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2021

JOSÉ CARLOS MUNIZ


- pesquisa -

REGISTROS DO LINGUAJAR CAIÇARA

GUARAQUEÇABA/PR
2021
Idealização e Pesquisa: Profº. Me. Zé Muniz (José Carlos Muniz).

Co-autoria - Consultoria - Colaboradores Caiçaras: Aorélio Domingues e Edson Afonso


Domingues “Taquinha” (Paranaguá/PR), José Hipólito Muniz (Guaraqueçaba/PR), Mário
Ricardo de Oliveira “Mário Gato” (Ubatuba/SP) e Cleiton do Prado (Iguape/SP).

Capa: Jhon Bermond (<contato@jhonbermond.com>).

Revisão: Willian Dolberth e Karina da Silva Coelho.

Texto de Apresentação: Profª. Dra. Patrícia Martins.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação

Muniz, José Carlos


Falas do mar e do mato: registros do linguajar caiçara / José Carlos
Muniz, Aorélio Domingues, Cleiton do Prado, José Hipólito Muniz, Mário
Ricardo de Oliveira, Edson Afonso Domingues. -- Guaraqueçaba: edição
do autor, 2021.

il. ; ePUB

Bibliografia.
ISBN 978-65-00-18012-1

1. Comunidades tradicionais. 2. Cultura caiçara. 3. Linguagem típica.


4. Vocabulário. I. Domingues, Aorélio. II. Prado, Cleiton. III. Muniz, José
Hipólito. IV. Oliveira, Mário Ricardo de. V. Domingues, Edson. VI. Título.

CDD: 305.8
Ficha Catalográfica elaborada por Márcio Paulo Ferreira Bibliotecário CRB 9-1800

_______________________________________________________________
permitida reprodução parcial ou total desde que citada a fonte
Ao povo DE DANTES
do norte e do sul,
do mar e do mato, que
mesmo na oralidade
soube nos deixar este rico legado
– a cultura caiçara.

I
AGRADECIMENTOS

Este material tem muitos co-autores e colaboradores.


De modo especial aos meus familiares, Célio Muniz, Edenildo Muniz, Rita Muniz da
Silva e Marcos Maceno, Rosemere Muniz de Carvalho, Suelen Muniz, Ana Muniz Viana e
Everaldo Nascimento Viana; todos quanto de uma forma ou de outra contribuíram para
esta pesquisa, com sincero reconhecimento e em especial agradecimento a Marcelinho
José Mendonça, Aurélio Duarte Gasparini Jr, Profº. Otoniel Pedro, Angélica Constantino
Lopes, Valdecir ‘Cirzinho’ Borget, Manassés Neto, Lincon Paiva Xavier, Yohana Proença,
Evelyn Muniz Viana Rita, Andressa Benetti e Joanil Gonçalves ‘Jr Negão’, José ‘Zezé’
Manoel Nascimento e seus amigos informantes Amilton Corrêa Gomes, Eginaldo Corrêa e
Leonel Corrêa, (de Guaraqueçaba/PR); Edina Santana Muniz (de Barra de Ararapira);
Profº. Elias e Profº. Leonardo das Dores (de Tibicanga); Wagner Muniz, Herbert Cardoso
dos Santos e Roger dos Santos (de Superagui); Eloir Ribeiro de Jesus ‘Poro’, Marcela
Bettega, Profª. Flaviele Carvalho, Paulo Wistuba, Edvaldo de Oliveira ‘Vaca’ e Bruno de
Oliveira, Elisson Domingues, Mauren Ferreira Lopes, André Maurício de Aguiar Marques,
Roseli Rosa e Grupo (watszapp) do Curso de História (turma 2008); Romildo do Rosário
(de Vila São Miguel, na baía de Paranaguá); Natanael ‘Natã’ (de Morretes/PR); Joaquim
Pires (de Cananéia/SP); Profº. Zé Ronaldo dos Santos, Rogério Estevenel, Robson
Fernandes ‘Robinho’, Peola Maria Barbosa, Manoel Moisés “Mestre Néco”, Ezequiel dos
Santos e Cida Eustáquio (de Ubatuba/SP); Edson Leopoldo dos Santos “Edinho” (da
Praia de Almada-Ubatuba/SP), Jorge Inocêncio Alves Jr “Juninho” (de Ubatumirim-
Ubatuba/SP); Anderson do Prado Carneiro, Rodolfo Monteiro ‘Cajú’, Erli Teresinha
Carneiro e Camila Zwarg de Oliveira Ramos (de Iguape/SP); Maurício de Lima e Ciro
Xavier Martins (de Peruíbe/SP); Flávio da Conceição (da Praia do Sono-Paraty/RJ);
Fernando Alcântara (Paraty/RJ), Catarina Apolinário de Souza (Santos/SP); Alexandre
Marcos Líbano de Oliveira (de Toque-toque-São Sebastião/SP), Ari Giordani e Greice
Barros, Márcio Paulo Ferreira e Luciana Martins.
À Aorélio Domingues e Edson Afonso Domingues “Taquinha”, ambos de
Paranaguá/PR, Mário Ricardo de Oliveira “Mário Gato”, de Ubatuba/SP, Cleiton do Prado,
de Iguape/SP, e papai José Hipólito Muniz, de Guaraqueçaba/PR, que previamente
receberam uma cópia da pesquisa enriquecendo-a com suas contribuições; também à
Karina Coelho, William Dolberth e Patrícia Martins pelas correções e acréscimos.

II
“ESTRANGEIRISMO”

Eu gostaria de falar com o presidente

pra cuidar melhor da gente que vive neste país

nossa gramática está tão dividida

tem gente falando happy, pensando que é feliz.

Acabaria com esse tal estrangeirismo

que deturpa nossa língua, e muda tudo de uma vez

e os mendigos que hoje vivem nas calçadas

ensinariam ao brasileiro, que aqui se fala português.

Sou simples, sou composto, oculto indeterminado

particípio, eu sou gerúndio, sou fonema sim, senhor

adjetivo, predicado, eu sou sujeito

ainda trago no meu peito, este país com muito amor.

Composição1: Carlos Silva / Sandra Regina.

1
Disponível visualização no endereço <https://www.youtube.com/watch?v=lx3ihWnomik>.

III
SUMÁRIO

DEDICATÓRIA: _________________________________________________________ I
AGRADECIMENTOS: ____________________________________________________ II
ESTRANGEIRISMO (epígrafe): ____________________________________________ III
APRESENTAÇÃO (Profª. Dra. Patrícia Martins): _________________________________ V
COMO TUDO ISSO SURGIU: ______________________________________________ 1
QUAL LÍNGUA MESMO SE FALA NESSE IMENSO BRASIL? ___________________ 3
CONTRIBUIÇÕES PARA UM DICIONÁRIO CAIÇARA? _________________________ 7
A: ___________________________________________________________________ 18
B: ___________________________________________________________________ 29
C: ___________________________________________________________________ 41
D: ___________________________________________________________________ 59
E: ___________________________________________________________________ 64
F: ___________________________________________________________________ 71
G: ___________________________________________________________________ 77
H: ___________________________________________________________________ 82
I: ____________________________________________________________________ 83
J: ___________________________________________________________________ 86
L: ___________________________________________________________________ 89
M: ___________________________________________________________________ 92
N: __________________________________________________________________ 101
O: __________________________________________________________________ 102
P: __________________________________________________________________ 103
Q: __________________________________________________________________ 116
R: __________________________________________________________________ 118
S: __________________________________________________________________ 124
T: __________________________________________________________________ 132
U: __________________________________________________________________ 139
V: __________________________________________________________________ 140
X: __________________________________________________________________ 143
Z: __________________________________________________________________ 144
CRÉDITO DAS IMAGENS: ______________________________________________ 145
SUGESTÕES DE ATIVIDADES: __________________________________________ 146
BIOGRAFIA: _________________________________________________________ 162

IV
FALARES CAIÇARAS: a língua como suporte do patrimônio imaterial

Profª. Dra. Patrícia Martins2.

Inseridas em contextos culturais específicos, as línguas adquirem usos,


expressões e significados sociais diferenciados; garantem a transmissão e a reprodução
de conhecimentos e saberes através da oralidade; colaboram, significativamente, na
construção da identidade social; expressam códigos, a história, a memória, as
representações e a cosmovisão de um povo. Ou seja, as línguas representam um
específico tipo de saber, onde são expressas as particularidades socioculturais de cada
povo. Para além desses valores, cabe destacar que as línguas possuem também,
especificidades gramaticais e estruturais, e estão agrupadas em famílias e troncos
lingüísticos.
Como patrimônio imaterial, as línguas são alvo de um conjunto de leis, no
âmbito internacional e nacional, que garantem aos seus falantes, direitos de uso e
salvaguarda, assegurados pelo Estado através de ações e políticas públicas.
Considerando esses valores atribuídos às línguas, tanto pelo Estado e, principalmente,
pelas comunidades lingüísticas, registramos a importância do presente trabalho produzido
pelo historiador caiçara José Muniz, intitulado “Falas do mar e do mato: registros do
linguajar caiçara”. Certamente esta produção vêm a contribuir para a valorização e
salvaguarda de um acervo linguístico tão vasto e rico expresso nos falares desta
população, revelando-se os diferentes significados, os contextos e os usos sociais que a
população caiçara imprime às suas línguas.
Reconhecendo a importância da língua para transmissão de saberes,
reprodução de conhecimentos, como forma de elaboração de códigos específicos,
construção e legitimação das identidades, trazer a tona esse importante material, fruto de
uma extensa pesquisa e de uma longa vivência, torna-se fundamental, para que as
próximas gerações compreendam a riqueza contida em seus falares.
Na medida em que o uso da língua diminui, com a redução de suas funções
expressivas e comunicativas, ela empobrece em sua riqueza e complexidade: cantos e
narrativas são esquecidos, palavras são perdidas, propriedades morfológicas e
gramaticais desaparecem. Elementos que por si só justificam a ampla divulgação desta
obra, para transmissão de saberes, para promoção do reconhecimento, a valorização e a

2
Antropóloga, docente do IFPR Campus Paranaguá.

V
salvaguarda da língua enquanto patrimônio imaterial, sensibilizando atores sociais,
agentes educacionais, formadores de opinião pública, instituições públicas e comunidade
em geral.

Falares em Performance

Em minhas pesquisas, os falares caiçaras com os quais eu estava envolvida,


diziam sobre o repertório de cantos, versos e os textos musicados caiçaras, ou seja, a
palavra cantada. Neste terreno, evidenciava-se que os falares são acompanhados de uma
determinada performance provinda do sujeito da fala.
A partir da criação dos versos, encontramos uma espécie de contextualidade,
onde se relacionam dimensões verbais (poéticas) e sonoras, que se aliam a palavra
cantada. A experiência da construção desta poética é construída pela combinação da
palavra cantada com outras formas expressivas e seus meios de comunicação. Assim, os
gestos, as posturas e as atitudes corporais, os deslocamentos no espaço e a execução de
artefatos musicais, ao lado dos aspectos vocais e orais, são constitutivos do canto como
um evento comunicacional.
A etnomusicóloga Kilza Setti, em seu clássico trabalho sobre a produção
musical caiçara já apontava “o músico, ao cantar, é o porta voz de sua época e de sua
comunidade” (1985, p. 61). Portanto seus versos e seus falares se amplificam seja no
ambiente da fé, festa ou trabalho.

Pra cantar e trovar versos Eu sou filho de bom pai


Só de Deus eu tenho medo Neto de bom coração
Eu tenho verso estudado Quando quero canta verso
Em todas juntas dos dedo Tiro da palma da mão

No fandango, sobretudo, as letras estão imbuídas de fortes percepções do


ambiente, juntamente com aspectos de seus cotidianos e temas envolvendo sentimentos,
emoções e afetos de ordem subjetiva. Além disso, o próprio processo de bricolage que
ocorre na composição das letras, onde recortes e trechos de autorias variadas vão se
misturando no trânsito destes versos entre tempo e espaços diferenciados, demonstra o
aspecto relacional e multiagentivo da de uma específica criação/criatividade no fandango.

VI
A imensa diversidade de versos e de suas respectivas performances em
bailes de fandango compõem em um grande mosaico de tocadores, dançadores,
personagens, falas e imagens que vão se transformando à medida em que são
experenciados nas situações em relevo, sendo necessário vê-los neste pleno movimento.
Isto porque a prática de tocar, ouvir e dançar o fandango nesta região está inserida num
complexo contexto polifônico onde o ressoar dessas várias ―vozes/falares representa a
vitalidade de uma tradição que é recriada dia após dia.
A performance está profundamente ligada ao que se considera por
vocalidade, recitada ou cantada, partindo de um modelo que é o da oralidade. Portanto a
centralidade das oralidades para as culturas tradicionais nos remete aos falares em
performance. É justamente a corporeidade – o peso, o calor, o volume real do corpo, do
qual a voz é expansão, que se estabelece como característica da vocalidade e elemento
essencial a toda performance.
Quero ressaltar aqui que a compreensão destes falares, deve estar
relacionada em seu relativo contexto, destacando-se a centralidade do corpo para a
produção e reprodução da socialidade caiçara. Momento de recriação, de reafirmação
identitária, de conhecimento, de memória e de política, os falares caiçaras são suporte de
um patrimônio cultural inestimável. O trabalho do pesquisador José Muniz joga luz a esse
acervo riquíssimo em formato de linguajares, vozes que ecoam, expressões que marcam
suas lutas, dialetos que carregam história e ancestralidade. Estimular projetos como esse
que aqui se apresenta, é também estimular a valorização e salvaguarda das línguas como
patrimônio cultural imaterial.

Referências Bibliográficas

BAUMANN, Richard; BRIGGS, Charles. ―Poética e performance como perpectivas críticas sobre
a linguagem e a vida social. Ilha Revista de Antropologia, Florianópolis: UFSC, v. 8, n. 1-2, 2008.

MARTINS, Patricia. PELAS CORDAS DA VIOLA, NAS CURVAS DA RABECA: UMA


ETNOGRAFIA DOS MOVIMENTOS DE FAZER. MUSICAL CAIÇARA. Tese submetida ao
Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social. Santa Catarina: UFSC, 2018.

SETTI, Kilza. Ubatuba nos cantos das praias: estudo do caiçara paulista e de sua produção
musical. São Paulo: Ática, 1985.

ZUMTHOR, Paul. Introdução à poesia oral. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2010.

VII
Como surgiu tudo isso...

