem sucesso.
Contudo, foi a partir dessas lutas que o debate em torno desse tema passou a ser realizado pelos movimentos,
ocorrendo, posteriormente, algumas conquistas em alguns municípios e Estados que colocaram em “[…] suas
leis orgânicas ou constituiçõ es estaduais a proibição da discriminação por orientação sexual, ainda que, em
muitos locais, não prevendo penalidades” (MONTAÑ O; DURIGUETTO, 2011, p. 293).

Figura 4 - Parada do Orgulho LGBT no Brasil


Fonte: Antonio Salaverry, Shutterstock, 2020.

A partir dos anos 1990 muitos desses movimentos transformaram-se em ONGs, com a justificativa de que
precisavam de recursos financeiros para desenvolver açõ es e atividades de prevenção e combate à AIDS, como
também para combater a discriminação.
No Brasil, em 1995, no Rio de Janeiro, aconteceu a primeira Parada do Orgulho Gay, que com o passar das
décadas se configurou como principal manifestação dos movimentos LGBT. Essas manifestaçõ es têm como
principais reivindicaçõ es “[…] a luta pelo reconhecimento legal dos direitos civis relativos a conjugalidade,
parentalidade, proteção física e antidiscriminação LGBT” (MONTAÑ O; DURIGUETTO, 2011, p. 293).

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CASO
Verifica-se que as identidades de gê nero e orientações sexuais sã o plurais. Em sua
origem o movimento utilizava a sigla GLS para denominar gays, lé sbicas e
simpatizantes. Com o passar dos anos, percebeu-se se essa sigla excluía outras formas
de sexualidade e identidade de gê nero, por isso, o movimento adotou a sigla LGBT
que també m engloba os bissexuais, travestis e transexuais e a letra L (Lé sbica)
passou a ser inicial, destacando que també m existia uma desigualdade de gê nero que
diferenciava homossexuais femininas dos masculinos.
Na atualidade, a sigla LGBT é utilizada por entidades governamentais, conselhos e
secretarias municipais, estaduais e federais, bem como, pelo movimento social
brasileiro. Em nível internacional, a sigla mais utilizada é a LGBTI, englobando
pessoas intersex. A ONU e a Anistia Internacional utilizam essa designaçã o ao tratar
de assuntos relacionados a esta populaçã o.

No que se refere aos movimentos sociais, a designaçã o que vem ganhando amplitude
é LGBTQ ou LGBTQI, pois, alé m da orientaçã o sexual e da diversidade de gê nero,
inclui a perspectiva teórica e política dos Estudos Queer (NASCIMENTO; FOGLIARO,
2017.).

Existem alguns movimentos LGBT que defendem que a identidade gay (com base nas relaçõ es afetivas e
sexuais) é um dos componentes de unidade na “[…] defesa dos direitos do pú blico LGBT, devendo ser
relacionada às demais lutas contra a exploração e opressão capitalista” (MONTAÑ O; DURIGUETTO, 2011, p.
293).
No contexto brasileiro, o Movimento Estudantil é marcado pela fundação da União Nacional dos Estudantes
— UNE, em 1937. Desde a sua fundação até os anos 1950, o movimento estudantil, sob coordenação da UNE,
participou de lutas importantes no Brasil como as “[…] mobilizaçõ es contra o Estado Novo; campanha pelo
ingresso no Brasil na Segunda Guerra Mundial ao lado dos aliados” (MONTAÑ O; DURIGUETTO, 2011, p. 287)
e das mobilizaçõ es “O Petró leo é Nosso” entre outras.
A partir dos anos 1960, os assuntos específicos sobre o ensino superior brasileiro se constituem como o tema
central no movimento estudantil. Assim, “[…] a defesa pela universidade pú blica, gratuita e de qualidade”
foram e são, até a atualidade, “[…] uma das principais bandeiras de luta do movimento” (MONTAÑ O;
DURIGUETTO, 2011, p. 288), lutas essas que vêm se transformando de acordo com os momentos histó ricos,
políticos e econô micos da sociedade brasileira.
A instauração do regime ditatorial-militar no Brasil também afeta o movimento estudantil, principalmente,
apó s 1968, em que no 30º Congresso da UNE, realizado neste mesmo ano na cidade de Ibiú na (SP), o
movimento foi duramente reprimido pelos militares e a maioria dos estudantes e lideranças foram presas.

