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BIOÉTICA: CONCEITO,

FUNDAMENTAÇÃO E Professora: Tássia Cristine


PRINCÍPIOS
INTRODUÇÃO
Bioética (“ética da vida”) é a ciência “que tem como objetivo indicar os limites e as
finalidades da intervenção do homem sobre a vida, identificar os valores de referência
racionalmente proponíveis e denunciar os riscos das possíveis aplicações” (LEONE;
PRIVITERA; CUNHA, 2001).

Teve início por volta de 1970 com a publicação de duas obras muito importantes de um
pesquisador e professor norte-americano da área de oncologia, Van Rensselaer Potter.

“Nem tudo que é cientificamente possível é eticamente aceitável”.


FUNDAMENTAÇÃO DA
BIOÉTICA – O VALOR DA
VIDA HUMANA
• Existem diversas propostas para estabelecer quais são os critérios (o fundamento, a
base) que devem nos orientar nos processos de decisão com os quais podemos nos
deparar na nossa vida profissional.

• O fundamento ético será sempre a base para a nossa tomada de decisão.

• Esse fundamento é a pessoa humana.


FUNDAMENTAÇÃO DA
BIOÉTICA – O VALOR DA
VIDA HUMANA
Alguns conceitos que existem na realidade da pessoa devemos ser lembrados por serem
importantes no enfrentamento das questões bioéticas.
A pessoa é única.

A pessoa humana é provida de uma “dignidade”.

A pessoa é composta de diversas dimensões:


FUNDAMENTAÇÃO DA
BIOÉTICA – O VALOR DA
VIDA HUMANA
Quando nos relacionamos com uma pessoa e não a
respeitamos em todas as suas dimensões, essa
pessoa (que pode ser nosso paciente ou não) se
sentirá desrespeitada e ficará insatisfeita.
FUNDAMENTAÇÃO DA
BIOÉTICA – O VALOR DA
VIDA HUMANA
• Outro conceito importante para construirmos a nossa reflexão ética/bioética
é o de vida humana.

• A partir do momento em que inicia-se uma nova vida, com patrimônio


genético próprio, essa vida deverá ser respeitada.
FUNDAMENTAÇÃO DA
BIOÉTICA – O VALOR DA
VIDA HUMANA
A Bioética abarca a ética médica, porém não se limita a ela. Constitui um conceito mais
amplo, com quatro aspectos importantes:
(1) compreende os problemas relacionados a valores que surgem em todas as profissões de
saúde, inclusive nas profissões afins e nas vinculadas à saúde mental;
(2) aplica-se às investigações biomédicas e às do comportamento, independentemente de
influírem ou não, de forma direta, na terapêutica;
(3) aborda uma ampla gama de questões sociais, como as que se relacionam com a saúde
ocupacional e internacional e com a ética do controle de natalidade, entre outras;
(4) vai além da vida e da saúde humanas, enquanto compreende questões relativas à dos
animais e das plantas, por exemplo, no que concerne às experimentações com animais e as
demandas ambientais conflitivas
A ORIGEM DOS PRINCÍPIOS
DA BIOÉTICA
Em virtude da ocorrência de inúmeros casos de manipulação (nos quais foram
utilizados enfermos naquilo que diz respeito a questões sociais e mentais,
evidenciando experimentações com seres humanos noticiadas nos Estados Unidos em
meados do ano de 1970), o congresso americano teve a iniciativa de criar, no ano de
1974, a Comissão Nacional para a Proteção dos Seres Humanos em Pesquisas
Biomédica e Comportamental. Tal configuração tinha, como ideal, estabelecer
princípios éticos basilares que servissem como orientação às experimentações
humanas a partir de então, alcançando as ciências de comportamento e a
biomedicina.
A ORIGEM DOS PRINCÍPIOS
DA BIOÉTICA
• Há registros de que houve muitas denúncias de alguns escândalos desrespeitosos com pacientes
crianças, negros e idosos. Em razão desses fatos, objetivou-se regulamentar as experimentações,
formulando princípios éticos a serem seguidos. A elaboração (que tinha prazo prévio de quatro
meses) acabou sendo terminada apenas em 1978.

