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Primeira Parte
Ocorreu-me esta manhã que qualquer livro que relate a história de
uma mulher não estará completo se não contiver uma discussão
honesta de suas crenças, experiências, aprendizagens e sonhos
sexuais. A abertura de outras mulheres - tanto através do que
escreveram como nos grupos de mulheres nos quais atuei como
facilitadora - ajudou-me a me compreender e a crescer e mudar.
Portanto, é em reconhecimento à abertura de outras mulheres que
partilh9 minh~ . próprias experiências. Publicar este capítulo faz
com que me sinta muito vulnerável. Espero que ele seja recebido
com a mesma sensibilidade com que tentei escrevê-lo.
Este capítulo não é uma mera história de "casos". Pelo con-
trário, ele mostra, acima de tudo, minha trajetória rumo à indepen-
dência e a auto-suficiência, em segundo lugar minhas tentativas de
desenvolver a interde pendência e , finalmente , minha nova consciên-
cia política. Se te mos como meta transformar a sociedade atual, na
qual a mulher é subserviente, propriedade e destituída de poder, 1
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Aprendi muito com minhas três filhas - hoje mulheres adul-
tas - com as quais me sinto à vontade para discutir algumas de
minhas descobertas sobre relacionamento, sexo e sensualidade.
Somos quatro mulheres muito diferentes, cada uma tomando seu
próprio rumo em relação a homens e mulheres. As discussões que
tivemos sobre sentimentos e experiências ensinaram-me a expressar
em voz alta o que sempre guardei comigo.
Minhas filhas, contudo, estão na casa dos vinte e começando
a viver o período de quarenta ou cinqüenta anos de estar em rela-
cionamento. Este pode incluir o casamento ou alternativas dele,
parceria com homens ou mulheres, a maternidade fora ou dentro
do casamento.
Estou escrevendo sobre a idade de quarenta a cinqüenta anos,
na qualidade de mulher recentemente sozinha, e sobre o contexto
político/social da mulher de meia-idade. Preciso examinar a última
década para criar aquilo de que necessito para os próximos vinte
ou trinta anos de minha vida.
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_..__
97
. 1 - neste momento da vida prefiro o risco a ser
de viver uma re aça 0 '
sufocada pela possessividade. , . .
. mulheres são tão favoraveis a esses relacionamen-
Creio que as ulh
o os homens. O mito de que a m er tem pouco
tos a b ertos q Uant "d d d lºd
. u1 ual não tem desejo ou capaci a e e i ar com mais
1mp so sex , , d" 1 d 1
de um relacionamento simultaneamente, esta se isso ~en o .enta-
mente, à medida que discutimos abertamente entre nos sentlmen-
/ tos que há muito guardamo_s. _ _ .
o ciúme e a possessividade nao me sao estranhos. Mas sei que
" ••• 0 amor é uma rosa mas é melhor não a colher. Ele cresce so-
mente quando está no pé ... Você perde seu amor quando diz a
palavra 'meu' " (Neil Young). Eu já vivi a experiência de querer
que ele fosse meu - que o homem com quem estava não se envol-
vesse emocional ou sexualmente com ninguém mais. Sei o que é
o tormento e o ódio que se sente quando ele está com outra.
Gradualmente, contudo, à medida que vivi várias relações
importantes (e algumas não tão importantes assim), de uma mulher
possessiva e monogâmica que precisava de um companheiro para
enaltecer minha auto-estima, transformei-me numa mulher relati-
vamente não-possessiva, independente, à procura de um relaciona-
mento interdependente. Sinto que a nascente - a fonte - de minha
capacidade de dar e amar é profunda e duradoura. Às vezes cubro
esta fonte ou escondo a caçamba de modo que ninguém possa mer-
gulhar~ela, mas sei que a fonte borbulhante está lá.
Necessidades Sexuais
Enquan~o essa relação fundamental não ocorre, estou aprendendo
sobre minha nat~reza sensual e sobre os diferentes tipos de relacio-
namentos, sexuais ou não, com os homens. Nesse contexto, quando
uso O termo sexual estou me referindo especificamente ao ato de
fazer amor (que pode m· c1uir,
· em b ora nao
~ exc1usivamente
· o ato
sexual). Na realidade, acredito que todo relacionament~ com
homen~, mulheres e crianças tem uma dimensão sexual.
Minha necessidade se xua1, no momento, consiste
· em frequen-
··
temen te fazer amor co h
m um ornem que me ajude a me sentir sufi-
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cientemente segura para lhe dizer, verbalmente ou não, o que me
dá e o que não me dá prazer. Quero um homem que não se sinta
amea_çado pela minha paixão e intensidade física; que aprecie e
valorize o fato de eu ter muitos orgasmos e que possa valorizar da
mesma forma minha despreocupação quando escolho não ter
nenhum; q_ue tenha consciência de sua sensualidade integral (não
apenas genital), seu lado suave e delicado, bem como se orgulhe de ;
sua energia impetuosa; que tenha respeito e cuidado para comigo .
como eu tenho para com ele. Encanta-me o fato de ser na cama,
fazendo amor, o 1ugar no q uai posso me sentir mais igual a um
homem. Por algum motivo que ainda não compreendi bem, é na .
mutualidade da expressão sexual que me sinto mais capaz de comu- ,""
nicar minha capacidade de dar e receber, de ser ativa e passiva, de
atingir as alturas, de fruição, de explorar e compartilhar.
Como mulher, sinto atualmente que tomo para mim a respon-
sabilidade pela minha própria capacidade de usufruir minha sensua- ·/
lidade e de ter orgasmos. O orgasmo não é minha "meta". É da
experiência afrodisíaca como um todo que eu participo com pra-
zer, com ou sem orgasmo. Eu acreditava que cabia ao homem
'~ levar-me ao clímax" . Atualmente creio que é preciso um homem
que me permita sentir segura e considerada e que me encorage a
desfrutar de tudo que eu possa fazer com ele, que me ajude a me
· excitar sexualmente. Confesso que, no passado, se eu fizesse algo /
como esfregar'{<;m eu clitóris contra a perna de meu marido para me1
excitar, ficaria envergonhada. Era natural ele me excitar, mas eu ") '
não aceitava tomar a iniciativa de fazer coisas que me excitassem. (
Aprendi que encontrar as maneiras de me dar prazer é excitante \
para O homem também. Que delícia saber que o que é bom para l
mim geralmente é estimulante para ele também!
Compreendo agora que cabe a mim aprender como abando-
nar-me a estados de orgasmo e êxtase. O homem pode ajudar a
criar a atmosfera propícia, pode pôr as mãos, o pênis, o corpo no
lugar certo, no momento certo , mas só ~u sou ca?az de me soltar.
Quando falei com alguns homens sobre isso, surgiu em seus ro~tos
uma expressão de alívio. " Oh, eu não sou totalmente responsavel
pela estimulação e pela felicidade de uma mulher", é a mensagem
que lhes faz bem.
