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FACULDADE DOM ALBERTO

NEUROPSICOLOGIA

FERNANDA RODRIGUES GUIMARÃES

AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA INFANTIL, NO CONTEXTO DAS


DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM

BRASÍLIA - DF
2022
AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA INFANTIL NO CONTEXTO DAS
DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM

Fernanda Rodrigues Guimarães1

Declaro que sou autora¹ deste Trabalho de Conclusão de Curso. Declaro também
que o mesmo foi por mim elaborado e integralmente redigido, não tendo sido copiado ou
extraído, seja parcial ou integralmente, de forma ilícita de nenhuma fonte além daquelas
públicas consultadas e corretamente referenciadas ao longo do trabalho ou daqueles cujos
dados resultaram de investigações empíricas por mim realizadas para fins de produção
deste trabalho. Assim, declaro, demonstrando minha plena consciência dos seus efeitos
civis, penais e administrativos, e assumindo total responsabilidade caso se configure o crime
de plágio ou violação aos direitos autorais. (Consulte a 3ª Cláusula, § 4º, do Contrato de
Prestação de Serviços).

RESUMO

As dificuldades de aprendizagem estão entre os principais problemas identificados


no contexto escolar, e a avaliação neuropsicológica tem sido um dos processos mais
assertivos no que se refere à intervenção junto a essas dificuldades. Por esta razão, o
objetivo desse estudo foi elucidar o conceito de dificuldade de aprendizagem, identificar os
tipos de dificuldades mais comuns no contexto escolar, e compreender o papel da bateria e
testes NEUPSILIN-Inf para o diagnóstico dessas dificuldades. Para ampliar as possibilidades
de compreensão do objeto de estudo, foi utilizada a pesquisa bibliográfica. O estudo apontou
que, as dificuldades de aprendizagem são comuns nos primeiros anos do ensino
fundamental, e que a avaliação neuropsicológica pode ser decisiva no que se refere ao
diagnóstico e às possibilidades de tratamento. Percebeu-se que há uma diferença
expressiva envolvendo os aspectos cognitivos de crianças com e sem dificuldade nos
processos de aprendizagem, e que há, também, diferenças em relação às funções
executivas comprometidas. A escolha dos testes NEUPSILIN-Inf se deu em função de
este ser considerado extremamente adequado para avaliar dificuldades de aprendizagem
infantil, no contexto escolar.

Palavras-chaves: Dificuldades de Aprendizagem; Neuropsicologia; Bateria NEUROPSILIN-


Inf.

1
Graduação em Psicologia e em Pedagogia. Mestre em Psicologia, com foco em Desenvolvimento em Contextos
Socioeducativos. Especialista em Terapia Cognitivo Comportamental; em Psicologia Hospitalar; em Saúde Mental e
Dependência Química; em Educação a Distância e em Inclusão Escolar; E-mail: fernanda.unb@hotmail.com. Servidora Pública
do Distrito Federal.
1 INTRODUÇÃO

O conceito de dificuldade de aprendizagem tem sido utilizado para


caracterizar processos nos quais as crianças e adolescentes não alcançam a
aprendizagem esperada no contexto escolar. Por esta razão, trata-se de um
tema extremamente importante para profissionais das mais diferentes áreas,
especialmente a escolar. Discutir sobre essa questão tem relevância,
considerando-se que, por muito tempo, esse tipo de situação foi atribuída a um
fracasso escolar, cuja responsabilidade era atribuída principalmente ao estudante.
De modo geral, a dificuldade de aprendizagem vista por muitos
estudiosos como uma diversidade de situações que envolvem um baixo
rendimento acadêmico, independente de qual seja a área do conhecimento.
Dentre essas dificuldades, as mais mencionadas são aquelas de origem
neurológica, que envolvem questões motoras, e sensoriais e mentais. Ainda
assim, os estudiosos apresentam as dificuldades de aprendizagem como um
contexto complexo, que também envolve questões sociais, pedagógicas e
individuais – não sendo, portanto, um evento simples de ser estudado.
Deve-se partir do pressuposto de que aprender é um processo
estruturado, complexo, e que envolve muitos fatores que não estão
relacionados apenas com a escola. Uma das questões iniciais a ser discutida
diz respeito ao fato de que dificuldade de aprendizagem e distúrbio de
aprendizagem são processos diferentes. Saber essas diferenças é
importante para não atribuir, à criança, um rótulo. Os distúrbios referem-se à
deficiências nos processos perceptivos individuais. Já as dificuldades podem
ser temporárias.

