Você está na página 1de 20

Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias

Escola de Psicologia e Ciências da Vida


3º ano de Licenciatura de Psicologia
2021/2022

Unidade Curricular: Ética e Deontologia

“Dilema ético na prática profissional”

Ana Mousinho nº21901277


Beatriz Leal nº 21901920
Elisabete Alexandre nº 21901493
Marcos Valente nº 21902156
Marta Borralho nº 21905268

LD01PSIC01

Nota de autor:
O presente trabalho foi elaborado no âmbito da Unidade Curricular de Ética e
Deontologia coordenada pelos docentes João Pedro Oliveira (PhD) e Sérgio Carvalho
(PhD). A correspondência relativa a este artigo deverá ser dirigida a: Ana Mousinho,
Beatriz Leal, Elisabete Alexandre, Marcos Valente e Marta Borralho, alunos da Escola
de Psicologia e Ciências da Vida da Universidade Lusófona de Humanidades e
Tecnologias; Universidade Lusófona, Campo Grande 376, 1749-024; Lisboa 2021.
Correspondência email: anasofiamousinho@gmail.com,
beatrizlealtrabalho@gmail.com, elisabetefalexandre@gmail.com,
valentemarcos13@hotmail.com, martaborralho01@gmail.com
Resumo

No presente trabalho focamos-nos na elaboração de um consentimento


informado e um guião de entrevista de forma a realizar uma entrevista a um psicólogo,
com objetivo de identificar um dilema ético e explorar uma alternativa para a sua
resolução, sendo que o nosso dilema consiste em “até que ponto é a psicóloga obrigada
a fornecer esta informação, visto que já não está na instituição e já não segue o jovem?”
e posteriormente na sua resolução.
Assim sendo utilizámos um artigo que nos ajudasse a correlacionar o nosso
dilema com os nossos princípios, tanto gerais, ou seja, recorremos ao princípio da
responsabilidade e da Beneficência e Não-Maleficência como específicos da OPP, isto
é, consentimento informado, privacidade e confidencialidade.
Deste modo, ao longo do trabalho expomos os seguintes tópicos: identificação
dos princípios éticos envolvidos na apresentação oral, apresentação de um artigo
científico e contextualização com o nosso dilema, reflexão crítica sobre a importância
da temática do artigo e reflexão sobre as alternativas para a resolução do nosso dilema.

Palavras-chave: responsabilidade, beneficência e não maleficência, consentimento


informado, privacidade e confidencialidade
Identificação dos princípios éticos envolvidos na apresentação oral

Face ao nosso dilema ético “Até que ponto é a psicóloga obrigada a fornecer esta
informação, visto que já não está na instituição e já não segue o jovem?”, temos como
princípios gerais o princípio C e o princípio E e como princípios específicos o
consentimento informado e a privacidade e confidencialidade.
Efetivamente, o princípio C (Responsabilidade) é visto pelos psicólogos como a
consciência das consequências que o seu trabalho pode ter junto das pessoas, da
profissão ou até mesmo da própria sociedade no geral (Ordem Portuguesa dos
Psicólogos, 2016), ou seja, o psicólogo tem de ter consciência do seu trabalho. O
princípio E (Beneficência e Não-Maleficência), serve para auxiliar o seu cliente de
modo a que o mesmo consiga ajudar a promover os seus reais interesses sem prejudicar
ou causar qualquer dano ao mesmo (OPP, 2016), isto é, procura o bem do mesmo
(Beneficência) e evitar o dano (Não-Maleficência).
Segundo Beauchamp & Childress (2001) citado por Pinho Reis (2019), os
princípios de Beneficência e Não-Maleficência não têm sido frequentemente específicos
para estabelecer a presunção em favor dos tratamentos de manutenção da vida, ou seja,
tudo é feito para o interesse do doente. De facto, os mesmos autores defendem que
existem dois tipos de Beneficência, a beneficência positiva que ocorre quando um
profissional de saúde promove o bem enquanto agente moral e, por outro lado, pode ser
beneficência do tipo de utilidade, ou seja, os psicólogos como agentes morais calculam
os riscos em prol do bem do cliente. Assim, para Pinho Reis (2019), o princípio da
Não-Maleficência é visto como uma obrigação de não causar qualquer tipo de dano ou
até mesmo impedir qualquer ação que vá provocar a mesma. Para Lawrence (2007), de
Andrade, Almeida & Pinho-Reis (2017), o princípio da Beneficência e da
Não-Maleficência são vistos como uma equação, ou seja, a primeira parte do princípio
representa os benefícios enquanto que a segunda parte da mesma culmina nos riscos.
O princípio específico do consentimento informado, considerado por Pinto
(2013), é ato de cariz livre que compete tanto à aceitação como à recusa da terapêutica
ou da investigação a efetuar. Para OPP (2016), os psicólogos respeitam a autonomia e
autodeterminação das pessoas de modo a que possam estabelecer uma relação com os
profissionais, de forma a que os mesmos respeitem a sua dignidade e os seus direitos, ou
seja, um cliente ao assinar um consentimento informado sabe que toda a sua informação
será assegurada durante todo o procedimento.
Deste modo, e perante o nosso dilema, vamos focar no princípio específico da
privacidade e da confidencialidade que se encontra subdividido, sendo que vamos
realçar apenas os seguintes devido ao facto de serem aqueles que se enquadram mais no
dilema, a privacidade dos registos, na utilização posterior dos mesmos, na interrupção
ou conclusão da intervenção, autorização para divulgar a informação e na comunicação
de informação confidencial.
Perante o princípio específico da privacidade e da confidencialidade, sabemos
que, segundo a OPP (2016), os psicólogos têm a obrigação de assegurar a manutenção
da atividade e da confidencialidade de toda a informação que diz respeito ao cliente que
se encontra em intervenção.
Assim sendo, a privacidade dos registos é definida pela OPP (2016), pela recolha
e registo dos dados estritamente necessários do cliente. Face à utilização posterior dos
registos, o cliente vai ser informado sobre o tipo de utilização posterior bem como os
seus dados irão ser guardados à posteriori, a informação recolhida vai ser guardada de
forma a que o psicólogo consiga assegurar a privacidade e a confidencialidade da
mesma tendo em consideração a legislação em vigor.
Face à interrupção da informação confidencial, o psicólogo que se encontra a
efetuar a intervenção/avaliação do cliente deve assegurar sempre, e de qualquer modo, a
manutenção da privacidade do mesmo. Caso o psicólogo queira divulgar qualquer tipo
de informação sobre o seu cliente deve aguardar a autorização do mesmo ou então do
seu representante legal.
Perante este princípio específico da privacidade e da confidencialidade, a
comunicação de informação confidencial ocorre simplesmente quando é considerada
importante para a intervenção que se encontra a decorrer, sendo que o cliente é
informado desta partilha de dados, de modo que não ocorra uma quebra da
confidencialidade na relação profissional.