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Outras açõ es repressivas também foram realizadas com a promulgação do Ato Institucional n. 5 (AI-5), que
argumentava que as mobilizaçõ es estudantis e as greves eram atos infracionais. Essas açõ es repressivas por
parte dos governos militares brasileiros estabeleceram um descenso nas lutas do movimento estudantil.
Em 1975 ocorreu o ressurgimento das lutas do movimento estudantil. Suas principais formas de lutas eram:
passeatas, ocupaçõ es de reitorias, greves em conjunto com outras organizaçõ es da classe trabalhadora, como
os movimentos populares e os sindicatos. Lutavam contra o regime militar, reivindicando a anistia, ampla e
irrestrita para os presos e perseguidos políticos. Tiveram, ainda, participação ativa nas mobilizaçõ es pelas
“Diretas Já” e o movimento estudantil também teve um papel fundamental nas mobilizaçõ es em defesa do
impeachment do presidente Fernando Collor (1992), denominados “caras pintadas” (MONTAÑ O;
DURIGUETTO, 2011).
As reivindicaçõ es mais específicas do movimento estudantil eram lutar por “[…] melhorias e gratuidade do
ensino, liberdade de organização estudantil, aumento de verbas para a educação, contra aumento abusivo das
mensalidades” (MONTAÑ O; DURIGUETTO, 2011, p. 288), entre outras. A UNE foi reorganizada novamente em
1979.

Figura 5 - Protesto de estudantes e professores contra os cortes de verbas para a Educação


Fonte: Juliana F Rodrigues, Shutterstock, 2020.

Há várias tendências no interior do movimento estudantil, com concepçõ es diferentes de projetos de


sociedade, de universidades e do papel a ser assumido pelo movimento no interior da luta de classes,
levando, assim, a muitas divergências e disputas dentro do movimento. A partir do início dos anos 2000, suas
lutas eram contra o apoio aos programas dos “Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades
Federais (Reuni), contra a corrupção nas universidades, pelo ‘passe livre’ (contra o aumento das tarifas do
transporte), contra a restrição de meia-entrada” etc. (MONTAÑ O; DURIGUETTO, 2011, p. 289).
Também, nesse período, o movimento realizou diversas mobilizaçõ es em oposição às reformas do ensino
superior implantadas pelo governo do presidente Luís Inácio Lula da Silva, principalmente, através de
ocupaçõ es de reitorias. Porém, essas açõ es geraram tensõ es entre os estudantes em nível nacional, nas quais
alguns setores estudantis defenderam a necessidade de romper com a UNE, por entender que ela se
posicionou a favor da política educacional do governo Lula. Por isso, em 2004 um setor do movimento
estudantil fundou a Conlute (Coordenação Nacional de Lutas dos Estudantes), que no Congresso Nacional,
realizado em 2009, fundou a Assembleia Nacional dos Estudantes Livres (ANEL) (MONTAÑ O; DURIGUETTO,
2011).

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Apesar das divergências e disputas no interior do movimento estudantil, a participação dos estudantes é
fundamental para o fortalecimento das açõ es da classe trabalhadora e também para o processo de formação da
consciência, pois, o movimento estudantil é uma escola de educação político-ideoló gica.

