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SUMÁRIO

PREFÁCIO .................................................................................................................. 2

UNIDADE 1 - INTRODUÇÃO ...................................................................................... 3

UNIDADE 2 – A CONSTRUÇÃO DA LINGUAGEM ................................................... 5

UNIDADE 3 – CONVIVENDO COM A VARIAÇÃO LINGUÍSTICA EM SALA DE


AULA .......................................................................................................................... 7

3.1 ALGUNS CONCEITOS ................................................................................................. 7

UNIDADE 4 – LEITURA E ESCRITA: EM BUSCA DE NOVAS PRÁTICAS ........... 10

UNIDADE 5 – COLOCANDO EM PRÁTICA A HABILIDADE DE LEITURA E


ESCRITA NO CONTEXTO DA SALA DE AULA...................................................... 15

5.1- A LEITURA NA VISÃO DE MUNDO ............................................................................. 15

5.2 O SER HUMANO E A PALAVRA................................................................................... 16

5.3 A IMPORTÂNCIA DO ATO DE LER ............................................................................... 17

5.4 CONHECIMENTO CRÍTICO ........................................................................................ 17

5.5- A LEITURA NO SENTIDO CRÍTICO-SOCIAL .................................................................. 18

5.6- A LEITURA NA FORMAÇÃO DO CIDADÃO .................................................................... 19

5.7 A LEITURA DO MUNDO ............................................................................................ 20

5.8- A LEITURA COMO TAREFA DE TODOS OS PROFESSORES NA SALA DE AULA .................. 20

5.9- A ESTRATÉGIA DO PROFESSOR .............................................................................. 21

UNIDADE 6 – INTERAÇÃO: EDUCADOR, ALUNO, ESCOLA, SOCIEDADE ........ 24

UNIDADE 7 – CONCLUSÃO .................................................................................... 28

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 30

Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de
direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
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PREFÁCIO

Nesta disciplina, o objetivo maior é apresentar características importantes a


quem trabalha diretamente com a Língua Portuguesa.
A disciplina Língua Portuguesa só passou a existir nos currículos escolares
nas últimas décadas do século XIX. O processo de formação do professor para tal
disciplina só teve início nos anos 30 do século XX.
Sabendo-se que no passado desde a chegada, aqui, dos primeiros
colonizadores europeus, pode-se tomar os mais de cem anos da disciplina e os
quase oitenta de preocupação com a formação dos professores como interesse
recente.
Porém é importante avaliar que a Língua Materna teve funções políticas,
econômicas e sociais, geralmente vinculadas a uma pedagogia com função
discriminatória e elitista. Além disso, a formação da nação brasileira foi composta de
múltiplas raças que emergem, no nível popular, coloquial, práticas de língua que
definem muitos aspectos da tradição que correm o risco de desaparecer sob os
influxos da indústria cultural massiva.
Em meados do século XVIII, o Marquês de Pombal torna obrigatório o ensino
da Língua Portuguesa em Portugal e no Brasil. No entanto trata-se de um ensino
moldado ao ensino do Latim como o aprendiam os poucos que podiam aprender.
Foi assim que, quase um século após, em 1837, no Colégio Pedro II, que foi o
modelo para o ensino secundário em nosso país. Este tipo de ensino manteve esta
característica até metade no século XX, quando nasceu a democratização.
No decorrer deste material haverá abordagens da psicologia da educação,
usando para isso um referencial teórico dedicado à prática educativa e os fatores,
internos e externos, que a influenciam.
O interesse maior é apresentar nuances da metodologia referente ao ensino
da Língua Portuguesa, que possa ser base para as modificações necessárias nesse
âmbito, com o propósito de repensar este ensino e agir de modo a reconstruir os
caminhos tortuosos, mas passíveis de mudanças, que trilham os educadores de
Língua Portuguesa.

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UNIDADE 1 - INTRODUÇÃO

A História do Brasil, em toda a sua complexidade, ajuda-nos a entender o


porquê da variedade linguística em nossa língua portuguesa. O Brasil, em sua
origem, era habitado por indígenas com suas próprias línguas maternas, deixadas
de lado quando os portugueses, através de sistemas de dominação, impuseram-lhes
a língua portuguesa.
Nos primeiros tempos da colonização portuguesa, no Brasil, a língua falada,
em uma enorme extensão ao longo da costa atlântica, era dos índios Tupinambás.
No século XVI, essa língua chamada Brasílica passa a ser aprendida pelos
portugueses. Com o passar dos anos, quase toda a população que compunha o
sistema colonial brasileiro já dominava os códigos linguísticos pertinentes a essa
língua.
A catequisação indígena direcionada pelas missões jesuíticas utilizava a
língua Brasílica para os sermões e “conversão” dos índios. O padre José Anchieta
chega a lançar uma gramática, em meados de 1595, com o título de Arte de
Gramática da Língua mais usada na Costa do Brasil e em 1618 o primeiro catecismo
em língua Brasílica.
Contudo, ao decorrer da segunda metade do século XVII, essa língua, que já
estava com diversas modificações, passa a ser conhecida pelo nome de Língua
Geral. No entanto, no Brasil Colônia existiam dois tipos de línguas gerais: a paulista
e a amazônica, sendo a paulista a que marcou densamente o vocabulário popular
brasileiro utilizado em tempo atuais (nomes de coisas, lugares, animais, alimentos
etc.).
Uma miscigenação de linguagens invade o território nacional. Com a chegada
dos escravos isso se amplia, afinal eles tinham um âmago linguístico próprio. A
busca pela efetivação da comunicação faz com que as línguas próprias de cada
cultura sejam influenciadas para que assim pudessem se entender e compreender
as mensagens de ordenação e obediência aos senhores de engenho. Nasce, nesse
momento, um aparato de variações linguísticas, resultado, de uma situação social,
histórica e cultural.

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Assim como esse processo histórico desenvolvido na sociedade brasileira, a


história da educação revela alguns momentos que fomentam a variabilidade na
linguagem. Exemplo disso é quando acontece a democratização do ensino, bem
como o êxodo rural, transformando o perfil socioeconômico e cultural dos educandos
nas instituições de ensino espalhadas pelo Brasil. Crianças pertencentes a classes
sociais desprivilegiadas começam a ter acesso à educação. Com isso, a linguagem
utilizada por elas começa a ser socializada com as demais camadas na escola,
refletindo assim, na escrita, na organização e coerência das ideias.

Até meados da década de 1960, as escolas brasileiras eram em número


reduzido e se concentravam nas zonas urbanas, sendo muito raras as
escolas não só nas zonas rurais, mas até mesmo em cidades de menor
porte. Nessas escolas da zona urbana, ensinavam e aprendiam pessoas
das classes médias e médias-altas das cidades, ou seja, uma parcela
bastante restrita da população. A partir daquele período,começou o
processo que foi chamado de “democratização” do ensino no Brasil. As
aspas em “democratização”, usadas por muitos autores que tratam do tema,
indicam que a idéia de “democracia”, neste caso, não corresponde muito
bem ao que acontece. Na verdade,o que houve foi um grande aumento
quantitativo do número de escolas, aumento provocado pelo acelerado ritmo
de urbanização da população brasileira. Em 1960, somente 45% da
população viviam em zona urbana – quarenta anos depois, o Censo 2000
do IBGE revelou que 80% dos brasileiros moram em cidades (BAGNO,
2007, p. 31-32).

