Você está na página 1de 77

Psicologia Clínica

1. Introdução à Psicologia Clínica


A expressão “psicologia clínica” surge em 1892, por Lightner Witmer, na Universidade
de Leipziz.
Aparece com uma forma diferente e de forma mais internacionalmente aceite numa
reunião anual da APA: “the clinical method in psychology and the diagnostic method of
teaching” (Garfield, 1965).
A expressão “clínico” deriva do latim clinicus, e em grego klinicos refere-se ao
individuo que “visita o doente na cama”.
A psicologia clínica desenvolveu-se e adquiriu notoriedade após a 2ª Guerra Mundial,
existindo um corpo teórico do que era a psicologia clínica. Isto ocorre porque apareceu
a necessidade de cuidar dos combatentes e de cidadãos traumatizados devido à guerra.
Deste modo, a psicologia clínica teve uma importante contribuição para a resolução dos
problemas das vitimas da guerra (EUA e Europa), nomeadamente no que diz respeito às
perturbações mentais (Belar, Deardorff & Kelly, 1987; Fox, 1994).
Psicologia Clínica e Psiquiatria:
• Raízes históricas e condições de emergência da Psicologia para se afirmar como
ciência.
• Características da medicina psiquiátrica que se apropriou das teorias e modelos
psicopatológicos.
• Tendência para qualificar a psicologia que se faz com pessoas com perturbações
mentais → psicologia patológica.
A Psicologia Clínica:
• Descreve uma metodologia de intervenção que privilegia o relacional, quer dizer
a qualidade de relação entre o psicólogo e o seu utente.
• Independentemente do quadro teórico tem como objetivo: referenciar e
descodificar o que lhe é trazido como sofrimento, mal estar ou desadaptação.
• Procura ser capaz de implicar uma diminuição, desvalorização ou
reequacionação dos problemas que lhe são apresentados.
Contextos em que a psicologia clinica atua:
• Tradicionalmente exerceu-se em dois contextos específicos e bem diferenciados
entre si: em clinicas privadas e no contexto hospitalar dos hospitais
psiquiátricos.
• Centros de saúde e hospitais gerais; prisões; estabelecimentos de reinserção
social; escolas; empresas de grande e média dimensão; organismos regionais e
nacionais com implementação de politicas de saúde; etc.

2. Código Deontológico
O Código Deontológico da Organização Portuguesa de Psicólogos é composto por
princípios gerais e princípios específicos.
Princípios gerais:
• Princípio A. Respeito pela dignidade e direitos da pessoa
• Princípio B. Competência
• Princípio C. Responsabilidade
• Princípio D. Integridade
• Princípio E. Beneficência e Não-maleficência
Princípios específicos:
• 1. Consentimento Informado
• 2. Privacidade e Confidencialidade
• 3. Relações Profissionais
• 4. Avaliação Psicológica
• 5. Prática e Intervenção Psicológicas
• 6. Ensino, Formação e Supervisão Psicológicas
• 7. Investigação
• 8. Declarações Públicas
Princípio A. Respeito pela dignidade e direitos da pessoa:
• Os/as psicólogos/as devem respeitar as decisões e os direitos da pessoa, desde
que estes sejam enquadrados num exercício de racionalidade e de respeito pelo
outro. Nesta perspetiva, não devem fazer distinções entre os seus clientes por
outros critérios que não os relacionados com os problemas e/ou questões
apresentadas, e devem, com a sua intervenção, promover o exercício da
autonomia dos clientes.
Princípio B. Competência:
• Os/as psicólogos/as têm como obrigação exercer a sua atividade de acordo com
os pressupostos técnicos e científicos da profissão, a partir de uma formação
pessoal adequada e de uma constante atualização profissional, de forma a
atingir os objetivos da intervenção psicológica. De outro modo, acresce a
possibilidade de prejudicar o cliente e de contribuir para o descrédito da
profissão.
Princípio C. Responsabilidade:
• Os/as psicólogos/as devem ter consciência das consequências que o seu trabalho
pode ter junto das pessoas, da profissão e da sociedade em geral. Devem
contribuir para os bons resultados do exercício da sua atividade nestas
diferentes dimensões e assumir a responsabilidade pela mesma. Devem saber
avaliar o nível de fragilidade dos seus clientes, pautar as suas intervenções pelo
respeito absoluto da decorrente vulnerabilidade, e promover e dignificar a sua
atividade.
Princípio D. Integridade:
• Os/as psicólogos/as devem ser fiéis aos princípios de atuação da profissão
promovendo-os de uma forma ativa. Devem prevenir e evitar os conflitos de
interesse e, quando estes surgem, devem contribuir para a sua resolução,
atuando sempre de acordo com as suas obrigações profissionais.
Princípio E. Beneficência e Não-maleficência:
• Os/as psicólogos/as devem ajudar o seu cliente a promover e a proteger os seus
legítimos interesses. Não devem intervir de modo a prejudicá-lo ou a causar-lhe
qualquer tipo de dano, quer por ações, quer por omissão.
1. Consentimento Informado:
• Os/as psicólogos/as respeitam a autonomia e autodeterminação das pessoas com
quem estabelecem relações profissionais, de acordo com o princípio geral de
respeito pela sua dignidade e direitos. Desta forma, aceitam as suas opiniões e
decisões, e todas as características decorrentes da sua afirmação pessoal, desde
que integradas num quadro de respeito por si próprio e pelos outros. Nesse
contexto, entende-se por consentimento informado a escolha de participação
voluntária do cliente num ato psicológico, após ser-lhe dada informação sobre a
natureza e curso previsível desse mesmo ato, os seus honorários (quando
aplicável), a confidencialidade da informação dela decorrente, bem como os
limites éticos e legais da mesma.
• Esse consentimento significa que é reconhecida à pessoa a capacidade de
consentir, que esta foi informada apropriadamente quanto à natureza da relação
profissional, e que expressou o seu acordo livremente. A autonomia e
autodeterminação do cliente significam, ainda, o seu direito geral de iniciar e de
interromper ou terminar, em qualquer momento, a relação profissional com o/a
psicólogo/a. Do mesmo modo, o processo de obtenção do consentimento
informado é interpretado como instrumental na construção de uma relação de
confiança com o cliente. Constitui-se, por isso, também, como uma forma de
corresponder ao exposto pelo princípio da beneficência e não maleficência,
potenciando os resultados da intervenção psicológica.
• 1.1. Consentimento informado.
• 1.2. Processo de obtenção de consentimento informado.
• 1.3. Participação voluntária.
• 1.4. Limites da autodeterminação.
• 1.5. Situações agudas.
• 1.6. Imposições determinadas por um processo legal.
• 1.7. Registo de Informação.
2. Privacidade e Confidencialidade:
• Os/as psicólogos/as têm a obrigação de assegurar a manutenção da privacidade e
confidencialidade de toda a informação a respeito do seu cliente, obtida direta ou
indiretamente, incluindo a existência da própria relação, e de conhecer as
situações específicas em que a confidencialidade apresenta algumas limitações
éticas ou legais.
• 2.1. Informação do Cliente.
• 2.2. Privacidade dos Registos.
• 2.3. Utilização posterior dos registos.
• 2.4. Acesso do Cliente à Informação sobre si Próprio.
• 2.5. Clientes Organizacionais.
• 2.6. Interrupção ou conclusão da intervenção.
• 2.7. Autorização para divulgar informação.
• 2.8. Limites da Confidencialidade.
• 2.9. Comunicação de informação confidencial.
• 2.10. Trabalho em Equipa.
• 2.11. Casos especiais
• 2.12. Meios Informáticos
• 2.13. Situações didáticas e formativas
• 2.14. Situações Legais
• 2.15. Defesa Legal do/a Psicólogo/a
3. Relações Profissionais:
• O exercício da Psicologia tem uma finalidade humana e social, com objetivos
que envolvem o bem-estar, a saúde, a qualidade de vida e a plenitude do
desenvolvimento das pessoas. Os/as psicólogos/as não são os únicos que
perseguem estes objetivos, sendo conveniente, e mesmo necessário em alguns
casos, a colaboração com outros profissionais, sem prejuízo das competências e
saberes de cada um. Os/as psicólogos/as respeitam as relações profissionais,
competência específica, deveres e responsabilidades de colegas e outros
profissionais. Paralelamente, os/as psicólogos/as constituem-se como primeiros
responsáveis pela excelência do desempenho profissional, auxiliando os colegas
na prossecução desse objetivo.
• 3.1. Promover a boa prática da Psicologia.
• 3.2. Encaminhamento de clientes.
• 3.3. Autonomia profissional.
• 3.4. Cooperação institucional.
• 3.5. Integridade profissional.
• 3.6. Respeito de competências.
• 3.7. Revogado.
• 3.8. Responsabilidade profissional.
4. Avaliação Psicológica:
• A avaliação psicológica corresponde a um processo compreensivo (abrangendo
áreas relacionadas com o pedido de avaliação e os problemas identificados) e
diversificado (recorrendo potencialmente a vários interlocutores pode assumir
distintos objetivos, reconhece diferentes tipos de informações, considera
variados resultados). Pretende, igualmente, ser um processo justo (reconhecendo
e não penalizando diferenças relativas a grupos minoritários, incluindo pessoas
com deficiências físicas, sensoriais, linguísticas ou outras fragilidades, a menos
que sejam estas variáveis a mensurar e considerando as consequências dos
resultados). A avaliação psicológica concretiza-se através do recurso a
protocolos válidos e deve responder a necessidades objetivas de informação,
salvaguardando o respeito pela privacidade da pessoa.
• 4.1. Natureza da avaliação psicológica.
• 4.2. Competência específica.
• 4.3. Utilização apropriada.
• 4.4. Consentimento informado para a avaliação.
• 4.5. Materiais de avaliação, sua protecção e segurança.
• 4.6. Instrumentos.
• 4.7. Dimensões da interpretação.
• 4.8. Comunicação dos resultados.
• 4.9. Fundamentação dos pareceres.
• 4.10. Relatórios psicológicos.
• 4.11. Relações profissionais.
5. Prática e Intervenção Psicológicas:
• Para além dos métodos e técnicas utilizados, a prática e intervenção psicológicas
têm em conta os vários modelos teóricos disponíveis e os vários princípios
associados a um exercício cientificamente informado, rigoroso e responsável da
Psicologia, nomeadamente, princípios como a beneficência e não-maleficência
ou a competência específica. A prática e intervenção psicológicas concretizam-
se salvaguardando ainda o respeito pelas diferenças individuais e o
consentimento informado.
• 5.1. Evidência científica.
• 5.2. Formação.
• 5.3. Consentimento informado na prática e intervenção.
• 5.4. Preocupações de isenção e objectividade na intervenção.
• 5.5. Não discriminação.
• 5.6. Minorias culturais.
• 5.7. Conflitos de interesse.
• 5.8. Relações múltiplas.
• 5.9. Relações românticas ou sexuais.
• 5.10. Publicitação profissional.
• 5.11. Instalações.
• 5.12. Intervenção à distância.
• 5.13. Honorários.
• 5.14. Conclusão da intervenção.
6. Ensino, Formação e Supervisão Psicológicas:
• O ensino, formação e supervisão em Psicologia respeitam as regras do presente
Código Deontológico. Este Código deve ser objeto de ampla difusão nos
diferentes contextos e graus de ensino da Psicologia.
• 6.1. Ensino da Psicologia.
• 6.2. Programas.
• 6.3. Especialização e actualização.
• 6.4. Supervisão.
• 6.5. Responsabilidade na supervisão.
• 6.6. Consentimento informado.
• 6.7. Relações múltiplas.
• 6.8. Aplicação do Código Deontológico.
• 6.9. Reflexão sobre questões éticas.
7. Investigação:
• No contexto da investigação científica pode acontecer que o desejo legítimo de
querer saber mais e de aumentar os conhecimentos entrem em conflito com
valores humanos e sociais também eles legítimos. Isto é especialmente
pertinente uma vez que são os/as psicólogos/as que procuram o participante,
pelo que o respeito pela autonomia se assume como o princípio central. Os/as
psicólogos/as, enquanto investigadores, têm em conta o princípio geral da
beneficência e não-maleficência, que os levam a colocar em primeiro lugar o
bem-estar dos participantes nas investigações, e o princípio geral da
responsabilidade social no sentido da produção e comunicação de conhecimento
científico válido e suscetível de melhorar o bem-estar das pessoas.
• 7.1. Não causar danos.
• 7.2. Avaliação de potenciais riscos.
• 7.3. Participação voluntária.
• 7.4. Participação informada.
• 7.5. Capacidade de consentimento.
• 7.6. Anonimato e confidencialidade de dados recolhidos.
• 7.7. Uso do engano em investigação.
• 7.8. Esclarecimento pós-investigação.
• 7.9. Investigação com animais.
• 7.10. Integridade científica.
• 7.11. Apresentação de resultados verdadeiros.
• 7.12. Comunicação de resultados das investigações de forma adequada para a
comunidade científica e o público em geral.
• 7.13. Crédito autoral de ideias e trabalho nos termos devidos.
• 7.14. Responsabilidade por equipas de investigação.
8. Declarações Públicas:
• As declarações públicas prestadas nos mais diversos âmbitos, incluindo
programas de rádio e televisão, artigos em jornais ou revistas, conferências e
internet, devem pautar-se no mais estrito respeito das regras deontológicas da
profissão. Na difusão pública dos conhecimentos da Psicologia devem ser
considerados os princípios da competência específica, privacidade e
confidencialidade, respeito pela dignidade da pessoa, integridade, beneficência e
não-maleficência.
• 8.1. Rigor.
• 8.2. Competência e Especificidade.
• 8.3. Responsabilidade.
• 8.4. Casos particulares.
Caso prático:
• Matilde Leal é psicóloga, formada na área clínica há 8 anos. Sempre exerceu em
contexto de clínica privada, estando presentemente numa clínica que abriu com
outro sócio psicólogo há dois anos. Sérgio Gouveia é um dos clientes de
Matilde, tendo o seu processo terapêutico iniciado há um ano e meio.
Concomitantemente com o processo terapêutico, a relação de Sérgio com a sua
mulher, Alice Gouveia, tem vindo a deteriorar-se, de tal forma que, há 6 meses
atrás, estiveram separados por dois meses. No entanto, neste momento coabitam
e desenvolvem a maior parte da sua vida conjugal normal. Durante os últimos 3
meses, durante as sessões, Matilde tem notado em Sérgio um aumento de
agressividade verbal no seu discurso relativamente à sua mulher. Por várias
vezes, Sérgio descreveu fantasias de violência levada a cabo contra a sua esposa,
apesar de sempre ter assegurado a Matilde que não executou nem tem intenções
de executar qualquer ato violento. Matilde não se sente muito segura sobre as
intenções e veracidade das afirmações de Sérgio relativamente a este assunto.
Num dia em que sabia que o marido não tinha consulta, Alícia esperou Matilde à
saída do seu consultório e revelou-lhe o seu receio de ser vítima de violência por
parte de Sérgio. De seguida, perguntou a Matilde qual a opinião dela.
• Princípios deontológicos em causa:
• 2.1. Informação do Cliente. No início da relação profissional, e sempre que
se justificar, é discutida com o cliente a confidencialidade e as suas
limitações.
• 2.8. Limites da Confidencialidade. O cliente e outros com quem os/as
psicólogos/as mantenham uma relação profissional (ex., entidade
empregadora, colegas, pessoal auxiliar, voluntários, serviços com quem
prossigam uma articulação interinstitucional) são informados e esclarecidos
sobre a natureza da confidencialidade e as suas limitações éticas e legais. A
não manutenção da confidencialidade pode justificar-se sempre que se
considere existir uma situação de perigo para o cliente ou para terceiros que
possa ameaçar de uma forma grave a sua integridade física ou psíquica —
perigo de vida, perigo de dano significativo, ou qualquer forma de maus-
tratos a menores de idade ou adultos particularmente indefesos, em razão de
idade, deficiência, doença ou outras condições de vulnerabilidade.
• 2.9. Comunicação de informação confidencial. A informação confidencial é
transmitida apenas a quem se considerar de direito e imprescindível para
uma intervenção adequada e atempada face à situação em causa. O cliente é
informado sobre a partilha de informação confidencial antes desta ocorrer,
exceto em situações onde tal seja manifestamente impossível, pretendendo
minimizar-se os danos que a quebra de confidencialidade poderá causar na
relação profissional.
• 3.2. Encaminhamento de clientes. Os/as psicólogos/as indicam os serviços
de outros colegas sempre que não tenham competência ou manifestem
impossibilidade de assumir a intervenção, devendo, nesse caso, e com o
consentimento informado do cliente ou do seu representante legal, facultar
os elementos necessários ao bom acompanhamento do caso.
• 5.7. Conflitos de interesse. Os/as psicólogos/as devem prevenir e evitar
eventuais conflitos de interesse.
• 6.7. Relações múltiplas. Os docentes, formadores, supervisores ou
orientadores não se envolvem em relações românticas ou sexuais com os
estudantes, formandos, supervisandos ou estagiários com os quais possam
ser uma autoridade em termos avaliativos. Do mesmo modo, devem evitar
outro tipo de relações que possam diminuir a objetividade do processo de
avaliação.

