Você está na página 1de 75

Psicopatologia

1. Psicopatologia: conceitos e classificação


Definição de psicopatologia:
• A psicopatologia não é definida como o desvio da norma estatística nem das
normas sociais.
• O comportamento desadaptativo, a angústia (tanto para o próprio como para os
outros) e comprometimento são característicos de psicopatologias.
• Problemas na definição de psicopatologia:
• As causas são frequentemente multidimensionais e/ ou desconhecidas, pelo
que definir pelas causas ou fatores determinantes não é possível.
• A terminologia deve ser neutra e não contribuir para estigmatizar as pessoas
que têm problemas de saúde mental (e.g., não ser considerada “normal”).
• A definição deve ser útil ao nível científico e ao nível profissional
(permitindo acesso ao apoio e serviços necessários).
• Problemas com o desvio da norma estatística:
• O desvio da norma estatística não significada, necessariamente,
psicopatologia.
• Esta definição potencia a terminologia que classifica os indivíduos como
“não-normais”.

• Problemas com o desvio das normas sociais:


• Diferentes culturas diferem naquilo que é socialmente aceitável ou habitual.
• Comportarmo-nos de uma forma que não é aceitável socialmente não
implica a existência de psicopatologia subjacente necessariamente.
• Uma norma social pode ser usada como forma de estigmatizar (incluindo
alienar ou prender ou retirar outros direitos) a indivíduos que não se
conformem a uma norma (e.g., ditaduras).

1
• Comportamento desadaptativo:
• Esta definição coloca a avaliação no comportamento que pode contribuir
para que uma pessoa tenha dificuldades em viver a sua vida quotidiana de
forma adaptativa.
• Será que existem défices no funcionamento social, ocupacional, educacional
ou familiar da pessoa que decorram da sua condição?
• Contudo, usado como critério único, esta definição por vezes não é
suficiente para definir psicopatologia.
• Sofrimento e incapacidade:
• Existe sofrimento clinicamente significativo do próprio ou que seja causado
aos outros?
• E a condição resulta em incapacidade/disfuncionalidade/desadaptação/
prejuízo para o funcionamento?
• Esta definição útil permite:
• Considerar cada indivíduo na avaliação da sua condição (na sua idade,
no seu contexto, etc).
• Que cada indivíduo possa pedir ajuda, com base no sofrimento
percebido.
• Não estigmatizar indivíduos nem a diferença, per se.
Saúde psicológica:
• Perceção adequada da realidade.
• Autoconhecimento e consciência dos próprios sentimentos.
• Capacidade de exercer controlo voluntário sobre o próprio comportamento.
• Boa autoestima e apreciação de valor próprio.
• Capacidade de desenvolver e manter relações interpessoais e afetivas.
• Sentido de significado – uma abordagem positiva e orientada à vida.

Manifestações
objetivas
Psicopatologia
descritiva
Manifestações
Psicopatologia
subjetivas
Psicopatologia
“Patologia do Espírito”
explicativa

Entidade dinâmica e em contínua evolução


(processos de convergência questionados e
reformulados à luz de novas evidências)
Sintoma:
• Manifestação subjetiva duma condição patológica.
• Os sintomas são reportados pelo paciente, não necessariamente observados pelo
psicólogo/médico.
Sinais:
• Manifestação observável de uma condição psicopatológica.

2
• Os sinais são observados pelo psicólogo/médico.
Síndroma ou síndrome:
• Um agrupamento de sinais e sintomas, baseado na frequente ocorrência
simultânea dos mesmos e na ligação entre eles, sugerindo uma determinada
patogénese (curso de evolução, padrões típicos).
Perturbação ou doença (evitar desordem ou distúrbio ou transtorno):
• Uma entidade nosológica, que parte da observação de sinais e sintomas aos
quais é associada uma previsão de etiologia (fatores e percurso causal), um curso
de desenvolvimento, um prognóstico e uma ou várias modalidades de
tratamento.
• Cada entidade nosológica ou diagnóstico pode apresentar manifestações nos
seguintes domínios:
• Somático.
• Psicomotor.
• Consciência.
• Cognitivo (perceção, memoria, pensamento e discurso).
• Afetivo ou emocional.
• Comportamental.
• Relacional.
• Social/adaptativo.
• Ocupacional.
Critérios de diferenciação das vivências patológicas/para realizar o diagnóstico:
• Sinais e sintomas.
• Intensidade.
• Frequência.
• Evolução e duração.
• Sofrimento subjetivo da pessoa ou provocado aos outros.
• Interferência com as demais áreas de funcionamento.
Episódio:
• Ocorrência de um síndrome, já assumido como parte do percurso de uma
perturbação, cujo desenvolvimento prevê a ocorrência de uma ou mais fases
agudas.
Fase aguda vs. fase de estabilização:
• Fase aguda: fase em os sintomas são mais nítidos.
• Fase de estabilização: fase em que os sintomas são mais discretos
Episódico vs. Crónico:
• Episódico: tem inicio, meio e fim; tem uma remissão completa de sinais e
sintomas.

3
• Crónico: mantem-se ao longo da vida; no entanto, pode haver momentos/fases
estáveis (ainda assim não existe remissão completa de sinais e sintomas).
Classificação de fenómenos patológicos de acordo com o seu desenvolvimento:
• De evolução aguda:
• Uma fase (totalmente ou parcialmente reversível).
• Um despoletamento (processo psíquico agudo, mas que deixa sequelas ou
inicia um processo crónico).
• De evolução crónica:
• Um processo psíquico (e.g., esquizofrenia) ou orgânico (e.g., demência).
• Um desenvolvimento episódico recorrente (e.g., depressão).
• Um desenvolvimento ao longo do ciclo de vida (e.g., perturbações de
personalidade).
Sistemas de classificação:
• International List of Causes of Death (ICD):
• Desenvolvido pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
• Na 11ª edição (ICD-11).
• Contém todas as condições clínicas (saúde física e psicológica).
• Sistema concebido por uma equipa técnica com base na descrição técnica e
teórica das várias patologias.
• Extensível a patologias do foro médico, para além da psicopatologia.
• Criou um glossário de sinais, sintomas e perturbações.
• Tentou operacionalizar os critérios de observação de fenómenos
psicopatológicos.
• Diagnostic & Statistical Manual (DSM):
• Desenvolvido pela Associação Americana de Psiquiatria (APA).
• Na 5ª edição (DSM-5).
• Deixou de falar de “doenças” para falar de perturbações: ênfase nos aspetos
da disfunção e das alterações de desenvolvimento.
• Classificação e hierarquização de fenómenos feita com base em estudos
epidemiológicos de larga escala que se propõem atingir uma normalização
dos critérios clínicos utilizados por técnicos de varias orientações.
• Tentou eliminar o peso da corrente teórica na descrição dos fenómenos.
• Fortemente apoiado pela estatística.
• Compatibilização de critérios como o ICD.
• Para além do diagnostico, informa sobre:
• Características principais da perturbação, incluindo prevalências,
estudos em diversas idades e grupos de pessoas.
• Características associadas a essa perturbação.
• Critérios de diagnóstico (uma lista de sintomas que devem estar
presentes para diagnóstico).
• Informação sobre diagnóstico diferencial (como esta se distingue de
outras perturbações semelhantes mas distintas).

4
• Permite ainda:
• Notas sobre os fatores psicossociais e contextuais.
• Uma avaliação da incapacidade numa nota de 0-100 (baseada no
sistema da OMS).
• O DSM é o sistema de classificação mais abrangente que temos disponível.
Embora tenhamos acabado de enumerar uma série de críticas ao DSM,
devemos também lembrar que a classificação em e por si só tem algumas
vantagens. Devemos também lembrar que o DSM é um sistema de
classificação em evolução que tem em conta as críticas das versões
anteriores e se desenvolve para incorporar a investigação recente.
• Ajustadas uma à outra atualmente.
• Vantagens dos Sistemas de Classificação em psicopatologia:
• Permitem uma comunicação entre técnicos, clínicos e investigadores, um
léxico comum de fenómenos psicopatológicos.
• Agrupam fenómenos, levando à criação de leis e princípios gerais.
• Ajudam a organizar hierarquias de conceitos, princípios comuns e regras.
• Tentam ser precisos e válidos.
• Tentam ser teoricamente e culturalmente neutros.
• Duas características a que todo o sistema de classificação deve aspirar:
• Fidelidade:
• Dois técnicos deveriam dar o mesmo diagnostico se o paciente
apresenta os mesmos sinais e sintomas.
• Validade:
• O nome deve ter um e um só significado em termos de sintomatologia,
etiologia e prognóstico.
• Limites e desvantagens dos Sistemas de Classificação em psicopatologia:
• A divisão entre o psíquico e o físico é cada vez mais difícil de estabelecer.
• Qualquer categorização é sempre artificial e todos os casos reais têm
características de vários tipos de patologia.
• As classificações utilizam critérios que por vezes não podem ser
objetivamente observáveis (e.g., características vivenciais de uma
alucinação, a noção de autoestima).
• As classificações nunca são totalmente isentas de orientação teórica.
• A classificação traz “rótulos” que, por sua vez, acarretam juízos de valor.
• Todos os sistemas de classificação existentes se centram em fenómenos de
patologia no indivíduo, não dando suficiente importância à patologia
interativa e à patologia das famílias, grupos e instituições disfuncionais.
• As perturbações não são classificadas de acordo com a causa.
• O DSM define as perturbações como entidades discretas - mas raramente
são assim na prática (os doentes reais raramente se apresentam assim).
• A comorbidade é a norma e não a exceção.
• Os critérios de diagnóstico permitem frequentemente uma grande
heterogeneidade dentro de uma categoria.
• A interação entre ambiente, contexto e variáveis sociais é limitada, e a
condição está num único indivíduo.

5
• É difícil torná-lo realmente neutro de um ponto de vista teórico.
• Todas as definições de psicopatologia têm limitações.
• Os sistemas de classificação também têm limitações, mas o mais utilizado é
o DSM.
Definição de psicopatologia no DSM:
• No DSM, cada uma das perturbações mentais é conceptualizada como uma
síndrome ou padrão comportamental ou psicológico clinicamente significativo
que ocorre num indivíduo e que está associado à angústia presente (por exemplo,
um sintoma doloroso) ou deficiência (ou seja, deficiência numa ou mais áreas
importantes de funcionamento) ou com um risco significativamente aumentado
de sofrer morte, dor, deficiência, ou uma perda importante de liberdade. Além
disso, esta síndrome ou padrão não deve ser apenas uma resposta expectável e
culturalmente sancionada a um acontecimento particular, por exemplo, a morte
de um ente querido. Qualquer que seja a sua causa original, deve atualmente ser
considerada uma manifestação de disfunção comportamental, psicológica, ou
biológica no indivíduo. Nem o comportamento desviante (por exemplo, político,
religioso ou sexual) nem os conflitos que são principalmente entre o indivíduo e
a sociedade são perturbações mentais, a menos que o desvio ou conflito seja um
sintoma de uma disfunção no indivíduo.

2. Teorias e Modelos etiológicos


Explicar a psicopatologia:
• Explicações místicas/religiosas (e.g., possessões demoníacas).
• Modelo biomédico/médico (biológico).
• Modelos psicológicos:
• Modelos psicanalíticos e psicodinâmicos.
• Modelos comportamentais.
• Modelos cognitivos.
• Modelos humanistas-existenciais / fenomenológicos.
• Modelos ecológicos.
Possessões demoníacas:
• A crença de que aqueles que sofrem de psicopatologia estão possuídos por maus
espíritos.
• A personalidade do doente parece ter sido assumida por alguém ou outra coisa.
• Exorcizar maus espíritos envolve frequentemente ataques físicos diretos ao
corpo do doente.
• Ainda uma explicação comum em algumas áreas do mundo (por exemplo, Haiti
e África Ocidental).

6
Modelo biomédico:
• Defende que todas as psicopatologias têm uma causa biológica.
• O modelo biomédico desenvolveu-se através do crescimento do campo da
psiquiatria.
• Postulados básicos do modelo médico ou orgânico:
• Todas as doenças têm uma etiologia ou causa biológica.
• A causa das doenças tem sempre uma base orgânica: genética, neurológica,
metabólica, endócrina, infeciosa ou traumática.
• A etiologia orgânica dá origem a uma série de sintomas que constituem o
quadro clinico. Estes sintomas podem ser do foro comportamental,
cognitivo, afetivo ou adaptativo/social, etc, mas tendem a ser atribuídos a
uma etiologia de base biológica.
• O agrupamento sistemático de um conjunto de sintomas permite estabelecer
um diagnóstico.
• A identificação de um diagnóstico permite estabelecer critérios de
prognóstico e plano(s) de tratamento.
• O objetivo final do estudo dos fenómenos patológicos é o eventual
tratamento, que geralmente incide sobre a etiologia orgânica.
• Críticas ao modelo orgânico:
• Distinção questionável entre doença e saúde e a focagem excessiva nos
fatores estritamente individuais.
• O estigma e consequente segregação do indivíduo com estatuto de “doente”,
especialmente em psiquiatria.
• A negligência dos fatores ambientais e relacionais no percurso etiológico da
doença.
• A insuficiente sustentação de uma hipótese de etiologia orgânica para
algumas perturbações.
• Os perigos de diagnosticar → catalogar a pessoa e presumir a existência de
causas orgânicas para problemas do foro relacional e social, o que
desresponsabiliza o contexto.
• O modelo biomédico implica uma disfunção biológica → não ocorre
sempre.
• Nem todas as psicopatologias parecem ter uma causa física (e.g., problemas
de comportamento que são aprendidos).
• O modelo médico é reducionista e não pode dar conta da experiência
pessoal da psicopatologia.
• Distingue claramente os problemas psicológicos dos físicos como opostos
(não é o caso).
Modelos psicanalíticos e psicodinâmicos:
• Formulado primeiramente por Sigmund Freud (1856-1939).
• Desenvolvimento da personalidade através de 3 forças psíquicas (Id, Ego e
Superego).

7
• Psicopatologia resulta da utilização desadequada de mecanismos de defesa na
gestão do conflito entre essas forças e que podem resultar em ansiedade e
depressão.
• Id:
• Representa as necessidades instintivas ou pulsionais (e.g., sexuais e
agressivas).
• Ego:
• Representa o “eu” e o pensamento racional.
• Superego:
• Representa a interiorização dos standards sociais e morais.

• De acordo com Freud, o id, ego e superego estão frequentemente em conflito, e


a saúde psicológica só é mantida quando estão em equilíbrio. Contudo, se estes
três fatores estiverem em conflito, então o comportamento pode começar a exibir
sinais de psicopatologia. Os indivíduos tentam controlar o conflito entre estes
fatores e também reduzir o stress e o conflito de eventos externos,
desenvolvendo mecanismos de defesa.
• Mecanismos de defesa:
• Negação: negação do reconhecimento de alguns aspetos dolorosos da
realidade externa ou das experiências subjetivas que são manifestas para os
outros; mecanismo primário que implica distorção da realidade com
substituição por fantasias.
• Projeção: atribui incorretamente aos outros, sentimentos, impulsos ou
pensamentos próprios que para ele são inaceitáveis; muito associada a
personalidades paranoides.
• Regressão: regressão a padrões de comportamento de desenvolvimento
anterior ou infantis perante situações de stress.
• Identificação: mecanismo pelo qual alguns dos traços ou atributos de outros
são tomados como do próprio.
• Repressão: expulsão da consciência de desejos, pensamentos ou
experiências que lhe causam mau estar.
• Supressão: evitamento intencional em pensar em problemas, desejos,
sentimentos ou experiências que lhe provocam mau estar.
• Formação reativa: substituição dos comportamentos, pensamentos ou
sentimentos que são inaceitáveis por outros diametralmente opostos (muito
em associação com a repressão).

8
• Isolamento afetivo: separação das ideias do sentimento a elas originalmente
associado; afastamento da componente afetiva apesar de manter os
elementos cognitivos.
• Intelectualização / racionalização: generalização ou utilização de
pensamentos abstratos para controlar ou minimizar sentimentos; invenção
das próprias explicações para encobrir as verdadeiras motivações.
• Deslocamento: reconhecimento ou generalização de um sentimento ou uma
resposta a um objeto para outro (menos importante).
• Sublimação: canalização de sentimentos ou impulsos potencialmente
desadaptativos em comportamentos socialmente aceitáveis.
• Humor: enfatização dos aspetos divertidos ou irónicos dos conflitos ou
situações de stress.
• Construído no seio da Psicanálise enquanto modelo de intervenção terapêutica, a
partir da observação clínica e dos pressupostos da teoria freudiana, tendo-se
expandido a outros teóricos que alargam significativamente o estudo das
dinâmicas intrapsíquicas e interpessoais.
• Os principais pressupostos defendem que o funcionamento do psiquismo
humano assenta num conjunto de dinâmicas intrapsíquicas que implicam a
existência de um domínio inconsciente da mente humana e de várias instâncias
com características distintas.
• Esse mesmo psiquismo vai-se estruturando ao longo da infância e adolescência
segundo fases determinadas, sendo que em cada uma destas fases, a psique
humana é dominada por dinâmicas especificas que influenciam o modo como a
pessoa processa as interações que tem com o meio, físico e humano (elevada
importância do desenvolvimento precoce, nomeadamente da infância).
• As relações precoces (nos primeiros anos de vida), com as principais figuras da
vida da criança (os “objetos”) são revestidas de particular importância na
formação da personalidade do indivíduo e constituem o terreno principal de
experiências formativas desse mesmo indivíduo.
• A estabilidade psíquica é adquirida pelo equilíbrio homeostático das várias
instâncias entre si, pelo equilíbrio entre as forças pulsionais e as condicionantes
do ambiente e pelas funções que as relações interpessoais desempenham na vida
do indivíduo.
• Todo o comportamento e verbalização constituem manifestações de processos
intrapsíquicos e interpessoais que muitas vezes se situam ao nível do
inconsciente.
• Resumo:
• Motivações e os processos inconscientes.
• Todo o comportamento como uma manifestação do conflito dinâmico.
• Importância do desenvolvimento precoce (infância).
• Estádios de desenvolvimento psicossexual da infância e adolescência.
• Importância da vinculação e figuras de vinculação.
• Relações entre objetos como base para as relações interpessoais em adulto.
• Críticas e limitações:
• Falta de consenso entre os diversos observadores e teóricos → os conceitos
centrais em psicanálise são difíceis de medir e definir objetivamente.

