Você está na página 1de 8

Universidade Fernando Pessoa

Faculdade de Ciências Humanas e Sociais

1º Ciclo de Estudos em Psicologia

Ética e Deontologia em Psicologia

Quebra de confidencialidade

Carlos Ribeiro (29841)


Cecília Sobral (38691)

Trabalho apresentado como parte dos requisitos de avaliação da Unidade Curricular de Ética e
Deontologia, do curso de Psicologia, sob orientação da docente Profª Doutora Susana Marinho.

Porto, 17 de maio de 2021


Índice

Introdução ......................................................................................................................... 3

Dilema ético...................................................................................................................... 3

Princípios éticos e deontológicos envolvidos ................................................................... 4

Proposta de resolução do dilema ético ............................................................................. 7

Referências bibliográficas ................................................................................................ 8

2
Introdução

A ética refere-se à pessoa, concretamente na relação com o outro, já que esse modo

de ser ou caráter está direcionado e é avaliado por terceiros. No que se refere à psicologia,

ou melhor, ao seu representante, o psicólogo, a ética deverá referir-se ao seu modo de ser

na relação com o seu cliente (Ricou, M. 2014).

Nenhuma profissão poderia ser regulada se não fossem claras as regras que

presidem ao seu exercício. Ao conjunto dessas regras determinou-se chamar deontologia

profissional, ou seja, trata-se do conhecimento das regras de uma profissão, que

representam o conjunto das obrigações que um profissional deve cumprir no exercício da

sua profissão (Golser, 2001).

O presente trabalho foi realizado com o objetivo de abordar o dilema ético

referente à quebra de confidencialidade na prática da psicologia, os princípios éticos e

deontológicos envolvidos no mesmo e o desenvolvimento de uma proposta de resolução

perante este dilema ético.

Dilema ético

Consideremos que uma adolescente de 15 anos revela, em consulta psicológica,

após algumas sessões, que é vítima de bullying por parte dos colegas de turma. Ao longo

dessa sessão, o psicólogo, tenta obter conhecimento sobre os aspetos inerentes a esta

prática, tais como: há quanto tempo esta adolescente tem sido vítima de bullying; de que

tipo de bullying é alvo; quem são os intervenientes; como se sente perante esta agressão;

se já tentou falar com alguém sobre o que se está a passar com ela como por exemplo

3
familiares, amigos, professores. É com a abordagem deste último aspeto, a partilha da

informação, que surge o dilema ético. Quando questionada se partilhou o facto de estar a

ser vítima de bullying com alguém, a adolescente revela que não o fez e que não tem

intenções de partilhar esta informação com ninguém, nem deseja que o psicólogo o faça,

pedindo-lhe para guardar segredo. O psicólogo tenta sensibilizar e encorajar esta

adolescente a revelar que é vítima de bullying, explicando os potenciais riscos que podem

ocorrer caso não o faça, mas sem sucesso, permanecendo assim a vontade de não revelar.

Perante esta situação, o psicólogo sente-se obrigado a (re)lembrar à sua cliente a

existência dos princípios de privacidade e confidencialidade na prática de psicologia e

que os mesmos podem ser quebrados, caso se considere que exista uma situação de risco

ou perigo que comprometa a integridade física e/ou psicológica do cliente.

Face ao exposto, dá-se assim origem ao dilema ético - deve o psicólogo quebrar a

confidencialidade da sua cliente e revelar a informação confidencial aos pais, à direção

da escola e à APAV, indo contra a vontade da mesma ou deve aceitar a vontade da sua

cliente, mantendo a informação confidencial sem realizar qualquer tipo de partilha?

Princípios éticos e deontológicos envolvidos

O código deontológico da Ordem dos Psicólogos Portugueses é um instrumento

que os psicólogos estão obrigados a conhecer e a respeitar para a prática de psicologia em

Portugal, de modo a prestar serviços de elevada qualidade e de máximo profissionalismo

ético.

4
O código deontológico tem como objetivos:

• guiar os psicólogos na sua conduta, pensamento, planeamento e

resolução de dilemas éticos, ou seja, advoga à prática de uma ética reativa

e proativa;

• proteger os utentes e sujeitos dessa atividade, indivíduo(s) ou grupo(s),

de danos potenciais decorrentes do exercício da mesma;

• preservar a manutenção da confiança pública na prática profissional.