• Fruto de pesquisas realizadas por profissionais da área resultou, após um período de quatro
anos, a publicação daquilo que ficou conhecido como Relatório Belmont.

• Os princípios tidos como fundamentais para o desenvolvimento e prática da bioética foram os


da beneficência, não maleficência, da autonomia e da justiça.
PRINCÍPIO DA BENEFICÊNCIA

O primeiro princípio que devemos considerar na nossa prática profissional é o de


beneficência.
O benefício do paciente (e da sociedade) sempre foi a principal razão do exercício
das profissões que envolvem a saúde das pessoas (física ou psicológica).

Desse modo, sempre que o profissional propuser um tratamento a um paciente, ele


deverá reconhecer a dignidade do paciente e considerá-lo em sua totalidade (todas as
dimensões do ser humano devem ser consideradas: física, psicológica, social,
espiritual), visando oferecer o melhor tratamento ao seu paciente, tanto no que diz
respeito à técnica quanto no que se refere ao reconhecimento das necessidades
físicas, psicológicas ou sociais do paciente.
PRINCÍPIO DA
BENEFICÊNCIA
É o princípio da beneficência que surge para regular os aspectos éticos do exercício
da atividade médica, bem como trata da estrutura da deontologia profissional. O
princípio em destaque leva essa denominação em virtude da ideia de que a atividade
médica se destina à saúde do ser humano, de modo que o exercício da medicina
deverá se dar de forma que beneficie com o máximo zelo o paciente.

O princípio da beneficência é que estabelece esta obrigação moral de agir em


benefício dos outros.
PRINCÍPIO DA
BENEFICÊNCIA
A beneficência tem sido associada à excelência profissional desde os tempos da
medicina grega, e está expressa no Juramento de Hipócrates: Usarei o tratamento
para ajudar os doentes, de acordo com minha habilidade e julgamento e nunca o
utilizarei para prejudicá-lo”

Beneficência quer dizer fazer o bem. Isto significa que temos a obrigação moral de
agir para o benefício do outro.
PRINCÍPIO DA
BENEFICÊNCIA
Os profissionais da saúde precisam fazer o que é benéfico do
ponto de vista da saúde e o que é benéfico para os seres humanos
em geral. Para utilizarmos este princípio é necessário o
desenvolvimento de competências profissionais, pois só assim,
podemos decidir quais são os riscos e benefícios que estaremos
expondo nossos clientes, quando nos decidimos por determinadas
atitudes, práticas ou procedimentos.
O PRINCÍPIO DA NÃO-
MALEFICIÊNCIA
Segundo os autores Kipper e Clotet (1998), este novo princípio poderia ser
entendido como "a obrigação de não causar danos”. Ou seja, o uso da prudência
diante de situações que exijam do profissional de saúde a não intervenção, já que,
dependendo do caso, a ação “beneficência”, poderia causar um mal maior que os
benefícios decorrentes.

A não-maleficência é considerada por muitos como o princípio fundamental da


tradição hipocrática da ética médica, tem suas raízes em uma máxima que
preconiza: “cria o hábito de duas coisas: socorrer (ajudar) ou, ao menos, não causar
danos”
O PRINCÍPIO DA NÃO-
MALEFICIÊNCIA
A não-maleficência tem importância porque, muitas vezes, o risco de causar danos é
inseparável de uma ação ou procedimento que está moralmente indicado.

Quanto maior o risco de causar dano, maior e mais justificado deve ser o objetivo do
procedimento para que este possa ser considerado um ato eticamente correto.
O PRINCÍPIO DA NÃO-
MALEFICIÊNCIA
Koerich, Machado & Costa (2004) acrescentam que: Não basta apenas,
que o profissional de saúde tenha boas intenções de não prejudicar o
cliente. É preciso evitar qualquer situação que signifique riscos para o
mesmo e verificar se o modo de agir não está prejudicando o cliente
individual ou coletivamente, se determinada técnica não oferece riscos e
ainda, se existe outro modo de executar com menos riscos.
O PRINCÍPIO DA
AUTONOMIA
• De acordo com esse princípio, as pessoas têm “liberdade de decisão” sobre sua vida.
A autonomia é a capacidade de autodeterminação de uma pessoa, ou seja, o quanto
ela pode gerenciar sua própria vontade, livre da influência de outras pessoas.