9
• Confusão entre a inferência e o facto observado, isto é, conceitos básicos
muito difíceis / impossíveis de operacionalizar e medir/avaliar → uma vez
que os conceitos centrais são difíceis de medir, é difícil realizar uma
investigação objetiva.
• Escassa confirmação empírica – conhecimento baseado na observação de
casos individuais e nas inferências de “observadores” que estão envolvidos
numa relação terapêutica com o indivíduo, com todo o enviesamento que
isso poderá implicar → há poucas provas objetivas de que a psicanálise seja
uma melhor explicação da psicopatologia do que outras abordagens.
• Excessiva importância atribuída à esfera da sexualidade e aos fenómenos de
determinismo intrapsíquico → demasiado foco na sexualidade e em
variáveis intrapsíquicas e foco insuficiente no contexto e ambiente.
Modelos comportamentais:
• Psicopatologia constitui frequentemente um conjunto de aprendizagens e reações
a experiências de vida.
• Baseados nos modelos de aprendizagem e condicionamento:
• Condicionamento clássico (Pavlov).
• Condicionamento operante (Skinner).
• Modelagem ou aprendizagem social (Bandura).
• Condicionamento clássico:
• Inicialmente, existe um estímulo incondicionado, que provoca uma resposta
natural e automática (resposta incondicionada), e um estímulo neutro, que
não está relacionado com a resposta incondicionada.
• Durante o condicionamento, o estímulo neutro é repetidamente apresentado,
seguido imediatamente do estimulo incondicionado.
• Concluído o condicionamento, o estímulo neutro leva a que os indivíduos
apresentem a resposta incondicionada, independentemente de o estímulo
incondicionado estar ou não presente. Deste modo, o estímulo neutro passou
a ser um estímulo condicionado e a resposta incondicionada tornou-se numa
resposta condicionada.
• Exemplos de perturbações derivadas deste tipo de condicionamento:
• Fobias (especificas e fobia social).
• Perturbação de pânico (e.g., agorofobia).
• Perturbação de stress pós-traumático.
• Condicionamento operante:
• As consequências do comportamento determinam a probabilidade de o
comportamento voltar a manifestar-se, sendo as principais reguladoras da
aprendizagem.
Aumenta a probabilidade da Diminui a probabilidade da
ocorrência do comportamento ocorrência do comportamento
Apresentar o estímulo Reforço positivo Punição positiva
Remover o estímulo Reforço negativo Punição negativa

10
• Reforço: aumenta a probabilidade de um determinado comportamento
ocorrer.
• Reforço positivo: a consequência agradável é apresentada após o
comportamento ocorrer.
• Reforço negativo: a consequência aversiva é removida/subtraída após o
comportamento ocorrer.
• Punição: diminui sempre a probabilidade de um determinado
comportamento ocorrer.
• Punição positiva: a consequência aversiva é apresentada após o
comportamento ocorrer.
• Punição negativa: a consequência agradável é removida/subtraída após
o comportamento ocorrer.
• Exemplos de perturbações derivadas deste tipo de condicionamento:
• Comportamento oposicional.
• Perturbação de comportamento nas crianças.
• Modelagem:
• Processo de fornecer uma representação visual, verbal ou manual de um
comportamento que pretende que seja aprendido pela criança/jovem.
• Pressupostos dos Modelos Comportamentais:
• Os fenómenos psicológicos são melhor estudados e descritos em termos de
comportamento observável.
• O comportamento humano é determinado por um processo de
condicionamento a vários níveis, que pode ser do tipo Condicionamento
Clássico ou do tipo Condicionamento Operante.
• A ideia de que todo o comportamento - funcional ou patológico - é moldado
de acordo com os mesmos princípios, sem distinção fundamental entre a
pessoa com ou sem psicopatologia.
• O comportamento patológico pode ser tratado através de intervenções que
se baseiam nos princípios da aprendizagem humana e o indivíduo podem ser
levados a mudar modificando as experiências ou treinando as suas
capacidades adaptativas.
• Críticas e limitações:
• Processos simples de aprendizagem dificilmente explicam psicopatologias
complexas (e.g., POC, dependência de substâncias) ou doenças mentais
graves (e.g., psicose).
• Desenvolvido com base em estudos experimentais, que nem sempre
representam experiência ecológica / experiências do quotidiano.
• Dificuldade em verificar retrospetivamente as abordagens comportamentais
em todas as experiências de aprendizagem.
• Os modelos comportamentais não envolvem fatores cognitivos (e os seres
humanos não aprendem apenas por estímulo-resposta).
Modelos cognitivos:
• Pioneiros: Albert Ellis & Aaron Beck.
• Propõe que os pensamentos (cognições) são a ligação entre a realidade/situações
e as respostas comportamentais e afetivas das pessoas.
11
• Indivíduos com psicopatologia podem adquirir:
• Crenças irracionais (e.g., eu nunca vou conseguir fazer nada bem, eu não
sou capaz de fazer nada de jeito, etc).
• Pensamentos disfuncionais (e.g., eu vou morrer).
• Enviesamentos cognitivos negativos (e.g., copo meio vazio).
• Deu origem às terapias cognitivo-comportamentais (CBT), bastante utilizadas
atualmente.
• Exemplos de crenças irracionais:
• “Devo ser amado por todos”.
• “Sou incapaz de fazer algo que valha a pena”.
• “Eu não valho nada”.
• “Acontecem-me sempre coisas más”.
• “Nunca irei conseguir nada”.
• Surgiu no domínio da Psicologia Experimental e assenta no corpo central da
teoria da aprendizagem e da Psicologia Cognitiva.
• O comportamento humano é determinado por um processo de aprendizagens a
vários níveis.
• Os fenómenos psíquicos são melhor estudados e descritos ao nível do
comportamento observável e dos esquemas de pensamento que se vão
estabelecendo no percurso de desenvolvimento.
• Situa os fatores causais da patologia psíquica essencialmente no domínio dos
fenómenos psicológicos normativos.
• Grande contributo: a ideia de que todo o comportamento (normal ou patológico)
é moldado segundo os mesmos princípios, não havendo distinção fundamental
entre a pessoa doente e a pessoa sã no seu estatuto global.
• O comportamento patológico pode ser tratado através de intervenções que se
baseiam nos princípios da aprendizagem humana e o indivíduo pode ser levado à
mudança por modificações de experiências ou treino das suas competências
adaptativas.
• Os pensamentos, tal como os comportamentos, podem ser analisados, postos à
prova, modificados e treinados através de terapia cognitiva, resultando em
comportamentos e respostas emocionais mais saudáveis.
• Os processos cognitivos disfuncionais têm sido aplicados para explicar:
• Depressão (Beck, 1967).
• Pensamento paranoide em Esquizofrenia (Morrison, 2001).
• Comportamento antissocial e impulsivo em Perturbações de Personalidade
(Young, Klosko & Weishaar, 2003).
• Comportamento dos agressores sexuais (Ward et al., 1997).
• Hipocondria e Perturbações Somatoformes (Warwick, 1995).
Modelo humanista:
• Modelo ligado à fenomenologia, à filosofia humanista e ao existencialismo.
• Desenvolveu-se na psicologia através da obra de Carl Rogers, Rollo May, Irvin
Yalon e outros.

12
• Apesar da importância deste modelo em psicologia, não se destaca muito em
psicopatologia, dado que a sua ênfase é no desenvolvimento saudável e no
potenciar de cada indivíduo, afastando-se do conceito de pessoa doente ou de
fenómenos que na sua essência seriam patológicos.
• Pontos principais:
• Insight.
• Desenvolvimento pessoal.
• Autorrealização e autoatualização.
• Visão positiva da natureza humana.
• A pessoa é um todo indissociável, onde o biológico, o psíquico, o relacional, o
social e o espiritual estão em constante interação.
• A pessoa possui um potencial intrínseco para se atualizar e desenvolver
positivamente de forma harmoniosa em relação com o meio/ambiente.
• Na sua dimensão psíquica, o ser humano é entendido como uma “estrutura em
processo” e mudança, um ser em constante evolução e em constante interação
com o contexto.
• A cada momento, aquilo que a pessoa é vai sofrendo transformações no sentido
de se ir construindo e enriquecendo em relação com o meio.
• Qualquer vivência ou comportamento só pode ser compreendido como fazendo
parte da pessoa em relação com o “outro”.
• A pessoa é intrinsecamente interpessoal e interdependente: não existe nem pode
ser compreendida separadamente das circunstâncias do meio, dos outros e do
momento presente.
• A “patologia” pode ser compreendida das seguintes formas:
• Há disfunção quando a pessoa não está capaz de evoluir a par com o meio,
ou seja, quando a pessoa deixa de incorporar feedback e/ou de efetuar
mudanças (i.e., é incapaz de se desenvolver de forma consistente com o
ambiente/contexto).
• Há disfunção quando existe incongruência entre a experiência e o
autoconceito (consciência de si).
• Há disfunção quando o “eu real”, o “eu ideal” e/ou o “eu obrigatório” não se
correspondem.
• Há patologia quando a pessoa deixa de estar “em processo” ou em mudança:
quando o movimento de constante criação e enriquecimento pessoal deixa
de se fazer ou não é conduzido pela própria pessoa.
• Psicoterapias centradas no cliente:
• Desenvolvido por Carl Rogers (1951; 1987).
• Salienta a “bondade” / potencial da natureza humana.
• Abordagem não diretiva dirigida a promover a valorização pessoal.
• Processos centrais incluem:
• Empatia.
• Aceitação positiva incondicional.
• Genuinidade.
• Críticas e limitações:
• Visão um pouco utópica dos fenómenos de psicopatologia, resistindo à
tendência para classificar, catalogar ou “tratar” → não fornece quaisquer
13
normas pelas quais se possa julgar objetivamente se ou como o
comportamento é sintomático de uma psicopatologia (cada indivíduo é
único e subjetivo).
• A não generalização das observações e inferências, cuja elaboração se
centra na originalidade do indivíduo e na especificidade do momento e da
relação.
• Difícil de aplicar a doenças mentais graves complexas, a perturbações de
personalidade e a condições de relacionamento interpessoal violentas ou que
constituem risco/perigo para si ou para os outros.
Modelos ecológicos e sistémicos:
• Os modelos ecológicos e sistémicos entendem:
• A família enquanto sistema.
• Todos os membros da família têm uma função,
• O sistema tem fronteiras, subsistemas e regras.
• As relações contínuas da família com o seu contexto → há interações
constantes dos membros da família dentro do e com o contexto.
• Qualquer disfunção ou manifestação de sofrimento de um membro da
família é uma manifestação da disfunção do sistema.
• Necessidade de mudanças ao nível do sistema → as famílias têm forças
internas e externas, normativas e não normativas, que criam crises com
potencial de mudança; todo o sistema precisa de mudar, à medida que um
membro muda.
Modelo “Diathesis-Stress”:
• Meehl (1962) e Rosenthal (1979) desenvolveram um modelo que intitularam
“Diathesis-stress Model”, que postula que existe uma contribuição orgânica que
constitui uma vulnerabilidade para a doença mental, à qual outros fatores podem
ser acrescentados.
• A possibilidade de desenvolver uma condição psicológica seria baseada em
fatores genéticos, mas seriam os acontecimentos de vida e condições ambientais
que determinariam se esta se desenvolveria ou não.
• Representa uma interação entre “nature” e “nurture”.

14
Fatores protetores e Resiliência:
• Na saúde mental, existem variáveis contextuais que promovem ou dificultam o
bem-estar. Estas são frequentemente referidas como fatores de proteção e de
risco.
• Um fator de proteção pode ser definido como “uma característica a nível
biológico, psicológico, familiar ou comunitário (incluindo pares e cultura) que
está associada a uma menor probabilidade de desenvolvimento de outcomes
problemáticos ou que reduz o impacto negativo de um fator de risco”.
• A resiliência refere-se ao processo de ajustamento positivo e bom / indicadores
positivos de saúde mental, face aos fatores de risco, tendo em conta a presença
de fatores de proteção (tais como o apoio social).

3. Perturbações psicológicas do adulto


Psicopatologia do Adulto:
• Perturbações do Humor.
• Perturbações da Ansiedade.
• Perturbações Psicóticas.
• Perturbações Neurocognitivas.
• Perturbações de Utilização de Substâncias.
• Perturbações do Comportamento Alimentar.
• Perturbações da Personalidade.
• Perturbações do Sono.
• Perturbações Sexuais.
• Perturbações Dissociativas.
• Perturbações do Controlo dos Impulsos.
• Perturbações de Adaptação.
----------------------------------------------------//----------------------------------------------------
Perturbações do Humor:
• Característica fundamental das perturbações do humor é a presença de humor
alterado → disfórico ou eufórico.
• Episódio:
• Caracterização de episódio depressivo.
• Caracterização de episódio maníaco.
• Caracterização de episódio misto.
• Caracterização de episódio hipomaníaco.
• Especificadores:
• Ligeiro, moderado, grave sem características psicóticas, grave com
características psicóticas.
• Em remissão parcial, em remissão completa, com padrão sazonal, com
ciclos rápidos, com início pós-parto, etc.
• Perturbações depressivas:
• Perturbação depressiva major.

15
• Distimia.
• Perturbação depressiva SOE.
• Perturbações bipolares:
• Bipolar I.
• Bipolar II.
• Perturbação ciclotímica.
• Outras perturbações de humor:
• Perturbação do humor devida a estado físico geral.
• Perturbação do humor induzida por substâncias.
Depressão:
• Distingue-se por um humor invulgarmente triste, melancólico e abatido, ou por
uma diminuição marcada de interesse ou prazer nas atividades do dia a dia,
claramente diferente do que ocorre quando o cliente não está deprimido.
• Humor depressivo (em crianças, humor irritável).
• Diminuição de interesse ou prazer.
• Perda/aumento de peso/apetite.
• Insónia ou hipersónia.
• Agitação ou lentificação psicomotora.
• Fadiga ou perda de energia.
• Sentimentos de desvalorização ou culpa excessiva.
• Diminuição de capacidade de concentração e de tomada de decisão.
• Pensamentos recorrentes sobre morte ou ideação suicida.
• Cronicidade, recorrência, severidade.
• Características de depressão:
• Sentimentos de tristeza, desesperança e desencorajamento.
• Associada a défices motivacionais, ausência de ambição e espontaneidade.
• Sintomas comportamentais incluem retardação de discurso e
comportamento global.
• Sintomas físicos incluem alterações do sono.
• Características cognitivas incluem pensamentos negativas, baixa autoestima
e pessimismo.
• Perturbação depressiva major:
• Condição psicológica caracterizada por períodos relativamente prolongados
de humor depressivo que causa sofrimento clinicamente significativo ao
indivíduo e incapacidade social e ocupacional no seu funcionamento.
• 1 ou mais episódios depressivos.
• Risco ao longo da vida 15-25% para mulheres e 5-12% para homens.
• Prevalência pontual: 5-9% nas mulheres e 2-3% nos homens.
• Etiologia:
• Fatores genéticos.
• Fatores biológicos para além da genética.
• Fatores intrapsíquicos (emocionais e cognitivos, vulnerabilidade
interpessoal).
• Fatores reativos / ambientais.

16
• Emoções na depressão:
• Tipos de emoção:
• Tristeza
• Desesperança / desilusão.
• Culpa.
• Irritabilidade / zanga.
• Ansiedade (depressão agitada).
• Outros aspetos emocionais:
• Consistência entre cognição, emoção, comportamento, expressão ou
“máscara” (zanga).
• Ego-distonia e autorreferenciação é habitual.
• Isolamento e maior sensibilidade interpessoal.
• Fatores etiológicos na depressão:
• Teorias biológicas:
• Fatores genéticos.
• Fatores neuroquímicos.
• Funcionamento cerebral.
• Fatores neuroendócrinos.
• Teorias psicológicas:
• Psicodinâmicas.
• Comportamentais.
• Cognitivas.
• Fatores genéticos:
• Tanto as perturbações depressivas como as bipolares existem em famílias
(Gershon, 2000).
• Estudos de gémeos indicam:
• Taxas de concordância na depressão major de 69% e 29% em gémeos
monozigóticos e dizigóticos respetivamente (McGuffin et al., 1996).
• Taxas de concordância na perturbação bipolar de 58% e 17% para
gémeos monozigóticos e dizigóticos respetivamente (Bertelsen et al.,
1977).
• Fatores neuroquímicos:
• Depressão está habitualmente associada a baixos níveis de
neurotransmissores, nomeadamente serotonina e norepinefrina.
• Os sintomas de depressão podem ser reduzidos através de serotonina e
norepinefrina:
• Antidepressivos tricíclicos.
• Inibidores monoamina oxidase.
• Inibidores seletivos da recaptação da serotonina (SSRIs).
• Funcionamento cerebral:
• A depressão está associada com mudanças no funcionamento das seguintes
áreas cerebrais:
• Córtex pré-frontal.
• Córtex cingulado anterior.
• Hipocampo.

17
• Amígdala.

• Fatores neuroendócrinos:
• A depressão está associada com níveis elevados de cortisol (uma hormona
adrenocortical).
• O cortisol pode causar o aumento das glândulas adrenais e, por sua vez,
baixar a frequência dos transmissores de serotonina no cérebro (Roy et al.,
1987).
• Abordagem psicodinâmica:
• A depressão é a resposta à perda real ou simbólica.
• Está associada ao processo psicanalítico de introjeção (processo por meio do
qual uma pessoa absorve, como parte integrante do ego, objetos e
qualidades inerentes a esses objetos).
• Pode ser causada pelo estilo parental affectionless control (Garder & Flynn,
2001).
• Teorias comportamentais:
• Desesperança aprendida:
• Teoria da depressão que argumenta que as pessoas ficam deprimidas
após acontecimentos negativos inevitáveis da vida porque estes
acontecimentos dão origem a um conjunto cognitivo que faz com que
os indivíduos aprendam a ficar sem esperança, letárgicos e deprimidos.
• Experiências de perdas ou falhas traumáticas inevitáveis podem causar
desesperança aprendida (Seligman, 1975).
• A desesperança aprendida produz sintomas de depressão, como a falta
de iniciativa.
• A desesperança aprendida foi aplicada à depressão no caso “battered
woman syndrome” (Walker, 2000).
• A depressão é causada pela falta de reforço de comportamentos positivos
(Lewinsohn, 1974).
• As reações negativas dos indivíduos deprimidos podem estabelecer um ciclo
vicioso de falta de reforço social (Joiner, 2002).
• As teorias interpessoais sugerem que a depressão é mantida por um ciclo de
procura de tranquilidade seguido de rejeição (Joiner, 1995).

18
• Teorias cognitivas:
• Proposta por Aaron Beck (1967)
• A depressão é mantida por cognições e esquemas pessoais negativos (eu,
outros e futuro).
• Atribuições (internas e globais dos acontecimentos negativos).
• Os esquemas negativos são caracterizados pela tríade negativa:
• Opiniões negativas sobre si próprio.
• Opiniões negativas sobre o futuro.
• Opiniões negativas sobre o mundo.
• Evidências que suportam a teoria cognitiva de Beck:
• Indivíduos deprimidos mostram viés atencional em relação a material
negativo (Gotlib & Cane, 1987).
• Indivíduos deprimidos recordam mais informação negativa do que
informação positiva em testes de memória (Mathews & MacLeod,
1994).
• Indivíduos deprimidos exibem viés para interpretar informação
ambígua como negativa (Forgas et al., 1984).
• Indivíduos deprimidos carecem de um viés para interpretarem algo de
forma positiva (Alloy & Abramson, 1979).
• Prevalência da depressão e perturbações de humor:
• As taxas de prevalência ao longo da vida para a Depressão Major variam de
5,2 a 17,1%.
• O risco para as mulheres é de 10-25%
• O risco para os homens é de 5-12%.
• A taxa de prevalência da Perturbação Bipolar durante a vida é de 0,4 a
1,6%.
• Existem diferenças culturais significativas nas taxas de prevalência para as
Depressão Major (Weissman et al., 1996).
• Porque é que as mulheres têm duas vezes mais probabilidades do que os homens
de ser diagnosticada com depressão major?
• As mulheres ficam mais deprimidas do que os homens porque sentem que
têm menos controlo sobre as suas vidas?
• São as mulheres mais suscetíveis de se culparem a si próprias pelos
fracassos do que os homens?
• Será que as sociedades ocidentais estabelecem padrões culturais mais
elevados para as mulheres do que para os homens (por exemplo, os padrões
de forma corporal são mais definidos para as mulheres do que para os
homens), e será que as mulheres ficam deprimidas quando não conseguem
cumprir estes padrões relativamente elevados?
• Os homens são simplesmente menos propensos a admitir que estão
deprimidos do que as mulheres?
• Os papéis e as expressões de género são importantes nesta diferença?
• Estilos de atribuição:
• Indivíduos deprimidos tendem a atribuir eventos negativos a:
• Fatores internos e não externos.

19
• Fatores estáveis em vez de instáveis.
• Fatores globais em vez de específicos.

• Perturbação Depressiva Major no DSM-V:


• Critérios de diagnóstico:
A. Cinco (ou mais) dos seguintes sintomas estiveram presentes durante o
mesmo período de duas semanas e representam uma mudança em
relação ao funcionamento anterior; pelo menos um dos sintomas é (1)
humor deprimido ou (2) perda de interesse ou prazer.
1. Humor deprimido na maior parte do dia, quase todos os dias,
conforme indicado por relato subjetivo (p. ex., sente-se triste,
vazio, sem esperança) ou por observação feita por outras pessoas
(p. ex., parece choroso). (Nota: Em crianças e adolescentes, pode
ser humor irritável.)
2. Acentuada diminuição do interesse ou prazer em todas ou quase
todas as atividades na maior parte do dia, quase todos os dias
(indicada por relato subjetivo ou observação feita por outras
pessoas).
3. Perda ou ganho significativo de peso sem estar fazendo dieta (p.
ex., uma alteração de mais de 5% do peso corporal em um mês), ou
redução ou aumento do apetite quase todos os dias. (Nota: Em
crianças, considerar o insucesso em obter o ganho de peso
esperado).
4. Insônia ou hipersonia quase todos os dias.
5. Agitação ou retardo psicomotor quase todos os dias (observáveis
por outras pessoas, não meramente sensações subjetivas de
inquietação ou de estar mais lento).
6. Fadiga ou perda de energia quase todos os dias.
7. Sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva ou inapropriada (que
podem ser delirantes) quase todos os dias (não meramente
autorrecriminação ou culpa por estar doente).
8. Capacidade diminuída para pensar ou se concentrar, ou indecisão,
quase todos os dias (por relato subjetivo ou observação feita por
outras pessoas).