Com a democratização do ensino, a procura pelas instituições escolares fica


cada vez maior. O cenário, agora, quando se fala em educação, já é outro: salas
superlotadas, recursos humanos e financeiros escassos, falta de material escolar,
faltam livros didáticos, desvalorização da profissão docente, professores
desmotivados. Seria, então, impossível falar de uma camada homogênea na
instituição escolar. A escola recebe crianças advindas de todas as camadas da
sociedade com características próprias, constituindo-se, assim, um sistema
heterogêneo de atendimento.

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UNIDADE 2 – A CONSTRUÇÃO DA LINGUAGEM

No poema “Vício na fala”, Oswald de Andrade se apodera da escrita para


desvelar um conflito social existente entre as variações de uma mesma língua e a
relação língua/fala, deixando explícito, em um campo semântico, que sistemas
normatizados pela gramática puramente tradicional ainda são os comandos chave
para discursos escolares.
Alguns poetas não cessaram, em seus escritos, em caracterizar o português,
tipicamente brasileiro, como resultado de interações das classes desprivilegiadas
com a linguagem. Na atual conjuntura brasileira, é impossível afirmar que exista uma
homogeneidade da língua, visto que a linguagem, em todo seu contexto, é dirigida
por seres humanos, puramente dinâmicos, em suas relações.
Como resultado dessas interações, seria impossível desqualificar a
heterogeneidade ou as múltiplas faces de nossa língua. Os estudos recentes com
base nas diretrizes da sociolingüista, de acordo com Bortoni (2006b), afirmam que
são diversos os fatores que implicam na situação da língua portuguesa no Brasil.
Bartoni (2206b) salienta como principais: a dualidade linguística – modalidade
urbana versus modalidade rural, os fluxos migratórios do século XX, a
contemporaneidade de estágios diversos de desenvolvimento e a tendência
emancipatória da literatura brasileira moderna.
Refletindo tais fatores, uma profusão de questionamentos nos surpreende: As
pessoas que falam “mio”, “mió”, “pió”, “teia”, “teiado” não conseguem, em seus
contextos sociais e em suas atividades comunicativas, estabelecer um diálogo? Não
conseguem ser entendidas? Não conseguem transmitir uma mensagem?
Fica evidente que a questão maior não é o julgamento por se falar telhado,
mas o prestígio social subjacente a essa e outras palavras, que comportam a
normatividade da língua padrão. Por trás destas normas imperam uma ideologia
totalmente condicionante, que utiliza a linguagem para estabelecer ideias
centralizadas de dominante X dominador, como afirma Bakhtin:

Em suma, em toda enunciação, por mais insignificante que seja, renova-se


sem cessar essa síntese dialética viva entre o psíquico e o ideológico, entre
a vida interior e a vida exterior. Em todo ato de fala, a atividade mental
subjetiva se dissolve no fato da enunciação realizada, enquanto que a
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palavra enunciada se subjetiva no ato de descodificação que deve, cedo ou


tarde, provocar uma codificação em forma de réplica. Sabemos que cada
palavra se apresenta como uma arena em miniatura, onde se entrecruzam e
lutam os valores sociais de orientação contraditória. A palavra revela-se, no
momento de sua expressão, como o produto da interação viva das forças
sociais. É assim que o psiquismo e a ideologia se impregnam, mutuamente,
no processo único e objetivo das relações sociais (BAKHTIN, 1992, p. 66).

Para tanto, cria-se dentro desses fatores apresentados acima, imbuídos de


falas excludentes, um preconceito que renega a identidade cultural presente na
maneira peculiar de cada comunidade lingüística: expressar suas vontades ao se
comunicar.
A sociolinguística, em todo seu aparato teórico e conceitual, permite-nos
quebrar esses paradigmas, à luz da proposta de linguagem como uma categoria de
identidade social, postulada por Le Page (1980). De acordo com Bortoni:

[...] o comportamento lingüístico está permanentemente submetido a


múltiplas e co-ocorrentes fontes de influência relacionadas aos diferentes
aspectos da identidade social, tais como sexo, idade, antecedente regional,
inserção no sistema de produção e pertencimento a grupo étnico,
ocupacional, religioso, de vizinhança etc. Quando falamos, movemo-nos
num espaço sociolingüístico multidimensional e usamos os recursos da
variação lingüística para expressar esta ampla e complexa gama de
identidades distintas (BORTONI, 2006b, p. 175-176).

Diversas peculiaridades da língua, na dita “pós-modernidade”, estão sendo


deixadas de lado, por exemplo, as marcas regionalistas, devido à abundância de
ilusões de uma crença que vê a língua como homogênea. Assim, cria-se um dos
mitos freqüentes da linguagem que é o da norma-padrão, isto é, que existe um
modelo de língua “certa”, refletindo em algumas sociedades como uma espécie de
tesouro nacional e patrimônio cultural. Segundo Marcos Bagno, “portanto, o que se
convencionou chamar de língua nas sociedades letradas é, na verdade, um produto
social, artificial, que não corresponde àquilo que a língua realmente é” (BAGNO,
2007, p. 35).

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UNIDADE 3 – CONVIVENDO COM A VARIAÇÃO


LINGUÍSTICA EM SALA DE AULA

3.1 Alguns conceitos


Para avançarmos em uma compreensão maior do tema desta unidade, faz-se
necessário conceituar e entender o que venha a ser a variação linguística e as
contribuições da sociolingüística para tal esclarecimento.
Ao contrário do que muita gente imagina, a língua não está totalmente
registrada nos dicionários, como também todas as suas regras grafadas nas
novíssimas gramáticas. Por ser justamente um processo de desconstrução e
reconstrução, como afirma Bagno, existe uma dinâmica que aqui se entende como
variação lingüística.
Segundo Bortoni (2006b, p. 175) “a variação linguística, que já foi vista na
ciência lingüística como uma ruptura da unidade do sistema, é concebida hoje como
um dos principais recursos postos à disposição dos falantes para cumprir duas
finalidades cruciais [...]”.
Percebe-se que a variação linguistica, em suas primícias, foi entendida como
rompimento com uma unidade do sistema, de maneira que se instaurou uma
revolução sociolingüística na busca por modelos interacionais de base
fenomenológica. Essa autora ainda destaca quais as duas finalidades cruciais
referidas no fragmento acima: 1 ) ampliar a eficácia de sua comunicação e 2) marcar
sua identidade social.
Como já foi explicitado, não tem sentido tratar a V. L. como um “problema”. O
erro consiste em considerar a linguagem como algo estanque, em bases sólidas,
bem-acabadas. Imaginemos o nosso país, nação caracterizada pelas diversas
manifestações culturais, pelas diversas formas de expressão de opiniões, em que
temos: pessoas que andam de carro, outras de ônibus, outras a pé, etc.; pessoas
usando sapatos caros, outros de pé no chão; múltiplas faixas etárias; múltiplos graus
de escolaridade. Como seria possível todas essas diversidades humanas falando da
mesma forma?
A sociolinguística reside justamente no que foi exposto, interagir a
heterogeneidade linguística com a heterogeneidade social, pois língua e sociedade,