• Para que o respeito pela autonomia das pessoas seja possível, duas condições são
fundamentais: a liberdade e a informação.

• O princípio da autonomia foi estabelecido, primeiramente, no informe Belmont,


chamando atenção ao dever de respeito às pessoas, desencadeando duas convicções
éticas: sujeito autônomo e com autonomia limitada.
O PRINCÍPIO DA
AUTONOMIA
Este princípio obriga o profissional de saúde a dar ao paciente a mais
completa informação possível, com o intuito de promover uma
compreensão adequada do problema, condição essencial para que o
paciente possa tomar uma decisão.

O desrespeito ao sujeito autônomo está no repúdio aos critérios por ele


estabelecidos, proibindo sua ação espontânea segundo suas decisões,
assim como na omissão de informações capazes de formular um
conceito a respeito do que seja tratado. Assim, de autonomia se tem uma
capacidade de atuar ciente de causa e longe de qualquer coação externa
O PRINCÍPIO DA
AUTONOMIA
O principio da autonomia tem a sua expressão no assim chamado consentimento
informado.

A comunicação entre o profissional da saúde e o enfermo deve prevenir a


ignorância que leve a uma escolha constrangida e deve suprir a falta de informação
e compreensão

O ato de consentimento deve ser genuinamente voluntário e basear-se na revelação


adequada das informações, englobando elementos de informação e elementos de
consentimento.
O PRINCÍPIO DA
AUTONOMIA
O consentimento livre e informado deve ser entendido como
um processo de relacionamento onde o papel do profissional
de saúde é o de indicar as opções, seus benefícios, seus riscos
e custos, discuti-las com o paciente e ajudá-lo a escolher
aquela que lhe é mais benéfica.
O PRINCÍPIO DA
AUTONOMIA
Porém existem algumas circunstâncias especiais em que limitam a obtenção do
consentimento informado como:
a) A incapacidade;
b) As situações de urgência;
c) A obrigação legal de declaração das doenças de notificação compulsória;
d) Um risco grave para a saúde de outras pessoas, cuja identidade é conhecida,
obriga o médico a informá-las mesmo que o paciente não autorize;
e) Quando o paciente recusa-se a ser informado e participar das decisões
O PRINCÍPIO DA JUSTIÇA
O quarto princípio a ser considerado é o princípio de justiça. Este se refere à
igualdade de tratamento. Está relacionado ao conceito de equidade, que representa
dar a cada pessoa o que lhe é devido segundo suas necessidades, ou seja, incorpora-
se a ideia de que as pessoas são diferentes e que, portanto, também são diferentes as
suas necessidades.

É também a partir desse princípio que se fundamenta a chamada objeção de


consciência, que representa o direito de um profissional de se recusar a realizar um
procedimento, aceito pelo paciente ou mesmo legalizado.
O PRINCÍPIO DA JUSTIÇA
• O princípio da justiça está relacionado à distribuição correta e adequada de
deveres e benefícios sociais.

• A ética, em seu nível público, além de proteger a vida e a integridade das pessoas,
objetiva evitar a discriminação, a marginalização e a segregação social (CLOTET,
2001). Neste contexto, o conceito de justiça deve fundamentar-se na premissa que
as pessoas têm direito a um mínimo decente de cuidados com sua saúde.
A Declaração Universal dos Direitos
Humanos afirma:
(...) toda pessoa tem direito a um nível de
vida adequado que assegure para si e sua
família, a saúde e o bem estar, e em especial
a alimentação, a habitação, a assistência
sanitária e os serviços sociais necessários.
BIOÉTICA E O CUIDADO DA
ENFERMAGEM
Cuidar significa assistir o ser humano em suas necessidades básicas e este é o
caráter universal do cuidado. Entretanto, na prática, o cuidado se apresenta de
forma histórica e contextual, portanto, é variável e depende de relações que se
estabelecem no processo de assistência, tornando-se uma atividade bastante
complexa. Neste sentido o cuidado é importante, mas só ele não basta, o
principialismo é um outro enfoque bastante difundido da bioética, e que pode
contribuir bastante para a enfermagem. Desde o início da história da enfermagem,
os parâmetros éticos configuram questão primordial para sua prática.
BIOÉTICA E O CUIDADO DA
ENFERMAGEM
• A história da humanidade é permeada por ações de cuidar. O cuidado sempre
existiu como prioritário à manutenção da vida humana, do nascimento à morte.
Porém, no século XIX, tal prática revelou-se mais que uma necessidade.