20
9. Pensamentos recorrentes de morte (não somente medo de morrer),
ideação suicida recorrente sem um plano específico, uma tentativa
de suicídio ou plano específico para cometer suicídio.
B. Os sintomas causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo
no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes
da vida do indivíduo.
C. O episódio não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância
ou a outra condição médica.
D. A ocorrência do episódio depressivo maior não é melhor explicada pela
perturbação esquizoafetiva, esquizofrenia, perturbação
esquizofreniforme, perturbação delirante, outra perturbação do espectro
da esquizofrenia e outra perturbação psicótica especificada ou
perturbação da esquizofrenia e outra perturbação psicótica não
especificada.
E. Nunca houve um episódio maníaco ou um episódio hipomaníaco.
(Nota: Essa exclusão não se aplica se todos os episódios do tipo
maníaco ou do tipo hipomaníaco são induzidos por substância ou são
atribuíveis aos efeitos psicológicos de outra condição médica)
• Diagnóstico diferencial:
• Perturbação de hiperatividade e défice de atenção. A distratibilidade e a
baixa tolerância à frustração podem ocorrer tanto numa perturbação de
déficit de atenção/hiperatividade quanto em um episódio depressivo
major; caso sejam satisfeitos os critérios para ambos, o ADHD pode ser
diagnosticado em conjunto com a perturbação de humor. Entretanto, o
clínico deve ter cautela para não superdiagnosticar um episódio
depressivo major nas crianças com perturbação de défice de
atenção/hiperatividade cuja perturbação no humor se caracteriza mais
por irritabilidade do que por tristeza ou perda de interesse.
Perturbação distímica:
• Uma forma de depressão em que o doente experienciou pelo menos 2 anos de
humor depressivo durante mais dias do que os que não experienciou este tipo de
humor.
Perturbação bipolar:
• Condição caracterizada por episódios de euforia que alternam com episódios de
depressão (no tipo I há episódios maníacos e hipomaníacos seguidos de
episódios de depressão major; no tipo II há apenas episódios hipomaníacos
seguidos de episódios de depressão major).
Perturbação ciclotímica:
• Condição caracterizada por pelo menos 2 anos de sintomas hipomaníacos (sem
critérios para episódio maníaco) nos quais o indivíduo tem experiências
alternadas de inadequação e depois elevada autoestima.
• A característica essencial da perturbação ciclotímica é que esta é uma
perturbação de humor crónica e flutuante que envolve numerosos períodos de
sintomas hipomaníacos e períodos de sintomas depressivos que são distintos
21
uns dos outros. Os sintomas hipomaníacos são em número, gravidade,
abrangência, ou duração insuficientes para satisfazer todos os critérios de um
episódio hipomaníaco, e os sintomas depressivos são em número, gravidade,
abrangência ou duração insuficientes para satisfazer todos os critérios de um
episódio depressivo major.
Suicídio e comportamentos auto-lesivos:
• 90% das vítimas de suicídio têm uma psicopatologia diagnosticável na altura da
sua morte (Isometsa et al., 1995).
• A OMS estima que 16 em 100.000 pessoas, em todo o mundo, morrem como
resultado de suicídio.
• 13,5% das pessoas relatam ter uma ideação suicida.
• Fortes ligações entre depressão, suicídio, parassuicídio e automutilação.
• As mulheres são três vezes mais propensas a tentar suicidar-se do que os
homens.
• A taxa de suicídio bem sucedido é quatro vezes mais elevada nos homens do
que nas mulheres.
• A incidência de suicídio aumenta com a idade.
• Uma forma de fenómeno parassuicida na adolescência é a automutilação
deliberada (mas normalmente não é fatal).
• Fatores de risco:
• Um historial de tentativas de suicídio (Leon et al., 1990).
• Relacionado com diagnósticos de depressão, esquizofrenia, perturbação de
personalidade borderline, abuso de substâncias (Isometsa et al., 1995).
• Sentimentos de desespero e desesperança são preditores de suicídio.
• Má saúde física e incapacidade física.
• Dificuldades familiares.
• Life Stress.
• Automutilação deliberada:
• Definido como "uma expressão de angústia pessoal, geralmente feita em
privado, por um indivíduo que se magoa a si próprio". (UK NICE, 2004).
• Uma característica proeminente de muitas psicopatologias, incluindo
distúrbios de personalidade, distúrbios de humor e distúrbios alimentares.
• Cerca de 7% dos jovens entre os 15 e os 16 anos (no Reino Unido) tinham
se automutilado deliberadamente no ano anterior.
• Mais comum em mulheres do que em homens.
• Formas comuns de automutilação:
• Cortar ou queimar.
• Submeter-se (?) a overdoses deliberadamente.
• Bater em si próprio, paredes, ou objetos duros.
• Puxar o cabelo ou cortar a pele.
• Auto-estrangulação.
----------------------------------------------------//----------------------------------------------------

22
Perturbações de ansiedade:
• Uma perturbação de ansiedade é caracterizada por um estado e ativação
excessiva caracterizado por apreensão, incerteza e medo.
• Nas perturbações de ansiedade, a ansiedade é:
• Proporcionalmente superior ao que seria esperado face à ameaça.
• Um estado em que o indivíduo se encontra constantemente.
• Causa sofrimento que é disruptivo do funcionamento do dia-a-dia.
• Características comuns das perturbações de ansiedade:
• Sintomas fisiológicos de pânico.
• Enviesamentos no sentido de atender seletivamente a informação
ameaçadora ou negativa.
• Associado a crenças disfuncionais.
• Muitas vezes relacionadas com experiências específicas vividas muito cedo
(e.g., abuso físico durante a infância).
• Tipos de perturbações de ansiedade:
• Perturbação de Pânico: ataque de Pânico.
• Perturbação de Ansiedade Generalizada.
• Fobia específica.
• Fobia social.
• Perturbação Obsessivo-Compulsiva.
• Perturbação Pós-Stress Traumático.
• Perturbação de Ansiedade secundária a estado físico geral.
• Perturbação da Ansiedade induzida por substâncias.
Fobias específicas:
• Definição de fobia específica:
• Um medo excessivo, irracional e persistente desencadeado por um objecto
ou situação específica.
• O indivíduo com a fobia irá, normalmente, desenvolver um conjunto de
respostas de evitação.
• O medo é impulsionado por um conjunto de crenças fóbicas disfuncionais
que a pessoa que sofre desenvolveu.
• Muito comuns na população geral – raramente única causa para motivar
consultas.
• 4% a 9%.
• Início na infância → fobias comuns em diferentes idades; exceto as da infância,
raramente com remissão espontânea.
• Fobias específicas mais prevalentes e comuns:
• Fobia social → 3,2 %
• Blood-Injury-Injection Phobia → 3,5%
• Fobia de animais em geral → 1,1%
• Fobia dentária → 3-5%
• Fobia da água → 3,3%
• Fobia de alturas → 4,7%
• Claustrofobia / fobia de espaços fechados → 2,4%
23
• Etiologia das fobias específicas:
• Considerações psicanalíticas:
• Um dos casos mais famosos na história da psicanálise é o do "Pequeno
Hans".
• Hans começou a ter um medo de cavalos, que acabou por crescer ao
ponto de se recusar a deixar a casa.
• O acontecimento imediato que precipitou esta fobia foi ver um cavalo
grande e pesado a cair.
• Segundo Freud, Hans, naquele momento, percebeu que o seu desejo era
que o seu pai caísse.
• Então Hans, um pequeno Édipo, poderia tomar o lugar do seu pai com a
sua bela mãe.
• Outra parte do medo era derivado do grande tamanho dos cavalos, que
Hans inconscientemente identificou com o grande poder do seu pai.
• Condicionamento clássico e fobias:
• Exemplo: experiência do pequeno Albert.
• Watson realizou uma experiência com os mesmos princípios da
experiência de Pavlov, na qual utilizou um bebe de nove meses a quem
chamou de Albert B.
• Este expôs o bebe a vários estímulos e registou as suas
reações/respostas. Os estímulos foram um coelho, um macaco, um rato
branco, jornais queimados e máscaras.
• De início, o bebe não demonstrou medo face a qualquer um dos
estímulos.
• Posteriormente, Watson expôs o bebe face a um rato branco e ao
mesmo tempo batia com um martelo num tubo de metal, gerando um
ruído extremamente elevado e que provocava uma resposta natural:
choro.
• Watson repetiu este acontecimento algumas vezes e, no fim, quando se
expunha o bebe face ao rato branco, este chorava, mesmo que não
houvesse o ruído.
• Este medo condicionado acabou por se generalizar a outros estímulos
semelhantes como um coelho, uma pele branca ou a barba do Pai Natal.
• Considerações evolutivas das fobias – predisposição biológica:
• As pressões evolutivas de seleção desenvolveram em nós
predisposições biológicas.
• Estas predisposições permitem-nos aprender rapidamente a temer certos
estímulos que eram perigosos para os nossos antepassados (por
exemplo, alturas, cobras, água, etc).
• Apoiado por estudos de condicionamento clássico humano usando
estímulos relevantes para o medo (e.g. Ohman, Erixon & Lofberg,
1975).
• Apoiado por estudos de medo condicionado de cobras em macacos
rhesus criados em laboratório (Cook & Mineka, 1990).

24
• Múltiplos caminhos para as fobias:
• Diferentes tipos de fobias podem ser adquiridas de formas bastante
diferentes.
• Os processos envolvidos podem incluir:
• Condicionamento clássico.
• A emoção de aversão/repulsa.
• Interpretação errada das sensações corporais e pânico.
• Fobia específica no DSM-V:
• Critérios de diagnóstico:
A. Medo ou ansiedade acentuados acerca de um objeto ou situação (p. ex.,
voar, alturas, animais, tomar uma injeção, ver sangue).
B. O objeto ou situação fóbica quase invariavelmente provoca uma
resposta imediata de medo ou ansiedade.
C. O objeto ou situação fóbica é ativamente evitado ou suportado com
intensa ansiedade ou sofrimento.
D. O medo ou ansiedade é desproporcional em relação ao perigo real
imposto pelo objeto ou situação específica e ao contexto sociocultural.
E. O medo, ansiedade ou esquiva é persistente, geralmente com duração
mínima de seis meses.
F. O medo, ansiedade ou esquiva causa sofrimento clinicamente
significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em
outras áreas importantes da vida do indivíduo.
G. A perturbação não é melhor explicada pelos sintomas de outra
perturbação mental, incluindo medo, ansiedade e esquiva de situações
associadas a sintomas do tipo pânico ou outros sintomas incapacitantes
(como na agorafobia); objetos ou situações relacionados a obsessões
(como na perturbação obsessivo-compulsivo); evocação de eventos
traumáticos (como na perturbação de estresse pós-traumático);
separação de casa ou de figuras de vinculação (como na perturbação de
ansiedade de separação); ou situações sociais (como na perturbação de
ansiedade social).
• Diagnóstico diferencial:
• Fobia social. Se as situações são temidas devido a possível avaliação
negativa, deve ser diagnosticada fobia social em vez de fobia específica.
• Perturbação de ansiedade de separação. Se as situações são temidas
devido à separação de um cuidador primário ou figura de vinculação,
deve ser diagnosticado perturbação de ansiedade de separação em vez
de fobia específica.
• Perturbação de pânico. Os indivíduos com fobia específica podem
experimentar ataques de pânico quando confrontados com a situação ou
objeto temido. Deve ser dado um diagnóstico de fobia específica se os
ataques de pânico ocorrem apenas em resposta ao objeto ou situação
específica, e um diagnóstico de perturbação de pânico se o indivíduo
também experimentou ataques de pânico inesperados (i.e., não em
resposta ao objeto ou situação da fobia específica).

25
• Perturbação obsessivo-compulsiva. Se o medo ou ansiedade primária de
um indivíduo é de um objeto ou situação como resultado de obsessões
(e.g., medo de sangue devido a pensamentos obsessivos acerca de
contaminação por agentes patogênicos transmitidos pelo sangue; medo
de dirigir devido a imagens obsessivas de causar ferimentos a outras
pessoas) e se outros critérios diagnósticos para perturbação obsessivo-
compulsiva são satisfeitos, então esta última perturbação deve ser
diagnosticada.
• Perturbações relacionadas a trauma e stressores. Se a fobia se
desenvolve após um evento traumático, deve ser considerado PTSD
como diagnóstico. Entretanto, eventos traumáticos podem preceder o
início de PTSD e a fobia específica. Nesse caso, um diagnóstico de
fobia específica é dado somente se não são satisfeitos todos os critérios
para PTSD.
• Perturbações alimentares. Um diagnóstico de fobia específica não é
dado se o comportamento de esquiva está limitado exclusivamente à
esquiva de alimentos e estímulos relacionados a alimentos, em cujo
caso um diagnóstico de anorexia nervosa ou bulimia deveria ser
considerado.
• Perturbações do espectro da esquizofrenia e outras perturbações
psicóticas. Quando o medo e a esquiva são devidos a pensamento
delirante (como na esquizofrenia ou outra perturbação do espectro da
esquizofrenia e outras perturbações psicóticas), um diagnóstico de fobia
específica não é justificado.
Fobia social:
• A fobia social distingue-se por um medo severo e persistente de situações sociais
ou de desempenho. Os indivíduos com fobia social tentam evitar qualquer tipo
de situação social em que acreditam poder comportar-se de uma forma
embaraçosa ou em que acreditam poder ser avaliados negativamente.
• Prevalência:
• Mais comuns em pessoas com outras perturbações da ansiedade.
• 7 e 13% em sociedades ocidentais.
• Padrões familiares; mais comum nas mulheres.
• Inicia-se, tipicamente, a meio da adolescência.
• Etiologia da fobia social:
• Fatores genéticos:
• Evidências de estudos de gémeos para uma componente genética
(Beatty et al., 2002).
• Submissividade, ansiedade, evitação social e inibição comportamental
têm componente genética.
• Fatores genéticos estimados em 13% da variação dos medos sociais
(Kendler et al., 2001).
• Fatores desenvolvimentais:
• Relacionado com estilo de comportamento inibido na infância (Neal et
al., 2002).

26
• Influência do estilo interativo pai-filho:
• Exercem maior controlo.
• São menos calorosos.
• São menos sociáveis.
• Envergonham a criança para a disciplinar.
• Fatores cognitivos:
• Viés de informação e interpretação.
• Interpretam o desempenho de forma significativamente mais crítica.
• Demonstram atenção auto-focalizada.
• Entregam-se ao processamento excessivo de eventos sociais após o
evento.
• Fobia social no DSM-V:
• Critérios de diagnóstico:
A. Medo ou ansiedade acentuados acerca de uma ou mais situações sociais
em que o indivíduo é exposto a possível avaliação por outras pessoas.
Exemplos incluem interações sociais (e.g., manter uma conversa,
encontrar pessoas que não são familiares), ser observado (e.g., comendo
ou bebendo) e situações de desempenho diante de outros (e.g., proferir
palestras).
B. O indivíduo teme agir de forma a demonstrar sintomas de ansiedade
que serão avaliados negativamente (i.e., será humilhante ou
constrangedor; provocará a rejeição ou ofenderá a outros).
C. As situações sociais quase sempre provocam medo ou ansiedade.
D. As situações sociais são evitadas ou suportadas com intenso medo ou
ansiedade.
E. O medo ou ansiedade é desproporcional à ameaça real apresentada pela
situação social e o contexto sociocultural.
F. O medo, ansiedade ou esquiva é persistente, geralmente durando mais
de seis meses.
G. O medo, ansiedade ou esquiva causa sofrimento clinicamente
significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em
outras áreas importantes da vida do indivíduo.
H. O medo, ansiedade ou esquiva não é consequência dos efeitos
fisiológicos de uma substância (e.g.., droga de abuso, medicamento) ou
de outra condição médica
I. O medo, ansiedade ou esquiva não é melhor explicado pelos sintomas
de outra perturbação mental, como perturbação de pânico, perturbação
dismórfica corporal ou perturbação do espectro autista.
J. Se outra condição médica (e.g., doença de Parkinson, obesidade,
desfiguração por queimaduras ou ferimentos) está presente, o medo,
ansiedade ou esquiva é claramente não relacionado ou é excessivo.
• Diagnóstico diferencial:
• Perturbação de pânico. Os indivíduos com fobia social podem ter
ataques de pânico, mas a preocupação está relacionada ao medo de
avaliação negativa, enquanto na perturbação de pânico a preocupação se
relaciona aos próprios ataques de pânico.

27
• Perturbação de ansiedade generalizada. Preocupações sociais são
comuns na perturbação de ansiedade generalizada, mas o foco é mais na
natureza das relações existentes do que no medo de avaliação negativa.
Os indivíduos com perturbação de ansiedade generalizada,
particularmente crianças, podem ter preocupações excessivas acerca da
qualidade do seu desempenho social, mas essas preocupações também
são pertinentes ao desempenho não social e a quando o indivíduo não
está a ser avaliado pelos outros. Na fobia social, as preocupações focam
no desempenho social e na avaliação dos demais.
• Perturbação de ansiedade de separação. Os indivíduos com perturbação
de ansiedade de separação podem evitar contextos sociais (incluindo
recusa à escola) devido às preocupações de serem separados das figuras
de vinculação ou, em crianças, por demandarem a presença de um dos
pais quando essa exigência não é apropriada ao seu estágio de
desenvolvimento. Geralmente ficam confortáveis em contextos sociais
quando sua figura de vinculação está presente ou quando estão em casa,
enquanto aqueles com fobia social podem ficar desconfortáveis quando
ocorrem situações sociais em casa ou na presença das figuras de
vinculação.
• Fobias específicas. Os indivíduos com fobias específicas podem ter
medo de constrangimento ou humilhação (e.g., vergonha de desmaiar
quando lhes é tirado sangue), mas geralmente não têm medo de
avaliação negativa em outras situações sociais.
• Perturbação depressiva major. Os indivíduos com perturbação
depressiva major podem preocupar-se em serem avaliados
negativamente pelos outros porque acham que são maus ou não
merecedores de que gostem deles. Em contraste, aqueles com fobia
social preocupam-se em serem avaliados negativamente devido a certos
comportamentos sociais ou sintomas físicos.
• Perturbação do espetro autista. Ansiedade social e défices na
comunicação social são características da perturbação do espetro
autista. Os indivíduos com fobia social geralmente têm relações sociais
adequadas à idade e capacidade de comunicação, embora possam
parecer ter prejuízo nessas áreas quando inicialmente interagem com
pessoas ou adultos estranhos.
• Perturbações de personalidade. Dado seu frequente início na infância e
sua persistência durante a idade adulta, a fobia social pode se parecer
com uma perturbação de personalidade. A sobreposição mais evidente é
com a perturbação da personalidade evitante. Os indivíduos com essa
perturbação têm um padrão mais amplo de esquiva do que aqueles com
fobia social. No entanto, a fobia social: é geralmente mais comórbida
com a perturbação de personalidade evitante do que com outras
perturbações de personalidade, e a perturbação de personalidade
evitante é mais comórbida com a fobia social do que com outras
perturbações de ansiedade.
• Outras perturbações mentais. Medos sociais e desconforto podem
ocorrer como parte da esquizofrenia, mas outras evidências de

28
perturbações psicóticas costumam estar presentes. Em indivíduos com
uma perturbação alimentar, é importante determinar se o medo de
avaliação negativa acerca dos sintomas ou comportamentos do
perturbação alimentar (e.g., purgação e vômitos) não é a única fonte de
ansiedade social antes de estabelecer um diagnóstico de fobia social.
Igualmente, a perturbação obsessivo-compulsiva pode estar associada a
ansiedade social, mas o diagnóstico adicional de fobia social é usado
apenas quando os medos sociais e a esquiva são independentes dos
focos das obsessões e compulsões.
Perturbação de pânico:
• Sintomas da perturbação de pânico:
• Ataques de pânico repetidos que se manifestam com:
• Palpitações cardíacas.
• Transpiração.
• Tonturas.
• Hiperventilação.
• Náusea.
• Tremores.
• Apreensão severa.
• Despersonalização.
• Prevalência:
• Prevalência vitalícia entre 1,5 a 3,5%.
• É comum na adolescência ou no início da vida adulta.
• Inúmeras vezes associada a um período de stress (Pollard, Pollard & Corn,
1989).
• Pode assumir diferentes formas noutras culturas (e.g. Ataque de Nervios em
latinos nas Caraíbas).
• 8 vezes mais comum se existirem familiares com diagnóstico.
• Elevada co-morbilidade com perturbações do humor.
• Sintomas antes dos 20 anos.
• Etiologia da perturbação de pânico:
• Teorias biológicas da perturbação de pânico:
• Hiperventilação:
• Forma rápida de respiração que resulta em ventilação que exerce a
procura metabólica e tem como resultado final o aumento do nível
de ph do sangue.
• Característica comum dos ataques de pânico.
• Hiperatividade noradrenérgica:
• Afeta profundamente o desempenho da atenção, especialmente a
manutenção do arousal.
• Teorias psicológicas da perturbação de pânico:
• Condicionamento clássico.
• Vulnerabilidade/sensibilidade à ansiedade:

29
• A sensibilidade à ansiedade é o medo de sintomas de ansiedade
com base em crenças de que tais sintomas têm consequências
prejudiciais.
• Por exemplo, que um batimento cardíaco rápido prediz um ataque
cardíaco.
• Os indivíduos com distúrbios de pânico pontuam
significativamente mais alto em medidas de sensibilidade à
ansiedade (Taylor & Cox, 1998).
• Interpretação catastrófica errada das sensações corporais:
• Os ataques de pânico são precipitados por indivíduos que
interpretam mal as sensações corporais, de forma catastrófica,
como ameaçadoras (Clark, 1986).
• Indivíduos com perturbação de pânico:
• Atendem às suas sensações corporais mais do que outros.
• Interpretam sinais ambíguos como ameaçadores.
• Têm ataques de pânico desencadeados apenas pela expectativa
de um ataque (Sanderson et al., 1989).
• Perturbação de pânico no DSM-V:
• Critérios de diagnóstico:
A. Ataques de pânico recorrentes e inesperados. Um ataque de pânico é um
surto abrupto de medo intenso ou desconforto intenso que alcança um
pico em minutos e durante o qual ocorrem quatro (ou mais) dos
seguintes sintomas:
1. Palpitações, coração acelerado, taquicardia.
2. Sudorese.
3. Tremores ou abalos.
4. Sensações de falta de ar ou sufocamento.
5. Sensações de asfixia.
6. Dor ou desconforto torácico.
7. Náusea ou desconforto abdominal.
8. Sensação de tontura, instabilidade, vertigem ou desmaio.
9. Calafrios ou ondas de calor.
10. Parestesias (anestesia ou sensações de formigamento).
11. Desrealização (sensações de irrealidade) ou despersonalização
(sensação de estar distanciado de si mesmo).
12. Medo de perder o controle ou “enlouquecer”.
13. Medo de morrer.
B. Pelo menos um dos ataques foi seguido de um mês (ou mais) de uma ou
de ambas as seguintes características:
1. Apreensão ou preocupação persistente acerca de ataques de pânico
adicionais ou sobre suas consequências (e.g., perder o controle, ter
um ataque cardíaco, “enlouquecer”).
2. Uma mudança desadaptativa significativa no comportamento
relacionada aos ataques (e.g., comportamentos que têm por
finalidade evitar ter ataques de pânico, como a esquiva de
exercícios ou situações desconhecidas).