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como esclarece Marcos Bagno (2007, p. 38), “estão indissoluvelmente entrelaçadas,


entremeadas, uma influenciando a outra, uma constituindo a outra”.
Bagno ainda ressalta que o conceito de variação linguistica é “espinha dorsal”
da sociolingüística, frisando que a variação ocorre em todos os níveis da língua,
sendo eles: variação fonético-fonológica; variação morfológica; variação sintática;
variação semântica; variação lexical; variação estilístico-pragmática. Os exemplos,
expostos por esse autor em seu livro Nada na língua é por acaso (2007), são
facilmente inteligíveis.
Em um campo de variação fonético-fonológica, que está ligado aos fatores de
estudo dos sons da linguagem, dentro de parâmetros produção, transmissão e
recepção do som, Bagno (2007, p. 39) afirma: “pense em quantas pronúncias você
conhece para o R da palavra PORTA no português brasileiro.”
A variação morfológica advém do estudo da estrutura e formação da palavra.
Na morfologia estudamos a palavra isolada, fora de um contexto textual, ou seja,
não dentro de uma frase ou período. Ilustrando essa variação mórfica temos “as
formas PEGAJOSO e PEGUENTO exibem sufixos diferentes para expressar a
mesma idéia” (BAGNO, 2007, p. 40).
A variação sintática atém-se a processos generativos e combinatórios das
locuções ou expressões, que estuda a disposição de palavras em frases,
especificando estruturas internas e funcionamento. Bagno (2007, p. 40) assim
exemplifica: “nas frases UMA HISTÓRIA QUE NINGUÉM PREVÊ O FINAL / UMA
HISTÓRIA QUE NINGUÉM PREVÊ O FINAL DELA / UMA HISTÓRIA CUJO FINAL
NINGUÉM PREVÊ, o sentido geral é o mesmo, mas os elementos estão
organizados de maneiras diferentes.”
Já a variação semântica está ligada ao estudo do sentido da palavra no
contexto textual e até mesmo social. Neste sentido, não se retém jamais a palavra
em si, em sua individualidade, ao significado dela em determinada frase, discurso e
etc., em uma região ou devido a fatores propriamente extralinguísticos (origem
geográfica, status socioeconômico, grau de escolarização, idade, sexo, mercado de
trabalho, redes sociais). “A palavra VEXAME pode significar “vergonha”, “pressa”,
dependendo da origem regional do falante.” (BAGNO, 2007, p. 40).

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A variação lexical relaciona-se a gama de palavras usadas pelos falantes para


se designar a uma mesma coisa. “As palavras MIJO, XIXI e URINA se referem todas
à mesma coisa” (BAGNO, 2007, p. 40).
Por fim, tem-se as variações estilístico-pragmáticas. Cada intercâmbio verbal
carrega em seu bojo um monitoramento estilístico maior ou menor. Esta variação é
caracterizada pela flexibilidade que se estabelece entre a conversação dos
interlocutores, pois os enunciados podem ser utilizados pelo mesmo indivíduo em
situações distintas de interação.
Cabe a, nós, educadores (as) partir do princípio até aqui apresentado para
planejar, avaliar, ensinar, pensar, principalmente no que ocorre em sala de aula, no
que diz respeito ao ensino da Língua Portuguesa – e os mitos ligados ao mesmo.

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UNIDADE 4 – LEITURA E ESCRITA: EM BUSCA DE NOVAS


PRÁTICAS

O desenvolvimento da habilidade de leitura e escrita é premissa fundamental


de sucesso no processo de escolarização. A prática pedagógica e estudos teóricos
sobre a competência de leitura e escrita têm comprovado a importância do ato ler e
escrever para formação integral dos estudantes. Eis, então, o desafio de todo
professor, especialmente do professor de literatura: desenvolver no aluno essa
competência de leitura e escrita.
Sabe-se, porém, que para alguém aprender a ler e escrever, em seu sentido
amplo, precisa antes aprender a gostar de ler e escrever. Por isso, um dos principais
objetivos da educação é desenvolver essas competências dos alunos. Entretanto
esse trabalho exige tempo, planejamento e dedicação de todo o corpo docente da
escola. Ao desenvolver esse trabalho a escola espera que o aluno perceba que em
seu projeto de educação a leitura e a escrita ocupem um lugar fundamental para
quaisquer disciplinas. Mas não basta pedi ao aluno que leia ou que passe a gosta de
ler.
É preciso que essa atividade seja significativa e atraente, pois só através das
descobertas do prazer de um texto é que se adquire o hábito de leitura e,
conseqüentemente, de escrita. Essa descoberta se dará mais facilmente na infância,
por isso deve ser trabalhada com muita ênfase nas séries inicias do Ensino
Fundamental, pois é onde está o alicerce da competência de leitura e escrita.
Vivemos numa sociedade letrada, na qual aqueles que não dominam a
linguagem oral e escrita estão, inevitavelmente, marginalizados da participação
social.
Desde o início da década de 80, o ensino da Língua Portuguesa na escola
tem sido o centro da discussão, com ênfase na necessidade de melhorar a
qualidade do ensino no País. No Ensino Fundamental, o eixo da discussão, no que
se refere ao fracasso escolar, tem sido a questão da leitura e da escrita. Essas
evidências do fracasso escolar apontam para a necessidade da reestruturação do
ensino da Língua Portuguesa para garantir a aprendizagem da leitura e escrita.
(PCN, 1997).

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O SAEB (Sistema Nacional de Avaliação Básica), criado em 1990, tem


procurado, a partir de avaliações realizadas a cada dois anos, oferecer subsídios
para que haja mudanças necessárias à melhoria da qualidade da educação. Com os
resultados referentes às avaliações SEEB/2001, pode-se afirmar que o nível de
leitura e matemática da maioria dos alunos da 4ª série do Ensino Fundamental é
crítico.
Preocupados com essa realidade, educadores, teóricos e programas
governamentais procuram inverter esse quadro. Aumenta, então, a responsabilidade
dos profissionais da educação. Se o que se busca é formar leitores e escritores, o
papel do professor é ainda mais importante e, sem dúvida, a sua relação com a
leitura tem função fundamental no processo, pois pelo menos dois fatores levam o
aluno a gostar de ler: a curiosidade e o exemplo. Por isso é crucial que o professor
seja modelo de leitor e escritor. Ninguém contrata um instrutor de natação que não
saiba nadar, no entanto, as salas de aula brasileiras estão repletas de profissionais
que precisam rever a própria postura e as suas principais funções como educadores,
visto que muitos deles (ressalto que há inúmeras exceções), também não têm o
hábito de ler, e, sendo assim, tentar ensinar vai ser um processo dificultado.
Muitas vezes as diferentes atividades propostas a partir de um texto
transformam a leitura numa atividade enfadonha. É preciso dar ao aluno a
oportunidade de ler pelo prazer de ler.
É necessário que o professor demonstre a paixão pelo o que faz, pois só
desperta o prazer de aprender, quem tem o prazer de ensinar.
É pertinente que a escola analise a importância, apontada pelos PCNs
(Parâmetros Curriculares Nacionais), de se incorporar o trabalho com o texto literário
e, consequentemente, com o texto poético, ao cotidiano da sala de sala. É oportuno,
também, atentar para a necessidade de destacar o foco da análise do poema e, em
vez da análise do aspecto instrumental (rimas, versos, estrofes e etc.) e da análise
gramatical, que se passe a análise mais vertical da redação entre texto e leitor,
levando em conta a unidade de sentido e propiciando o desenvolvimento do
imaginário.Carlos Drumonnd de Andrade, em 1974, já se atentava para essa
necessidade:

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O que eu pediria á escola, se não me faltassem luzes pedagógicas, era


considerar a poesia como primeira visão direta das coisas, e depois como
veículo de informação prática e teórica, preservando o fundo mágico, lúdico,
intuitivo e criativo, que se identifica basicamente com a sensibilidade
poética... (DRUMMOND: In Jornal do Brasil, 20 de julho de 1974).

