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AULA 1 - Diagnósticos em Psicopatologia: PASSADO, PRESENTE E

FUTURO

I. Relevância e Crítica aos Diagnósticos em Psicopatologia:

 Dados do NHS da Inglaterra e estudo da Universidade de Harvard destacam a


importância dos diagnósticos de transtornos mentais na demanda por serviços
de saúde.
 Críticas aos diagnósticos relacionadas à rotulação das pessoas e à necessidade
de combater o preconceito com ciência e informação.
 Importância da classificação padronizada para garantir a validade dos
diagnósticos, permitindo a compreensão compartilhada do estado do paciente e
o desenvolvimento de tratamentos adequados.

II. Conceitos na Psicopatologia:

 Dificuldades em distinguir entre o normal e o patológico, envolvendo critérios


como estatísticas, sofrimento, necessidade de tratamento e funcionamento.
 O conceito de transtorno mental envolve frequência alta, intensidade grande e
sofrimento clinicamente significativo.
 Reflexões de Karl Jaspers e Georges Canguilhem sobre o normal e o patológico,
destacando a importância da compreensão empática do paciente e a influência
do contexto social na avaliação psicológica.
 Sintomas Patognomônicos são aqueles que estão presentes única e
exclusivamente em um transtorno.
 São sinais inequívocos de um transtorno específico. Não se manifestam em
outros transtornos ou condições médicas. Funcionam como um "marcador
biológico" do transtorno. (ex: ouvir vozes na Esquizofrenia)

III. Evolução Histórica e Atual dos Diagnósticos:

 História da psicopatologia, desde Philippe Pinel e William Wundt até a criação


do DSM e da CID.
 Mudanças nas abordagens diagnósticas ao longo das edições do DSM e da CID,
incluindo a introdução de modelos dimensionais e a crítica à patologização da
normalidade.
 Alternativas ao DSM, como o modelo Hierarchical Taxonomy of Psychopathology
(HiTOP), que propõe uma classificação dimensional dos transtornos mentais.

IV. Prática Clínica e Diagnóstico em Psicologia:

 Papel dos psicólogos na realização de diagnósticos, desde que capacitados e


com conhecimento sobre os transtornos.
 Importância de dominar o diagnóstico para direcionar o tratamento corretamente
e a necessidade de reconhecer transtornos nos pacientes, mesmo que já tenham
um diagnóstico prévio de um psiquiatra.
 Luta pela valorização da psicologia e priorização da saúde mental da população.

Os 4 Ds da Psicopatologia

Os 4 Ds são um guia útil para identificar sinais de possíveis transtornos


psicológicos.

 Disfunção (Disfunction): Se o comportamento ou pensamento da pessoa está


interferindo negativamente em sua vida diária, como no trabalho, na escola ou
nos relacionamentos, isso pode indicar uma disfunção.
 Distúrbio (Danger): Refere-se à presença de um transtorno mental
clinicamente reconhecido, conforme definido em manuais diagnósticos como o
DSM-5.
 Desvio (Deeviance): Se o comportamento ou pensamento da pessoa se
desvia significativamente do que é considerado normal ou aceitável pela
sociedade, isso pode sugerir a presença de um transtorno.
 Desconforto (Distress): Se a pessoa está sofrendo emocional ou fisicamente
devido ao seu comportamento ou pensamento, isso pode indicar a presença de
um problema psicológico.

Esses critérios ajudam os profissionais de saúde mental a avaliar se o


comportamento ou pensamento de uma pessoa está dentro dos limites da
saúde mental ou se pode indicar a presença de um transtorno psicológico.
Evolução do DSM (Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos
Mentais)

O DSM tem sido um documento fundamental na psiquiatria e na psicologia


clínica desde sua primeira publicação pela Associação Americana de Psiquiatria
em 1952. Inicialmente, ele surgiu para fornecer uma linguagem comum e um
conjunto de critérios para a classificação de transtornos mentais, facilitando a
comunicação entre profissionais da saúde e ajudando na pesquisa.

 DSM-I (1952): Inspirado em grande parte pela Segunda Guerra Mundial


e seus impactos na saúde mental, o DSM-I incluiu 106 diagnósticos. Ele
era fortemente influenciado pela psicanálise.
 DSM-II (1968): Continuou a ser influenciado pela psicanálise e aumentou
o número de diagnósticos para 182. No entanto, foi criticado por sua falta
de rigor científico.
 DSM-III (1980): Marcou uma revolução, afastando-se da psicanálise em
direção a uma abordagem mais empiricamente baseada. Introduziu
critérios diagnósticos específicos e o sistema de classificação multiaxial,
aumentando substancialmente o número de diagnósticos.
 DSM-III-TR (1987) e DSM-IV (1994) e sua atualização, DSM-IV-TR
(2000): Continuaram a refinar os critérios diagnósticos com base em
novas pesquisas, mantendo a estrutura multiaxial.
 DSM-V (2013): Representou outra grande revisão, eliminando o sistema
multiaxial e introduzindo mudanças significativas em vários diagnósticos,
além de adicionar novos. Buscou uma maior harmonização com a CID
(Classificação Internacional de Doenças).