30
C. A perturbação não é consequência dos efeitos psicológicos de uma
substância (p. ex., droga de abuso, medicamento) ou de outra condição
médica (p. ex., hipertireoidismo, doenças cardiopulmonares).
D. A perturbação não é melhor explicada por outra perturbação mental
(e.g., os ataques de pânico não ocorrem apenas em resposta a situações
sociais temidas, como na fobia social; em resposta a objetos ou
situações fóbicas circunscritas, como na fobia específica; em resposta a
obsessões, como na perturbação obsessivo-compulsiva; em resposta à
evocação de eventos traumáticos, como na perturbação de stress pós-
traumático; ou em resposta à separação de figuras de vinculação, como
na perturbação de ansiedade de separação).
• Diagnóstico diferencial:
• Outra perturbação de ansiedade especificada ou perturbação de
ansiedade não especificada. A perturbação de pânico não deve ser
diagnosticada se nunca foram experimentados ataques de pânico com
sintomas completos (inesperados). No caso de ataques de pânico
inesperados apenas com sintomas limitados, um diagnóstico de outra
perturbação de ansiedade especificada ou perturbação de ansiedade não
especificada deve ser considerada.
• Outras perturbações mentais com ataques de pânico como característica
associada (p. ex., outras perturbações de ansiedade e perturbações
psicóticas). Os ataques de pânico que ocorrem como sintoma de outras
perturbações de ansiedade são esperados (e.g., desencadeados por
situações sociais na perturbação de ansiedade social, por objetos ou
situações fóbicas na fobia específica ou agorafobia, por preocupação na
perturbação de ansiedade generalizada, por separação de casa e de
figuras de vinculação na perturbação de ansiedade de separação) e,
assim, não satisfariam os critérios para perturbação de pânico. Se os
ataques de pânico ocorrem apenas em resposta a triggers específicos,
então apenas a perturbação de ansiedade relevante é diagnosticada. No
entanto, se o indivíduo também experimenta ataques de pânico
inesperados e apresenta apreensão e preocupação persistentes ou
mudança comportamental devido aos ataques, então um diagnóstico
adicional de perturbação de pânico deve ser considerado.
Perturbação de ansiedade generalizada(GAD):
• Sintomas:
• Caracterizado por sintomas físicos de ansiedade.
• A preocupação patológica é uma característica de diagnóstico cardinal.
• Preocupação é percebida como incontrolável pelo doente.
• A preocupação está intimamente associada à catastrophizing.
• Prevalência:
• Prevalência vitalícia é de 5%.
• 3 a 5% desde infância e/ ou adolescência.
• Relacionada com perturbação depressão major.
• Tão comum nos homens como nas mulheres (Barlow et al., 1986).

31
• Etiologia da GAD:
• Teorias biológicas:
• Provas de que tanto a ansiedade em geral como a GAD têm uma
componente herdada (Noyes et al., 1992).
• Há também uma componente familiar na GAD (Hettema et al., 2001).
• Enviesamentos de processamento de informação:
• Indivíduos com GAD atribuem preferencialmente atenção a estímulos
ameaçadores.
• A atribuição preferencial ocorre tanto a estímulos verbais como visuais.
• Este enviesamento atencional ocorre tanto a nível consciente como
inconsciente (Mogg et al., 1993).
• Este enviesamento atencional pode realmente causar ansiedade (e.g.
Wilson et al., 2006).
• Cognições, crenças e a função da preocupação:
• Os indivíduos com GAD têm crenças fortes que a preocupação é uma
coisa necessária a fazer (Davey et al., 1996).
• Estas crenças motivam os indivíduos a persistir com a sua preocupação.
• A preocupação pode ser reforçada porque impede que o indivíduo
experimente outras emoções negativas (Borkovec, 1994).
• Características predisposicionais da preocupação:
• Os indivíduos com GAD exibem as seguintes características que podem
manter a sua preocupação:
• Intolerância à incerteza (Ladouceur et al., 1997).
• Elevado perfecionismo (Pratt et al., 1997).
• Sentimentos de responsabilidade por resultados negativos (Startup
& Davey, 2003).
• Pouca confiança na resolução de problemas (Davey, 1994).
• Perturbação de ansiedade generalizada no DSM-V:
• Critérios de diagnóstico:
A. Ansiedade e preocupação excessivas (expectativa apreensiva),
ocorrendo na maioria dos dias por pelo menos seis meses, com diversos
eventos ou atividades (tais como desempenho escolar ou profissional).
B. O indivíduo considera difícil controlar a preocupação.
C. A ansiedade e a preocupação estão associadas com três (ou mais) dos
seguintes seis sintomas (com pelo menos alguns deles presentes na
maioria dos dias nos últimos seis meses). (Nota: Apenas um item é
exigido para crianças)
1. Inquietação ou sensação de estar com os nervos à flor da pele.
2. Fatigabilidade.
3. Dificuldade em concentrar-se ou sensações de “branco” na mente.
4. Irritabilidade.
5. Tensão muscular.
6. Perturbação do sono (dificuldade em conciliar ou manter o sono, ou
sono insatisfatório e inquieto).

32
D. A ansiedade, a preocupação ou os sintomas físicos causam sofrimento
clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social,
profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo.
E. A perturbação não se deve aos efeitos fisiológicos de uma substância
(e.g., droga de abuso, medicamento) ou a outra condição médica (e.g.,
hipertireoidismo).
F. A perturbação não é melhor explicada por outra perturbação mental
(e.g., ansiedade ou preocupação quanto a ter ataques de pânico na
perturbação de pânico, avaliação negativa na fobia social, contaminação
ou outras obsessões na perturbação obsessivo-compulsiva, separação
das figuras de vinculação na perturbação de ansiedade de separação,
lembranças de eventos traumáticos na perturbação de stress pós-
traumático, ganho de peso na anorexia nervosa, queixas físicas na
perturbação de sintomas somáticos, perceção de problemas na aparência
na perturbação dismórfica corporal, ter uma doença séria na perturbação
de ansiedade de doença ou o conteúdo de crenças delirantes na
esquizofrenia ou perturbação delirante).
• Diagnóstico diferencial:
• Fobia social. Os indivíduos com fobia social frequentemente têm
ansiedade antecipatória que está focada nas próximas situações sociais
em que devem apresentar um desempenho ou ser avaliados por outros,
enquanto aqueles com perturbação de ansiedade generalizada se
preocupam independentemente de estarem ou não a ser avaliados.
• Perturbação obsessivo-compulsiva. Diversas características distinguem
a preocupação excessiva da perturbação de ansiedade generalizada dos
pensamentos obsessivos da perturbação obsessivo-compulsiva. Na
perturbação de ansiedade generalizada, o foco da preocupação são os
problemas que estão por vir, e a anormalidade é o excesso de
preocupação acerca dos eventos futuros. Na perturbação obsessivo-
compulsiva, as obsessões são ideias inadequadas que assumem a forma
de pensamentos, impulsos ou imagens intrusivos e indesejados.
• Perturbação de stress pós-traumático. A ansiedade está invariavelmente
presente na perturbação de stress pós-traumático. A perturbação de
ansiedade generalizada não é diagnosticada se a ansiedade e a
preocupação são melhor explicadas por sintomas de PTSD.
• Perturbações depressiva, bipolar e psicótica. A ansiedade
generalizada/medo é uma característica em geral associada das
perturbações depressiva, bipolar e psicótica e não deve ser
diagnosticada separadamente se a preocupação excessiva ocorreu
exclusivamente durante o curso dessas condições.
Perturbação obsessivo-compulsiva (OCD):
• Sintomas:
• Obsessões: pensamentos intrusivos e recorrentes que o indivíduo considera
angustiantes (e.g., causar dano a alguém que se ama).
• Compulsões: padrões de comportamentos repetidos ou ritualizados que o
indivíduo se sente impelida a executar.
33
• Prevalência:
• Prevalência vitalícia é de 2.5%.
• Início na adolescência (mais cedo, mais grave), normalmente após um
evento ou período de vida stressante.
• Clara relação em estudos de gémeos e estudos neurológicos.
• O início é, geralmente, gradual.
• As mulheres são mais frequentemente afetadas que os homens.
• As obsessões são definidas por:
• Pensamentos recorrentes e persistentes, impulsos, ou imagens que são
experienciados, em algum momento durante a perturbação, como intrusivos
e inapropriados e que causam ansiedade ou angústia acentuada.
• Os pensamentos, impulsos ou imagens não são simplesmente preocupações
excessivas com problemas da vida real.
• A pessoa tenta ignorar ou suprimir tais pensamentos, impulsos ou imagens,
ou neutralizá-los com algum outro pensamento ou ação.
• A pessoa reconhece que os pensamentos obsessivos, impulsos ou imagens
são um produto da sua própria mente (e não “impostos” por fontes externas
como na inserção de pensamento).
• As compulsões são definidas por:
• Comportamentos repetitivos (por exemplo, lavagem das mãos, ordenação,
verificação) ou atos mentais (por exemplo, rezar, contar, repetir palavras
silenciosamente) que a pessoa se sinta impelida a executar em resposta a
uma obsessão, ou de acordo com regras que devem ser aplicadas
rigidamente.
• Os comportamentos ou atos mentais visam prevenir ou reduzir a angústia ou
prevenir algum evento ou situação temida; contudo, estes comportamentos
ou atos mentais ou não estão ligados de uma forma realista com o que visam
neutralizar ou prevenir ou são claramente excessivos.
• Tipos mais comuns de compulsões:
• Verificação compulsiva (por exemplo, de portas e janelas).
• Lavagem compulsiva (para evitar contaminação e infeção).
• Movimentos ritualizados ou pensamentos supersticiosos (por exemplo,
contar regressivamente até um pensamento desaparecer).
• Disposição sistemática de objetos.
• Armazenamento compulsivo.
• Etiologia da perturbação obsessivo-compulsiva:
• Fatores biológicos.
• Fatores psicológicos:
• Défices de memória.
• Responsabilidade inflacionada.
• Supressão do pensamento.
• Preservação e o papel do humor.
• Perturbação obsessivo-compulsiva no DSM-V:
• Critérios de diagnóstico:
A. Presença de obsessões, compulsões ou ambas:

34
Obsessões são definidas por (1) e (2):
1. Pensamentos, impulsos ou imagens recorrentes e persistentes que,
em algum momento durante a perturbação, são experimentados
como intrusivos e indesejados e que, na maioria dos indivíduos,
causam acentuada ansiedade ou sofrimento.
2. O indivíduo tenta ignorar ou suprimir tais pensamentos, impulsos
ou imagens ou neutralizá-los com algum outro pensamento ou
ação.
As compulsões são definidas por (1) e (2):
1. Comportamentos repetitivos (e.g., lavar as mãos, organizar,
verificar) ou atos mentais (e.g., orar, contar ou repetir palavras em
silêncio) que o indivíduo se sente compelido a executar em resposta
a uma obsessão ou de acordo com regras que devem ser
rigidamente aplicadas.
2. Os comportamentos ou os atos mentais visam prevenir ou reduzir a
ansiedade ou o sofrimento ou evitar algum evento ou situação
temida; entretanto, esses comportamentos ou atos mentais não têm
uma conexão realista com o que visam neutralizar ou evitar ou são
claramente excessivos.
B. As obsessões ou compulsões tomam tempo (p. ex., tomam mais de uma
hora por dia) ou causam sofrimento clinicamente significativo ou
prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas
importantes da vida do indivíduo.
C. Os sintomas obsessivo-compulsivos não se devem aos efeitos
fisiológicos de uma substância (p. ex., droga de abuso, medicamento)
ou a outra condição médica.
D. A perturbação não é melhortran explicada pelos sintomas de outra
perturbação mental (e.g., preocupações excessivas, como na
perturbação de ansiedade generalizada; impulsos, como nas
perturbações disruptivas, do controle de impulsos e do comportamento;
ruminações de culpa, como na perturbação depressiva major; inserção
de pensamento ou preocupações delirantes, como nas perturbações do
espectro da esquizofrenia e outras perturbações psicóticas).
• Diagnóstico diferencial:
• Perturbações de ansiedade. Pensamentos recorrentes, comportamentos
de esquiva e solicitações repetitivas de tranquilização também podem
ocorrer nas perturbações de ansiedade. Entretanto, os pensamentos
recorrentes que estão presentes na perturbação de ansiedade
generalizada (i.e., preocupações) são geralmente relacionados a
preocupações da vida real, enquanto as obsessões da perturbação
obsessivo-compulsiva não costumam envolver preocupações da vida
real e podem incluir conteúdo estranho, irracional ou de natureza
aparentemente mágica; além disso, as compulsões frequentemente estão
presentes e em geral são ligadas às obsessões. Assim como os
indivíduos com perturbação obsessivo-compulsiva, aqueles com fobia
específica podem ter uma reação de medo a objetos ou situações

35
específicas; no entanto, na fobia específica, o objeto temido está
geralmente muito mais circunscrito, e os rituais não estão presentes. Na
fobia social, os objetos ou situações temidas estão limitados às
interações sociais, e a esquiva ou busca de tranquilização é focada na
redução desse medo social.
• Perturbação depressiva major. A perturbação obsessivo-compulsiva
pode ser diferenciada da ruminação da perturbação depressiva major, no
qual os pensamentos são geralmente congruentes com o humor e não
necessariamente experimentados como intrusivos ou angustiantes; além
disso, as ruminações não estão ligadas a compulsões, como é típico na
perturbação obsessivo-compulsiva.
• Perturbações alimentares. A perturbação obsessivo-compulsiva pode ser
diferenciada da anorexia nervosa na medida em que na perturbação
obsessivo-compulsiva as obsessões e compulsões não estão limitadas a
preocupações acerca do peso e dos alimentos.
• Perturbações psicóticas. Alguns indivíduos com perturbação obsessivo-
compulsiva têm insight pobre ou mesmo crenças delirantes. Contudo,
eles têm obsessões e compulsões (distinguindo a sua condição da
perturbação delirante) e não têm outras características de esquizofrenia
ou perturbação esquizoafetiva (e.g., alucinações ou perturbação do
pensamento formal).
• Perturbação de personalidade obsessivo-compulsiva. Embora a
perturbação da personalidade obsessivo-compulsiva e a perturbação
obsessivo-compulsiva tenham nomes semelhantes, as suas
manifestações clínicas são bem diferentes. A perturbação de
personalidade obsessivo-compulsiva não é caracterizado por
pensamentos intrusivos, imagens ou impulsos ou por comportamentos
repetitivos que são executados em resposta a essas intrusões; em vez
disso, ela envolve um padrão mal-adaptativo duradouro, é disseminado
de perfeccionismo excessivo e controle rígido. Se um indivíduo
manifesta sintomas de perturbação obsessivo-compulsiva e perturbação
de personalidade obsessivo-compulsiva, ambos os diagnósticos podem
ser dados.
Perturbação de stress pós-traumático (PTSD):
• A PTSD não é necessariamente uma psicopatologia crónica → quanto mais
tempo os indivíduos guardam estas experiências e não as partilham, maior a
probabilidade de se tornar crónica.
• Sintomas:
• Aumento da ativação/arousal (incluindo sobressaltos exagerados, hiper-
vigilância e dificuldades em dormir).
• Evitação e dormência de emoções.
• Re-experiência (flashbacks vívidos de eventos e pesadelos recorrentes).
• Critérios de diagnóstico da PTSD:
• A pessoa foi exposta a um acontecimento traumático.
• O evento traumático é persistentemente revivido.

36
• Evitação persistente dos estímulos associados ao trauma e ao
adormecimento da capacidade de resposta geral.
• Sintomas persistentes de aumento de arousal.
• A duração da perturbação é superior a 1 mês.
• A perturbação causa angústia ou deficiência clinicamente significativa.
• Eventos traumáticos que podem precipitar PSTD:
• Violação (90% desenvolve sintomas de PSTD).
• Tortura (70-90%).
• Prisioneiros da guerra (>50%).
• Terramotos e inundações (20-25%).
• Acidentes com veículos motorizados (15%).
• Prevalência:
• Diagnóstico recente (apenas após grandes guerras).
• 8% da população dos EUA (questões culturais).
• Prevalência vitalícia é de 1-3%.
• Pelo menos 50% das pessoas irão sofrer pelo menos um trauma qualificado
de PTSD durante a sua vida - mas nem todas irão desenvolver PTSD.
• Após o trauma, as mulheres são mais propensas a desenvolver PTSD do que
os homens (proporção de 2.4:1).
• Etiologia da PTSD:
• Fatores de vulnerabilidade:
• O que torna as pessoas vulneráveis ao desenvolvimento da PTSD?
• Tendência para assumir a responsabilidade pessoal pelo trauma.
• Fatores de desenvolvimento como a vida familiar instável.
• Histórico familiar de PSTD.
• Existência de níveis elevados de ansiedade ou uma psicopatologia
pré-existente.
• Theory of shattered assumptions:
• Argumenta que os traumas irão quebrar a crença da pessoa no mundo
como um lugar seguro.
• O indivíduo é deixado em estado de choque e conflito.
• Contudo, paradoxalmente, são aqueles que já veem o mundo como um
lugar inseguro que têm maior probabilidade de desenvolver PTSD
(Resick, 2001).
• Tendemos a organizar as crenças com base num mundo justo (quando
as pessoas são boas, coisas boas acontecem; quando são más, sofrem as
consequências disso).
• Quando tal não acontece, mexe com o psicológico de alguns indivíduos,
levando a uma crise existencial de significado.

Nota:
Por vezes, após passar por experiências traumáticas, as pessoas tendem a
organizar e transformar essa experiência em algo do qual possam tirar um
lado positivo para não entrarem numa crise existencial de significado.

37
• Teoria do condicionamento:
• O trauma (UCS) torna-se associado a sinais situacionais associados ao
local e tempo do trauma (CS) (Keane et al., 1985).
• PTSD é, portanto, uma reacção de medo condicionado a sinais
associados ao trauma.
• Contudo, não explica porque é que algumas pessoas que sofrem de
trauma não desenvolvem PTSD.
• Teoria do processamento de emoções:
• O trauma cria uma representação do trauma na memória que está
associada a sinais situacionais (Foa et al., 1989).
• Explica como as memórias de medo são estabelecidas e ativadas em
redes de medo no cérebro.
• Tem dado origem a tratamentos de exposição influentes para o PTSD.
• Pessoas expostas a um evento traumático no qual, eles ou outras pessoas, foram
ameaçadas de morte ou ferimentos graves, conduzindo a medo, sensação de
desespero ou terror:
• Reexperiência do trauma em flashbacks, pesadelos, lembranças intrusivas,
mal-estar com exposição à situação e/ou hiper-reactividade → a
reexperiência pode ocorrer em sonhos, flashbacks, tudo de forma intrusiva.
• Evitamento cognitivo e/ou comportamental, ausência de memória, restrição
de interesse, de afetos, do futuro e/ou desligamento dos outros → a evitação
reflete-se em evitar ir a determinados lugares, ver determinados
filmes/documentários/etc que possam lembrar a experiência traumática.
• Ativação, dificuldade em adormecer, acessos de cólera, dificuldade de
concentração, hiper-vigilância e/ou resposta de alarme exagerada → a
ativação traduz-se em fácil irritação e raiva explosiva, e implica pessoas que
se assustam facilmente, que estão sempre altamente vigilantes.
Nota:
Pode ocorrer recalcamento e as pessoas não terem memórias do evento
traumático.
• Experiências traumáticas (gravidade do trauma, intensidade, duração,
amplitude):
• Abuso de crianças.
• Violência familiar.
• Acidentes de viação.
• Catástrofes naturais.
• Guerra (combate, genocídio, campos de refugiados, etc).
• Vítimas de crimes violentos (violação, assalto, rapto, etc).

