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Volume 5: Gênero,
geração e comunidades
tradicionais
Salvador
2022
Copyright © 2022 – Danilo Uzêda da Cruz
Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida, sejam quais forem os meios
empregados, sem a expressa autorização.
Produção Editorial
Pinaúna Editora
Revisâo
Os organizadores
Elaborado
Elaborado por Vagner
por Odilio Hilario Moreira da
Rodolfo Junior - CRB-8/9949
Silva - CRB-8/9410
Índice para catálogo sistemático:
Índice 1.para catálogo
Políticas públicas sistemático:
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2. Políticas públicas
1. Agricultura 630 364
2. Agricultura 63
Coleção Mundo Rural Contemporâneo na Bahia
Prefácio ....................................................................................................................................27
Guimar Germani
Introdução ....................................................................................................................... 33
Mulheres, gênero e economia solidária: os múltiplos sentidos da justiça
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Poder e empoderamento feminino so múltiplas óticas: breve reflexão sobre o
trabalho da Mulher como promotor da autonomia e empoderamento femini-
no ........................................................................................................................................44
Mulheres, trabalho e poder: o sentido da separação das esferas da vida53
Considerações Finais.................................................................................................. 60
Referências .....................................................................................................................63
Introdução .......................................................................................................................69
De Tabuleiro a Curralinho ........................................................................................ 71
A Casa da Torre, Schindler e a Companhia Inglesa ........................................73
A chegada do arame: o cercamento das terras .................................................76
Adaptação, reordenamento e resistência ...........................................................79
Considerações finais....................................................................................................86
Referências .....................................................................................................................89
Introdução .......................................................................................................................93
A inserção da agricultura familiar baiana em formatos associativos ..97
Rupturas e permanências no ttabalho das agricultoras familiares ..... 101
Deixando de ser coadjuvante para ser protagonista: as mulheres agricultoras
associadas do recôncavo..........................................................................................105
Considerações finais........................................................................................................
115
Referências ...................................................................................................................149
Introdução .....................................................................................................................179
Contextualização da pesquisa ............................................................................... 181
Entre a terra e o rio ....................................................................................................184
Considerações finais..................................................................................................198
Referências ...................................................................................................................200
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Nota da Editora
Carolina Dantas (Pinaúna Editora)
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Apresentação ao Volume 5
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Coleção Mundo Rural Contemporâneo na Bahia - Vol. 5 - Gênero, geração eApresentação
comunidades ao
tradicionais
Volume 5
Referências
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Prefácio
Guimar Germani
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Guimar
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Guiomar Germani
Salvador, outubro de 2022
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Encontros e desencontros:
mulheres nas organizações solidárias
Introdução
1
Em 2005, o primeiro Mapeamento de Economia Solidária no Brasil, realizado pelo
SENAES/SIES, identificou 14.954 Empreendimentos Econômicos Solidários –EES, em
2.274 municípios em todos os estados do país, dos quais 64% dos participantes são
trabalhadores e 36% são mulheres trabalhadoras, responsáveis pelos EES com menor
número de sócios, com menos de 20 integrantes (ATLAS DA ECONOMIA SOLIDÁRIA
NO BRASIL 2005, 2006, P. 12). O segundo mapeamento, realizado pelo SIES, entre
2009 e 2013, registrou 19.708 Empreendimentos de Economia Solidária-EES em 2.713
municípios de diferentes estados brasileiros. Destes, 54.8% operam no meio rural e
72% situam-se na região Nordeste, observando-se a ampliação da participação femi-
nina, constituído por 43,6% mulheres 56,4% homens, perfazendo uma média de 41 ho-
mens e 32 mulheres por EES os quais, integram a maioria das organizações informais
(63,2%). (BRASIL, 2016).
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Encontros e desencontros
Coleção Mundo Rural Contemporâneo na Bahia - Vol. 5 - Gênero, geração e comunidades tradicionais
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Embora iniciada na década de 1990, a organização solidária no Brasil intensifi-
ca-se nos anos 2000, com a ampliação do número de grupos, associações, diferentes
entidades e movimentos sociais. Em 2001, é criado o Fórum Brasileiro de Economia
Solidária, com representações em todos os estados, com o objetivo de discutir os prin-
cípios, as políticas e as pautas do movimento, assim como reforçar seus princípios.
Em 2003, ao ES é reforçada com implantação da Secretaria Nacional de Economia
Solidária – SENAES incorporada ao Ministério do Trabalho e Emprego, do Gover-
no Federal, a partir do que o sistema de ES foi expandido e estruturado nos estados
brasileiros, sendo implantado um Sistema Nacional de Informações – SIES, com um
banco de dados alimentado pelas informações produzidas no 1º e no 2º Mapeamen-
to Nacional dos Empreendimentos de ES (EES), realizados, respectivamente, 2005 e
de 2009 a 3013. (BRASIL, 2016). Em 2019, mediante reforma ministerial, a Secretaria
Nacional de Economia Solidária – SENAES foi extinta e vinculada ao Ministério da
Cidadania, passando a denominar-se Secretaria de Inclusão Produtiva Urbana. Dessa
forma, a ES, até então atrelada às políticas de trabalho foi deslocada para o campo da
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Coleção Mundo Rural Contemporâneo na Bahia - Vol. 5 - Gênero, geração e comunidades desencontros
assistência social, limitado à esfera urbana. Brasil/MP (2015). Ver mais em: Silva, S. P.
(2018c). A política de economia solidária no ciclo orçamentário nacional (2004- 2018):
inserção, expansão e crise de paradigma. (Texto para Discussão, n. 2434), IPEA. 2018.