3. Psicoterapia
Significado e etimologia da palavra psicoterapia: gregos psiché (alma) e terapia.
Cura ou tratamento da alma. “Cura da alma” em contraposição à “cura do corpo”.
Caracterizado pela ênfase na mudança e em desenvolvimentos significativos na
compreensão clínica e psicopatológica das afeções psiquiátricas mais comuns.
Processo que tem por objetivo final a mudança de atitudes, crenças e comportamentos.
Diversas conceções sobre a (melhor) forma de alcançar a mudança.
Controvérsia entre escolas e sistemas de pensamento:
• Conceitos teórico-clínicos de base.
• Abordagens de tratamento do sofrimento psíquico.
• Investigação sobre o processo terapêutico.
Debate sobre a eficácia:
• Terapêutica, mediada pela avaliação dos resultados do tratamento.
• Alívio sintomático.
• Melhoria do bem-estar subjetivo do paciente.
Fatores de mudança próprios a cada modelo terapêutico → a investigação empírica tem
identificado diferentes técnicas, etc.
Fatores comuns às diferentes abordagens terapêuticas:
• Têm um papel significativo na mudança clínica do paciente.
• Importância de serem investigados.
Processos estruturais e processais:
• Interação entre o terapeuta e um paciente (pelo menos).
• Espaço (estrutura) onde o paciente expõe o seu problema e ocorre a interação
entre ambos.
Investigação sobre fatores comuns:
• Conhecidas mais de 400 abordagens diferentes que refletem outros tantos
modelos.
• Descritos em mais de 10000 livros.
• Muito maior número de artigos científicos produzidos e divulgados entre a
comunidade científica.
Princípios orientadores e técnicas diferentes dos modelos teóricos: não são estes
elementos os principais responsáveis pela mudança terapêutica.
Fatores comuns: qualidades inerentes a uma relação interpessoal construtiva (e.g., a
validação, a autorrevelação e a aceitação).
Fatores comuns às diferentes abordagens psicoterapêuticas (Grencavage &
Norcross, 1990):
Categoria Comunalidades
Características do paciente Expectativas positivas / esperança / fé.
Níveis de sofrimento significativo.
Atitude ativa de procura de ajuda.
Características do terapeuta É empático.
Cultiva e corresponde às expectativas do
paciente.
Tem postura atenta.
Dedica atenção ao paciente.
Processo de mudança Oportunidade para catarse.
Aquisição e prática de novos
comportamentos e competências.
Fornecer o racional teórico.
Promover insight.
Aprendizagem emocional e interpessoal.
Estrutura do tratamento Uso de técnicas.
Foco no mundo interno (questões
emocionais).
Adesão e seguimento de uma teoria.
Setting de “cura”.
Relação terapêutica Desenvolvimento de uma aliança terapêutica.
Envolvimento.
Transferência.
Níveis de fatores comuns (Castonguay, 1993):
Nível Descrição Exemplos
Primeiro Aspetos globais da terapia que não Promover o insight e a
nível são específicos de nenhuma consciencialização.
abordagem. Experiências corretivas.
Oportunidade de expressar emoções.
Aquisição do sentimento de ser capaz
e de mestria.
Segundo Fatores interpessoais e sociais e que Contexto terapêutico.
nível auxiliam o tratamento. Aliança terapêutico.
Terceiro Fatores que influenciam os Expectativas do paciente em relação
nível resultados, mas que não são à terapia.
estratégias terapêuticas nem se Envolvimento do trabalho do
referem a fatores interpessoais. paciente no trabalho terapêutico.

Quatro características partilhadas pelas diferentes intervenções psicoterapêuticas


(Frank, 1971; Frank & Frank, 2004):
a) A existência de uma relação segura com o terapeuta;
b) Um contexto de intervenção;
c) Uma explicação para os sintomas;
d) Um ritual de intervenção.
Fatores de mudança terapêutica (Lambert, 1992):
Mudança Fatores ligados ao paciente (p. ex., tolerância à frustração, mecanismos
extraterapêutica homeostáticos) e ao ambiente (como acontecimento fortuitos, suporte
social), que contribuem para a recuperação.
Expectativas (efeito Melhoria que resulta das crenças do paciente de que está ser tratado e
placebo) da credibilidade na explicação e nas técnicas de determinado
tratamento.
Técnicas Fatores únicos e específicos de determinadas terapias (e.g., biofeeback,
dessensibilização sistemática).
Fatores comuns Conjunto de variáveis existentes em várias terapias,
independentemente da orientação teórica dos terapeutas (e.g., empatia,
aceitação, encorajamento, clima de segurança e confiança).

Contributos dos fatores para a mudança terapêutica (Lambert, 1992):


• Os resultados apontam para uma responsabilidade de 30% atribuída aos fatores
comuns.
• Os fatores de mudança extraterapêutica com 40%.
• A expectativa e as técnicas contribuem com 15% cada para mudança terapêutica.
Avaliação do processo psicoterapêutico:
• Crescente importância atribuída às variáveis ligadas ao terapeuta (Beutler,
Machado, & Neufeldt, 1994; Beutler et al., 2004; Okiishi et al., 2003; Peuker,
Habigzang, Koller, & Araujo, 2009).
• Personalidade, pressupostos teóricos, experiência profissional, sexo, idade,
valores culturais, “estilo pessoal”.
• As características dos terapeutas que parecem estar relacionadas com melhores
resultados da intervenção (e também melhor capacidade de estabelecimento de
aliança terapêutica):
• A abertura à experiência, a flexibilidade, a responsividade, a tolerância à
incerteza e à frustração (Lambert & Ogles, 2004; Stiles, Honos-Webb, &
Surko, 1998).
• Variáveis (ditas) específicas, ou que se desenvolvem no quadro da relação
terapêutica:
• Interação entre as características do terapeuta, do paciente, do contexto e das
técnicas ou do modelo utilizado (Lafferty, Beutler, & Crago, 1989; Lyons,
Howard, O’Mahoney, & Lish, 1997).
• A relação terapêutica (ou aliança terapêutica, para alguns autores):
• Conceito multidimensional que inclui componentes de vinculação (laços
entre terapeuta-cliente) e aspetos de colaboração ou investimento na relação.
• A investigação tem demonstrado que a qualidade da relação inicial estabelecida
está relacionada com os resultados finais obtidos na psicoterapia (Muran et al.,
2009).
Bordin define a aliança terapêutica de modo tripartido:
1. Relação consciente e experimentada no “aqui-e-agora” da relação do par
terapêutico.
2. Bidirecional, já que envolve colaboração, concordância e negociação entre
terapeuta e cliente.
3. Comum a todos os processos de ajuda terapêutica.
Modelo de funcionamento da aliança terapêutica (Horvath, 2000):

Setting:
• O ambiente físico no qual decorre a psicoterapia (Leal, 2000, 2008).
• Ambiente onde se aliam as constantes de tempo e lugar, o papel do par
terapêutico e os objetivos que pretendem atingir.
• Um “espaço mental” que permite manter os papéis e a ética sem depender do
ambiente físico, do local.
• Elemento dinâmico, presente em todos os modelos, que interage no processo
como outras variáveis (p. ex., as variáveis do paciente ou do terapeuta).

4. Escuta ativa
Principais técnicas:
• Questionamento.
• Reflexão.
• Reformulação.
• Clarificação.
• Auto-revelação.
• Confrontação.
• Silêncio.
• Exploração.
• Reestruturação.
• Interpretação.
• Generalização.
• Focagem.
• Ecoar.
• Provocação.
• Racionalização.
• A informação à medida ou esclarecimento.
Fases da entrevista:
1. Início:
• Pôr a pessoa à vontade, estabelecer limites, empatizar, ouvir
compassivamente.
• Directivo:
• “O que é que o traz à consulta?”
• “Em que posso ajudar?”
• “Fale-me do que o tem preocupado?”
• “Com que outros assuntos se tem vindo a preocupar?”
• Não directivo:
• “Por onde começamos?”
• “Por onde quer começar?”
• Se vem referenciado de outro técnico de saúde:
• “O Dr. X falou-me que o preocupa (xxx) mas eu gostava de ouvir nas
suas próprias palavras”
2. Decurso da entrevista:
• Tornar-se um aliado.
• Explicar processos anteriores.
• Mostrar interesse, profissionalismo.
• Procurar acordo com a teoria do paciente.
• Técnicas:
• Questionamento; reflexão; clarificação; confrontação; auto-revelação;
silêncio; exploração; re-estruturação ; interpretação; humor;
generalização; ecoar; provocação; esclarecimento
3. Término:
• Dar ao paciente/cliente/utente a sensação de:
• Ter sido compreendido e respeitado.
• Ter transmitido a informação pertinente a um ouvinte empático.
• Permitir perguntas
• Planos futuros.
• Marcar nova sessão/referenciar:
• Estabelecer o contrato terapêutico (se for o caso).
• Dar indicações acerca de como obter ajuda.
• Informar (em caso de continuidade):
• Preços.
• Confidencialidade.
• Supervisão.
• Duração das sessões e política em caso de faltas.
• Disponibilidade no intervalo das sessões.
Técnicas de escuta ativa:
• São fórmulas facilitadoras, por um lado, da obtenção de informação útil, por
outro, do estabelecimento e aprofundamento da relação entre entrevistador e
entrevistado.
• Por um lado procuram conteúdos, por outro, preocupam-se especialmente com o
alimentar da relação.
• Na prática, são intervenções, formas de dizer do entrevistador que pretendem
produzir um efeito específico na qualidade e quantidade do discurso dos
entrevistados.
• É uma sequência verbal que transmite mais do que informação. Transmite uma
posição e uma representação de factos, impressões, e acontecimentos sobre os
quais o entrevistado discorre.
• As técnicas de escuta ativa não têm filiação teórica.
• Atitude não directiva:
• Encorajar o entrevistado a falar livre e abertamente sobre o que quiser e o
que lhe interessar.
• Técnicas: silêncio, paráfrase ou reflexão de sentido ou conteúdo,
clarificação, sumarização.
• Atitude directiva:
• Técnicas: interpretação, questionamento, confrontação e validação de
sentimentos.
Questionamento:
• Questionar é no essencial, fazer perguntas.
• A função é aumentar a informação sobre o entrevistado ou, pelo menos, reduzir
os níveis de incerteza.
• As perguntas devem ser feitas de uma forma pouco directa.
• Cuidados:
• A sucessão de perguntas diretas gera uma atitude passiva da parte do
respondente que, após ter dado as respostas, fica à espera de novas questões.
• Para se aceder a dimensões da personalidade do sujeito é necessária a
interação para que tal se verifique e que se dê espaço ao entrevistado
(perceber se é tranquilo, ansioso, extrovertido,…).
• As perguntas devem ter uma formulação aberta permitindo que o próprio
sujeito escolha a direção que mais lhe interessa e convém.
Reflexão:
• A ideia central é fazer compreender ao entrevistado que não só se percebe o que
ele comunica como se está a pensar no assunto.
• Pretende-se ir mais longe do que o mero esclarecimento do que foi dito, e chegar
a eventuais ligações a materiais implícitos ou latentes.
• Cuidados:
• Não é possível valorizar de forma reflexiva todas as sequências
comunicacionais do entrevistado e fazê-lo tornaria numa entrevista focal
quando se pretende que a primeira entrevista permita um conhecimento
alargado.
• Exemplos:
• “Hum, Hum... Despido de conteúdo mas facilitador do desenvolvimento do
discurso.”
• “É natural que queira mudar, de acordo com o que tem dito, o seu atual
trabalho não corresponde às suas expectativas.”
Reformulação:
• Reflexão de conteúdo ou paráfrase.
• Reformular é dizer de outra maneira o que se acabou de ouvir.
• Transmite-se que se percebeu de facto aquilo que o entrevistado disse ou quis
dizer.
• Serve para esclarecer e facilitar a compreensão do que foi sendo dito.
• Exemplos:
• Alguém que quer mudar de emprego e refere grandes explicações
minuciosas. “Tem, pois, uma série de razões para querer mudar de
emprego”.
Clarificação:
• Usada para tornar mais claro o que foi dito anteriormente.
• A clarificação faz-se com o apoio de algumas das técnicas (questionamento ou
reformulação).
• Destina-se a ajudar o entrevistado a compreender o que está a ser dito porque
nem sempre o próprio se apercebe do que vai dizendo.
• Exemplo:
• A pessoa que fala das razões para mudar de emprego.
• “ou seja, o seu actual emprego tornou-se insuportável!”
Ecoar:
• Pretende assinalar ao entrevistado o reconhecimento emocional, sintonia e
atenção do entrevistador. Dirige-se basicamente à relação.
• Pode ser a simples repetição de uma palavra ou de interrogação sobre qualquer
coisa que acabe de ser dita.
• Permite o vínculo relacional e também o retorno ao assunto quando o
entrevistado se desvia de um tema problemático.
Auto-revelação:
• Técnica que implica que o entrevistador fale de si mesmo mas com o objetivo de
facilitar a exposição do entrevistado.
• É útil usar parcimoniosamente dados da sua experiência e pode ser importante
que as auto-revelações se exprimam num registo afetivo e abstrato ao invés de
usar exemplos de factos concretos.
• Cuidados:
• Se a autorevelação não cumpre o objetivo, é um erro técnico. Significa que
entrevistador se distraiu, está centrado em si mesmo, pouco atento ou não
assumiu o papel que se propôs.
• Exemplos:
• “Percebo o seu desconforto por experiência própria”
• “Toda a gente já passou por situações em que se sente desconfortável ou
cansado”
Silêncio:
• Técnica que faz apelo à sensibilidade do entrevistador.
• Silêncio de inibição.
• Silêncio de passividade.
• Silêncio regressivo.
• Silêncio defensivo.
• Silêncio reflexivos.
Humor:
• Muito sofisticado e complexo.
• Destina-se a desdramatizar uma situação, a criar distanciamento em relação ao
problema e a tornar menos ansiogénico um assunto de difícil abordagem.
• Desdramatizar significa tirar carga emocional a uma narrativa que está saturada
de emoções, e não banalizar as situações ou problemáticas.
• Cuidados:
• O entrevistado sentir-se gozado ou considerar que não está a ser levado a
sério.
• Deve ser usada como técnica de recurso raro, em situações bem controladas
e entrevistadores experientes, tendo em conta os recursos disponíveis do
entrevistado, a sua plasticidade, ou rigidez.