Nota:
A razão mais frequente de desenvolvimento de PSTD é a violência
sexual, sendo que as mulheres aparecem em maior número nesta
psicopatologia.

38
• Fatores de vulnerabilidade/risco:
• Individuais:
• Introversão.
• Temperamento ansioso.
• Experiências negativas de desenvolvimento infantil.
• Familiares:
• Baixa coesão.
• Do contexto social:
• Baixo suporte.
• Vitimização secundária.
• Fatores protetores:
• Individuais:
• Extroversão.
• Estilo adaptativo.
• Coping ativo.
• Locus de controlo interno.
• Familiares:
• Alta coesão.
• Do contexto social:
• Apoio social percebido.

Nota:
O suporte social é um dos fatores mais importantes de prevenção do
stress pós-traumático após um indivíduo passar por um evento
traumático.

• Emoções na PTSD:
• Ansiedade e terror.
• Raiva.
• Culpa / vergonha.
• Tristeza / perda.
• Perda de sentido, desconexão, apatia.
• Medo (Ohman & Ruck, 2007):
• Medo mobiliza o corpo.
• O medo pode ser aprendido (e desaprendido/extinto).
• Um estímulo que induz medo pode fazê-lo consciente ou
inconscientemente.
• Os estímulos que induzem medo guiam a atenção.
• Em PSTD, a intensidade da situação e o medo iminente da morte torna
a resposta ao medo muito difícil de extinguir (pelo valor de
sobrevivência).
• Perturbação de stress pós-traumático (PTSD) no DSM-V:
• Critérios de diagnóstico:
A. Exposição a episódio concreto ou ameaça de morte, lesão grave ou
violência sexual em uma (ou mais) das seguintes formas:
1. Vivenciar diretamente o evento traumático.

39
2. Testemunhar pessoalmente o evento traumático ocorrido com
outras pessoas.
3. Saber que o evento traumático ocorreu com familiar ou amigo
próximo. Nos casos de episódio concreto ou ameaça de morte
envolvendo um familiar ou amigo, é preciso que o evento tenha
sido violento ou acidental.
4. Ser exposto de forma repetida ou extrema a detalhes aversivos do
evento traumático (e.g., socorristas que recolhem restos de corpos
humanos; policiais repetidamente expostos a detalhes de abuso
infantil).
B. Presença de um (ou mais) dos seguintes sintomas intrusivos associados
ao evento traumático, começando depois de sua ocorrência:
1. Lembranças intrusivas angustiantes, recorrentes e involuntárias do
evento traumático.
2. Sonhos angustiantes recorrentes nos quais o conteúdo e/ou o
sentimento do sonho estão relacionados ao evento traumático.
3. Reações dissociativas (e.g., flashbacks) nas quais o indivíduo sente
ou age como se o evento traumático estivesse ocorrendo
novamente. (Essas reações podem ocorrer em um continuum, com
a expressão mais extrema na forma de uma perda completa de
perceção do ambiente ao redor).
4. Sofrimento psicológico intenso ou prolongado ante a exposição a
sinais internos ou externos que simbolizem ou se assemelhem a
algum aspeto do evento traumático.
5. Reações fisiológicas intensas a sinais internos ou externos que
simbolizem ou se assemelhem a algum aspeto do evento
traumático.
C. Evitação persistente de estímulos associados ao evento traumático,
começando após a ocorrência do evento, conforme evidenciado por um
ou ambos dos seguintes aspetos:
1. Evitação ou esforços para evitar recordações, pensamentos ou
sentimentos angustiantes acerca de ou associados de perto ao
evento traumático.
2. Evitação ou esforços para evitar lembranças externas (pessoas,
lugares, conversas, atividades, objetos, situações) que despertem
recordações, pensamentos ou sentimentos angustiantes acerca de ou
associados de perto ao evento traumático.
D. Alterações negativas em cognições e no humor associadas ao evento
traumático começando ou piorando depois da ocorrência de tal evento,
conforme evidenciado por dois (ou mais) dos seguintes aspetos:
1. Incapacidade de recordar algum aspeto importante do evento
traumático (geralmente devido a amnésia dissociativa, e não a
outros fatores, como traumatismo craniano, álcool ou drogas).
2. Crenças ou expectativas negativas persistentes e exageradas a
respeito de si mesmo, dos outros e do mundo (e.g., “Sou mau”,
“Não se deve confiar em ninguém”, “O mundo é perigoso”, “Todo
o meu sistema nervoso está arruinado para sempre”).

40
3. Cognições distorcidas persistentes a respeito da causa ou das
consequências do evento traumático que levam o indivíduo a culpar
a si mesmo ou os outros.
4. Estado emocional negativo persistente (e.g., medo, pavor, raiva,
culpa ou vergonha).
5. Interesse ou participação bastante diminuída em atividades
significativas.
6. Sentimentos de distanciamento e alienação em relação aos outros.
7. Incapacidade persistente de sentir emoções positivas (e.g.,
incapacidade de vivenciar sentimentos de felicidade, satisfação ou
amor).
E. Alterações marcantes na excitação e na reatividade associadas ao
evento traumático, começando ou piorando após o evento, conforme
evidenciado por dois (ou mais) dos seguintes aspetos:
1. Comportamento irritadiço e surtos de raiva (com pouca ou
nenhuma provocação) geralmente expressos sob a forma de
agressão verbal ou física em relação a pessoas e objetos.
2. Comportamento imprudente ou autodestrutivo.
3. Hipervigilância.
4. Resposta de sobressalto exagerada.
5. Problemas de concentração.
6. Perturbação do sono (p. ex., dificuldade para iniciar ou manter o
sono, ou sono agitado).
F. A perturbação (Critérios B, C, D e E) dura mais de um mês.
G. A perturbação causa sofrimento clinicamente significativo e prejuízo
social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do
indivíduo.
H. A perturbação não se deve aos efeitos fisiológicos de uma substância
(e.g., medicamento, álcool) ou a outra condição médica.
• Diagnóstico diferencial:
• Perturbações de ansiedade e perturbação obsessivo-compulsiva. Na
perturbação obsessivo-compulsiva, existem pensamentos intrusivos
recorrentes, mas estes satisfazem os critérios de uma obsessão. Além
disso, os pensamentos intrusivos não estão relacionados a um evento
traumático vivenciado; compulsões costumam estar presentes; e outros
sintomas de PTSD estão em geral ausentes. Nem os sintomas de
excitação e dissociativos da perturbação de pânico, nem a evitação, a
irritabilidade e a ansiedade da perturbação de ansiedade generalizada
estão associados a um evento traumático específico. Os sintomas da
perturbação de ansiedade de separação estão claramente relacionados à
separação do lar ou da família, em vez de a um evento traumático.
• Perturbação depressiva major. A depressão major pode ou não ser
precedida por um evento traumático e deverá ser diagnosticada se
outros sintomas de PTSD estiverem ausentes. Mais especificamente, a
perturbação depressiva major não inclui nenhum sintoma dos Critérios
B ou C da PTSD nem uma série de sintomas dos Critérios D ou E dessa
perturbação.

41
• Perturbações de personalidade. Dificuldades interpessoais que tiveram
o seu início ou ficaram extremamente exacerbadas depois da exposição
a um evento traumático podem ser um indicativo de PTSD em vez de
uma perturbação de personalidade, no qual essas dificuldades seriam
esperadas independentemente de qualquer exposição traumática.
• Perturbações psicóticas. É preciso que os flashbacks do PTSD sejam
distinguidos de delírios, alucinações e outras perturbações da perceção
que podem ocorrer na esquizofrenia e em outras perturbações
psicóticas;
Resumo:
• Comum a todas as perturbações de ansiedade é a experiência de ansiedade em
relação a determinado estímulo ou situação que o indivíduo considera
angustiante.
• São muito distintos os sintomas de ansiedade, do mesmo modo são muito
diferentes os modelos teóricos sobre a sua etiologia.
• O processamento da informação e os enviesamentos interpretativos são comuns
a muitas perturbações de ansiedade e podem fornecer a base para uma teoria
unificadora das perturbações de ansiedade.
----------------------------------------------------//----------------------------------------------------
Termos neurose e psicose:
• A classificação da psicopatologia entre neuroses e psicoses deixou de ser
utilizada e já não vigora nos sistemas atuais de classificação.
• Para Karl Jaspers, um dos fundadores da fenomenologia:
• Neurose implicava um desenvolvimento patológico marcado essencialmente
pela alteração da intensidade e evolução das vivências do indivíduo.
• Psicose implicava um processo patológico marcado essencialmente pela
alteração da compreensibilidade e da própria qualidade das vivências do
indivíduo, podendo ou não haver consciência subjetiva do carácter
patológico das mesmas.
• Neuroses:
• Perturbações de humor; perturbações de ansiedade; somatização.
• Relacionadas com o impacto na qualidade de vida do indivíduo provocadas
por psicopatologias, mas que não levam a que este perca o contacto com o
seu quotidiano.
• Psicoses:
• Doença mental grave.
• Perda de contacto com a realidade.
• Desorganização mental.

42
• Historicamente, a psicose era mais abordada pela psiquiatria do que pela
psicologia.

1 3 2

1→ neurose; 2→ psicose; 3→ borderline.


Neurótico:
• Patologia essencialmente baseada em diferenças quantitativas verificadas em
fenómenos que, na sua qualidade, também ocorrem no quotidiano normativo;
generalizações da vivência de ansiedade, depressão e angústia patológica ao
comportamento, aos movimentos adaptativos e às relações interpessoais.
• Características:
• O Ego mantém-se intacto enquanto instância gestora da psique e no seu
papel de diferenciação entre o Eu e o Não-Eu, entre o mundo interno do
indivíduo e o meio que o rodeia.
• Mantém-se a noção e/ou contacto psíquico com a realidade consensual
externa.
• Existe insight sobre o carácter patológico das vivências.
Psicótico:
• Características:
• Existe uma alteração qualitativa da estrutura psíquica e uma perda ou
diluição das fronteiras entre o Eu e a realidade externa.
• Existem sérias dificuldades em cumprir as exigências básicas da vida
quotidiana e do modo funcionamento do indivíduo.
• Alterações profundas do conteúdo do pensamento e do estado de humor.
• Há um afastamento do sistema lógico de consenso que vigora no meio em
que o indivíduo está inserido e uma alteração qualitativa na atribuição de
significado aos elementos da realidade e do meio envolvente.
• Os fenómenos observáveis denotam uma desorganização a nível do
comportamento, da cognição e dos afetos.
• A evolução destes fenómenos no tempo é relativamente independente das
circunstâncias da realidade externa ou não justificável pela natureza dos
fatores precipitantes.
Perturbações psicóticas:
• Psicótico é o fenómeno patológico onde existe uma ou mais das seguintes
características:
• Presença de delírios ou alucinações persistentes, sem insight sobre o
carácter patológico das vivências.

43
• Comportamento desorganizado ou alterado ao ponto de não ser possível a
satisfação das necessidades básicas do indivíduo.
• Discurso desorganizado e/ou incoerente.
• Perturbações psicóticas:
• Esquizofrenia.
• Perturbação esquizofreniforme.
• Perturbação esquizoafectiva.
• Perturbação delirante.
• Perturbação psicótica breve.
• Perturbação psicótica partilhada (Folie à Deux).
• Perturbação psicótica induzida por substâncias.
• Delírios:
• Crença fixa, rígida e não facilmente rebatível que não é ancorada na
realidade.
• E.g., acreditar que os extraterrestres nos vêm buscar ou ocupar a Terra.
• Alucinações:
• Experiência percetiva vivenciada pelo próprio indivíduo que não é
percecionada pelas outras pessoas e não está em contacto com a realidade.
• Podem ser olfativas, gustativas, propriocetivas (relacionadas com o tato, ou
seja, quando termos sensações corporais que não estão em contacto com a
realidade; i.e., sentir bichos a subir pelo nosso corpo quando não estão
realmente), visuais e/ou auditivas.
• As mais comuns são as auditivas e visuais.
• As mais preocupantes são as auditivas (principalmente as vozes de comando
que dizem às pessoas o que fazer e que, caso a pessoa não tenha sentido
crítico, levam a pessoa a fazê-lo).
• Há alucinações que podem envolver mais do que uma componente, ou seja,
que são mistas (e.g., auditivas e visuais).
Esquizofrenia:
• Emil Kraeplin primeiro cunhou o termo demência praecox para nomear esta
psicopatologia.
• Eugen Bleuler utilizou o termo esquizofrenia.
• O termo esquizofrenia refere-se à “divisão de diferentes funções psicológicas
dentro de uma única personalidade”.
• Existe uma ou mais das seguintes características:
• Sintomas positivos:
• Presença de delírios (delírios são crenças fixas que não são passíveis de
mudar à luz de evidência oposta, por exemplo de carácter persecutório,
de referência, de grandiosidade, místico/religioso; podem ser
classificados em bizarros e não-bizarros).
• Alucinações persistentes (alucinações são experiências percetivas que
ocorrem na ausência de um estímulo externo; podem ser auditivas, ou
visuais, ou propriocetivas, sendo as auditivas as mais comuns na
esquizofrenia e podendo ter conteúdo de comando).

44
• Comportamento desorganizado ou alterado ao ponto de não ser possível
a satisfação das necessidades básicas do indivíduo ou catatónico.
• Discurso desorganizado e/ou incoerente.
• Os sintomas positivos são sintomas ou sinais que estão presentes nas
experiências das pessoas que sofrem psicopatologia e não estão
presentes nas experiências de outras pessoas (“coisas a mais”).
• Sintomas negativos:
• Ausência de competências sociais.
• Embotamento emocional (apatia)
• Dificuldades da experiência e expressão de emoções.
• Os sintomas negativos são competências, sentimentos, etc, que estão
ausentes nas experiências das pessoas que sofrem psicopatologia e estão
presentes nas experiências de outras pessoas (“coisas a menos”).

Nota:
A psiquiatria tem desenvolvido fármacos que reduzem sintomas
positivos. Os sintomas negativos apenas são alterados por psicoterapia.

• Prevalência:
• Prevalência é 0.3 a 1% // 0.5 a 2%;
• A esquizofrenia afeta cerca de 24 milhões de pessoas em todo o mundo
(Jablensky et al., 1992)
• Início e desenvolvimento – final adolescência e início da vida adulta, com
prognóstico reservado (doença crónica).
• Suicídio 5-6% e tentativas 20% → entre 5 a 15% dos indivíduos com
esquizofrenia cometem suicídio com sucesso (Abed et al., 2000).
• Os indivíduos diagnosticados com esquizofrenia têm uma duração de vida
significativamente mais curta (Jeste et al., 1996)
• Diferenças entre homens e mulheres, contudo taxas de diagnóstico
semelhantes em homens e mulheres;
• Fatores genéticos;
• Fatores culturais;
• Fatores familiares (Comunicação Double-bind e Comunicação negativa
expressa);
• Importantes consequências funcionais da esquizofrenia: serviço social.
• Tipicamente, os primeiros episódios ocorrem na adolescência ou no inicio
da idade adulta.
• A existência de vulnerabilidade, biológica e psicológica, e de fatores de
stress que podem “despertar” a psicopatologia.
• Curso dos Sintomas Psicóticos:
• Prodromal Stage:
• Os primeiros sintomas ocorrem geralmente no final da adolescência ou
no início da vida adulta.
• 51% dos indivíduos com esquizofrenia têm entre 15 e 25 anos de idade
no início.

45
• Geralmente, no início, há uma lenta deterioração ao longo de cerca de 5
anos (Hafner et al., 2003).
• Os primeiros sinais são:
• Afastamento da vida normal e da interação social.
• Emoções inapropriadas.
• Deterioração nos cuidados pessoais e no trabalho ou no
desempenho escolar.
• Normalmente associado a uma experiência de vida stressante ou a um
período de stress (Brown & Birley, 1968).
• Active Stage:
• Fase em que um indivíduo começa a mostrar sintomas inequívocos de
psicose, incluindo delírios, alucinações, discurso e comunicação
desordenados/perturbados e um conjunto completo de sintomas.
• Residual Stage:
• A recuperação da psicose é gradual, mas muitas doentes ainda retêm a
sintomatologia residual.
• Os indivíduos deixam de apresentar sintomas positivos (tais como
alucinações e discurso desordenado).
• Esta fase pode estar associada a sintomas negativos (tais como blunted
affect e afastamento da interação social).
• Cerca de 50% dos indivíduos diagnosticas com esquizofrenia irão
alternar entre o Active Stage e o Residual Stage (Wiersma et al., 1998).
• Etiologia dos sintomas psicóticos:
• A abordagem dominante é o modelo Diathesis-Stress.
• A maioria das teorias da esquizofrenia têm geralmente tentado explicar
apenas aspetos específicos da sintomatologia (tais como a aquisição do
pensamento paranóico).
• Teorias biológicas:
• Fatores genéticos:
• Indivíduo com um parente de primeiro grau com esquizofrenia tem
10 vezes mais probabilidades de desenvolver sintomas (Schneider
& Deldin, 2001).
• Maior concordância no diagnóstico da esquizofrenia em gémeos
monozigóticos do que dizigóticos.
• Estudos com gémeos sugerem que os sintomas psicóticos são
herdados mesmo quando o progenitor não apresenta sintomas
(Gottesman & Bertelsen, 1989).
• Estudos de adopção mostram que as crianças adoptadas apresentam
sintomas psicóticos semelhantes aos da sua mãe biológica e não à
sua mãe adoptiva (Heston, 1966)
• Teorias psicológicas:
• Teoria psicodinâmica.
• Teoria comportamental.
• Teoria cognitiva.

46
• Teorias socioculturais:
• Fatores sociais.
• Fatores familiares:
• Hipótese Double-Blind:
• Teoria que defende que os sintomas psicóticos são o resultado
de um indivíduo ser submetido dentro da família a mensagens
contraditórias de entes queridos.

• Expressed Emotion (EE):


• Uma medida qualitativa da "quantidade" de emoção exibida,
tipicamente no ambiente familiar, normalmente por uma
família ou cuidadores.
• Relação com os sintomas psicóticos:
• Muitos indivíduos com sintomas psicóticos vivem em
ambientes familiares onde as comunicações são hostis e
críticas.
• EE é um preditor robusto de recaída/retrocesso
(Kavanagh, 1992).
• As famílias de EE de alto nível tendem a ter um estilo
atribucional que culpa o doente pelo seu estado (Weisman
et al., 2000).
• As intervenções para moderar a EE numa família podem
ter efeitos benéficos nos sintomas (Hogarty et al., 1986).
• Interações genética-ambiente:
• Os componentes herdados da esquizofrenia eram um importante
preditor de sintomas em crianças adotadas apenas quando existiam
problemas de comunicação dentro da família adotiva (Wahlberg et al.,
2004).
• Suporta a explicação do modelo diathesis-stress da esquizofrenia.