99
l
1 <
100
genitais é nas ,.,revistas pornogra, f·1cas, que d eprec1am
. a mulher em
vez d e enaltece-la · Assi m, como e, que eu - como e, que nos , -
posso aprender a prez ar meus orgaos , - . Nenhum homem
sexuais?
po d e.d me convencer · Ele po d e, com compreensao - , me ajudar
. nesse
senti. o ' mas somente eu posso apren d er a me apreciar . e, assim,
.
ser 11vre para me dar.
T~~do freqüentado várias saunas onde a nudez é permitida,
~hegu:_1 a con~lusão de que há algo belo em todos os corpos. Mas
isso nao tne ªJuda necessariamente a aceitar minhas imperfeições.
Quando uso o termo "itnperfeições" fico com raiva de mim mesma
por aceita: os padrões culturais de beleza. Quem é perfeito, e po;
que devenamos lutar pela aparência externa, a todo custo? Estou
cansada de lutar contra a influência da sociedade - a Madison
1:venue, Hollywood, os pais e os antepassados. Mesmo assim, parti-
cipo de seus valores quando admiro as pessoas "bonitas".
Superando o Embaraço
A leitura e o diálogo com meu amante ou outras mulheres levaram-
-me ~ª compreender muito mais meu ser sexual integral. Lembro-me
da primeira vez que entrei etn contato com The Myth of the Vagi-
nal Orgasm, de Anne Koedt. Estava com quarenta e dois anos,
recém-divorciada e me sentindo feliz e curiosa. Corei quando o
coloquei na bolsa. "Droga", pensei, "por que não posso me sentir
bem saindo daqui com o livro que eu quiser, bem à mostra, seja ele
de antropologia social, The ]oy of Sex ou The Lesbian Nation?
Por q ue preciso esconder meus interesses? O que nossa cultura fez
para nos tornar tão embaraçados quando queremos obter determi-
nadas informações? Por que cresci sem jamais falar em minhas
fantasias, pensamentos e sentimentos sexuais?"
O que O ensaio de Koedt dizia não era surpresa para mim. Eu
sei muito bem o quanto o clitóris é importante no prazer que sinto
~a realção sexual e na masturbação. O que foi surpreendente é que
ela, sem qualquer pudor, publicou estas palavras! Minha experiên-
ci; própria e isolada estava sendo partilhada ~om outros h_o1nens e
mulheres. In crível! Cinco anos mais tarde eu ainda me sentia enver-
101
ganhada e embaraçada quando p~ss_ava pert~ de uma banca de lite-
ratura feminina que estivesse ex1b1ndo o hvro de Betty Dodson,
Liberating Masturbation· l Seus quinze delicados desenhos a bico
de pena dos genitais femininos estavam acima do que eu conseguia
olhar cm público. Agora que já comprei e li o livro , digo nova-
mente : "É fantástico encontrar mulheres que desenham e escrevem
sobre a vida tal como ela é realmente vivida." Embora sempre
tenha gostado de sexo e tenha sido educada para senti-lo como
algo saudável e natural, raramente havia falado sobre minhas expe-
riências e sentimentos.
A Mudança de Valores
A mudança decorre da educação : a informação, a autodescoberta e
o partilhar. Se há dez anos atrás eu estivesse num grupo feminino
de discussão sobre experiências sexuais, eu ficaria de boca fechada
(por timidez ou embaraço), ouvidos abertos e pensaria: "Como
elas ousain dizer estas coisas?"
'f,
O ensaio de Koedt foi o primeiro de uma série de outros que
li. Ele me despertou. Emprestei-o a outras pessoas. Aprendi a falar.
Minha principal mensagem à mulher - seja ela casada, solteira,
velha ou moça, heterossexual ou homossexual - é de que leia e
dialogue. Temos muito a aprender umas com as outras - dos nove
aos nove nta! A sexualidade assume significados diferentes em mo-
mentos diferentes da vida, mas é sempre uma parte importante de
nós mesmas. Qualquer que seja a experiência que você tenha, ela é
sempre verdadeira para você. É válida. Através da aprendizagem do
que é verdadeiro para nós e para os outros, descobrimos que temos
muitas escolhas de como manifestar nossa sexualidade: permanecer
virgem até o casamento ou ter experiências sexuais pré-conjugais;
ser monogâmica ou ter amantes; tornar-se orgástica através da mas-
turbação e satisfazer o corpo ou permanecer não-orgástica; ser celi-
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ba tária ou ter vários tipos de experiências sexuais·; engravidar e
criar filhos ou não ter filhos.
É essa oportunidade de escolha autodeterminada que nos
torna mulheres livres. Como cada uma de nós escolhe combinar
nossas necessidades sexuais com nosso sistema de valores depende
de nós.
Quando me casei, fiz uma escolha inconsciente e, agora vejo,
muito limitada em relação à minha sexualidade. Comprei o mito
cultural de que a monogamia faz parte do verdadeiro amor.
" Amando totalmente a meu marido", disse a mim mesma, "jamais
me sentirei atraída ou amarei outro homem" . Um conceito que,
agora que paro para pensar, me parece estranho. Por que uma ceri-
mônia legal me faria passar de uma pessoa atraída e interessada por
muitos homens a uma pessoa atraída por apenas um? Coloquei
viseiras em grande parte de meu eu sensual, sexual. Raramente me
permiti viver momentos de paixão ou sedução por outros homens.
Entorpeci essa minha parte. Inibi-me de várias maneiras. Perdi con-
tato com meu lado dançador, brincalhão, namorador, em parte
devido à minha timidez, em parte em função do medo de ser uma
" mulher má", em parte porque meu marido era possessivo e ciu-
me'fito e cabia-me não ser atraente para ninguém mais.
Que ultraje nos aprisionarmos tanto! O a mor assume muitas
formas : amar como um filho, amar como um amigo, amar como
um companheiro de brinquedos, amar como um amante. O que
aprendi nos últimos anos é que se me permito a liberdade de
estar aberta para o amor, posso escolher o que fazer com esses
sentimentos.
Lembro-me bem do dia em que resolvi quebrar a monogamia
de meu casamento. Embora não me recorde de que meu marido e
eu tenhamos verbalizado "Não vou dormir com mais ninguém",
havia um pacto implícito. Durante o período negro/cinzento de
minha depressão, ansiei por algo mais na vida, no casamento. O
"algo mais" de que necessitava não era apenas sexual. Nos dezes-
sete anos de casados, satisfizemo-nos explorando-nos mutuamente
e descobrindo novas formas de sexualidade a partir de nossos pri-
meiros dias de virgindade, em meio aos altos e baixos da criação de
filhos e da procura pro fissional. Como a maioria dos casais que
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estão juntos há muito tempo, tivemos períodos de tédi ,
em que um d e nos ' tln · necessidades sexuais do 0 , epocas
· h a mais
"· , , que o outro
e epocas em que riamos dos casais que ficavam até tarde n t
q u an d o prereriamos
r , . d as estas,
ir ce o para casa para fazer amor. Mas f· 1
d d, · , • no ina
o ecimo setimo ano, os meus sentimentos eram de que " -
t d .d nao
es ou sen o ouvi a ou compreendida ou tendo o consentimento
para ser a nova pessoa em transfarmação que deseJ· o ser" minh
. 1
ener?ia sexua tornou-se uma poderosa força propulsara. Meu
' a
anse~o por algo mais na vida foi inconscientemente traduzido pelo
\ desejo de novas experiências sexuais.