Disponível em: http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/8929/1/td_2434.pd Ace-
so em 23/04/2022
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Com respeito a ES como uma alternativa ao modelo competitivo de organização do
trabalho de todos contra todos que caracteriza as relações capitalistas, Karl Polanyi
(2000, p.51) refere-se a essas relações como a lógica do “moinho satânico”. Ao analisar
a catastrófica desarticulação produzida pela Revolução Industrial no Sec. XVIII e as
consequências sociais da fé inabalável no progresso econômico, o autor questiona:
que [...] “moinho satânico foi esse que triturou os homens transformando-os em mas-
sa? “[...] qual foi o mecanismo por cujo intermédio foi destruído o antigo tecido social
e tentada, sem sucesso, uma nova integração homem-natureza?”.
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Ver mais à respeito em: FRASER, Nancy. A justiça social na globalização: redistri-
buição, reconhecimento e participação In: Revista Crítica de Ciências Sociais. n. 63.
Out./2002, p. 7-20. Em relação a outras perspectivas de justiça,,à exemplo das “políti-
cas emancipatórias” e “políticas da vida” (Giddens, 1991) ou “políticas universalistas” e
“políticas identitárias” ver citações em Sorj (2004).
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Encontros e desencontros
Coleção Mundo Rural Contemporâneo na Bahia - Vol. 5 - Gênero, geração e comunidades tradicionais
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Os questionamentos sobre o trabalho das mulheres associado aos processos de des-
envolvimento devem-se à pioneira publicação de Ester Boserup, Intitulada Womens’s
Role in Economic Development”, em 1970, considerada um marco na análise sobre o
papel da mulher no desenvolvimento. A autora desafiou os pressupostos da moderni-
zação econômica, evidenciando que as análises e intervenções sob esta ótica, resulta-
vam, em muitos casos, na deterioração das condições de vida das mulheres, afetando
seu status e determinando sua exclusão de atividades produtivas que já praticavam
em suas comunidades. Ver mais em BENERÍA, Lourdes. Desigualdades de clase y de
género y el rol de la mujer en el desarrollo económico: implicaciones teóricas y prác-
ticas. Mientras Tanto, n. 15, p. 91- 111, 1983.
6
No Brasil e globalmente, à partir da década de 1970, são introduzidas e implemen-
tadas de forma decisiva as ideias liberais, como forma de enfrentamento das crises de
acumulação do capital e como meio de impulsionar o capitalismo, via dinamização
da economia de mercado. Desde então, verifica-se uma adesão incondicional ao credo
neoliberal que atribuiu total protagonismo ao mercado como regulador da produção
e distribuição da riqueza, reservando ao Estado o papel subsidiário de garantir as
condições para a reprodução estável do sistema capitalista (estado mínimo). Tais me-
didas crescentemente intensificadas têm resultado no desmonte e mercantilização
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das políticas públicas, notadamente aquelas voltadas à proteção social, além do des-
mantelamento das relações de trabalho, (flexibilização, desemprego e precarização do
trabalho) atingido sobretudo as mulheres e segmentos socialmente mais vulneráveis.
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A partir das formulações de Michel Foucault, entende-se que o poder produz sa-
beres e, através de um conjunto de técnicas impostas à sociedade atua produzindo e
reproduzindo mais poder. Esta concepção de poder não se atém ao aparato estatal e
institucional, compreendendo, pois, relações multidirecionais que não se localizam
em nenhum ponto específico da estrutura social e não é propriedade de ninguém,
espraiando-se e reproduzindo-se por todo o corpo social.
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O poder deve ser analisado como algo que circula, ou melhor, como
algo que só funciona em cadeia. Nunca está localizado aqui ou ali,
nunca está nas mãos de alguns, nunca é apropriado como uma ri-
queza ou um bem. O poder funciona e se exerce em rede. Nas suas
malhas os indivíduos não só circulam, mas estão sempre em posição
de exercer esse poder e de sofrer sua ação, nunca são o alvo inerte ou
consentido do poder, são sempre centros de transmissão [...] (FOU-
CAULT, 2004 p. 193)
8
Foucault encontra na sua genealogia do poder – entendida como abordagem histó-
rica do poder – o elemento explicativo da produção dos saberes. A concepção de poder
em Foucault tem origem em Nietzsche (1844-1900) onde o poder é visto como uma
atividade individual do homem e vincula-se à ideia de força e potência. Aqui o termo
força não é sinônimo de violência, assim como a ideia de potência não está associada
à opressão, ao contrário, está associada à ideia de libertação, donde vem a possibilida-
de de resistência. (DREYFUS; RABINOV, 2013)
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Cabe lembrar que as necessidades práticas das mulheres se incluem “formalmente”
nas leis universalistas previstas na Constituição Brasileira que garantem um conjun-
to de medidas e serviços essenciais básicos necessários a um adequado nível de vida a
todo cidadão e cidadã brasileira (trabalho, educação, saúde, segurança etc.).
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Esta realidade é atual e recorrente, como indica a pesquisa, realizada pelo IPEA com
base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), no período de
2001/2015. As análises revelam que neste período, além do trabalho profissional, no
espaço público, a participação das mulheres no domicílio é substancialmente maior
que a dos homens, tanto nos afazeres domésticos, quanto na categoria cuidados. A
proporção de mulheres que realizam afazeres domésticos ficou acima de 91%, já en-
tre os homens, ela variou de 45% em 2001 para 55% em 2015. Análises mais recentes
de 2016/2017 mostram que a participação das mulheres nos afazeres domésticos é
de a 94%, enquanto para os homens é 79%. As mulheres dedicam 40% do seu tempo
aos cuidados, contra 28% dos homens. A maior diferença entre os sexos (37 pontos
percentuais) relativa às atividades domésticas aparece em tarefas que envolvem pre-
parar, servir alimentos, lavar louças e cuidar da limpeza e manutenção de vestuário:
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[...] “as relações sociais de sexo têm uma base material (a divisão
sexual do trabalho) embora tenham, também, uma base ideativa:
qualquer poder, dizia Foucault, precisa de um saber; neste caso, o
naturalismo serve de ideologia de legitimação, de “doxa de sexo”.