Abordagem Politética e Multiaxial

A abordagem politética refere-se ao uso de vários critérios para definir a


presença de um transtorno. Nessa abordagem, um indivíduo deve atender a um
determinado número de critérios de uma lista para receber o diagnóstico. Isso
difere da abordagem monolítica, onde a presença de um único sintoma ou
característica poderia ser suficiente para um diagnóstico.
A abordagem multiaxial, por sua vez, foi uma característica do DSM-IV, que
considerava cinco diferentes "eixos" ou áreas de avaliação para fornecer um
diagnóstico holístico:

 Eixo I: Transtornos clínicos.


 Eixo II: Transtornos de personalidade e retardo mental.
 Eixo III: Condições médicas gerais.
 Eixo IV: Problemas psicossociais e ambientais.
 Eixo V: Avaliação da atividade global do indivíduo.

Esse sistema multiaxial permitia uma compreensão mais rica e detalhada dos
problemas enfrentados por um paciente, indo além dos sintomas psiquiátricos
para incluir a saúde física, problemas sociais e funcionamento geral.

RDoC (Research Domain Criteria)

O RDoC é uma abordagem de pesquisa desenvolvida pelos Institutos Nacionais


de Saúde Mental (NIMH) dos Estados Unidos. Ela busca superar as limitações
das classificações de transtornos mentais baseadas exclusivamente em
sintomas observados, como aquelas encontradas no DSM. O RDoC propõe uma
matriz que inclui vários domínios de funcionamento, tais como sistemas de
processamento de informações negativas (por exemplo, medo), sistemas de
recompensa positiva (por exemplo, motivação), funções cognitivas, e sistemas
de regulação social. Cada um desses domínios é analisado através de diferentes
unidades de análise, desde genes até comportamentos e padrões auto-
relatados.

Essa abordagem é revolucionária porque foca em mecanismos cerebrais e


biológicos subjacentes que podem ser comuns a vários transtornos
tradicionalmente categorizados de maneira separada. Ao fazer isso, o RDoC visa
promover uma melhor compreensão dos fundamentos da saúde mental e, por
fim, conduzir a tratamentos mais eficazes que são direcionados para os
processos biológicos específicos, em vez de apenas sintomas.
HITOP (Hierarchical Taxonomy of Psychopatology)

O HiTOP é uma abordagem inovadora para classificar transtornos psicológicos


que se afasta do modelo categórico tradicional, que tende a agrupar sintomas
em transtornos discretos, e se move em direção a um modelo dimensional e
espectral. Isso significa que, em vez de dizer que alguém simplesmente tem ou
não tem um transtorno específico, o HiTOP reconhece que os sintomas podem
variar em intensidade e manifestação ao longo de um espectro.

Esse sistema procura capturar a complexidade dos transtornos psicológicos,


reconhecendo que muitos sintomas se sobrepõem entre os diagnósticos e que
a severidade pode variar amplamente. Por exemplo, ansiedade e depressão,
embora tradicionalmente categorizadas separadamente, frequentemente
coexistem e compartilham muitos sintomas subjacentes. O HiTOP agrupa
transtornos com base em semelhanças nos sintomas e em suas bases
biológicas, o que pode levar a abordagens de tratamento mais personalizadas e
eficazes.

Modelo Dimensional da Psicopatologia

O Modelo Dimensional da Psicopatologia propõe que os transtornos mentais não


sejam entidades discretas (como "tem" ou "não tem"), mas que os sintomas se
distribuam ao longo de um espectro. Isso significa reconhecer que os aspectos
da saúde mental, como humor e ansiedade, não são simplesmente presentes ou
ausentes, mas podem ser experimentados em diferentes graus de severidade.

Este modelo é baseado na ideia de que uma abordagem dimensional pode


capturar a complexidade e a nuance dos estados psicológicos humanos mais
efetivamente do que as categorias rígidas. Por exemplo, em vez de diagnosticar
alguém estritamente com depressão ou ansiedade, o modelo considera o
espectro de sintomas e como eles se sobrepõem, permitindo uma compreensão
mais precisa da experiência individual e potencialmente levando a tratamentos
mais personalizados e eficazes.

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