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20/10/2023, 12:31 Classes e Movimentos Sociais
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20/10/2023, 12:31 Classes e Movimentos Sociais
Introdução
Nesta unidade, você estudará os Movimentos sociais na América Latina e no Brasil a partir do contexto da
industrialização. Você sabia que a histó ria da América Latina é marcada por lutas revolucionárias? Por isso,
você irá conhecer alguns dos principais movimentos sociais latino-americanos. Estudaremos aqui o
Movimento Social clássico no Brasil: o Movimento Sindical, como se originou, se desenvolveu e sua atuação
na contemporaneidade.
Você sabia que apó s a queda do Muro de Berlim e a derrocada da União Soviética os movimentos sociais em
nível mundial, na América Latina e no Brasil, entraram em um novo ciclo de lutas? Você conhece as
consequências para a classe trabalhadora e para os movimentos que representam essa classe, apó s a
implantação das políticas neoliberais nos países latino-americanos e no Brasil?
Para responder a estas e outras questõ es estudaremos a origem e desenvolvimento dos movimentos sociais
na América Latina e no Brasil a partir do século XIX, bem como suas principais formas de lutas,
reivindicaçõ es, conquistas e derrotas. Bons estudos!
VOCÊ O CONHECE?
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Apó s a Segunda Guerra Mundial, um dos fatores de maior importância para a esquerda na América Latina foi a
Revolução Socialista em Cuba, em 1959 (MONTAÑ O; DURIGUETTO, 2011, p. 246). A partir dos anos 1960,
iniciam-se as lutas contra as ditaduras militares que assolaram a América Latina, entre elas, destaca-se a
opção de algumas organizaçõ es de esquerda latino-americanas pela luta armada, como: os Montoneros
(Argentina); Tupamaros – MLNT (Uruguai); no caso brasileiro, o Movimento Revolucionário 8 de Outubro
(MR-8), a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), a Ação Libertadora Nacional (ALN), que teve como seu
principal comandante Carlos Marighella.
Destacam-se, também, as Forças Armadas Revolucionárias – Farc – (Colô mbia), o Movimento de Ação
Revolucionária (México) e a Frente Urbana Zapatista (México). Esses movimentos, que optaram pela luta
armada, foram duramente reprimidos e derrotados entre as décadas de 1960 e 1970 (MONTAÑ O;
DURIGUETTO, 2011, p. 246).
VOCÊ O CONHECE?
Carlos Marighella (1911-1969) foi poeta, político, guerrilheiro e uma das principais
lideranças da resistê ncia contra o regime militar no Brasil, instaurado em 1964.
Chegou a ser considerado o inimigo nú mero um da ditadura. Militou durante 33 anos
no Partido Comunista e foi um dos principais comandantes da Açã o Libertadora
Nacional (ALN). Saiba mais em: http://memoriasdaditadura.org.br/biografias-da-
resistencia/carlos-marighella/ (http://memoriasdaditadura.org.br/biografias-da-
resistencia/carlos-marighella/).
Entretanto, houve algumas vitó rias importantes na América Latina, como a Frente Sandinista de Libertação
Nacional – FSLN (Nicarágua), em 1979, a Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional – FMLN (El
Salvador) e a Unidade Revolucionária Nacional Gualtemalteca – URNG (Guatemala) (MONTAÑ O;
DURIGUETTO, 2011, p. 246).
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Figura 1 - As mães da Praça de Maio: Protesto contra o desaparecimento e assassinato de seus filhos no
período da ditadura militar na Argentina (1966-1973).
Fonte: NiarKrad, Shutterstock, 2020.
O movimento sandinista, por sua vez, foi derrotado devido à intervenção militar dos EUA em 1990, e os
movimentos da Guatemala e de El Salvador optaram por abandonar a luta armada e seguir o caminho
institucional da política partidária. (MONTAÑ O; DURIGUETTO, 2011, p. 247).
Neste contexto, o Chile foi a ú nica experiência na América Latina que optou pela “transição institucional do
capitalismo para o socialismo” (MONTAÑ O; DURIGUETTO, 2011, p. 247), tendo Salvador Allende como
presidente pela frente partidária denominada Unidade Popular (UP), entre 1970 e 1973. Porém, o governo de
Allende sofreu um golpe de Estado, comandado pelo general Augusto Pinochet, quando o Chile entrou em uma
tenebrosa ditadura militar a partir de 11 de setembro de 1973.