Faz tempo. Mas a ideia ficou guardadinha na cachola. Corria o ano de 1993 e como
fazia com outras características da cultura caiçara, amontoavam-se papéis, folders,
recortes de jornais, anotações e manuscritos de informações, curiosidades que ouvíamos
pela vizinhança. E o registro de palavras ‘engraçadas’ começou assim também.
“Sempre se anotava alguma coisinha”. Retornando de alguma ida pelas
comunidades, de algum Fandango Caiçara ou mesmo depois de um cafézinho ou outro
pelas redondezas e vizinhança, sempre resultava em algumas linhas de anotações, ou
melhor dizendo, algumas palavrinhas a mais, a somar na pesquisa já meio adormecida.
O tempo passou; surgiram em nosso território outros registros do linguajar caiçara e
eis que chega 2019, ano que resurge a ideia de transformar o amontoado de palavras em
um material acessível e disponibilizado ao máximo possível de pessoas. E mãos a obra.

Esquerda - convite à contribuições compartilhado nas redes sociais em janeiro de 2020; Direita -
anotações de Aorélio Domingues para o seu ‘Novo Dicionário Aorélio da Língua Caiçara’.

Nessa retomada, fazendo uso de tecnologia e integrando grupos sociais de cultura


caiçara (mestres do Fandango Caiçara, Circuito do Fandango Caiçara, Coordenação
Nacional de Comunidades Tradicionais Caiçaras, professores e pesquisadores, dentre
outros), com membros do Rio de Janeiro, de São Paulo e de nosso estado, abrimos a
possibilidade, em 2020, de receber contribuições destes caiçaras com palavras de seu
dia-a-dia, assim como recebemos de familiares, amigos e ainda de terceiros que a
mensagem atingiu, via rede social (e-mail ou whatsapp). E não é que deu certo?
Em menos de quinze dias de compartilhamentos foram cerca de 50 caiçaras do Rio
de Janeiro, de São Paulo e do Paraná, contribuindo diretamente (e alguns destes ainda
repassaram contribuições de terceiros) com mais de 400 palavras recebidas via Rede

-1-
Social, acrescidos de 27 contribuições do Profº Leonardo Matias das Dores, caiçara da
comunidade de Tibicanga/Guaraqueçaba-PR que já havia feito uma atividade escolar
acerca desta temática, além de aproximadamente 150 palavras já anotadas para o ‘Novo
Dicionário Aorélio da Língua Caiçara’, obra pretendida por Aorélio Domingues, caiçara,
fandangueiro, construtor de instrumentos artesanais e mestre da Romaria do Divino
Espírito Santo.

Em Paranaguá, no ano de 2004, a artista Sônia Gutierrez havia produzido Caboclos


e Caiçaras, uma publicação contendo “ditados/quadrinhas/provérbios populares do litoral
paranaense”; na Vila São Miguel3, antigamente conhecida como Saco de Tambarutaca,
durante um curso de turismo em que a comunidade participava, perceberam a dificuldade
da ministrante, “de fora”, em compreender certos vocábulos que por ali falavam. Surgiu a
ideia, seguida de registros, lançaram a pesquisa - Dicionário Tambarutaquense.

A preocupação agora era o que fazer com este trabalho que se avolumava. Surgiram
infinitas ideias. Frases, provérbios, apelidos, receitas, remédios do mato, imagens e
desenhos somando e enriquecendo a pesquisa “Falas do Mar e do Mato”. Uma ideia que
floresceu, fazendo brotar um novo capítulo, foi pensar sua utilização em sala de aula.
A oferta da modalidade Educação do Campo já é realidade em nosso território e
esta pesquisa vêm de encontro com os eixos temáticos da diversidade educacional e do
respeito à cultura caiçara. Portanto, acrescentamos ao final atividades com esta finalidade
educacional, uma forma também, da pesquisa trazer um retorno às comunidades.

Importante! Esta pesquisa não teve por função o neologismo, ou seja, não pretendeu
registrar ‘novas’ palavras ainda não dicionarizadas para a Língua Portuguesa, até porque
muitas aqui registradas, obviamente constam em nosso dicionário oficial.
Sua função foi reunir palavras e expressões utilizadas no dia-a-dia caiçara, algumas
dicionarizadas, outras não; algumas de um português arcaico e pouco usual, outras tão
somente faladas em nossa região caiçara (inclusive ao final há uma atividade propondo
esta identificação), uma espécie de glossário do cotidiano caiçara.

Zé Muniz – pesquisador.

3
Em Paranaguá fora divulgado nos anos 2000 pelas mídias a poesia “Aqui se fala Bagrinhês”, autoria de Alexandre Santana e
interpretação de Carine Nunes, exaltando o “bagrinhês”, ou seja, o modo de falar do parnanguara.

-2-
QUAL LÍNGUA MESMO SE FALA NESTE IMENSO BRASIL?

Nos primeiros contatos durante a colonização portuguesa nestas terras, os ádvenas


que neste solo desembarcaram de imediato perceberam um entrave na aproximação, na
comunicação e no entendimento entre os nativos e os conquistadores: a língua.
Pindorama ou Brasil, ainda quinhentista, quando invadido, possuía
aproximadamente uma população de 5 milhões de nativos, das mais diversas etnias,
falantes, acredita-se, de cerca de 1.300 línguas diferentes.
O cronista português Pero de Magalhães Gândavo, em 1576, relata a maneira
‘desordenada’ que viviam os povos indígenas e, a partir da observação das línguas
nativas faladas na costa brasileira, com estranhamento à sua cultura, postula que, “não se
acha nela F, nem L, nem R”, portanto conclui com espanto que aqueles povos “não têm
Fé, nem Lei, nem Rei”.
Idiomas e dialetos diferentes eram uma síntese da variedade linguística encontrada
pelos Padres da Companhia de Jesus, tão logo começaram sua missão de evangelização
nas terras do Brasil, a partir de 1549, quando iniciam também observações e estudos
tentando entender as línguas nativas e utilizá-las como ferramenta de sua catequização.
Bessa-Freire (2008, pg.136) relata o caso descrito pelo Padre Serafim Leite, quando
aproximadamente trezentas crianças, vindas de um orfanato em Portugal, foram soltas
nas aldeias da Bahia, com o propósito de ensinarem o português aos indígenas e o
resultado, um ano depois, todas elas falavam a Língua Geral, pois “quase tudo aqui
estava codificado em línguas indígenas: as brincadeiras, os animais, as plantas, os
peixes, os pássaros, os rios, as montanhas”; ao contrário do esperado, nenhum indígena
falava o português.
Então, a unidade possível entre esta diversidade toda era a língua brasílica ou o
Tupi Antigo, que se estendia em quase todo território brasileiro, excetuando-se regiões
onde se falava o Guarani. Seus ramos se difundiram pelo sul e sudeste como a Língua
Geral Paulista e, noutro broto, a Língua Geral Amazônica, sendo esta mais conhecida
como Nheengatu.
Figura primordial nesse assunto foi o Padre José de Anchieta (1534-1597). O
“Apóstolo do Brasil” (Beatificado em 2014 pela Igreja Católica), desembarcado nestas
terras em 1533, um dos jesuítas responsáveis pela escrita da Língua Geral – Nheengatu –
tendo como base a pronúncia e vocabulário Tupi e como referência o alfabeto latino e
regras da língua portuguesa, conhecimento este utilizado na escrita de seus poemas

-3-
sacros, princípio da literatura brasileira, tendo ainda publicado, em 1549, a primeira
escrita de gramática - Artes de Gramática da Língua Mais usada na Costa do Brasil.
Da família linguística Tupi-Guarani, traduzida como “Língua Boa” e conhecido como
“Língua Geral”, o Nheengatu foi falado em todo território, inclusive por brancos. Alguns
ainda, dominavam apenas esta que chega a ser orientada seu aprendizado e
conhecimento como premissa aos que aqui desembarcariam, principalmente aos padres,
tendo por base os estudos de Anchieta e, nesse sentido, em 1621, em Lisboa, o Padre
Luíz Figueira publica Arte de Grammatica da Língua Brasília4.

Há de se salientar a vinda de aproximadamente 4 milhões de negros africanos


escravizados, do século XVI ao XIX, oriundos de distintas regiões daquele continente.
Acredita-se, mais de 200 línguas nativas africanas, originárias de duas áreas: oeste-
africana e banto, somaram-se à diversidade linguística encontrada nas terras do Brasil.
Conforme Lucchesi (2008, pg. 172), estas línguas foram vítimas da repressão social
declarada, onde a
comunicação dos escravos e seus descendentes em língua africana
foi se circunscrevendo a espaços sociais cada vez mais restritos: os
espaços de resistência dos terreiros, dos batuques e das cerimônias
religiosas. A redução das funções sociais de uso de uma língua
constitui o caminho mais rápido para o seu desaparecimento. Assim,
as línguas veiculares africanas no Brasil restringiram-se no século
XX a um conjunto de fórmulas rituais nos terreiros de candomblé.

De acordo com Mello (2008) as habilidades dos negros escravizados em relação à


língua portuguesa garantia certa superioridade em sua classificação: “Negro Boçal” -
aquele que não se expressava compreensivelmente; “Negro Ladino” - aquele que
demonstrava certo grau de proficiência, dominavam “um bem imaterial e altamente
valorizado”, conforme Mello (pg. 301).
O “desaparecimento das línguas africanas trazidas para o Brasil”, de acordo com
Lucchesi, “bem como de variedades crioulizadas delas derivadas reflete, portanto, um
longo e profundo processo de repressão cultural e simbólica a que foram submetidos os
africanos e seus descendentes” (2008, pg. 173).

Ainda no século XVIII, a Coroa Portuguesa sob o Reinado de Dom José I (1750-
1777) passa por inúmeras modificações e imposições feitas por Sebastião de Carvalho e
Melo (1699-1782), o I Ministro Marquês de Pombal. Uma destas é a expulsão da Cia. de

4
Disponível no site <https://digital.bbm.usp.br/bitstream/bbm/4887/1/006919_COMPLETO.pdf >.

-4-
Jesus das terras e domínios portugueses, em 1759; outra ação fora, um ano antes,
apresentada como base fundamental da civilidade, através do Diretório que se deve
observar nas povoações dos índios do Pará e Maranhão, de 17 de agosto, a proibição do
ensino da Língua Geral, chamada inclusive de “invenção diabólica”, entendida como
empecilho à difusão da língua portuguesa que começa a ser expandida em sua Colônia,
portanto, declarando a Língua Portuguesa como oficial do Brasil.
Tempos depois, acelerado pela acentuada imigração portuguesa que se deu após a
chegada da Família Real, em 1808, o Nheengatu entra em desuso e, com a Constituição
de 1824, onde a “instrução primária é gratuita a todos os cidadãos”, o ensino da língua
nacional e sua gramática se encontra garantido e com ele, as premissas da garantia da
unidade política do estado independente.
Para sucesso dessa lusofonização 5 e consolidação do português, foi necessário,
segundo Mello (2008), que “falantes das línguas indígenas e africanas, assim como seus
descendentes, pouco a pouco abandonassem suas primeiras línguas e adotassem o
português”, ou seja, “a morte das línguas africanas para cá transplantadas e o decréscimo
substancial do número de línguas indígenas ao lado do firme estabelecimento do
português como língua absolutamente majoritária” (pg.307).

Na ciência, alguns ainda pleiteiam seus estudos; na ficção, literatura, aparecem


personagens como Policarpo Quaresma, criação de Lima Barreto (1881-1922), e em seu
enredo “O triste fim de Policarpo Quaresma”, este nacionalista, entusiasta, estudante que
era da história do Brasil, trava luta, inclusive no Congresso Nacional, pela substituição do
idioma português “língua emprestada” pelo Tupi “língua oficial e nacional do povo
brasileiro”, na construção de um projeto de identidade nacional. É tido como louco.
Concomitantemente, cientistas estrangeiros fizeram pesquisas linguísticas no Brasil.
Um destes, o botânico Karl Friedrich Philipp Von Martius (1794-1868), também fez coleta
e estudos da língua falada no Brasil, acreditando ser urgente, “ao bem da nação
brasileira”, a restauração da civilização através da unificação linguística (1846).

5
A Língua Portuguesa é falada oficialmente hoje em 09 países entre Europa (Portugal) - África (São Tomé e Príncipe,
Moçambique, Guiné-Equatorial, Guiné-Bissau, Arquipélago de Cabo Verde, Angola) – América (Brasil) - Ásia (Timor-Leste),
figurando entre as 05 mais faladas do mundo, por mais de 260 milhões de pessoas; ainda por uma parte da população em
comunidades da Ásia como Macau (China) e Goa (Índia). Desde 2019 celebra-se, em 5 de maio, o Dia Mundial da Língua
Portuguesa (CPLP/UNESCO) e no Brasil, através da Lei nº. 11.310/2006 o Dia Nacional da Língua Portuguesa é celebrado no
dia 05 de novembro (em homenagem ao nascimento de Rui Barbosa).
Para saber mais visite a CPLP Comunidade dos Países de Língua Portuguesa <https://www.cplp.org/>.

-5-
Bessa-Freire (2008) já alertava que “são línguas que não têm tradição escrita e por
isso foram discriminadas”; evidenciando, acaso algum aluno se interesse em estudar
Latim ou Grego Antigo, vai encontrar cursos em qualquer universidade pública, enquanto
línguas indígenas não dispõem do mesmo privilégio. O Guarani, por exemplo, “é falado
em 100 municípios de 10 estados brasileiros. É falado na Argentina, Paraguai, Uruguai,
Brasil. E nenhuma universidade parou para dizer: nós queremos que seja ensinada esta
língua”, concluindo que “o país é plurilíngue, mas a universidade é monolíngue, a escola é
monolíngue, a mídia é monolíngue” (BESSA-FREIRE, 2008, pg. 143).

Na contemporaneidade, há iniciativas pela inclusão do idioma em cursos de


formação superior, alguns, inclusive, em curso, em diferentes localidades; recentemente
um registro raro da Língua Paulista - “Vocabulário elementar da Língua Geral Brasílica”,
com 1.311 entradas, escrito por José Joaquim Machado de Oliveira (1790-1867) fora
localizado em pesquisa.

Segundo o Censo do IBGE (2010), existem 274 línguas indígenas faladas por
indivíduos integrantes de 305 etnias diferentes, distribuídos em dois troncos linguísticos:
Tupi e Macro-Jê. Destes, cerca de 17,5% dos povos indígenas não falam o português. Há
ainda as línguas isoladas.