O gosto pela leitura e escrita que aqui se propõe, tem como base a teoria da
Estética da recepção de Hans Robert Juass, que dá total atenção ao leitor, vendo-o
como elemento ativo e determinante na dinâmica da história da literatura. Sua
aplicação prevê a transferência dos pressupostos teóricos à prática escolar da
leitura. Assim o leitor, como elemento atuante do processo, terá contato com os
diversos textos poéticos.
O processo de trabalho com o método recepcional apóia-se nos debates, nas
formas oral e escrita e consiste no desenvolvimento de cinco etapas:
1- Determinação do horizonte de expectativas;
2- Atendimentos do horizonte de expectativas;
3- Ruptura do horizonte de expectativas;
4- Questionamento do horizonte de expectativas;
5- Ampliação do horizonte de expectativas.

Essas etapas acontecem passo a passo na proposta da formação de leitores.


Porém deve ser sistematizada, planejada a partir do interesse do aluno, sujeito do
processo ensino-aprendizagem (BORDINI, 1998 p.26). Para Ferreiro e Teberosky,
trata-se de um sujeito que procura adquirir conhecimento e não simplesmente de um
sujeito disposto ou mal disposto a adquirir uma técnica particular.
A literatura é o veiculo, por excelência, da linguagem na função poética. Tudo
indica que a literatura começou em forma de poesia. Muito antes de existir a escrita.
Os estudiosos se baseiam principalmente em três argumentos para defender essa
idéia. Primeiro, porque em geral os exemplos mais antigos de literatura em todos os
povos são de poemas. Segundo, porque, em matéria de linguagem, se pode
considerar que a história de cada ser humano repete um pouco o que aconteceu
com a humanidade e a primeira ligação das crianças com o que se poderia
considerar uso literário da linguagem tem a ver com a poesia.

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Além disso, é fácil e possível imaginar que, se ainda não existia escrita, e o
autor de uma obra queria que ela não fosse esquecida, tinha de procurar um jeito de
fazer com que fosse mais leve aprendê-la de cor. E é muito mais fácil memorizar
poesia do que prosa.
Castelo Branco afirma que a poesia se manifesta de muitas formas, inclusive
através das letras das canções.

A linguagem poética no campo de habilidade artística do homem é a que


melhor exprime o sentimento romântico que há na alma de ser, porque só
mesmo no poema é que se reuni a beleza da forma externa e o conteúdo
sentimental da alma do poeta (BRANCO, 1983, p. 105)

A música é a linguagem que se traduz em formas sonoras capazes de


expressar e comunicar sensações, sentimentos e pensamentos por meio da
organização relacionamento entre o som e o silêncio. A música está presente em
todas as culturas, nas mais diversas situações de festas e comemoração em geral.
Faz parte da educação há muito tempo, sendo que, na Grécia antiga, era
considerada como fundamental para a formação dos futuros cidadãos ao lado da
matemática e da filosofia. Por que não explorá-la nos dias atuais nas aulas de
Língua Portuguesa?
A música no contexto da formação de leitores e escritores é fundamental, pois
faz parte da aprendizagem significativa, uma vez que, está presente nas diversas
situações da vida humana, despertando, estimulando e desenvolvendo o gosto pela
leitura e pela escrita. Mas o trabalho com o texto poético vai muito além, visto que
fazer/ ler “poesia é brincar com as palavras, como afirma José Paulo Paes em seu
poema Convite” (1991).
Se poesia transpira a linguagem comum e suscita o desenvolvimento da
sensibilidade para sentir a vida em sua plenitude, ao mesmo tempo em que promove
o desenvolvimento pleno do leitor, capacitando-o à leitura de texto conativos,
simbólicos, o texto poético é, certamente, uma ponte indispensável na redação do
educando com o conhecimento e com a vida de modo geral.
À medida que o professor trabalha com texto lírico em sala de aula, ele
percebe que, mais do que os outros gêneros (o narrativo e o dramático), o lírico

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permite que ele lance mão de textos destinados ao leitor adulto, diluindo-se os
limites entre as faixas etária dos alunos.
A leitura é uma condição essencial para se compreender o mundo e os
outros, sendo, portanto, um caminho para alcançar e conquistar objetivos.
É através da leitura e escrita que cada pessoa pode compreender aquilo que
estar tão perto e ao mesmo tempo tão distante.
A Educação, nos dias atuais, precisa-se de educadores que sejam prazerosos
leitores e amantes da leitura para, assim, transmitir com eficiência a importância da
leitura, tomando como exemplo a prática e experiência vivenciada.
Considera-se de grande importância que as escolas utilizem todos os meios e
formas para incentivar os alunos à prática da leitura e da escrita, porém para isto
sabe-se que é imprescindível a participação atuante de todos os envolvidos no
processo de ensino-aprendizagem, ou seja, é preciso que educadores, pais de
alunos, alunos e comunidade em geral se envolvam.
Como é diverso e amplo o mundo da escrita e da leitura, fica aqui como
sugestão a realização de projetos interdisciplinar e multidisciplinar, utilizando-se
todas as formas e meios disponíveis, com ênfase à leitura e à escrita.

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UNIDADE 5 – COLOCANDO EM PRÁTICA A HABILIDADE


DE LEITURA E ESCRITA NO CONTEXTO DA SALA DE
AULA

Os professores de Língua Portuguesa atentar para a questão da


interdisciplinaridade, de outras disciplinas curriculares e extracurriculares. Como os
professores e o próprio idioma não são ilhados, nem vozes de um só livro, mas
comunitários, solidários e polifônicos, têm a necessidade de todos os demais
educadores. Assim não importa qual seja a matéria ou disciplina, em qualquer grau
de ensino e de educação, todos os professores devem estar atentos ao objetivo
considerado como um dos principais nos princípios educacionais: Ler e Escrever.
Celso Pedro Luft, no Mundo das Palavras, publicado no jornal Correio do
Povo (1977), diz que “professor de português é todo e qualquer professor”. E
prossegue o velho saudoso mestre:

A linguagem como comunicação de conteúdos, a propriedade vocabular, o


respeito das normas do idioma culto, a limpeza e a nobreza do fraseado,
tudo isso, que aliás é o mais importante , tudo isso compete a todos os
professores.Professor de Matemática, professor de história, professor de
Ciências, professor de Geografia, professor de Química, professor de
Biologia, professor de Física, todos os professores da Língua Portuguesa.
(LUFT: In Jornal Correio do Povo, 1977)

Todos os professores, afirma Luft, são co-responsáveis pela linguagem, pelo


português de seus alunos. Não só pelo óbvio de ser o mestre um modelo para o
discípulo, mas porque devem exercitar os alunos na linguagem especifica da
matéria. Dominar uma disciplina ou ciência é dominar a linguagem respectiva. Saber
matemática é saber pensar, falar e escrever em termos matemáticos. Saber química
é dominar a linguagem química. E assim por diante. Tudo isso é questão de
linguagem; no Brasil, questão de português.