5. Quadros teóricos
Quadros teóricos:
• Teorias, hipóteses e modelos que sustentam as práticas e intervenções em
psicologia clínica/psicoterapia.
• Diferem em relação ao objeto, objetivos e contextos.
• Conhecidos mais de 400 modelos com abordagens diferentes.
Resumo dos quadros teóricos:
Quadros teóricos Objetos Objetivos Contextos
Comportamental O sintoma O desaparecimento ou Clínica privada ou
substituição do institucional
sintoma (ansiedade, sexologia,
fobias,…)
Cognitivo A cognição Crenças, formas de Clínica privada e
reagir, novas clínica institucional
narrativas pessoais (depressão,
ansiedade,…)
Sistémico A comunicação A relação e a Clínica privada e
comunicação clínica institucional
centrada na família
Existencial O sujeito como um A forma como o Clínica privada
todo indivíduo se sente
Psicanalítico O intrapsíquico ou a O inconsciente Clínica privada
personalidade

Psicanálise:
• Aspetos teóricos:
• Assenta sobre as obras de Freud sobre: Teoria dos sonhos, teoria da
sexualidade e metapsicologia.
• Método que evidencia o significado inconsciente das palavras, das ações e
das produções imaginárias (sonhos, fantasmas, …).
• Proposta terapêutica:
1. Esclarecer progressivamente a dinâmica psicológica inconsciente do sujeito.
2. Reforço do Ego do sujeito na relação com o terapeuta.
3. Trazer ao nível consciente o que está recalcado e libertar energia útil à
maturação afetiva
• Objetivos:
• “Cura” através da transferência – projeção na pessoa do analista de
sentimentos irracionais ligados a situações de conflitos infantis com as
figuras parentais (internalizadas).
• Desenvolvimento terapêutico:
• Motor do tratamento: transferência.
• O paciente é conduzido a reproduzir na relação com o psicanalista, situações
antigas de conflito e frustrações arcaicas – neurose de transferência.
• Protocolo:
• Finalidade de fomentar a transferência e a instalação da neurose de
transferência: Setting + Processo.
• Setting: ordenado para conter o processo (uso do divã).
• Processo: método da associação livre – exprimir indiscriminadamente
todos os pensamentos de forma espontânea.
• Modalidades práticas:
• Sessões com uma duração e frequência fixas previamente combinadas (45
minutos, 3/4 vezes por semana, vários anos, 7 a 10 anos).
• O terapeuta mantém-se invisível – fora do ângulo de visão do paciente
(cadeira atrás da visão do paciente).
• A posição do paciente é deitado num longo sofá: o divã.
• Atitude do terapeuta:
• Neutralidade: psicanalista deve ser um espelho opaco que devolve apenas o
que lhe é mostrado.
• Atenção flutuante: estado mental de pré consciência que permite escutar
livremente, por oposição a uma atenção seletiva.
• Abstinência: evitar a exposição de posições ou problemáticas pessoais do
terapeuta.
• Indicações / contra-indicações:
• Inicialmente apenas indicado para a psicopatologia das neuroses (angústia,
fóbicas, obsessivas).
• Casos de estados-limite (borderline).
• Tradicionalmente menos indicado em psicoses.
• Contra-indicado na presença de problemas de natureza aguda ou que exigem
solução urgente.
PIP – Psicoterapia de Inspiração Psicanalítica:
• Aspetos teóricos:
• Mesmas referências teóricas que a psicanálise.
• Diferenças a nível técnico.
• Indicação para a psicanálise ou psicoterapia da responsabilidade do
terapeuta em função do paciente e do contexto de trabalho.
• Objetivos:
• Máximo benefício terapêutico: plasticidade técnica em função da situação
específica.
• Desenvolvimento terapêutico:
• Métodos mais simples orientados para a necessidade de eficácia mais
imediata.
• Controla-se e limita-se a transferência, centrada no material psíquico mais
significativo.
• Limita-se as regressões em pacientes mais frágeis ou muito rígidos.
• Modalidades práticas:
• Duração do processo mais curta (3/4 anos).
• Frequência semanal: 1/2 sessões.
• Posição face a face.
• Atitude do terapeuta:
• Atitude mais suave, ativa e centrada sobre o real (mesmo com a neutralidade
e abstinência).
• Indicações:
• Mais extensas do que na psicanálise: todas as neuroses, personalidade
borderline e psicoses (com reservas).
• Contra-indicações:
• Situações em que a aliança terapêutica seja impossível: e.g., personalidade
antissocial, QI muito baixo, perturbação da comunicação.
Psicoterapias breves:
• Ferenczi propôs quebrar a regra da abstinência através de uma “técnica ativa”
que intervinha no real para encurtar o trabalho terapêutico.
• Atualmente constituídas por maior ecletismo: origens psicanálise, humanismo,
existencialismo.
• Aspetos teóricos:
• Experiência emocional corretiva:
• Reviver emocional dos traumas antigos na relação com o terapeuta;
ênfase no aqui-e-agora.
• Foco:
• Material consciente ou inconsciente delimitado como área a ser
trabalhada no processo terapêutico.
• Técnicas: interpretação seletiva; atenção seletiva, “negligência”
seletiva.
• Crise:
• Período temporário de desorganização do funcionamento.
• Desenvolvimento terapêutico:
• A definição do problema emocional mais relevante por parte do cliente.
• A proposta de um foco psicológico pelo terapeuta em função da
problemática expressa.
• A adoção de intervenções terapêuticas adaptadas à situação.
• Modalidades práticas:
• Por vezes, tempo fixado no início ou número de sessões.
• Nem sempre é fixado o tempo e pode ser mais longo.
• Sessões de 50 minutos ou outro tempo fixado.
• Periodicidade das sessões variável.
• Atitude do terapeuta:
• Esclarecimento do tipo de contrato terapêutico.
• Atitude neutra e abstinente mas também ativa e confrontativa.
• Indicações:
• Estruturas neuróticas.
• Úteis em situações de crise.
• Modelo de trabalho em situações institucionais.
• Contra-indicações:
• Indivíduos de Ego muito frágil.
• Sujeitos que lidem mal com a perda, abandono e rejeição.
Humanismo:
• Principal autor: Carl Rogers.
• Aspetos teóricos:
• Assenta sobre a ideia de que um organismo é uma totalidade que interage
como um todo com o ambiente.
• O indivíduo tem o poder de dirigir-se a si próprio e reorganizar a sua
conceção do Ego.
• Dois conceitos fundamentais: tendência atualizante e regulação do
organismo:
• Tendência atualizante: força positiva de crescimento; tendência básica
para que impele todas as pessoas a atualizar, manter e desenvolver o seu
potencial experiencial.
• Regulação do organismo: todas as pessoas têm recursos para a
autocompreensão e para a modificação das suas atitudes e
comportamento.
• Conceito de experiência:
• Tudo o que se passa no organismo e está disponível à consciência.
• Processo terapêutico:
• Facilita a consciência de sentimentos reprimidos para que sejam
experienciados de forma plena e aceitável.
• Permite mudanças psicológicas e fisiológicas e um novo estado de
insight.
• Personalidade sadia – 3 características:
• Abertura à experiência: capacidade de se ouvir a si mesmo e aos outros;
capacidade de experienciar os acontecimentos sem se sentir ameaçado.
• Viver de modo existencial: capacidade de viver cada momento atual de
forma consciente, apreendendo exatamente a situação existencial
interna e externa.
• Ser um organismo confiante: capacidade de se fazer o que se sente
adequado, sem se submeter a guias exteriores ou decisões de
conveniência.
• Objetivos:
• Processo de mudança espontânea própria do cliente.
• Modificações relativamente estáveis na personalidade em várias dimensões:
• Maior estado de congruência: menos defensivo e mais aberto à
experiência.
• Perceções mais realistas, diferenciadas e objetivas.
• Maior flexibilização: sinónimo de maior criatividade, adaptabilidade e
capacidade de resolver problemas.
• Diminuição da tensão física e psíquica: maior acordo entre o Eu e o Eu
ideal.
• Aumento da consideração em relação a si próprio.
• Aumento da amplitude e variabilidade comportamental.
• Desenvolvimento terapêutico:
• Condições para o processo terapêutico:
• Que duas pessoas estejam em contato e produzam diferença no campo
experiencial uma da outra.
• Que o cliente esteja em estado de incongruência (vulnerabilidade e
ansiedade).
• Que o terapeuta experimente uma atenção positiva incondicional para
com o cliente.
• Que o terapeuta experimente uma compreensão empática do quadro de
referência interna do cliente.
• Que o cliente perceba as duas condições do terapeuta: atenção positiva
incondicional e compreensão empática.
• Modalidades práticas:
• Terapia centrada na pessoa – terapia individual.
• Frente a frente.
• Terapeuta com atitude de autenticidade e congruência.
• Sessões: semanal ou bissemanal.
• Técnicas interventivas: paráfrase, exploração.
• Aplicações e settings:
• Terapia de grupo genérico ou temático (e.g., grupos de pais, ex-
combatentes, etc) e de casal.
• Counselling.
• Acompanhamento individual ou grupal para fins de desenvolvimento
pessoal.
• Atitude do terapeuta:
• Ligado à confiança, respeito e centração no cliente.
• Atitude global investida na qualidade da relação estabelecida.
• Importância do presente.
• Indicações:
• Praticamente todas as situações.
• Integração de técnicas variadas (relaxamento, Gestalt, análise bioenergética,
etc).
Existencialismo:
• Principal autor: Binswander, Yalom.
• Aspetos teóricos:
• O que caracteriza a existência individual é o ser que se escolhe a si-mesmo
com autenticidade, construindo assim o seu destino, num processo dinâmico
de vir-a-ser.
• O indivíduo é um ser consciente, capaz de fazer escolhas livres e
intencionais, isto é, escolhas das quais resulta o sentido da sua existência.
• A autenticidade implica aceitar a condição humana tal como é vivida e
conseguir confrontar-se com a ansiedade e escolher o futuro, reduzindo a
culpabilidade existencial.
• A escolha é um processo central e inevitável na existência individual e a
liberdade de escolher-se envolve responsabilidade pela autoria do seu
destino e compromisso com o seu projeto.
• O projeto existencial é a união entre o passado, presente e futuro, a
continuidade compreensível das vivências, coerência interna do mundo
individual.
• Está presente em realizações significativas, quer ao nível dos sentimentos,
quer ao nível das realizações pessoais e profissionais.
• Objetivos:
• Facilitar ao indivíduo uma atitude mais autêntica em relação a si próprio.
• Promover uma abertura cada vez maior das perspetivas do indivíduo em
relação a si próprio e ao mundo.
• Clarificar como agir no futuro em novas direções.
• Facilitar o encontro do indivíduo com o significado da sua existência.
• Promover o confronto com e a superação da ansiedade que emerge dos
dados da existência.
• Desenvolvimento terapêutico:
• O foco é a realidade do outro, isto é, a experiência que ele tem do mundo.
• A relação existencial envolve estar-com e estar-para o cliente.
• Uso do método fenomenológico aplicado à existência.
• Técnicas de intervenção terapêutica:
• Utilizar a atitude fenomenológica na abordagem dos conteúdos temáticos.
• Confrontar com as limitações existenciais: auto-deceção/frustração; angústia
existencial; culpabilidade existencial, consequências das escolhas passadas e
futuras.
• Facilitar a exploração do mundo pessoal em relação às quatro dimensões da
existência (física, psicológica, social e espiritual).
• Facilitar a elucidação de significados, encorajando uma atitude de procura
focalizada em si próprio, com abertura à auto-descoberta para se encontrar.
• Características do encontro terapêutico:
• Coerência: comportamento mútuo de co-relação.
• Carácter fortuito: o encontro pode chegar no instante de forma imprevista
(acontece).
• Liberdade de deixar o outro ser como é.
• Abertura a novas possibilidades.
• Modalidades práticas:
• Terapia individual.
• Face a face.
• Sessões de 50 minutos, podendo prolongar-se durante mais tempo em
função da necessidade do cliente.
• Indicações:
• A tónica no “si mesmo” torna a proposta terapêutica indicada para qualquer
situação.
Cognitivo-comportamental:
• Objeto de estudo da Psicologia:
• Deslocado a partir do mentalismo omnisciente (acessível apenas por
métodos introspetivos) para o comportamento acessível e observável.
• Assente sobre a ideia de que não seria necessário compreender todos os
detalhes da complexidade humana (e as razões subjetivas) para eliminar ou
alterar os comportamentos que os próprios consideram desadequados ou
injustificados.
Comportamental:
• Aspetos teóricos:
• Teoria do condicionamento clássico:
• Estímulo neutro pode ser condicionado no sentido de desencadear a
reação própria de um estímulo absoluto, quando estes dois estímulos
são apresentados de forma contígua algumas vezes.
• Teórica do condicionamento operante:
• Na presença de um estímulo discriminado executa-se um certo tipo de
respostas que, ao ser reforçada torna-se mais frequente. O oposto é a
punição.
• Teoria da aprendizagem – modelagem:
• Consiste em reforçar respostas cada vez mais aproximadas às desejadas.
• Conceitos utilizados:
• Reforço positivo e negativo.
• Punição.
• Generalização.
• Discriminação.
• Extinção.
• Imitação de modelos (aprendizagem social).
• Objetivos:
• Extinção ou substituição de sintomas.
• Mudança de comportamento.
• Aplicação em terapia do método experimental.
• Intervenção terapêutica:
• O objeto: o comportamento ou os processos próximos do comportamento
manifesto.
• Centrada no Aqui e Agora.
• Os comportamentos inadaptados são adquiridos por aprendizagem da
mesma forma que outros comportamentos.
• Objetivos terapêuticos: específicos e bem definidos.
• Privilegia o interesse da obtenção de apoio empírico para as técnicas e
métodos.
• Modalidades práticas:
• Dirigem-se ao que é sentido como sintomas (fobias, compulsões, …).
• Intervenções breves (20 sessões / 6 meses).
• Técnicas:
• Dessensibilização sistemática:
• Aprendizagem de relaxação.
• Hierarquização de situações ansiogénicas.
• Confrontação mental com cada um dos itens descritivos (do menos para
o mais ansiogénico).
• Confrontação com o real.
• Flooding (imersão):
• Exposição maciça a estímulos ansiogénicos com prevenção do
evitamento.
• Implosão:
• Confrontação em imaginação (imagens ou sons evocando a angustia).
• Aversão:
• Eliminar as condutas indesejáveis através da punição.
• Treino de autoafirmação (ou assetividade):
• Modificar comportamentos de incompetência social.
• Atitude do terapeuta:
• Mais diretivo e ativo que em qualquer outra terapia.
• Define com precisão e com o paciente o problema.
• Propõe uma hipótese de trabalho que serve simultaneamente de contrato e
de predição dos resultados.
• Centra-se no aqui e agora e tenta criar um clina relacional positivo.
• Tenta avaliar tão rigorosamente quanto possível os efeitos do processo
terapêutico.
• Indicações:
• Cada técnica pode ter indicações precisas.
• A dessensibilização sistemática para fobias / ansiedade.
• Técnicas aversivas destinadas a situações de adição.
• Treino de autoafirmação indicado em casos de timidez/inibição social.
Cognitivo:
• Aspetos teóricos:
• Considera que todos os sistemas vivos são:
• Autorreferenciais.
• Inerentemente adaptados ou adaptativos.
• Organizacionalmente fechados (tendem a manter a sua identidade).
• Estruturalmente determinados.
• Três terapias cognitivas:
• Terapia de construtos pessoais de Kelly.
• Terapia racional emotiva de Ellis.
• Terapia cognitiva da Beck.
• Terapia cognitiva de Beck:
• As cognições organizam-se em esquemas: padrões habituais da
abordagem do real – unidades próprias do funcionamento cognitivo.
• Estruturas ou proposições cognitivas + operações ou processos
cognitivos + produtos cognitivos.
• Disfuncionamento processual implica inferências arbitrárias; abstrações
seletivas; sobregeneralizações, magnificação/minimização;
personalização.
• Os disfuncionamentos originam pensamentos automáticos.
• Objetivos:
• Avaliação das estruturas, processos e produtos cognitivos com vista à
transformação das dimensões disfuncionais, a partir de:
• Estratégias cognitivas – restruturação do pensamento .
• Estratégias imagéticas – alteração das imagens distorcidas do cliente.
• Estratégias emocionais – aceitação das diferentes emoções.
• Estratégias comportamentais – confronto de novas aquisições com
novas e complexas situações.
• Modalidades práticas:
• Instrumentos diagnósticos: Beck Depression Inventory Ou Dysfuncional
Attitudes Scale.
• Primeira entrevista: recolher informação biográfica, informação sobre o
sintoma, avaliar o risco de suicídio, avaliar a motivação para a terapia,
feedback sobre o encontro.
• Processo terapêutico:
• Treino de tarefas de auto-registo.
• Uso de estratégias de ativação do comportamento.
• Treino de identificação de cognições.
• Focalização de crenças valorizadas.
• Preparação para o fim da terapia e prevenção de recaídas.
Sistémico / Familiar:
• Aspetos teóricos:
• Double bind:
• A comunicação comporta sempre múltiplas mensagens de diferentes
níveis em simultâneo.
• Homeostase familiar:
• A família é um sistema dinâmico. A intervenção num membro da
família pode provocar transformações no outro membro e na família
como um todo.
• Sistema:
• Todo complexo e organizado que agrupa diferentes funções e
atividades, mas mesmo assim pode ser reconhecido como uma unidade
relacionada com outros sistemas.
• Principio da totalidade: o todo reúne características próprias não
existentes em cada parte isoladamente (entidade nova).
• Objetivos:
• Modificação do sistema de interação no seio de uma família.
• Transformar o indivíduo membro da família (paciente).
• Através de mudanças no sistema familiar deve resultar alterações em todos
os membros da família → desaparecimento do sintoma indivíduo-problema.
• Intervenção terapêutica:
• Primeiro momento de confronto dos membros da família entre si, na
presença do terapeuta.
• Uma ação direta sobre as interações no seio da família após o
reconhecimento dos padrões de funcionamento e disfuncionamento.
• Reforço das competências da família no sentido de utilizar os seus próprios
recursos no confronto com novos problemas futuros.
• Modalidades práticas:
• De acordo com o quadro teórico de referência do terapeuta
• Técnicas muito ativas e confrontativas.
• Prescrições de tarefas e rituais.
• Role play, modelagens, “cadeira vazia” e genogramas familiares.
• Sessões de 1 hora, pelo menos 6 meses.
• 1 terapeuta ou co-terapia.
• Indicações:
• Dificuldades relacionais do casal.
• Alcoolismo.
• Prevenção primária em saúde mental.
• Fobias escolares.
• Anorexias.
Psicologia da Saúde
1. Introdução à Psicologia da Saúde
A saúde é:
• A ausência de patologia orgânica.
Vs.
• Um estado completo de bem-estar físico, social e espiritual e não apenas a mera
ausência de doença e enfermidade (OMS, 1946).