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Apó s abordarmos os movimentos sociais na América Latina a partir das guerras de independência que
ocorreram no século XIX até o período dos golpes de Estado que ocorreram na maioria dos países latino-
americanos, conheceremos agora os movimentos sociais na América Latina no contexto do neoliberalismo.
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Esses governos aplicaram em maior ou menor grau, e em determinados períodos histó ricos, políticas
neoliberais como privatizaçõ es de empresas estatais, abertura comercial, flexibilização das leis trabalhistas,
combate às atividades sindicais e repressão aos movimentos sociais. Porém, há uma forte ofensiva da classe
trabalhadora em toda a América Latina em oposição à implementação dessas políticas. Em alguns países da
América Latina, a partir do início dos anos 2000, observamos a “ascensão de governos ‘democrático-
populares’”, como Hugo Chávez (Venezuela), Evo Morales (Bolívia), Rafael Correa (Equador), governos que
resistiram, do ponto de vista governamental, à ampliação das políticas neoliberais, como foi o caso do
governo cubano (MONTAÑ O; DURIGUETTO, 2011, p. 294).
Entretanto, na América Latina, a classe burguesa e o Estado reagiram contra os movimentos sociais e também
contra a ascensão de governos “democrático-populares" que enfrentaram os países imperialistas. Por isso,
nos países latino-americanos em que seus governos estavam ligados ao capital internacional e ao
imperialismo, os mesmos tomaram medidas políticas com o objetivo de enfraquecer e desestabilizar os
movimentos sociais, como o aumento da repressão policial e militar, criminalizando, assim, os movimentos
sociais, tratando-os como caso de polícia e não como caso de políticas pú blicas, como aconteceu na
Colô mbia.
Mesmo assim, diversos movimentos sociais na América Latina continuaram resistindo contra as políticas
neoliberais implementadas em seus países e dependendo da realidade política, econô mica e social de cada
país, essas resistências aconteceram através:
das greves, trancamento de ruas e avenidas, piquetes, construção de redes nacionais, continentais
e mundiais de movimentos populares, açõ es dirigidas contra as reuniõ es da OMC, FMI, BM, OEA e
demais instituiçõ es que representam os interesses imperialistas; a consolidação do Fó rum Social
Mundial e do Fó rum Social das Américas como espaços de articulação de movimentos e de lutas.
(MONTAÑ O; DURIGUETTO, 2011, p. 296)
A partir dos anos 2000 ocorreram inú meras manifestaçõ es em diversos países da América Latina e da
América Central como as mobilizaçõ es no Equador, Peru e Colô mbia contra os Tratados de Livre Comércio
(TLC) impostos pelos países capitalistas centrais, como os EUA. O Movimento Zapatista, no México,
continuou resistindo contra as políticas neoliberais no campo, principalmente, nas áreas indígenas e
camponesas.
Na Bolívia ocorreram várias manifestaçõ es pela “nacionalização da água e do gás”, manifestaçõ es que foram
denominadas de “Guerra da Á gua” e “Guerra do Gás”. No Peru ocorreram diversas manifestaçõ es dos
movimentos camponeses contra o agronegó cio coordenado pelo movimento social internacional Via
Campesina (MONTAÑ O; DURIGUETTO, 2011, p. 297).
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Em 2000 também ocorreu a Marcha Mundial de Mulheres, uma marcha organizada em diversos países do
mundo, tendo como pautas principais a luta contra o machismo e pelo fim da violência contra as mulheres,
entre outras, que variavam de acordo com a realidade de cada país, marcando uma grande histó ria na luta do
movimento de mulheres e feminista em nível internacional, na América Latina como um todo.
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O livro “Novas teorias dos movimentos sociais” (2012), de Maria da Glória Gohn,
apresenta as novas abordagens teóricas sobre os movimentos sociais na Amé rica
Latina, sendo que a terceira parte do livro tem como objetivo analisar o movimento de
mulheres.
Agora que estudamos sobre as principais lutas dos movimentos sociais latino-americanos contra a
implantação das políticas neoliberais em seus respectivos países, veremos, a partir de agora, a origem e o
desenvolvimento do movimento social clássico, o movimento sindical, no contexto da industrialização
brasileira.
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Ainda no período da Repú blica Velha, em 1907, o governo promulga um decreto concedendo o direito aos
trabalhadores de formarem associaçõ es sindicais para todas as profissõ es (MONTAÑ O; DURIGUETTO, 2011,
p. 234).