5.1- A Leitura na visão de mundo


A escola não é uma ilha. Ela está inserida numa determinada realidade social.
Diante dessa constatação sugiram diversas teorias denominadas “teorias crítico-
reprodutivas” – que afirmam não ser possível compreender a educação senão a
partir dos seus conhecimentos sociais. Essas teorias, em suas análises, chegam à
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conclusão de que a função própria da educação consiste na reprodução da


sociedade em que ela se insere.
O processo de criação, elaboração de textos vai além da leitura das palavras,
como muitos programas têm delimitado. O processo de alfabetizar perpassa o
processo de compreensão do contexto em que os sujeitos estão inseridos.
Enfim é preciso pensar na escrita como algo que tenha para revelar
significados muito grandes para quem os lê, pois é o momento que os mesmos
começam a tomar consciência dos seus eus sociais.
O processo de leitura do mundo torna-se muito prazeroso, pois é o momento
desmistificação de muitos dos mistérios de suas vidas. É o momento de elucidação
daquilo que antes era impossível compreender e que, ingenuamente, era atribuído
aos alimentos sagrados, às crendices.
Portanto o ato de escrever deve ter como objetivo desvendar dos olhos das
pessoas essa máscara que as impede de perceber o mundo real e o mundo ideal e
de se perceberem enquanto seres capazes de atuar politicamente dentro destes
dois mundos, criando o seu próprio mundo.
O ser humano é necessariamente um ser que quer se comunicar. Ao contrário
dos animais, o ser tem um mundo psíquico, não é só instintivo, tem experiência de
memória, de sentimentos, de imaginação, que exigem uma forma especial de
comunicação. Aí o fato de ele escolher, por exemplo, ser escritor, isso dependerá
muito do ambiente.

5.2 O ser humano e a palavra


Fazer uma análise na íntegra o valioso sentido das palavras, é necessário
cultivar sua importância como leque principal de união entre os humanos, através da
escrita, registro de fatos, histórias entre povos e nações, até os dias atuais.
As palavras foram se integrando às relações humanas, contendo em si
diferentes mensagens.
Os vocábulos são pontes para nos levar aos outros, compartilharmos nossos
sentimentos e vivências. Certamente faz-se necessário aprimorar a articulação das
mesmas, de modos já expostos acima.

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Na realidade, o sujeito depende do discurso e vice-versa. A comunicação traz


intrínseca a relação discursiva, na qual sujeito e discurso fazem parte integralmente
do processo interacionista.
Aprender a ler a palavra escrita deve ser o ato da continuidade da leitura que
aprendemos a fazer da vida, deve ser o ato de adentrar nos textos, criar uma
disciplina intelectual que viabilize um saber vivo, fixado de forma a levar o indivíduo
a ter a capacidade de interagir com o mundo de forma criativa, consciente e, acima
de tudo, como sujeito capaz de re-escrever o mundo, quer dizer, transformá-lo
através de uma prática consciente.

5.3 A importância do ato de ler


Leitura boa é a leitura que nos empurra para a vida, que nos leva para dentro
do mundo que nos interessa viver. E para que a leitura desempenhe esse papel, é
fundamental que o ato de leitura e aquilo que se lê façam sentido para quem está
lendo. Ler, assim, para Paulo Freire, é uma forma de estar no mundo. E o educador
tem parte nesse processo. Dir-se-ia que é fundamental que o educando tenha um
eixo norteador acompanhado pelo professor.
A leitura mais complexa ninguém aprende sozinho. Ela representa o domínio
de uma modalidade da linguagem verbal, por meio da qual o imenso e variado
mundo das letras e da escrita passa a fazer parte de nosso mundo. A leitura –
sobretudo a ensaística – às vezes pode acompanhar-se da leitura de linguagens não
verbais, como gráficos e tabelas como os que aqui acompanham o texto principal.
Daí a importância da leitura do mundo e de suas diferentes linguagens.
(LAJOLO, 2003)

5.4 Conhecimento Crítico


A maior parte dos conhecimentos humanos é obtida por intermédio da leitura.
Por isso é preciso ler muito, continuamente e com regularidade, pois ler
constantemente significa aprender a conhecer, interpretar, decifrar, destinguir os
elementos fundamentais dos secundários. Isso deve acontecer, entre outros
espaços, principalmente na sala de aula de Língua Portuguesa.

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Conhecimento é a compreensão inteligível da realidade que o sujeito humano


adquire, através do estudo e de sua confrontação com a realidade histórica, política,
econômica, cultural e existencial. Seu grande objetivo deve ser o de elucidar essa
realidade e não apenas reter informações contidas em fonte de pesquisas ou
interpretadas a partir da própria realidade.
Portanto o conhecimento possui uma finalidade pragmática porque permite
ações adequadas para a satisfação das necessidades humanas e estabelece formas
de compreensão do mundo em que vivemos.
O conhecimento direto da realidade não significa conhecimento espontâneo e
imediato. A realidade não se dá a conhecer diretamente ao sujeito sem esforço do
próprio sujeito. A aparência da realidade, objeto do conhecimento imediato,
obscurece a essência da realidade, objeto do conhecimento crítico. Caso a
aparência e a essência coincidissem, não haveria ciência.

5.5- A leitura no sentido crítico-social


A técnica principal de uma boa leitura coincide em questionar constantemente
o texto, procurando as respostas nele em conhecimento e experiência prévias ou em
outras fontes. A reflexão sobre o que se lê, observando todos os ângulos, tentando
descobrir novos pontos de vistas, novas perspectivas e relações; é fundamental para
esclarecer, aperfeiçoar e aprofundar o conhecimento.
Ter criticidade, que significa não só questionar, mas fundamentalmente
aprender a julgar, comparar, aprovar, refutar as diferentes colocações e pontos de
vista de um texto. Isso significa não admitir idéias sem analisar ou ponderar,
proposições sem discutir. Ter criticidade, contudo, é aprender a emitir juízo de valor,
percebendo no texto o bom e o mau argumento, da mesma forma que o verdadeiro
e o falso, o fraco e o forte, o medíocre e o relevante.
Refletir não é apenas pensar várias vezes sobre a mesma coisa. Implica
também em que se imaginem novas situações, novas maneiras de resolver os
problemas sugeridos ou dá tratamentos diferenciados sobre algo estudado.
A leitura é a atividade que propicia aprendizagem e integração de novas
informações aos conhecimentos e experiências anteriores na construção dos
significados. A escrita e a produção de um texto escrito promovem uma relação

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diferente com o pensamento. Fazem com que se reorganize, enriqueça ou


reconstrua o conceito anterior.