Reflexo de existência de dois modelos metateóricos distintos.


Modelo biomédico (Engel, 1977; Bracken & Thomas, 2004):
• Pressupostos:
• Dualismo Cartesiano: separação entre corpo e mente.
• Reducionismo: a explicação para um problema é encontrada analisando as
suas pequenas partes.
• Conceções de saúde/doença e tratamento:
• Doença é causada por agentes externos que provocam alterações no
funcionamento ou estrutura do sistema orgânico.
• Fatores psicossociais não exercem qualquer influência.
• O paciente é vítima passiva do ambiente.
• Tratamento através de intervenções exteriores orientadas pelos médicos.
Modelo biopsicossocial (Engel, 1977; Bracken & Thomas, 2004):
• Pressupostos:
• Perspetiva holística: rejeição do dualismo cartesiano.
• Perspetiva sistémica: o funcionamento de um sistema resulta das interações
entre os seus vários subsistemas (von Bertalanffy, 1968).
• Conceções de saúde/doença e tratamento:
• A origem, progressão e recuperação de uma doença é determinada pela
interação entre fatores de natureza biológica, psicológica e social.
• Paciente enquanto indivíduo ativo do processo de saúde e doença.
• Tratamento inclui responsabilização do paciente e alteração das suas crenças
e comportamentos.
Como se previne a doença?
• Modelo biomédico:
• Prevenção secundária.
• Trata as doenças.
• Repara um problema existente.
• Promove o diagnóstico médico precoce do problema.
• E.g., rastreio do cancro da mama.
• Modelo biopsicossocial:
• Prevenção primária.
• Trata as populações.
• Evita o problema e retira o fator de risco.
• Promove a qualidade de vida.
• E.g., controlo do tabaco, promoção de alimentação saudável.
Psicologia da Saúde (adaptado de Kaptein & Weinman, 2004):

Psicologia na área da Saúde:


• Modelo biopsicossocial.
• Fatores psicossociais como causas (e não apenas como consequências) das
doenças físicas.
• Para além da doença mental / psicopatologia, integrando o corpo e o bem-estar.
Em suma – Psicologia na área da Saúde:
• Modelo biopsicossocial.
• Fatores psicossociais como causas (e não apenas como consequências) das
doenças físicas.
• Para além da doença mental/psicopatologia, integrando o corpo e o bem-estar.
Psicologia da Saúde:
• Corresponde ao conjunto de contribuições educativas, científicas e profissionais
da disciplina da Psicologia para (Matarazzo, 1982):
1. A promoção e manutenção da saúde.
2. A identificação de correlatos etiológicos e diagnósticos da saúde, doença e
disfunções relacionadas.
3. A prevenção e tratamento da doença.
4. A análise e melhoramento do sistema de saúde e formação de políticas de
saúde.
• Estudo dos fatores psicossociais que contribuem para a promoção e manutenção
da saúde:
• Porquê e como é que as pessoas se mantêm saudáveis?
• O que é que explica a adoção e manutenção de comportamentos protetores
da saúde em indivíduos saudáveis?
• Prevenção primária.
• E.g., Que fatores facilitam a prática de exercício físico? (Armitage, 2005)
• Estudo longitudinal de 12 meses realizado com praticantes de exercício
físico num ginásio, com medição de comportamento.

Experiências Controlo
anteriores de comportamental
sucesso percebido

Prática de
exercício

• Os hábitos de exercício físico desenvolvem-se nas 5 primeiras semanas.


• Estudo dos fatores psicossociais que contribuem para a origem de doenças:
• Em que medida é que padrões de comportamentos, crenças ou emoções
podem contribuir para a origem de doenças?
• Preditores psicológicos da doença – fatores de personalidade:

Personalidade de tipo A
(competitividade, impaciência, Doença cardíaca
hostilidade e raiva)

Personalidade de tipo C (supressão


de emoções, estoicismo, falta de Cancro
assertividade e sacrifício)
Personalidade de tipo D
Perceção de doença
(afetividade negativa, evitamento do
Pior recuperação
contato social)

• Estudo dos fatores psicossociais que contribuem para a prevenção ou tratamento


da doença:
• Como é que as pessoas diagnosticadas com doenças agudas ou crónicas dão
significado e se comportam perante elas?
• Que fatores favorecem a recuperação ou a adaptação à doença?
• Preditores psicológicos da recuperação – otimismo:

• Estudo dos fatores psicossociais que contribuem para a melhoria do sistema e


políticas de saúde:
• Que fatores facilitam a relação médico-paciente?
• Preditores psicológicos da satisfação com os serviços de saúde:

Profissionais de saúde
simpáticos e calorosos Melhor avaliação da
competência dos
serviços
Ambiente físico
cuidado e confortável

Existência de Recuperação pós-


elementos naturais operatória
Desafios futuros para a Psicologia da Saúde:
• Em que medida é que o modelo biopsicossocial tem sido difundido e adotado
pelas instituições médicas? (Suls & Rothman, 2004)

• Pesquisa Medline
• Termo:
biopsicossocial
• Campos: título e
resumo
• Anos: 1974 a 2001
• O modelo biomédico
continua dominante.

• Em que medida é que os psicólogos da saúde têm implementado o modelo


biopsicossocial? (Suls & Rothman, 2004)
• Artigos da Health Psychology 2001/2002.
• Aspetos psicológicos dominantes.
• Dimensão social sub-explorada:
• Variáveis sociais predominantemente
relacionadas com apoio social e
satisfação marital.
• Variáveis macro (e.g., sexo, etnia,
ESE) apenas utilizadas para descrever
as amostras.
• Apenas 26% incluía a avaliação de variáveis nos 4 domínios e 38% em pelo
menos 3 domínios.
• Área de aplicação da Psicologia Social ao domínio da Saúde: embrionária até
início do séc. XXI (Lima, Bernardes & Marques, 2014; Suls & Rothman, 2004).
• Interesse crescente pelo papel dos contextos e processos psicossociais na saúde e
doença:
• Número de publicações nacionais e internacionais.
• Temas de conferências cientificas. E.g., EHPS (género, cultura, ciclos de
vida, família, comunidade, profissionais de saúde, mudança social…).
• Formação pós-graduada (ISCTE-IUL, Maastricht, Liverpool, Barcelona,
Aix-em-Provence/Marseille).
• Atualidade, relevância e inovação.
Em suma – a Psicologia na área da Saúde:
• Múltiplos domínios de intervenção.
• Articulação crescente dos diferentes subsistemas.
• Ênfase recente na articulação das dimensões sociais.