. Naquela época, eu estava sendo cortejada delicadamente,
discretamente, com humor, interesse e amor por um homem a
quem, com o tempo, me entreguei. Lembro-me de que um dia diri-
gia de volta para casa e d izia para mim mesma: "Se eu captar mais
uma mensagem sutil de que ele me quer, eu vou". No dia seguinte
ele ligou (o que não costumava acontecer). Pelo tom de sua voz,
percebi que aquela era uma oportunidade de estar com ele, não só
para almoçar mas para ir para a cama. (Será que essa oportunidade
já acontecera e eu não havia percebido?) No caminho, parei numa
banca de frutas para almoçar e comprei uma caixa de cerejas. "Que
simbólico", pensei. Aquela tarde terna, adorável, em que pela pri-
meira vez vi e senti outro homem e lentamente relaxei dentro dele,
foi d~liciosa. Espantei-me com a simplicidade, a humanidade e o
calor '(;,d e nossa relação. Não houve nenhum relâmpago! A paixão
selvagem não prevaleceu. Éramos dois amigos afetuosos, unidos.
Tive a felicidade de me iniciar no sexo fora do casamento com
alguém que sempre se importará comigo e será sempre importante
para mim. . 1
Os pensamentos que me ocorreram depois d~q~ele dia enso a-
rado não foram tão animadores: "Será que desisti de meu casa-
mento? Será que eu poderia conversar com meu marido sobre eSt ~
experiência, ou a mera menção ao fato exp1o d.ira' com ocasarnento?·
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Temores Sexuais
Tornei-me conscient d
, , e e um d e meus temores. Será que meu marido
tambem o possuia? De b . d .
. . · sco n que um os motivos pelos quais me
mantivera virgem até os · t ( _ _ ,
_ . . vin e o que nao era tao raro na epoca) e
nao concretizei nenhuma d as atraçoes
- sexuais
. por outros homens
durante meu casamento era que eu temia ser comparada sexual-
mente com outras mulheres. Embora freqüentemente olhasse para
os ~omens ou para um corpo masculino e desejasse saber como ele
sena na cama, eu jamais suportaria a pergunta: "Como é ela na
cama?" Meu senso de que devia ser a amante máxima era soberano.
Eu não só teria ciúme se meu marido dormisse com outra pessoa;
eu também indagaria: "Ela foi melhor do que eu?" Minha curiosi-
dade era grande, meu medo maior ainda, e durante muito tempo
meu compromisso moral de permanecer monogâmica· foi supremo.
Pressinto que meu marido tinha os mesmos temores. Gostaria de
saber quantos casais evitam conversar e/ou experimentar por causa
dessas idéias.
Bem, após viver e amar durante cinco anos na qualidade de
mulher solteira, desfiz-me do medo de ser comparada. Embora eu
ainda ache que a união sexual pode ser a troca de energia espiritual
mais elevada - até mesmo uma transcendência das duas pessoas
envolvidas 4r- , ela pode também ser uma experiência divertida,
lúdica e sem compromisso, que dispensa comparações. A intimi-
dade sexual pode ser semelhante às demais intimidades - divertida
e importante no momento em que ocorrem. Não tenho mais a
necessidade de ser a melhor. Cada parceiro, cada hora de amor é
diferente. Sou muito diferente com a mesma pessoa em momentos
diferentes. Descubro que um encontro sexual não é necessaria-
mente melhor que outro; eles são diferentes. Essa diferença depen-
de, em parte, daquilo que trago para a experiência. Se esta~ num
de espírito agitado, apaixonado, altamente energ1zado,
esta d o • h d' · -
posso envolver meu parceiro ~esta resposta. S~ m1n a 1spos1çao
tende para a delicadeza, a suavtdade e a s~nsuahdade, posso provo-
car esta resp o Sta em meu amante. Os sentimentos que ele traz para
.
nossa intimidade são igualmente importantes. Nossas duas energias
criatn algo novo a cada vez.
105
Creio que minha maior insegurança, a de precisar ser a melhor
amante, era uma projeção. Eu estava preocupada em encontrar o
melhor an1ante. Encontrei u ma variedade de homens excitantes,
com disposições diversas, em ocasiões isoladas. O perfeccionismo
estraga a graça.
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----- -- -· ·- ---- - - -- - -
Posso t re par com um amigo por uma noite e não me p reocupar se acon-
tecerá de novo, por mais agradável qu e t enha sido.
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influenciou minhas opções. Falei também sobre alguns de meus
conflitos e lutas internos, bem como das formas pelas quais tentei
resolvê1tos.
Na Segunda Parte, quero expor com mais detalhes as expe-
riências homem/mulher que modelaram meus pensa1nentos, senti-
mentos e anseios.
Segunda Parte
Perspectiva Política
As experiências que relato a seguir contêm dois assuntos: minha
procura constante de um melhor relacionamento com parceiros e
a evidência de que a r_elação de um casal é "política". Creio que a
108
l
1
1·
109
que pensei que não estava interessada pelo sexo oposto. Houve
altos _arreb~tadores e baixos solitários e tristes. Os relatos a seguir
levarao o leitor a percorrer a trajetória de minha aprendizagem.
Agndoce
110
Separamo-nos. Eu me mudei. Ele se divorciou. À distância tentei
abrir a porta mais uma vez. Senti-me verdadeiramente rejeitada. Escrevi
a ele: " Você ajudou - com uma rápida tacada - a acabar com minha
última depressão. Passei por momentos difíceis ao dizer-lhe adeus en-
quanto deixava a Costa Leste. Você fez por mim o que eu não pude
fazer. Sinto-me estranhamente perdida, flutuando, à deriva, mas navega-
rei de novo quando minha tempestade interior acabar. Tenho norteado
meu curso por algumas das estrelas brilhantes que você me ajudou a ver.
Obrigada. Adeus". (Eu me sentia toda machucada)
Senti-me deprimida, exausta, sem energias. Submergi em meu pró-
prio poço. Não tinha vontade de sorrir, de me dar ou estar presente
para quem quer que fosse .
111
a rela~ão_ é negativa. Uma terceira pessoa que chega à relação não
tem ~rre1tos, não tem como fazer as mais simples exigências. Eu
podena ter um lugar em sua vida - o acordo existente em seu casa-
mento o permitia. Contudo, quando o mar tornou-se tempestuoso
fui dispensada. '
Durante aqueles anos, aventurei-me com outros, aprendendo,
a cada _oportunidade, algo de novo. Coisas simples, coisas engraça-
das, cotsas exóticas. Um amigo pediu-me que o encontrasse numa
boate. Simples? Mas eu nunca havia ido me encontrar com um
homem tarde da noite. Sempre fora escoltada a esses lugares. Um
homem poderia vir à minha casa? O que os vizinhos pensariam?
O que isso importava? Como as atitudes deles afetariam minhas
filhas? O que as crianças pensariam? O que fariam?