Independente dessas nomenclaturas, uma avaliação adequada é sempre a


melhor recomendação, uma vez que, além de identificar as dificuldades e os
distúrbios de aprendizagem, auxiliam, também, na identificação de doenças
neurológicas e outras dificuldades no desenvolvimento infantil. Para casos como
esses, as baterias neuropsicológicas, como o NEUPSILIN-Inf, são uma das primeiras
opções. Elas são aplicadas por psicólogos especialistas, que avaliam aspectos
relativos à linguagem, memória, atenção, orientação espaço-temporal, percepção,
habilidade aritmética, entre outros. Graças a testes como esses, questões
relacionadas a problemas de aprendizagem deixam de ser vistos como um aspecto
isolado e passam a ser visto dentro de sua complexidade.

Diante dessas questões, para tornar viável este estudo, realizou-se uma
pesquisa bibliográfica a partir de artigos científicos e de revistas eletrônicas, com o
objetivo de elucidar o conceito de dificuldade de aprendizagem, identificar os tipos de
dificuldades mais comuns no contexto escolar, e de compreender o papel da bateria
e testes NEUPSILIN-Inf para o diagnóstico dessas dificuldades. Ressalta-se,
portanto, que a avaliação neuropsicológica que será mencionada nesta pesquisa
refere-se a esses testes.

2 DESENVOLVIMENTO

Este estudo teve como foco uma avaliação das dificuldades de aprendizagem,
a partir do uso da bateria de testes NEUPSILIN-Inf, de uso exclusivo de psicólogos
especialistas. Para tanto, a investigação se deu a partir da metodologia qualitativa
exploratória, de cunho bibliográfico, com base em estudos e questões teóricas. De
acordo com Gil (2008, citado em VOSGERAU & ROMANOWSKI, 2014), esse tipo de
pesquisa tem como base fontes digitais (ou obras físicas), que permitem a obtenção
de respostas para diversos problemas de pesquisa. Nessas investigações são úteis
trabalhos científicos como monografias, dissertações, periódicos, revistas
eletrônicas, artigos, etc (GIL, 2008).
As revisões bibliográficas, de modo geral, podem ser de três tipos: integrativa,
narrativa e sistemática. Para Gil (2008, citado em VOSGERAU & ROMANOWSKI,
2014), a análise narrativa tem como base todo tipo de documento elaborado
teoricamente, disponíveis em meios digitais. Por ser uma abordagem mais acessível,
nesse estudo fez-se a opção por esse tipo de revisão teórica, acreditando-se que
essa é uma abordagem que melhor explica os objetivos inicialmente traçados para
este estudo, que foram elucidar o conceito de dificuldade de aprendizagem,
identificar os tipos de dificuldades mais comuns no contexto escolar e de
compreender o papel da bateria e testes NEUPSILIN-Inf para o diagnóstico dessas
dificuldades.

2.1 O CONTEXTO INVESTIGADO

O contexto investigado é o uso da bateria de testes NEUPSILIN-Inf. nos


processos de dificuldades de aprendizagem.

2.2 PROCEDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DAS INFORMAÇÕES

2.2.1 Instrumentos e técnicas

Nesta pesquisa foram incluídas obras eletrônicas que abordam o conceito de


dificuldade de aprendizagem, a partir do uso da bateria de testes NEUPSILIN-Inf.

2.3 PROCEDIMENTOS PARA A ANÁLISE DE DADOS

Objetivando responder as questões apontadas nesse estudo, foram utilizadas


obras digitais disponíveis em bibliotecas digitais, além de obras físicas.