Elas podem ser periodizadas, fazem a História assim como as outras
relações sociais. Essas relações sociais se fundamentam primeiro, e
antes de mais nada, sobre uma relação hierárquica entre os sexos;
trata-se mesmo de uma relação de poder, de uma relação de “classe”
- e não de um simples princípio de “classificação”. (KERGOAT, 2002,
p. 51)
12
Quirino (2015) lembra que a opressão e a exploração são conceitos distintos, ori-
ginados em diferentes tradições teóricas: A opressão, atitude de se aproveitar das
diferenças que existem entre os seres humanos para colocar uns em desvantagem em
relação aos outros, gera uma situação de desigualdade de direitos, de discriminação
social, cultural e econômica. A exploração, por sua vez, é um fato econômico assenta-
do sobre a submissão de um ser humano ao outro e dá origem à divisão da sociedade
em classes.
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Cabe aqui atentar que os conceitos “sexo social” e ”relações sociais de sexo”, referi-
dos por algumas autoras vinculam-se a uma tradição francófona, enquanto no Brasil
predomina a utilização do conceito “Gênero”, termo de origem anglo-saxônica para
indicar relações sociais entre homem e mulher.
14
A interseccionalidade constitui-se igualmente uma estratégia analítica feminista
eficaz que permite apreender o entrelaçamento das dimensões de classe, gênero e
raça e a apreensão dos seus efeitos na vida das mulheres. Ver mais em CRENSHAW,
Kimberlé. Documento para o encontro de especialistas em aspectos da discriminação
racial relativos ao gênero. Estudos Feministas, Florianópolis, v. 10, n. 01, 2002.
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À respeito dos questionamentos sobre a economia neoclássica e a reconceituação do
trabalho na perspectiva feminista, ver as formulações de Cristina Carrasco, Antone-
lla Picchio, Amaia Orosco, além das contribuições de Renata Moreno, Mírian Nobre,
Nalu Farias, entre outras integrantes da “Sempre Viva Organização Feminista-SOF,
organização que tem se notabilizado pela sua prática teórica e política, interpelando
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Considerações Finais
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Ver, por exemplo, a Carta de Princípios (proposta pelo Forum Brasileiro de Econo-
mia Solidária- FBES) que embora mencione as mulheres, mantem um enfoque produ-
tivista ao longo do texto. Disponível em: https://fbes.org.br/2005/05/02/carta-de-prin-
cipios-da-economia-solidaria/ Acesso em 23/04/2022.
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Referências
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FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. 23. ed. São Paulo: Graal, 2004.
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SORJ, Bila. Trabalho, Gênero e Família: quais políticas sociais?. In: GO-
DINHO, Tatau; SILVEIRA, Maria Lúcia da. (Orgs.). Políticas Públicas
e Igualdade de Gênero. São Paulo: Coordenadoria Especial da Mulher,
2004, p. 143-148.
SOUZA LOBO, Elisabeth. A Classe operária tem dois sexos. São Paulo:
Brasiliense, 1991.
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Introdução
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Este trabalho deriva da tese de doutoramento “Esse mundo era todo nosso”: fluxos
migratórios e memória coletiva em uma comunidade rural do Litoral Norte da Bahia,
defendida em 2016, por meio do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da
Universidade Federal da Bahia.
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As Sesmarias eram extensas áreas de terra destinadas pela Coroa Portuguesa a
quem se comprometesse a ocupa-la e cultiva-la. Quem a recebia pagava uma pensão
ao estado, em geral constituída pela sexta parte do rendimento através dele obtido.
Estas foram oficialmente extintas em 1812. (FERREIRA, 2010)
No
sentido dado por Norbert Elias (2000).
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chegada do arame farpado
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De Tabuleiro a Curralinho
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No sentido dado por Norbert Elias (2000).
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Mata de São João localiza-se a 59 km da cidade de Salvador, capital do estado da
Bahia e tem como principal atividade econômica o turismo.
5
Este trabalho teve financiamento por meio de uma bolsa de doutorado da Fundação
de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB) e de uma bolsa de doutorado san-
duíche, aprovado pelo convênio de cooperação internacional firmado entre a Coorde-
nação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e o Comité Français
d’Évaluation de la Coopération Universitaire et Scientifique avec lê Brésil (COFECUB),
executado durante o período de 2013-2014 na Université de Strasbourg-France.
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Conhecida atualmente como Estrada do Curralinho/São José do Avena, era o basilar
ponto de ligação entre as comunidades locais (Curralinho, Areal, Santo Antônio, São
José do Avena, Porto de Sauípe, Tancreiras etc.), e no acesso aos municípios de Entre
Rios, Alagoinhas e Itanagra.
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Attalea funifera Martius ou piaçava é uma espécie endêmica da Mata Atlântica,
abundante nas florestas de restinga da região litorânea do estado da Bahia, a sua prin-
cipal área de ocorrência. Suas fibras são utilizadas para a fabricação de vassouras,
artesanatos, cobertura de casas etc. (VINHA; SILVA. 1998).
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O período de Schindler é bastante confundido pela população local com o mesmo
período de Reginaldo Fenton, responsável pela Companhia Inglesa, não obstante se-
jam temporalmente distintos e tratem-se de personagens diferentes.