Amor Telúnco
Uma de minhas relações transcorreu entre altos e baixos, idas e vindas, a
paixão e o esquecimento. Ele estava saindo de um casamento onde o
ódio era vociferado com veemência. Ele estava cansado. Eu estava .dei-
xando um casamento onde o ódio era negado. Para mim, chegava. O
cenário de nossos encontros era a natureza : bosques, samambaias e nos-
sas próprias qualidades terrenas.
'b ..• esta noite foi de uma nova dimensão, uma realidade sensual total-
mente nova. Achei que já havíamos atingido os limites do êxtase, mas
esta noite foi totalmente diferente. Ouvi-me dizendo : "Isto tem a força
e a beleza de uma densa floresta de pinheiros altos". As imagens esta-
vam todas à mão, irrompendo em minha cabeça: terra marrom e o amor
terreno, você é como florestas escuras com samambaias orvalhadas;
pinheiros majestosos cobertos de musgo macio, estampados de encontro
a um céu vermelho-alaranjado - imponência e força apontando para um
espaço desconhecido ...
Poucas semanas depois, dizia a mim mesma, ao me relacionar com
esta mesma pessoa : "Quando será que vou aprender! Você me disse que
não O acordasse pelas manhãs para fazer amor; eu agi de acordo com
meus próprios desejos, não acreditando que voe~ não iria gosta~. _Você
me disse: 'Meu corpo está cansado e quando voce chega me acanc1ando
nesta hora, parece um bebe que quer ped'll' comi'd a .1"
A
"Você parece não entender que estou começando a pedir o que de-
sejo! É difícil, para mim, arriscar-me a pedir! Estou começando a enten-
112
der que se eu aprender a pedir, também terei que saber como aceitar um
'não' como resposta".
Durante os meses que se seguiram houve períodos de longos silêncios,
seguidos de profunda proximidade, seguida de quebras de compromis-
sos, seguidas de nada. Eu resmungava para mim mesma, num misto de
autopiedade e ódio : " Como posso me sentir tão fodida? Eu lhe convido
para uma festa em minha casa e você comunica que está vindo com uma
mulher! Pelo menos eu disse 'não'. Que bom que coloquei meus limites
em vez de ser gentil e depois ficar ressentida."
113
4
• d
~
nao me aJU ou a d.ize-
" 1o antes.? V oce" nao~ , b b
e o a N atalie I Vque" voe
d e
' • oce ev
ter percebido!" . e
Por quê? Porque em todos os meus pensamentos sobre você b
nos, eu não eixei ess~ possi i a e aparecer como real porque re
' d · · 'bil'd d ' so
·
smto atrai'd a por voce.
" E agradave' 1 anm · har-me so b suas asas ou rir me
juntos. Gosto de nossas trocas de idéias e disputas intelectuais. Qu:os
saiba, jamais conheci alguém gay. Na verdade, há seis meses eu n;u
' al . o
estava certa qua_n to a p avra que_era malS co~umente usada para desig-
nar homossexuais do sexo masculino. Bem, foi bom ter esclarecido tudo.
Agora eu sei por que você estava sempre preocupado com minhas expec-
t ativas. Por que chorei tanto? Não consigo imaginá-lo fazendo amor
com outro homem. Existe um ódio tão grande à mulher nisto. Ou é
assim mesmo? Eu não sei! Est ou confusa, com raiva, ferida. Terei que
abandonar minhas fantasias e esperanças de ser sua amante.
114
,+
nascido n1ulher. Sei que não toleraria, neste ponto de minha vida,
um acréscimo de discriminação, opressão e ostracismo que se cria
se escolhemos como par alguém do mesmo sexo ; mas admiro os que
ousam expressar seus sentimentos apesar de tantas discriminações '
contra eles.
11 5
encontra nos estágios iniciais de crescimento e de autoconheci-
~ento, em ~ermos de_ saber quem é e o que quer. Eu já passei por
isso e ajudei um mando durante parte desse processo. Não tenho 1
paciência de viver tudo de novo. Ao me relacionar com homens na \
casa dos vinte e dos trinta, acho encantador tomar parte de sua
vivência de autodescoberta, embora saiba que não me disponho a
ser a parceira principal. (Estou ciente de que mesmo em relação a
esse assunto posso mudar. Não existem absolutos.)
Toque-me, Abrace-me 1
No caso de um homem mais jovem - um amigo e colega-, decidi-
mos naõ manter um relacionamento totalmente sexual. Saber como
tocar e ser carinhoso sem ficar sexualmente excitado ou sem precisar
chegar a uma relação sexual é uma arte que foi esquecida. Podíamos
nos abraçar com ternura, massagearmo-nos nus e ser afetuosos. Embora
tivéssemos atração sexual, foi sábia a decisão de não ter relações ou de
não nos deixarmos erotizar. Isso me fez entender que o cérebro é o sis-
tema de controle de nossa sexualidade ou do nosso botão de "ligar".
Se eu quiser ser apenas sensual e afetuosa, posso.
O toque e o prazer podem ser sensuais sem serem sexuais. Pode haver
muita comunicação, atenção, proximidade, abertura na interação senso-
rial mútua; satisfação. O abraço e o beijo geralmente ficam limitados à
família ou ao namoro. Aprendemos a não nos expressarmos, a sermos
reservados, frios . Numa viagem à Europa, Sidney J ourard contou o nú-
mero de vezes que amigos realizavam contato físico enquanto conversa-
vam ; a média foi cerca de 100 vezes por hora. Retornando para o Meio-
-Oeste, realizou novamente a contagem. A média caiu para 3 toques por
hora. Será uma surpresa que tantos americanos estejam fora de contato?
. . . Sentir-se bem com o contat o físico requer paciência e atenção.
Observe suas atitudes, como você entra em contato físico com o outro,
seus sentimentos. Lentamente, se quiser, você pode mudar essas reações
e se permitir gostar de tocar não só os outros mas o chão, você mesmo,
o papel, os alimentos, as árvores, os animais, as flores, a vida.
116
Na companhia desse homem eu estava aprendendo a dar e
receber afeto sem que nenhum de nós tivesse o intercurso sexual
como
. . "me t a " • s~ao tota1mente Justificados
· · o tempo e a paciência
s
inve udos na superação do antigo modelo: "Se somos sensuais
q~ando esta~os _jun:os, temos que ir para a cama". Até agora, em
minha expenenc1a, sao os homens mais jovens que se têm mostrado
capazes de ampliar o seu conceito do significado da sexualidade.
A ,sensualidade é uma experiência estimulante tanto para
quem da como para quem recebe. Gosto de minha capacidade de
tocar e abraçar tanto homens como mulheres.
Em Footholds, Philip Slater escreve:
Furacão
117
e não estivesse me pedindo que fosse sua mulher, de alguma maneira eu
procurava por um companheiro constante e um pai para minhas filhas.
Ficava horrorizada com meus pensamentos. Temiai de certa forma justi-
ficadamente, ingressar numa parceria na qual, mais uma vez, eu seria
secundária, passiva e teria um homem dependendo de mim.