Apresentação do artigo científico e contextualização no dilema apresentado

O artigo selecionado tem como nome “Dilemas éticos relacionados con la


confidencialidad” e foi escrito em 2007 por Carmen del Río Sánchez. Este artigo
apresenta-nos processos de tomada de decisões éticas, fala sobre o conceito de
privacidade e confidencialidade e reforça os limites desta confidencialidade, onde
aborda o conceito de consentimento informado.
Sánchez (2007) diz que estamos perante um dilema ético quando dois deveres
obrigatórios colidem e que estes podem surgir de conflitos entre princípios morais,
regras e diferentes leis. Revela também que os psicólogos são muitas vezes
confrontados com situações que envolvem dilemas éticos sem ter orientações claras
sobre qual é a decisão mais apropriada que devemos tomar.

Sendo um princípio específico presente no nosso dilema, a privacidade e a


confidencialidade referem-se ao direito de limitar o acesso que os outros possam vir a
ter acerca de aspetos mais pessoais e ao direito de não divulgar as informações
confiadas a outras pessoas, como ao dever de sigilo que compromete a pessoa que
recebe a informação (Sánchez, 2007).

Quando existe um dilema ético que afeta a confidencialidade, este tem se ser
visto como único, ou seja, não é possível estabelecer regras fixas, pois não existem
dilema iguais, na maioria das vezes os profissionais recorrem ao código deontológico da
ordem dos psicólogos, que foi o que aconteceu no nosso dilema ético. As circunstâncias
de cada dilema específico, têm se ser analisada de acordo com as normas legais e éticas,
“(…) fazendo um balanço prudente da magnitude dos danos (maior ou menor) (…)”,
pois havendo dois deveres em conflito, irá resolver-se com uma violação de um dos
dois, em virtude do princípio que provocará o mal menor (Sánchez, 2007). Esta ideia
remete-nos para um princípio geral Beneficência e Não-Maleficência (Princípio E), que
está presente no nosso dilema ético, pois mesmo perante um dilema os psicólogos
devem agir de modo a ajudar o cliente, promovendo e protegendo sempre os seus
interesses, nunca agindo de forma a prejudicá-lo.

A confidencialidade é um conceito que pode gerar vários problemas e daí é


importante que informemos os nossos clientes dos limites da nossa confidencialidade,
idealmente no início da relação, através do consentimento informado; os psicólogos não
devem recolher mais informação do que a estritamente necessária tendo em conta o
objetivo proposto, (na psicologia forense chamam a isto o princípio da intervenção
mínima) e que não podemos divulgá-las a terceiros sem a autorização expressa do
usuário, exceto quando exigido por lei (Sánchez, 2007). Na prática profissional existem
situações em que os psicólogos podem quebrar esta confidencialidade, estando
protegidos pela Lei e pelos Códigos de Ética, nomeadamente quando existem pedidos
de tribunais (justiça, lei) e de modo a evitar danos a terceiros, ao cliente e ao próprio
psicólogo. Contudo, mesmo numa situação onde o psicólogo recebe um pedido do
tribunal, embora o cliente não tenha de fornecer uma autorização, para que forneça os
dados a terceiros, convém comunicar que o vou fazer, visto que estarei a quebrar um
princípio ético.