9
O coco-da-baía é originário do sudeste da Ásia e foi introduzido no Brasil através
do estado da Bahia (daí a denominação de coco-da-baía), disseminando-se pelo litoral
nordestino, região atualmente responsável por 90% da produção nacional
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O Sr. Genésio Tolentino de Jesus era conhecido como uma pessoa bem letrada, in-
formada e influente na região. Por este motivo, tornou-se empregado da Companhia
Inglesa, e por sua fidelidade e integridade moral foi designado como uma espécie de
gerente da Companhia (STILFEMAN, 1997).
11
A Organização Odebrecht possui origem brasileira, mas tem inserção global, com
negócios diversificados e estrutura descentralizada, atuando nos setores de engenha-
ria, construção civil, indústria, infraestrutura e energia. Disponível em: http://odebre-
cht.com/pt-br/organizacao-odebrecht/sobre-a-organizacao Acesso em: 30 mar. 2016.
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Estratégia comum que gera imensas contradições e impactos na sociabilidade local,
como analisa José de Souza Martins em sua obra “Fronteiras: a degradação do outro
nos confins do humano” (1997)
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Denominada “estrada cicatriz” (CARDEL, 2018)
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seja por meio das recordações e das reminiscências dos mais velhos
– do processo histórico de ocupação centenária da terra. Em suma,
no quadro de referência do grupo está estabelecido os principais cri-
térios de pertencimento social que estabelece os elementos identi-
tários do “ser de dentro” e “ser de fora”. Os primeiros, portanto, estão
ligados por relações de parentesco, compadrio e vizinhança, elemen-
tos-chave que acionam o pertencimento a um território muito mais
amplo do que existe atualmente.
Havia também entre Curralinho e as comunidades vizinhas um
sistema de câmbio, firmado nas relações de reciprocidade, solidarie-
dade e confiança. (MAUSS, 1974) Mantinha-se a rotatividade, a fartu-
ra e a diversificação dos produtos trocados, os quais asseguravam a
subsistência das famílias. No entanto, o que se verifica atualmente
é que a redução das áreas de roçados acarretou uma ruptura consi-
derável por parte destes processos e, consequentemente, houve um
arrefecimento na produção da policultura dos grupos domésticos,
que já não possuem quintais e roças com espaço de cultivo suficiente.
O sistema de trocas também foi afetado e hoje acontece com menos
frequência ou, mesmo, não acontece.
O significado e utilidade da terra para o grupo ultrapassam sua
finalidade em si mesma, transcendendo a matéria e alcançando uma
dimensão maior: a da territorialidade como legado imaterial. Como
tal, possui um valor ético que expressa a moralidade das relações
simbólicas e sociais da convivência instituída entre as famílias, cons-
tituindo-se em uma dádiva, isto é, em um bem de valor simbólico,
responsável pela manutenção do imaginário social local.
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Tanto Antônio Cândido (2017) como John Bellamy Foster (1999) dialogam com este
conceito marxista que nos ajuda, no sentido epistemológico, compreender as dinâmi-
cas entre o trabalho camponês e os bens de natureza.
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Considerações finais
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tradicionais
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tradicionais
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Cardel - Ubiraneila Capinan Barbosa - Danilo Uzêda da Cruz
técnica, enquanto 8.814 (81%) não recebem. Esses dados não destoam
da totalidade da agricultura familiar do Recôncavo, que apresenta
um percentual maior ainda dos que não têm acesso à assistência
técnica, 90%, o que equivale a 23.422 estabelecimentos que não têm
acesso ao serviço de ATER. A incipiência desse serviço pode ser uma
das razões de o Censo ter captado somente 6.499 estabelecimentos
identificados como da agricultura familiar possuidores da Decla-
ração de Aptidão ao Pronaf (DAP).
O quadro descrito até então possibilita vislumbrar as dificulda-
des enfrentadas para inserir os produtos familiares no mercado, in-
clusive das agricultoras que estão em formatos associativos, contan-
do também com pouca assistência técnica. Não obstante, a tabela 2
apresenta a finalidade de toda a produção da agricultura familiar do
Recôncavo.
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Maria daSoares
Pires Conceição
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Pires Conceição
Cardel - Ubiraneila Capinan Barbosa - Danilo Uzêda da Cruz
das famílias rurais. Dos 2.856 que estão em associações e dos 589
em cooperativas no Recôncavo, 69% e 76%, de modo recíproco, afir-
maram que os rendimentos oriundos das atividades dos estabeleci-
mentos são maiores do que a renda obtida das atividades em outros
espaços. Considerando que neste universo estão mulheres negras
agricultoras, entendemos que, em alguma medida, a inserção em for-
matos associativos na agricultura familiar está contribuindo para
diversificar os canais de comercialização e ampliar o horizonte da-
quelas que se reproduzem do trabalho realizado no âmbito familiar,
mas, ainda assim, são invisibilizadas e não têm reconhecida sua luta
para romper com a condição de pobreza que caracteriza as comuni-
dades rurais do Território do Recôncavo e do estado da Bahia.
Considerações finais
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Visibilizar para
Coleção Mundo Rural Contemporâneo na Bahia - Vol. 5 - Gênero, geração e comunidades reconhecer
tradicionais
Referências
ANJOS, E.; ROCHA, A. G.; FERREIRA, V.; LIMA, C. Caracterização dos agri-
cultores familiares associados da Bahia baseada no Censo Agropecuário
de 2017. Apresentação de trabalho. In:IV Simpósio de Pesquisas e Expe-
riências em Agricultura Familiar durante a 11ª Feira Baiana da Agricul-
tura Familiar e Economia Solidária – FEBAFES, Salvador, 2020.