Tal como meu marido, meu novo amante era brilhante, cheio de vida
falante, dono de opiniões e pontos de vista políticos sólidos. Buscava 0'
poder, era um trabalhador compulsivo e se dava bem com alunos e jo-
vens. Lisonjeava~me com freqüência, comportamento que fiz questão
que ele deixasse imediatamente, pois minha e.xperiência com meu mari-
do, nesse sentido, fora muito negativa. Concluí que as pessoas que elo-
giam constantemente, na verdade querem que tenhamos essa atitude
para com elas, pois são inseguras. Existe uma inveja e um ódio subjacen-
tes a esta adulação florescente e repetitiva. Não a engulo, não confio
mais nela. Pedi a esse homem que parasse com isso. Ele parou.
Havia aspectos positivos em meu novo relacionamento amoroso, que
não estavam presentes em meu casamento. Desejávamos uma relação
não-monogâmica, não possessiva e desenvolvíamos ambos a capacidade
de conversar abertamente sobre nossas relações com outras pessoas. Éra-
mos capazes de discutir nossas necessidades, gostos e desejos sexuais e
divertíamo-nos experimentando e satisfazendo-nos mutuamente. Tam-
bém éramos capazes de discordar, brigar e nos refazer destas feridas.
Isso, para mim, era novo e empolgante. Contudo, à medida que me tor-
nei mais " apaixonada" , cornei-me menos capaz de me afirmar, mais
dependente de sua aprovação, mais necessitada de " tê-lo como ponto de
referência". Na verdade, no dia em que eu pensava seriamente se pediria
ou não que ele viesse morar em minha casa ( de qualquer modo, ele estava
lá a fuaior parte do tempo), ele me contou que um envolvimento com
outra mulher o deixara pouco interessado sexualmente por mim. (Ele o
colocou mais cruamente.) Fiquei ferida, com raiva, exaltada! Bati a porta
para nosso relacionamento.
118
' -_.. . .:;s~. . .-.-,. ___,. . . ;. ,ü; ; i:=z==~!ml!!--------------------
. Nesse mo~ento da vida, sentia-me bem tendo um outro par-
ceiro, mas era incapaz de aceitar ou de tentar elaborar seu envolvi-
mento c?m outra mulher que nos roubava uma parte importante
de energia.
~ercebo_ agora que minha a1nbivalência - querer mn outro
parceiro mando, do tipo protetor, e querer ser so1teira e aprender
a enfrentar sozinha a vida - me assustava. Quando os ponteiros
começavam a indicar o desejo de um companheiro, eu fugia. Temia
que começar a amá-lo profundamente trouxesse dor, que se eu dei-
xasse que ele entrasse em minha vida ele iria ou me subjugar, ou
passar a gostar das pessoas que eu amava e me roubar a atenção
que elas me dedicavam. Chocada, percebi que eu ainda vivia, ou
revivia, meu casamento!
O medo de perder minha identidade e minha auto-suficiência,
o medo de repetir o padrão do meu casamento e de vivenciar
ciúme e dor, me fez fugir . Durante esse processo, aprendi que
posso atravessar o lodo e a agonia dessa experiência, alcançar uma
chuva purificadora e deixar o sol brilhar de novo. Sinto-me mais
capaz, hoje, de perceber o lado humano e o humor de minhas aven-
turas . O entusiasmo e a ternura de amar e o desafio de tentar
encontrar novas formas de relacionamento valeram os momentos
de raiva e de an~ústia.
Quando revejo o anúncio que escrevi naquela época para
publicar no jornal local, na sessão "Assuntos pessoais", percebo o
quanto ele era engraçado e patético. Ele revela que eu estava me
saindo bem comigo mesma, embora querendo alcançar os homens
e relacionar-me com eles de formas diferentes.
Embora o movimento feminista certamente estivesse nos bas-
tidores, dando-me o contexto a partir do qual meu novo eu emer-
gia, eu havia lido pouco sobre, por e para mul~eres. Mesmo assim,
este anúncio (que não tive a coragem de publicar) mostra que eu
desejava um tipo diferente de homem e um tipo diferente de rela-
ção. Relendo-o, percebo que eu temia que pudesse intimidar qual-
q uer homen1 que entrasse em contato com minha energia assertiva.
Mulh er alta, digna, sensual, 42 anos, terna, aberta, honesta, que aprecia
a natu reza, a arte, a fotografia, velejar, tênis, motos, viagens, luz de
119
--,
Amor Duplo
Por ~ ue é que quando estou arrebatada por um homem, outro amor
entra em minha vida? Parece que não é raro acontecer isso entre as pes-
soas. Quando estou amando, estou ciente de meu SER total que está
aberto, vulnerável, cheio de alegria, radiante. Esta energia abarca, envol-
ve, atrai os outros. Portanto, é natural, é provável que, na medida em
que amo uma pessoa, eu esteja ainda mais predisposta a amar outra.
Passei duas semanas muito importantes com um homem que eu esta-
va começando a amar. Era uma pessoa aventureira, competente, inde-
pendente, que sabia algo sobre partilhar sentimentos. Ele não me deixa-
ria fazê-lo " meu". Com ele, sentia-me protegida sem ser possuída,
adorada sem ser idolatrada, respeitada por minha inteligência e maneira
de ser. Eu gostava de sua maturidade e experiência, sua devoção e sua
paixão constante. Juntos, explorávamos a consciência e a transcendên-
cia extraterrena, através da sensualidade e da sexualidade.
. . . Sou uma pipa com uma linha comprida, infinita, que me permite
subir eternamente em espiral através do espaço iluminado pelas estrelas,
mas ligada a você-terra. Então, você viaja cada vez mais longe, inicial-
120
mente seguin?o meu trajeto e em seguida encontrando o seu próprio,
que O lev: alem .. Deixo-o partir, alçar vôo, flutuar, para depois guiá-lo
para O _c hao mac10, de um marrom profundo, e para a vida! Para a vida
que existe dentro de mim, onde há riqueza dos tons rosados das con-
ch as e a purpura
' e1egante .. . Esta noite, o amor abriu meu coração. E
bom amar de novo; permitir-me o luxo de sentir a abertura e a ternura
em meu coração e a paixão do meu corpo.
Nessa relação, senti-me livre para falar sobre minhas necessidades e
sentimentos sexuais :
• • • gostei do jogo que fizemos na cama esta noite. Eu estava me sen-
tindo pressionada pelo seu desejo fervilhante. Pedi-lhe que fingisse não
estar interessado por mim e que eu iria seduzi-lo. Você foi perfeito:
quase me convenceu! Senti-me estimulada e excitada sendo quem ten-
tava e seduzia. Mas, acima de tudo, esse jogo significou que fizemos
amor no ritmo que eu precisava nessa noite.
Mesmo nesse relacionamento, nossos antigos papéis sexuais e as exi-
gências sociais cobravam seu tributo. Durante o dia, enquanto viajáva-
mos, o velho sistema tomou o poder e eu embarquei: o homem se encar-
rega! Esse antigo costume é, em alguns aspectos, muito cômodo, o que
me fez temer, porque sabia que adotá-lo seria atrofiar minha capacidade
de tomar iniciativas.