Sánchez (2007), defende que todos os psicólogos são responsáveis de proteger as


informações que nos foram divulgadas no contexto de uma relação profissional,
independentemente de trabalharmos em contexto público ou privado, isto levanta-nos
uma questão que é a forma como os dados são tratados e guardados nestes dois
contextos; algo que foi abordado no nosso dilema ético relativamente às notas que são
retiradas pelos psicólogos, o que nos leva ao Princípio da Responsabilidade (Princípio
C), onde o psicólogo é responsável não só por proteger os registos, mas por aquilo que
escreve, pelas notas que tira, pois poderá ser visto por alguém e nesse caso é essencial a
presença do psicólogo de modo a clarificar qualquer dúvida que surja; além disso a
responsabilidade da decisão para o curso de ação e de possíveis consequências, diz
respeito ao psicólogo que toma a decisão, contudo não esquecer que esta decisão foi
tomada com base nos restantes princípios éticos e de modo a não provocar dano ao
cliente.

Reflexão crítica sobre a importância da temática do artigo

O artigo escolhido para nos ajudar a complementar o dilema ético referido pela
psicóloga entrevistada, apresenta grande relevância no que toca à informação relativa à
confidencialidade e sigilo profissional. Deixa claro que nem sempre é possível
estabelecer um protocolo de regras fixo, uma vez que cada caso é um caso, com
determinadas características que o diferenciam dos outros, daí a importância da
comunicação com o cliente dos limites e manutenção de confidencialidade durante o
consentimento informado.

Informa-nos que o profissional que desrespeita os princípios éticos e direitos do


seu cliente poderá ser “(…) punido com pena de prisão de um a quatro anos, multa de
doze a vinte e quatro meses e inabilitação especial para a referida profissão por um
período de dois a seis anos”, segundo o Código Penal. No entanto, como
compreendemos ao longo da realização do trabalho, não é assim tão linear e há
exceções, como na ocorrência de um crime ou quando acreditamos que possa
prejudicar-se a si ou a outros, que existe um dever de reportar/denunciar determinados
aspetos relevantes para a investigação do caso ou ajuda externa ao cliente. Logo, a
partilha do relatório do indivíduo do nosso dilema ético era estritamente necessária, pois
apesar de tudo apelava também ao bem-estar do paciente.

A quebra da confidencialidade pode causar uma ruptura na relação


psicólogo-cliente, impedindo assim a continuação da construção de confiança da parte
deste, uma vez que desrespeita totalmente a sua liberdade de expressão e dignidade. À
partida o local da consulta é um espaço seguro para partilhar acontecimentos da sua vida
que não compartilharia com outra pessoa e nunca sabemos quais as implicações que esta
violação de privacidade pode ter na vida do cliente e como pode afetar, por exemplo, as
suas dinâmicas familiares, sociais, profissionais, entre outras. Cabe ao terapeuta então a
divulgação de um consentimento informado, que dê ao cliente todos os tópicos
importantes acerca do procedimento, garantia da confidencialidade, tal como as
exceções em que poderão, eventualmente, obrigar-nos a quebrá-la. A existência de um
consentimento informado autorizado pelo cliente, no caso de alguma queixa feita por si,
pode salvaguardar o psicólogo de algum processo jurídico, sendo que a informação já
tinha sido passada anteriormente e autorizada pelo cliente. O presente artigo
permite-nos então tomar conhecimento desta temática tão importante para a nossa
prática futura, para que possamos ter noção de como melhor agir perante os dilemas
com os quais nos podemos deparar.

Reflexão sobre as alternativas para a resolução da situação

Numa primeira instância, e, mediante o dilema ético no qual nos deparamos, a


solução da psicóloga começou pelo questionamento. Ficou na dúvida se deveria ou não
enviar o processo. Para tomar a decisão, leu o Código Ético e Deontológico, entrou em
contacto com a Ordem dos Psicólogos Portugueses para esclarecer a situação, e no final
acabou por ponderar e entregar o processo. Não obstante, antes de enviá-lo, entrou em
contacto com o ex-cliente também para expôr a situação e avisá-lo que iria assim
proceder, ou seja, disponibilizar a informação ao tribunal.

Numa perspetiva reflexiva, e tendo por base o artigo “Dilemas éticos


relacionados con la confidencialidad.” de Carmen Del Río Sanchez, como forma de
resolução deste dilema ético deverá passar pela deliberação. Esta ação trata de analisar
um conjunto de possíveis caminhos ao agir, pesando os benefícios e os prejuízos de
cada um deles. Assim, após a deliberação deverá ter-se uma escolha que maximize e
priorize o que for considerado melhor. Para além do que é exigido ao profissional de
psicologia, como registar todos os argumentos e passos a seguir para que seja possível
dar uma explicação fundamentada sobre a atividade da conduta profissional, também é
recomendável que o psicólogo consulte os seus colegas e/ou o Comitê de Ética da sua
área.