O Atlas de Línguas em Perigo (UNESCO)6, considera que no Brasil, levando em


consideração o número de falantes e os processos de transmissão, 190 línguas correm o
risco de serem extintas e o número chega a ser maior se considerarmos aquelas que
sequer entraram no estudo mencionado.
Uma das ações que visam promover o reconhecimento da diversidade linguística
como Patrimônio Cultural é o Inventário Nacional de Diversidade Linguística, realizado
pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), por meio da
identificação, documentação e ações de fomento.
Nessa política cultural, a língua Guarani Mbyá, em 2010, através do Decreto nº.
7.387, foi incluída no Inventário Nacional de Diversidade Linguística, que lhe conferiu o
título de Referência Cultural Brasileira.
O Nheengatu7 ainda é falado na bacia do Rio Negro, sendo, desde 2002,
reconhecido como idioma oficial da cidade amazonense de São Gabriel da Cachoeira.

6
Disponível no endereço <http://www.unesco.org/languages-atlas/index.php>.
7
Ouça um pouco da “Língua Indígena Nheengatu”: <https://www.youtube.com/watch?v=mKyUiaaFuks&t=12s>.

-6-
CONTRIBUIÇÕES PARA UM DICIONÁRIO CAIÇARA?

Historicamente, foi em 1789, após elaborado na Inglaterra, a publicação em Lisboa


do Diccionário da Lingua Portugueza, autoria do brasileiro Antônio de Moraes Silva, sendo
considerada o ‘primeiro monolíngue da língua portuguesa8’.
No condizente aos monolíngues brasileiros, surgem no século XIX, conforme Nunes
(2008, pg.353), porém, considerados ‘parciais’, servindo de complemento aos
portugueses, aos quais o autor cita: Braz da Costa Rubim (‘Vocabulário brasileiro para
servir de complemento aos dicionários da língua portuguesa’, de 1853), Antônio Álvares
Pereira Coruja (‘Coleção de vocábulos e frases usados na Província de São Pedro do Rio
Grande do Sul’, de 1852), Visconde de Beaurepaire Rohan (‘Dicionário de vocábulos
brasileiros’, de 1889) e Antônio Joaquim de Macedo Soares (‘Dicionário brasileiro da
língua portuguesa”, de 1888).
Já no século XX surgem os ‘dicionários gerais’, como de Laudelino Freire (‘Grande e
novíssimo dicionário da língua portuguesa’, de 1939-1944), Gustavo Barroso e
Hildebrando Lima (‘Pequeno dicionário brasileiro da língua portuguesa’, de 1938), e,
conforme Nunes (ibid.), se estabelecem “definitivamente nos anos 1960-1970, quando
substituem os dicionários portugueses, passando a ser mais utilizados que aqueles”.

Naquele primeiro momento dos anos 1930, de acordo com Nunes (2008, pg.360), o
dicionário clássico recusava termos populares, tratando-se “de uma representação elitista
da sociedade”, onde o “lexicógrafo tem como interlocutor um público letrado erudito e
produz uma imagem da língua dos clássicos, ao mesmo tempo em que evita as
discursividades “populares””, trazendo como exemplo, Laudelino Freire e a falta de
preocupação deste em distinguir regionalismo e provincianismo.
Conforme Freire (1939-1944. Apud. NUNES, 2008, pg.360/361):

No registro de gíria e de conversação, tive empenho em evitar as


corrutelas que conduzem a erros crassos ou se traduzem em
chulices, e em proscrever os barbarismos e solecismos que tanto
deprimoram e achincalham o idioma. Léxico não é portão de feira
franca, aberto a disparates de gíria, troças e plebeísmos de esquisa,
chulismos de mangalaça e pulhices desprezíveis, que se originam de
ignóbil corrução vocabular ou do instinto não menos grosseiro da
plebe – palavras que não são palavras e têm em regra existência
efêmera no giro flamejante das patuscadas e da patuléia .

8
Disponível no site: <https://www2.senado.leg.br/bdsf/handle/id/242523>.

-7-
A diversidade cultural encontrada no Brasil se apresenta também no ‘falar 9’.
O nascimento da Geografia Linguística e sua aceitação enquanto ciência contribuiu
para a preocupação em relação a situação brasileira e o mapeamento de seus ‘falares’,
procupação esta evidenciada formalmente no Congresso Internacional de Linguística
(Haia, 1928), donde o patrocínio para esta necessidade – Atlas Linguístico do Brasil - foi
solicitada junto ao Governo Federal.
Esta preocupação permeou as pesquisas não apenas de linguistas, mas também
interesse de etnólogos, antropólogos e historiadores, dentre outras áreas de
conhecimento que, para entender melhor seus objetos de estudo, objetivaram aprofundar,
ainda que sem os métodos linguísticos, o falar encontrado em suas regiões de pesquisa,
tendo por exemplo, conforme citado, em 1852 a publicação de regionalismos (Coleção de
vocábulos e frases usados na Província de São Pedro do Rio Grande do Sul).
Referência nesse tipo de registro, Amadeu Amaral, em 1920, publica O Dialeto
Caipira10, obra na qual apresenta 1.714 entradas de vocabulário, trazendo ainda a
constante preocupação ao seu desaparecimento, acreditando estar o ‘caipirismo’ às
margens do progresso, “acantoado em pequenas localidades que não acompanharam de
perto o movimento geral do progresso e subsiste, fora daí, na boca de pessoas idosas,
indelevelmente influenciadas pela antiga educação” (1920, pg.01) e sofrendo constantes
alterações devido às mudanças socioculturais advindas do comércio e as interações com
uma cultura urbana, das interações com a cultura dos imigrantes europeus,
principalmente, assim, “era impossível que o dialeto caipira deixasse de sofrer com tão
grandes alterações do meio social” (ibid.).
Em consequência da preocupação que tomava vulto, iniciam-se pesquisas
mapeando a diversidade dialetal brasileira, como em 1963, o Atlas Prévio dos Falares
Baianos e o Atlas-Etnográfico da Região Sul do Brasil, em 2002, dentre outros.
O Atlas Linguístico do Paraná, publicado pela Imprensa Oficial em 1994, nasce
como pesquisa de doutoramento (Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita) de
Vanderci de Andrade Agulilera, trazendo registros de 191 cartas geolinguísticas (92
lexicais, 70 fonéticas e 29 fonéticas/sintéticas) de aspectos encontrados no falar rural
paranaense (65 localidades); porém, uma considerável parte ainda permanecia
inexplorada, tornando-se objeto do II Volume, em 2007, no doutoramento (Universidade

9
Um acervo importante nesse sentido é o Museu da Língua Portuguesa <https://museudalinguaportuguesa.org.br/>.
10
Disponível no site: <http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=7381>.

-8-
Estadual de Londrina) de Fabiane Cristina Altino, constando de 125 cartas lexicais, 31
fonéticas e 2 dialectométricas, trazendo a influência dos diversos grupos étnicos que
vivem no Estado, desde sua colonização e povoamento.
Fagundes (2015) esclarece que o Português do Brasil falado no Paraná, deriva de
pelo menos três grandes áreas dialetais:

o falar paranaense tradicional corresponde à ocupação histórica


vicentina: centro-sul-litoral; a segunda área se formou com a vinda de
migrantes gaúchos e catarinenses, à cata de terras mais baratas,
desbravando as matas do sudoeste e do oeste do Paraná,
transformando-as em áreas agricultáveis. A terceira área linguística
corresponde ao norte e noroeste do estado, colonizados por
migrantes mineiros e paulistas, que vieram explorar a cultura do café
na rica terra roxa. (FAGUNDES, 2015).

Ocorreram registros recentes em cidades do Paraná11 e, na região litorânea, mais


precisamente durante o século XIX, alguns registros acerca das diferenças linguísticas
paranaense pelo naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire (1779-1853), a partir de
observações específicas feitas em 1820, em suas viagens pela Provínica.
Outro naturalista, o alemão Karl Julius Platzmann (1832-1902), tendo aqui chegado
no ano de 1858 e vivendo na Baía dos Pinheiros/Guaraqueçaba/PR, até 1864, além de
sua coleta botânica, deixou inestimável contribuição à linguística, tendo feito registros com
os nomes regionais de uma variedade de espécies de animais e plantas, publicadas em
1872, sua obra Aus der Bai von Paranaguá (Da Baia de Paranaguá), tendo ainda,
dedicado o restante de sua vida aos estudos da linguística, reeditado muitas obras, dentre
outras, a do Padre José de Anchieta.

Sistematicamente, enquanto fonte de estudo, o vocábulo, sob ponto de vista


histórico, conforme Aguilera (2015), foi registrado em 2007 na pesquisa Scripturae nas
Villas de São Luiz de Goaratuba e Antonina: manuscritos setecentistas e oitocentistas e
também em 2007 na Scripturae na Villa de Pernagoa: manuscritos setecentistas, ambos

baseados em corpus diacrônico formado de manuscritos datados do


final do século XVII à primeira metade do XIX, coletados junto ao
Arquivo Público do Estado de São Paulo. Para organizar esses dois
trabalhos, foram examinados oitenta manuscritos oficiais emanados
de antigas vilas (atualmente Guaratuba, Antonina e Paranaguá). Os
autores procederam à transcrição (leição) semidiplomática desses

11
Em 2010 foi lançado o Dicionário de Curitibanês e Curitibanices, de autoria de Anthony Leahy (Instituto Memória).

-9-
manuscritos e, ao final, apresentaram um glossário com o objetivo de
“listar alguns vocábulos extraídos dos manuscritos transcritos,
elucidar suas definições e esclarecer seus significados dentro do
contexto dos documentos” (AGUILERA, 2015).

Enquanto estudos acadêmicos ainda, a partir de análises sistemáticas, ocorreram


estudos nas décadas de 1950 e 1970, pela Universidade Federal do Paraná, tendo como
ponto de coleta o litoral paranaense, especificamente a região da baía de Guaraqueçaba.
Este modo de falar - Caiçara - somatório dos termos e expressões de diversas
origens, entre espanhóis, franceses, africanos, indígenas, de acordo com Diegues (2005),
é “devidamente adaptado ao sotaque cantado, ao lirismo típico, aos inúmeros diminutivos,
somados à ironia e ao deboche cômico que os caiçaras criaram para conviver com a
língua portuguesa, enriquecendo-a e tornando-a um pouco mais local” (pg.16).
O falar em Guaraqueçaba, representaria, conforme Mercer (1977, pg. 35) “o estado
atual de um português quinhentista, evoluído em especiais condições de isolamento, no
seio de uma sociedade bastante conservadora” e neste cenário seguiram-se pesquisas,
parte delas mais tarde publicadas em artigos, teses e livros, respectivamente por
AMARAL (1956), MERCER (1979) e ALVAR e ALVAR (1979).
Sabe-se da área escolhida para a coleta de dados, conforme Wouk (1976, pg.101):

que o grau de vitalidade de um povo pode ser avaliada pela sua


capacidade inventiva, por seu poder criador, mas também por seu
espírito conservador da experiência acumulada de várias gerações e
da mentalidade que resiste às novas técnicas, às novas ideias e a
outras maneiras de viver, Guaraqueçaba apresenta condições que
favorecem a conservação da cultura antiga, mas que vem nos
últimos anos recebendo certos influxos inovadores, ainda mal
assimilados.

Em 1953, Serafina Traub Borges do Amaral (1914-2000), compunha a equipe de 08


estudantes, supervisionados pelo Profº. Oswaldo Pinheiro dos Reis (1919-1955), que
excursionaram à Medeiros, comunidade de 20 casas e aproximadamente 80 habitantes,
na baía das Laranjeiras, em Guaraqueçaba, onde realizaram a pesquisa linguística em
maio e setembro daquele ano; o desejo de publicação do material coletado não se
concretizou, pois o grande incentivador, responsável pela pesquisa e professor orientador
faleceu algum tempo depois. Amaral (1956) vai retomar algumas das anotações coletadas
compondo seu artigo Contribuição para um inquérito linguístico no litoral do Paraná,
publicado em 1956, “para que não fique inteiramente perdido” (pg.157).

- 10 -
Referente ao léxico, expõe algumas especificidades dialetais, fazendo observações
de ordem fonética, como a ausência do fonema constritivo palatal, como em Iórie (por
Jorge), ingrêia (por igreja), a desnasalação constante (fándángo, bánána), a pronúncia rr
com acentuada diferença ao Planalto, e a articulação do fonema lateral alveolar em trava
silábica ora como vibrante retroflexa, ora como semivogal (arquere, eis, caine) (por
alqueire, eles, carne). Amaral (1956) registra ainda vários vocábulos referentes à
natureza, aos fenômenos atmosféricos, aos astros, ao tempo, às plantas e animais.
É típico, para Diegues (2005), “o uso constante do diminutivo no trato com as
pessoas, numa demonstração de afetividade típica dos oradores” (pg.90), apresentando,
ainda, exemplos lexicais, como: a troca do ‘r’ pelo ‘l’ (carçado, sordado), as palavras em
que as vogais nasais estendem influências sobre as vogais que as precedem (ingreja,
increnca), outras em que há a supressão do final (cantadô, faladô, pescá), outras em que
a vogal ‘a’ e ‘o’ tônicos, nasalisam-se quando seguidas de consoante nasal (âma, hôme).
Outras ainda em que a vogal final ‘a’, quando seguida de ‘s’ ou ‘z’ finais, é acrescida de
um ‘i’ ditongando-se (rapaiz, paiz), ou mesmo quando o átono pretônico soa como ‘i’
(sinhor, tisoura, imbora), a consoante ‘v’ passa a ‘b’ (bassoura, berruga), dentre outras.

Na década de 1970, na UFPR, se inicia outra pesquisa, sob a coordenação do Profº.