No Brasil, as primeiras “formas de organização dos trabalhadores foram as Associações de Socorro e Auxílio
Mutuo” (que tinham fins assistenciais) e as “Ligas ou Uniões Operárias”, que tinham por objetivo melhorar as
condiçõ es de vida dos trabalhadores enquanto interesse comum. Várias dessas Ligas darão origem às
organizaçõ es sindicais. Algumas das principais reivindicaçõ es das lutas sindicais e operárias nesse período
eram: jornada de trabalho de 8 horas, melhores salários, seguro contra acidente de trabalho, férias, proibição
do trabalho infantil, regularização do trabalho das mulheres e menores de idade, sufrágio universal
(MONTAÑ O; DURIGUETTO, 2011, p. 235).
De acordo com Montañ o e Duriguetto (2011, p. 235), no final do século XIX até 1920, as três correntes que
tiveram maior influência nas organizaçõ es sindicais no Brasil foram anarcossindical, reformistas e sindicatos
amarelos, como vemos a seguir.
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Com os limites do anarcosindicalismo em relação às suas estratégias de lutas e por influência da Revolução
Russa (1917), esses fatores fizeram com que um grupo de anarcossindicalistas fundasse, em 25 de março de
1922, o Partido Comunista Brasileiro (PCB). Meses depois de sua fundação, o PCB é colocado na ilegalidade
pelo governo e sua sua principal atuação era no movimento sindical. Nesse processo, a influência dos
comunistas aumenta e os anarquistas vão perdendo força política (MONTAÑ O; DURIGUETTO, 2011, p. 235).
Como resposta às lutas dos comunistas e anarquistas, o Estado tenta atacar as organizaçõ es sindicais agindo
com muita repressão. Por outro lado, também começa a aumentar a influência dos sindicatos amarelos, por
exemplo, regulamentando, a partir de 1920, algumas leis trabalhistas que atingiam alguns setores principais
da economia naquele período, como: os marítimos, ferroviários e portuários, controlando esses setores
através do Conselho Nacional do Trabalho, fundado em 1921.
No final do século XIX, se forma no Brasil a “organização do proletariado como classe”, forjando, assim, “o
reconhecimento da questão social por parte do Estado e da burguesia, que deixam de tratá-la exclusivamente
como ‘caso de polícia’” (MONTAÑ O; DURIGUETTO, 2011, p. 236).
Apó s a chamada “Revolução de 1930”, se consolida no Brasil o “controle do movimento operário”, através
fundação do “Ministério do Trabalho, que passa a incorporar os sindicatos no aparelho estatal e formular uma
política que os definia como ó rgãos de cooperação e colaboração com o Estado”. Um exemplo dessa forma de
controle foi a promulgação, em 1931, da “Lei de Sindicalização”, que instituía o controle através do Ministério
do Trabalho em relação aos recursos financeiros dos sindicatos, também permitia que pessoas ligadas a esse
Ministério participassem das assembleias sindicais, proibia que funcionários pú blicos pudessem se
sindicalizar e restringia a participação de trabalhadores estrangeiros nos sindicatos. (MONTAÑ O;
DURIGUETTO, 2011, p. 236).
Ainda na década de 1930, mesmo com a tentativa do Estado de reprimir, cooptar e controlar o movimento
sindical, como resultado dessas lutas sindicais ocorre a fundação, em 1934, da Frente Ú nica Sindical (FUS)
sob a direção dos comunistas, que deu origem à Confederação Sindical Unitária do Brasil (CSUB), em 1935.
Neste mesmo ano também ocorre a fundação da Aliança Nacional Libertadora (ANL).
VOCÊ SABIA?
A Aliança Nacional Libertadora (ANL), fundada em 1935, era uma “frente
popular anti-imperialista e antifascista” que reunia “comunistas, socialistas,
operá rios, setores progressistas das classes mé dias e estudantes”. A ANL tinha
como principais objetivos a “luta contra o fascismo, pelo fim do pagamento da
dívida externa, a reforma agrá ria e nacionalizaçã o das empresas estrangeiras”. O
governo de Getú lio Vargas (1930-1945) atacou violentamente a ANL, decretando
a Lei de Segurança Nacional. Muitas lideranças foram presas, torturadas,
deportadas e assassinadas, como Olga Bená rio, companheira de Luiz Carlos
Prestes, uma das principais lideranças da ANL (MONTAÑ O; DURIGUETTO, 2011, p.