A propósito da questão em apreço, uma possível alternativa para a resolução


deste problema ético, e percebendo que se trata de um grande acontecimento que acabou
com a vida de terceiros, seria facultar a informação ao tribunal, mas apenas a
informação única e exclusivamente relevante para o caso em questão. Novamente
relembramos, que este processo primeiramente passa pela notificação do ex-cliente.

Uma segunda alternativa seria a partir do Instrumento “Ethical Conduct


Questionnaire” desenvolvido por Pope, Tabachnick e Keith-Spiegel (1987). Esta
ferramenta é composta por oitenta e três atuações profissionais que podem originar
dilemas éticos. Foi a partir desta ferramenta, que foi desenvolvido um outro instrumento
por Haas, Malouf e Mayerson (1999), que apresenta vários dilemas. Em cada dilema
são apresentadas várias soluções (pelo menos duas) e um conjunto de razões para essas
soluções. Nele são apresentadas dez vinhetas, entre elas, confidencialidade,
consentimento informado, conflitos de lealdade, exploração e relatórios, etc. Para cada
vinheta existem formas alternativas de resposta, ao qual se deve decidir entre «agir» ou
«não agir». Após estas alternativas são referidos oito motivos que justificam a escolha
do psicólogo: 1) manter a lei; 2) manter o código de ética; 3) proteger os interesses da
sociedade; 4) proteger os interesses do cliente; 5) manter as normas pessoais; 6)
salvaguardar o processo terapêutico; 7) considerações financeiras e 8) “outros” (del Rio
Sanchez, C., 2015).

Desta forma, este tipo de instrumentos poderiam ser beneficiadores e


esclarecedores neste tipo de dilemas mais complexos e desafiantes, tanto para a
psicóloga deste caso, como para identidades superiores (ex. tribunais, entidades
judiciais).
Para concluir, estes possíveis métodos alternativos à resolução de dilemas éticos
na sua prática, mostra como poderia agir a psicóloga tendo em conta dois instrumentos
validados que permitem uma diferente abordagem ética e deontológica. Assim, ambas
as alternativas permitem-nos perceber que não existe apenas uma abordagem ética
correta e que quando devidamente fundamentada, onde não comprometa o bem estar do
cliente, são consideradas corretas.
Referências Bibliográficas

de Moura Loureiro, H. A., & de Moura Loureiro, R. F. A essência do


consentimento informado
del Rio Sanchez, C. (2007). Dilemas éticos relacionados con la confidencialidad.
Informació psicològica, (90), 12-27.
dos Psicólogos Portugueses, O. (2016). Código deontológico. Lisboa: Ordem
dos Psicólogos Portugueses.
Pinho-Reis, C. (2019). Beneficência e Não-maleficência em Fim de Vida: O
Caso da Nutrição e Hidratação Artificiais. Revista Kairós-Gerontologia, 22(4), 57-76.
Anexos

Anexo 1 - Consentimento Informado e Guião de entrevista


Anexo 1.1 - Consentimento Informado
A presente recolha de dados insere-se numa atividade realizada no âmbito da
unidade curricular de Ética e Deontologia da Escola de Psicologia e Ciências da Vida da
Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnológicas (EPCV – ULHT). A entrevista
foi desenvolvida pelos alunos Ana Mousinho, Beatriz Leal, Elisabete Alexandre e
Marcos Valente sob orientação do Professor Doutor João Oliveira. Antes de aceitar
participar, pedimos-lhe que leia, por favor, a seguinte informação.
Objetivos: Com esta entrevista temos como objetivo conhecer e compreender alguns
problemas éticos que encontra na sua área profissional, bem como possíveis soluções.
Confidencialidade/Anonimato: Apenas os elementos do grupo de trabalho e a
docente da cadeira terão acesso às respostas dadas ao longo da entrevista. A entrevista
será gravada e eliminada após a sua transcrição, além disso a sua identidade não será
revelada em parte alguma da entrevista.
Duração: A entrevista terá uma duração aproximada de uma hora; tendo a
possibilidade de desistir da entrevista se assim pretender, a qualquer momento e sem
consequências.
Receberei alguma recompensa? Não receberá nenhuma recompensa por participar
nesta entrevista.