Miguel Wouk (1917-1981), professor de Língua Portuguesa no Colégio Estadual do
Paraná, também Chefe do Departamento de Linguística, Letras Clássicas e Vernáculas,
objetivando elaborar um atlas que, em sua concepção, previa capítulos dedicados à
história e povoamento, à descrição da terra, à cultura material, à cultura espiritual e à
língua, em seus vários aspectos, desde o vocabulário, relacionado com a cultura regional,
expressões, ditos populares e provérbios, maneiras de pronunciar, entonação, ritmo de
emissão formas gramaticais, frase, ou seja, o Atlas Linguístico do Paraná.
Apoiado pelo Centro de Estudos Brasileiros, então dirigido pelo Profº Elloy da Cunha
Costa, a equipe foi constituída pelos professores Affonso Robl, José Luiz da Veiga Mercer
e Miguel Wouk (língua); José Zula de Oliveira (folclore), Marília de Carvalho Kraemer
(antropologia), Jair Mequelusse e Carlos Roberto Santos (história), Bento Arce Gomez e
Elias Karam Júnior (genética), além do etnógrafo e desenhista, acompanhado da esposa,
Júlio e Janine Alvar, o primeiro irmão do linguista espanhol Manuel Alvar (1923-2001).
As coletas de campo ocorreram entre dezembro de 1973 e abril de 1974, porém,
derivada da demora para classificação, análise, interpretação e quantificação dos dados
recolhidos, somados à outras atividades docentes e administrativas que realizavam os

- 11 -
envolvidos na Instituição, o afastamento de alguns para especializações e a falta de
recursos, o projeto acaba também estacionando, restando acreditar na possibilidade,
como esperava Mercer (1979, pg. 102), de “uma publicação conjunta de todos os
trabalhos, como um retrato vivo da população e da região pesquisada”, o que em partes
ocorrera, mas em publicações de resultados parciais.
Uma destas, autoria de José Luiz da Veiga Mercer, é o artigo de 1977, com o título
Notas dialetológicas sobre Guaraqueçaba, no qual expõe resultados preliminares de
análises, com divisões em “gramática, vocabulário e breve notícia antroponímica”, listando
167 lexias relativas à construção (22), à agricultura (25), à economia doméstica (21), ao
Fandango (celebração regional típica) (37) e ao vocabulário geral (62).
Sua tese de doutoramento, intitulada Le lexique technique des pêcheurs de
Guaraqueçaba (Brésil), publicada em 1979, tem como objeto de estudo o uso da língua
no campo da pesca artesanal, sendo esta pesquisa composta de três volumes onde se
encontram relatos do trabalho de pesquisa, dados dos informantes, questionários,
respostas e análises sobre a variação encontrada, um extenso glossário da pesca, estudo
das origens históricas da localidade e dos principais traços fonológicos, prosódicos,
fonéticos e morfossintáticos relacionados ao falar em Guaraqueçaba, ao qual define como
“misturado com português, palavras espanholas e palavras Indígenas”.
O casal Júlio e Janine Alvar, como resultado da pesquisa ocorrida em 1973,
publicam Guaraqueçaba Mar e Mato, em dois volumes: No Primeiro Volume, um glossário
com mais de 2.000 vocábulos e, no Segundo Volume, uma abordagem etnográfica com
gravuras, desenhos e imagens dos lugares, instrumentos de trabalho, caça e pesca, da
fauna e da flora. É o primeiro trabalho etnolingüístico a registrar artisticamente esses
elementos.

Muito do vocabulário registrado em Guaraqueçaba, no litoral do Paraná, assemelha-


se com outros falares de Cananéia, litoral de São Paulo, e as respostas para estas
similaridades, pela cultura que se desenvolveu nesta região – Caiçara.
Durante 12 meses, entre 2019/2020, o Fandango Caiçara, enquanto Patrimônio
Cultural reconhecido e através da Instrução Normativa 001/201512 “imprescindíveis para
que um projeto não impactue ou destrua os bens culturais”, como ação compensatória
dos empreendimentos portuários em Paranaguá, veiculou semanalmente, na Rádio Litoral

12
Disponível no endereço:
<http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/Instru%C3%A7%C3%A3o%20normativa.pdf>.

- 12 -
Sul FM, o programa No Vanzeiro do Fandango13, onde o “linguajar caiçara” se fez
presente em toda programação como marca identitária do caiçara e compartilhado em
todo território através das ondas do rádio.
Diegues (2005, pg. 87) acredita que é o “código de linguagem o traço de união, de
identificação e de integração da cultura caiçara”, pois está “relacionada com a existência
de um modo de vida com muitos traços em comum”.

a linguagem popular caiçara possui um léxico, em sua maioria


arcaico, um falar matuto conservador, influenciado pelo tupi e pelo
falar dos negros nos primórdios de nossa colonização. É um linguajar
de substrato arcaico, eivado de mudanças decorrentes da
transmissão oral e de novos acréscimos lançados por conta da
analogia, do menor esforço e dos metaplasmos de toda ordem.
(DIEGUES, 2005, pg. 87).

Postula Diegues (2005) que o falar caiçara é “um falar cantado, melódico, e
harmonioso, em sintonia com a natureza” e sua peculiaridade “não está assentada na
originalidade de seus termos”, mas observa que, juntamente com a fala e sua entonação,
há uma interligação com a postura e o gestual e, ainda o olhar, pois, o caiçara “não
apenas fala, ele fala e, ao mesmo tempo, representa” (DIEGUES, 2005. pg.16).

Para além destas pesquisas científicas, ainda se encontram outras obras


referenciais, de caiçaras, pesquisadores e amantes desta cultura que também evidenciam
o linguajar no litoral do Paraná, de São Paulo e do Rio de Janeiro, como a pesquisa de
Olympio Correa de Mendonça, Léxico do falar caiçara de Ubatumirim (1978), o O falar
caiçara (2008), de Carlos Rizzo e João Barreto, ambos em Ubatuba/SP, a Enciclopédia
Caiçara (2005) trazendo a pesquisa de Paulo Fortes Filho Falares Caiçaras (organização
do Profº. Antônio Carlos Diegues), o Glossário Caiçara de Ubatuba: Pequeno vocabulário
de palavras e locuções que compõe o falar do povo caiçara (2010), do pesquisador Peter
Németh “alemão”, o O Caiçares (2007), do pesquisador de Cananéia Romeu Mário
Rodrigues, o Pequeno Dicionário de Vocábulos e Expressões Cananéias, de Edgard Jaci
Teixeira (s.dt.); também em Itanhaém, litoral paulista, o Dicionário Tabacudo (2017),
autoria da Professora Maria Tereza Leal.

13
Programas disponíveis no endereço: <https://www.facebook.com/No-Vanzeiro-do-Fandango-627160437755845/>.

- 13 -
REFERENCIAL
(utilizado nesta introdução)

AGUILERA, Vanderci de Andrade. Os Atlas Linguísticos no Paraná: percursos e estágio


atual. In: Revista Gelne. Ano 1. Nº2. 1999, pg. 07-13.

___ . O léxico paranaense: uma viagem pelas veredas rurais e pelos caminhos urbanos. In: O
falar paranaense. Curitiba: Ed. UTFPR, 2015. Pg. 19-34.

ALVAR, Júlio. ALVAR, Janine. Guaraqueçaba: mar e mato. Curitiba: UFPR, 1986.

AMARAL, Amadeu. O dialeto caipira. São Paulo: Hucitec, 1976. [1920].

AMARAL, Serafina Taub Borges. Contribuição para um inquérito lingüístico no litoral do


Paraná. IN: Letras, 5/6: 157-66, dez., 1956.

ANCHIETA, Padre José. Arte de Gramática da língua mais usada na costa do Brasil. 1ª Ed.
1595. Coimbra: Antônio Moriz; 2ª Ed. 1874. Leipzig: Juliuz Platzmann; 3ª Ed. 1876, idem; 4ª Ed.
1933. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional; 5ª Ed. 1946. São Paulo: Ed. Anchieta; 6ª Ed. 1980.
Salvador: UFBA.

BESSA-FREIRE, José Ribamar. Nheengatu: a outra língua brasileira. In: História social da
língua nacional / Organizadoras: Ivana Stolze Lima, Laura do Carmo -- Rio de Janeiro: Edições
Casa de Rui Barbosa, 2008. Pg. 119-149.

BRASIL. Decreto nº 7.387, de 9 de Dezembro de 2010. Institui o Inventário Nacional da


Diversidade Linguística e dá outras providências. Disponível no site:
<http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/Decreto%207387%20-%202010.pdf>.

___. Inventário Nacional da Diversidade Linguística (INDL). Disponível no site:


<http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/140>.

___. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) (Brasil) Guia de pesquisa e
documentação para o INDL: patrimônio cultural e diversidade linguística. Brasília-DF, 2016.

Inventário da Língua Guarani Mbya - Inventário Nacional da Diversidade Linguística /


Organização Rosângela Morello e Ana Paula Seiffert – Florianópolis: IPOL: Editora Gapuruvu,
2011.

DIEGUES, Antônio Carlos Sant’Anna; FORTES, Paulo. Enciclopédia Caiçara. Vol. II. Falares
Caiçara. São Paulo: HUCITEC:NUPAUB:CEC/USP, 2005.

GÂNDAVO, Pero de Magalhães. A primeira história do Brasil: história da província de Santa


Cruz a que vulgarmente chamamos de Brasil. Rio de Janeiro: Zahar, 2004.

- 14 -
História social da língua nacional / Organizadoras: Ivana Stolze Lima, Laura do Carmo -- Rio
de Janeiro: Edições Casa de Rui Barbosa, 2008.

LUCCHESI, Dante. Africanos, crioulos e a língua portuguesa. In: História social da língua
nacional / Organizadoras: Ivana Stolze Lima, Laura do Carmo -- Rio de Janeiro: Edições Casa de
Rui Barbosa, 2008. pg. 151-180.

MARTIUS, Karl F. P. Von. Como se Deve Escrever a História do Brasil. In: Revista do
Instituto Histórico e Geográfico 5, p. 381-401, 1845.

MELLO, Heliana. Modelos de formação da língua nacional sob a perspectiva do contato de


populações. In: História social da língua nacional / Organizadoras: Ivana Stolze Lima, Laura do
Carmo -- Rio de Janeiro: Edições Casa de Rui Barbosa, 2008. pg. 295-311.

MERCER, José Luiz; ROBL, Affonso; WOUK, Miguel. Notas dialetológicas sobre
Guaraqueçaba. In: Estudos brasileiros. Ano 2, nº 3. Vol. 2. 1977. Pg.35-63.

MERCER, José Luiz da Veiga. Le lexique technique des pêcheurs de Guaraqueçaba


(Brésil). Toulouse: Univ. de Toulouse II, 1979, tese de doutorado.

NUNES. José Horta. Dicionário, sociedade e língua nacional: o surgimento dos dicionários
monolíngües no Brasil. In: História social da língua nacional / Organizadoras: Ivana Stolze Lima,
Laura do Carmo -- Rio de Janeiro: Edições Casa de Rui Barbosa, 2008, pg.353-374.

O falar paranaense / organização: Edson Domingos Fagundes, Loremi Loregian-Penkal,


Odete Pereira da Silva Menos. – 1. Ed. Curitiba: Ed. UTFPR, 2015.

TENDLER, Daniel; PIZZI, Gustavo [direção]. Oncotô? Expedição Sul 8: a Língua Portuguesa
e a música. 24:26 min. [documentário].

WANKE. Eno Theodoro. Dicionário Paranista. Ponta Grossa: UEPG, 2001.

WOUK, M. Atlas Linguístico do Paraná. Primeira Etapa: Guaraqueçaba. In: Estudos


Brasileiros, Curitiba, (1):99-102, jun. 1976.).

*******

O material tema desta pesquisa - Falas do Mar e do Mato - foi selecionado no edital
#Cultura Na Rede, da Secretaria de Cultura/Prefeitura Municipal de Paranaguá/PR, no
ano de 2020 e o vídeo-produto “Falas do Mar e do Mato... uma espécie de dicionário
caiçara” pode ser visualizado nos links abaixo:

https://www.youtube.com/watch?v=MIjDKpmU0Ek

https://www.youtube.com/watch?v=kvThj3tK8t4&t=547s

- 15 -
LEGENDAS

As palavras aqui listadas são resultantes de anotações de longa data


(desde 1996) registradas por José Carlos Muniz em diversas comunidades do
território caiçara, devidamente revisadas e corrigidas pela equipe de
colaboradores.

Acrescentam-se ainda contribuições diversas recebidas nos primeiros


meses de 2020 e estas assim identificadas no decorrer desta obra:

[pesq.A.D] = Pesquisa de Aorélio Domingues – compilado da pesquisa


[inédita] de Aorélio Domingues.

[via R.S] = Via Rede Social – contribuições de verbetes e frases recebidas via
e-mail e whatsapp.

- 16 -
SC

- 17 -
Arapuca ou Buíza

-A-
A GUATÁ: Quando o produto está sobrando; remete a quantidade.

“[a guatá] É andando à toa, sem fazer nada; passeando; panapaneando por argures”.
(Cleiton do Prado [via R.S] – Iguape/SP, 2020).

A LUA COME TUDO: Expressão utilizada em dias chuvosos ou de ventania, quando de


lua cheia e uma vez aparecendo no céu, significa calmaria no tempo.
A LUA TÁ PRA FORA HOJE: Expressão que remete a dias de lua cheia em que, pela
claridade da água, evita-se alguns tipos de pescaria.
Á MÍNGUA: Enfermo ou caído em cansaço. Derreado. Ver Minguado.
A POIS DE CERTO / DICERTO: Remete à certeza de que algo aconteceria.
A POIS O QUÊ / A POIS OLHE: [via R.S]: Expressão que remete ao estranhamento a
alguma informação; desconfiança; mesmo sentido que “não me diga”. Também negação
em realizar qualquer afazer ordenado.
A RODO: Designa quantidade. Ainda “a dar com o pé”, “por cima” ou “três por quatro”.
Á TOA [via R.S]: Desafazerado; devarde.
ABANCAR: (assentar) Ficar por tempo indeterminado num lugar; permanecer; demorar.
ABANO: Instrumento semelhante a um leque, servindo para avivar o fogo. Diz-se ainda
da orelha do indivíduo, de tamanho descomunal (“orelha de abano”). Ver Atiçar.
ABANÔ: Relativo a não ter conseguido os objetivos; azarado, derrotado; perdedor.

- 18 -
ABDALA: Vendedor ambulante; sacoleiro.
ABOCANHAR / ABRACAR: Morder; pegar; segurar com força.
ABARROTADO (mar): Cheia. Diz-se ainda, sobre qualquer objeto em quantidade.
ABORRIDO [via R.S]: Triste. Também cansado. Mesmo que Amuado, Mocambuzo,
Desacorçoado ou Jururu.
ABRAÇO DE TAMANDUÁ: Abraço forte. Ninguém quer, pois é doído, apertado;
designa ainda o não querer por ser considerado de uma pessoa com higiene duvidosa.
ABUTO: Abuta selloan. Cipó utilizado na Medicina Caseira, indicado em decorrência de
cólicas menstruais.
ACACHATANDO [via R.S]: Mesmo que batendo.
ACANHADO: Tímido.
ACEMÃO / ASSEMÃO / UMACEMÃO / SENACEMÃO: Símbolo mítico e sagrado
que se origina na tradição da Estrela de Salomão ou na Cruz de São Salomão. Remete a
proteção contra o mau.

SENACEMÃO

ACOSTAR: O que é lançado ao mar e as ondas trazem para a praia. Ver Verão da Lata.

Para saber mais:


< http://informativo-nossopixirum.blogspot.com/2012/07/sin-hay-ii-exposicao-no-marcado-velho.html>.