2. Níveis de análise e intervenção em Psicologia


da Saúde
Exemplo – caso da obesidade:
• Um problema de saúde pública: as taxas de obesidade aumentaram 50% na
última década, sobretudo entre crianças e adolescentes.
• A OMS declarou a obesidade uma epidemia global.
• Implicações para a qualidade de vida (individuais):
• Doenças cardíacas, diabetes de tipo 2, hipertensão e alguns cancros.
• Dificuldades respiratórias, infertilidade e doenças de pele, depressão e baixa
autoestima, discriminação laboral e estigmatização social.
• Alguns fatores comportamentais de risco:
• Sedentarismo.
• Regimes alimentares ricos em lípidos e açucares.
• Desigualdades sociais e obesidade:
• Desigualdades sociais na alimentação saudável → classe social;
sexo/género; etnia/cultura; etc.
• Identificação dos fatores epidemiológicos associados à obesidade.
• Importância dos níveis de análise grupal e comunitário.
Níveis de análise e intervenção em Psicologia da Saúde:
• Individual:
• Alguns determinantes pessoais:
• Baixa autoeficácia.
• Risco percebido.
• Informação inadequada/ausente.
• Hábitos alimentares / de exercício.
• Potencial intervenção no caso da obesidade:
• Intervenção sobre determinantes pessoais da adesão a programas de
exercício físico / dieta e da sua manutenção.
• Interpessoal:
• Importância dos contextos interpessoais:
• O comportamento alimentar é frequentemente realizado na presença de
outras pessoas?
• A presença de outros modifica o comportamento alimentar? Comemos
mais ou menos com outros?
• Estudos de facilitação social: os animais comem mais em co-acção.
• Nomas sociais (Roth et al., 2001):
• Norma de acompanhar o outro: em contextos informais.
• Norma da comer pouco: quando pretendemos causar uma impressão
positiva
• Alguns determinantes interpessoais:
• Alimentação na família (crianças).
• Redes e suporte social.
• Influência de pares.
• Potencial intervenção no caso da obesidade:
• Intervenção sobre redes/suporte social para adesão a programas de
exercício físico/dieta e da sua manutenção.
• Grupal/Comunitário:
• Importância dos contextos (inter)grupais:
• Qual a influência da(s) identidade(s) sociais no comportamento
alimentar ou prática de exercício físico?
• Qual a influência dos estereótipos sociais na escolha de alimentos?
• Alguns determinantes (inter)grupais:
• Identificação com grupo de pares.
• Desenvolvimento de identidades de género.
• Potencial intervenção no caso da obesidade:
• Intervenção sobre identidades e estereótipos sociais partilhados por
grupos com relação a adesão a programas de exercício físico/dieta e da
sua manutenção.
• Societal:
• Alguns determinantes comunitários:
• Ambiente intoxicado de comidas e bebidas indutoras de obesidade (ex.,
escolas).
• Necessidade de maior controlo social (leis sobre restrição de venda,
embalagem, preço, marketing).
• No controlo sobre a exposição aos media e a modelos realistas de
formas corporais.
• Potencial intervenção no caso da obesidade:
• Intervenção sobre modelos comunitários, normas, difusão de
informação, legislação com efeitos na adesão a programas de exercício
físico/dieta.
Abordagem socio-ecológica:
• “(…) health is viewed as a function of individuals and of the environments in
which individuals live including family, social networks, organizations,
communities, and societies.” (Kok et al., 2017)
Não há um único nível de análise que seja “verdadeiro”. Os diferentes níveis de análise
não são necessariamente contraditórios e articulam-se para fornecer uma visão mais
abrangente do problema. Deste modo, é importante percebermos onde nos situamos
para a intervenção.
Domínios de intervenção (OPP, 2016):
• Avaliação Psicológica e Psicossocial:
• Avaliação, diagnóstico e monitorização da saúde, funcionamento
psicológico, e indicadores psicossociais de indivíduos, grupos, instituições e
comunidades.
• Avaliação e monitorização dos processos e resultados dos projetos e
programas de saúde comunitários.
• Avaliação da qualidade, humanização e do impacto na saúde da população
da prestação de cuidados de saúde.
• Intervenção Psicológica e Psicossocial:
• Acompanhamento psicológico de indivíduos e grupos.
• Promoção da saúde e adaptação à doença.
• Educação para a literacia em saúde.
• Capacitação dos consumidores em saúde.
• Comunicação pública de informação sobre saúde.
• Diminuição das desigualdades em saúde.
• Intervenções em situações de crise e emergência.
• Consultadoria:
• Consultadoria a organizações de saúde.
• Assessoria a decisores para desenvolvimento de políticas públicas.
• Colaboração na criação de sistemas tecnológicos de informação na saúde.
• Colaboração na criação de tecnologias da saúde.
• Auditorias de programas, projetos de intervenção na saúde.
• Consultadoria organizacional para promoção de locais de trabalho
saudáveis.
• Formação:
• Ações de formação, educação e sensibilização para a saúde.
• Formação de outros profissionais de saúde.
Em suma – diferentes níveis de análise em Psicologia da Saúde:
• Perspetivas teóricas multinível dos determinantes dos comportamentos de saúde.
• Saliência da articulação dos níveis de análise para a conceção de intervenções.
• Perfil profissional rico e complexo, com múltiplas áreas de intervenção.
3. Modelos teóricos de promoção de
comportamentos de saúde
Comportamentos de saúde:
• Definição:
• “…activity undertaken for the purpose of preventing or detecting disease or
for improving health and well being” (Conner & Norman, 1996).
• “…behavior patterns, actions and habits that relate to health maintenance, to
health restoration and to health improvement” (Gochman, 1997).
• Importância:
• Comportamentos patogénicos vs. imunogénicos.
• Principais causas de morte nas sociedades contemporâneas devem-se a
comportamentos e estilos de vida.

• Sete comportamentos de saúde negativamente associados à morbilidade e


mortalidade (Belloc & Breslow, 1972):
• Sono (7h/8h).
• Pequeno almoço diário.
• Não fumar.
• Comer raramente entre refeições.
• Ter/manter peso ideal.
• Consumo nulo/moderado de álcool.
• Exercício físico.
Como modificar comportamentos de saúde?
• Aplicação de modelos da Cognição Social à Saúde.
• Modelos sociocognitivos.
• A identificação de fatores intrínsecos e permeáveis à mudança que estivessem
subjacentes aos comportamentos de saúde tornou-se um dos principais objetivos
dos psicólogos da saúde.
Modelos sociocognitivos:
• Pressupostos comuns:
• Racionalidade do ser humano.
• Comportamentos resultam de processos deliberados.
• Principio da utilidade percebida (expectativa/valor).
• Tipos de modelos sociocognitivos:
• Clássicos:
• Teoria da ação refletida (Fishbein & Ajzen, 1975).
• Teoria do comportamento planeado (Ajzen, 1987).
• Por etapas:
• Modelo transteórico (Prochaska e Diclemente, 1983)
• Relação intenção-comportamento.
Teoria da ação refletida (Fishbein & Ajzen, 1975):
• Origem:
• Modelos de tomada de decisão.
• Centrados no conceito de atitude.
• “Atitude é uma predisposição para responder de forma favorável ou
desfavorável a um objeto, pessoa, instituição ou acontecimento” (Ajzen, 1988).
• Intenção comportamental:
• Perceção sobre a probabilidade de realizar um determinado comportamento
num futuro próximo.
• E.g., No próximo mês, deixar de fumar…
É muito improvável -3 -2 -1 0 1 2 3 É muito provável

Intenção Comportamento

• Atitude face ao comportamento:


• Posicionamento (des)favorável do indivíduo face ao comportamento.
• E.g., Deixar de fumar é…
Mau -3 -2 -1 0 1 2 3 Bom

Atitude face ao
comportamento

Intenção Comportamento

• TAR e TCP (modelos expectativa valor):


• Crenças comportamentais:
• Crenças sobre atributos, resultados e/ou consequências do
comportamento.
• E.g., Deixar de fumar vai fazer-me engordar…
Improvável -3 -2 -1 0 1 2 3 Provável
• Avaliação de outcomes comportamentais:
• Juízos avaliativos sobre os atributos, resultados e/ou consequências do
comportamento.
• E.g., Engordar seria…
Mau -3 -2 -1 0 1 2 3 Bom

Crenças comportamentais
X
Atitude
Avaliação de outcomes
comportamentais

• Norma subjetiva:
• Posicionamento percebido de outros significativos face ao comportamento.
• E.g., A maioria das pessoas importantes para mim acham que devo deixar
de fumar…
Discordo/Improvável -3 -2 -1 0 1 2 3 Concordo/Provável

Atitude face ao
comportamento

Intenção Comportamento

Norma
subjetiva
• TAR e TCP (modelos expectativa valor):
• Crenças normativas:
• Crenças sobre o grau em que outros significativos (referentes
importantes) aprovam ou desaprovam o comportamento.
• E.g., O seu melhor amigo acha que deve deixar de fumar no próximo
mês…
Discordo -3 -2 -1 0 1 2 3 Concordo
• Motivação para a norma:
• Grau em que o indivíduo se sente motivado para corresponder às
expectativas percebidas dos referentes.
• E.g., Geralmente, gosto de fazer o que o meu amigo acha que devo
fazer…
Discordo 1 2 3 4 5 6 7 Concordo

Crenças normativas
X Norma subjetiva
Motivação para a norma
Teoria do Comportamento planeado (Ajzen, 1987):
• Teoria da ação refletida + controlo comportamental percebido.
• Controlo comportamental percebido:
• Dificuldade percebida de pôr em prática o comportamento.
• E.g., Deixar de fumar no próximo mês é algo que…
Não controlo nada -3 -2 -1 0 1 2 3 Controlo totalmente

Atitude face ao
comportamento

Norma Intenção Comportamento


subjetiva

Controlo
comportamental
percebido

• Crenças de controlo e perceção de poder:


• Crenças de controlo:
• Perceção de probabilidade de ocorrência de facilitadores ou barreiras ao
comportamento.
• E.g., Estar em locais públicos onde é proibido fumar é…
Improvável -3 -2 -1 0 1 2 3 Provável
• Poder percebido:
• Efeito percebido dos facilitadores e barreiras no grau de dificuldade de
execução do comportamento.
• E.g., A proibição de fumar em locais públicos faz com que deixar de
fumar seja…
Difícil -3 -2 -1 0 1 2 3 Fácil

Crenças de controlo Controlo


X comportamental
Perceção de poder percebido
• Suporte empírico:
• Meta-analise com 185 estudos (Conner & Armitage, 2001):

• Prevê mudança em inúmeros comportamentos de saúde.


• O peso preditivo dos diferentes tipos de crenças (comportamentais,
normativas, controlo) variam em função do tipo de comportamento.
• É útil em diferentes contextos socioculturais.
• Importância das entrevistas de elicitação para identificação das crenças
específicas subjacentes ao comportamento.
Limitações dos MSC clássicos:
• Focam-se apenas na fase motivacional (pré-intenção).
• Não vêem mudança de comportamento como um processo.
• A mesma “receita” para toda a gente – One size fits all!
Modelos SC por etapas:
• “Behavior change is a process, not a single event”.
• Identificam estádios qualitativamente distintos para adoção e manutenção de
comportamentos de saúde.
• Identificam fatores psicológicos que prevêem a passagem de uma fase para
outra.
• Visam o desenho de intervenções centradas nos fatores psicológicos específicos
que caracterizam a passagem de um estádio para outro.
Modelo Transteórico (Prochaska & Diclemente, 1983):
• Modelo por estádios mais difundido e utilizado.
• Inicialmente desenvolvido a partir de uma análise de sistemas de psicoterapia no
contexto da cessação tabágica.
• Conceitos chave:
• Estádios de mudança: dimensão temporal; principio organizador.
• Processo de mudança: processos cognitivos ou comportamentais em que os
indivíduos se envolvem para progredir ao longo dos estádios.
• Estádios de mudança:
• A progressão não é necessariamente linear.
• Pré-contemplação:
• Não tenciona mudar nos próximos 6 meses.
• Por desinformação ou desmoralização.
• Evitam pensar no próprio comportamento de risco.
• Contemplação:
• Tenciona mudar nos próximos 6 meses.
• Forte ambivalência (produz procastinação).
• Preparação:
• Tenciona mudar nos próximos 30 dias e já atuou nesse sentido.
• Começam a formar um plano de ação.
• Ação:
• Mudou o comportamento há menos de 6 meses.
• Aplicam ativamente processo de mudança.
• Manutenção:
• Mudou comportamento há mais de 6 meses.
• Focados na prevenção de recaídas.
• Não aplicam tão frequentemente processos de mudança.
• Nível de tentação mais baixo.
• Auto-eficácia mais elevada.
• Término:
• Sem tentações a recaídas e 100% autoconfiança.
• Novo comportamento é automático.
• Não faz sentido para todos os comportamentos.
• É o estádio que tem sido menos investigado.
• Relação entre estádios e processos:

• Suporte empírico (Prochaska, Redding & Evers, 2008):


• Aplicações do modelo a diferentes problemas / comportamentos (e.g.,
tabagismo, exercício físico, hábitos alimentares, adesão terapêutica, gestão
de stress, consumo de álcool, doação de órgãos, etc).
• Intervenção em diferentes contextos (e.g., domestico, organizacional,
escolar e comunitário).
• Tailoring das intervenções aos contrutos da TTM é relativamente eficaz.
Limitações dos MSC:
• Hábitos de saúde (automaticidade).
• Influencia dos contextos sociais nos diversos níveis de análise.
Entrevista motivacional – um método para promover mudança de
comportamentos de saúde:
• Três condições para a mudança:
• As pessoas querem: (1) ser compreendidas e aceites; (2) controlo e liberdade
nas suas escolhas; e, (3) poder apropriar-se das suas conquistas.
• A mudança nestas condições pode ser promovida através da entrevista
motivacional.
• Em que consiste a entrevista motivacional?
• Método de aconselhamento centrado no paciente.
• Visa promover a mudança de comportamentos ativando a motivação e
recursos para a mudança do próprio paciente.
• Centra-se num problema muito comum em processos de mudança de
comportamento – a ambivalência.
• Ambivalência:
• Conflito entre dois cursos de ação, cada um tendo custos e
benefícios associados.
• Emaranhado de contradições entre pensamentos, sentimentos,
crenças, valores e aspirações.
• “(…) is a collaborative, goal-oriented style os communication with
particular attention to the language of change. It is designed to streghthen
personal motivation for and commitment to a specific goal by eliciting and
exploring the person’s own reasons for change within na atmosphere of
acceptance and compassion”.
• Pirâmide da entrevista motivacional:
1. O espírito.
• Autonomia, colaboração, evocação, autoridade, coerção e educação.
• Princípios básico R.U.L.E: resist, understand, listen e empower.
2. O foco motivacional.
• Plantar a semente da mudança… e colher os frutos.
3. O estilo de comunicação.
• Seguir vs. Dirigir vs. Guiar.
• Guiar com foco em objetivos e linguagem de mudança.
• Skills de um bom guia: pergunta, escuta e informa.
• Skills nucleares: open questions, affirmations, reflections e summaries.

strategies

Principles

Spirit

4. Stress
Stress:
• Estado interno de ativação emocional.
• Estado de alerta/inquietação.
• Pode melhorar ou piorar o desempenho.
Stress como causa de doença:
• Stress têm efeitos fisiológicos diretos:
• Aumento de lípidos.
• Aumento da pressão arterial.
• Supressão do sistema imunitário.
• Aumento da atividade hormonal.
• O stress tem efeitos nos hábitos de saúde:
• Aumento do consumo de substâncias.
• Piores hábitos alimentares.
• Piores hábitos de sono.
• O stress tem efeitos nos comportamentos de saúde:
• Pior adesão terapêutica.
• Atraso na procura de cuidados de saúde.
• Perfil de sintomas mais obscuro (mais complexo e difícil de interpretar,
atrasando o diagnostico e tratamento).
Dois “tipos” de stress:
• Eustress: positivo, estimulante, ativador, motivante, revigorante, produtivo;
nível ótimo de ativação.
• Distress: negativo, desgastante, improdutivo, desmotivante, paralisante.
Três perspetivas de stress:
• Stress como resposta.
• Stress como acontecimento de vida.
• Stress como resultado da interação entre indivíduo e ambiente.
Stress como resposta:
• Walter Cannon, 1932:
• Perceção de ameaça leva a ativação fisiológica, via sistema nervoso
simpático e sistema endócrino.
• Adaptativo a curto-prazo.
• Com consequências graves para saúde, se exposição a ameaças é prolongada
e o organismo não consegue “lutar” ou “fugir”.
• O que é prejudicial é não conseguir restabelecer níveis de ativação ótimos.
• Hans Selye, 1956, 1976:
• Salienta a padrão de reações fisiológicas comuns a todos os stressores.
• Sugere mecanismo fisiológico para a relação entre stress e doença.
• O prejudicial é estar permanentemente em estado de resistência.
• Algumas doenças de adaptação: cardiovasculares, mentais, metabólicas,
úlceras.