Declaro ter lido e compreendido este documento, bem como as informações verbais
que me foram fornecidas. Desta forma, aceito participar neste estudo e permito a
utilização dos dados que de forma voluntária forneço, confiando em que apenas serão
utilizadas para este estudo e nas garantias de confidencialidade e anonimato que me são
dadas pelo/a investigador/a.
Em caso de desistência ou necessidade de esclarecimento de dúvidas, pode
contactar-nos através dos seguintes e-mails: anasofiamousinho@gmail.com;
beatrizlealtrabalho@gmail.com; elisabetefalexandre@gmail.com;
valentemarcos13@hotmail.com;

Assinatura dos responsáveis pelo estudo


________________________
________________________
________________________
________________________

Data: __/___/_____

Anexo 1.2. - Guião da entrevista


1. Nome;
2. Sexo;
3. Idade/data de nascimento;
4. Local de estudos;
5. Área de formação;
6. Anos de Profissão;
7. Local atual de atividade profissional;
8. Atividades realizadas atualmente;
9. Ao longo da sua prática profissional alguma vez se deparou com algum problema
ético?
10. Se sim, pode-nos relatar algum desses problemas?
10.1. Esse problema teve solução?
10.2. Se sim, qual foi? E quais foram as etapas dessa solução?

Anexo 2 - Transcrição da entrevista


E: Primeiro gostaríamos de obter as informações mais básicas, como o nome.

AF: Ana R. Francisco.

E: A idade e a data de nascimento.

AF: Tenho 39 anos e nasci a 25 de setembro de 1982.

E: E relativamente ao local dos estudos, onde estudou?

AF: Na Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa.

E: O mestrado e a licenciatura foram tirados no mesmo sítio?

AF: O pré-bolonha, portanto. A licenciatura pré-bolonha, que era de 5 anos.


E: Em que área de formação?

AF: Tirei em Clínica, cognitivo-comportamental. Na verdade, a área toda chamava-se


Sistémica, Cognitiva e Cognitivo-comportamental, mas depois o estágio mesmo e o
núcleo onde eu acabei por estar era o núcleo cognitivo-comportamental.

E: E há quanto tempo exerce a profissão?

AF: Desde 2005, portanto… 16 anos, e faz em dezembro 17 anos.

E: Atualmente, onde exerce?

AF: Atualmente faço sobretudo prática privada por minha conta, pronto, sou
trabalhadora independente. Vou dar consultas a dois sítios diferentes, vou ao hospital
Soerad em Torres Vedras dois dias por semana, e vou a uma IPSS que existe em Mafra e
na Ericeira, noutros dias da semana. Vou um dia à Ericeira e outro dia a Mafra. Depois
também atendo pessoas online, acabei por registar e abrir na entidade reguladora da
saúde, nós que damos consultas online temos de nos credenciar como entidade
prestadora de saúde, apesar de não termos um sítio físico, e também dou consultas
online a partir de casa.

E: E que atividades realiza atualmente?

AF: São essencialmente avaliação psicológica, intervenção psicológica mais na linha do


acompanhamento psicológico e por aí, mais simples. E depois mesmo psicoterapia, eu
depois fiz a formação em psicoterapia numa associação. Portanto sou mesmo
psicoterapeuta, para além de Psicologia Clínica e da Saúde, sou psicoterapeuta.

E: Ao longo da sua prática profissional já se deparou com algum problema ético?

AF: Várias! Faz parte do dia-a-dia e essa reflexão nós temos sempre de a ter com as
pessoas, não é? Gostavam de ter alguns exemplos?

E: Sim, nós íamos pedir para nos relatar alguns.

AF: Então, existem vários problemas éticos, que têm a ver com vários níveis da
intervenção. Por exemplo, no privado acontece muitas vezes as pessoas quererem
referenciar familiares, ou seja, nós acompanhamos uma pessoa e depois a pessoa tem
muita tendência, porque gostou ou porque se sentiu apoiada, depois de dizer “ah, eu
conheço…”. Pronto, nós aí temos de ser muito claros, explicar à pessoa que isso não
pode acontecer, não é? É um dos princípios éticos, exatamente pela imparcialidade.
Depois nós já ouvimos um lado da história e não garantimos essa imparcialidade.
Pronto, essa é uma das coisas que acontece frequentemente, é sempre difícil porque de
alguma forma as pessoas estão-nos a referenciar, não é? Mas depois temos de pensar, de
facto, no melhor interesse do paciente. Essa é uma das coisas que podem surgir.

Eu por acaso estive a pensar um bocadinho sobre isso, sobre o que já me surgiu e
outra das questões tem a ver quando percebemos que, apesar de já ter tido imensa
formação, já fiz formação pós-graduada em psicoterapia, depois também fiz em
psicogerontologia, vou sempre ao encontro do sítio onde estou a exercer e gosto sempre
de ir à procura das melhores práticas profissionais. E, portanto, em cuidados
continuados fiz psicogerontologia, psicoterapia fiz logo de início porque sempre quis
fazer clínica privada e só me fazia sentido isso, e depois fui fazendo formações
pequenas de acordo com os sítios onde estive. E, nalgumas circunstâncias, nós às vezes
recebemos as pessoas e, ainda há pouco tempo estava a pensar sobre isso…