• Neste contexto, emerge na Inglaterra, Florence Nightingale, a grande personagem


(que treinava pessoas para cuidar de pessoas) e transformou o cuidado em um
campo de conhecimento singular, com métodos e técnicas específicas, diferentes
das anteriormente executadas.
BIOÉTICA E O CUIDADO DA
ENFERMAGEM
• Durante o processo de transformação do papel da enfermagem na sociedade, a
imagem vocacional ou religiosa foi cedendo espaço à profissional, o que levou a
uma exigência cada vez maior de competência e qualificação técnica dos
profissionais enfermeiros, agregando-se à reflexões éticas.

• Neste sentido a bioética vem para contribuir, sendo uma ponte entre o
conhecimento biológico e o conhecimento humano.
BIOÉTICA E O CUIDADO DA
ENFERMAGEM
• A enfermagem é uma das profissões da área da saúde cuja essência e
especificidade é o cuidado ao ser humano, individualmente, na família ou na
comunidade, desenvolvendo atividades de promoção, prevenção de doenças,
recuperação e reabilitação da saúde, atuando em equipes.

• Falar de cuidado humano é preocupar-se com a condição de ser humano. É


permitir que este possa existir com dignidade, em situações que lhe garantam o
viver pleno, saudável em convivência com os outros, sem ameaça a sua condição
de humano.
BIOÉTICA E O CUIDADO DA
ENFERMAGEM
A enfermagem aplica os princípios da bioética no seu cotidiano
quando respeita a individualidade do paciente, atende as
necessidades de cada paciente direcionando o cuidado a essas
necessidades, presta uma assistência isenta de riscos e danos
físicos ou morais ou sempre quando informa a ação a ser
executada ao sujeito, dando-lhe o direito de aceitá-la ou recusá-la.
Para ZOBOLI e SARTÓRIO (2006):
O que se quer é que o profissional da saúde oriente sua prática pelo
‘compromisso ético do cuidado’ e guie seu agir por uma atitude que
ultrapasse os limites da consciência profissional, traçando a ponte para a
‘conviviabilidade’ do cuidado técnico e o cuidado-ético (...). Enquanto a
consciência profissional nos leva a trabalhar duro para cumprir com as
tarefas e os deveres, o compromisso do cuidado nos mobiliza no sentido de
uma responsabilização radical para com a promoção da pessoa, respeitando
e promovendo sua autonomia, cidadania, dignidade e saúde.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Bioética pretende contribuir para que as pessoas estabeleçam “uma ponte” entre o
conhecimento científico e o conhecimento humanístico, a fim de evitar os impactos
negativos que a tecnologia pode ter sobre a vida (afinal, nem tudo o que é
cientificamente possível é eticamente aceitável).

Para nortear na nossa atividade profissional afim de qque nossas atitudes sejam
éticas, devemos seguir alguns parâmetros: reconhecer as influências, reconhecer a
dignidade da pessoa, utilizar os princípios adequados.
Se esse processo de construção da reflexão ética/bioética,
que parte do entendimento do fundamento bioético e se
segue pelo respeito aos seus princípios, for seguido, as
respostas sobre como agir eticamente diante de um
conflito ético, ou de uma situação clínica nova (ou
diferente), surgirão naturalmente.
OBRIGADA
!
“Apesar da vida humana não ter preço, agimos sempre como se
certas coisas superassem o valor da vida humana.”
Antoine de Saint-Exupéry
ATIVIDADE DE REFLEXÃO
1- De acordo com os conteúdos estudados, o que você entende por ética e moral?
2- Para você, qual a importância do conhecimento sobre ética?
3- Na sua opinião, como o estudo bioética influencia na vida?
4- Comente sobre o vídeo assistido.

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