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Novaes e Dilma
Schefler - Lídiade Souza
Maria daSoares
Pires Conceição
Cardel - Ubiraneila Capinan Barbosa - Danilo Uzêda da Cruz
SILVA, Edna M.; REIS, Lívia L. M.; COUTO, Vitor A. Agricultura familiar
na Bahia: uma análise dos dados do censo agropecuário 2017. Revista
Econômica do Nordeste, v. 51, p. 211-226, 2020.
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Coleção Mundo Rural Contemporâneo na Bahia - Vol. 5 - Gênero, geração e comunidades tradicionais
Mulheres de fibra:
da invisibilidade ao empoderamento em assenta-
mentos de reforma agrária
Introdução
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Mulheres
Coleção Mundo Rural Contemporâneo na Bahia - Vol. 5 - Gênero, geração e comunidades de fibra
tradicionais
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Mulheres
Coleção Mundo Rural Contemporâneo na Bahia - Vol. 5 - Gênero, geração e comunidades de fibra
tradicionais
1
Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura no Estado da Bahia.
FETAG-BA. Fundada e 1963.
2
O Movimento de Organização Comunitária - MOC. Em funcionamento desde outu-
bro de 1967.
3
Fundação de Apoio à Agricultura Familiar do Semiárido da Bahia – FATERS em fun-
cionamento desde 1996.
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Maria da Cunha
de Lourdes Novaes Araújo
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Nilson Weisheimer
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tradicionais
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Maria da Cunha
de Lourdes Novaes Araújo
Schefler e- Lídia
Nilson Weisheimer
Maria Pires Soares Cardel - Ubiraneila Capinan Barbosa - Danilo Uzêda da Cruz
4
O termo griô tem origem nos músicos, genealogistas, poetas e comunicadores so-
ciais, mediadores da transmissão oral, bibliotecas vivas de todas as histórias, os sa-
beres e fazeres da tradição, sábios que representam nações, famílias e grupos de um
universo cultural fundado na oralidade da África.
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Coleção Mundo Rural Contemporâneo na Bahia - Vol. 5 - Gênero, geração e comunidades de fibra
tradicionais
O PRONAF trata-se de uma linha especial que teve seu acesso facili-
tado através da garantia de uma operação a mais por família, inde-
pendente do crédito que tenha sido contratado pelo grupo familiar.
Através desse crédito podem ser financiados atividades agrícolas e
não-agrícolas iguais ou distintas daquelas que vem sendo pratica-
das pelas unidades familiares que a elas integram. Este crédito pode
ser acessado de maneira individual ou coletiva. [...] Com a criação do
PRONAF como linha especifica houve uma melhoria na distribuição
regional dos contratos (MDA, 2006, p. 110).
Eu hoje não sou mais mulher que antes, mas posso dizer que tenho a
“minha vida”. Mando e desmando em mim (risos), sou mãe, mulher
assentada e agricultora, meu marido teve que aprender que posso
construir a minha história, e o meu livro está lançado. A gente mul-
her tem que lutar pelos direitos, e meu companheiro Isael me apoia,
antes reclamava. Hoje tenho mais autonomia. A seca não deixa col-
her muito, mas temos o ovo da galinha, a criação de animal... Tudo
isso ajuda a gente na roça, o que sobra a gente vende, quando não dá
para vender a gente come.
Resposta:
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Mulheres
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Considerações finais
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tradicionais
Referências
HEREDIA, Beatriz M. A.; GARCIA, Maria F.; GARCIA JR. Afrânio. O lu-
gar das mulheres em unidades domésticas camponesas. (p. 29-44) In:
AGUIAR, Neuma (coord.) Mulheres na Força de Trabalho na América
Latina: Análises Qualitativas. Petrópolis: Vozes, 1984.
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de Lourdes Novaes Araújo
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Nilson Weisheimer
Maria Pires Soares Cardel - Ubiraneila Capinan Barbosa - Danilo Uzêda da Cruz
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Ao mundo se lançam
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Maria Nascimento
de Lourdes Novaes Sobreira
Schefler - Lídia Maria Pires Soares Cardel - Ubiraneila Capinan Barbosa - Danilo Uzêda da Cruz
Igualdades, direitos
Trazendo às cidades
Porque são!
Trabalhadoras rurais
(FERNANDES, 2012)
Introdução
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de Lourdes Novaes Sobreira
Schefler - Lídia Maria Pires Soares Cardel - Ubiraneila Capinan Barbosa - Danilo Uzêda da Cruz
1
Disponível em: <http://transformatoriomargaridas.org.br/?page_id=243>. Acesso
em: 10 nov. 2018.
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A Marcha das
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2
Disponível em: <http://transformatoriomargaridas.org.br/?page_id=243>. Acesso
em: 10 nov. 2018
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Fontes Documentais
CONTAG. Texto base para debates – Marcha das Margaridas: 2003 razões
para marchar. Brasília-DF, 2003a.
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Schefler - Lídia Maria Pires Soares Cardel - Ubiraneila Capinan Barbosa - Danilo Uzêda da Cruz
Referências
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A Marcha das
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tradicionais
PINTO, Zé. Participando sem medo de ser mulher. [s/d]. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=MX_56CQKibc>. Acesso em: 13
jun. 2020.
SILVA, Maria Claudia Ferreira da. Marcha das Margaridas. Rio de Janei-
ro: Aeroplano, 2014.
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Introdução
1
Ao longo de décadas as mulheres rurais organizadas em movimentos sociais têm
emergido enquanto agentes políticas no combate à invisibilização da mulher do cam-
po como trabalhadora. Desde a década de 1980 diversas ações e movimentos foram
organizados na luta por acesso a direitos sociais (HEREDIA, 2006). A principal pauta
na origem dos movimentos de mulheres trabalhadoras rurais era o reconhecimento
da profissão de agricultora (e não como doméstica, visando quebrar a invisibilidade
produtiva do trabalho da mulher na agricultura); a luta por direitos sociais, especial-
mente o direito à aposentadoria e ao salário ma¬ternidade; o direito à sindicalização;
e questões relacionadas com a saúde da mulher. Também se tornou notória a bandei-
ra da Reforma Agrária e sua incorporação a reivindicações com especificidades de
gênero (HEREDIA, 2006).
