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COLUNISTA

Ana Valéria Reis

IA na educação ressignifica a aprendizagem


crítica
A IA pode ajudar a criar ambientes de aprendizado personalizados e eficazes, levando em consideração as características
individuais dos alunos, as disciplinas em questão e os objetivos educacionais


Promover o pensamento crítico nos alunos requer a implementação de estratégias pedagógicas cuidadosamente planejadas (foto: Freepik)

Em tempos em que a Inteligência Artificial (IA) invadiu o ambiente escolar e ofereceu alternativas para que estudantes e
professores revejam seus planos de estudos, ressignificar os domínios cognitivos, relacionais e psicomotores de ambos faz-se
necessário. A escola, do ensino básico ao superior, tem de impulsionar o autoconhecimento, ajudar no desenvolvimento
metacognitivo sobre o trabalho individual e coletivo, e ajudar na leitura de seus próprios pontos de vista e do mundo ao seu redor.

Essa ressignificação enfatiza a necessidade de se pensar criticamente sobre posturas, comportamentos e escolhas acerca dos
processos de ensino e aprendizagem, sem desqualificar o que já acontece, mas ao mesmo tempo transformar e aprimorar as
práticas educativas em uma via de mão dupla.

A obra de 2020, Desenvolvimento da Criatividade e do Pensamento Crítico dos Estudantes: o que significa na escola, da OCDE,
menciona que diferentes abordagens pedagógicas demonstraram variação na capacidade de promover as habilidades de
criatividade e pensamento crítico entre os alunos, influenciadas pelo campo de estudo e pelos padrões aplicados nos objetivos
educacionais e práticas pedagógicas. O termo “pedagogia estruturada”, apresentado por Shulman, em 2005, indica a ideia de que
algumas estratégias de ensino possuem uma natureza mais fundamentada e abrangente em comparação com outras abordagens
educacionais. Isso sugere que determinadas metodologias possuem uma estrutura mais sólida e integrada, podendo ser
incorporadas em diversos tipos de métodos de ensino, incluindo os tradicionais ou uma combinação de abordagens.

Leia também: Como o docente pode personalizar a aprendizagem

A “pedagogia estruturada” é um conceito desenvolvido por Lee Shulman, um orientador-educador e pesquisador em educação,
que se refere a uma abordagem de ensino que enfatiza a construção de uma base sólida e holística para a aprendizagem dos
alunos. Que reconhece a importância de estabelecer fundamentos claros e coerentes no processo de ensino, ao mesmo tempo em
que busca promover a compreensão profunda e o desenvolvimento de competências essenciais.

Pedagogia estruturada envolve uma série de características e princípios:

1. Coerência e Progressão: os conteúdos e atividades de ensino são organizados de maneira lógica e sequencial. Isso permite
que os alunos elevem seu conhecimento de forma progressiva e apresentem conceitos de maneira ordenada, relacionando-
os e construindo um entendimento cumulativo.
2. Conexões entre os Tópicos: uma pedagogia estruturada enfatiza a interconexão entre diferentes remanescentes ou
unidades de aprendizagem. Isso ajuda os alunos a verem como os conceitos se relacionam entre si e com o mundo real,
promovendo uma compreensão mais profunda e uma visão mais abrangente do assunto.
3. Aplicação Contextual: a abordagem busca conectar o aprendizado a contextos do mundo real e enfatiza como os conceitos
são aplicados em situações concretas. Isso ajuda os alunos a entenderem e converterem o que estão aprendendo e
desenvolvendo em habilidades práticas.
4. Desenvolvimento de Competências: além de transmitir informações, a pedagogia estruturada busca desenvolver
habilidades e competências essenciais, como pensamento crítico, resolução de problemas e criatividade. Ela valoriza a
capacidade dos alunos de aplicar o conhecimento de maneira eficaz.
5. Engajamento Ativo: os alunos são incentivados a se envolverem ativamente no processo de aprendizado por meio de
discussões, atividades práticas, projetos colaborativos e outras estratégias interativas.
6. Reflexão e Síntese: a pedagogia estruturada inclui momentos para que os alunos reflitam sobre o que aprenderam, façam
sínteses das informações e integrem os novos conhecimentos com o que já sabiam.
7. Avaliação Autêntica: a avaliação está determinada visando aprendizagem e se baseia em critérios claros e autênticos. Ela
busca medir e valorizar não apenas o conhecimento, mas também as habilidades de aplicação e análise.
8. Flexibilidade: embora seja estruturada, a abordagem permite certa flexibilidade para se adaptar às necessidades dos alunos
e às mudanças no ambiente de aprendizado.