Eu recebi uma jovem e ela vinha ao hospital Soerad, só que só podia vir uma vez
por mês. Esta é das coisas também mais frequentes no privado, as pessoas não terem
condições económicas para um acompanhamento dito sistematizado e recorrente. Nós
temos de fazer aqui o equilíbrio entre o melhor interesse do paciente, e às vezes também
referenciar serviços que tenham valores mais em conta ou gratuitos, mas sempre
explicando à pessoa que, se ela decidir ficar connosco, nós vamos ter limites na nossa
intervenção. Esta jovem, por exemplo, tinha um problema, uma perturbação obsessiva
compulsiva que, de todo, uma intervenção mensal vai ser a melhor resposta para ela. Ela
queria muito ficar, ainda que fosse uma vez por mês, porque a condição económica era
só o que permitia, e acabei por lhe dizer que não iria estar a prestar um bom serviço para
ela, ela ainda quis vir algumas vezes. Expliquei à mãe e depois acabámos por encontrar
próximo da faculdade dela, ela entretanto foi estudar para a faculdade, o que é que havia
de serviço que fosse mais benéfico para ela e também de acompanhamento psiquiátrico,
porque nesta perturbação tem de se ter sempre a parte psicoterapêutica e psiquiátrica.
Portanto, nesse caso, por mais que a pessoa insista um bocadinho e porque também já
nos contou a história, já estabeleceu um vínculo, nós temos de pensar qual é o melhor
interesse da pessoa. Temos mesmo de pensar nisto, se há intervenções… eu tenho
pacientes que vêm de 15 em 15 dias, eu digo-lhes sempre, explico sempre que a
intervenção psicológica é uma questão ética. Ideal e onde apresenta melhores
resultados, é semanal, só que depois há a condição de vida das pessoas, não é? Temos
mesmo de explicar que pode haver limites e que o mais importante, de facto, é que, no
mínimo eles mantenham uma regularidade. Ou seja, se a pessoa não conseguir semanal,
conseguir vir de 15 em 15 dias, que é para ter um fio condutor entre a intervenção,
porque senão depois perde-se. Se passa mais tempo ou a pessoa vez 1 vez, depois vem 2
semanas, depois vem 3, às tantas acaba por ser…

E: Acaba por se perder…

AF: O trabalho terapêutico perde-se, não é? E aí temos de explicar muito bem os limites
na nossa intervenção. E que vai ser assim só um apoio psicológico, não vai ser se calhar,
por exemplo, como algumas pessoas precisariam, uma intervenção mais ao nível da
psicoterapia mais aprofundada, não vai ser possível, não é? E esse é um desafio imenso.

Há colegas que decidem que não acompanham, ou seja, dizem à pessoa que ou
se compromete com semanal (e eu já estive em várias formações e há colegas que dizem
isso) … eu não faço isso salvaguardando sempre à pessoa que acompanho os limites
que possam haver da intervenção. Porque eu não faço isso porque há pessoas que não
têm mesmo outra resposta e outra possibilidade. Por exemplo, no hospital Soerad, para
terem uma noção, tem acordo com n seguros, cartões, descontos, e eu percebo que as
pessoas de outra forma não teriam ajuda. Eu acho que, muitas vezes se houver aqui um
compromisso e se forem estabelecidos os objetivos da intervenção, consentimento
informado e um contrato terapêutico com a pessoa, que se consegue trabalhar de outra
forma. As pessoas não iam ter acesso, os centros de saúde não dão resposta, hospitais
não dão resposta, as pessoas precisam de ajuda. Este é um dilema que acaba por nos
expor, nós podíamos dizer “olha, não atendo, só atendo se se comprometer com
semanal”, mas ficaria muita gente de fora. Eu acho que se nós tentarmos aqui, pronto
isto é uma posição muito minha, há colegas que assumem que não atendem, pronto,
tudo bem, também percebo que sim. Claro que se eu tiver uma pessoa que vem
semanalmente, a evolução terapêutica, todo o processo é muito mais fácil para a pessoa,
mesmo para quem está a acompanhar, porque nós temos tudo muito mais sistematizado.
Dentro do ideal e daquilo que muitas vezes é a resposta, para terem noção, os
psicólogos do centro de saúde e do hospital, os poucos que existem, fazem intervenções
de 2 em 2 meses.

E: Que é pior ainda, nem é intervenção quase…


AF: Muitas vezes, por exemplo aquela instituição onde eu trabalho em Mafra, uma
IPSS, eles têm programas ligados à família, têm o programa +Família e tudo isso… Eu
fui para lá em prestação de serviços para acompanhar adultos, porque perceberam que,
para além de acompanhar as crianças, para além de acompanharem as famílias assim
que eles têm terapia familiar, muitas vezes era preciso acompanhar os adultos
individualmente. Então fui para lá e tenho consultas mais em conta, também de acordo
com o rendimento, porque é uma IPSS, então é possível fazer um trabalho mais
estruturado, mais respostas destas eram precisas. Tanto que o centro de saúde de Mafra
muitas vezes, como a psicóloga não consegue dar resposta, encaminha para a
associação. E isso é muito importante, não é?

E: Existe assim mais algum problema ético que se lembre?

AF: Com os pacientes?

E: Ou com familiares.