- 19 -
ACUADO: Diz-se da caça assustada, perseguida e encurralada pelos cachorros.
ADOIDADO: Maluco, destranbelhado. Também Desguairado.
ADUFO / ADUFE / DUFE / RUFE: (Fandango Caiçara) Instrumento musical de
percussão, semelhante ao pandeiro, mas artesanal, com aro de madeira e couro animal
(Cutia ou Cachorro do Mato, tradicionalmente).
ADULAR: Carinho.
AFEIÇOAR: Apego.
AFOITO: Apavorado, ansioso.
AGARRAMENTO: Casal se Aparpando; Diz-se também de brincadeiras de crianças,
lutinhas, muito empurra-empurra que logo termina em choro/briga.
AGORINHA MESMO: Há pouco tempo; agora a pouco.
AGOURO / AGORADO: Superstição; prenúncio de acontecimento ruim.
ÁGUA DA FONTE: Expressão utilizada para designar água que nasce na localidade,
difereciando-a de outra qualquer; relativo a superioridade.
ÁGUA DO MONTE [via R.S]: Chuva forte e torrencial quando vem do continente.
AGUAGE [via R.S]: Onde a onda lava. Diz-se também do Vanzeiro que faz o cardume
da Tainha, prenunciando ser em muita ou pouca quantidade.
AGUASCADA: Água em grande quantidade e volume sobre um lugar ou uma pessoa.
ÁGUA DE JANEIRO: Diz-se da primeira chuva do ano; acreditam trazer sorte. Em
crianças, ainda de colo, diz-se da ingestão favorecer o rápido início do falar.
ÁGUA-VIVA: Animal marinho. Em contato com seres humanos, algumas destas
espécies de Cnidaria provocam graves queimaduras. Ver Caravela.
AGULHA: (pesca) Instrumento artesanal, confeccionado em madeira, para costurar o
Pano de Rede. Ver Malheiro.

Agulhas de madeira e plástica, chumbeiros de argila e malheiros de madeira

- 20 -
AIAIAI: Expressão que indica atenção ao que se pretende, pois pode não dar certo.
AIPIM: (culinária) Palavra indígena com significado em “brota do fundo”, relativo a planta
Manihot sculenta, servindo suas raízes de alimento e fabricação da farinha de mandioca.
AÍVA: Pessoa ruim; vadio; preguiçoso.
AJUNTADO: Refere-se ao estado civil, amigado ou amasiado.
AJUNTÓRIO: (Fandango Caiçara) Semelhante ao Mutirão, porém, trata-se de uma troca
de dias de trabalho.
ALAGAR: Afundar a canoa acidentalmente.
ALANHO / ALANHAR: (culinária) Fazer cortes horizontais no corpo do peixe para
facilitar na salga. Ver Lanho. Diz-se ainda do ser humano ao apresentar cortes pelo corpo.
ALARIDO: Gritaria, berro.
ALAÚZA: Bagunça. Ver Aloito, Berrero, Escarcéu, Banzé, Soré, Timiridade e Zueira.
ALEGRE: (Fandango Caiçara) Ferramenta utilizada na confecção de instrumentos;
consiste em uma faca com a ponta retorcida, facilitando o entalhe na madeira.
ALENTO / ALENTO-CHOCO / ARROTO-CHOCO: Arrotar.

“quando a pessoa tá empanturrado, ae arrota, um gosto ruim, uma catinga brabo”.


(Ciro Xavier – Iguape/SP, 2020).

ALFERES: (Romaria do Divino Espírito Santo) Integrante da Tripulação responsável pela


recolha e destinação das ofertas (recebidas durante a Romaria) ao Divino Espírito Santo.
ALIMAR: Amolar a faca fazendo uso do instrumento, pedra de amolar - ‘lima’.
ALÍPIO: Refere-se àquele ser muito mentiroso.
ALMEJA / BERBIGÃO: (frutos do mar) Anomalocardia brasiliana. Marisco Bivalve,
encontra-se enterrado na areia de praia. Também Sapinhauá, Pegoava, Manini ou Sarro
de Pito. Em algumas regiões chamado de Vôngole ou Papa-Terra.
ALOITO [via R.S]: Bagunça de criança; Também trabalhar, lidar.
ALUADO / AVOADO: Diz-se da pessoa muito distraída, que vive no “mundo da lua”.
ALUGADO: Diz-se da pessoa exibida. Ver Lambido, Pachola ou Releza.
ALUÍR: Ficar inquieto, se mexendo a todo instante. Misturar algo.
ALUMEIE / ALUMIAR [via R.S]: Iluminar, direcionar a luz.
ALVORADA: (Romaria do Divino Espírito Santo) Cantoria executada às seis horas da
manhã, a primeira do dia de Romaria.

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(Canto de ‘Alvorada’ – Mestre André Pires – Romaria do Divino Espírito Santo de Cananéia)
(gravado em Barra de Ararapira – Guaraqueçaba/PR, em 2004)

AMANHECE: (Fandango Caiçara) Expressão que designa o baile estar bom, animado.
AMARELÃO: Doença (icterícia) em que a criança está com vermes. Deve-se mastigar
em jejum Erva de Santa Maria (Chenopodium ambrosioides), sementes de mamão
(Carica papaya) ou um dente de Alho ou folha de Hortelã, estes últimos na lua minguante.
AMARGOSO14: (bebida) Garrafada típica produzida na Sexta-Feira-Santa, tida como
remédio contra picada de cobra. Acreditam que afasta o azar. Também chamada de
“Fecha-Corpo” e “Tranca-Rua”.

“O Amargoso leva Capitiu (Siparuna guianensis Aubl), o alho (Allium sativum), a Arruda (Ruta
graveolens), raízes de Guiné (Petiveria alliacea L.), o Betarú (Xanthoxylum rhoifolium), o Capiá
(Coix lacryma-jobi) e o Fé-de-Gozo (Senna occidentalis), acompanhados de raspas de Milome
(Aristolochia paulistana, A. triangularis), de chifre de Veado, de espora de Arraia, do bico de
Macuco, da pata de Anta e do focinho de Porco”
(Genésio Viana - Comunidade de Rio Verde – Guaraqueçaba/PR, 2008).

AMBORÊ: Gobiodes broussonnetti. Peixe de porte pequeno, habitando grotas e tocas na


pedra, muito procurado para ser utilizado como isca viva.
AMEAÇANDO TEMPO: Quando se percebe nuvens carregadas dando sinais de
tempestade, trovoada ou chuva forte. Ver Arruinar.

“roncô trevoada na nova de setembro, é seis meses chovendo”.


(Juninho – Ubatumirim/SP, 2020).

“lua nova trovejado, trinta dias de molhado


trovoada em lua nova, a esperança se desova”
(José Hipólito Muniz – Guaraqueçaba/PR, 2015)

14
Assista ao documentário “Amargoso”:
<https://drive.google.com/file/d/1lLRJ4fhjn0ukzOWG7ovuMbcvx6TcGcWf/view?usp=sharing>.

- 22 -
“céu pedrento, chuva e vento; céu com escamas, sinal de bom tempo; lua deitada, marinheiro de
pé; lua a tardinha com seu anel, chuva a noite ou vento a granel; cerração na baixa, sol que racha;
nordeste anoitecido, temporal amanhecido; bugiu na terra, chuva na serra; norte duro, pampero
seguro; nuvem cor de cobre, tempestade que se descobre; rosado sol posto, cariz bem disposto;
trovoada de manhã, trovoada o dia inteiro; vermelha a alvorada, vem cal a ancarada; lua nova
trovejada, trinta dias de molhada; nuvem comprida que se desfia, sinal de grande ventania;
saracura cantando, vento norte ventando e ruivas a tarde, chuva de manhã”.
ALMEIDA, Antônio Paulino15.

AMOLAR: Infortunar, ‘encher o saco’ dos outros.


AMONTOOU-SE: Cair; tombo. Também Se Esborrachou ou Se Espatifou.
AMUADO: Triste. Mesmo que Aborrido, Mocambuzo, Amuado, Desacorçoado e Jururu.
ANDASSO [via R.S]: Virose, gripe, constipação. Também mal do intestino.
ANDORINHA: (Fandango Caiçara) Marca batida. Em determinado momento da
coreografia as Damas rodopiam ao centro da roda, unidas às mãos de seus Cavalheiros,
imitando o verão do pássaro que dá nome à dança.
ANTONTE / ANTIONTE: Refere-se a dois dias atrás (antes de ontem).
ANÚ: (Fandango Caiçara) Moda batida16, sendo a primeira do Fandango Caiçara. O
nome refere-se a ave (Crotophaga ani – Família Cuculidae) tida como agourenta.

AÓ: Expressão que remete à culpabilização do outro.


AONDE / DAONDE: Expressão relativo à dúvida em certos assuntos.
APANHÁ VENTO: Expressão que remete ao fato de a pessoa estar ao relento,
desagasalhado, exposto à doenças advindas com o frio e a chuva.
APARECIDO / VISÃO / VISAGE: Assombração; vulto.

15
Usos e costumes praianos. In: Enciclopédia Caiçara. Vol 4. História e Memória Caiçara. Antônio Carlos Diegues (org.).
São Paulo: HUCITEC/NUPAUB, 2005. pg. 56.
16
Ouça no álbum “Viola Fandangueira: Viola Quebrada e Família Pereira”:
<https://drive.google.com/file/d/1SYiEcFdATpKS12fgYEn3GqZYEAXvDMiE/view?usp=sharing>.

- 23 -
APARPAR: Mexer, cutucar. Mesmo que Expirucar.
APERREADO: Aborrecido, desconfiado. Triste.
APERTAR O REMO / METER O REMO: Expressão que remete ao remar com mais
força; andar depressa.
APISSUIR / APOSSAR [via R.S]: Ter, adquirir, possuir; sentir-se dono.
APOITAR: Jogar a Poita; ancorar, Fundear a embarcação ou a canoa.
APRECATAR: Preparar; Ficar atento; Previnido. Também Antenado.
APROCHEGAR: Chegar mais perto. Sentar-se mais próximo. Diz-se quando se está
conversando ao Pé do Fogo.
APU: Som emitido em necessidades, servindo como localização, em caso de se perder
no mangue, por exemplo. Também remete à brincadeira infantil Mãe de Esconde,
sinalisando a ‘mãe’ procurar aqueles que se esconderam. Ainda remete a qualquer
posição corporal desajeitada. Ver Cunhenho.
APURADO: Ligeiro; depressa; rápido. Diz-se da necessidade em defecar.
APURRINHAR: Irritar. Forçar.
ARAPUCA: Tipo de armadilha feita de bambú para captura de pássaros. Ver Buíza.
ARATACA: (caça) Tipo de armadilha de caça.

Prensa de Arataca ou Burro de Prensa

“a Prensa de Arataca é um tipo para prensar a massa da Mandioca. Consiste em uma Virgem
de Prensa, que é um esteio com um furo próximo da cabeça dele. Nesse furo vai um pau
grosso, de uns 15 centímetros de grossura por um 4 metros de comprimento e ele faz como se
fosse uma alavanca. Então na ponta é amarrado uma corda com uma tábua onde se põe

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pedras. Essas pedras baixam e prensa o Tipiti, que fica mais próximo da Virgem de Prensa, que
é essa pilastra principal. É como se fosse um macaco; Com o uso da gravidade pra prensar o
balaio, o Tipiti, com a massa de Mandioca, pra poder secar e fazer a farinha”.
(Juninho – Ubatumirim/SP, 2020).

ARATICUM: Rollinia sericea. Também Araticum do Brejo; árvore da Família


Annonaceae, com fruto, dito “sorvete” comestível, crescendo em terreno próximo ao mar.
ARCALA: (rede) Fio que serve para ligar a rede na Arpoeira, durante o Entralhe do Pano
da Rede.

Arpoeira (a); Arcala (b); Cortiça (c); Malha (d); Nó (e)

ARDENTIA: Florescência, luminosidade no mar, resultante da ação dos plânctons.


ARDOR / ARDUME: Ardido; ardência pelo corpo.
AREADO: Que transparece limpeza; que brilha. Diz-se das panelas bem lavadas.
AREIA FOFA: Areia da praia, mais próxima ao Combro, aquecida pelo calor do sol.

“se for pescar, acaso as ondas estiverem batendo na praia e o mar subindo rápido, logo irá piorar,
deve-se evitar viajar de barco. E se acaso a areia da praia estiver fofa, logo a maré vai encher”.

ARGUERO: Cisco ou qualquer outro objeto que cai nos olhos e incomoda a visão.
ARGURES: Estar em algum lugar. Também Inhures.
ARINQUE: (pesca) Poita. Apetrecho, peso para fundear e segurar a rede no mar.
ARISCO: Animal não domesticado. Desconfiado.
ARPOEIRA: (pesca) Cabo principal, superior, cheio de bóias, que une a malha da rede
ARRASTÃO DE PRANCHA / ARRASTO DE FUNDO: (pesca) Modalidade proibida
no Mar de Dentro. Consiste em um Pano de Rede extenso, com dois pranchões (Porta)

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em cada extremidade, soltas ao mar. O peso da Porta, vai ao fundo, arrastar tudo para o
interior do Pano. Utilizada na captura de Camarão Branco. Ver Porta.
ARRASTO DE PRAIA: (pesca) Uma ponta da rede fica fixa na praia e outra, de canoa,
cerca o cardume, arrastando-o para a praia. Ver Camboá.
ARRE: Expressão que designa êxito em ter conseguido algo difícil. Na pronúncia se
prolonga a letra final da palavra.
ARRE BEM FEITO: Exprime vingança.
ARREBENTAÇÃO: Quebrança das ondas, no Mar de Fora.
ARREGADO: Com privilégios e vantagens.
ARREGANHAR: Se abrir ou sorrir demasiadamente; se engraçar, se exibir. Também
remete a posição corporal ‘de cócoras’, com as pernas entreabertas.
ARRE LÁ [via R.S]: Expressão que significa “ô dó”; que pena. Também alívio ao concluir
algo.
ARRELASINHO [via R.S]: Carinho.
ARREMEDAR / REMEDAR: Imitar a voz humana ou o som de passarinhos.
ARRIAR: Cair doente; utilizado tanto para humanos quanto para os animais.
ARRIERA [via R.S]: (pesca) Cabo ou cipó para puxar a canoa na Varação.

“[arriera] é a corda ou o cipó que fica na popa da canoa pra usar na hora da puxada da canoa.
Amarra na raiz da árvore, dá uma volta, duas, as vezes três voltas, pra pode ir soltando aos
poucos. Aquele que fica na Arriera é o responsável pra não soltar a canoa quando tá morro
abaixo, pra não atingir os companheiros que tão puxando e também não batê num pau, numa
pedra e lascar. Então, Arriera tem papel importante pra fazer o freio”.
(Juninho – Ubatumirim/SP, 2020).