O recepcionista do hotel, o bilheteiro, a garçonete, o porteiro, o guia
de turismo - todos com os quais entramos em contato - dirigiam-se ao
meu par, enquanto eu permanecia de lado, como uma espécie de apên-
dice inerte, parasita, sem utilidade. Fiquei com raiva : já vivera aquela
vida uma vez e não queria experimentá-la novamente! As palavras "con-
trole, opressão econômica, ser propriedade, ser possuída, poder-mas-
culino-de-tomada-de-decisões" , todas elas brotavam em minha cabeça.
E, mais grave do que tudo, era a presença de um fragmento meu que
gostava disso!
Mostrei-lhe minha indignação : " você aparentemente é solidário com
meus sentimentos de ser um cidadão de segunda classe, mas quando
você age, mostra não compreender a profundidade de minha revolta e
do meu tormento, na medida em que você se encarrega de tudo!"
Ambos aprendemos com o choro, a raiva, a empatia do outro. Man-
tivemos a comunicação aberta. Aprendi com ele como é difícil mudar
uma antiga maneira de ser, particularmente num país machista estran-
geiro, onde seu ego sofreria se eu compartilhasse da liderança.
Complicando ainda mais as coisas havia o fato de que esse homem
era casado. Ele decidiu evitar a dor e a raiva não dizendo nada à sua
mulher, embora ela tivesse deixado claro, de alguma forma, que sabia
da minha existência. Ambos eram cúmplices no ocultamento do fato.
Isso me afetou. Senti-me desonesta e diminuída nesse processo. Quando
121
ele e eu passávamos um dia ou uma semana juntos, eu sabia que nós três
estávamos implicados, mas não lidávamos com o fato. Ele havia esco-
lhido controlar a situação decidindo o que seria melhor para os três.
Pressentia que ele se protegia sob o pretexto de não feri-la. Achei que
era uma forma de dominação. Eu poderia ter assumido meu poder e ter
contado a ela sobre mim, mas com que finalidade? Era o casamento
dele e ele reivindicava o direito de lidar com ele à sua maneira.
Meus velhos temores de ser abandonada se a mulher descobrisse retor-
naram. Ele prometeu que nossa união não terminaria se ela descobrisse
a verdade. Confiei nele.
Fizemos um pacto de abertura e honestidade a respeito do relaciona-
mento com outras pessoas, e o respeitamos. Preferia mil vezes lidar com
a raiva e a dor do que com o engodo. Nós dois desejávamos uma relação
não-monogâmica e tentávamos imaginar até que ponto ficaríamos com
ciúmes se outro parceiro sexual surgisse. Nosso relacionamento foi esti-
mulante e significativo, na medida em que conversamos sobre nossos
pontos cegos, permitimo-nos ser duas pessoas independentes e nos abri-
mos mutuamente para novos níveis de vitalidade e profundidade.
Então , como é que, sentindo-me tão bem com esse amor, deixei
outro amor entrar em minha vida? Pareceu-me muito natural. Viver e
amar intensamente contém algo que atrai as outras pessoas.
Entra em minha vida uma criatura sinuosa, terna, rebelde, livre, sel-
vagem. Eu tinha um amor puro, simples para dar e disponibilidade para
receber. Nossos momentos juntos pareciam deter o tempo; nossos pen-
samentos eram simultâneos. Nosso amor e nossos corpos tinham como
que ondulações, como ouro e prata que se misturam e suavemente se
futíldem. Pareciam um mistério de alquimia, quase demasiado, muito
semelhantes, embora muito diferentes. Viajamos por vales, praias, cam-
pinas, florestas, absorvendo a natureza, rindo, pulsando em uníssono.
Era como se viéssemos das mesmas raízes. Ocorreu-me que ele era meu
"irmão" - minha parte masculina : o eu/macho estético, visual, artesão.
Ele era também o eu/macho-criança, furioso, questionador, que odeia o
mundo, que busca a essência, errante .
. . . Quando deitamos e dormimos, sonhei. Você estava vestido com
uma bonita roupa preta de aikidô - uma jaqueta larga, de lapela e cinto
de cetim, calças pretas apertadas nos tornozelos. Eu estava de branco.
Estávamos na praia em que estivemos à tarde. Havia muitas pessoas
abstratas nas laterais, usando cores decorativas - chifons dourados, rosa
e encarnados voando ao vento. O caminho até a água foi aberto pelos
espectadores coloridos, que se afastavam para nos deixar passar. Estáva-
mos nos casando. Minha mãe enviou um bilhete: "Como N atalie não
está mais dormindo em casa conosco, não iremos ao casamento". Fim
do sonho.
122
Estava amando esse homem b
casar. Talvez eu estivesse vivendo e~ ~ra certamente não desejasse me
e o sol. Isso m 1 b mm. a parte branco/preto - a sombra
um reto e em rava uma forte unagem que tive de dois cavalos
p e um branco. Estavam empinados sobre as patas traseiras d~
frent e um para O out · rrorça e energia. Estavam lutando
'
ro, com mwta
prazerosamente - e não brigando.
E stou . perplexa com a polaridade - os opostos, atraindo-se mutua-
mente.
. Smto que estou d eixan
· d o emergtr
· os opostos que existem em
mrm. De alguma forma, ele fazia parte desse processo. Será que minhas
d uas partes estão se unindo?
E ste segundo amante também era casado. Ele resolveu ser honesto
com ~ua mulher ~ontou-lhe que passava momentos comigo. Senti-me
respeitada e respe1tavel. Sua honestidade significava que cada um de nós
era responsá:el por nós. Admirei sua integridade. Ele teve que se haver
com os sentrmentos feridos e a indignação dela, mas recusou-se a ser
controlado por eles. Sua capacidade de permanecer aberto e claro com
cada uma de nós foi uma experiência nova, que me enriqueceu. Certa
vez, ele disse : " Não me escondo das coisas difíceis. Desejo relações que
nutram as pessoas. Gostaria de subverter qualquer sistema no qual hou-
vesse poderes desiguais".
Respeitei sua mulher quando ela adentrou minha casa com olhos
flamejantes de indignação. Ela me acusou de ser carente e não ter com-
paixão. Admirei sua capacidade de enfrentar. Estava também orgulhosa
de mim, pela minha honestidade e equilíbrio: " eu estava me sentindo
amada, e não carente, quando encontrei esse homem. Acho que esse foi
dos motivos pelos quais ele se sentiu atraído por mim". Ela disse:
"Você invadiu a nossa relação" . Eu disse: "Eu respondi aos convites
dele. Eu estava aberta ao amor, e ele também".
Mais tarde, pensei: "Ela está me pedindo, em nome do coleguismo,
que eu me una a ela contra um forte interesse dele. Isto é direito ou
justo? Ele a ama e está me amando. Por que eu não agiria segundo meus
sentimentos? Estou pronta a ouvir os seus e a me relacionar com você
também".
Mostrei-lhe também que eu estava me colocando numa posição muito
vulnerável. Que eu estava pondo em risco minha ternura para com seu
marido, sabendo que o laço entre eles era tão forte. Ela não havia pen-
sado no problema sob esse ângulo.