237).
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Para se ter uma ideia de como era forte a repressão ao movimento operário e sindical neste período, “até 1937,
foram trancafiados nas prisõ es brasileiras aproximadamente vinte mil presos políticos” (GIANNOTTI, 2007,
p. 121). O governo Vargas também fechou sindicatos que não estavam atrelados ao Ministério do Trabalho,
desarticulando, assim, a Confederação Sindical Unitária do Brasil (CSBU). Ainda no governo de Getú lio Vargas,
em 1937, é instituído no Brasil o Estado Novo, que durou até 1945. Neste contexto, Vargas “intensifica a
repressão, o controle e a cooptação de dirigentes sindicais e trabalhadores combativos” (MONTAÑ O;
DURIGUETTO, 2011, p. 238).
Em 1943 é promulgada, no governo Vargas, a Consolidação das Leis do Trabalho - CLT. A CLT foi uma
conquista da classe trabalhadora em relação à regulamentação de seus direitos trabalhistas, conquista que
ocorreu através de muitas lutas e mobilizaçõ es.
Com o fim do Estado Novo, em 1945, os trabalhadores continuaram lutando por aumentos salariais e pelo
direito de se organizar em sindicatos. Neste período, os presos políticos conquistam a anistia e o PCB volta à
legalidade. Também neste ano foi fundado Movimento Unificado dos Trabalhadores (MUT), uma nova
tentativa de criar uma central sindical em oposição ao sindicalismo oficial.
Por outro lado, a burguesia reage às lutas da classe trabalhadora, fundando, em 1945, a União Democrática
Nacionalista (UDN), um partido da classe burguesa composto por banqueiros, industriais e latifundiários
vinculados ao capital internacional. Neste período também são fundados o Partido Trabalhista Brasileiro
(PTB) e o Partido Social-Democrata (PSD). Esses dois partidos foram criados por Vargas, sendo que o PTB
tinha o apoio dos trabalhadores favorecidos pela legislação trabalhista (promulgada por ele) e o PSD almejava
juntar a “burguesia nacional e os latifundiários beneficiados com a não aplicação das leis trabalhistas no
campo” (MONTAÑ O; DURIGUETTO, 2011, p. 238). Para substituir o Movimento Unificado dos Trabalhadores
(MUT), em 1946, é fundada a Confederação Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB).
No contexto internacional, aumenta o clima anticomunista “instaurado pela Guerra Fria a partir de 1947”
(MONTAÑ O e DURIGUETTO, 2011, p. 238), fazendo com que o governo Dutra que venceu as eleiçõ es em
1946, insistisse “em novas repressõ es” contra as organizaçõ es combativas dos trabalhadores. O governo
Dutra coloca o PCB novamente na ilegalidade, “levando à prisão ou ao exílio” de muitos dirigentes e
militantes.
Em 1950, Vargas retorna ao governo, fazendo um discurso com forte apelo nacionalista e trabalhista. Neste
contexto, houve uma ampliação das lutas da classe trabalhadora, que realizou centenas de greves entre os
anos de 1951 a 1953. No meio rural, em 1954, ocorre a fundação da União dos Lavradores e Trabalhadores
Agrícolas Brasileiros - ULTAB. Em 1955, é criada a Liga Camponesa da Galileia (Pernambuco) que,
posteriormente, dará origem às outras Ligas nos Estados do Nordeste, Minas Gerais e na região Sul do Brasil.
Em 1960, no Rio Grande do Sul, ocorre a criação do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra - MASTER.
Historicamente, no Brasil, os trabalhadores rurais foram “excluídos das leis trabalhistas conquistadas pelos
trabalhadores urbanos” e também do direito de se organizar em sindicatos (MONTAÑ O e DURIGUETTO, 2011,
p. 239). Neste mesmo ano é constituído o Pacto de Unidade e Ação – PUA, que tinha como objetivo unir
diversos sindicatos para fundar uma nova central sindical.
Deste modo, vimos até agora sobre a origem e o desenvolvimento do movimento sindical no período da
industrialização brasileira, bem como sobre as principais organizaçõ es, partidos e movimentos urbanos e
rurais que nasceram e se desenvolveram desde o Período da Repú blica Velha até a década de 1960. Então,
verifique um pouco mais sobre o conhecimento que você adquiriu sobre o assunto.