3 REFERENCIAL TEÓRICO

3.1 O QUE SÃO AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM?

Costa (2016) traz como reflexão o fato de que o número de crianças que
apresentam dificuldades no processo de aprendizagem tem aumentado
significativamente. Para ele, um dos aspectos mais preocupantes diz respeito ao fato
de que avaliações equivocadas e as decisões precipitadas podem prejudicar
significativamente a vida escolar das crianças envolvidas.
Sabe-se que aprender é um processo que faz parte do desenvolvimento
humano. Acontece gradativamente, muitas vezes de maneira intencional, com o
objetivo de conhecer coisas, pessoas, objetos e situações. Instintivamente a criança
busca aprender desde que nasce. Isso acontece a cada vez que ela exerce alguma
ação, normalmente com tentativas que podem ou não dar certo. A tendência é que
um adulto acompanhe esse processo, observando ativamente o que compromete a
aprendizagem e a criar estratégias que facilitem esse aprendizado. Aspectos como
mudanças de casa; separação dos pais; óbito de alguma pessoa próxima da família;
conflitos familiares, etc. são apontados como aspectos que influenciam,
sobremaneira, no surgimento de algumas dificuldades (GIROTTO; GIROTTO;
OLIVEIRA, 2015).

Quando se percebe que as dificuldades para aprender são frequentes e que


pioram ao longo do tempo, as famílias, assim como a escola, tendem a procurar
ajuda de especialistas, com vistas a identificar as causas dessas dificuldades.
Moojen et al 2016 afirmam que é muito comum que se perceba essas dificuldades no
Ensino Fundamental, quando os sinais começam a aparecer. Eles também afirmam
que é possível identificar quais são as áreas nas quais elas acontecem, e que sinais
a criança emite que podem auxiliar na identificação da causa. Para os autores, as
crianças podem apresentar transtornos associados ou alguma dificuldade específica.

Para Moojen, et al (2016), há que se considerar que as dificuldades de


aprendizagem normalmente estão relacionadas com questões emocionais,
neurológicas, sociais, emocionais, culturais e, até mesmo, pedagógicas. São
aspectos que ficam mais evidentes no contexto escolar, uma vez que é um ambiente
onde crianças da mesma idade convivem e aprendem juntas. Sendo assim, observar
os estudantes que apresentam essas dificuldades é fundamental para a proposição
de intervenções adequadas. Deve-se considerar que fatores pessoais, relacionados
ao desenvolvimento da criança, também podem ter relação com cansaço, falta de
motivação, ou alguma agitação psicomotora característica de situações vivenciadas
em casa.
De acordo com Pires e Simão (2017):

As dificuldades de aprendizagem são divididas em dois tipos:


dificuldades escolares (DE), relacionadas a problemas de origem e
ordem pedagógica, e distúrbios de aprendizagem (DA), relacionados
a um distúrbio no Sistema Nervoso (SNC), caracterizada por uma
falha no processo de aquisição e/ou desenvolvimento das habilidades
escolares. É preciso olhar além da criança, da família e da professora
enquanto responsáveis pelas dificuldades de aprender. É necessário
um olhar que pressupõe problematização e uma investigação dos
elementos que levaram a uma não aprendizagem, em que uma boa
avaliação é fundamental. Nem sempre as queixas de dificuldades de
aprendizagem referem-se a distúrbios de aprendizagem.

Em 2017, as pesquisas apontavam que, de 30% a 40% das crianças


matriculadas e frequentes nas primeiras séries apresentavam alguma dificuldade de
aprendizagem. Por outro lado, desse total, apenas 3% a 5% tinham algum distúrbio
de aprendizagem (dislexia, disgrafia, discalculia, disortografia, dislalia e transtorno de
déficit de atenção com hiperatividadade). Em todos esses casos o uso da avaliação
neuropsicológica foi fundamental para a identificação correta dos casos, uma vez
que identificavam as particularidades, possibilidades de tratamento e áreas
necessárias para o acompanhamento de cada situação.