2
Esse texto é fruto de pesquisa de campo e trabalho monográfico escrito em 2009,
posteriormente publicado na Coleção Monográficas da Editora Segundo Selo (VIANA,
2020).
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Mulheres tradicionais
Coleção Mundo Rural Contemporâneo na Bahia - Vol. 5 - Gênero, geração e comunidades em Pau D’arco
Contextualização da pesquisa
estudo proposto, com uma permanência que variava entre dois e seis
dias. O desenvolvimento metodológico partiu da pesquisa qualitati-
va, por meio de estudo de caso, com variadas técnicas de coleta de
dados, como pesquisa bibliográfica, observação participante, entre-
vistas semiestruturadas e abertas.
O município de Barra está situado no noroeste do estado da Bahia,
entre o privilegiado encontro do Rio Grande com o Rio São Francis-
co – importantes rios da região, tanto econômica como socialmente.
Barra, assim como toda a região do Médio São Francisco (MSF),
teve também sua história intimamente relacionada à concentração
de terras. Os conflitos sempre foram constantes na região3, com o
elemento do coronelismo marcando a história local por muito tem-
po. Os fenômenos relacionados ao mandonismo e à violência estão
diretamente associados à concentração da posse da terra (GERMA-
NI, 2006).
Um aspecto relevante que envolve o tema proposto nesse trabal-
ho se dá em torno da desigualdade na distribuição de terra. Barra
é um dos maiores municípios em extensão da região do Médio São
Francisco e do estado da Bahia, e possui a maior relação de concen-
tração de terras. Localizando-se em um território historicamente
marcado pela disputa fundiária entre grandes proprietários, Barra
possui o maior índice de Gini da região do Médio São Francisco, com
um número de 0,9594.
A concentração fundiária é assunto fundamental para se visuali-
zar como distintos grupos sociais, que dependem essencialmente de
3
O documentário “O massacre da Lagoa da serra”, dirigido por Juvenal Neves de
Souza, explicita bem essa situação de conflitos de terra na região. Mostra a contenda
da comunidade de Lagoa da serra entre donos de terras e grileiros no Vale do São
Francisco, Oeste da Bahia, em 1972. Os posseiros da Fazenda Lagoa da Serra sofriam
pressão dos grileiros para abandonar suas terras. O conflito terminou com a queima
de todos os casebres e a expulsão das famílias. O filme mostra mais um conflito de
terra que termina impune; até hoje o massacre não foi julgado.
4
O Índice de Gini é usado em todo o mundo para calcular a concentração de terras,
servindo também para o cálculo de renda. Quanto mais próxima de um, maior é a
concentração de terras.
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Mulheres tradicionais
Coleção Mundo Rural Contemporâneo na Bahia - Vol. 5 - Gênero, geração e comunidades em Pau D’arco
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Ilhas são trechos de terra situados no rio São Francisco, lugares usados pelas comu-
nidades para desenvolvimento da agricultura em alguns períodos.
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Greice
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Tabebuia avellanedae, também conhecida como Ipê Amarelo.
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7
Período em que a pesca é proibida.
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8
A comunidade possui mais outras duas associações: A Associação de moradores,
que no momento da pesquisa estava inativa, e a Associação de Apicultores de Barra
(APIBA), criada com incentivo da EBDA para a produção de mel, mas a associação de
mulheres é a mais representativa.
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Greice
Maria BezerraNovaes
de Lourdes VianaSchefler - Lídia Maria Pires Soares Cardel - Ubiraneila Capinan Barbosa - Danilo Uzêda da Cruz
Quando o rio está cheio e não se pode plantar nas roças de ilha e de
beira de rio, esses espaços estão passando por um período de descan-
so. É aí que se atua na roça de caatinga, quando o nível da água do rio
é reduzido. É o momento do plantio, da fertilidade que a água do rio
trouxe sobre as terras. É também o momento da pesca e do pescado.
Mesmo sendo uma comunidade ligada essencialmente à agricul-
tura e apresentando uma ligação com um modo de vida camponês, a
pesca também tem seu destaque. Essa atividade é mais uma atuação
que contribui para a reprodução social das famílias.
A pesca é identificada como masculina. Praticamente todos os
homens da comunidade pescam e têm sua identidade mais forte
enquanto pescadores, mesmos que trabalhem em certos momentos
com a lida da terra e em outras ocupações.
Os pescadores de Pau D’arco são associados à colônia de pesca-
dores de Barra e vendem o peixe, quando se tem em boa quantida-
de, na própria comunidade, para interessados e atravessadores. No
caso das mulheres, apenas cinco exercem essa atividade de forma
frequente, possuindo inclusive vínculo com a colônia. Algumas ou-
tras realizam a atividade de forma mais esporádica. Contudo, mes-
mo para essas mulheres, quando o assunto é a comercialização, esta
é realizada por seus maridos, o que demarca um espaço de atividade
eminentemente masculino. Outra demonstração disso é que a pesca,
geralmente quando realizada por mulheres, é sempre feita em com-
panhia dos seus maridos:
Para as mulheres que não pescam, sua ligação com essa atividade
se dá em torno do trato do peixe e, em alguns momentos, com o ato
de tecer as redes utilizadas por seus maridos e filhos.
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Programas vigentes no período realização da pesquisa de campo.