ARRODEAR: (Fandango Caiçara) Marca coreográfica do “8”, ou seja, quando a Dama


rodeia o Cavalheiro.
ARROSAR: Relacionado ao plantar e ao colher o arroz.
ARROZ LAMBE-LAMBE / LAMBE-LAMBE: (culinária) Arroz cozido com Bacucu ou
Sururu (ainda na concha), acrescido de temperos.
ARRUINADO: Diz-se da pessoa doentia. Também do mau tempo ou algo estragado.
ARURÁ: Espécie de Jacaré-Açú (Melanosuchus Níger) de tamanho descomunal em
relação à espécie de Papo-Amarelo (Caiman latirostris), abundante na região.
ARVO: Claro, branco.
- 26 -
ASCANHO [via R.S]: Esquerda, canhoto.
ASCO / CATINGA: Mau cheiro; fedor. Ver também Jaó.
ASEJA / ASEJINHA: Expressão que remete à caridade. Sentimento de pena, dó.
ASSEIRO / ACEIRO [via R.S]: Pedaço de roça que é limpa e não fica galho nenhum.

“[asseiro] pedaço da roça que é limpa e não fica cisco nenhum, que é pra separar o lugar que vai
fazer queimada, vai fazer a coivara... olha o vento de que lado que tá, sempre o fogo contra o
vento e morro abaixo, contrário do que o fogo gosta. Assim pra não juntar o pedaço que vai
queimar com outra parte da roça que não quer queimar. É tipo um picadão em volta da na roça”.
(Juninho – Ubatumirim/SP, 2020).

ASSINTE: Atentar; Enfernizar; Provocar.


ATACADO / VARIADO: Surto; Loucura.
ATAQUE DE BICHA: Surto por vermes ou vermes alvoroçados.

“quando dava ataque de bicha, pois subia e tapava a respiração, chegou a matar muitas crianças.
Para desembolar as bichas, passava querosene na barriga e também dava pra cheirar; na sola do
pé dava pra passar mel de abelha e açúcar molhado. Também dava chá de fumo de corda”.
(José Hipólito Muniz – depoimento recolhido em Guaraqueçaba/PR, 2015).

ATAZANANDO: Atentar; Assinteiro; provocação.


ATÉ O CEPO: Expressão que remete a insistência e êxito no que se deseja.
ATEAR: Acender; fazer fogo. Ver Atiçar e Avivar o fogo.
ATENTADO: Diz-se da pessoa muito peralta e sarrista.
ATIÇAR: Soprar a brasa para reavivar o fogo. Diz-se também da provocação ao
cachorro para atacar alguém ou alguma caça ou provocações quando se está brigando.
ATOA / A TOA: Diz-se da pessoa sem qualidades para o trabalho; preguiçoso ou
Mequetrefe.
ATOCICAR: Dar palpites em brigas; Mau conselho.
ATORAR / TORAR: Corte em parte do corpo; machucadura; também utilizado para
cortes de madeiras. Ver Alanho.
ATRACAR: (embarcação) Encostar.
ATRAVESSA-RIO: (vestimenta) Diz-se da bermuda ou calção muito curto.
AVACALHADO: Diz-se do sujeito ou espaço desarrumado, desorganizado; bagunçado.

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AVE-MARIA [via R.S]: Designa o anoitecer, após às 18:00 horas. Se chama de Período
da Ave-Maria, das seis da manhã às seis da noite (Romaria do Divino Espírito Santo).
Ainda remete a expressão que remete a admiração.
AVENCE [via R.S]: Alcança. Avança.
AVEXE: Vergonha, timidez.
AVIVAR O FOGO: Soprar as brasas para reavivar as chamas. Ver Atiçar.
AVUADO: Aquele que é esquecido; atrapalhado.

“não esquece a cabeça porque tá grudado”


(expressão que remete à pessoa esquecida)

AZUL MARINHO: (culinária) Postas de peixe cozido com bananas ainda verdolengas e
acrescidos de temperos. É declarado Patrimônio 17 Histórico e Cultural de Ubatuba/SP
pela Lei Municipal nº 2479/2004.

Arrasto de Praia ou Camboa


(Wagner Muniz18)

17
Para saber mais: <https://www.youtube.com/watch?v=Q-Kgvik-bUg&feature=emb_logo>.
18
Natural de Superagui – Guaraqueçaba/PR. Uma mostra de seu trabalho está no endereço:
<http://wagnermuniz.blogspot.com/>.

- 28 -
-B-

Burro de Prensa

BACHARELO: Pessoa de qualidades ruim; safada, malvado.


BACHERO: Lugar baixo onde se despeja entulho.
BACIADA / DE BACIADA / BALDADA / BALDAME / BARDAME: Unidade de
medida, designando grande quantidade, equivalente a um ‘balde’ cheio. Também Latada.
BACUCU / MEXILHÃO: (frutos do mar) Mytella charruana. Marisco bivalve que vive
enterrado na lama, de tamanho inferior ao Sururu. Ver também Sururu e Arroz Lambe-
Lambe.
BADEJO: Espécie de peixe da Família Serranidae (Mycteroperca), podendo alcançar
mais de 100 quilos, vindo a boiar (morrer) devido o excesso de peso – Badejão.

Em Guaraqueçaba/PR, em 1980, o pescador Albertino Barbosa (In


Memoriam), após prometer pegar um peixe maior que ele mesmo, capturou um Badejão 19
com 182 kg; porém, tendo cumprido sua promessa, veio a falecer naquele mesmo dia.

BAFAFÁ: Falaria; confusão. Ainda Sururu.


BAFAGE [via R.S]: Vento quente soprando de Noroeste.
BAFORADA / ESBAFORIDO: Soprar o hálito (bafo da boca).

19
Para saber mais: <http://www.overmundo.com.br/guia/restaurante-barbosa-e-o-peixe-grande>.

- 29 -
BAGAÇO [via R.S]: Canoa moída, quebrada. Também remete a qualquer objeto ou
utensílio velho e estragado, inapropriado para o uso.
BAGRE AMARELO: Cathorops spixii. Espécie comum de peixe sem escamas. Também
chamado de Congo ou Gonguito, ou ainda de Bagre Vermelho.
BAGRE BACIA: Bagre marinus. Espécie de bagre.
BAGRE BRANCO: Genidens barbus. Espécie de bagre também chamado de Guiri.
BAGRE BUGRE: Notarius grandicassis. Espécie de bagre, com tamanho maior que os
demais, confundindo-se com o Guiri, porém, não é branco, sendo de cor mais escura.
BAGRE CANGATA: Aspistor luniscutis. Espécie de bagre, de tamanho médio.
BAGRE ENSABOADO: Liso. Expressão utilizada referenciando pessoas que fogem
com astúcia das responsabilidades; ligeresa; esperteza.
BAGRE GUIRI: Netuma barba. Espécie de bagre, branco e de tamanho grande.
Também chamado de Bagre Branco.
BAGRE JUNDIÁ: Rhamdia quelen. Peixe de rio.
BAGRE PARARÊ: Genidens genidens. Espécie de bagre, de tamanho médio.
BAGRE SARI-SARI: Bagre bagre. Espécie de bagre, de porte pequeno.

BAIACU: Sphoeroides testudineus. Espécie de peixe de couro, temido pelo veneno


(vesícula biliar) potencialmente letal - Fel, porém, àqueles que o dominam na limpeza,
proporcionam aos degustadores uma carne muito apreciada. Também chamado de
Baiano ou Cascudo. Outras espécies conhecidas como Baicú Arara (Lagocephalus
laevigatus), Baiacú Espinho (Diodon hystrix) e o Baiacú Guará.
BAITA: Algo muito grande; Tamanho descomunal. Também Lemarde e Ximirde.

- 30 -
BAITACA: Espécie de papagaio; diz-se da pessoa que fala muito.
BAIXIO: Na baía ou lagamar, lugares de concentração de bancos de areia,
impossibilitando a navegação.
BAJULANDO / ADULANDO: Adorando; mimando; “puxando o saco”.
BALAIADA: Unidade de medida; grande quantidade. Ver Bardame e Batelada.
BALAIO: Cesto artesanal confeccionado com cipó ou taquara, para carregar no dia-a-dia
na pescaria ou guardar utensílios, em casa.
BALAIO: (Fandango Caiçara) Cometer erros na coreografia da dança.
BALAIO DE GATO: Diz-se quando objetos diferentes estão misturados; bagunça.
BALEERA / ERVA BALEERA: Cordia verbenacea. Planta utilizada na Medicina
Caseira (existe medicamento a partir dessa espécie já patenteado). Também Barrelera.
BALEEIRA: (embarcação) Embarcação, geralmente com Proa e Popa em dimensões e
formatos semelhantes, porém com Bojo mais alargado.
BALOFO: Diz-se da pessoa gorda ou daquele “inchado” de caçacha.
BANANA DE BEIZ [via R.S]: Diz-se quando o cacho da banana está amadurecendo.
BANDALHO [via R.S]: Andar sujo.
BANDOLEIRA [via R.S]: Diz-se da canoa sem estabilidade na água. Canoa louca ou
Macuca. Também se refere à pessoa malandra.
BANHA DE LAGATO: Tupinambis merianae. Remédio do Mato, a partir da banho do
Teiú, sendo utilizado para diversas enfermidades, entre elas dores no ouvido.
BANOTE: Expressão que remete a algo que deu errado.
BANZÉ: Confusão ou bagunça; Mesmo que Pé de Manparra. Também Timiridade,
Berrero, Escarcéu, Soré, Alaúza, Aloito.
BANZEIRO / BALANLANDO [via R.S]: Meio bêbado. Também Chapado, Embalado,
Escamado, Calabreadao e Chumbado.
BAQUE: Tombo, cair.
BAQUE DO MAR: Onde as ondas quebram.
BARATA TONTA: Expressão que remete à pessoa ‘sem rumo nem direção’; Também
Zanzando ou Azorário.
BARBELA: Penugem.
BARDAME [via R.S]: Unidade de medida equivalente a um balde, baldada. Ver Batelada
ou Balaiada.

- 31 -
BARRA: Canal que divide e separa as águas oceânicas do mar de dentro ou da baía.
Ainda o termo “Barra do Rio” remete ao local da junção das águas pluviais em relação às
águas marítimas.

Barra de Ararapira

BARREADO: (culinária) Prato típico do litoral. Referência Cultural do Paraná20, em


Paranaguá celebra-se, na 3ª semana de agosto, o Dia do Fandango e do Barreado,
criado através da Lei Municipal nº 2218/2001.

“era feito mais no Carnaval né, então faziam na sexta-feira. Cortavam a carne bem cortadinha,
passava um pouco de banha bem ali, quando tava meio frito coloca água, cebola, pimenta,
cominho né, fervia um pouco e tava cozido. Tirava tudo fora do fogo. Fazia aquele angu
misturando farinha e cinza, cortava aquela folha de banana nova, sapecava em cima do fogo e
cobria a panela, bem coberta e amarrava bem amarrado e passava aquele barro, pra não sair o
cheiro né. Cozinhava uma meia hora por aí, até a carne fica bem molinha né. Então quando era
sábado dez horas, punha aquela panela no fogo, pra aquent ar um pouco, né. Quando abria era
aquele cheiro, mas que cheiro mais gostoso. Depois tinha Biju de Mandipuva pra comer junto.
Tirava foguete, chegava a rapaziada e comiam, cada família tirava sua carne e comia com Biju”.
(Dorçulina Fagundes Eiglmeier – In Memoriam)
(depoimento recolhido em Guaraqueçaba, no ano de 2004).

20
Para saber mais, assista ao documentário Unidas pela história – Antonina, Morretes e Paranaguá”:
<http://gp7cinema.com/produ%C3%A7%C3%B5es/antonina-morretes-e-paranagua-unidas-pela-historia/>; veja também
“Barreado, prato típico do Paraná com mais de 200 anos de história”: <https://www.youtube.com/watch?v=YOS5g-4QkTY>.

- 32 -
BARREAMENTO / BARREAR / TAIPAMENTO: Mutirão para revestir de barro a
Casa de Pau-a-Pique. Recobrir qualquer superfície com barro.
BARROSO: (culinária) Consiste em moer dentro do copo com café, banana assada na
brasa.
BARROTE: Viga de madeira utilizada para construção.
BASÍLIO: Refere-se àquele muito fofoqueiro.
BATE-BATE: Brinquedo de criança. Espécie de ‘carrinho’ puxado na corda, amarrada
nas duas extremidades. Consiste em uma garrafa (água sanitária, sem alça), em que se
amarra, na horizontal, uma espécie de ‘língua’, fazendo com que, ao correr, a garrafa gire
inúmeras vezes e a ‘língua’ fique a bater em contato com o chão.
BATÊ PERNA [via R.S]: Diz-se da pessoa que anda muito pela vizinhança; Ver
Panapaneando, Pela Costera.

“chegava na casa dos mais velhos, logo falavam: “onde andaste que tamanho nariz criastes””.
(Ciro Xavier – Iguape/SP, 2020).

BATELADA: Unidade de medida. Grande quantidade. Ver Bardame ou Balaiada.


BATELÃO: (embarcação) Canoa Caiçara com grandes dimensões.

“O batelão é uma canoa grande, com 3 palmos de ‘boca’ e 3 braças de comprimento”.


(José Hipólito Muniz, Guaraqueçaba/PR, 2020).

BATENDO GUASCA [via R.S]: Mesmo que batendo perna; pela costeira.
BATER LINHA: (pesca) Pescaria de Caniço ou Vara de pesca.
BATERA: (embarcação) Canoa com fundo chato, sem quilha, utilizando-se o Remo de
Voga. Diz-se ainda da embarcação com motor de centro, porém, com a Popa achatada.

- 33 -
BATUÍRA: Charadrius semipalmatus. Ave marinha.
BEBERAGE: Remédio feito com ervas naturais, em Garrafada. Também Cordeá.
BEDELHO: Intrometer-se em assuntos alheios.
BEIJAMENTO: (Divino Espírito Santo) Toque instrumental21, logo após a cantoria da
Despedida ou a cantoria de Encerro, em que os devotos foliões, em fila, beijam a
Bandeira do Divino Espírito Santo.
BEM-RUIM [via R.S]: Antônimo de algo ou alguém belo, que se expressa o valor.
BEM-TE-VI: (mitologia) Pitangus sulphuratus. Diz-se que seu cantar remete a “eu teví”,
denunciava assim a fuga da Sagrada Família da perseguição do Rei Herodes. Por esse
motivo fora amaldiçoado, não servindo como alimento. Ver Curruíra, Gralha Azul, Sabiá
Laranjeira e Linguado.
BENDITO: (cantoria popular) Orações cantadas22 na região de Ubatuba/SP, em
determinadas ocasiões, como durante a Folia do Divino Espírito Santo. Ver também
Rosário de Maria e Martírio de Cristo.