Pires e Simões (2017) caracterizaram as dificuldades de aprendizagem


relacionando-as com os distúrbios, como conceitos semelhantes. Em seus trabalhos,
as dificuldades de aprendizagem mais comuns do contexto escolar são:

Dislexia: é a dificuldade que aparece na leitura, impedindo o aluno de


ser fluente, pois faz trocas ou omissões de letras, inverte sílabas,
apresenta leitura lenta, dá pulos de linhas ao ler um texto; Disgrafia:
[...] está associada a letras mal traçadas e ilegíveis, letras muito
próximas e desorganização ao produzir um texto; Discalculia: é a
dificuldade para cálculos e números, de um modo geral os portadores
não identificam os sinais das quatro operações e não sabem usá-los,
não entendem enunciados de problemas, não conseguem quantificar
ou fazer comparações, não entendem sequências lógicas; Dislalia: é
a dificuldade na emissão da fala, apresenta pronúncia inadequada
das palavras, com trocas de fonemas e sons errados, tornando-as
confusas. Disortografia: é a dificuldade na linguagem escrita [...].
Suas principais características são: troca de grafemas, desmotivação
para escrever, aglutinação ou separação indevida das palavras, falta
de percepção e compreensão dos sinais de pontuação e acentuação;
TDAH: é um problema de ordem neurológica, que traz consigo sinais
evidentes de inquietude, desatenção, falta de concentração e
impulsividade (p. 01)

Nestes estudo, escolheu-se a caracterização feita por esses autores que,


embora pareça simples, não é. Sejam dificuldades ou distúrbios, elas tem
repercussões extremamente diferentes em cada estudante que as apresentam. Essa
é a razão pela qual os esforços de todos os profissionais envolvidos deve ter enfoque
investigativo, intencional, sem comparações. Cada estudante deve ter sua vida
escolar analisada pontualmente, a partir da sua história acadêmica e pessoal. As
famílias precisam ser ouvidas e os professores também. Uma análise adequada evita
que a condução desses casos seja feita de maneira equivocada/inconsequente
(COSTA, 2004).

De acordo com Back at al (2020):

A dificuldade escolar pode ocorrer entre 15 a 20% das crianças no


primeiro ano escolar e este índice pode aumentar ao considerar os
seis primeiros anos4. Estima-se que 5 a 15% das crianças com idade
escolar apresentam transtorno específico de aprendizagem, e suas
consequências funcionais são negativas ao longo da vida, como:
baixo rendimento escolar, altas taxas de evasão escolar, altos níveis
de sofrimento psicológico e riscos para redução da saúde mental1.

Partindo do objetivo deste estudo, nota-se que falar das dificuldades de


aprendizagem não é algo simples. Elas são um fenômeno que pode surgir a partir de
múltiplas causas, devendo, cada uma delas, ser acompanhada com cautela. Para
analisar os casos de dificuldade de aprendizagem diversas estratégias e
instrumentos podem ser utilizados. Além disso, percebe-se que as diferentes áreas
do conhecimento podem e devem trabalhar juntas. Neste estudo, o enfoque é dado
para a bateria neuropsicológica NEUPSILIN-Inf., que será melhor explicada no
capítulo a seguir. Espera-se, a partir dessa abordagem, conhecer sua finalidade e os
aspectos que ela possibilita compreender nos casos de dificuldade/transtornos de
aprendizagem infantil.
3.2 AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA E A BATERIA DE TESTES NEUPSILIN-
Inf: do que estamos falando?

A neuropsicologia é uma ciência nova, que vem sendo explicada, cada vez
mais, a cada estudo realizado (FUENTES et al, 2010; RAMOS & HAMDAN, 2016).
Ela surgiu no século XX, a partir da necessidade de compreensão das questões
relacionadas ao cérebro e ao comportamento, ao desenvolvimento e à
aprendizagem. O nome do pesquisador associado a essa descoberta é Osler. Esse
autor entendeu que era necessário pensar em uma área do conhecimento que se
dedicasse a estudar dificuldades e disfunções cerebrais, a partir de uma avaliação
complexa, que alcançasse o aspecto cognitivo. Seu objetivo era descobrir quaisquer
condições, logo no início, possibilitando uma reabilitação, nos casos em que isso
fosse possível.