5.6- A leitura na formação do cidadão


Dentre as várias funções da escola, uma se destaca como essencial na
prática do educador que é a formação de leitores conscientes de seu papel na
sociedade. A prática de leitura na sala de aula está distante de uma prática que
promova a formação de leitores críticos e participativos, sobretudo numa sociedade
globalizada como a nossa. A sala de aula continua a ser um espaço monótono e
monológico na qual a interação, fator indispensável na constituição de sujeitos e de
sentidos, é algo que inexiste.
Faz-se necessário que o professor compreenda a sala de aula como o espaço
discursivo e interativo, enfatizando a leitura como um momento no qual os alunos
tenham a oportunidade de exercer sua identidade de leitor. Destaca-se a interação
professor-aluno como um momento privilegiado para a construção de sentidos e o
aluno, assim, poderá tornar-se ciente da necessidade de fazer da leitura uma
atividade caracterizada pelo engajamento e não ter apenas uma mera recepção
passiva. É de extrema importância que o professor promova essa percepção, para
que o aluno atente para o fato de que a leitura está intimamente ligada à formação
do cidadão, e assim o aluno, sujeito ativo, leia a realidade em que está inserido.
Portanto, para que a leitura seja realizada de forma eficaz, faz-se necessário
que o professor perceba a sala de aula como espaço interativo, no qual professor e
aluno atuam como sujeitos – participante do processo de produção do
conhecimento.
É importante que o professor compreenda a aula de leitura como um espaço
discursivo, no qual se travam conflito entre vozes marcadas sócio – historicamente,
em que circulam diversos sentidos. Dessa forma enfatizamos a aula de leitura como
um momento no qual os alunos tenham a oportunidade de exercer sua verdadeira
identidade de leitor, levando para esse ambiente de aula as suas experiências de
vida. Por isso, destacamos a interação como momento privilegiado para a
construção de sentidos. É na interação que o sujeito se constitui como tal

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5.7 A Leitura do mundo


É conveniente que o professor de Língua Portuguesa, como agente
institucionalmente indicado para a promoção da leitura na escola, esteja consciente
da necessidade de se formar leitores capazes de ler o mundo dos seus mais
variados contextos, e de participarem criticamente do processo de transformação
social, tão almejado em nossa sociedade.
Algumas possibilidades de trabalho pedagógico interativo do professor em
sala de aula seriam:
• Presença do professor com o papel de reprodutor, em que o espaço escolar,
e em especial, a aula de leitura, tem a cumprir;
• Interação professor-aluno que beneficia a aprendizagem;
• Promover o crescimento do aluno como ser crítico;
• Valorização da participação do aluno.

Percebe-se que a forma como o professor se relaciona com os alunos vai


determinar a forma como estes se relacionam com o conteúdo e, principalmente,
com a leitura no momento da aprendizagem.
Na relação pedagógica trata-se do vínculo estabelecido entre uma parte que
ensina e outra que aprende, logo a dinâmica de trabalho em que a aula assume um
papel preponderante, já que será através dela que diferentes diálogos e leitura serão
viabilizadas.
A aula, como momento de encontros entre os sujeitos, sempre permite o
estabelecimento de vínculos de liberdade e não de dependência, ou seja, só o
professor fala e o aluno só escuta. É preciso que o professor, em determinadas
situações deixe de ser ativo e diretivo, e concentre-se no papel de ouvinte e
observador. Certamente silenciar é também aprender e ensinar.

5.8- A Leitura como tarefa de todos os professores na sala de aula


No meio educacional, as pessoas ainda consideram a Língua Portuguesa
como mãe apenas dos profissionais que são graduados na área da linguagem, da
lingüística e da literatura.

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Para progredir em relação à leitura e melhoria no desempenho de nossos


alunos, primeiro é necessário que todos os profissionais da educação dividam a
responsabilidade de trabalhar a Língua Portuguesa. Precisa-se entender a
importância de trabalhar conjuntamente para a obtenção de grandes resultados.
A mudança deve ocorrer dentro de todos, a partir do momento que o
professor perceber que o aluno não consegue resolver os problemas de matemática
propostos, ele necessita também trabalhar interpretação. Se o professor de
Ciências, Geografia, História não consegue fazer com que o seu aluno absorva a
essência da sua disciplina, ao invés de decorá-la, ele também necessita se envolver
no processo de leitura e interpretação de seus alunos.

5.9- A Estratégia do Professor


Deve-se ter em mente a situação comunicativa em que os textos são
produzidos, ou seja, é preciso levar em conta quem produz, com que objetivo, em
que momento e para quem produz. Assim, por exemplo, se o professor vai trabalhar
com correspondências, ele pode pedir aos alunos que imaginem uma situação em
que estejam impedidos de comparecer à escola e escrevam dois bilhetes: um para o
colega, pedindo que lhe empreste o caderno para copiar o conteúdo visto durante a
sua ausência, e outro para o professor, justificando a sua falta. Com essa atividade,
os alunos vão percebendo que, dependendo do texto que tem que produzir, eles vão
utilizar estratégias diferentes. Nesse caso, o bilhete enviado ao colega vai
caracterizar-se por uma linguagem mais informal, podendo ser utilizada a linguagem
que seja comum à sua convivência. Já o bilhete enviado ao professor será
caracterizado por uma linguagem mais cuidada.
Em outra situação, se esses alunos forem solicitados a produzirem textos
persuasivos eles também sentirão a necessidade do uso de estratégias
diferenciadas, por exemplo, para criar um texto publicitário destinado a um público
jovem, adolescente e outro destinado a um público adulto. Além do nível de
linguagem, esses textos também exigirão recursos visuais diferentes.
Há um grande número de atividades que podem ser exploradas pelo
professor, abordando a concepção e a produção de textos; atividades estas
inseridas numa situação comunicativa.

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Trabalhando desse modo, o professor estará efetivamente, colaborando


para que os alunos desenvolvam e estruturem sua competência
comunicativa, tornando-se aptos a usarem melhor sua língua “não apenas
como aperfeiçoamento de tipo estrutural, de correção de estruturas e
aquisição de estruturas novas, mas também, e sobretudo, como obtenção
de sucesso na adequação do ato verbal às situações de comunicação”. E,
por conseguinte, usando melhor a língua, os alunos vão alcançar a “eficácia
na atuação social” e o “alargamento da integração esclarecida na práxis
social. (FONSECA, 1977, p. 153)

Deve-se refletir melhor sobre a relação leitor/escritor estabelecida entre


professor e aluno. O aluno não deve permanecer apenas como escritor e o professor
como o único leitor. Os textos deverão ser produzidos para destinatários
diversificados, muitas vezes imaginários até, levando-se em conta que, variando o
leitor, varia também a situação comunicativa e, em conseqüência, o tipo de texto. É
preciso também que o aluno seja um leitor crítico do seu próprio texto e dos textos
produzidos por seus colegas, que também lerão os textos por ele produzidos,
fazendo com que, no sistema educacional, efetivamente, de maneira co-participativa,
ler e escrever se constituam em duas forças de um mesmo processo cognitivo.
A escola é um dos espaços de construção social do conhecimento. A sala de
aula e outros ambientes são espaços privilegiados para a interação da linguagem
entre professor-aluno e pela escrita e leitura. A sala de aula é o lugar de
convergência do cognitivo, do social e da expressão pessoal na construção de redes
de conhecimento. A leitura é a atividade que propicia aprendizagem e interação de
novas informações aos conhecimentos e experiências anteriores na construção de
significados. A escrita e a produção de um texto escrito promovem uma relação
diferente com o pensamento. Fazem com que se organize, enriqueça ou reconstrua
um conceito anterior.
Para oportunizar o desenvolvimento das habilidades nos educandos, é
preciso repensar as práticas e rever alguns pontos, refletindo sobre o estilo das
aulas que são dadas no contexto escolar e percebendo a necessidade de priorizar o
aprender a conviver e o aprender a ser, fundamentais ao sujeito-cidadão.
Se refletirmos sobre a prática educativa, cada um criticamente, analisar os
avanços sobre as aprendizagens, significativas ou não, que são oportunizadas, ter-
se-á condições de revolucionar a educação e, a posteriori, a própria sociedade.