Veremos, a seguir, as lutas sociais que ocorreram no Brasil entre os anos de 1961 a 1964.
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A União Nacional dos Estudantes – UNE, fundou os Centros Populares de Cultura - CPCs, onde em várias
regiõ es do Brasil realizaram diversas “atividades teatrais, literárias, plásticas, musicais, cinematográficas”
(MONTAÑ O; DURIGUETTO, 2011, p. 270), entre outras.
Destacam-se também, neste período, os movimentos cató licos estudantis: a Juventude Universitária Cató lica
(JUC) e a Juventude Operária Cató lica (JOC). Em relação à política partidária, ocorreu a fundação do Partido
Comunista do Brasil (PCdoB) a partir das divergências com o Partido Comunista Brasileiro (PCB) e a fundação
de “grupos políticos de esquerda como Política Operária (Polop) e a Ação Popular (AP)”, ambas fundadas por
“sindicalistas, estudantes e movimentos de cristãos progressistas” (GOHN, 2012, p. 166).
Em 1962 foi fundado o Comando-Geral dos Trabalhadores (CGT), que era mais uma tentativa de construir uma
central sindical. No meio rural, além do crescimento e do fortalecimento das Ligas Camponesas em vários
Estados, em 1962, os sindicatos rurais são legalizados, apesar de se organizarem mesmo na ilegalidade, desde
1954. O sindicalismo rural contribuiu para a fundação da Confederação Nacional dos Trabalhadores Agrícolas
(Contag), que se associou ao Comando-Geral dos Trabalhadores (CGT) (MONTAÑ O; DURIGUETTO, 2011, p.
239).
CASO
No dia 13 de março de 1964, mais de 200 mil trabalhadores se reú nem no Rio de
Janeiro para participar de um ato em defesa das Reformas de Base, a exemplos da
“reforma agrá ria, tributá ria, bancá ria, urbana, política e universitá ria, de cunho
democrá tico e nacionalista”. Poré m, contra essas reformas, vá rios setores
conservadores da classe mé dia e da burguesia se mobilizaram atravé s da “Marcha
pela Família, com Deus e pela Liberdade” (MONTAÑ O; DURIGUETTO, 2011, p. 270).
Veremos, a partir de agora, as manifestaçõ es populares contra o regime ditatorial no Brasil instaurado em
1964.
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No início dos anos 1970, as organizaçõ es brasileiras que optaram pela luta armada como forma de combater a
ditadura militar, foram derrotadas, com isso, a luta armada foi abandonada, dando lugar para a ação política
partidária institucionalizada ou clandestina. A partir da segunda metade dos anos 1970, ocorre a retomada das
grandes mobilizaçõ es contra esse regime, através de greves, passeatas, atos pú blicos, abaixo-assinados,
coordenadas por movimentos populares, estudantis e operários, contando também com a participação das
classes médias, intelectuais, artistas, de setores progressistas da igreja, entre tantos outros (MONTAÑ O e
DURIGUETTO, 2011, p. 273).
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O documentá rio “O dia que durou 21 anos” (2013), dirigido por Camilo Tavares,
apresenta “a influê ncia do governo dos EUA no Golpe de Estado no Brasil em 1964. A
açã o militar que deu início a ditadura contou com a ativa participaçã o de agê ncias
como CIA e a própria Casa Branca. Com documentos secretos e gravações originais da
é poca, o filme mostra como os presidentes John F. Kennedy e Lyndon Johnson se
organizaram para tirar o presidente Joã o Goulart do poder e apoiar o governo do
marechal Humberto Castelo Branco”. Saiba mais em:
http://www.adorocinema.com/filmes/filme-213237/
(http://www.adorocinema.com/filmes/filme-213237/).
Mesmo com o aparato de repressão militar do Estado brasileiro, que causou “prisõ es, torturas e assassinatos
de presos políticos, e levou os militantes políticos à clandestinidade e ao exílio” (MONTAÑ O; DURIGUETTO,
2011, p. 239), com “a proibição de greves e intervenção e fechamento dos sindicatos de trabalhadores”
(MONTAÑ O; DURIGUETTO, 2011, p. 239) e com enormes intervençõ es repressivas aos movimentos sociais e
as lutas populares, foram surgindo e se desenvolvendo diversas formas de resistência dos movimentos,
partidos, sindicatos, organizaçõ es religiosas e estudantis progressistas que lutavam pelo fim do regime
militar no país.