4.2.2 Movimento Estudantil do Serviço Social (MESS)


A organização em nível nacional do Movimento Estudantil do Serviço Social - MESS, se intensificou no final da
década de 1970. A partir dos anos 1980, o MESS, vem realizando um processo de construção de alianças
políticas com outras “entidades de representação estudantil, movimentos sociais e as entidades
representativas do Serviço Social”, como a “Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social
(ABEPSS) e o Conselho Federal de Serviço Social (CFESS)” (MONTAÑ O; DURIGUETTO, 2011, p. 290).
No início, a organização dos estudantes de Serviço Social em nível nacional ocorreu por meio da Subsecretaria
de Estudantes de Serviço Social na UNE – SESSUNE, posteriormente, os estudantes de Serviço Social
analisaram a necessidade de ter uma maior independência e autonomia em relação a UNE, por isso, em 1993,
foi fundada a Executiva Nacional dos Estudantes de Serviço Social (ENESSO) (MONTAÑ O; DURIGUETTO,
2011, p. 290).
A importância da ENESSO é que ela se posiciona e luta em defesa dos trabalhadores e também defende que a
universidade deve ser gratuita e com um ensino de qualidade, bem como defende que a formação profissional
deve capacitar e unir a questão “[…] teó rico-metodoló gica, técnico-operativo e ético-político de profissionais
que venham a responder as demandas populares” (RAMOS, 1996, p. 178).
Um dos maiores desafios para o MESS é continuar comprometido com as lutas de classes em favor da classe
trabalhadora e também com uma “formação profissional crítica” que tenha como eixo norteador o Projeto
É tico-Político do Serviço Social (MONTAÑ O; DURIGUETTO, 2011).

4.3 Desafios do assistente social no âmbito dos movimentos


sociais
A partir dos anos 1990, com a implantação das políticas neoliberais pelo Estado brasileiro, o Serviço Social
passou por importantes mudanças em relação ao “[…] surgimento de novos espaços ocupacionais e de
competências profissionais que convivem com as tradicionais”, esse processo gerou importantes
transformaçõ es no que se refere ao “[…] mercado de trabalho, nas demandas e nos conteú dos das açõ es dos
assistentes sociais” (ABRAMIDES; DURIGUETTO, 2014, p. 27).
Em relação às críticas que o Serviço Social vem sofrendo sobre o seu afastamento dos movimentos sociais e
das lutas mais amplas que envolvem a classe trabalhadora em sua totalidade, há análises que indicam que o
que ocorreu foi uma “[…] retração do movimento sindical e social”, por outro lado, também aconteceu um
aumento e “[…] transversalidade das lutas sociais nos movimentos emergentes” ou movimentos sociais
contemporâneos (ABRAMIDES; DURIGUETTO, 2014, p. 27).
Como exemplos concretos da atuação prática do assistente social no âmbito dos movimentos sociais
podemos nos lembrar da inserção de docentes e intelectuais do Serviço Social atuando como “formadores de
massa crítica no âmbito dos movimentos sociais, populares e sindicais, dos quadros intelectuais de partidos
políticos, de parcerias intelectuais, profissionais e acadêmicas”, como é o caso do Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST, também participando no movimento de mulheres e no movimento
LGBT, além de outras organizaçõ es como a “Frente Nacional contra a Privatização da Saú de, da Frente Nacional
de Drogas e Direitos Humanos, do tráfico de pessoas e do Fó rum da Reforma Urbana” (ABRAMIDES;
DURIGUETTO, 2014, p. 28), entre outros.
Esse processo mostra o crescimento da atuação profissional realizada por meio de uma participação ativa na
formação de uma consciência crítica, “[…] cujas dimensõ es teó rica, ideopolítica e intelectual são
responsáveis por um acervo de conhecimentos críticos e práticas” (ABRAMIDES; DURIGUETTO, 2014, p. 28-