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São muitas as teorias e as idéias de grandes pensadores que visam à


melhoria das práticas educativas. Mas só com a capacidade de refletir sobre nossas
práticas pedagógicas e redimensioná-las será possível fazer surgir uma escola mais
atraente, com objetivos voltados para a formação de um cidadão crítico e
participativo, apostando na evolução do ser-sujeito. Refletir sobre nossas aulas é um
desafio, pois refletir é tomar posição, é avaliar, é avançar, é repensar as ações; é
desejar fazer melhor.
A escola propõe que a leitura seja um processo de interlocução entre
leitor/texto/autor, sendo o leitor aquele que busca significados. Por outro lado, é
necessário que os alunos estejam envolvidos com a escrita, que compartilhem seus
textos, que percebam a si mesmos e os outros.

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UNIDADE 6 – INTERAÇÃO: EDUCADOR, ALUNO, ESCOLA,


SOCIEDADE

As escolas estão vivendo momentos críticos, principalmente na questão da


(in)disciplina e da violência. Tal situação já persiste, e vem se agravando, há várias
décadas, como se pode acompanhar pelos estudos e pesquisas realizadas por
diversos autores. Pode-se dizer que é na escola, onde há uma grande diversidade
de classes, culturas, raças, religiões etc., que a maioria dos problemas são vividos e
agravados, principalmente em decorrência da turbulência das constantes
transformações que a sociedade vêm sofrendo.

Histórias de crianças com dramas de vida profundos, como pais que as


espancam e brigam entre si, alcoolismo, fome, batidas policiais, ou são
muito permissivos, e os filhos se tornam tiranos, egoístas, impopulares e
voluntariosos, ou são excessivamente autoritários e punidores, gerando
assim indivíduos submissos, obedientes demais e sem personalidade,
dentre outras, povoam o universo das escolas. (AQUINO, 1996, p. 34)

Os alunos que hoje ingressam nas escolas são filhos das novas famílias,
aquelas que estão submetidas à desunião e à recomposição, que vivem em um
ambiente de tensão e dificuldade. E os educadores, a escola e a comunidade
acabam vivendo diretamente os conflitos gerados a partir dessa desestruturação.
Estamos diante de novos desafios na vida em sociedade e na educação
especificamente, e a violência, tanto na família, quanto nas instituições educativas e
na própria comunidade é uma constante. Vivemos numa sociedade submetida a
mudanças vertiginosas, em que diversas situações contrapõem às regras familiares
que facilmente produzem grandes instabilidades, gerando, sobretudo, novos
contextos e conflitos. E as escolas não ficam de fora, ao contrário. Nem sempre a
violência do aluno tem origens na família ou apenas nela. Às vezes ela está na
própria escola.

Alguns focos de violência já são conhecidos: a reprovação, os rótulos, os


preconceitos, a indiferença dos adultos frente aos problemas, a
desvalorização de suas experiências sociais e culturais, a não confiança em
seu potencial, dentre outras, são causas de indisciplina e violência geradas
em instituições educacionais. (KUPSTAS, 2001, p. 27)

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Acredita-se que a escola tem um papel educativo junto às famílias, pois


confiança, igualdade e trabalho coletivo devem permear o trabalho do professor na
superação dos problemas de indisciplina na escola.
Como instituição formadora, a escola precisa rever sua organização e
juntamente com a família e outras instituições sociais responsáveis pela formação do
cidadão, construir novas alternativas que minimizem os problemas sociais que vem
causando violência e outros problemas em sociedade.

O mal da educação atual não seria apenas um mas dois, pois acrescenta
aos problemas de aprendizagem a denominada indisciplina escolar.
Questão que se apresenta com uma série de produtos bastante díspares
que vão desde os desentendimentos mais corriqueiros a extremas
agressões físicas. Em várias situações, vários lugares e por fatores diversos
presencia-se atos de violência e indisciplina. (Lajonquière, 1996 p. 25),

Impor limites não é uma tarefa fácil, principalmente se levarmos em


consideração o atual momento de profundas e rápidas transformações. Porém é de
extrema importância para o aluno reconhecer e aceitar as regras e os limites, apesar
de se constituir numa das mais difíceis, não pode ser encarada como impossível. A
ausência de limites acarreta desrespeito, violência e indisciplina.

A indisciplina produz efeitos negativos no aproveitamento escolar e na


socialização dos alunos. Esses efeitos negativos exercem também sobre o
professor, provocando desgastes físico, psicológico, ansiedade, fadiga,
tensão, perda de eficácia educativa, diminuição de auto estima, sentimento
de frustração e desânimo e stress. (KUPSTAS, 2001, p.31)

A disciplina é importante em todos os tipos de organização. Na escola, tendo


em vista suas finalidades educativas e sociais, torna-se importante que pais e
educadores saibam exatamente o que consideram fundamental para seus filhos/
alunos, com diálogo, respeito e companheirismo, também outras formas essenciais
para o desenvolvimento satisfatório tanto disciplinar quanto educativo.

A questão da disciplina é bastante complexa, uma vez que um grande


número de variáveis influenciam o processo de ensino-aprendizagem. No
entanto, apesar dessa complexidade, a verdade é que há um consenso
sobre o fato de que sem disciplina não se pode fazer nenhum trabalho
pedagógico significativo. (Cortez, 2003, p. 52)

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Torna-se importante ressaltar que educar implica sempre a necessidade de


limitar, de dizer não, de negar, e o ponto de partida para essa ação deve se basear
em respeito, tolerância, solidariedade, atitudes que estão cada vez mais perdendo a
credibilidade, devido à busca incessante pelo poder e pelo individualismo.
A qualidade do ensino depende, em grande parte, do modo pelo qual é
enfocado o processo de condução das atividades que se desenvolvem em sala de
aula, pois ali não é somente o lugar onde se realiza o processo de ensino-
aprendizagem, é também o lugar que traz sempre o momento oportuno para se
desenvolver e promover valores humanos. E como se trata de pessoas em
formação, é preciso estabelecer relações que estimulem e favoreçam o
desenvolvimento dos alunos. A primeira e mais fundamental norma para o professor
é tratar seus alunos com estima e respeito, conhecendo-os, valorizando-os e
partindo de suas realidades visto que assim o profissional da educação poderá obter
mais sucesso em seu trabalho.