Em duas ocasiões, estivemos os três juntos. Inicialmente, a situação
foi tensa e carregada de angústia. Aos poucos, à medida que nós três
começamos a falar sobre nossos ter~ores, o desconforto diminuiu. Ele
disse que estava feliz por estarmos Juntos - ele amava a ambas. Com-
preendi, porque estava amando a ele e a outro.
123
Como me senti, amando estes dois home~s ao ~esmo tempo?
Parece ter sido uma das melhores épocas de minha vida! No entan-
to, meus temores eram vários. Será que cada um deles realmente
sentia O que disse, ou seja, q~e e_sta~a tud~ bem quando eu estava
com O outro? Minha experiencia tinha sido de que as palavras
podem ser ditas - "não terei ciúmes ou raiva" - os sentime~-
tos negativos aparecem sutilmente, encobertos, punitivos. Eu queria
acreditar que não tinha qualquer problema em amar abertamente
dois homens. Já havia estado em situações em que o homem amava
a mim e a mais alguém, mas para mim - uma mulher - amar dois
homens não era socialmente tão aceitável.
À medida que os dois entravam e saíam do meu espaço, havia
um início de culpa. "Como é que você pôde?" perguntava-me,
com a entonação típica dos pais. Depois, na medida em que a
comunicação manteve-se aberta entre nós três, gostei da experiên-
cia. Viver desta maneira exigiu tempo, flexibilidade, honestidade,
autenticidade e muito trabalho. Aprendi que podia estar intensa-
mente apaixonada por dois homens simultaneamente.
Por que me envolvi com dois homens que eram casados? Se-
gundo a análise tradicional, "você não quer se ligar a ninguém".
No meu caso, isso não era verdade. Eu me sentia muito próxima de
cada um deles - profundamente sintonizada, em contato e até
mesmo psíquicamente ligada. Quando penso em nossas ligações
, . . .
psaquicas, sinto arrepios.
Não queria ficar distante. Pelo contrário, o fato de estar envol-
vida em dois triângulos me permitiu expressar uma enorme capaci-
dade de amor e, ao mesmo tempo, manter meu espaço de vida pri-
vado. Meu inconsciente dirigiu a escolha dos amantes, embora eu
não tenha deliberadamente, ou nem mesmo conscientemente,
escolhido homens casados.
Enquanto vivia esses dois triângulos, eu me fiz muitas pergun-
tas e partilhei uma parte de minha forma de vida com alguns ami-
gos íntimos. Fiquei muito perturbada com alguns dos comentários
de meus confidentes. Um deles: " Natalie, você é uma mulher forte.
Por que você se mete em relacionamentos de casais? Deixe-os em
1" p . , .
paz_- asse~ vana~ semanas procurando o sentido que a situação
fazta para mim, a fim de responder a essa pergunta, tentando livrar-
124
-me do automático
. sentimento de culpa provm· do d o veIh o sistema
.
q-ue consiste em recriminar "a outra" Escrevi·. "Q d
de Ih · · uan o acontece
uma mu er ser a terceira numa relação, ela não deve ser cul-
d , A s d uas m u1· heres poderiam
pa a. De quem é a culp a ?. D e nmguem.
.
ap~~tar para O homem que amam e dizer você não devia amar duas
m _ eres ao mesmo tempo! Mesmo assim, ele ama. Pergunto a
mim mesma: fiz algo para isso acontecer? A resposta é 'não'".
A pergunta formulada por minha confidente traz implícita a
afirmação de que quando me sentir atraída por um homem casado,
devo refrear-me, colocar viseiras nos olhos e nos sentimentos. Ora,
eu certamente me lembrei disso . Disse-lhe que me preocupava com
~ua mulher e empatizava com ela. Ao que ele respondeu: "Mas é
isso que eu quero. Vai ser difícil para ela, e eu tentarei lidar com
isso. Não vou escolher ser controlado pelo fato de ela se sentir
ferida ou indignada. Quero ficar com você".
Deveria recriminá-lo por não desistir de mim? Não, também
não posso fazê-lo. Parece mais provável que nós três estivéssemos
nessa por alguma razão. Estaria faltando na relação deles algo que
me atraiu para ela naquele momento? Haverá alguma coisa faltando
em toda relação conjugal que atrai e convida uma terceira pessoa -
um ou uma amante?
Não há nada de novo nessa situação : ela é tão velha quanto a
espéci~ humana. O que é relativamente novo é a abertura e a acei-
tação do triângulo, e as várias multiplicações do triângulo - dois
casais, famílias extensas e uma rede de relações íntimas. Parece-me
que em vez de suprimir o que é natural e normal - dedicar-se, a~~r
e ser íntimo de mais de uma pessoa - estamos começando a aceita-
-lo abertamente como um modo de vida. As implicações sociais,
políticas e econômicas são imensas.
Para completar o relato dessa situação de "amor duplo ", pre-
ciso acrescentar que depois de um ano de envolvimento, o homem
ue revelou nossa relação à sua mulher achou que a dor e o ressen-
q ·
timento dela eram maiores do que e1e po d'1a suportar. D.
e1xou-me,
0
que evidentemente, foi torturante para mim.
Em lugar de estender-me sobre _m eu sentimento_ de a~andono,
gostaria de dizer que o sabor da dignidade e do respe1t 0 mutuo que
1
nós três tentamos ainda perdura. Parece que cada tnade depende
125
- -- ·--- - - -- - - •tll ili-"1.lil,~'_Jj
;i-~-
;-
126
disponível quando era um homem casado do que como solteiro feliz.
Portanto, eu era muito mais uma "ameaça" para uma relação quando
era casado do que sou agora, solteiro.
M: Estou descobrindo muitas vantagens na não-possessividade e na falta
de compromisso. Realmente quero estabelecer relações amorosas muito
profundas, e é quase impossível desenvolvê-las com meus parceiros
quando não estou "comprometida" com eles.
N : Alguns casais pensam que, porque sou solteira, vou entrar toda con-
tente em suas relações conjugais. Eles não percebem que para mim -
uma pessoa que respeita os outros - é muito arriscado entrar na relação
de um casal. Como é que eu vou lidar com a sensação de vulnerabilidade,
de culpa, de dor iminente, de ser abandonada quando eles já tiverem
resolvido os problemas deles às minhas custas? Se amo uma pessoa
casada, mesmo que eu não queira ser a "outra", a situação é muito com-
plicada, geradora de ansiedade.
S : Eu não venho com meu marido porque ele não sabe que estou envol-
vida com outro homem. Quero ter uma oportunidade de discutir com
outras pessoas que têm um outro relacionamento escondido de seu côn-
juge. É válido? Funciona? Em que circunstâncias é melhor guardar
segredo dessas relações amorosas e não comunicá-las ao marido?
N : Se isso faz parte de um novo estilo de vida que está surgindo, quais
as suas implicações para a criação dos filhos , para a comunidade e para
a estrutura econômica de nossa sociedade?