“esse bendito é loUvado


Foi feito com fundamento
Recordai as minhas dores
suspendei meus pensamentos”
(Robson ‘Robinho’ Fernandes – Ubatuba/SP, 2021).

BENDITO DA PAIXÃO: (Terço-Cantado) Orações cantadas23 na região litorânea do


Paraná, em determinadas ocasiões, como na reza do Terço-Cantado. Versa sobre os
sofrimentos de Jesus Cristo durante sua condenação e cucificação. Ver Terço-Cantado.
BERDUGO [via R.S]: Sujeira pelo corpo. Craca.
BERDUGUE / VERDUGUE: (embarcação) Ripamento no ‘esqueleto’ da embarcação,
servindo para firmar o ‘bojo’.
BEREANDO: Ficar na beira da casa; rodeando algum lugar.

21
Ouça no álbum “Chegadas e Despedidas – Mestre André Pires – Cananéia/SP”:
<https://drive.google.com/file/d/1VEAysJ3ZtqLuexghbEIFGxmo7UUuFtBD/view?usp=sharing .
22
Ouça na voz da Folia do Divino de Ubatuba/SP:
<https://drive.google.com/file/d/19TnoydrGtjaeI8TuJExTjik6NVZ9dFHN/view?usp=sharing>.
23
Ouça na voz de Antônio Muniz, da comunidade de Barra de Ararapira – Guaraqueçaba/PR:
<https://drive.google.com/file/d/189VXLFtpB9l9qkWimSURXutPyUcIHI8W/view?usp=sharing>.

- 34 -
BERERÉCA: (culinária) Massa de Bijú feito a partir da raiz da Mandioca apodrecida,
prensada e socada e misturada com ovos; assada na folha da bananeira. Ver Mandipuva.
BERRERO: Gritaria, bagunça.
BETA [via R.S]: Corda feita com a casca do Cipó Imbé (Philodendron imbé Schott).
BETARA: Menticirhus littoralis. Espécie de peixe de escama.
BICA: Pequeno orifício de onde jorra água potável.
BICHA: Vermes, lombrigas. Para evitar em crianças recém-nascidas se confecciona um
colar com dentes de alho para estas usarem. Ver Ataque de Bicha.
BICHERA: Feridas com infecções em animais.
BICHERO: (pesca) Fisga, em formato de anzol, para retirar o peixe do mar e embarcá-lo.
BICHO DE FIGUEIRA: Lagarta ou embira (Indeterminado); venenosa. Também
Cachorrinho ou Marandová.
BICHO DE PURGA: Tunga penetrans. Parasita, também chamado de ‘Bicho de Pé’.
BICO: Órgão sexual masculino. Alcunha de pessoa com baixa estatura.
BICO DO CORVO: Diz-se da pessoa ou outro animal doentio, em fim de vida.
BIJU DE CUZCUZ: Massa da Mandioca, depois de prensada é misturada com fubá e
cozida no Cuzcuzeiro.

“[Biju de Cuscuz] depois de ralada e prensada, a massa é misturada com um pouco de fubá e vai
para o cuscuzeiro [panela de barro cheio de furos no fundo]. O cuscuzeiro é forrado com folhas de
banana nova ou palha de milho. Põe o cuscuzeiro dentro de uma panela com água, barreia a
tampa e leva a ferver em banho-maria por cerca de 30 minutos”.
(Dorçulina Fagundes Eiglmeier – In Memoriam)
(depoimento recolhido em Guaraqueçaba/PR, no ano de 2004).

BIJU DE GOMA: A Goma, extraída da massa da Mandioca após prensada, é misturada


com a prórpia massa da Mandioca e levada para assar.

“[Biju de Goma] enquanto prensada, a massa enxuga, deixando escorrer a mandiquera,


despejada na gamela. Com tempo, a Goma assenta no fundo da gamela. Depois de assentada a
goma é levada ao sol e seca bem, mistura-se com cerca de 30% da massa e vai ao forno”.
(Dorçulina Fagundes Eiglmeier – In Memoriam)
(depoimento recolhido em Guaraqueçaba/PR, no ano de 2004).

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Bijú, Cuzcuz e Cuzcuzeiro de barro

BIJU DE MANDIPUVA: (culinária) Raíz da Mandioca fermentada ou apodrecida, depois


de ralada, prensada, coada, é assada na folha da bananeira.

“[Biju de Mandipuva] era assim. Arranca a mandioca de ter um ano e meio e escolhe só as
grandes. Corta o jurupú, o talo e risca a mandioca [fazendo cortes, para facilitar no descascar].
Fazia uma poça, um buraco, cortava bastante folha de bananeira, forrava bem forrado o buraco,
punha a mandioca e água. Daí cobria com as folha da rama mesmo e depois bastante folha por
cima e mais terra por cima pra bicho não entra. Três dias [ou mais dependendo do sol] e tava ela
[mandioca] boiando de molinho. Daí, a gente tirava dali, lavava na fonte e punha água, levava o
tipiti e a gamela. Ia lavando e descascando e bem lavado ali. Aí rala, põe na prensa e deixa mais
ou menos bem enxuto, pega, soca bem socado, torna a prensá e vai indo, até que fique igual
farinha de trigo. Depois faz o biju no forno, pra corta tudo em pedacinho. Tem aquele cheiro forte.
(Dorçulina Eiglmeier – In Memoriam)
(depoimento recolhido em Guaraqueçaba, no ano de 2004).

BIJU DE TAPIOCA: Massa da Mandioca, após coada e peneirada, adiciona fubá


ou arroz, temperada com sal e cravo e levada para assar.

“[Biju de Tapioca] rala a mandioca, leva pra prensá e quando a massa tiver bem enxuta é coada
em peneira fina. Daí tempera com sal, cravo moído e põe fubá [ou arroz]. Leva ao forno, podendo
fazer com punhados enrolados em folhas de banana-maçã [melhor folha], pode fazer redondo ou
em pedaços finos para enrolar depois”.
(Dorçulina Fagundes Eiglmeier – In Memoriam)
(depoimento recolhido em Guaraqueçaba/PR, no ano de 2004).

“força no cú pra ganhá bijú / força na mão pra ganhá pirão”


(parlenda usada como motivacional em trabalhos pesados e coletivos)

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BILHA: Recipiente feito de barro, para colocar água, sobre a mesa. Ver Boião.
BIRIVA: Grito; gritaria.
BIRRA: Estar zangado; teimoso.
BIRRO: Igual a baqueta, para tocar bumbo. Era utilizado no tear para a confecção de
Esteiras de Piri.
BIRRUGA: Verruga. Ver Cebolana.
BIRUANHA: Mosca varejeira.
BOBA: Doença que acomete as aves de Criação.
BOBIÇA / BOBAJADA / BOBAJINHA: Mesmo que bobagem, besteira.
BOBÓ: (culinária) Camarão, decascado e cozido com mandioca e temperos.
BOCA: (utilizado para diversas funções) Refere-se à diversos tipos de ‘entrada’. [boca]
entrada da Barra; [boca] largura da canoa; entrada do furado; [boca do povo] falado pelo
povo; [boca do dia ou boca da noite] amanhecer do dia ou escurecer.
BOCA ABERTA: Sinônimo de ficar espantado.
BOCA DE BURRO: Alcunha daquele que é atrasado, ignorante. Ainda Mocorongo.
BOCA DE SIRI: Sinônimo de ficar quieto.
BOCA DE UNTANHA / BOCA DE PARÚ [via R.S]: Alcunha daquele que tem a boca
com tamanho descomunal ou que consegue abrí-la demais.
BOCA DURA: Diz-se da pessoa que fala ‘palavrões’ ou blasfêmias.
BOCA SUJA: Diz-se da pessoa que fala muitas besteiras ou Má-criação.
BOCHICHO / BUCHICO: Comentários sobre a vida de outrem.
BODOQUE: Arco, feito de galho envergado, para atirar pelote.
BOI DE MAMÃO: Manifestação cultural no litoral do Paraná24, equivalente ao Auto do
Boi ou Boi Bumbá, porém, nesta dramatização de rua, geralmente no período de Entrudo
ou das Festas Juninas, o personagem Vaqueiro é que morre, depois de levar chifradas do
Boi (diferentemente de outros autos onde o boi é que morre). Envolto em danças típicas,
como Balainhas, Pau de Fitas e apresentando outros personagens como Tichipá, Mariola,
Bernunça, Cavalo, dentre outros.
BOI-TATÁ: (mitologia) Diz-se de um cavalo que, no lugar da cabeça, possui fogo.
BOIÃO / MORINGA: Recipiente de barro, para armazenar água e mantê-la fresca. Ver
Bilha.

24
Assista ao trailer do documentário “Boi de Mamão”: <https://www.youtube.com/watch?v=7Tv1AevZxzw>.

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BOJO: (embarcação) Alargamento (corpo) da Canoa.

“[Bojo] o fundo da canoa; se a canoa tem 1 metro de boca o ideal é que tenha um bojo no mínimo
de 1,20 metro, pelo menos vinte por cento a mais de cada lado. Você tem canoa segura ca borda
fechada. Se o bojo for roliço, for estreito. Pessoa quer fazer uma canoa muito larga, com o fundo
seco; canoa bojuda ela é uma canoa segura”.
(Juninho – Ubatumirim/SP, 2020).

BOLANDEIRA: (Casa do Tráfico) Maquinário para ralar a Mandioca. Semelhante a


Cevadeira, porém, a força motor é da eletricidade.
BOLEADO: Arredondado
BOLINAR: Mexer, no sentido de apalpar, passar a mão noutra pessoa. Ver Expirucar.
BOLINHO DE GRAXA: (culinária) Consiste em bolinhos fritos, feitos a partir da Farinha
de Trigo, água e sal (alguns acrescentam arroz ou pedaços de banana madura).
BONITO PRA SUA CARA: Designa decepção com o ato praticado por outra pessoa.
BOQUEIRA: Feridas labiais, no canto da boca, provocada por fungos e ou bactérias.
BORDA: (embarcação) Laterais da embarcação.
BORDADURA: (embarcação) Feitio e detalhes da borda da embarcação.
BORDÃO: Cajado. No Fandango Caiçara se refere ao nome da última corda fina da
Viola Fandangueira. Ainda à frases e ou Pé de Moda, conhecidos por todos e repetidos
com frequência.
BOROCOXÔ: Triste, abatido.
BORRADO: Sujo. Ver Burrasquera.
BORRAMENTO: (Fandango Caiçara) No primeiro dia de Entrudo, fazia parte da
diversão pintar ou ‘borrar’ o rosto com tição de carvão e pó de café.

“borrava a cara toda no primeiro dia de carnaval e era dançando pelo menos uma moda, de
sábado pra amanhecer domingo com a cara borrado”.
(Antônio Alves Pires – In Memoriam).
(depoimento recolhido em Guaraqueçaba, no ano de 2003).

BORRASCA: Tempestade.
BORRASCADA / BURRASQUERA [via R.S]: Também Jateada, Mal de Barriga ou
Barriga Mole; desinteria. Estar sujo, diz-se de dejetos. Também Breado.

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BOTA NA XINCHA: Expressão que remete à intimidação; ‘botar na parede’ ou tomar
atitude extrema na espera que outro confesse algo ou algum crime praticado.
BOTE: (embarcação) Diz-se da embarcação com motor de centro e formato da Popa
achatada, porém, quando possui Casaria.
BRAÇA: (pesca) Unidade de medida do comprimento do Pano da rede (equivalente aos
braços abertos e esticados).
BRACORAIA: Vestimentas com várias listas multicoloridas ou desenhos extravagantes.
BRADAR: gritar, berrar.
BRAZIDO: Brazeiro, fogaréu, com ardentia.
BREÁ / BREADO: Sujo.
BREU: Mata fechada ou mata virgem; diz-se do local onde pouco se enxerga a frente,
muito escuro; cerração forte; escuridão da noite. No Fandango Caiçara remete a resina
para passar nas cordas do arco da Rabeca. Tradicionalmente se usava do nó da árvore
Pinho (Pinus).
BROINHA DE GOMA: (Fandango Caiçara) Espécie de biscoito feito a partir da Goma
extraída da Mandioca ralada e prensada. Na receita, adiciona-se ovos, cravo e açúcar,
levando a massa para assar.

“relava a mandioca, exprimia e deixava oito dias ali a goma com a


mandiquera.
Azedava a goma né, pois não tinha fermento naquele tempo. Punha no
sol por três dias, enxugava bem enxutinho aquela goma. Depois passa no
forno e podia guardá até ano. Misturava a goma com gema e a clara tinha
que batê e deixá espumada pra misturá na massa pronta. Amassava bem.
Faziam em dois ou três dias antes, eram feitas latas cheias, preparadas
mais no tempo de casamento, batizado ou baile mesmo”.
(Dorçulina Fagundes Eiglmeier – In Memoriam).
(depoimento recolhido em Guaraqueçaba, no ano de 2004.)

BRUÇO: Posição do corpo deitado, ficando com os braços para baixo.


BUCAÇO [via R.S]: Mesmo que grande.
BUCHA: Equivalente a uma colherada de comida ou pequena porção. Também pode
designar assunto mal resolvido; ainda apetrecho para vedar vasamento em embarcações.
BUFANDO: (culinária) Fervendo; Também designa pessoa extremamente irritada.
BUFO: (Fandango Caiçara) Diz-se da sonoridade que ecoa da Viola Fandangueira.

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BUGRE: Dizia-se do nativo ou do indígena. Nos últimos anos, note-se, há uma
autoafirmação enquanto Caiçaras, caindo tal denominação em desuso. Designa ainda
etnia de indígenas brasileiros. Há quem assim chame o Bagre Branco, de tamanho
superior aos demais (Bagre Bugre).
BUÍZA: Mesmo que Ararapuca, ou seja, armadilha para capturar pássaros.
BULHA: Ruído, barulho alto, confusão.
BULIR / RESBULIR: Mexer. Remexer, tocar.

BUSANO / GUSANO: Molusco vermiforme, da Família Teredenídeos. Corroe e perfura


madeiras imersas, estragando a embarcação.

Busano

BUSSUROCA [via R.S]: Buraco fundo, ribanceira; barranco alto.