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As agroindú strias necessitavam, cada vez mais de terras, por isso, milhares de camponeses foram expulsos de
suas terras e acabaram migrando para as periferias das grandes capitais. Foi na década de 1970 que o Brasil se
tornou efetivamente urbano, ou seja, a partir dessa década a maioria da população morava e trabalhava nas
cidades urbanizadas (MONTAÑ O; DURIGUETTO, 2011, p. 269).
Neste sentido, “os baixos salários e a política de arrocho salarial”, juntamente com a degradação da qualidade
de vida, em conjunto com o descaso do governo, acarretaram num imenso aumento de “loteamentos
irregulares nas grandes cidades” (MONTAÑ O; DURIGUETTO, 2011, p. 269), perpetuando o surgimento
inú meras favelas e aumentando as que já existiam. Simultaneamente a esse processo, vieram também os
problemas com transporte coletivo, saú de, de infra-estrutura (saneamento, água, luz), escolas, entre outros.
No final dos anos 1970, há uma retomada das lutas massivas no Brasil, tanto dos movimentos sociais
urbanos quanto rurais, principalmente, das lutas sindicais. É nesse contexto que irá surgir o chamado “novo
sindicalismo”.
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exploração do sistema capitalista e não acreditavam na conciliação entre capital e trabalho. Combatiam a
estrutura oficial e almejavam a constituição de um “sindicalismo independente, de classe, de base e
democrático” (MONTAÑ O; DURIGUETTO, 2011, p. 241).
Dentro dos sindicalistas autênticos havia duas principais correntes: a primeira corrente defendia que o
sindicato deveria fazer a luta reivindicató ria, isto é, apenas no campo econô mico, como lutar por melhores
salários e melhores condiçõ es de trabalho, nesta corrente estava, por exemplo, o Sindicato dos Metalú rgicos
de São Bernardo do Campo, tendo como uma de suas principais lideranças o Lula. A segunda corrente era a da
“oposição sindical”, tendo como principal expressão a “Oposição Metalú rgica de São Paulo”. Esta corrente
defendia que o sindicato deveria ser um instrumento que contribuísse para além das lutas econô micas, ou
seja, o sindicato deveria contribuir para a construção de uma sociedade socialista” (MONTAÑ O;
DURIGUETTO, 2011, p. 241).
A Central Ú nica dos Trabalhadores – CUT, foi fundada em 1983, em sua origem tinha como objetivo realizar
um “sindicalismo classista, autô nomo e independente do Estado”. A CUT se tornou referência para as lutas da
classe trabalhadora, muitos sindicatos se filiaram a ela por causa de suas propostas e princípios e também
por realizar açõ es práticas, como mobilizaçõ es e greves. A CUT, mesmo três anos antes de sua fundação
oficial, contribuiu ativamente para a criação do Partido dos Trabalhadores (PT) e em conjunto com a
Comissão Pastoral da Terra (CPT) colaborou para a fundação, em 1984, do Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra (MST).
Figura 4 - Bandeira do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST: fundado em 1984.
Fonte: Joa Souza, Shutterstock, 2020.
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Em relação aos sindicalistas da “unidade sindical” ou “reformistas”, eles defendiam a proposta de que os
sindicatos deveriam ser ó rgãos conciliadores entre a burguesia e a classe trabalhadora, dentro dos limites das
leis. Por isso, em 1986, formaram a Central Geral dos Trabalhadores (CGT) e, em 1988, em função das
divergências internas, se originou a Confederação Geral dos Trabalhadores (MONTAÑ O; DURIGUETTO, 2011,
p. 242).
No que se refere ao “novo sindicalismo”, as primeiras grandes manifestaçõ es ocorreram em 1977,
comandadas pelos “Metalú rgicos de São Bernardo do Campo e pela Oposição Sindical Metalú rgica de São
Paulo”. Entre os anos de 1978 e 1979, ocorreram centenas de greves das mais diversas categorias de
trabalhadores em várias regiõ es do Brasil, mesmo com o governo Geisel decretando essas greves como ilegais
e fechando diversos sindicatos. Como resposta do Estado a essas mobilizaçõ es, o governo se utilizou da
repressão policial através de prisõ es de dirigentes sindicais e também compactuou com os empresários em
relação às demissõ es de trabalhadores (MONTAÑ O; DURIGUETTO, 2011, p. 242).