AF: Ah sim, com familiares é outra questão. Eu só acompanho adolescentes e adultos.


Eu sempre trabalhei mais com adultos, mas depois como, em determinados contextos
profissionais, tive de trabalhar com adolescentes, acabei por desenvolver também
competências, entretanto fiz formação nessa área. Os adolescentes é muito… é ali a
linha, não é? Não são crianças e também não são adultos, portanto depois há aquele
papel dos pais, só que depois há a construção da relação de confiança e segurança com o
adolescente. Se ele desconfiar que nós estamos, nalgum momento, contra ele ou que
eles possam achar que é contra ou aliados aos pais, adeus relação e adeus intervenção.
Portanto, é preciso ter ali muitos cuidados.

Com os adolescentes, o que eu faço sempre é receber o adolescente com os pais,


aliás, pergunto sempre se ele quer que eles entrem, mas normalmente querem porque
eles é que disseram para ele vir, é quase sempre assim. Depois explico que aquele
espaço vai ser do adolescente, normalmente deixo os pais falarem primeiro, depois digo
que fico com o adolescente, pergunto o que é que eles acharam do que os pais contaram
e da versão dos pais e depois explico que aquele espaço é dele, que aquilo que for ali
conversado ficará entre nós e que só se houver perigo, naquelas exceções se sentir que
ele possa pôr em perigo a sua própria vida ou pôr em perigo a vida de alguém, é que
poderei romper estas questões de confidencialidade, no melhor interesse dele. Mas com
os adolescentes é… porque muitas vezes os pais querem-nos telefonar sem o
adolescente ouvir, e eu digo sempre “não, quando quiser vem à consulta e, na presença
do adolescente, eu atendo”, porque é assim, não há nada que os pais vão dizer à nossa
frente (isto é um medo que temos quando somos mais novas) e do adolescente que já
não tenham dito ao adolescente em casa. Nós às vezes achamos “ah, se calhar o pai não
quer dizer qualquer coisa”, não há. Portanto, aquilo que for para ser dito, até porque aí
podemos trabalhar e mediar, é à frente. Com os adultos faço exatamente a mesma coisa,
portanto, eu não recebo telefonemas de maridos, nem de mulheres. Ontem um paciente,
é engraçado, em Mafra dizia-me, é um paciente de 1ª vez portanto ainda estava a
estabelecer a relação, “o psicólogo só ouve uma versão, devia falar com as pessoas
todas para saber o que se passa”, e depois eu expliquei que o psicólogo não precisa de
ouvir as versões todas porque o grande papel é perceber como é que sentido e
vivenciado pela pessoa e, depois sim, podemos ver alternativas, outras formas de
pensar, mas com a pessoa. Até porque depois cada pessoa tem a sua perspetiva e não se
vai chegar a consenso porque cada um tem a sua própria vivência. Mas é engraçado que
as pessoas às vezes têm isto, mandam-me mensagem a dizer “eu quero-lhe dizer o que
se está a passar, se calhar ele não lhe diz”, mas há-de chegar um momento em que a
pessoa vai dizer, não é? Tudo é um processo, a pessoa muitas vezes ainda não conseguiu
assumir para si mesma, quanto mais dizer ao psicólogo, mas as famílias querem logo
atalhar. Eu normalmente não atendo, aos adultos não atendo mesmo ninguém e, se
mandarem e-mail ou mensagem, respondo cordialmente “se quiser vir à consulta, se a
outra pessoa consentir”, o nosso paciente pode dizer que não quer e tem todo o direito.
E às vezes aí é difícil, porque as pessoas querem muito…

E: Controlar?

AF: É, muitas vezes que com boas intenções, só que depois acabam por não as dar.

E: Existe outro problema ético que lhe ocorra?

AF: Depois também temos a questão da partilha da informação, pedidos de tribunais,


isso já me aconteceu. Eu trabalhei numa instituição que era uma comunidade terapêutica
para pessoas com problemas de álcool e drogas, portanto comportamentos aditivos, lá
não era só álcool e drogas, também era o jogo, era gaming e gambling. Trabalhei lá
como psicóloga, trabalhei lá também como diretora da comunidade terapêutica, uma
responsabilidade enorme. Depois de ter saído de lá, aconteceu que, um jovem que
esteve lá em tratamento; ele só esteve lá 1 mês e pouco; infelizmente quando foi para lá,
tinha uma psicose, não sei se ele tem mesmo esquizofrenia, isso são os psiquiatras que
deverão avaliar, mas ele numa psicose cometeu 2 homicídios e então foi pedido pelo
tribunal todo o processo clínico. Quando é pedido todo o processo clínico vão ler tudo o
que nós já escrevemos, temos de ter muito cuidado com as notas.