O código deontológico é composto por:

• Preâmbulo;

• Princípios Gerais (Respeito pela dignidade e direitos da pessoa;

Competência; Responsabilidade; Integridade; Beneficência e Não-

maleficência);

• Princípios Específicos (Consentimento Informado; Privacidade e

Confidencialidade; Relações Profissionais; Avaliação Psicológica; Prática e

Intervenção Psicológicas; Ensino, Formação e Supervisão Psicológicas;

Investigação; Declarações Públicas)

Neste caso em concreto, os princípios éticos e deontológicos envolvidos são:

Dos princípios gerais:

• Princípio C – Responsabilidade. Os/as psicólogos/as devem ter consciência das

consequências que o seu trabalho pode ter junto das pessoas, da profissão e da

sociedade em geral. Devem contribuir para os bons resultados do exercício da sua

atividade nestas diferentes dimensões e assumir a responsabilidade pela mesma.

Devem saber avaliar o nível de fragilidade dos seus clientes, pautar as suas

5
intervenções pelo respeito absoluto da decorrente vulnerabilidade e promover e

dignificar a sua atividade.

• Princípio E – Beneficência e Não-maleficência. Os/as psicólogos/as devem ajudar

os seus clientes a promoverem e a protegerem os seus legítimos interesses. Não

devem intervir de modo a prejudicá-los ou a causar-lhes qualquer tipo de dano,

quer por ações, quer por omissão. Se a Psicologia tem um espetro de atuação

muito largo, estando presente em quase todas as atividades humanas, a verdade é

que deve ser assumida como uma atividade ao serviço do bem-estar da pessoa

humana.

Dos princípios específicos:

• 2 - Privacidade e Confidencialidade. Os/as psicólogos/as têm a obrigação de

assegurar a manutenção da privacidade e confidencialidade de toda a informação

a respeito dos seus clientes, obtidas direta ou indiretamente, incluindo a existência

da própria relação, e de conhecer as situações específicas em que a

confidencialidade apresenta algumas limitações éticas ou legais.

• 2.1. Informação dos Clientes

• 2.2. Privacidade dos Registos

• 2.3. Utilização posterior dos registos

• 2.7. Autorização para divulgar informação

• 2.8. Limites da Confidencialidade

• 2.9. Comunicação de informação confidencial

• 2.11. Casos especiais

6
Proposta de resolução do dilema ético

• Alternativa A - O psicólogo cede à vontade da sua cliente e não partilha a

informação obtida em consulta.

• Alternativa B - O psicólogo decide comunicar aos pais a situação atual da filha,

bem como à direção da escola e à APAV. O psicólogo informa ainda a sua cliente

que vai realizar esta partilha de informação com os mesmos.

• Consequência A – O bullying persiste, o que pode ter consequências graves para

a jovem, pois a mesma pode começar a experienciar os seguintes sintomas: lesões

físicas; mal-estar físico associado à frequência escolar ou sem razão médica

aparente; receio e recusa em frequentar a escola; fugas da escola; diminuição do

rendimento escolar e da assiduidade; esquivamento de conversas em torno do

tema “escola”; afastamento em relação aos pais e amigos; violência

autoinfligida, como comportamentos de automutilação, ideação suicida e

tentativas de suicídio, sendo esta sintomatologia a mais gravosa. Esta não é a

opção a tomar.

• Consequência B – Os pais da jovem atuam em conjunto com a direção da escola,

professores, o que fará com que o bullying diminua com o objetivo de o cessar de

vez. Pode ainda ocorrer a quebra de confiança, colocando em risco a relação

terapêutica.

A nossa proposta de resolução passa pela opção da alternativa B que, embora vá

contra a vontade da cliente, assegura o princípio da responsabilidade e da beneficência

por parte do psicólogo, visto que a integridade da cliente estaria em risco, caso o mesmo

optasse por não revelar que a sua cliente é vítima de bullying.

7
Os atos de bullying são universais. Não há escola sem bullying e não há estratégias

capazes de extinguir esse tipo de comportamento entre os estudantes. No entanto,

conhecer o problema e saber orientar adolescentes e famílias sobre os seus riscos e

consequências torna-se mais um ato de promoção da saúde que não pode ser ignorado.

(Neto AAL., 2007)

Referências bibliográficas

APAV. (2019). https://www.apav.pt/apav_v3/images/pdf/FI_Bullying_2020.pdf

Neto A. A. L. (2007). Bullying. Adolescência e Saúde, 4(3), 51-56.

Ricou M. (2014). A Ética e a Deontologia no Exercício da Psicologia. Retirado de

https://www.ordemdospsicologos.pt/ficheiros/documentos/etica_e_deontologia.pdf

Você também pode gostar