Na década de 1980, as mobilizaçõ es comandadas pelos sindicados urbanos e rurais continuaram. Em março
de 1989 ocorreu uma greve geral que contou com a participação de mais de 20 milhõ es de trabalhadores, a
maior mobilização de trabalhadores no Brasil até aquele período.
Em 1980 foi fundado o Partido dos Trabalhadores - PT, tendo em suas fileiras militantes sindicais, de
associaçõ es de bairros do campo e da cidade, organizadas pelas Comunidades Eclesiais de Base da Igreja
Cató lica - CEBs, intelectuais de esquerda, ex-militantes de organizaçõ es que estavam na clandestinidade na
ditadura militar. Em sua origem e trajetó ria, o PT passou a representar um instrumento político da classe
trabalhadora, que defendia os interesses dos trabalhadores e tinha como “referência um projeto de
transformação da sociedade” (MONTAÑ O; DURIGUETTO, 2011, p. 243).
Ainda sobre o final do período do regime ditatorial no Brasil, havia diversas organizaçõ es e movimentos que
tinham uma variedade de reivindicaçõ es, mas independentemente de seus objetivos específicos, todas tinham
um objetivo em comum: lutar pela democracia, “pelo fim dos governos militares, do AI-5, da censura, das
cassaçõ es, das torturas; pelos direitos humanos, pela anistia aos presos, cassados, exilados e perseguidos
políticos, e por eleiçõ es livres” (MONTAÑ O; DURIGUETTO, 2011, p. 274).
Neste contexto, as manifestaçõ es pela chamada redemocratização no Brasil tiveram seu auge em 1984 num
movimento denominado “Diretas Já!”. Nessas mobilizaçõ es, houve a participação de milhares de pessoas em
passeatas e comícios, reivindicando democracia e eleiçõ es diretas para presidente. Ainda assim, neste
momento, o movimento pelas “Diretas Já!” não conseguiu alcançar seus objetivos, mas era só uma questão de
tempo.
Então, em 1989 foi realizada a primeira eleição direta para a presidência da repú blica, apó s 21 anos de regime
ditatorial militar, tendo como adversários políticos Fernando Collor de Mello (representando os interesses da
direita e da classe burguesa) e Luís Inácio Lula da Silva (representando uma ampla frente formada pela
esquerda e por setores progressistas que defendiam os interesses da classe trabalhadora). Collor venceu as
eleiçõ es presidenciais e, em seu governo, iniciou-se no Brasil a implantação das políticas neoliberais.
Deste modo, você estudou sobre o papel do “novo sindicalismo” no processo de redemocratização no Brasil e
a fundação de partidos e sindicatos que em sua origem tinham como objetivo defender os interesses da classe
trabalhadora, verifique um pouco mais sobre o conhecimento que você adquiriu sobre o assunto.
A partir de agora, estudaremos as implicaçõ es das políticas neoliberais para os movimentos sociais e para a
classe trabalhadora brasileira.
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Elas atingiram diretamente a classe trabalhadora e as organizaçõ es que representam esses trabalhadores,
como foi o caso dos sindicatos, colaborando para que o sindicalismo entrasse em crise, desenvolvendo não
mais um sindicalismo combativo de classe, mas, sim, um sindicalismo de parceria.
Figura 5 - Manifestação dos movimentos sociais, sindicatos e partidos na luta por direitos
Fonte: Dado Photos, Shutterstock, 2020.
Neste contexto, em 1991, é fundada uma nova central sindical, a Força Sindical, uma organização que afirma
defender os interesses dos trabalhadores, mas, na verdade, já nasce “comprometida com os setores
empresariais e com a defesa do projeto neoliberal” (MONTAÑ O; DURIGUETTO, 2011, p. 244-245).
Assim, a partir dos anos 1990, a CUT passa a realizar uma política de negociação aderindo a proposta do
“entendimento nacional”. Em 2004, se contrapondo à Força Sindical e à CUT, foi fundada a Coordenação
Nacional de Lutas (Conlutas), que tem como objetivo articular os setores que lutavam contra as
contrarreformas do governo do presidente Lula.
Conclusão
Concluímos a Unidade 3, na qual abordamos os movimentos sociais na América Latina e no Brasil a partir do
processo de industrialização. Agora você conhece as principais categorias de análise que envolve esses
assuntos.
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
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Bibliografia
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