Para estar em condições de educar, o professor precisa estabelecer


relações cordiais e afetuosas com seus alunos; criar um ambiente
estimulante de compreensão e colaboração, usando atitudes amistosas e
pacientes com todos os alunos sem distinção. (LIBÂNEO, 1993, p. 21)

Neste ambiente de cordialidade que deve envolver as relações professor-


aluno, não deve haver espaço para palavras ou mesmo gestos pejorativos; nem que
se ridicularize um aluno perante seus companheiros, ou haja impaciência com
relação ao seu “erro”; nem para ameaças ou concessão de privilégios; ou para a
ação que não aceita que os alunos tenham direitos a justificativas, ou ainda a
utilização de sanções para estimular aprendizagens.
Diante da indisciplina, muitas vezes a família e os educadores deixam de
aproveitar a oportunidade para conhecer e orientar os alunos, para puni-los.

A punição não educa. Ela apenas reprime a manifestação de uma conduta


considerada indesejável, mas não a modifica. Pelo contrário, pode até
agravá-la. Assim os limites necessários à formação de uma criança devem
acontecer com a intenção de educá-la e não puni-la. E para isso é preciso
ser justos, firmes e amorosos. E é importante que ela compreenda o motivo
pelo qual está sendo repreendida. (Cortez, 2003, p.55)

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O dilema atual não é educar com punição, mas realizar uma educação em
que o aluno aprenda com amor, com respeito a si próprio e à autoridade do
professor que o educa. E isso é fundamental, principalmente nos dias de hoje, em
que a violência interfere em grande parte na aprendizagem formal dos alunos. A
disciplina e as regras são fundamentais em todo o desenvolvimento da criança e
assim essenciais na escola e na comunidade na qual a criança está inserida. A
família e a escola devem desenvolver condições que propiciem a formação integral
do aluno, com vistas ao seu desenvolvimento harmônico e íntegro.
A convivência é hoje uma das maiores preocupações de todos e é
provavelmente um dos desafios mais importantes para a humanidade. As
dificuldades para o entendimento e para a resolução de conflitos de convivência são
sinais preocupantes para que um desenvolvimento social com base na justiça e no
respeito mútuo aconteça de forma satisfatória e tranqüila.
A escola não é mais considerada como um lugar seguro de integração social.
Ela não representa mais um espaço resguardado, pois o espaço escolar tornou-se
um cenário de ocorrências violentas e indisciplinares.
Toda a sociedade, inclusive a comunidade educacional, precisa reconhecer a
necessidade urgente de prevenção e erradicação da violência nas escolas para que
a aprendizagem ocorra de forma tranqüila e satisfatória.
Os professores, também, precisam dispor de uma convivência agradável e de
paz. Fazer campanhas, criar projetos e demonstrar sempre muito prazer em estar
participando da construção do conhecimento do outro.
É necessário que a sala de aula se firme como espaço público, lugar de
reprodução e produção das realizações coletivas e exercício permanente de si
próprio. A educação é essa atividade formadora de si mesmo e campo de inscrição
de novas formas de existências. Portanto não se pode pensar a educação fora do
domínio da ética, da moral, da disciplina, pois é dentro delas que devemos viver,
conviver e criar um mundo novo, onde todos têm direitos e deveres iguais.
É preciso que as escolas revejam seus métodos e suas organizações,
construindo regras simples e claras de procedimentos e convivência, para que a
tranquilidade, a paz e as condições de aprender e de ensinar sejam realmente
efetivadas.

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UNIDADE 7 – CONCLUSÃO

Diante do exposto no decorrer deste material, vale ressaltar que certamente


os educadores têm sentido a necessidade de alterações no métodos utilizados para
desenvolver os trabalhos relativos ao ensino da Língua Portuguesa, embora
estejamos, ainda, começando a agir de maneira a ressignificar a prática educativa.
Muito se discute na atualidade a respeito da importância de se repensar as
práticas pedagógicas para enfrentar os desafios provenientes da globalização, da
revolução nas tecnologias de comunicação e informação, e do encaminhamento
para uma sociedade interdependente. Nesse contexto, exige-se da educação um
trabalho cada vez mais especializado no que tange à formação de indivíduos
capazes de exercer a cidadania.
Na perspectiva sócio-interacionista, o ensino é uma aplicação de princípios
que permite ao aluno responder às necessidades e limitações das situações em que
se encontra. A compreensão acontece por meio da utilização contínua e
contextualizada dos conhecimentos. Deste modo a situação de aprendizagem deve
promover o manuseio de conhecimentos das diversas áreas, com vistas ao
multiculturalismo. Já que o conhecimento é construído ativamente, e de acordo com
experiências vivenciadas ao longo da vida, deve-se transformar a prática educativa
num caminho que não é restrito somente à escola, ou melhor, à parte dela.
Sendo assim a escola torna-se um agente primordial na formação de
conceitos sólidos e úteis na vida de alunos que no futuro saberão utilizar os
conhecimentos adquiridos com a finalidade de alcançar uma melhor qualidade de
vida. O sucesso de tal formação, no entanto, depende do bom andamento do
processo de ensino-aprendizagem, que aqui foi discutido no sentido amplo e com
uma revisão de literatura que embasa toda a reflexão que se fez necessária.
Do modo como Vigotsky concebia, em nossa sociedade, a escola é uma
instituição encarregada de possibilitar o contato sistemático e intenso das crianças,
dos alunos quero dizer, com o sitstema de leitura e escrita, com os sitemas de
contagem e de mensuração, com os conhecimentos acumulados e organizados
pelas diversas disciplinas científicas, com os modos como esse tipo de
conhecimento é elaborado e com alguns dos variados instrumentos de que essas

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ciências se utilizam. Cabe, agora, aos educadores de Língua Portuguesa agir


segundo as propostas de inovar, no que diz respeito à valorização do sujeito que
participa ativamente do processo de ensino-aprendizagem; isto pode ser iniciado
com as novas tendências e metodologias no ensino da língua materna.
É sabido, então, que o ensino de língua portuguesa na escola tem sido o
cerne da discussão quanto aos problemas da educação no Brasil, uma vez que o
mau desempenho escolar verifica-se através das dificuldades dos alunos em relação
à leitura e à escrita.
Os recursos didáticos ocupam espaço fundamental no processo de
escolarização dos sujeitos, uma vez que, encontram-se disseminados no meio
escolar e muitas vezes constituem-se no único material (didático) acessível aos
alunos. Verifica-se que sob o aspecto de ensino de gramática, o livro didático
costuma abordar noções e classificações gramaticais, sem, contudo, estabelecer um
veículo direto com as habilidades de leitura e produção de textos. Em boa parte dos
livros didáticos, por exemplo, a gramática é vista como um fim em si mesma, o que
reflete uma postura ainda bastante comum entre os professores, o que leva mais
uma vez ressaltar a necessidade de ressignificação das práticas e metodologias.
Sabe-se, portanto, que os livros didáticos costumam refletir crenças e
convicções do sistema educacional vigente, e se estas forem modificadas,
certamente, os manuais didáticos também mudarão. A Educação grita por
mudanças; que os educadores atentem para o fato de que permanecer no campo da
repetição de noções e classificações não irá desenvolver habilidades lingüísticas
nem a capacidade crítica do aluno. Essa é uma responsabilidade da escola,
especialmente no ensino da Língua Portuguesa.

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