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29) que em relação aos movimentos sociais e sindicais, proporcionam uma esfera importante no que se refere
ao processo de resistência “teó rico-político e ideoló gico”.
Em relação ao projeto ético-político profissional, o Serviço Social aumentou seu papel intelectual,
contrapondo-se à hegemonia dominante em conjunto com os movimentos populares brasileiros. Esse
processo ocorreu sem que o Serviço Social perdesse a “[…] relação de unidade com o exercício profissional,
pelo contrário, mostrando o protagonismo intelectual do Serviço Social” (ABRAMIDES; DURIGUETTO, 2014,
p. 29).
Nesse contexto, o Serviço Social no Brasil se torna cada vez mais consistente em relação a sua intervenção na
realidade social, reconfigurando sua relação com os movimentos sociais por meio da constituição de uma
“cultura intelectual” de aspecto “teó rico-metodoló gico crítico” (ABRAMIDES; DURIGUETTO, 2014).
Sobre a importância e os desafios dos assistentes sociais no âmbito dos movimentos sociais, ressaltamos que
o Código de Ética do Assistente do/a Social em seus “Princípios Fundamentais”, no parágrafo IX, defende a
“[…] articulação com os movimentos de outras categorias profissionais que partilhem dos princípios deste
Có digo e com a luta geral dos/as trabalhadores/as” (CFESS, 1993, online).
Esse importante documento também afirma, em seu art. 12, item b, que é direito do assistente social “[…]
apoiar e/ou participar dos movimentos sociais e organizaçõ es populares vinculados à luta pela consolidação
e ampliação da democracia e dos direitos de cidadania” (CFESS, 1993, online). Ainda o Código de Ética em
seu art. 13, item c, determina que é dever do assistente social “[…] respeitar a autonomia dos movimentos
populares e das organizaçõ es das classes trabalhadoras” (CFESS, 1993, online).
Ainda sobre a relação do Serviço Social com os movimentos sociais, a Lei de Regulamentação da Profissão
(Lei n. 8.662, de 7 de Junho de 1993) afirma, em seu art. 4, parágrafo IX, que é competência do assistente
social “[…] prestar assessoria e apoio aos movimentos sociais em matéria relacionada às políticas sociais, no
exercício e na defesa dos direitos civis, políticos e sociais da coletividade” (CFESS, 1993, online).
Deste modo, estudamos até aqui sobre os movimentos sociais no Brasil e a importância da relação entre o
Serviço Social e os movimentos sociais para a constituição do projeto ético-político profissional, verifique
um pouco mais sobre o conhecimento que você adquiriu sobre o assunto.
Identificando a origem, as principais reivindicaçõ es e desafios, o papel do Estado em relação às políticas
pú blicas governamentais e os principais desafios do Serviço Social no âmbito dos movimentos sociais
brasileiros, clicando no infográfico abaixo.
Contudo, na atualidade, em relação à mediação do Serviço Social com os movimentos sociais, ocorreu uma
mudança, desde o início dos anos 2000, nas formas de relação da profissão com as lutas e os movimentos
sociais, porém, não ocorreu um afastamento das bandeiras de luta da classe trabalhadora, “[…] reiterando a
direção social estratégica que marcam os princípios dos nossos có digos de ética, os conteú dos e as
abordagens das diretrizes curriculares e o protagonismo político da esquerda crítica do Serviço Social”
(ABRAMIDES; DURIGUETTO, 2014, p. 30), enquanto atuação profissional.

Conclusão
Concluímos esta unidade, na qual abordamos os desafios do assistente social no âmbito dos movimentos
sociais e o panorama dos movimentos sociais no contexto local. Agora você conhece as principais categorias
de análise que envolve esses assuntos.
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:

• analisar a importância da relação entre o Serviço social e os


Movimentos Sociais;
• identificar os principais desafios do assistente social no âmbito
dos movimentos sociais;

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• aprender sobre a origem e a evolução histórica dos “novos


movimentos sociais”, também denominados de Movimentos
Sociais “Contemporâneos ou Emergentes”;
• conhecer o panorama dos movimentos sociais no contexto
regional: Movimento Zapatista (México);
• acompanhar o panorama dos movimentos sociais no contexto
local: os Movimentos Sociais no Brasil;
• verificar sobre a origem e a evolução histórica dos principais
movimentos sociais brasileiros, a saber: Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST, Movimento Negro,
Movimento Feminista, Movimento pela liberdade de orientação
sexual e o Movimento Estudantil;
• comparar as principais reivindicações, conquistas e derrotas dos
movimentos sociais no contexto brasileiro;
• aprender sobre o Movimento Estudantil do Serviço Social (MESS);
• verificar o papel do Estado em relação as políticas públicas no
contexto neoliberal;
• analisar as mudanças que ocorreram a partir dos anos 2000 em
relação a mediação do Serviço Social com os movimentos sociais
e suas formas de lutas.

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