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Moradora 3
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A mulher sempre trabalhava mais em casa; o valor que ela tinha era
só dentro de casa. Mas na roça, não. E hoje mudou porque, tanto faz,
ser em casa como na roça, ela tem o mesmo valor, tem o valor da roça
e tem o valor de casa. (Moradora 4)
Considerações finais
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Mulheres tradicionais
Coleção Mundo Rural Contemporâneo na Bahia - Vol. 5 - Gênero, geração e comunidades em Pau D’arco
Referências
ALMEIDA, Alfredo Wagner Berno de. Terras de preto, terras de santo, te-
rras de índio uso comum e conflito. In: ALMEIDA, Alfredo Wagner Berno
de. Terras tradicional¬mente ocupadas. Manaus: PPGSCA-UFAM, 2006,
p. 101-126.
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tradicionais
Nós, mulheres do MST vivemos pelo menos três fases distintas nesses
36 anos. A primeira fase ainda lá no início do MST no final da década
de 70 e oficialmente em 84 quando o MST é fundado. Nesse período,
as mulheres viveu a fase da invisibilidade. Mesmo o MST compreen-
dendo que a luta não é só do companheiro, que a luta é da família.
Mas nós mulheres não eram reconhecidas, não eram vistas dentro
desse processo pela sua capacidade política de fazer esse movimento
acontecer [...]. Uma segunda fase - fase de participação das mulheres,
participação, reconhecimento e importância das mulheres poderem
estar em espaços de decisões e poder estar participando ativamente
das lutas. E um terceiro momento que estamos vivenciando de um
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1
Fala colhida durante a realização da mesa: “Mulheres construindo a Resistência Ati-
va” durante o I Encontro Nacional de Mulheres Sem Terra – 05 a 09 de março de 2020
– Brasília, DF.
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2
Fala de Itelvina Maria Mazioli colhida durante o I Encontro Nacional das Mulheres
Sem Terra realizado em março de 2020. Todas as citações de Mazioli nesta sessão
estão vinculadas a esse momento.
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dos filhos delas. Então e ninguém cuida dos nossos filhos, ou seja,
no nosso feminismo precisa ter o componente do choro, da agonia
das visitas nos presídios, é do choro pra os nossos camaradas presos
injustamente nos processos de luta. [...] Então [...] a gente começou
primeiro questionando (companheiras do MST)"esse negócio de fe-
minismo não é pra nós não. Ah, quieta com isso, muito radical!"),
que aí quando pau, pau, pau nos homens a gente começa a entender
(companheiras do MST)" não, se a gente fizer assim nós estamos só lá
no meio da roça"), aí a gente começou a sentir que não estava dando,
não era ali pra nós, ou uma hora a gente passava a não entender o
que estava sendo dito, o que estava sendo debatido, não conseguin-
do participar, então virava também um espaço de constrangimento.
E a gente que já tímida, então a gente ao invés de ir pra os espaços
fazer debate de feminismo e se sentir empoderada e se sentir uma
mulher mais livre a gente voltava entendendo que (companheiras do
MST)"Isso não é para nós. Ah, isso não é coisa pra mulher da roça,
mulher sem-terra, não"). [...] (Entrevista com Liu, 03/02/20).
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e comunidades na Bahia
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3
Aliada a essa percepção Cinzia ARRUZZA, Tithi BHATTACHARYA e Nancy FRASER
ressaltam que esse “[...] feminismo propõe uma visão igualmente baseada no merca-
do, que se harmoniza perfeitamente com o entusiasmo corporativo vigente pela “di-
versidade”. Embora condene a “discriminação” e defenda a “liberdade de escolha”,
o feminismo liberal se recusa firmemente a tratar das restrições socioeconômicas
que tornam a liberdade e o empoderamento impossíveis para uma ampla maioria
de mulheres. Seu verdadeiro objetivo não é a igualdade, mas a meritocracia. Em vez
de buscar abolir a hierarquia social, visa a “diversificá-la”, “empoderando” mulheres
“talentosas” para ascender ao topo. Ao tratar as mulheres como grupo sub-represen-
tado, suas proponentes buscam garantir que algumas poucas almas privilegiadas al-
cancem cargos e salários iguais aos dos homens de sua própria classe. Por definição,
as principais beneficiárias são aquelas que já contam com consideráveis vantagens
sociais, culturais e econômicas. Todas as demais permanecem no porão” (ARRUZZA,
BHATTACHARYA, FRASER, 2019, p. 37-38, grifos nossos).
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Com esse intuito, a questão a ser respondida era: “Como é que nós
mulheres do MST ou mulheres camponesas podemos debater femi-
nismo ou construir concepção sobre feminismo, a partir da nossa vi-
vência, da nossa atuação, do que é ser mulher do campo, agricultora
rural?” (Entrevista com Beth, 30/01/20). A partir desse questionamen-
to, veio junto a compreensão que sem feminismo não há revolução e
que era preciso ressignificar e reivindicar suas lutas cotidianas con-
tra o patriarcado capitalista e o agronegócio como pautas feministas.
Esse “despertar” foi potencializado por um debate político interno de
mudança estrutural que ganhou força a partir dos anos 2000. Para
Gema Esmeraldo (2010), esse processo gerou uma nova força política
no interior do MST: a força feminina. Beth descreve resumidamente
esse período:
[...] nós entendemos que nós somos mulheres, Sem Terra, então, da
roça, então nós queremos que o feminismo nos caiba e se ninguém
fez esse feminismo até agora então nós queremos debater o feminis-
mo que nos cabe, porque nós entendemos que o feminismo é, assim
como todos os outros espaços, a gente precisa colocar nele as nossas
cores, os nossos amores, os nossos sentimentos, os nossos pensamen-
tos, as nossas palavras. Palavras por vezes muito, muito comum, mas
carregadas da nossa vivência e da nossa experiência. Então, e isso
também nos obrigou a ir também para um lugar, que é o lugar de
escutar e valorizar o saber popular, porque aí nós já tínhamos as sis-
4
O Movimento de Mulheres Camponesas (MMC) é uma importante referência para
pensar e propor o Feminismo Camponês e Popular.
