A DEVOLUÇÃO DE AVALIAÇÕES DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM
ESTUDOS LONGITUDINAIS
● Os estudos de caráter longitudinais permitem que a amostra dos participantes
seja acompanhada por um determinado período de tempo, assim processos desenvolvimentais podem ser acompanhados à medida que evoluem. ● Além dos desafios de caráter metodológicos e operacionais, questões e dilemas éticos particulares podem ser suscitados neste delineamento de pesquisa, pois muitos estudos longitudinais têm o objetivo de investigar fenômenos da psicopatologia e do desenvolvimento atípico. ● Ao selecionar a amostra considerada de risco para o desenvolvimento de determinado fenômeno ou processo desenvolvimental, surge o primeiro dilema ético: Os participantes do estudo devem receber a devolução da avaliação que indicou a presença do padrão atípico? Eles devem ser alertados sobre os prejuízos que tal fenômeno pode acarretar? ● Como abordar o encaminhamento para algum tipo de tratamento sabendo que a intervenção pode inviabilizar a continuidade do estudo longitudinal na medida que o tratamento pode fazer com que o fenômeno desapareça ou se modifique. ● As autoras Dessen, Avelar e Dias (1998) defendem a possibilidade de fazer a devolução só após a conclusão da pesquisa e sugerem que se faça entrevistas individuais para falar sobre sua experiência no estudo sem que o pesquisador revele os resultados da pesquisa. ● Por outro lado os princípios éticos para pesquisa com crianças preconizam a não retenção de informações que possam colocar em risco o desenvolvimento e o bem-estar da criança. ● Outra questão importante é a forma de como fazer tal devolução, não há diretrizes claras na literatura, uma possibilidade é de que o pesquisador além de informar os resultados, e apontar a necessidade e os benefícios do tratamento esteja disponível para conversar em grupo e individual prestando esclarecimentos. ● A condição de aflição e desamparo gerada nos pais pode se tornar mais angustiante nas populações de baixa renda, que geralmente dispõem de pouca informação e recursos emocionais mais precários para lidar com o problema, além de pouco acesso a serviços de atenção à saúde de qualidade. ● Nesses casos, o pesquisador deveria dispor de uma lista de serviços gratuitos ou com valores acessíveis, manter contato telefônico ou disponibilizar atendimento psicológico pelos membros da equipe.
Considerações finais
O objetivo do presente estudo foi discutir alguns dilemas éticos da pesquisa
em Psicologia do desenvolvimento, concluindo que para alguns dilemas ainda não há soluções ou respostas satisfatórias, sendo necessário o bom senso pautado na legislação vigente e na prática em pesquisa. O mais importante é que a atitude de reflexão e questionamento ético esteja sempre presente na concepção de nossas pesquisas, a partir de uma postura crítica, reflexiva e comprometida com questões polêmicas e de difícil manejo que venham a surgir.