Depois eu fui ver o código, mas essa foi uma situação em que eu fiquei, “mas eu
tenho mesmo de dar?”, mas sim, nós temos de dar porque tem a ver com o melhor
interesse do paciente. Também pelas minhas notas eles iam perceber que não seria, na
minha opinião, apenas um homicídio qualificado e simples de uma pessoa que está
completamente bem; ele era uma pessoa que já tinha, se não era mesmo uma
esquizofrenia que eu acho que ele tem, seria uma psicose ou seria no decorrer dos
consumos das substâncias e, por isso, as notas acabam por ser interessantes. Mas
lembro-me que pedi à instituição que me mandasse o processo, porque eu já tinha saído
de lá, para ver que notas tinha feito, nós não podemos mudar nada do que está feito,
depois consultei a ordem, mandei um e-mail e tudo isso e disseram que sim, ia estar a
salvaguardar e era o melhor interesse para a pessoa. Mas é sempre uma dúvida, porque
também temos muito medo e, se alguma coisa que eu pudesse ter escrito não fosse…
como é que seria lido por outras pessoas.

E: Porque as notas são para nós, não é?

AF: Não nos podemos esquecer que o próprio paciente pode pedir para ver as notas,
porque tem direito ao seu processo clínico. Raramente há pessoas que o pedem e,
normalmente, nós podemos dizer “sim senhor, eu mostro-lhe o processo, mas na minha
presença e explicando o que lá está”, exatamente por isto. Porque, de facto, a maneira
como está escrito pode não ser interpretado da mesma maneira. Eu percebi, apesar de
tudo, que as notas que eu lá tinha talvez fossem ajudá-lo mais do que propriamente
prejudicá-lo. Sinto que depois eu teria também de fazer, no âmbito do tribunal, uma
perícia forense, avaliação psicológica, psiquiátrica…

Também devo dizer que aquelas notas foram de 1 mês, a pessoa só lá esteve 1
mês, vale o que vale. Mas foi uma situação em que eu senti “ai meu deus, é a
informação que eu escrevi” e a responsabilidade disso. Sempre senti que as notas eram
muito importantes, mas naquele caso pensei… porque já tinha passado imenso tempo.
Normalmente acontece haver pedidos de tribunal quando estamos a acompanhar as
pessoas, pedimos autorização à pessoa. Outra coisa, eu tive de garantir que o paciente
deu autorização, não se esqueçam que o nosso compromisso é com o paciente. E como
foi o paciente a dar autorização e foi através dos advogados de defesa dele, também foi
nessa linha que eu autorizei, segundo os pareceres da Ordem. O que diz no código
deontológico é que nesses casos de tribunal é o interesse da pessoa, mas depois também
o interesse da sociedade, porque depois a pessoa está numa sociedade, embora nós
como psicólogos tenhamos um dever especial para com a pessoa, mas não nos podemos
desligar de estar numa sociedade.

Como dizia, já tinha noção que as notas eram muito importantes, mas nesse caso
foi de maneira ainda mais vincada. Porque acontece, os tribunais pedirem e nós
pedirmos autorização à pessoa, nós fazermos a informação e a informação vai, mas
ainda estamos a acompanhar a pessoa. Muitas vezes dizemos que está a evoluir,
metemos sempre numa perspetiva de trabalho. Quando é uma coisa que já fechou,
parece que ficamos assim um bocadinho mais…

É engraçado, para as notas eu normalmente faço um texto, mas havia uma que eu tinha
feito em esquema, e tudo isso foi assim como estava.

E: Não pode, depois, alterar nada, nem explicar?

AF: Foi tudo em esquema, do género, fiz uma linha de vida e depois fui anotando de um
lado algumas coisas mais psicológicas ou da vivência dele e, do outro, aquilo que eram
os acontecimentos de vida, os pais divorciarem-se, qualquer coisa assim. Então aquilo
está tudo em esquema e foi assim. Depois são casos e casos, eu normalmente até
transcrevo, faço em texto depois aquilo que fiz. Mas naquele caso, deve ter sido porque
ele assinou para se ir embora passado um mês, depois aquilo já não se fez, mas a
informação estava lá. Pelo que me disseram, o importante era que estava lá, mas para
terem esta noção que nós temos de dar muita atenção às notas.

É muito engraçado que nós no privado fazemos as notas, mas não há um


processo clínico. Nas instituições, no hospital, na comunidade terapêutica, há um
processo clínico. Quando estamos no privado, nós vamos tomando as notas, mas são
para nós, do andamento do processo, do tipo “trabalhar isto”, “trabalhámos isto, mas
falta trabalhar isto”, são tipo guidelines. Se alguém pegar nas notas que eu faço
atualmente, sem eu as explicar, não vai chegar. Só que a questão ali é, nós temos de ter
sempre esta atenção, uma coisa é estarmos inseridos numa instituição e as notas que
fazemos lá, até por questão do resto da equipa, quem vai ler. Normalmente os processos
do psicólogo estão mais repetidos, mas temos de pensar que o médico psiquiátrico, se
for diretor clínico, também poderá consultá-los. A instituição tem de os salvaguardar,
mas temos sempre de ter esse cuidado. Quando são as notas, são sempre um bocadinho
mais para nos guiarmos.

Você também pode gostar