'b
Encontramo-nos durante um ano. Ainda estamos levantando
questões e aprendendo a enfrentar os sentimentos que acompa-
nham as relações não-monogârnicas. Um grupo de apoio como o
nosso ajuda a nos mantermos honestos conosco mesmos e uns
com os outros. Algu1nas noites falamos sobre nossas relações pes-
soais, às vezes jogamos, rin1os, toca1no-nos e esquecemos os abor-
recimentos que advêm dos problemas que temos. Outras vezes,
discutimos as implicações mais amplas das relações abertas.
'
127
E será que eu posso ser totalmente eu mesma numa relação amo-
rosa com um homem?
Em relação à primeira pergunta, minha luta interior encontra-
-se no seguinte pé: seria bom ter alguém em casa com quem pudesse
partilhar o cotidiano - a política da vida. Isso me daria apoio emo-
cional e uma sensação de continuidade.
r
Minha outra parte diz: a parceria limitaria minhas opções,
minha liberdade, minha independência de pensamento e ação. No
momento em que penso em me juntar a alguém, começo a engen-
drar expectativas irreais sobre o parceiro - achando que ele deve-
ria suprir tudo o que desejo de uma relação. Sei que é impossível
encontrar todos os atributos que gosto numa só pessoa.
Além disso, tão logo duas pessoas começam a viver juntas,
começam a ser tratadas de maneira diferente. São convidadas jun-
tas para os progra1nas e freqüentemente são tratadas como se fos-
sem uma só pessoa. Os casais se movem em círculos com outros
casais, excluindo uma grande parte da interessante população sol-
teira. Mais ainda, viver no mesmo espaço contém um elemento
territorial que mantém os outros afastados. As mulheres , em parti-
cular, eliminam a possibilidade de outros homens se relacionarem
com elas ou de convidá-las para sair.
Tenho também descoberto que ter amantes em vez de um par
cons,t;inte tem algumas características muito especiais. Gosto da
intensidade, do clímax das horas que passamos juntos. Não é fácil
planejar nossos encontros, mas eu gosto desses rnomentos. Deixa-
mos de lado nossas preocupações e damos um ao outro uma atenção
sem divisões. Planejamos esse tempo precioso cuidadosamente.
Vamos apreciar o nascer do sol na praia? Ou vamos ficar abraçados
diante da lareira, com vinho e comida enquanto nos fundimos?
Também faço questão de que conversemos sobre dificuldades que
possamos estar tendo um com o outro. Assim, nossos dias e nossas
noites, nossos momentos lúdicos, nossos diálogos e nosso amor são
peculiares. Existem muito poucos casais que disponham de tanto
tempo ou tenham tanta intimidade.
Não há regras. Mas há opções. A maioria das mulheres não
examino u o lado positivo da vida a sós devido às associações nega-
tivas que a sociedade lhe atribui.
128
A segunda questão presente em todas essas relações é a seguin-
te: no relacionamento com um homem posso ser assertiva comu-
' ' ..
nicar minha raiva de forma construtiva valorizar a mim e a meu
' 1
129
•
que estamos vivendo em mundos diferentes. Não tenho paciência
para educá-los continuamente. . . . . ,
Voltando às minhas perguntas 1n1c1ais: como e possível rela-
cionar-me com um homem que me permita exercer meu poder,
minha dignidade e minha auto-estima e, ao mesmo ternpo, amar,
ser provedora e íntima? E como posso mudar um sistema patriar-
cal que diz que as mulheres devem ser passivas e dependentes, a
fim de alimentar o ego masculino?
No processo de busca das vinhetas que designariam minhas
relações com os homens, neste capítulo, compreendi que faço parte
de uma revolução. Existe uma grande mudança no ar e eu - ao
lado de outras mulheres independentes e de espírito forte - faço
parte dela. De início, percebi apenas meu crescimento, meus pro-
blemas, minha dor e minha alegria , à medida que examinei estes
retrat os de minha relação com os homens. Pintei esses retratos
colocando as cores vibrantes ao lado das escuras, traçando linhas
que imprimiram à tela toda uma forma significativa - a forma da
minha vida. Essas pinturas têm uma característica em comum. Não
estou - e muitas pessoas não o estão - satisfeita com o modelo
tradicional de relacionamento. Nem estamos satisfeitos com a insti-
t uição d o casamento que cristaliza estas relações desiguais.
Agora que pintei esses retratos dos diversos relacionamentos
que'¾:ive, estou encontrando a galeria política em que eles precisam
ser pendurados. O exame do microcosmo da unidade conjugal des-
cortina todas as questões existentes entre homens e mulheres na
sociedade contemporânea.
Tal como a maioria das pessoas, estou à procura de um rela-
cionamento no qual possa dar e receber amor, companheirismo,
humor, intimidad e, sexo e sensualidade, h onestidade e abertura e \
urr1 com pro misso de trabalhar os pro blemas quando houver turbu- 1
lência. Quero também igualdade na relação e divisão do poder. O \
que significa isso? Significa que há uma dança do tipo "Eu cuidarei
de você, depois você cuidará de mim" . E " primeiro eu conduzo e
você me segue, depois a dança se inverte". T al casal é composto de
duas pessoas autônomas que se amam de uma maneira que trans-
cende os papéis sexuais prescritos e se torna algo maior do que
cada um isoladamente. /
130
Parece simples? Não é. As implicações de uma relação como
essa ten1 imensas conseqüências políticas. O atual sistema conjugal
terri a ín.t enção hnplícita de proteger o patriarcado, no qual o ho-
mem branco toma as principais decisões no lar (as decisões econô-
micas) e no escritório. Sabemos que quando os homens "vão para
o escritório", estão tomando decisões - na sala do conselho dos
bancos, na corporação, como chefes de instituições básicas, nas
companhias petrolíferas, no Senado, no Congresso e na Suprema
Corte - q ue têm repercussões sobre a vida de todas as pessoas.
Essas decisões afetam o poder das mulheres de ter propriedades,
igualdade salarial, igualdade de oportunidades profissionais e edu-
cacionais, direito ao aborto.
Os homens parecem ter horror de abrir mão de uma parte de
seu poder, mesmo que o mito do herói masculino na América os
tenha aprisionado numa competição feroz, na busca do sucesso e
no peso de ser o ganha-pão da família. Para eles o preço tem sido o
prejuízo de sua sensibilidade, de sua intuição e de sua capacidade
de cuidar dos outros. Os objetivos de realização, poder e produ-
ção, tal como definidos em nossa cultura, não permitiram que os
homens desenvolvessem todo o seu ser. A sociedade que criamos
enganou os homens e oprimiu as mulheres.
A igualdade na relação homem-mulher significaria que nós,
enqíianto mulheres, deveríamos assumir nossa parte de responsabi-
lidade pelas decisões tomadas em qualquer nível da sociedade. A
igualdade de poder e de controle numa relação pessoal significará,
no futuro, igualdade de poder no mundo.
Esse equilíbrio deve começar dentro de nós mesmos e nas
relações de casais. É na ligação a dois que o pessoal se torna polí-
tico . O que permito que exista em meu coração e no meu quarto
é o que existirá na sociedade mais ampla.
131