47
• Esquizofrenia no DSM-V:
• Critérios de diagnóstico:
A. Dois (ou mais) dos itens a seguir, cada um presente por uma quantidade
significativa de tempo durante um período de um mês (ou menos, se
tratados com sucesso). Pelo menos um deles deve ser (1), (2) ou (3):
1. Delírios.
2. Alucinações.
3. Discurso desorganizado.
4. Comportamento grosseiramente desorganizado ou catatônico.
5. Sintomas negativos (i.e., expressão emocional diminuída ou
avolia).
B. Por período significativo de tempo desde o aparecimento da
perturbação, o nível de funcionamento em uma ou mais áreas
importantes do funcionamento, como trabalho, relações interpessoais ou
autocuidado, está acentuadamente abaixo do nível alcançado antes do
início (ou, quando o início se dá na infância ou na adolescência,
incapacidade de atingir o nível esperado de funcionamento interpessoal,
acadêmico ou profissional).
C. Sinais contínuos de perturbação persistem durante, pelo menos, seis
meses. Esse período de seis meses deve incluir no mínimo um mês de
sintomas (ou menos, se tratados com sucesso) que precisam satisfazer
ao Critério A (i.e., sintomas da fase ativa) e pode incluir períodos de
sintomas prodrómicos ou residuais. Durante esses períodos
prodrómicos ou residuais, os sinais da perturbação podem ser
manifestados apenas por sintomas negativos ou por dois ou mais
sintomas listados no Critério A presentes em uma forma atenuada (e.g.,
crenças esquisitas, experiências percetivas incomuns).
D. Perturbação esquizoafetiva e perturbação depressiva ou perturbação
bipolar com características psicóticas são descartados porque 1) não
ocorreram episódios depressivos maiores ou maníacos
concomitantemente com os sintomas da fase ativa, ou 2) se episódios de
humor ocorreram durante os sintomas da fase ativa, a sua duração total
foi breve em relação aos períodos ativo e residual da doença.
E. A perturbação não pode ser atribuída aos efeitos fisiológicos de uma
substância (e.g., droga de abuso, medicamento) ou a outra condição
médica.
F. Se há história de perturbação do espectro autista ou de perturbação da
comunicação iniciado na infância, o diagnóstico adicional de
esquizofrenia é realizado somente se delírios ou alucinações
proeminentes, além dos demais sintomas exigidos de esquizofrenia,
estão também presentes por pelo menos um mês (ou menos, se tratados
com sucesso).
• Diagnóstico diferencial:
• Perturbação depressiva major com características psicóticas ou
catatónicas. A distinção entre esquizofrenia e perturbação depressiva
major com características psicóticas ou catatonia depende da relação
temporal entre a perturbação do humor e a psicose, bem como da

48
gravidade dos sintomas depressivos ou maníacos. Se delírios ou
alucinações ocorrem exclusivamente durante um episódio depressivo
major, o diagnóstico é perturbação depressiva com características
psicóticas.
• Perturbação obsessivo-compulsiva. Indivíduos com perturbação
obsessivo-compulsiva podem apresentar insight prejudicado ou ausente,
e as preocupações podem atingir proporções delirantes. Essa
perturbação, porém, é diferente da esquizofrenia por apresentar
obsessões proeminentes, compulsões e comportamentos repetitivos.
• Perturbação de stress pós-traumático. A perturbação de stress pós-
traumático pode incluir flashbacks com uma qualidade alucinatória, e a
hipervigilância pode atingir proporções paranoides. Todavia, há
necessidade de um evento traumático e de aspetos sintomáticos
característicos relativos a revivências ou reações ao evento para que
seja feito um diagnóstico.
• Perturbação do espetro autista. Esta perturbação pode também ter
sintomas semelhantes a um episódio psicótico, mas difere pelos
respetivos défices na interação social, com comportamentos repetitivos
e restritos e outros défices cognitivos e de comunicação. Um indivíduo
com perturbação do espetro autista deve ter sintomas que satisfaçam
todos os critérios de esquizofrenia, com alucinações ou delírios
proeminentes durante pelo menos um mês a fim de ser diagnosticado
com esquizofrenia como uma condição comórbida.
----------------------------------------------------//----------------------------------------------------
Perturbações de personalidade:
• Grupo de perturbações marcadas por padrões de pensamento e comportamento
persistentes, inflexíveis e mal adaptados que se desenvolvem na adolescência ou
no início da vida adulta e prejudicam significativamente a capacidade de
funcionamento de um indivíduo.
• As perturbações da personalidade (PP) constituem patologias potencialmente
crónicas e muitas vezes graves, com um nível elevado de défices funcionais,
bem como sofrimento subjetivo.
• As PP são relativamente comuns, com prevalências de 1 em cada 10 indivíduos
na população geral e aproximadamente metade dos paciências em clinicas
comunitárias e/ou privadas.
• As PP resistem a uma grande percentagem de intervenções, agravam o
diagnóstico das perturbações de eixo I, e podem, muitas vezes, constituir
grandes desafios para os clínicos e o sistema de saúde mental, envolvendo
inclusivamente potencial taxa de mortalidade para o próprio ou outros através de
comportamentos de risco intencionais ou impulsivos.
• Padrão estável de experiência interna e comportamento que se afasta
marcadamente do esperado para o indivíduo numa dada cultura, é estável ao
longo do tempo (inflexível/rígido e não-adaptativo) e origina sofrimento ou
incapacidade.

49
• Associadas a formas invulgares de interpretação de eventos, mudanças de humor
imprevisíveis ou comportamento impulsivo.
• Resultam em dificuldades no funcionamento social e profissional.
• Representam padrões estáveis de comportamento que podem ser “rastreados” até
a adolescência ou a primeira infância.
• Questões conceptuais das perturbações de personalidade:
• As perturbações de personalidade podem não ser perturbações discretos,
mas representam extremos de personalidade normal (Costa & McRae,
1990).
• Muitas das características das diferentes perturbações de personalidade
sobrepõem-se (e.g., impulsividade).
• É expresso por 2 ou mais áreas-problema:
• Cognição.
• Afetividade.
• Relacionamentos.
• Controlo de impulsos.
• Perturbações de personalidade:
• PP de Cluster A (bizarria e excentricidade):
• PP Paranóide.
• PP Esquizóide.
• PP Esquizotípica.
• PP de Cluster B (dramática e emocional) (até 90%; desregulação emocional,
relacional, cognitiva e comportamental):
• PP Antissocial.
• PP Narcísica.
• PP Histriónica.
• PP Borderline.
• PP de Cluster C (ansiedade e evitamento):
• PP Dependente.
• PP Evitante.
• PP Obsessivo-compulsiva.
• Perturbações da personalidade associadas a outras perturbações:
• São raros os pacientes que se apresentam para intervenção com PP sem uma
outra perturbação sintomática associada.
• Será plausível que a PP seja o diagnostico primário para uma proporção de
pacientes que se apresenta com “problemas relacionais” como queixa (e.g.,
violência doméstica).
• A maior implicação para a intervenção prende-se com o seu carácter
longitudinal e desenvolvimentista.
• Perturbações de personalidade associadas ao eixo I:
• PP de Cluster A:
• Bizarria e excentricidade.
• Perturbações psicóticas.
• PP de Cluster B:
• Desregulação emocional, relacional, cognitiva e comportamental.

50
• Consumos excessivos de álcool e drogas (PPAS).
• Perturbação da ansiedade.
• Perturbação do humor (depressão e bipolar) e PTSD (PPB).
• PP de Cluster C:
• Ansiedade e evitamento.
• Perturbações da ansiedade (fobia social, OCD), humor, alimentares e
somatoformes.
• O que é “perturbado” nas perturbações de personalidade?
• As pessoas com perturbações de personalidade são frequentemente
encaminhadas para tratamento devido às consequências do seu
comportamento:
• Algumas são incapazes de formar relações duradouras e íntimas.
• Muitos desenvolvem frequentemente perturbações comórbidas.
• O seu estilo de comportamento pode ser um risco para si próprios ou
para os outros.
• Muitos estilos de comportamento interferem com a capacidade de um
indivíduo de ter sucesso nas esferas profissional ou educacional.
• Diferenças de género nas perturbações de personalidade:
• 75% dos indivíduos diagnosticados com Perturbação da Personalidade
Borderline são do sexo feminino (Widiger & Trull, 1993).
• O risco de Perturbação de Personalidade Evitante, Dependente e Histriónica
é também maior nas mulheres.
• As Perturbações de Personalidade Antissocial e Narcísica são mais
frequentemente diagnosticadas nos homens.
• Diferenças culturais nas perturbações de personalidade:
• Ainda poucas provas científicas sugerem que a prevalência das perturbações
de personalidade difere de cultura para cultura.
• Diferenças nas taxas de prevalência em crimes violentos, tais como nos
assassinos em série.
• Contudo, a cultura define comportamento "normal" ou "adaptativo" vs.
"anormal" ou "disfuncional", e molda o desenvolvimento
individual/relacional/emocional.
• Etiologia das perturbações de personalidade:
• Como a maioria dos sintomas das perturbações de personalidade diferem,
não haverá uma teoria abrangente sobre as perturbações de personalidade.
• Uma característica comum a todas é que os seus padrões de comportamento
são duradouros, sugerindo que os fatores de desenvolvimento são
importantes.
Perturbação da personalidade borderline:
• Desregulação emocional. Caracter
• Desregulação comportamental. desenvolvimental
• Desregulação ao nível das interações/relações interpessoais. e identitário
• Vazio, confusão identitária, zanga, impulsividade → comportamentos auto-
lesivos e suicídio.

51
• Características da perturbação de personalidade borderline:
• Apresenta um padrão duradouro de instabilidade nas relações pessoais e
ausência de autoimagem bem definida.
• O medo do abandono é uma característica central que conduz a relações
conflituosas.
• Associada a mudanças de humor regulares e comportamento agressivo.
• Altamente comorbilidade com perturbações como depressão e distúrbios de
ansiedade.
• Conceptualização da BPD:
• Teoria biossocial:
• Vulnerabilidade biológica + contexto invalidante.
• Défices de regulação em 4 áreas de funcionamento:
• Comportamental (e.g., comportamentos suicidas e parassuicidas,
impulsividade, abuso de substâncias).
• Interpessoal (e.g., instabilidade relacional, problemas de vinculação,
medo do abandono, isolamento).
• Cognitiva (e.g., dissociação, dificuldades no pensamento
lógico/racional vs. pensamento emocional).
• Emocional (e.g., labilidade, infelicidade intensa, vazio crónico).
• Perturbação de personalidade borderline no DSM-V:
• Critérios de diagnóstico:
Um padrão difuso de instabilidade das relações interpessoais, da
autoimagem e dos afetos e de impulsividade acentuada que surge no início
da vida adulta e está presente em vários contextos, conforme indicado por
cinco (ou mais) dos seguintes:
1. Esforços desesperados para evitar abandono real ou imaginado (Nota:
não incluir comportamento suicida ou de automutilação coberto pelo
Critério 5).
2. Um padrão de relacionamentos interpessoais instáveis e intensos
caracterizado pela alternância entre extremos de idealização e
desvalorização.
3. Perturbação da identidade: instabilidade acentuada e persistente da
autoimagem ou da perceção de si mesmo.
4. Impulsividade em pelo menos duas áreas potencialmente
autodestrutivas (e.g., gastos, sexo, abuso de substância, direção
irresponsável, compulsão alimentar) (Nota: não incluir comportamento
suicida ou de automutilação coberto pelo Critério 5.)
5. Recorrência de comportamento, gestos ou ameaças suicidas ou de
comportamento auto-mutilante.
6. Instabilidade afetiva devida a uma acentuada reatividade de humor
(e.g., disforia episódica, irritabilidade ou ansiedade intensa com
duração geralmente de poucas horas e apenas raramente de mais de
alguns dias).
7. Sentimentos crônicos de vazio.

52
8. Raiva intensa e inapropriada ou dificuldade em controlá-la (e.g.,
mostras frequentes de irritação, raiva constante, brigas físicas
recorrentes).
9. Ideação paranoide transitória associada a estresse ou sintomas
dissociativos intensos.
• Diagnóstico diferencial:
• Perturbação depressiva. A perturbação de personalidade borderline
frequentemente ocorre de forma concomitante com perturbações
depressivas, e, quando atendidos critérios para ambos, os dois podem
ser diagnosticados. Visto que a apresentação momentânea da
perturbação de personalidade borderline pode ser mimetizada por um
episódio de perturbação depressiva, o clínico deve evitar firmar um
diagnóstico adicional de perturbação de personalidade borderline com
base apenas na apresentação momentânea, sem ter documentado que o
padrão teve começo precoce e curso prolongado.
• Perturbação de personalidade antissocial. Se um indivíduo apresenta
características de personalidade que atendem aos critérios para a
perturbação de personalidade antissocial e para a perturbação de
personalidade borderline, ambas podem ser diagnosticados. Mesmo que
as perturbações de personalidade antissocial e borderline sejam
caracterizadas por comportamento manipulativo, indivíduos com o
primeiro manipulam para obter lucro, poder ou alguma outra
gratificação material, ao passo que o alvo, na perturbação da
personalidade borderline, é a obtenção de atenção dos cuidadores.
Perturbação de personalidade antissocial:
• Características da PPA:
• Usualmente os termos sociopatas e psicopatas são utilizados para descrever
este tipo de personalidade.
• A perturbação é descrita em termos de violação persistente das normas
sociais.
• Está associada a comportamento violento e criminal.
• As populações prisionais têm entre 50-70% de reclusos com este
diagnóstico (Fazel & Danesh, 2002).
• Diferenças de género:
• 75% de pessoas com PPB são do sexo feminino (Widiger & Trull, 1993).
• Características evitantes, dependente e histriónicas de personalidade são
mais comuns nas mulheres
• As perturbações de personalidade antissocial e narcísica são mais
diagnosticadas em homens.
• Diferenças culturais:
• A investigação sugere a existência de diferenças culturais.
• Prevalências distintas de serial killers e crimes violentos entre países
• Contudo, o que é adaptativo ou disfuncional também varia muito de cultura
para cultura, incluindo o desenvolvimento individual, relacional, e
emocional.

53
• Perturbação de personalidade antissocial no DSM-V:
• Critérios de diagnóstico:
A. Um padrão difuso de desconsideração e violação dos direitos das outras
pessoas que ocorre desde os 15 anos de idade, conforme indicado por
três (ou mais) dos seguintes:
1. Fracasso em ajustar-se às normas sociais relativas a
comportamentos legais, conforme indicado pela repetição de atos
que constituem motivos de detenção.
2. Tendência à falsidade, conforme indicado por mentiras repetidas,
uso de nomes falsos ou de trapaça para ganho ou prazer pessoal.
3. Impulsividade ou fracasso em fazer planos para o futuro.
4. Irritabilidade e agressividade, conforme indicado por repetidas
lutas corporais ou agressões físicas.
5. Descaso pela segurança de si ou de outros.
6. Irresponsabilidade reiterada, conforme indicado por falha repetida
em manter uma conduta consistente no trabalho ou honrar
obrigações financeiras.
7. Ausência de remorso, conforme indicado pela indiferença ou
racionalização em relação a ter ferido, maltratado ou roubado
outras pessoas.
B. O indivíduo tem no mínimo 18 anos de idade.
C. Há evidencias de perturbação do comportamento com surgimento
anterior aos 15 anos de idade.
D. A ocorrência de comportamento antissocial não se dá exclusivamente
durante o curso de esquizofrenia ou episódio maníaco.
• Diagnóstico diferencial:
• Esquizofrenia. Comportamento antissocial que ocorre exclusivamente
durante o curso de esquizofrenia não deve ser diagnosticado como
perturbação de personalidade antissocial.
• Perturbações da personalidade borderline. Outras perturbações de
personalidade podem ser confundidos com perturbação de
personalidade antissocial pelo fato de apresentarem alguns aspetos em
comum. Assim, é importante, então, distinguir entre essas perturbações
com base nas diferenças nos seus aspetos característicos. Entretanto, se
um indivíduo apresenta características de personalidade que atendem a
critérios para uma ou mais perturbações de personalidade além da
perturbação de personalidade antissocial, todas podem ser
diagnosticadas. Indivíduos com perturbação de personalidade
borderline manipulam para obter atenção, ao passo que aqueles com
perturbação de personalidade antissocial manipulam para obter lucro,
poder ou outra gratificação material. Indivíduos com perturbação de
personalidade antissocial tendem a ser menos instáveis emocionalmente
e mais agressivos do que aqueles com perturbação de personalidade
borderline.

54
Modelos etiológicos:
• Não existe um modelo único que sustente a diversidade das perturbações de
personalidade.
• Uma característica que é comum a todas é que são padrões consistentes e
duradouros, sugerindo que fatores de desenvolvimento são importantes.

4. Perturbações psicológicas na infância e


adolescência
Dificuldades no estudo da psicopatologia na infância:
• Os problemas comportamentais ou psicológicos devem ser considerados no
contexto da criança enquanto organismo em desenvolvimento.
• Muitos problemas têm remissão espontânea tão rapidamente quanto se
desenvolvem.
• As crianças geralmente têm pouco autoconhecimento.
Dificuldades associadas à identificação e diagnóstico:
• Os problemas e sintomas precisam de ser considerados no contexto daquilo que
será ajustado ao nível de desenvolvimento da criança.
• A avaliação e diagnóstico está muitas vezes dependente da capacidade de
comunicação da criança.
• Existem diferenças nas normas culturais daquilo que possa ser entendido como
problemático.
• As mudanças desenvolvimentais podem significar que os problemas
psicológicos podem escalar muito rapidamente.
Domínios da psicopatologia na infância:
• Tradicionalmente as perturbações da infância estão agrupadas em dois amplos
domínios:
• Perturbações externalizantes.
• Perturbações internalizantes.
Perturbações externalizantes:
• Problemas de comportamento direcionado para o exterior, tal como a
agressividade, hiperatividade, desobediência ou impulsividade.
Perturbações internalizantes:
• Comportamentos de isolamento ou virados para o interior, que na criança podem
representar a experiência de depressão, ansiedade e isolamento social.
Exemplos de problemas psicológicos na infância:
• Perturbações externalizantes:
• Hiperatividade e défice de atenção (ADHD).

55
• Perturbação do comportamento.
• Consumos.
• Perturbações internalizantes:
• Ansiedade.
• Depressão.
• Perturbações baseadas nos sintomas:
• Enurese.
• Encoprese.
• Sonambulismo e terrores noturnos.
Percursores de Psicopatologia no Adulto?
• Existem muitas formas da psicopatologia da infância ser precursora de
problemas do adulto:
• A perturbação pode persistir até à vida adulta (e.g., ansiedade social).
• A psicopatologia da infância pode conduzir a efeitos adversos na vida adulta
(e.g., consumos de substâncias).
• A psicopatologia da infância pode representar uma psicopatologia
percursora de outro problema no adulto (e.g., perturbação de
comportamento).
• A psicopatologia da infância pode tornar o indivíduo mais vulnerável ao
stress na vida adulta (e.g., PTSD, depressão).
• A psicopatologia da infância pode ser efetivamente especifica da infância e
desaparecer na vida adulta (perturbações de eliminação).
Prevalência de perturbações na infância e adolescência:
• Entre 10-20 % das crianças e adolescentes têm uma psicopatologia
diagnosticada (Phares, 2003).
• Os tipos de psicopatologia mais prevalentes mudam com a idade.
• A comorbidade é comum (Office of National Statistics, 2004).
• As crianças em famílias monoparentais têm o dobro da prevalência.
Diferenças de género e idade:

56
Perturbações da 1ª e 2ª infância e da adolescência:
• Deficiência Intelectual:
• Ligeira, moderada, grave ou profunda.
• Perturbações da Aprendizagem:
• Da leitura, do cálculo, da escrita e da aprendizagem SOE.
• Perturbação da Comunicação:
• Linguagem expressiva, mista da linguagem expressiva-recetiva, fonológica,
gaguez.
• Perturbações Globais do Desenvolvimento:
• Perturbações do Espectro do Autismo e outras.
• Perturbações Disruptivas do Comportamento e de Défice de Atenção:
• ADHD, perturbação do comportamento, perturbação de oposição.
• Perturbações de Eliminação:
• Encoprese, enurese (primárias ou secundárias)
• Perturbações da Alimentação e do Comportamento alimentar:
• Pica, mericismo e outras (anorexia nervosa, bulimia).
• Perturbações de tiques:
• Tiques, síndrome de la Tourette.
• Outras perturbações da 1ª e 2ª infância:
• Ansiedade de separação, mutismo seletivo, perturbação reativa da
vinculação.
• Outras perturbações do Humor (depressão), da Ansiedade (todas), Psicóticas
(esquizofrenia infantil), Consumo de substâncias.
----------------------------------------------------//----------------------------------------------------
Perturbações externalizantes:
• Problemas de comportamento disruptivo:
• Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (ADHD).
• Perturbação de Oposição.
• Perturbação de Comportamento.
Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (ADHD):
• Padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade/impulsividade.
• Excede o esperado para o seu nível de desenvolvimento e idade.
• Não é sinónimo de mau comportamento ou de má educação.
• Diagnostico de ADHD:
• A maior parte dos indivíduos tem quer desatenção, quer impulsividade.
• Podem existir sub-tipos:
• Predominantemente desatento.
• Predominantemente hiperativo-impulsivo.
• Cerca de 50% das pessoas diagnosticadas com ADHD são também
diagnosticadas com Perturbações de Comportamento (Hinshaw, 1987).
• As provas são equívocas quanto à existência de diferenças culturais no
diagnóstico de ADHD.