Esse tipo de avaliação seria diferente das demais realizadas por psicólogos,
uma vez que a sua realização se daria a partir do cérebro e suas funções. Isso
implicaria em possibilidades de identificação de possíveis tratamentos, partindo do
diagnóstico e das possibilidades de reabilitação. Aos poucos, descobriu-se que os
recursos da neuropsicologia eram muitos. Interessada em estudar processos
mentais, a avaliação neuropsicológica passou a ser recomendada para diversos
casos. De acordo com Taub e Ceccini (2014):

A avaliação neuropsicológica é recomendada nos casos em que


exista uma dificuldade cognitiva ou de comportamento de origem
neurológica, auxiliando nas dificuldades do desenvolvimento
infantil, no tratamento de enfermidades neurológicas e nas
mudanças de conduta, entre outros. A avaliação contribui no
processo de ensino-aprendizagem, pois possibilita estabelecer
relações entre as funções corticais superiores, como a linguagem,
a atenção, a memória, a aprendizagem simbólica, conceitos,
escrita, e leitura, entre outros (p. 04).

Taub e Ceccini (2014) explicam que a avaliação neuropsicológica parte da


utilização de testes que podem ser fixos ou flexíveis, a depender do caso avaliado.
Tratam-se de testes psicométricos e neuropsicológicos, com protocolos definidos
previamente, destinados a populações distintas (público a qual se destina). Sugere-
se que o aplicador tenha experiência com testes, e que se utilize de testes básicos e
complementares para examinar as funções que lhe parecem mais comprometidas.
Como não se trata de uma avaliação psicológica comum, o especialista que deseja
atuar nessa área deve compreender que seu trabalho de base será realizado a partir
de testes que abordem o funcionamento do cérebro e suas funções.

Nos quadros infantis, pode-se identificar distúrbios cognitivos e sensorio-


motores, assim como questões relacionadas às funções motoras e de personalidade.
Segundo Taub e Ceccini (2014), dentre os testes básicos para uma avaliação
neuropsicológica infantil conta-se com um protocolo que contemple:

Orientação, atenção, percepção, inteligência geral, raciocínio,


memória verbal e visual, de curto e longo prazo, testes de
flexibilidade mental, linguagem e organização visuo-espacial. O
protocolo básico deve permitir ao examinador um panorama geral do
funcionamento cognitivo do paciente, para posteriormente aprofundar
sua avaliação com testes complementares (p. 05).

Para Sinner e Melo (2016) que se espera dos testes neuropsicológicos é que
eles apontem um perfil de cada indivíduo, que contemple aspectos neurológicos,
psicológicos e sociais, capazes de nortear as intervenções que serão realizadas.
Concordando com os autores, Rech (2016) afirma que, em se tratando da bateria
neuropsicológica NEUPSILIN-Inf, sua função é avaliar a atenção; a orientação
espacial e temporal; a percepção; a linguagem; a habilidade aritmética e alfabética.
O fundamental é que, em se tratando das crianças, o especialista tenha
conhecimento em desenvolvimento infantil.

Pires e Simão (2017) salientam que o testes NEUPSILIN-Inf avaliam funções


psicológicas a partir dos aspectos a seguir:

Orientação; atenção; percepção; memória; linguagem;


habilidades visuoconstrutivas: cópia de figuras; habilidades
aritméticas; e funções executivas (p. 150;151).
De acordo com o exposto, entende-se por orientação um protocolo de
questões que contem informações pessoais. Na avaliação da atenção, observa-
se a atenção auditiva e visual. No que se refere à percepção, espera-se
identificar como se dá a percepção das emoções; Em se tratando da memória, o
olhar do avaliador está nos componentes fonológicos e executivos centrais, na
memória visuoespacial na visuoverbal, e na evocação de palavras. Na avaliação
a linguagem, inclui-se a oral, a rima e subtração fonêmica, a compreensão oral e
a linguagem escrita. Nas habilidades aritméticas, avalia-se a capacidade para a
realização de cálculos matemáticos e, por fim, nas funções executivas, avalia-se
a ortografia e a semântica (PIRES E SIMÃO, 2017).