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Uma pedagogia estruturada reconhece a importância de fornecer uma base sólida de conhecimento, mas também valoriza a
compreensão profunda, a aplicação prática e o desenvolvimento de habilidades para a resolução de problemas do mundo real. Ela
pode ser aplicada em uma variedade de contextos educacionais e pode ser integrada em diferentes metodologias de ensino para
enriquecer a experiência educacional.

A introdução da inteligência artificial (IA) na educação tem uma ligação relevante com o conceito de “pedagogia estruturada”. A IA 
pode exercer um papel fundamental na criação de abordagens pedagógicas mais personalizadas e eficazes, confiantes para o
desenvolvimento de competências como criatividade e pensamento crítico, enquanto leva em consideração a disciplina e os 
objetivos de aprendizagem.

Como esse conceito pode estar associado à introdução da IA ​na educação:

1. Personalização do Aprendizado: assim como o texto ressalta a influência da disciplina e dos padrões de aprendizado na
escolha de práticas pedagógicas, a IA na educação pode analisar dados sobre os alunos e suas necessidades individuais para
personalizar o conteúdo e a abordagem de ensino. Isso permite que os sistemas de IA se adaptem às características
específicas de cada aluno, promovendo a aquisição de habilidades de pensamento crítico e criatividade de maneira mais
eficaz.
2. Análise de Dados: a IA pode analisar grandes volumes de dados educacionais para identificar padrões e tendências. Isso se
relaciona à ideia de que algumas práticas pedagógicas são mais propensas a desenvolver competências certas, e a IA pode
ajudar a identificar quais abordagens são mais eficazes em diferentes contextos disciplinares.
3. Feedback Adaptativo: a IA pode fornecer feedback em tempo real aos alunos, ajudando-os a aprimorar suas habilidades de
pensamento crítico e criatividade. Esse feedback adaptativo pode ser ajustado com base nas respostas dos alunos, suas
áreas de dificuldade e seus pontos fortes, permitindo uma abordagem pedagógica mais direcionada.
4. Mistura de Metodologias: a IA na educação pode combinar diferentes métodos de ensino e recursos, semelhante ao
conceito de “pedagogia estruturada”. Ela pode integrar uma variedade de recursos, desde atividades interativas até
simulações realistas, para criar experiências de aprendizado mais holísticas e envolventes.
5. Aprendizado Adaptativo: a IA pode ajustar automaticamente o nível de dificuldade das atividades com base no
desempenho do aluno. Isso se relaciona à ideia de que algumas abordagens pedagógicas podem ser mais ou menos
desafiadoras para diferentes alunos, e a IA pode garantir que o nível de desafio seja adequado para promover o
desenvolvimento do pensamento crítico e da criatividade.
6. Reflexão Metacognitiva: os docentes devem refletir sobre como eles mesmos utilizaram a IA, quais estratégias foram
eficazes e como poderiam melhorar sua interação no futuro.

Marina Feferbaum | IA e sustentabilidade: cinco pontos de atenção

A introdução da inteligência artificial na educação pode ser vista como uma forma de aplicar os princípios da “pedagogia
estruturada” de maneira mais dinâmica e adaptativa. A IA pode ajudar a criar ambientes de aprendizado personalizados e eficazes,
levando em consideração as características individuais dos alunos, as disciplinas em questão e os objetivos educacionais.

Promover o pensamento crítico nos alunos requer a implementação de estratégias pedagógicas cuidadosamente planejadas. Essas
estratégias podem ser adaptadas para o uso de inteligências generativas (o ChatGPT, por exemplo) como objeto de aprendizagem.

Daí a ideia de ressignificação, uma vez que de fato Aplicar, Analisar, Avaliar (taxonomia de Bloom) serão os elos mais eficazes entre
as bases Recordar, Compreender e Criar, independentemente da metodologia escolhida pelo docente.