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Feminismo
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e comunidades na Bahia
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Esse lugar que lhes cabe, que lhes fornece acolhimento e pertenci-
mento está sendo gestado como instrumento de resistência e luta dos
povos a partir de “um feminismo das trabalhadoras, portanto, um
Feminismo Combativo e Revolucionário” (MAZIOLI, 2020). Assim, o
Feminismo Camponês e Popular acredita que a “igualdade substan-
tiva, plena, nas relações de gênero não é possível de ser alcançada in-
teiramente nos marcos do capital” (SETOR DE GÊNERO, 2015, p. 3) e,
por isso, a luta é “pela destruição de todas as formas de dominação e
de exploração deste nefasto modelo” (SETOR DE GÊNERO, 2015, p. 3).
Nesse caminhar, essas mulheres foram/estão construindo uma
consciência feminista e compreendem que o feminismo é um Mo-
vimento político das mulheres que abriu caminho para o reconheci-
mento e conquistas de direitos historicamente negados. Ao explicar
o caráter popular e camponês desse feminismo e sua vinculação com
a reforma agrária popular, Liu traz a seguinte abordagem:
[...] nós temos esse entendimento de que se a gente não cuidar a gen-
te faz o feminismo para uma categoria e nós não queremos que ele
seja só camponês. Então, porque nós identificamos que tem os femi-
nismos mais acadêmico, [...] alguns movimentos feministas já falam
que tem o feminismo branco e tal, nós queremos um feminismo que
caiba a diversidade. E nós não estamos falando, fazendo isso, é, de
maneira desrespeitosa é porque nós queremos deixar nesse popular
de que pode e precisa ser esse, esse fazer a todas as mãos, pra gente
ter um feminismo que realmente nos liberte. Porque então a gente
quer discutir, nós não queremos falar só da liberdade das mulheres
e não falar da liberdade da terra, nós não queremos falar só da liber-
dade das mulheres e não falar da liberdade dos modos de produção,
meios de produção, então, queremos falar sobre tudo. Então por isso
precisa ser popular, quando nós estamos demarcando o camponês
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Mainara
Maria MizziNovaes
de Lourdes RochaSchefler
Frota e- Lídia
Clóvis Roberto
Maria Zimmermann
Pires Soares Cardel - Ubiraneila Capinan Barbosa - Danilo Uzêda da Cruz
[...] nós estamos dizendo que [...] já tem esse componente, nós esta-
mos nos propondo no componente camponês, mas que é aberto para
essa construção popular, para essa construção coletiva, que dialoga
com a reforma agrária popular? Dialoga. Porque também a reforma
agrária popular nos ajuda a fortalecer essa ideia de que precisava ser
camponês e popular, né? Porque é exatamente onde chega à reforma
agrária popular chega o feminismo camponês e popular. Porque [...]
essa reforma agrária popular é construída por nós também, então,
mas também nós estamos colocando isso porque nós temos também
no campo as/as comunidades indígenas que tem as suas especifici-
dades e que nós não estamos nós mulheres Sem Terra, é, então aí eu
falo aqui do lugar que eu piso, né? [...] É o meu lugar de fala falar em
nome das mulheres negras, é, é sim. Então, mas não termina nisso,
as mulheres negras que tem no movimento, porque nós temos o povo
quilombola, as mulheres quilombolas que tem todo o direito de falar
desse feminismo, então, acaba que a gente, quando a gente coloca o
popular é pra gente não pegar uma, eh::, uma bandeira no meio do
negócio que é um todo a gente pegar uma faixa e sair, a gente não
quer construir uma faixa dentro do feminismo, a gente quer apre-
sentar uma proposta dentro de feminismo que caiba as mulheres
que lutam por uma sociedade justa, [...] que caibam as mulheres que
questionam todas as propriedades, que querem coletivizar os bens
[...] (Entrevista com Liu, 03/02/20).
Uma coisa que a gente tá ensaiando fazer o debate é que nós estamos
entendendo que debater o feminismo significa debater junto a ques-
tão do racismo, mas aí já entra no outro processo porque as primei-
ras mulheres Sem Terra que elaboram não necessariamente são mul-
heres pretas. Mas já são companheiras que tenham uma percepção
sobre isso e que entende que é necessário. [...] então assim, já começa-
mos a pensar que não basta a gente debater só um, porque o racismo
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Feminismo
Coleção Mundo Rural Contemporâneo na Bahia - Vol. 5 - Gênero, geraçãocamponês e popular
e comunidades na Bahia
tradicionais
Considerações finais
Referências
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Feminismo
Coleção Mundo Rural Contemporâneo na Bahia - Vol. 5 - Gênero, geraçãocamponês e popular
e comunidades na Bahia
tradicionais
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Mainara
Maria MizziNovaes
de Lourdes RochaSchefler
Frota e- Lídia
Clóvis Roberto
Maria Zimmermann
Pires Soares Cardel - Ubiraneila Capinan Barbosa - Danilo Uzêda da Cruz
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Coleção Mundo Rural Contemporâneo na Bahia - Vol. 5 - Gênero, geração e comunidades tradicionais
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Maria de Lourdes Novaes Schefler - Lídia Maria Pires Soares Cardel - Ubiraneila Capinan Barbosa - Danilo Uzêda da Cruz
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