A partir dessa explanação, que buscou explicar a avaliação neuropsicológica e


do uso de testes no contexto das dificuldades de aprendizagem. No capítulo a seguir,
procurou-se apresentar aspectos da avaliação neuropsicológica infantil, com vistas
as responder à investigação inicial aqui proposta: compreender o papel da bateria
de testes NEUPSILIN-Inf para o diagnóstico das dificuldades/distúrbios de
aprendizagem.

3.2.1 Manejo neuropsicológico das dificuldades de aprendizagem através da bateria


de testes NEUPSIIN-Inf.

Em 2017, Pires e Simão realizaram um estudo neuropsicológico, com o uso


da bateria de testes NEUPSILIN-Inf, com o objetivo de avaliar a diferença das
habilidades cognitivas e das funções afetadas em crianças com e sem dificuldades
de aprendizagem. Os autores convidaram 21 crianças, de 6 a 9 anos de idade, que
tinham 9 anos de idade e pertenciam à mesma classe escolar.
No estudo realizado pelas autoras, elas perceberam que era possível afirmar
que há diferenças expressivas no que se refere às habilidades cognitivas e as
funções executivas das crianças com e sem dificuldade da aprendizagem, a partir da
aplicação da bateria NEUPSILIN-Inf. A investigação feita demonstrou que o grupo
com dificuldades de aprendizagem tem comprometimento de habilidades que
envolvem os processos de leitura, escrita e matemática (CORDEIRO, 2016). Além
disso, as autoras perceberam que as diferenças também compareceram nas
funções cognitivas, como a linguagem, memória, orientação, habilidades
visoconstrutivas, habilidades aritméticas. apresentam uma única causas (MALLOY-
DINIZ, 2010; MIRANDA, 2007; 2018).
Notou-se, a partir dos estudos realizados por Pires e Simão (2017), que as
dificuldades apresentadas pelas crianças podem comparecer em diferentes
matérias, com menor ou maior grau, o que confirma a importância de uma
abordagem adequada, e de um manejo selecionado previamente. Os autores
apontam que:

A compreensão de que dificuldades para aprender não implicam


necessariamente em um transtorno específico de aprendizagem é
primordial para o direcionamento de intervenções com a criança, a
escola e a família3. Por isso, é importante agilizar o processo
avaliativo e de diagnóstico para que as medidas interventivas mais
adequadas, que consideram as limitações e, principalmente, as
habilidades do sujeito, possam reduzir o impacto do transtorno na
vida diária da criança (p. 10).

Além de abordar os aspectos acima, as autoras apontaram, em seus estudos,


que as dificuldades de aprendizagem tem etiologia em múltiplas situações, que vão
desde de questões relacionadas ao contexto social/familiar, a disfunções do sistema
nervoso central. Isso faz com que, após a identificação da queixa através do teste
NEUPSILIN-Inf seja necessário acionar todas as áreas envolvidas com a criança,
assim como o encaminhamento para as áreas do conhecimento que podem auxiliar
na dificuldade que foi identificada (SALES, 2016). De acordo com Abreu et al (2016):

A avaliação Neuropsicológica é relevante no processo avaliativo das


dificuldades escolares, pois identifica quadros clínicos caracterizados
sobre as bases anatomofuncionais do cérebro, e fornece subsídios
para investigar a compreensão do funcionamento intelectual da
criança, promovendo a instrumentalização de diferentes profissionais
e uma intervenção eficiente24. O foco da investigação são as funções
cognitivas, tais como: memória, atenção, linguagem, funções
executivas, raciocínio, motricidade e percepção, bem como as
alterações afetivas e de personalidade. A avaliação é realizada por
meio da aplicação de uma bateria de testes psicométricos com o
objetivo de identificar o rendimento cognitivo funcional, a partir do
conhecimento de suas relações com o funcionamento cerebral (p.
152).