Algumas dessas estratégias podem ser:

1. Questões Abertas e Desafiadoras: os alunos podem formular perguntas complexas e desafiadoras que possam ser
respondidas pelo ChatGPT. Eles podem explorar o sistema, testar seus limites e analisar e comparar a qualidade das
respostas.
2. Discussões Dirigidas: os alunos devem debater as respostas geradas pelo ChatGPT. Eles podem discutir como éticas
intuitivas, a precisão das informações e como o sistema lida com questões controversas.
3. Estudos de Caso: fornecer aos alunos cenários em que o ChatGPT pode ser usado, como auxiliar na pesquisa ou na redação.
Eles devem avaliar quando o sistema é útil e quando suas limitações podem impactar os resultados.
4. Análise de Fontes Diversas: os alunos podem comparar as respostas do ChatGPT com outras fontes motivadas, identificar
discrepâncias e discutir por queessas diferenças podem ocorrer.
5. Resolução de Problemas Complexos: propor problemas complexos que envolvam o uso do ChatGPT para buscar
informações relevantes. Os alunos devem avaliar a eficácia do sistema na resolução desses problemas.
6. Debates Estruturados: promover debates sobre o papel do ChatGPT na sociedade, discutindo seus benefícios, riscos e
possíveis efeitos nas consequências humanas, sem desprezar os objetivos de aprendizagem propostos.
7. Projeto de Pesquisa: os alunos podem investigar o desenvolvimento e as lideranças da IA, incluindo o ChatGPT. Eles podem
apresentar os resultados em um projeto de pesquisa, analisando criticamente várias perspectivas.
8. Avaliação de Alternativas: os alunos devem comparar respostas do ChatGPT, ou outra IA, com abordagens humanas,
destacando as vantagens e a proteção de cada abordagem.
9. Feedback Construtivo: incentivar os alunos a avaliarem a qualidade das respostas geradas pelo ChatGPT e fornecerem
feedback sobre como as respostas poderiam ser aprimoradas.
10. Reflexão Metacognitiva: os alunos devem refletir sobre como eles mesmos utilizaram o ChatGPT, quais estratégias foram 
eficazes e como poderiam melhorar sua interação no futuro. 

Leia também: O ChatGPT é o novo desafio da competência docente

Ao aplicar essas estratégias com o uso do ChatGPT, os alunos irão explorar a tecnologia de IA de maneira crítica e desenvolver suas
habilidades de pensamento crítico, enquanto interagem com a ferramenta. Isso também os preparará para avaliar e utilizar a IA de
forma consciente em contextos do mundo real.

A interação com o ChatGPT pode encorajar os alunos a questionar como a IA toma decisões, compreender a ética das respostas
obtidas e avaliar a precisão das informações fornecidas. Eles podem se envolver em discussões aprofundadas sobre como a IA
influencia nosso cotidiano, os benefícios que oferecem e os desafios que traz, incluindo possíveis vieses nos resultados. Os objetos
de estudo não podem estar desvinculados das pesquisas, uma vez que o foco é a apreensão de conceitos e suas relações com as
práticas vinculadas aos objetivos de aprendizagem e não a IA em si.

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A introdução da IA ​na educação cria um contexto em que a reflexão sobre essas abordagens se torna ainda mais crucial. A IA,
representada aqui pelo ChatGPT, oferece uma plataforma para explorar o pensamento crítico. Ao aplicar as estratégias
pedagógicas mencionadas ao uso do ChatGPT, os alunos se envolvem em uma abordagem interativa, analisando as respostas,
debatendo sua qualidade, comparando-as com outras fontes e avaliando o papel da tecnologia na sua educação. Essa abordagem
não apenas desenvolve habilidades de pensamento crítico, mas também prepara os alunos para compreenderem e utilizarem a IA
de forma responsável e consciente.

Em um mundo aonde a IA está cada vez mais presente, a educação não pode mais ser estática ou baseada apenas em
informações. Ela precisa capacitar os alunos a serem pensadores críticos, solucionadores de problemas e adaptáveis. A
ressignificação da educação, em consonância com o uso da IA, é essencial para preparar uma geração de alunos capazes de
navegar em um ambiente complexo e em constante mudança. Portanto, o futuro da educação reside na habilidade de integrar a
tecnologia de maneira reflexiva e transformadora, capacitando os alunos a serem participantes ativos na construção do seu
próprio conhecimento e na compreensão do mundo que os cerca.

Por: Ana Valéria Reis | 22/08/2023

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