57
• Pode coocorrer perturbação do comportamento.
• Prevalência de ADHD:
• Cerca de 3-7% das crianças em idade escolar são diagnosticadas com
ADHD (DSM).
• Taxas de diagnóstico semelhantes são encontradas em crianças em idade
pré-escolar (Egger et al., 2006).
• Metade manterá um diagnóstico de ADHD até à idade adulta (Kessler et al.,
2006).
• Estudos recentes sugerem que o ADHD não é específico do sexo (Staller &
Faraone, 2006).
• Consequências de ADHD:
• Dificuldade em gerir a zanga e a frustração.
• Dificuldades no desempenho académico.
• Famílias podem ter dificuldade na gestão dos comportamentos da criança,
decorrendo sofrimento familiar.
• Associada a rejeição pelos pares.
• Etiologia da ADHD:
• Fatores biológicos
• Fatores psicológicos
• Perturbação de hiperatividade e défice de atenção (ADHD) no DSM-V:
• Critérios de diagnóstico:
A. Um padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade-impulsividade
que interfere no funcionamento e no desenvolvimento, conforme
caracterizado por (1) e/ou (2):
1. Desatenção: Seis (ou mais) dos seguintes sintomas persistem por
pelo menos seis meses em um grau que é inconsistente com o nível
do desenvolvimento e têm impacto negativo diretamente nas
atividades sociais e acadêmicas/profissionais:
a. Frequentemente não presta atenção em detalhes ou comete
erros por descuido em tarefas escolares, no trabalho ou durante
outras atividades (e.g., negligencia ou deixa passar detalhes, o
trabalho é impreciso).
b. Frequentemente tem dificuldade de manter a atenção em
tarefas ou atividades lúdicas (e.g., dificuldade de manter o foco
durante aulas, conversas ou leituras prolongadas).
c. Frequentemente parece não escutar quando alguém lhe dirige a
palavra diretamente (e.g., parece estar com a cabeça longe,
mesmo na ausência de qualquer distração óbvia).
d. Frequentemente não segue instruções até o fim e não consegue
terminar trabalhos escolares, tarefas ou deveres no local de
trabalho (e.g., começa as tarefas, mas rapidamente perde o
foco e facilmente perde o rumo).
e. Frequentemente tem dificuldade para organizar tarefas e
atividades (e.g., dificuldade em gerenciar tarefas sequenciais;
dificuldade em manter materiais e objetos pessoais em ordem;

58
trabalho desorganizado e desleixado; gere mal o tempo;
dificuldade em cumprir prazos).
f. Frequentemente evita, não gosta ou reluta em se envolver em
tarefas que exijam esforço mental prolongado (e.g., trabalhos
escolares ou lições de casa; para adolescentes mais velhos e
adultos, preparo de relatórios, preenchimento de formulários,
revisão de trabalhos longos).
g. Frequentemente perde coisas necessárias para tarefas ou
atividades (e.g., materiais escolares, lápis, livros, instrumentos,
carteiras, chaves, documentos, óculos, celular).
h. Com frequência é facilmente distraído por estímulos externos.
i. É frequentemente esquecido nas atividades diárias (e.g.,
esquece-se de fazer tarefas ou de fazer recados).
2. Hiperatividade e impulsividade: Seis (ou mais) dos seguintes
sintomas persistem por pelo menos seis meses em um grau que é
inconsistente com o nível de desenvolvimento e tem impacto
negativo diretamente nas atividades sociais e
acadêmicas/profissionais:
a. Frequentemente remexe ou batuca as mãos ou os pés ou se
contorce na cadeira.
b. Frequentemente levanta da cadeira em situações em que se
espera que permaneça sentado (e.g., sai do seu lugar em sala de
aula, no escritório ou em outro local de trabalho ou em outras
situações que exijam que se permaneça em um mesmo lugar).
c. Frequentemente corre ou sobe nas coisas em situações em que
isso é inapropriado.
d. Com frequência é incapaz de brincar ou de se envolver em
atividades de lazer calmamente.
e. Com frequência “não para”, agindo como se estivesse “com o
motor ligado" (e.g., não consegue ou sente-se desconfortável
em ficar parado por muito tempo, como em restaurantes,
reuniões; outros podem ver o indivíduo como inquieto ou
difícil de acompanhar).
f. Frequentemente fala demais.
g. Frequentemente deixa escapar uma resposta antes que a
pergunta tenha sido concluída (e.g., termina frases dos outros,
não consegue aguardar a vez de falar).
h. Frequentemente tem dificuldade para esperar a sua vez (e.g.,
aguardar em uma fila).
i. Frequentemente interrompe ou intromete-se (e.g., mete-se nas
conversas, jogos ou atividades; pode começar a usar as coisas
de outras pessoas sem pedir ou receber permissão).
B. Vários sintomas de desatenção ou hiperatividade-impulsividade
estavam presentes antes dos 12 anos de idade.
C. Vários sintomas de desatenção ou hiperatividade-impulsividade estão
presentes em dois ou mais ambientes (e.g., em casa, na escola, no
trabalho; com amigos ou parentes; em outras atividades).

59
D. Há evidências claras de que os sintomas interferem no funcionamento
social, acadêmico ou profissional ou de que reduzem sua qualidade.
E. Os sintomas não ocorrem exclusivamente durante o curso de
esquizofrenia ou outra perturbação psicótica e não são melhor
explicados por outra perturbação mental (e.g., perturbação de humor,
perturbação de ansiedade, perturbação dissociativo, perturbação d
personalidade, intoxicação ou abstinência de substância).
• Diagnóstico diferencial:
• Perturbação do espetro autista. Indivíduos com ADHD e aqueles com
perturbação do espetro autista exibem desatenção, disfunção social e
comportamento de difícil controlo. A disfunção social e a rejeição pelos
pares encontradas em pessoas com ADHD devem ser diferenciadas da
falta de envolvimento social, do isolamento e da indiferença a pistas de
comunicação faciais e de tonalidade encontrados em indivíduos com
perturbação do espetro autista. Crianças com perturbação do espetro
autista podem ter ataques de raiva devido a incapacidade de tolerar
mudanças no curso dos eventos esperado por elas. Em contraste,
crianças com ADHD podem comportar-se mal ou ter um ataque de
raiva durante alguma transição importante devido a impulsividade ou
autocontrole insatisfatório.
• Perturbações de ansiedade. A ADHD compartilha sintomas de
desatenção com perturbações de ansiedade. Indivíduos com ADHD são
desatentos por causa de sua atração por estímulos externos, atividades
novas ou predileção por atividades agradáveis. Isso é diferente da
desatenção por preocupação e ruminação encontrada nas perturbações
de ansiedade. Agitação pode ser encontrada em perturbações de
ansiedade. Na ADHD, todavia, o sintoma não está associado a
preocupação e ruminação.
• Perturbações depressivas. Indivíduos com perturbações depressivas
podem se apresentar com incapacidade de se concentrar. Entretanto, a
dificuldade de concentração nas perturbações de humor fica
proeminente apenas durante um episódio depressivo.
• Perturbações de personalidade. Pode ser difícil diferenciar ADHD das
perturbações de personalidade borderline e outras perturbações de
personalidade. Todas estas tendem a compartilhar características de
desorganização, intrusão social, desregulação emocional e desregulação
cognitiva. A ADHD, porém, não é caracterizada por medo do
abandono, autolesão, ambivalência extrema ou outras características de
perturbações de personalidade. Pode haver necessidade de observação
prolongada, entrevista com informantes ou história detalhada para
distinguir comportamento impulsivo, socialmente intrusivo ou
inadequado de comportamento narcisista, agressivo ou dominador para
que seja feito esse diagnóstico diferencial.
• Perturbações psicóticas. A ADHD não é diagnosticada se os sintomas
de desatenção e hiperatividade ocorrem exclusivamente durante o curso
de uma perturbação psicótico.

60
Perturbação de Comportamento:
• Características:
• Comportamento agressivo que causa dano ou ameaça.
• Comportamento de vandalismo ou que causa danos a propriedade.
• Engano, mentira e roubo.
• Violação grave de regras.
• Sub-Tipos:
• Perturbação de Comportamento com início na infância (anterior a 10 anos).
• Perturbação de Comportamento com início na adolescência (depois dos 10
anos).
• Excede a Perturbação Oposicional (ODD) → uma forma suave de
perturbação do comportamento reservada às crianças que não preenchem
todos os critérios para a perturbação do comportamento.
• Sintomas mais comuns:
• Inicia frequentemente comportamentos violentos ou agressivos.
• Ter pouco respeito pela propriedade/bens.
• Mentir e enganar.
• Baixa empatia com sentimentos e intenções dos outros.
• Comportamentos de risco, frustração, irritabilidade, impulsividade e birras.
• Início de comportamento sexual precoce, consumo de álcool, uso de tabaco,
abuso de substâncias e comportamentos de risco.
• Mais comum em rapazes do que raparigas (Zoccolillo, 1993).
• Prevalência e Evolução:
• Prevalência entre 4-16% nos rapazes e 1,2-9% nas raparigas (Loeber et al.,
2000).
• Média de idade de início 11,6 anos (Nock et al., 2006).
• Início na infância preditora de Perturbação Antissocial da Personalidade
(Lahey et al., 2005).
• Em raparigas o mais comum são sintomas de roubo, mentira, fugir de casa e
comportamento sexual (Robins, 1991).
• Um Modelo de Processamento de Informação Social da Perturbação de
Comportamento:

61
• Etiologia:
• Fatores biológicos.
• Fatores psicológicos.
• Perturbação do comportamento no DSM-V:
• Critérios de diagnóstico:
A. Um padrão de comportamento repetitivo e persistente no qual são
violados direitos básicos de outras pessoas ou normas ou regras sociais
relevantes e apropriadas para a idade, tal como manifestado pela
presença de ao menos três dos 15 critérios seguintes, nos últimos 12
meses, de qualquer uma das categorias adiante, com ao menos um
critério presente nos últimos seis meses:
Agressão a pessoas e animais:
1. Frequentemente provoca, ameaça ou intimida outros.
2. Frequentemente inicia brigas físicas.
3. Usou alguma arma que pode causar danos físicos graves a outros
(e.g., bastão, tijolo, garrafa quebrada, faca, arma de fogo).
4. Foi fisicamente cruel com pessoas.
5. Foi fisicamente cruel com animais.
6. Roubou durante o confronto com uma vítima (e.g., assalto, roubo
de bolsa, extorsão, roubo à mão armada).
7. Forçou alguém a atividade sexual.
Destruição de propriedade:
8. Envolveu-se deliberadamente na provocação de incêndios com a
intenção de causar danos graves.
9. Destruiu deliberadamente propriedade de outras pessoas (excluindo
provocação de incêndios).
Falsidade ou furto:
10. Invadiu a casa, o edifício ou o carro de outra pessoa.
11. Frequentemente mente para obter bens materiais ou favores ou para
evitar obrigações (i.e., “trapaceia”).
12. Furtou itens de valores consideráveis sem confrontar a vítima (e.g.,
furto em lojas, mas sem invadir ou forçar a entrada; falsificação).
Violações graves de regras:
13. Frequentemente fica fora de casa à noite, apesar da proibição dos
pais, com início antes dos 13 anos de idade.
14. Fugiu de casa, passando a noite fora, pelo menos duas vezes
enquanto morando com os pais ou em lar substituto, ou uma vez
sem retomar por um longo período.
15. Com frequência falta às aulas, com início antes dos 13 anos de
idade.
B. A perturbação comportamental causa prejuízos clinicamente
significativos no funcionamento social, acadêmico ou profissional.
C. Se o indivíduo tem 18 anos ou mais e os critérios para perturbação de
personalidade antissocial não são preenchidos.
• Diagnóstico diferencial:
• Perturbação de hiperatividade e défice de atenção. Embora as crianças
com ADHD com frequência apresentem comportamento hiperativo e

62
impulsivo que pode ser disruptivo, esse comportamento por si só não
viola normas sociais ou os direitos de outras pessoas e, portanto, em
geral não preenche critérios para perturbação de comportamento.
Ambos os diagnósticos poderão ser feitos nas situações em que forem
preenchidos os critérios tanto para ADHD quanto para perturbação de
comportamento.
• Perturbação depressiva. Problemas de irritabilidade, agressividade e de
comportamento podem ocorrer em crianças ou adolescentes com
perturbação depressiva major. Em geral, os problemas comportamentais
associados a essa perturbação de humor podem ser distinguidos, com
base no seu curso, do padrão dos problemas de comportamento
observado na perturbação de comportamento. Especificamente, pessoas
com esse diagnóstico irão apresentar níveis substanciais de problemas
de comportamento agressivos ou não agressivos durante períodos em
que não houver nenhuma perturbação de humor, seja previamente (i.e.,
história de problemas de comportamento com início anterior à
perturbação de humor), seja concomitantemente (i.e., apresentação de
alguns problemas de comportamento premeditados e que não ocorrem
durante períodos de excitação emocional intensa). É possível fazer
ambos os diagnósticos nos casos em que forem preenchidos critérios
para perturbação de comportamento e para perturbação de humor.
----------------------------------------------------//----------------------------------------------------
Ansiedade:
• Principalmente manifestada por comportamento de evitamento (internalização).
• As crianças evitam atividades e são dependentes e exigentes dos pais e
cuidadores.
• Têm queixas somáticas (Hofflich et al., 2006).
• Muitas vezes relacionadas ou percursoras de GAD e POC.
• Características e tipos de problemas de ansiedade:
• Ansiedade de separação.
• Perturbação Obsessivo-compulsiva (POC).
• Perturbação de ansiedade generalizada (GAD).
• Fobias específicas.
• Ansiedade de separação:
• Medo intenso de ser separado/a dos pais ou cuidadores/as.
• Podem desenvolver medo exacerbado de que os pais possam ficar doentes,
morrer ou ficar incapazes de cuidar deles/as.
• Consequências podem incluir a relutância de ir para a escola ou pedir aos
pais para ficarem com eles até adormecerem.
• Prevalência estimada de 2-5% (Silove & manicavasagar, 2001).
• Etiologia da ansiedade de separação:
• Fatores genéticos.
• Trauma e experiências de stress.
• Modelagem e exposição a informação.

63
• Estilo parental.
• Ansiedade de separação no DSM-V:
• Critérios de diagnóstico:
A. Medo ou ansiedade impróprios e excessivos em relação ao estágio de
desenvolvimento, envolvendo a separação daqueles com que o
indivíduo está vinculado, evidenciados por três (ou mais) dos seguintes
aspetos:
1. Sofrimento excessivo e recorrente ante a ocorrência ou previsão de
afastamento de casa ou de figuras importantes de vinculação.
2. Preocupação persistente e excessiva acerca da possível perda ou de
perigos envolvendo figuras importantes de vinculação, tais como
doença, ferimentos, desastres ou morte.
3. Preocupação persistente e excessiva de que um evento indesejado
leve à separação de uma figura importante de vinculação (e.g.,
perder-se, ser sequestrado, sofrer um acidente, ficar doente).
4. Relutância persistente ou recusa a sair, afastar-se de casa, ir para a
escola, o trabalho ou a qualquer outro lugar, em virtude do medo da
separação.
5. Temor persistente e excessivo ou relutância em ficar sozinho ou
sem as figuras importantes de vinculação em casa ou em outros
contextos.
6. Relutância ou recusa persistente em dormir longe de casa ou dormir
sem estar próximo a uma figura importante de vinculação.
7. Pesadelos repetidos envolvendo o tema da separação.
8. Repetidas queixas de sintomas somáticos (e.g., cefaleias, dores
abdominais, náusea ou vômitos) quando a separação de figuras
importantes de vinculação ocorre ou é prevista.
B. O medo, a ansiedade ou a esquiva é persistente, durando pelo menos
quatro semanas em crianças e adolescentes e geralmente seis meses ou
mais em adultos.
C. A perturbação causa sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo
no funcionamento social, acadêmico, profissional ou em outras áreas
importantes da vida do indivíduo.
D. A perturbação não é melhor explicada por outra perturbação mental,
como a recusa em sair de casa devido à resistência excessiva à mudança
na perturbação do espectro autista; delírios ou alucinações envolvendo a
separação em perturbação psicóticas; recusa em sair sem um
acompanhante confiável na agorafobia; preocupações com doença ou
outros danos afetando pessoas significativas na perturbação de
ansiedade generalizada; ou preocupações envolvendo ter uma doença na
perturbação de ansiedade de doença.
• Diagnóstico diferencial:
• Perturbação de ansiedade generalizada. A perturbação de ansiedade de
separação distingue-se da perturbação de ansiedade generalizada no
sentido de que a ansiedade envolve predominantemente a separação das
figuras de vinculação, e, se ocorrem outras preocupações, elas não
predominam no quadro clínico.

64
• Perturbação de pânico. Ameaças de separação podem levar a extrema
ansiedade e mesmo a um ataque de pânico. Na perturbação de
ansiedade de separação, em contraste com a perturbação de pânico, a
ansiedade envolve a possibilidade de se afastar das figuras de
vinculação e a preocupação com eventos indesejados ocorrendo com
elas, em vez de ficar incapacitado por um ataque de pânico inesperado.
• Perturbação de comportamento. A esquiva da escola (evasão) é comum
na perturbação de comportamento, mas a ansiedade pela separação não
é responsável pelas ausências escolares, e a criança ou adolescente
habitualmente fica longe de casa em vez de voltar para ela.
• Fobia social. A recusa de ir à escola pode ser devida à fobia social.
Nesses casos, a esquiva da escola deve-se ao medo de ser julgado
negativamente pelos outros, e não a preocupações relativas a ser
separado das figuras de vinculação.
• Perturbação de stress pós-traumático. O medo de separação das pessoas
amadas é comum após eventos traumáticos como desastres,
particularmente quando foram experimentados períodos de separação
dessas pessoas durante o evento traumático. Na perturbação de stress
pós-traumático (PSTD), os sintomas centrais são relativos a intrusões e
esquiva de lembranças associadas ao evento traumático, enquanto na
perturbação de ansiedade de separação as preocupações e a esquiva
estão relacionadas ao bem-estar das figuras de vinculação e à separação
delas.
• Perturbação depressiva. Esta perturbação pode estar associada a
relutância em sair de casa, mas a perturbação principal não é a
preocupação ou o medo de eventos indesejados afetarem as figuras de
vinculação, mas a baixa motivação para se envolver com o mundo
externo. No entanto, os indivíduos com perturbação de ansiedade de
separação podem ficar deprimidos quando são separados ou quando é
prevista uma separação
• Perturbações psicóticas. Diferentemente das alucinações nas
perturbações psicóticas, as experiências percetuais incomuns que
podem ocorrer na perturbação de ansiedade de separação estão em geral
baseadas em uma perceção equivocada de um estímulo real, ocorrendo
apenas em certas situações (e.g., à noite), sendo revertidas pela presença
de uma figura de vinculação.
• Perturbação de personalidade borderline. A perturbação da
personalidade borderline é caracterizada pelo medo do abandono pelas
pessoas amadas, mas os problemas na identidade, na capacidade de se
guiar (self-direction), no funcionamento interpessoal e na impulsividade
são adicionalmente centrais a esse transtorno, enquanto não são centrais
para a perturbação de ansiedade de separação.

65
Depressão:
• A depressão na infância manifesta-se comummente por comportamento
dependente, recusa escolar e medo exagerados; ou, pelo contrário,
evitamento/isolamento, irritabilidade e acting out (explosões de raiva).
• Quando atingem a adolescência cerca de 28% terão experienciado um episódio
depressivo (até à idade de 19 anos) (Lewinsohn et al., 1998).
• Diagnóstico e prevalência:
• Os critérios de diagnóstico são essencialmente os mesmo que para a
depressão major em adultos.
• Entre 2-5% em crianças mais novas (Cohen et al., 1993), subindo na
adolescência.
• A prevalência durante a adolescência pode ser 25-28%.
• Ocorre mais nas raparigas (2x) do que nos rapazes (Hankin et al., 1998).
• Comorbilidade com outras psicopatologias na infância e adolescência.
• Os critérios de diagnóstico e os diagnósticos diferenciais são os mesmos que
para a perturbação depressiva major para adultos.
----------------------------------------------------//----------------------------------------------------
Perturbações do Comportamento Alimentar:
• A relação com a comida mudou muito (acessos, excessos, dietas, etc).
• 25-30% das fêmeas afirmam estar atualmente a fazer dieta ou a tentar perder
peso (McVey et al., 2004).
• 13,4% das raparigas e 7,1% dos rapazes mantêm padrões disfuncionais de
comportamento alimentar (incluindo jejuns, dietas ou binge eating) (Neumark-
Sztainer & Hannan, 2000).
• As três principais perturbações do comportamento alimentar são:
• Anorexia nervosa.
• Bulimia nervosa.
• Perturbação de Binge-Eating.
Anorexia Nervosa:
• As características importantes da Anorexia Nervosa incluem:
• Uma recusa em manter um peso corporal mínimo.
• Um medo patológico de ganhar peso.
• Uma imagem corporal distorcida em que os doentes continuam a insistir que
estão com excesso de peso.
• Critérios de diagnóstico DSM-IV:
A. Recusa em manter um peso corporal igual ou superior a um peso mínimo
normal para a idade e altura (por exemplo, perda de peso que leve à
manutenção de um peso corporal inferior a 85% do esperado; ou falha em
fazer o ganho de peso esperado durante o período de crescimento).
B. Medo intenso de ganhar peso ou engordar, ainda que esteja abaixo do peso.
C. Perturbação na forma como se experiencia o peso ou forma corporal,
influência indevida do peso ou forma corporal na autoavaliação, ou negação
da seriedade do atual baixo peso corporal.
66
D. Nas fêmeas pós-menarca, existência de amenorreia, ou seja, ausência de
pelo menos três ciclos menstruais consecutivos.
• Tipos de anorexia nervosa:
• Anorexia nervosa do tipo restritivo.
• Anorexia nervosa do tipo purgativo (binge eating/purging).
• Efeitos fisiológicos da anorexia nervosa:
• Cansaço, arritmias cardíacas, tensão arterial baixa e batimentos cardíacos
lentos.
• Pele seca e cabelo frágil/quebradiço.
• Problemas renais e gastrointestinais.
• A ausência de ciclos menstruais (amenorreia).
• Hipotermia, resultando frequentemente em sensação de frio mesmo em
ambientes quentes.
• Prevalência:
• As taxas de prevalência ao longo da vida para as mulheres é de 0,5%
(DSM).
• As taxas de prevalência podem diferir entre culturas e ao longo do tempo.
• Anorexia Nervosa é altamente comórbida com outras perturbações (e.g.,
depressão major, TOC, Perturbação da Personalidade Obsessivo-
Compulsiva).
• Anorexia nervosa no DSM-V:
• Critérios de diagnóstico:
A. Restrição da ingestão calórica em relação às necessidades, levando a
um peso corporal significativamente baixo no contexto de idade,
género, trajetória do desenvolvimento e saúde física. Peso
significativamente baixo é definido como um peso inferior ao peso
mínimo normal ou, no caso de crianças e adolescentes, menor do que o
minimamente esperado.
B. Medo intenso de ganhar peso ou de engordar, ou comportamento
persistente que interfere no ganho de peso, mesmo estando com peso
significativamente baixo.
C. Perturbação no modo como o próprio peso ou a forma corporal são
vivenciados, influência indevida do peso ou da forma corporal na
autoavaliação ou ausência persistente de reconhecimento da gravidade
do baixo peso corporal atual.
• Diagnóstico diferencial:
• Perturbação depressiva major. Na perturbação depressiva major, pode
ocorrer perda de peso grave, mas a maioria dos indivíduos com essa
perturbação não manifesta nem desejo de perda de peso excessiva, nem
medo intenso de ganhar peso.
• Esquizofrenia. Indivíduos com esquizofrenia podem exibir
comportamento alimentar estranho e às vezes apresentam perda de peso
significativa, mas raramente manifestam o medo de ganhar peso e a
perturbação da imagem corporal necessários para um diagnóstico de
anorexia nervosa.