A finalização da avaliação neuropsicológica para o manejo das dificuldades de


aprendizagem ocorre após a organização de todas as informações oriundas do teste
aplicado e da análise feita pelo neuropsicólogo. Para fechar o diagnóstico, o
especialista utiliza o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-
5), a partir do qual o relatório é elaborado e uma devolução é feita para quem as
solicitou. Nesse sentido, uma explicação ampla é feita aos responsáveis pelo
estudante, com a finalidade de indicar caminhos que possam minimizar as
dificuldades apresentadas, sejam elas consideradas apenas dificuldades específicas
ou distúrbios de aprendizagem (CAPOVILLA, 2007; CONSELHO REGIONAL DE
PSICOLOGIA DO PARANÁ, 2018).

Com base nessas reflexões, pode-se afirmar que os a neuropsicologia tem


muito a contribuir quando o assunto são as dificuldades de aprendizagem. Percebe-
se a importância de um profissional habilitado, que entenda de desenvolvimento
infantil e que esteja aberto ao uso de testes para uma avaliação mais completa. Além
disso, esse tipo de avaliação não abre mão de uma entrevista com a família da
criança, com seus professores e com outros atores que tenham relação com o
ambiente de aprendizagem. O resultado da avaliação neuropsicológica é resultado,
sobretudo, de um esforço conjunto dos responsáveis pelo estudante, que se colocam
dispostos a atuar de maneira intencional para ajuda-lo em todo o processo.

CONCLUSÃO

O objetivo desse estudo foi elucidar o conceito de dificuldade de


aprendizagem, identificar os tipos de dificuldades mais comuns no contexto escolar
e compreender o papel da bateria e testes NEUPSILIN-Inf para o diagnóstico
dessas dificuldades. A partir disso, procurou-se analisar as referencias bibliográficas
que trouxessem subsídios para a investigação aqui proposta.
Nesse sentido, percebeu-se que o conceito de dificuldade de aprendizagem é
amplo e complexo, assim como a sua etiologia. Embora alguns autores diferenciem
as dificuldades dos distúrbios de aprendizagem, neste estudo optou-se por tratar
ambos os conceitos como semelhantes, ambos com necessidade de avaliação e de
condução estratégica e intencional. Percebeu-se que as dificuldades podem estar
relacionadas a aspectos emocionais, neurológicos, sociais, emocionais, culturais e,
até mesmo, pedagógicos. Tendem a surgir de maneira mais evidente no ambiente
escolar, no ensino fundamental, podendo ter relação com cansaço, falta de
motivação, ou alguma agitação psicomotora característica de situações vivenciadas
no contexto familiar.
Em se tratando das principais dificuldades de aprendizagem, observou-se que
estão a dislexia, a discalculia, a disgrafia, a disortografia, a dislalia e o transtorno de
déficit de atenção com hiperatividade. Em todos os casos a avaliação
neuropsicológica é importante, já que avalia habilidades e funções que podem estar
comprometidas, podendo ser potencializadas após o diagnóstico adequado feito
pelo psicólogo especialista. Neste estudo, o foco da avaliação neuropsicológica
foram os testes NEUPSILIN-Inf.
Outro aspecto que vale a pena salientar é que a pesquisa aqui realizada
demonstrou, a partir da avaliação neuropsicológica, que há diferenças no
desempenho de crianças com e sem dificuldade de aprendizagem, e que há
comprometimento das funções executivas quando as dificuldades são identificadas.
Além disso, as avaliações neuropsicológicas parecem contribuir para a criação de
estratégias adequadas no contexto de ensino aprendizagem, uma vez que indicam
qual dificuldade precisa ser acompanhada, ampliando o olhar dos professores e dos
pais para intervenções intencionais.
Ressalta-se, por fim, que quanto mais completa a avaliação neuropsicológica,
maiores as possibilidades de intervenção, tanto nas dificuldades apresentadas,
quanto nos problemas associados ao baixo desempenho escolar. Sendo assim,
espera-se que este estudo possa auxiliar os profissionais que se dedicam a estudar
o papel da avaliação neuropsicológica no contexto escolar, e que estimule outras
investigações neste sentido.

4 REFERÊNCIAS

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