• Limitações:
• Stress percebido como uma resposta fisiológica, direta e automática face a
um estimulo → não se foca na dimensão psicológica da ativação; sem esta
dimensão não é possível distinguir entre os dois tipos de stress.
• Individuo tem papel passivo no processo → o corpo responde
automaticamente e o individuo não tem controlo sobre a resposta.
• Não são considerados fatores psicológicos ou sociais no processo.
Stress como acontecimento de vida (Holmes & Rahe, 1967):
• Acontecimentos de vida como indutores de stress.
• Quando o organismo se tem que adaptar ao ambiente é provável que surja stress.
• Social Readjustment Rating Scale – lista de acontecimentos de vida por ordem
decrescente de grau de ajustamento necessário.
• Pressuposto: quantos mais acontecimentos de vida, maior o stress, maior a
probabilidade de doença.
• Limitações:
• Experiências de vida podem interagir umas com as outras, compensando-se,
• Os acontecimentos de vida não podem ser vistos como objetivamente
stressantes (e.g., contacto com cobras pode ser altamente stressante para
certos indivíduos e para outros não).
Como explicar – trajetória do sofrimento psicológico no 1º ano apos o diagnostico
de cancro da mama (Henselmans et al., 2010)?
• Identificação de 4 grupo de indivíduos com respostas de stress / níveis de
ativação diferentes, mesmo passando pela mesmo tratamento.

Modelo transacional de stress (Lazarus & Folkman, 1984):


• O stress não é uma mera resposta a um evento nem um acontecimento de vida,
mas sim um processo.
• “Psychological stress is a particular relationship between the person and the
environment that is appraised by the person as taxing or exceeding his or her
resources and endangering his or her well-being” (Lazarus & Folkman, 1984).
• Componentes importantes: como avalio o acontecimento e como avalio os
recursos para lidar com o acontecimento.
• Atenção: dizer sempre evento potencialmente stressante (e não dizer evento
stressante).
• Avaliação primária:
• Perceção do evento.
• Eventos podem ser percebidos como:
1. Neutros.
2. Positivos.
3. Negativos:
a) Perda / dano (presente).
b) Ameaça (futuro).
c) Desafio (futuro).
• Avaliação secundária:
• Perceção sobre recursos de coping.
• Expectativas de resultados: Que recursos são eficazes para lidar com este
evento?
• Auto-eficácia: Tenho esses recursos ao meu dispôr?
• Estratégias de coping:
• Estratégias para lidar com a dor e as suas circunstâncias.
• “(…) consists of efforts, both action oriented and intrapsychic, to manage
(i.e., master, tolerate, reduce, minimize) environmental and internal
demands and conflicts among them” (Lazarus & Launier, 1979).
• Tipos de estratégias de coping:
• Aproximação vs. Evitamento:
• Aproximação → tentar lidar com o evento/problema em causa.
• Evitamento → fingir que não existe; agir como se o problema não
existisse; normalmente são disfuncionais.
• Focalizadas no problema vs. nas emoções:
• Focalizadas no problema → estratégias mais racionais para lidar
com o problema; focadas em tarefas (e.g., recebi um determinado
diagnostico e vou procurar uma segunda opinião ou os tratamentos
que posso fazer).
• Focalizadas nas emoções → estratégias para lidar com as emoções
provocadas pelo problema.
• E.g., dor crónica:
• Qual o impacto das avaliações?

• Qual o impacto das estratégias de coping?

O papel do Psicólogo da Saúde:


• Nível individual:
• Programas de gestão de stress:
• Educação: reconhecimento do conceito e identificação dos principais
eventos potencialmente indutores de distress.
• Aquisição de skills: aquisição e pratica de estratégias de coping,
• Prática de skills: implementação das estratégias em contexto natural.
• Técnicas de relaxamento (não mindfulness)
• Nível interpessoal:
• Promoção da integração social e de suporte social.
• Nível intergrupal:
• Construção e manutenção de identidades sociais protetoras.
• Mudança organizacional(e.g., tentar aumentar a identificação
organizacional).
• Nível comunitário:
• Intervenções nos espaços (e.g., mudanças em disposição de mobília, nas
cores das paredes, etc).
5. Diferenças individuais e Saúde
Diferenças individuais na saúde (Contrada & Goyal, 2004):
• Cada individuo é único na forma como se relaciona com o seu corpo e a sua
saúde.
• Como explicar a variabilidade nos comportamentos de saúde?
• Psicologia diferencial e os fatores intra-individuais:
• Fatores de personalidade → disposições estáveis e globais.
• Processos sociocognitivos → medeiam influencias situacionais nos
comportamentos de saúde (maior foco nesta área por seres mais facilmente
mutáveis).
Personalidade, saúde e doença:

Comportamentos de saúde.
Stress.
Identificação de sintomas.
Processos de coping.
Processos de adaptação à
doença.

Personalidade tipo A:
• Caracterizado por: competitividade, ambição, impaciência, irritabilidade,
hostilidades, “correr contra o tempo”, padrão de fala vigoroso.
• Aumenta a probabilidade de emergirem doenças cardiovasculares → principal
ingrediente: hostilidade (Miller et al., 1996).
• Porque existe esta associação entre as características e o aumento das doenças
cardiovasculares (Albery & Munafò, 2008)?
• Este tipo de pessoas tem um conjunto de crenças, cognições e
comportamentos baseados na zanga/raiva e elevados níveis de cinismo face
ao mundo e aos outros.
• Tal está associado a níveis de ativação fisiologicamente mais reativos
(pressão arterial, frequência cardíaca).
• Para além disso, estas pessoas, de uma forma geral, tem maior probabilidade
de terem menos recursos sociais que amorteçam efeitos do stress (tem
menos redes de apoio).
• Por fim, são pessoas que também têm maior probabilidade de se envolver
em comportamentos de risco (e.g., consumo de substâncias).
Personalidade tipo C:
• Caracterizado por: cooperativo, passivo, estoico, pouco assertivo,
autossacrificado, humor deprimido, reprime expressão de afeto negativo.
• Associado ao aumento da probabilidade de desenvolvimento de doenças
oncológicas (Shaffer et al., 1987).
• Porquê (Contrada & Goyal, 2004)?
• Os mecanismos explicativos desta associação são menos investigados.
• A principal explicação passa pelo facto de os indivíduos recorrerem mais a
estratégias de coping repressivo o que leva a um maior compromisso do
sistema imunitário.
Neuroticismo:
• Caracterizado por: afeto negativo, instabilidade emocional, ansiedade,
irritabilidade, humor depressivo, pessimismo, introspetivo, autoconceito
negativo.
• Está associado a perceções de saúde mais negativas e a mais queixas de saúde.
• Apresentam relações mais fracas com indicadores objetivos de saúde, por via de:
depressão, hostilidade e ansiedade.
Conscienciosidade:
• Caracterizado por: prudência, fiabilidade, organização, persistência,
autocontrolo, disciplina, foco em objetivos.
• Uma das dimensões que tem uma relação mais estável com a saúde (e.g., tem
sido demonstrado que indivíduos que demonstram ser mais conscienciosos
desde o inicio de vida vivem mais tempo que indivíduos que não o demonstram
desde pequenos).
• Está associada a (Friedman & Kern, 2014):
• Melhor saúde (indicadores objetivos de saúde).
• Melhor qualidade de vida.
• Menor risco de desenvolvimento de doenças (e.g., Alzeimer e outras
doenças degenerativas).
• Menor reporte de sintomas.
• Longevidade.
• Potenciais mecanismos que explicam esta associação (Friedman & Kern, 2014):
• Estilos de vida mais saudáveis.
• Escolha de ambientes/relações mais saudáveis.
• Associada a níveis educativos mais elevados e carreiras profissionais com
mais significado.
• Atenua efeitos (negativos) de outros traços de personalidade (e.g.,
neuroticismo).
• Redução de pequenos riscos diários (e.g., colocar sempre o cinto de
segurança).
A avaliação da personalidade é fundamental para adaptar a intervenção ao perfil de
personalidade do indivíduo.
Fatores sociocognitivos, Saúde e Doença:

Comportamentos de saúde.
Stress.
Identificação de sintomas.
Processos de coping.
Processos de adaptação à
doença.

Otimismo:
• 2 correntes de estudo: otimismo disposicional e otimismo irrealista ou
comparativo.
• Otimismo disposicional:
• Expectativa generalizada sobre futuro.
• Instrumento para medir otimismo disposicional: Life Orientation
Test_revised (LOT-R).

• Otimismo e pessimismo são duas dimensões independentes.


• Pessoas mais otimistas tem menores níveis de distress → redução do
distress em pacientes com HIV/SIDA ou com cancro da mama.
• Pessoas mais pessimistas têm maiores níveis de distress → aumento da taxa
de mortalidade em doentes com cancro mais jovens.
• Mecanismos que explicam esta associação:
• Pessoas mais otimistas avaliam os acontecimentos menos
negativamente (avaliação primária) e avaliam a sua capacidade para
lidar com o evento de forma mais positiva (avaliação secundária).
• Pessoas mais pessimistas tendem a adotar estratégias de coping de
evitamento.
• Pessoas mais pessimistas tem maior probabilidade de fazer atribuições
causais que são prejudiciais (externas, instáveis, específicas) e de adotar
piores comportamentos de saúde.
• Otimismo irrealista ou comparativo:
• Muito associado ao conceito de perceções de risco (quando olhamos para o
futuro, qual a probabilidade de corrermos certos tipos de risco).
• É um importante preditor da intenção.
• A maioria das pessoas julga ter menos probabilidade de contrair certo tipo
de doenças que a “pessoa típica”.
• Verifica-se para diversos tipos de doenças ou comportamentos de risco.
• Não é culturalmente especifico.
• Presente em diversas fases de desenvolvimento (sobretudo na adolescência).
• Otimismo irrealista é maior quando estamos em situações que
percecionamos como mais graves. E.g.:

• Ilusões associadas a pessoas saudáveis (sem perturbação mental) → e.g.,


não se verificam em pessoas com depressão.
• Explicações:
• Explicação motivacional: proteção de autoimagem, autoestima e bem-
estar psicológico.
• Explicação cognitiva: enviesamento egocêntrico no processamento de
informação sobre risco.
• Pressuposto: maior otimismo irrealista, maior a probabilidade de
comportamentos de risco (fraca evidencia de estudos longitudinais).
Perceções de controlo:

• Tipos de crenças:
• Crenças de estratégia: associação entre meios e fins (e.g., para não ter
doenças sexualmente transmissíveis tenho de usar preservativo)
• Crenças de capacidade: associação entre meios e capacidade do individuo
para fazer uso dos meios (e.g., eu sou – ou não – capaz de usar preservativo
sempre que tenho relações sexuais).
• Crenças de controlo: crença de ser – ou não – capaz de atingir o objetivo.
• As crenças de capacidade e de estratégia influenciam as crenças de controlo.
• Relacionado com o locus de controlo dos indivíduos.
• Locus de controlo:

External Internal
➢ I don´t know why bad things ➢ I cause my own grief.
keep happening to me. ➢ I can do something about this.
➢ There’s nothing I can do. ➢ It’s in my control.
➢ It’s out of my control. ➢ Why did I do this to myself?
➢ Why did they do this to me?

Sorte/Acaso; outros poderosos

• Pessoas com maior locus de controlo externo têm pior saúde (maior taxa de
mortalidade, depressão e atraso na procura de cuidados de saúde).
• Pessoas com maior locus de controlo interno têm melhor saúde (mais
comportamentos de proteção sexual, comportamentos alimentares saudáveis e
realização de exercício físico).
• Mais facilmente restruturáveis do que perfis de personalidade.
• Instrumento para medir locus de controlo: Multidimensional Health Locus of
Control Scale (Wallston et al., 1994)

Autoeficácia:
• Origem: Teoria sociocognitiva (Bandura, 1997).
• “Sou capaz de fazer o que é preciso para conseguir os meus objetivos”.
• Determina:
• Comportamentos serão implementados para atingir determinados fins.
• O esforço que é investido na conquista de um objetivo.
• A persistência face a obstáculos.

Efeito Motivacional
• Dimensão presente em muitos modelos sociocognitivos.
• Forte preditor de:
• Intenção e motivação comportamental.
• Realização de comportamentos de saúde.
• Manutenção de estilos de vida saudável.
• Teoria sociocognitiva (Bandura, 2000):

Expectativas de resultados
(resultados físicos, sociais
e na autoavaliação)

Perceção de
Objetivos Comportamento
autoeficácia

Fatores socio-estruturais
percebidos (facilitadores e
impedimentos)

Barreiras e oportunidades percebidas


• Diferentes facetas:
• Autoeficácia face à tarefa (pré-ação):
• “Sou capaz de realizar exercício físico regularmente mesmo que tenha
que mudar de estilo de vida”
• Autoeficácia de iniciação:
• “Sou capaz de implementar o meu plano de ação para deixar de fumar”
• Autoeficácia de manutenção:
• “Mesmo ante as dificuldades serei capaz de continuar a não fumar”
• Autoeficácia de recuperação:
• “Mesmo recaindo serei capaz de voltar a deixar de fumar”
• E.g.:
• Estudo prospetivo (3 meses).
• Amostra: 170 idosos com dor crónica musculo-esquelética.
6. Gender-related traits and health
Sexo:
• Refere-se às categorias biológicas que se distinguem tipicamente por genes,
cromossomas, e hormonas.
• Feminino, Masculino, Intersex (ocorre quando há inconsistência entre os
genitais, gónadas e cromossomas).
Género:
• Refere-se às categorias sociais que são tipicamente definidas como masculinas e
femininas; características psicológicas e atributos de papel atribuídos a
categorias biológicas de homens e mulheres (e.g., nurturance, competitiveness).
Papeis de género:
• Um papel é uma posição social acompanhada por um conjunto de normas ou
expectativas.
• O papel do género refere-se à expectativa que a sociedade tem do que é ser uma
mulher ou um homem.
• Papeis de género de um homem:
• Normalmente esperamos que os homens sejam fortes, independentes e
competitivos, e que mantenham as suas emoções escondidas.
• Papeis de género de uma mulher:
• Normalmente esperamos mulheres ser atencioso, emocionalmente
expressivo, educado, e prestável.
História da Psicologia do Género:
• 1894-1936 – diferenças relacionadas com o sexo na inteligência:
• Uma suposição deste período foi:
• Os homens são intelectualmente superiores às mulheres
• Os cientistas voltaram-se para a anatomia do cérebro, tamanho do cérebro,
relação do cérebro com o corpo e áreas particulares do cérebro
• A investigação não foi bem sucedida.
• Os investigadores concluíram que as mulheres não são inferiores aos
homens intelectualmente
• 1936-1954 – masculinidade-feminidade como um traço de personalidade global:
• O construto de masculinidade-feminidade foi introduzido durante este
período.
• Construtos de masculinidade e de feminidade como extremos opostos de um
único continuum.
• Todas as escalas M/F desenvolvidas sofreram de uma série de fraquezas
conceptuais.
• Uma suposição deste período foi:
• Homens psicologicamente saudáveis são masculinos.
• Mulheres psicologicamente saudáveis são femininas.
• 1954-1982 – sex typing and androgyny:
• Constantinople (1973) questionou duas suposições dos instrumentos M/F
anteriores:
• Unidimensionalidade.
• Bipolaridade.
• Uma suposição deste período foi:
• A pessoa mais saudável é aquela que possui ambos os traços.
• Parson e Bales (1955) – instumentalidade/expressividade:

• Sandra Bem (1974) - Bem Sex Role Inventory (BSRI):


• Instrumentalidade: aspetos desejáveis da orientação instrumental.
• Expressividade: aspetos desejáveis da orientação expressiva.
• Introduziu a noção de androginia (androgyny):
• Uma pessoa andrógina era alguém que possuía ambas as
características de masculinidade e de feminilidade.
• Spence and colleagues (1974) – Personal attribute questionnaire (PAQ):
• Instrumentalidade: aspetos desejáveis da orientação instrumental.
• Expressividade: aspetos desejáveis da orientação expressiva.
• Spence and colleagues (1979): Extended Personal Attributes
Questionnaire (EPAQ).
• Voltaram-se para o trabalho de Bakan (1966) para desenvolver uma
escala que captasse aspectos indesejáveis das orientações instrumentais
e expressivas.
• David Bakan (1966) – desenvolvimento das ideias de agência e comunhão:
• Agência e Comunhão são dois princípios da existência humana:
• Agência: foco no eu e na separação; princípio masculino;
instrumentalidade.
• Comunhão: foco nos outros e na ligação; princípio feminino;
expressividade.
• É importante que a agência seja atenuada pela comunhão.
• É importante que a comunhão seja atenuada pela agência.
• A agência não mitigada e a comunhão não mitigada são destrutivas
para o eu e para a sociedade.
• 1982-Presente – género como uma categoria social:
• Masculinidade e feminidade são construtos multifacetados.
• BSRI, PAQ e EPAQ não medem masculinidade e feminidade.
• BSRI e PAQ medem agência/instrumentalidade e comunhão/expressividade.
• EPAQ também mede agência não mitigada.
• Masculinidade inclui traços, comportamentos e interesses que a sociedade
atribuir ao papel de género masculino.
• Feminidade inclui traços, comportamentos e interesses atribuídos ao papel
de género feminino.
Vicki S. Helgeson:
• Investigadora mais importante no campo das características relacionadas com o
género e a saúde.
• A escala Unmitigated Communion do EPAQ não é fiável.
• Desenvolveu a Unmitigated Communion Scale (UCS).
• Traços relacionados com o género:
• Agência:
• Foco positivo no self.
• Autoproteção.
• Competitividade.
• Form separations.
• Ações individuais.
• Iniciativa individual.
• Autoconfiança.
• Independência.
• Comunhão:
• Foco positivo nos outros.
• Ajudar e cuidar dos outros.
• Atento aos sentimentos dos outros.
• Capacidade de ligação a outros.
• Ações coletivas.
• Ambiente de apoio.
• Competências sociais.
• Vinculação.
• Unmitigated version of agency (UA):
• O foco no eu, com exclusão dos outros.
• Um aspeto restrito da agência.
• Excluí a comunhão.
• Auto-absorção; visão exagerada do self →
capturado por características "arrogante",
"egoísta" e "ganancioso".
• Visão negativa dos outros → capturado
pelas características "cínico" e "hostil".
• Distinção entre agência e UA (implicações para a saúde e para as relações):

• Ligações do UA com o bem-estar:


• Mecanismos:
• Reativo a ameaças ao controlo (e.g., doença crónica).
• Baixa autoeficácia.
• Dificuldades em expressar emoções.
• Relações problemáticas com os outros.
• Relutância em procurar ajuda.
• Unmitigated version of communion (UC):
• O foco nos outros com exclusão do self.
• Um aspeto restrito da comunhão.
• Exclui a agência.
• Envolvimento excessivo nos problemas dos
outros → ser excessivamente nurturant e intrusivo.
• Autonegligência e visão negativa do eu → dificuldades em afirmar as suas
necessidades aos outros; ser exploitable; inibir a autoexpressão para evitar
conflitos com outros.
• Distinção entre comunhão e UC (implicações para a saúde e para as relações):

• Ligações do UC com o bem-estar:


• Mecanismos:
• Responsivo/atento aos fatores de tensão da relação.
• Maus cuidados de saúde (devido à autonegligência)
• Baixa autoestima
• Dependência dos outros para auto-valorização e controlo
• Baixo otimismo (perspetiva pessimista em geral)
• Ligações entre agência e comunhão com o bem-estar:
• Agência:
• Saúde mental.
• Menos distress psicológico.
• Elevada autoestima.
• Menos queixas de saúde.
• Bom ajustamento à doença.
• Habilidade para expressar emoções.
• Comunhão:
• Satisfação com as relações.
• Menos distress psicológico.
• Competência social.
• Fornece apoio.
• Recebe apoio.
• Alta comunhão e a baixa agência é o mesmo que UC?
• Pontuações altas em comunhão e baixas em agência não representam a UC.
• Na verdade, a UC é qualitativamente diferente de comunhão.
• Do mesmo modo, pontuações elevadas em agência e baixas em comunhão
não representam UA. Esta é, também, qualitativamente diferente de agência.
Medidas que medem traços relacionados com o género:
• BSRI: Bem Sex Role Inventory → agência e comunhão.
• PAQ: Personal Attribute Questionnaire → agência e comunhão.
• EPAQ: Extended version of Personal Attribute Questionnaire → agência,
comunhão e UA.
• UCS: Unmitigated Communion Scale.

7. Doenças e perceção de sinais e sintomas


O que são doenças crónicas?
• “(…) chronic conditions as those lasting at least 6 months, showing a pattern of
deterioration or periods of relapse and remission, having a poor prognosis or
possible lack of curability and disease related-effects, including co-morbid
conditions.” (O´Halloran et al., 2003)
• Características:
• Temporalidade.
• Ciclos de progressão.
• Mau prognostico.
• Impossibilidade de cura.
• Comorbilidade.
Doenças crónica – epidemia global:
• Doenças não comunicáveis → não transmissíveis; associadas a comportamentos
e estilos de vida.
• Doenças comunicáveis → infectocontagiosas.
• Globalmente, as DC não comunicáveis são principais causas de morte.
• Padrão associado ao aumento da esperança média de vida e aos estilos de vida.
• Nos países de baixo rendimento, o padrão altera-se, sendo as doenças
comunicáveis as principais causas de morte.

• Nos países com rendimento entre baixo e médio, o padrão tende a ir ao encontro
do padrão dos países de médio/alto rendimento.
• As DC não comunicáveis estão a deixar de ser as principais causas de morte
apenas nos países desenvolvidos.
• A proporção de DC entre crianças está a aumentar dramaticamente (e.g.,
diabetes tipo 2).
• O padrão da europa varia do padrão global uma vez que as duas principais
causas de morte são as doenças cardiovasculares e o cancro e só posteriormente
aparecem as doenças respiratórias.

Doenças crónicas – impacto:


• Só devido às não comunicáveis, perdeu-se 3.4 milhões de anos de vida
potencialmente produtivos.
• Taxa de emprego de indivíduos com doenças crónicas é muito menor quando
comparada com a taxa de emprego de indivíduos sem doenças cronicas. A
diferença entre indivíduos com 1 doença cronica e indivíduos com 2 ou mais
doenças cronicas é também bastante elevada.

• As pessoas com DC, quando trabalham têm menor probabilidade de meter dias
de baixa.
Doenças crónicas – Portugal:
• Carga global de doença → medida com DALY; 1 DALY corresponde a 1 ano
de vida saudável perdido; tem em conta a mortalidade e a incapacidade devido
às DC.
• As DC não comunicáveis são responsáveis por 85% dos anos de vida saudáveis
perdidos em Portugal.

• YLD é outra medida, mas apenas conta com a incapacidade.


Qual é o papel da psicologia?
• Tem um papel importante nas várias etapas da doença.

Perceção de sinais e sintomas:


• Influenciados por diversos processos internos e crenças.
• As doenças estão frequentemente associadas a alterações nas sensações e
funções corporais:
• Sintomas: alteração na perceção que o próprio tem do seu corpo
• Sinais: alterações do corpo que podem ser percebidas por outros.
• Embora a maioria das pessoas tenha sinais ou sintomas de doença nalguma fase
da sua vida, nem todas recorrem ao sistema de saúde.
• Porquê?
• Perceção de sinais e sintomas (se são graves ou não)
• Interpretação de sintomas como doença (grau em que percecionamos que
determinado sintoma está associado a doenças)
• Planeamento e ação (o que fazemos para lidar com a doença)
• O processo de perceção de sintomas pode ser influenciado por:
• Fatores atencionais:
• Diversos estímulos internos e externos concorrentes → devido a isto
podemos não prestar atenção a algumas alterações do corpo.
• Fatores de contexto podem focalizar a atenção para determinados
sinais/sintomas.
• Exemplos:
• Influência da mediatização de epidemias (e.g., as
mensagens dos media relacionadas com a COVD levaram
a que dessemos mais atenção a sinais/sintomas
relacionados com essa doença).
• Aulas de psicopatologia
• Influências socias:
• Temos representações estereotípicas sobre pacientes típicos (se não
fizermos parte destas representações, demoramos mais tempo a
percecionar/identificar os sinais e sintomas).
• Temos representações estereotípicas sobre os sintomas/sinais de
determinadas doenças (e.g., associa-se que a dor no peito e braço a
doenças cardiovasculares, mas não dores no maxilar, que é também
um sintoma destas doenças).
• Exemplos:
• Estereótipos de género e sintomas de doenças cardiovasculares
ou tipo de dores.

• Diferenças individuais:
• Influência estados emocionais ou traços de personalidade (e.g.,
neuroticismo, personalidade do tipo A).
• Pessoas hipocondríacas.
• Características que aumentam a probabilidade de perceção de sintomas:
1. Ser doloroso ou disruptivo.
2. Ser novo.
3. Persistente.
4. Presença de doença crónica prévia.
Teoria da autorregulação da doença (Leventhal et al., 1984, 1997):
• Pressupostos:
• A identificação de uma doença põe em causa o equilíbrio físico e
psicológico de um indivíduo.
• É dado início a um processo de resolução de problemas com vista ao
restabelecimento do equilíbrio – autorregulação.
• Modelo cognitivo/afetivo = relação entre representações cognitivas de
doença e representações do impacto emocional da doença.
• Três etapas iterativas em processos de resolução de problemas:
• Interpretação:
• Dar significado ou sentido ao problema.
• Estímulo ou sinal de problema potencial:
1. Perceção de sinais e sintomas.
2. Mensagens sociais (e.g., receber
diagnóstico).
• Representação ou Cognições Doença:
• Temos em memória representações estereotípicas de doenças.
• Representações de doença permitem a interpretação de
sintomas.
• Os sintomas mais prototípicos são mais rapidamente auto-
diagnosticados (e.g., nódulo no peito).
• Modelos de senso comum:
• Origem: experiências pessoais ou vicariantes.

• Identidade: variáveis que identificam a presença/ausência


de uma doença; inclui nome + sinais e sintomas.
• Consequências: os efeitos da doença na vida (físicos,
emocionais, sociais…) de curto ou longo prazo.
• Causa: causa percebida da doença (biológica, emocional,
psicológica, genética e/ou ambiental; interna vs. externa).
• Timeline: o tempo de desenvolvimento e duração da
doença (aguda, crónica, episódica).
• Cura ou controlo: possibilidade de controlar, tratar ou
limitar a progressão da doença.
• Avaliação das Representações de Doença:
• Personal Models of Illness Interview (Hampson et al.,
1990).
• Illness Perception Questionnaire (Weinman et al., 1996).
• Moss-Morris acrescenta duas dimensões às representações
de doença:
• Controlo de tratamento: crenças sobre a eficácia de
tratamentos na gestão da doença (diferencia um tipo
específico de crenças de controlo).

Coerência da doença: crença meta-cognitiva sobre o
grau em que a doença é clara, compreensível ou “faz
sentido” para a pessoa.
• IPQ-Revisto também avalia as representações da reação emocional.
• Coping:
• Lidar com o problema para recuperar estado de equilíbrio
• Avaliação:
• Avaliar a eficácia das estratégias de coping.

• Protótipos de doença:
Gripe SIDA
Corrimento nasal, febre, Perda de peso, gânglios
Identidade arrepios, espirros, membros inchados, febre, lesões na
doridos pele, pneumonia
Causa Vírus Vírus
Raramente são sérias ou a Má saúde a longo prazo,
Consequências
longo prazo morte, incerteza
Timeline 24h a 1 semana Meses a anos
Não existe; múltiplos
Cura Tempo e automedicação tratamentos para evitar
progressão
Toxicodependentes, qualquer
pessoa que tenha
Tipo de pessoa Qualquer
comportamentos sexuais de
risco
• Efeitos das representações de doença no coping com fadiga crónica:

• Representações de doença e coping com enfarte de miocárdio:

8. Intervenções digitais na adaptação a doenças


crónicas
As intervenções digitais de mudança comportamental (IDMC) na área da saúde têm por
objetivo a promoção da mudança de comportamentos com impacto na saúde, através da
disponibilização de intervenções em formatos digitais, ou fazendo uso destas
tecnologias (West & Michie, 2016).