67
• Fobia social e perturbação obsessivo-compulsiva. Alguns dos aspetos
da anorexia nervosa sobrepõem-se aos critérios para fobia social e
perturbação obsessivo-compulsiva. Mais especificamente, os indivíduos
podem sentir-se humilhados ou envergonhados de serem vistos a comer
em público, como ocorre na fobia social; ou podem exibir obsessões e
compulsões relacionadas a alimentos, como na perturbação obsessivo-
compulsiva. Se o indivíduo com anorexia nervosa tiver temores sociais
que se limitem apenas ao comportamento alimentar, o diagnóstico de
fobia social não deve ser feito, mas temores sociais não relacionados ao
comportamento alimentar (e.g., temor excessivo de falar em público)
podem justificar um diagnóstico adicional de fobia social. Da mesma
maneira, um diagnóstico adicional de perturbação obsessivo-
compulsiva deverá ser considerado apenas se o indivíduo exibir
obsessões e compulsões não relacionadas a alimento (e.g., medo
excessivo de contaminação).
• Bulimia nervosa. Indivíduos com bulimia nervosa exibem episódios
recorrentes de compulsão alimentar, adotam comportamento indevido
para evitar o ganho de peso (p. ex., vômitos autoinduzidos) e
preocupam-se excessivamente com a forma e o peso corporais.
Entretanto, diferentemente de indivíduos com anorexia nervosa do tipo
compulsão alimentar purgativa, aqueles com bulimia nervosa mantêm
um peso corporal igual ou acima da faixa mínima normal.
Bulimia Nervosa:
• Caracterizado por um medo de ganhar peso e uma imagem corporal distorcida.
• A característica principal é os períodos de alimentação em excesso seguidos por
períodos de jejum, vómito e/ou uso de laxantes.
• O início típico é no final da adolescência ou no início da vida adulta.
• Cerca de 90% das pessoas que sofrem de bulimia são do sexo feminino
• Prevalência:
• A taxa de prevalência ao longo da vida é de 1-3% entre as mulheres.
• A taxa de prevalência em homens é de 0,1-0,3%.
• A incidência da bulimia nas mulheres nas culturas ocidentais parece estar a
aumentar (Keel & Klump, 2003).
• Altamente comórbida com outras perturbações (e.g., depressão major,
perturbações de personalidade e abuso e dependência de substâncias).
• Bulimia nervosa no DSM-V:
• Critérios de diagnóstico:
A. Episódios recorrentes de compulsão alimentar. Um episódio de
compulsão alimentar é caracterizado pelos seguintes aspetos:
1. Ingestão, em um período de tempo determinado (e.g., dentro de
cada período de duas horas), de uma quantidade de alimento
definitivamente maior do que a maioria dos indivíduos consumiria
no mesmo período sob circunstâncias semelhantes.

68
2. Sensação de falta de controle sobre a ingestão durante o episódio
(e.g., sentimento de não conseguir parar de comer ou controlar o
que e o quanto se está ingerindo).
B. Comportamentos compensatórios inapropriados recorrentes a fim de
impedir o ganho de peso, como vômitos autoinduzidos; uso indevido de
laxantes, diuréticos ou outros medicamentos; jejum; ou exercício em
excesso.
C. A compulsão alimentar e os comportamentos compensatórios
inapropriados ocorrem, em média, no mínimo uma vez por semana
durante três meses.
D. A autoavaliação é indevidamente influenciada pela forma e pelo peso
corporais.
E. A perturbação não ocorre exclusivamente durante episódios de anorexia
nervosa.
• Diagnóstico diferencial:
• Anorexia nervosa, tipo compulsão alimentar purgativa. Indivíduos cujo
comportamento alimentar compulsivo ocorre apenas durante episódios
de anorexia nervosa recebem o diagnóstico de anorexia nervosa tipo
compulsão alimentar purgativa e não deverão receber o diagnóstico
adicional de bulimia nervosa. Para aqueles com diagnóstico inicial de
anorexia nervosa com compulsão alimentar purgativa, mas cuja
apresentação não satisfaz mais os critérios plenos para anorexia nervosa
tipo compulsão alimentar purgativa (e.g., quando o peso é normal), um
diagnóstico de bulimia nervosa só deverá ser dado quando todos os
critérios essa perturbação tiverem sido preenchidos por, no mínimo, três
meses.
• Perturbação de compulsão alimentar. Alguns indivíduos apresentam
compulsão alimentar, porém não adotam comportamentos
compensatórios inapropriados regularmente. Nesses casos, o
diagnóstico de perturbação de compulsão alimentar deve ser
considerado.
• Perturbação depressiva major, com aspetos atípicos. A hiperfagia é
comum na perturbação depressiva major com aspetos atípicos, mas os
indivíduos com esse transtorno não adotam comportamentos
compensatórios indevidos e não exibem a preocupação excessiva com a
forma e o peso corporais característica da bulimia nervosa. Se os
critérios de ambas as perturbações forem satisfeitos, ambos os
diagnósticos devem ser dados.
• Perturbação de personalidade borderline. O comportamento de
compulsão alimentar está incluso no critério de comportamento
impulsivo que faz parte da perturbação de personalidade borderline. Se
os critérios para perturbação de personalidade borderline e bulimia
nervosa forem satisfeitos, então ambos os diagnósticos devem ser
dados.

69
Perturbação de Compulsão Alimentar (Binge-Eating):
• Caracterizado por episódios recorrentes de compulsão alimentar, mas sem jejum,
vómito e uso de laxantes associados.
• Os doentes tendem a sofrer de excesso de peso, com uma longa história de
alimentação falhada e de tentativas de perda de peso.
• Desenvolve-se normalmente no final da adolescência ou no início da vida adulta.
• Prevalência:
• A prevalência na população em geral situa-se entre 1-3%.
• Pode atingir os 30% em indivíduos que procuram tratamento para perda de
peso (Dingemans et al., 2002).
• A maioria dos que sofrem são mulheres, mas a incidência nas mulheres é
apenas 1,5 vezes superior à dos homens (Stice et al., 2000).
• Perturbação de compulsão alimentar no DSM-V:
• Critérios de diagnóstico:
A. Episódios recorrentes de compulsão alimentar. Um episódio de
compulsão alimentar é caracterizado pelos seguintes aspetos:
1. Ingestão, em um período determinado (e.g., dentro de cada período
de duas horas), de uma quantidade de alimento definitivamente
maior do que a maioria das pessoas consumiria no mesmo período
sob circunstâncias semelhantes.
2. Sensação de falta de controle sobre a ingestão durante o episódio
(e.g., sentimento de não conseguir parar de comer ou controlar o
que e o quanto se está ingerindo).
B. Os episódios de compulsão alimentar estão associados a três (ou mais)
dos seguintes aspetos:
1. Comer mais rapidamente do que o normal.
2. Comer até se sentir desconfortavelmente cheio.
3. Comer grandes quantidades de alimento na ausência da sensação
física de fome.
4. Comer sozinho por vergonha do quanto se está comendo.
5. Sentir-se desgostoso de si mesmo, deprimido ou muito culpado em
seguida.
C. Sofrimento marcante em virtude da compulsão alimentar.
D. Os episódios de compulsão alimentar ocorrem, em média, ao menos
uma vez por semana durante três meses.
E. A compulsão alimentar não está associada ao uso recorrente de
comportamento compensatório inapropriado como na bulimia nervosa e
não ocorre exclusivamente durante o curso de bulimia nervosa ou
anorexia nervosa.
• Diagnóstico diferencial:
• Bulimia nervosa. A perturbação de compulsão alimentar tem em
comum com a bulimia nervosa o comer compulsivo recorrente, porém
difere desta última em alguns aspetos fundamentais. Em termos de
apresentação clínica, o comportamento compensatório inapropriado
recorrente (e.g., purgação, exercício excessivo) visto na bulimia nervosa
está ausente na perturbação de compulsão alimentar. Diferentemente de

70
indivíduos com bulimia nervosa, aqueles com perturbação de
compulsão alimentar não costumam exibir restrição dietética marcante
ou mantida voltada para influenciar o peso e a forma corporais entre os
episódios de comer compulsivo. Eles podem, no entanto, relatar
tentativas frequentes de fazer dieta. A perturbação de compulsão
alimentar também difere da bulimia nervosa em termos de resposta ao
tratamento. As taxas de melhora são consistentemente maiores entre
indivíduos com perturbação de compulsão alimentar do que entre
aqueles com bulimia nervosa.
• Perturbação depressiva. Aumento de apetite e ganho de peso estão
incluídos nos critérios para episódio depressivo major e nos
especificadores de aspetos atípicos para perturbação depressiva. O
aumento da ingestão no contexto de um episódio depressivo major pode
ou não estar associado a perda de controle. Se todos os critérios para
ambas as perturbações forem satisfeitos, ambos os diagnósticos podem
ser dados.
• Perturbação de personalidade borderline. A compulsão alimentar está
incluída no critério de comportamento impulsivo que faz parte da
definição da perturbação de personalidade borderline. Se todos os
critérios de ambas as perturbações forem preenchidos, então os dois
diagnósticos devem ser dados.
----------------------------------------------------//----------------------------------------------------
Perturbações do espetro do autismo:
• História da PEA:
• Leo Kanner (1943) “Autistic Disturbances of Affective Contact” →
pedopsiquiatra austríaco radicado nos Estados Unidos da America.
• Descreve 11 casos de crianças com “um isolamento extremo desde o início
da vida e um desejo obsessivo pela preservação das mesmice”.
• Hans Asperger (1944) – pediatra austríaco.
• O que são as PEA?
• As Perturbações do Espetro do Autismo ou Perturbações do Espetro Autista
(PEA) são uma série de perturbações globais do desenvolvimento da criança
caracterizadas por um conjunto de sintomas e provocadas por um problema
a nível neurológico.
• A etiologia das PEA é ainda desconhecida.
• Traduzem-se em alterações na forma de comunicar, interagir, comportar-se
e aprender, podendo as suas capacidades variar desde alterações ligeiras
(“talentoso“, “idiot savent”) ao muito grave.
• A mais comum e conhecida manifestação de PEA é o autismo.
• Primeiros sinais e sintomas:
• As PEA começam antes dos 3 anos e permanecem durante a vida da pessoa,
embora alguns sintomas possam melhorar com o tempo.
• Algumas crianças com PEA mostram sinais de futuros problemas nos
primeiros meses de vida. Noutros casos, os sintomas podem aparecer após
os 24 meses ou mais tardiamente.

71
• Algumas crianças com PEA aparentam ter um desenvolvimento normativo
até aos 18/24 meses de idade e, repentinamente, param de adquirir novas
competências, ou perdem algumas das já adquiridas.
• Vários estudos mostram que entre 33% e 50% dos pais de crianças com
PEA repararam nalgum problema antes do primeiro aniversário, e entre 80 a
90% detetaram problemas antes dos 24 meses de idade.
• Num estudo sobre deteção precoce das PEA realizado em 2005 em Espanha
concluiu-se:
• A família é a primeira a suspeitar que existe um problema.
• A idade média de suspeita situa-se nos 22 meses de idade.
• A primeira consulta é realizada quase quatro meses depois (26 meses).
• Muitas vezes demora mais de um ano a obter o primeiro diagnóstico e
obtém-se um diagnóstico final um ano e meio após o início das
consultas.
• Características do diagnóstico:
• Domínio social: o desenvolvimento social é perturbado, diferente dos
padrões habituais, especialmente o desenvolvimento interpessoal (e.g.
isolamento; ausência de competências sociais; interação de forma estranha,
fora dos padrões habituais).
• Domínio da linguagem e comunicação: a comunicação, tanto verbal como
não verbal é deficiente e desviada doa padrões habituais. A linguagem pode
ter desvios semânticos e pragmáticos (estima-se que cerca de 50% não
desenvolvem linguagem durante toda a vida).
• Domínio do pensamento e do comportamento: rigidez do pensamento e do
comportamento, fraca imaginação social. Comportamentos ritualistas e
obsessivos, dependência em rotinas, e ausência de jogo imaginativo.
• Dificuldades sociais e de comunicação:
• A fim de receber um diagnóstico de Perturbação do Espectro do Autismo,
uma pessoa deve ter os três seguintes défices:
1. Problemas de interação social ou emocional: isso pode incluir a
dificuldade de estabelecer ou manter o vai-e-vem de conversas e
interações, a incapacidade de iniciar uma interação e problemas com a
atenção compartilhada ou partilha de emoções e interesses com os
outros.
2. Problemas graves em manter relações: isso pode envolver uma
completa falta de interesse em outras pessoas, as dificuldades de jogo
simbólico (faz de conta) e se ter atividades sociais apropriadas à idade e
problemas de adaptação a diferentes expectativas sociais.
3. Problemas de comunicação não verbal: o que pode incluir dificuldade
no contato visual, postura, expressões faciais, tom de voz e gestos, bem
como a incapacidade de entender esses sinais não verbais de outras
pessoas.
• Comportamentos repetitivos e restritivos:
• Além disso, o indivíduo deve apresentar pelo menos dois destes
comportamentos:

72
• Apego extremo a rotinas e padrões, e resistência a mudanças nas
rotinas.
• Fala/Discurso ou movimentos repetitivos.
• Interesses intensos e restritivos.
• Dificuldade em integrar informação sensorial, ou forte procura ou
evitamento de estímulos sensoriais.
• Mudanças do DSM-IV para o DSM-V:
• Uma Perturbação, ao invés de cinco em que cada um dos quais tinha um
diagnóstico único:
• Perturbação Autística ou autismo clássico.
• Perturbação de Asperger.
• Perturbação Invasivo do Desenvolvimento – Sem Outra Especificação (
PDD-NOS ).
• Síndrome de Rett.
• Perturbação Desintegrativa da Infância
• Embora a definição de autismo tenha mudado, as características principais
da doença permanecem as mesmas. Uma vez que as pessoas com todos os
níveis de autismo apresentam muitas das mesmas características, mas
variam no grau ao qual eles exibem essas características, os novos critérios
DSM-5 podem refletir melhor que o autismo é um espectro de, ao invés de
um grupo de síndromes distintas.
• Prevalência:
• Há mais rapazes do que raparigas com perturbações do espectro do autismo,
numa proporção de 4 a 5 para 1.
• Estudos recentes relatam grande aumento de incidência (e.g. número de
novos casos por ano) → Maior consciência? Deteção precoce? Mais PEA?
• Para uma população de 10.000 pessoas há 10 pessoas com “autismo
clássico” e 2,5 com “síndrome de Asperger”. Na mesma população há 30
pessoas com perturbações globais do desenvolvimento no espectro do
autismo. Estudos desenvolvidos em Portugal (Oliveira et al., 2006) apontam
para números semelhantes.
• Perturbações do espetro do autismo no DSM-V:
• Critérios de diagnóstico:
A. Défices persistentes na comunicação social e na interação social em
múltiplos contextos, conforme manifestado pelo que segue, atualmente
ou por história prévia (os exemplos são apenas ilustrativos, e não
exaustivos; ver o texto):
1. Défices na reciprocidade socioemocional, variando, por exemplo,
de abordagem social anormal e dificuldade para estabelecer uma
conversa normal a compartilhamento reduzido de interesses,
emoções ou afeto, a dificuldade para iniciar ou responder a
interações sociais.
2. Défices nos comportamentos comunicativos não verbais usados
para interação social, variando, por exemplo, de comunicação
verbal e não verbal pouco integrada a anormalidade no contato
visual e linguagem corporal ou déficits na compreensão e uso

73
gestos, a ausência total de expressões faciais e comunicação não
verbal.
3. Défices para desenvolver, manter e compreender relacionamentos,
variando, por exemplo, de dificuldade em ajustar o comportamento
para se adequar a contextos sociais diversos a dificuldade em
compartilhar brincadeiras imaginativas ou em fazer amigos, a
ausência de interesse por pares.
B. Padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou
atividades, conforme manifestado por pelo menos dois dos seguintes,
atualmente ou por história prévia (os exemplos são apenas ilustrativos,
e não exaustivos; ver o texto):
1. Movimentos motores, uso de objetos ou fala estereotipados ou
repetitivos (e.g., estereotipias motoras simples, alinhar brinquedos
ou girar objetos, ecolalia, frases idiossincráticas).
2. Insistência nas mesmas coisas, adesão inflexível a rotinas ou
padrões ritualizados de comportamento verbal ou não verbal (e.g.,
sofrimento extremo em relação a pequenas mudanças, dificuldades
com transições, padrões rígidos de pensamento, rituais de
saudação, necessidade de fazer o mesmo caminho ou ingerir os
mesmos alimentos diariamente).
3. Interesses fixos e altamente restritos que são anormais em
intensidade ou foco (e.g., forte apego a ou preocupação com
objetos incomuns, interesses excessivamente circunscritos ou
perseverados).
4. Hiper ou hiporreatividade a estímulos sensoriais ou interesse
incomum por aspetos sensoriais do ambiente (e.g., indiferença
aparente a dor/temperatura, reação contrária a sons ou texturas
específicas, cheirar ou tocar objetos de forma excessiva, fascinação
visual por luzes ou movimento).
C. Os sintomas devem estar presentes precocemente no período do
desenvolvimento (mas podem não se tornar plenamente manifestos até
que as demandas sociais excedam as capacidades limitadas ou podem
ser mascarados por estratégias aprendidas mais tarde na vida).
D. Os sintomas causam prejuízo clinicamente significativo no
funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da
vida do indivíduo no presente.
E. Estas perturbações não são melhor explicadas pela deficiência
intelectual (perturbação do desenvolvimento intelectual) ou pelo atraso
do desenvolvimento global. A deficiência intelectual e a perturbação do
espectro do autismo coocorrem frequentemente; para fazer diagnósticos
comórbidos da perturbação do espectro do autismo e da deficiência
intelectual, a comunicação social deve ser inferior à esperada para o
nível geral de desenvolvimento.
• Diagnóstico diferencial:
• Perturbação de hiperatividade e défice de atenção. Anormalidades de
atenção (foco exagerado ou distração fácil) são comuns em pessoas com
perturbação do espectro autista, assim como o é a hiperatividade. Um

74
diagnóstico de Perturbação de hiperatividade e défice de atenção deve
ser considerado quando dificuldades atencionais ou hiperatividade
excedem o tipicamente encontrado em indivíduos de idade mental
comparável.
• Esquizofrenia. Esquizofrenia com início na infância costuma
desenvolver-se após um período de desenvolvimento normal ou quase
normal. Há descrição de um estado prodrómico no qual ocorre prejuízo
social, interesses e crenças atípicos que podem ser confundidos com os
défices sociais encontrados na perturbação do espetro autista.
Alucinações e delírios, características definidoras da esquizofrenia, não
são elementos da perturbação do espetro autista. Os clínicos, entretanto,
devem levar em conta que indivíduos com perturbação do espetro
autista podem ser concretos na interpretação de perguntas sobre
aspetos-chave da esquizofrenia (e.g., "Você ouve vozes quando não há
ninguém por perto?" "Sim [no rádio]").

75

Você também pode gostar