Formato das intervenções:


• Envio de mensagens de texto.
• Envio de email.
• Websites.
• Redes sociais.
• Aplicações.
Áreas de aplicação:
• Redução de comportamentos de risco.
• Promoção de comportamentos de saúde.
• Autogestão de condições crónicas e agudas.
• Melhoria da adesão dos profissionais de saúde a orientações clínicas.
• Melhoria das práticas clínicas.
Vantagens das IDMC:
• Facilidade no acesso.
• Facilidade de partilha de informação.
• Conveniência.
• Disponibilização destas intervenções em tempo e contexto “real”.
• O grande potencial das intervenções no contexto da Psicologia da Saúde:
• Escalabilidade.
• Rácio de custo-benefício é bastante encorajador.
• Possibilidade de oferecer intervenções adaptadas ao indivíduo, contexto e
momento.
• Elevado nível de fiabilidade, qualidade e segurança.
Guias metodológicos:
• Vários guias metodológicos de apoio ao desenvolvimento de intervenções
complexas em saúde têm sido propostos:
• O guia para o desenvolvimento de intervenções complexas do Medical
Research Council do Reino Unido (Craig et al., 2008).
• Os protocolos Intervention Mapping (Bartholomew Eldrigde et al., 2016).
• Behaviour Change Wheel (Michie, Atkins, & West, 2014).
• Abordagem Person-Based Approach (Morrison, Muller, Yardley, &
Bradbury, 2018).
Recomendações:
• Mais recentemente foram propostas recomendações e normas específicas
relativas às intervenções digitais na área da saúde por painéis de especialistas
(Michie, Yardley, West, Patrick, & Greaves, 2017), bem como por organizações
internacionais como:
• Organização Mundial de Saúde (OMS, 2019).
• National Institute for Health and Care Excellence (NICE, 2019).
Etapas de desenvolvimento de IDMC:

Identificação e Identificação dos


Identificação do especificação do(s) determinantes do(s)
problema de saúde comportamento(s)- comportamento(s)-
alvo alvo

Seleção dos
Processos de conteúdos e forma
desenvolvimento de disponibilização
da intervenção

1. Identificação do problema de saúde e especificação do(s) comportamento(s)-


alvo:
• Por exemplo, poderá definir-se que para prevenir o ganho de peso, os
utilizadores da intervenção terão de aumentar os seus níveis de atividade
aeróbica e/ou reduzir o teor de açúcar na dieta alimentar.
2. Identificação dos determinantes do(s) comportamento(s)-alvo:
• Como identificamos estes determinantes?
• Forma dedutiva - uso de teoria.
• Forma indutiva - revisão ou realização de estudos qualitativos
3. Seleção dos conteúdos e forma de disponibilização da intervenção:
• Seleção das técnicas de mudança comportamental que serão u4lizadas (Kok
et al., 2016).
• Estabelecimento do modelo lógico da intervenção (Bartholomew Eldrigde et
al., 2016).
4. Processos de desenvolvimento:
• O desenvolvimento e avaliação de IDMC ocorrem de forma concomitante e
cíclica.
• O desenvolvimento de uma IDMC é essencialmente um processo interativo.
• Processo de refinamento e desenvolvimento contínuo até se chegar a uma
versão final.
• O desenvolvimento das IDMC poderá requerer o estabelecimento de
equipas multidisciplinares.
• Exemplo – viver com lúpus:
1. Identificação do problema de saúde:
• Revisão sistemática da literatura.
• Entrevistas com pessoas com lúpus.
• Entrevistas com médicos.
2. Identificação dos determinantes:
• Modelo Health Action Process Approach (HAPA):
• Conhecimento.
• Expectativas de resultado.
• Perceção de controlo.
• Definição de objetivos.
• Plano de ação.
• Monitorização.
• Feedback.
• Autoeficácia de manutenção.
• Plano de coping.
3. Seleção dos conteúdos e forma de disponibilização da intervenção:
• Intervention Mapping.
• Taxonomy of Behavior change techniques.
4. Desenvolvimento:
Avaliação das IDMC:
• Estudos randomizados e controlados.
• Avaliação da eficácia em comparação com um grupo de controlo passivo ou
ativo.
• Desafio na avaliação de IDMC:
• Quais as componentes de uma determinada IDMC que têm um impacto
positivo, neutro ou negativo na mudança comportamental desejada? –
otimização da IDMC.
• Natureza dinâmica e a evolução rápida das novas tecnologias.
• São por isso necessários métodos mais flexíveis de avaliação e otimização de
IDMC.
• Avaliação da usabilidade:
• Avaliar se a IDMC pode ser utilizada pelos utilizadores-alvo de forma
simples, intuitiva e sem problemas de navegação.
• Como é feita esta avaliação?
• Com amostras reduzidas de utilizadores.
• Através da utilização de tarefas de “pensar em voz alta” (think aloud)
enquanto utilizam a intervenção.
• Entrevistas retrospetivas.
• Critérios para avaliação da usabilidade:
• APEASE (Michie et al., 2014), corresponde à avaliação de intervenções
com base em:
• Aceitação.
• Praticabilidade.
• Efetividade e custo-efetividade.
• Acessibilidade.
• Segurança e efeitos secundários.
• Equidade.
Abordagem baseada na pessoa:
• IDMC devem ser fundamentadas na perspetiva e no contexto psicossocial da
pessoa que as vai usar.
• É complementar as já existentes (abordagens baseadas na teoria e na evidência).
• O desenvolvimento da intervenção é visto como um processo interativo entre o
feedback do utilizador e a adaptação e otimização da intervenção.
Desafios:
• Diversas revisões sobre a eficácia e custo-efetividade de IDMC no contexto da
saúde têm demonstrado resultados promissores (Jiang, Ming, & You, 2019;
Kenfield et al., 2019).
• No entanto existe alguma inconsistência nos resultados destas intervenções, a
qual se deve sobretudo:
• À falta ou uso inadequado de princípios teóricos orientadores.
• À falta de uma clara descrição dos procedimentos e das relações de impacto
no(s) comportamento(s)-alvo.
• Dificuldade de operacionalização e padronização das técnicas de mudança
comportamental ao contexto digital.
• Grande heterogeneidade ao nível do desenho e implementação de
intervenções digitais.
• Ritmo de desenvolvimento de intervenções sólidas de um ponto de vista
cientifico vs. rápida mudança tecnológica e forte competição comercial.
• Algumas normas e padrões relativos à regulação da implementação das
intervenções digitais surgiram também muito recentemente (e.g., NICE, 2019;
OMS, 2019).
• Será num futuro próximo necessário um escrutínio e esforço continuado para
assegurar que as IDMC contribuem para a melhoria da saúde e qualidade de vida
das populações.
• A equidade no acesso a estas intervenções é algo que deverá também continuar a
ser trabalhado (OMS, 2019).
• Um importante avanço das IDMC nos próximos anos será a utilização de
técnicas de inteligência artificial (e.g., machine learning).
• O envolvimento dos utilizadores com as IDMC, com a investigação a apontar
para taxas de retenção de utilizadores na ordem dos 50% para diversos
comportamentos de saúde (Kelders, Kok, Ossebaard, & Van Gemert-Pijnen,
2012; Michie et al., 2017).
• Para compreender a dose de envolvimento necessária para potencial mudança
comportamental, é necessário primeiro definir e desenvolver formas de
avaliação eficazes do envolvimento com a intervenção (Michie et al., 2017;
Perski, Blandford, West, & Michie, 2017; Short et al., 2018).
Conclusão:
• As IDMC encerram em si muitas vantagens no que diz respeito à intervenção
para a promoção da saúde, prevenção e/ou melhor gestão da doença.
• Com o desenvolvimento de IDMC apelativas e intuitivas, podemos hoje integrar
técnicas de mudança comportamental em tempo real.
• Geram uma enorme quantidade de dados objetivos, recolhidos em tempo real.
• As IDMC representam uma oportunidade ímpar para o teste e refinamento dos
modelos e teorias de mudança de comportamentos de saúde.
9. Comunicação médico/paciente
Comunicação médico/paciente:
• “A Medicina é uma arte cuja magia e capacidade criativa há muito se reconhece
residirem nos aspetos interpessoais da relação médico/paciente.” (Hall & Roter,
1981).
• Comunicação médico/paciente é uma dimensão fundamental dos cuidados de
saúde.
• É um meio para:
• Estabelecer uma relação de confiança.
• Recolher informação do paciente e familiares para o diagnóstico.
• Aconselhar e dar informação.
• Prescrever tratamentos.
• Pode ser verbal e/ou não-verbal.
• Na consulta de oncologia – aspetos únicos que dão centralidade à comunicação:
• Cancro é uma doença que pode matar.
• Diagnóstico associado a elevados níveis de distress do paciente.
• Exaustão emocional dos médicos (más notícias e questões de vida ou
morte).
• Tempo cada vez mais reduzido das consultas a par da cada vez maior
necessidade de informação por parte dos pacientes.
• Pacientes vêem oncologistas como uma das principais fontes de suporte.
• Médicos recebem muito pouco treino nas dimensões interpessoais do
cuidado.
• Maioria da investigação no contexto dos cuidados primários.
• Investigação no contexto da oncologia é mais recente.
• A comunicação centrada no paciente é a mais adequada e eficaz.
• A qualidade da comunicação está associada a importantes resultados de saúde.
• Os skills de comunicação não são inatos, precisam de ser aprendidos de forma
sistemática. Este treino não deve continuar a ser visto como opcional.
Comunicação centrada no paciente (CCP):
• Paradigmas da relação médico/paciente:
• Século XX → foco no médico:
• Paternalismo.
• Modelo biomédico dominante.
• Declínio da centralidade da comunicação no ato médico associado à
ascendência das ciências químicas e moleculares.
• Perde-se visão do paciente como um todo, dando-se maior centralidade
às questões bioquímicas e patofisiológicas.
• Entrevista clínica deixa de ser um processo não estruturado de recolha
da história médica do paciente para um protocolo de questões fechadas
que procuram testar hipóteses sobre a etiologia da doença..
• Médico é o detentor exclusivo do conhecimento e do poder de tomada
de decisão
• Século XXI → foco no paciente/relação:
• Mutualismo.
• Modelo biopsicossocial.
• Paciente é visto como um todo, fatores psicossociais são causas,
exacerbadores e/ou consequências do estado de saúde.
• Paciente é o “especialista” sobre fatores psicossociais.
• Partilha de poder no processo de tomada de decisão.
• Comunicação é o veículo de excelência através do qual os cuidados de
saúde assentam.
• Funções principais:
• Facilitação da estrutura e aspetos técnicos das consultas.
• Elicitação da perspetiva do paciente.
• Recetividade das emoções e necessidades do paciente.
• Informação técnica e comportamental simples e clara.
• Participação na comunicação e tomada de decisão.
• Importância da CCP → correlatos desta comunicação:
• Perspetiva do paciente:

Resposta a necessidades, expectativas e preferências:


• Informação no momento do diagnóstico.
SATISFAÇÃO • Disponibilidade do médico para discutir opções.
• Postura atenta e empática do médico.

Níveis de distress associados à experiência:


AJUSTAMENTO • Maior perceção de controlo.
PSICOLÓGICO
• Menos medo e ansiedade.

Grau de adesão a recomendações/prescrições terapêuticas:


• Melhor retenção da informação.
ADESÃO • Melhor adesão a tratamentos e mudanças de estilos
TERAPÊUTICA de vida.
• Maior partilha da utilização de medicinas
alternativas ou complementares.

Grau de dificuldade no processo de transição para


TRANSIÇÃO cuidados paliativos:
PARA • Maior bem-estar psicológico.
PALIATIVOS • Melhor qualidade de vida.
• Perspetiva do médico:

Menor exaustão emocional,


BURNOUT despersonalização e perda de significado.

FUNCIONAMENTO Maior colaboração dentro das equipas de


DAS EQUIPAS trabalho.

LITÍGIOS Menor probabilidade de serem processados.

Skills de comunicação básicos:


• Objetivos da comunicação em consulta (5E’s):
1. Estabelecer relação com paciente e família.
2. Elicitar a perspetiva do paciente/família.
3. Educar.
4. (Gerir) Emoções.
5. Estimular a colaboração do paciente e família.
• Gerir emoções do paciente na consulta:
• Distress emocional: experiência desagradável de natureza emocional,
psicológica, social ou espiritual que interfere com a capacidade do paciente
para lidar com a doença e o seu tratamento.

Não adaptativo
Depressão, ansiedade, pânico, desesperança.

Adaptativo
Vulnerabilidade, tristeza, receio, nervosismo,
frustração, irritabilidade.

• É importante (nomeadamente em consultas de oncologia) porque maiores


níveis de distress do paciente:
• Maior comorbilidade psicológica.
• Menor qualidade de vida.
• Menor participação na tomada de decisão.
• Pior adesão terapêutica.
• Pior resposta ao tratamento.
• Mais dor e fadiga.
• Maior a perda de funcionalidade física e social.
• Maior consumo de serviços de saúde
• Principais dificuldades do médicos:
Maioria não recebe treino formal.
• Não reconhecem as emoções.
• Não sabem como responder às emoções quando elas surgem.
• Acham que é da responsabilidade dos psicólogos ou familiares.
• Acham que falar sobre emoções vai fazer mal ao paciente.
• Acham que vai tirar muito tempo à consulta e o seu dever é focar-se nas
questões biomédicas.
• Modelo de 3 etapas:

• Reconhecer emoções:
1. Atenção a sinais verbais e não-verbais de distress.
• Por vezes os pacientes podem dificultar esta tarefa:
• Tentam esconder as suas emoções ou por vergonha ou
porque não querem sobrecarregar o médico com as suas
emoções.
• Acham que medo e ansiedade é parte natural e integrante
da experiência de cancro e, portanto, não vale a pena falar
dela.
• Acham que não é da responsabilidade do médico lidar
com as suas emoções.
• Acham que falar das suas emoções não é importante para
o seu tratamento.
2. Dar espaço para que o distress seja alvo de conversa.
• Mostrar interesse genuíno.
• Procurar “colocar-se nos pés” do paciente.
• Não interromper.
• Questões abertas.
• Parafrasear/Refletir.
• Explorar emoções:
• Três técnicas de comunicação verbal:

• Clarificar: clarificar o que o paciente está a sentir, pensar,


perguntar.
• Paciente sente que o médico está interessado em ouvi-lo.
• Validar: legitimar o que o paciente está a sentir, pensar,
perguntar.
• Paciente sente-se mais “normal”.
• Empatizar: mostrar que estamos “ao lado” da pessoa ao
identificar e compreender o que sente.
• Paciente sente-se acompanhado.
• Atuar:
• Não subestimar o valor terapêutico do reconhecimento e
exploração das emoções.
• Salientar, se possível, que irão acompanhar o paciente e família ao
longo do processo.
• Identificar outros recursos de suporte emocional (e.g., grupos de
apoio).
• Dar informação e fazer planos:
• Dá segurança e sensação de controlo a muitos pacientes.
• Pessoas diferentes têm necessidades de informação diferentes.
• Ask-tell-ask:
• Perguntar (enquadramento do ato de informar):
• “O que gostaria de saber sobre…?”
• “O que já sabe sobre…?”
• Informar com clareza, simplicidade, em partes, evitando
jargão.
• Perguntar (explorar entendimento e significados):
• “O que acha desta informação…?”
• “O que isto significa para si…?”
• Se houver comorbilidade psicológica deve-se referenciar.
• Deve existir integração dos skills de comunicação.

Você também pode gostar