BUSULÉU: Desordem, confusão.
BUTELO / BRUTELO: Grande; de tamanho descomunal. Também Lemarde, Ximirde.
BUTOQUE / OLHO DE BUTUCA / OLHO DE BOTO: Diz-se daquele que tem olhos
grandes; olhos arregalados; Ainda o olhar de “rabo de olho”. Ver Esbugalhado.

“o bobo era vinte e um, morreu vinte e ficou um”


(expressão que remete à sagacidade do indivíduo, colocando-se mais esperto que outros
em situações em que sairia prejudicado).

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-C-

Cevadeira

CABEÇA: Designa liderança de determinado grupo.


CABEÇA DE BAGRE: Diz-se da pessoa desajuizada.
CABEÇA DE BAGRE / ESPÍRITO DE PORCO: Diz-se da ave marinha Biguá
(Phalacrocorax brasilianus), que se alimenta de bagre e emite som semelhante ao ronco
de um porco.
CABEÇA DE MODA: (Fandango Caiçara) Equivalente ao refrão. Ver Pé de Moda.
CABEÇA DE VENTO: Começo de ventania; Diz-se também da pessoa esquecida.
CABOCLO: Diz-se do morador do interior, no sítio. Ver Caiçara.
CABRERO: Ficar nervoso, desconfiado.
CACARECANDO: Cacarejar. Som emitido pelas Criação (galinhas) no Terreiro.
CACAU: Encrenca.
CAÇÃO: Condrichthyes. Espécie de peixe, Tubarão, também chamado de Tintureira. Sua
banha é passada em madeiras, evitando a infestação de cupins. Há ainda o Cação Viola.
CACEIO / CACEAR: (pesca) Consiste em soltar a rede, com as devidas bóias de
marcação, a andar, a rede, conforme a maré e ir buscá-la, dentro de poucas horas.

Na Baia de Paranaguá/PR é proibida a pesca de espécies com malha miúda (5mm);

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já as malhas 6 e 7 mm são utilizadas mais para captura de Pescadinhas; as malhas 8 e 9 mm
para Tainhota; as malhas 10 e 11 mm para Tainha, a malha 12 mm para Bagre; as malhas 12, 13,
14 mm para Salteira e a malha 20 mm para Linguado.

CACHEIRO: Vendedor, de armazém. Dono da Venda.


CACHOPA: (Romaria do Divino Espírito Santo) Flores no alto do mastro da Bandeira,
envoltas ao Pombinho que simboliza o Divino Espírito Santo. Também Buquê ou Tope.
CACHORRINHO: (Fandango Caiçara) Um dos nomes da ‘meia corda’, na Viola
Fandangueira. Também chamado de Turina, Periquito ou Cantadeira.
CACHORRO DO MATO: Procyon thous. Mamífero carnívoro que habita áreas de
mangue. Também chamado de Mangueiro ou Cachorrinho Policial.
CACINDANGA: Diz-se do Saci. Ver Fite ou Coisa Ruim.
CAÇOAR: Dar risadas de alguém. Também tirar Sarro ou Zombar.
CACO [via R.S]: Pedaço de qualquer coisa. Fragmento de vidro ou telha quebrado.
CACUNDA: Costas.
CACUQUE: Ânus.
CAGA-SEBO: Euscarthmornis nidipendulus. Espécie de passarinho, Cambacica.
CAGAÇO: Medo, temor.
CAGADOR [via R.S]: Banheiro improvisado, no mato. Também Mitório.
CAGAIBA [via R.S]: Diarréia; caganeira.
CAIÇARA: Indívíduos que vivem em parte do litoral carioca e ao longo do litoral paulista,
paranaense e catarinense, herdeiros da miscigenação entre o indígena, o português e o
negro africano. O termo remetia a definições estereotipadas, fruto de intensa
desarticulação sócio-cultural decorrentes de interesses imobiliários e conservacionistas,
porém, hoje, sinônimo de luta e resistência. Através do Decreto-Lei nº 6.040/2007 foi
instituída a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades
Tradicionais PNPCT e o Caiçara reconhecido como Povo Tradicional do Brasil.

“com isolamento relativo, essas populações desenvolveram modos de vida particulares que
envolvem uma grande dependência dos ciclos naturais, um conhecimento profundo dos ciclos
biológicos e dos recursos naturais, tecnologias patrimoniais, simbologias, mitos e até uma
linguagem específica, com sotaques e inúmeras palavras de origem indígena e negra. As
populações tradicionais estão relacionadas com um tipo de organização econômica e social com
pouca ou nenhuma reserva de capital, raramente usando força de trabalho assalariado. Nela,
produtores independentes estão envolvidos em atividades econômicas de pequena escala, como
agricultura, pesca, caça, coleta de recursos florestais e artesanato”. DIEGUES (2004, pg.14)25

25
DIEGUES, Antônio Carlos. O mito moderno da natureza intocada. São Paulo: HUCITEC: NUPAUB: USP, 2004.

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CAIFÁZ [via R.S]: Diz-se da pessoa mentirosa, ruim, trapaceira.
CAITÊ: (indígena) Área de matagal. Também designa espécie de planta Helicônia,
conhecida ainda como Bananeira do Mato.
CALABREADO / LABREADO [via R.S]: Meio sujo. Meio bêbado.
CALABUCHA: Espécie de animal (Indeterminado) que ocorre no Mar de Fora, indicado
como remédio para mulheres.
CALAFATE: Umbrina cirrosa. Espécie de peixe de escamas.
CALÃO: (pesca) Nó no cabo de rede de pescar. Também o palanque em que se dá a
amarração da rede, quando em pesca Estaqueada ou para Camboar na Costa.
Modalidade de pesca que consiste em dois pescadores, cada qual em uma extremidade
da rede, um na costa (praia) e outro dentro da água, até a altura da cintura, de forma a
cercar o cardume, com rede 20 ou 25 braças. Ver Camboá.
CALÇA PAU: Diz-se ao estar com as vestimentas curtas. Também Atravessa-Rio.
CALCULE SÓ: Expressão que remete a imaginar a ação, destreza de outrem.
CALIÇA: Formação compacta de lama. Ainda restos da construção civil (entulhos).
CALOMBO: Tumor, ferida com inchaço.
CALUNDU: Estar bravo.
CAMAÇADA DE PAU: Trata-se de bater com violência extrema, surrar.
CAMARADA: Diz-se daqueles que formam parceria para pescarem juntos; geralmente
se utiliza também no Fandango Caiçara designando os violeiros.
CAMAROÁ: Ato de ir pescar camarão, também chamado de Gerivá, quando para tal se
utiliza o Gerival. Ver Gerival.
CAMBADA: Coletivo de grupo. Designa grupo de desafazerados. Também Patota.
CAMBAIO: Diz-se da pessoa que tem as pernas tortas. Também Perna de Alicate.
CAMBALEANDO: Bêbado.
CAMBÉ: Trabalho de enrolar cipó no mato.
CAMBICHO (Fuso): Pau para enrolar fio artesanal. Também remeta à madeira onde se
amarram, nas extremidades, latas para armazenar água, carregando-a sobre os ombros.
CAMBIRA: (culinária) Peixe seco, cozido com bananas verdolengas.
CAMBOÁ / CAMBAL: (pesca) Consiste em dois pescadores, cada qual em uma
extremidade da rede; um na praia e outro dentro da água, de forma a cercar o cardume.
Ver Caracol.

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CAMBOTE: Diz-se da pessoa ao cair; ficar de ponta-cabeça ou da embarcação, virada
de cabeça ou de ‘boca’ para baixo.
CAMPEAR: Andar a ermo; vagar em determinado lugar.
CANAL: Telha que serve para cobertura de cumieira da casa. Também remete, na
navegação, à rota, em meio a Baixios, por onde passam as embarcações sem que se
atrase a viagem. Também chamado de Furado.
CANAPUVA / CANDAPUVA: Rhizophora mangle Roxb. Espécie de Mangue. Sua
casca é utilizada para fazer tintura para Pano de Rede.
CANECÃO: Cafeteira, jarra.
CANELA PRETA: Ocotea catharinensis. Espécie de madeira.
CANELA SASSAFRÁS: Ocotea odorífera. Espécie de madeira.
CANEMA: Espécie de árvore (Indeterminada).
CANGOTE: Mesmo que nuca ou pescoço.
CANGULO: Balistes carolinensis. Espécie de peixe com escamas e tamanho pequeno.
CANGUTA: Ombros.
CANOA CAIÇARA: Embarcações construídas no território caiçara, fazendo uso de
madeiras nativas, preferencialmente o Guapuruvú (Schizolobium parahyba). Também
chamada de ‘canoa de um tronco só’, ‘canoa de um pau só’ ou ainda de Ubá.

Em 2013 foi protocolado junto ao Iphan Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico


Nacional o pedido da Associação dos Pescadores da Enseada/Ubatuba-SP, pelo
reconhecimento do saber-fazer da Canoa Caiçara26 como Patrimônio Imaterial do Brasil
(considerado pertinente-aguardando tramitação).

CANOA LOUCA: Embarcação sem muita estabilidade. Também Macuca.


CANTADA: Conversa cheia de segundas intenções.
CANTADEIRA: (Fandango Caiçara) Um dos nomes da ‘meia corda’ da Viola
Fandangueira (ver Cachorrinho). Designa também a 4ª corda (ou a 2ª corda fina).
CANTAREIRA: Espaço, espécie de prateleira, construída da janela da cozinha para
fora, onde se colocam potes e panelas para secar ao sol.

26
Acessar os materiais de pesquisa e acompanhar o registro: <http://nupaub.fflch.usp.br/registro-da-canoa-caicara>. Assista ao
documentário “O último fazedô de canoa”: <https://www.youtube.com/watch?v=6BT2jIVr_hc>.

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CANTONEIRA: Espaço, espécie de prateleiras, construídas nos cantos, entre as
paredes da casa, para guardar utensílios domésticos ou outros pertences.
CANTORIA DO DIVINO: (Romaria do Divino Espírito Santo) Designa os cânticos da
equipe de Foliões em louvor ao Divino Espírito Santo, pelas comunidades onde passam,
sequencialmente na ‘Chegada’, ‘Despedida’, ‘Encerro’, ‘Beijamento’ e ‘Alvorada’, ainda
com toques específico na Igreja, por vezes ou outra ocasião particular.
CANUTILHO: (Fandango Caiçara) Nome de 1ª corda grossa da Viola Fandangueira.
CAPA DA GAITA: Diz-se da pessoa muito magra.
CAPACETE / CHAPÉU: (Casa do Tráfico) Peça de madeira que fica sobre o Tipiti,
cheio de massa de Mandioca, a ser espremida na Prensa. Também chamado de Queijo.
CAPELA: Nome com o qual ficou conhecido a Companhia Agropastoril (após realizarem
a pintura da ‘Capela’ da Colônia de Superagui (Saco do Morro)), que na década de 1970,
iniciou suas atividades em comunidades no litoral do Paraná, expropriando os antigos
moradores com a presença de jagunços, cercando as terras e soltando búfalos pela
região, estes que, mais tarde, abandonados, tornaram-se selvagens.
CAPELÃO: (Terço Cantado) Responsável leigo na comunidade pelos cultos religiosos
quando da ausência de sacerdotes católicos. Mantinham rituais litúrgicos/populares em
ocasião de festas celebrando seus padroeiros e em falecimentos, quando entoavam
cantorias sacras e o Terço-Cantado (Terço de Sétimo Dia).
CAPENGANDO: Aquele que está com as pernas fracas; caindo ou cambaleando.
CAPIÁ: Coix lacryma. Semente usada na confecção de Terço ou Rosário. Na Medicina
Rústica, usa-se suas folhas para lavar ferimentos de picada de cobra.
CAPIM CIDRÓ: Cymbopogon citratu. Planta utilizada na Medicina Caseira, sendo
indicado seu chá como calmante.
CAPUÊRA / CAPOERA: Mato raso, limpo recentemente.
CARA CHUPADA: Diz-se do rosto com Feição muito magra.
CARÁ DE ESPINHO: (culinária) Dioscorera. Tubérculo comestível.
CARA DE ONTEM: Expressão que designa Feição de cansaço.
CARÁ DE PORCO-DO-MATO: Remédio do Mato. Tumor maligno que cresce no
estômago do Porco do Mato (Tayassu tajacu), a partir das ervas que ingeriu em vida.

“sempre usei. Uma vez curei bronquite de um guri com o chá desse Cará. É feito na Minguante”
(Alziro Pedro – comunidade de Utinga - Guaraqueçaba/PR – depoimento recolhido em 2010).

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CARA DE TACHO: Diz-se da pessoa envergonhada. Também Encalistrado.
CARA LAMBIDA: Diz-se da pessoa desavergonhada; arruma confusão e reaparece
como se nada tivesse acontecido.
CARACOL: (pesca) Chamado de Caceio de Praia ou ‘Redondo”, consiste em dois
pescadores, um na praia e outro na canoa (ou os dois em canoas, mas separadas),
ambos segurando as extremidades da rede, a cercar o cardume. Deve-se fazer barulho
para emalhar os peixes, portanto, batem com a pá do remo na água. Ver Camboá.
CARAGO: (culinária) Mistura da farinha ou farinha de milho ao copo com café.
CARANGUEJADA: (culinária) Panelada de Caranguejo Uçá, cozido na água e sal,
acrescentado como tempero, folhas de Alfavaca.

Espécies de Caranguejo

CARANGUEJO CHAMA-MARÉ: Ucides Thayeri. Caranguejinho, de tamanho


pequeno, sai da toca e faz movimentos com as garras, quando a maré está de enchente.
CARANGUEJO GAROÇÁ: Ocypode quadrata. Caranguejinho de praia. Também
Maria-Farinha. Utilizado na Sabença para acelerar os primeiros passos das crianças.
CARANGUEJO GUAIÁ [via R.S]: Menippe nodifrons Stimpson. Encontrado em pedras,
próximas ao mar; tem corpo troncudo e forte. Usado como isca para Miraguaia.
CARANGUEJO GUAIAMUM: Cardisoma guanhumi. Encontra-se em áreas de
transição entre o mar e mato.
CARANGUEJO MARINHEIRO: Aratus pisoni. Encontra-se no mangue, geralmente
trepado nas raízes, pois não é de se enterrar. Também chamado de Tunica, é
avermelhado e preto.

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CARANGUEJO UÇÁ: Espécie de Carangueijo (Ucides cordatus) cuja liberação para
captura vai do mês de dezembro até o mês de março.
CARANGUEJO SIVOCA: Indeterminado.
CARAPINHÉ: Milvago chimachima. Ave - Gavião Carrapateiro - Também brincadeira
infantil que consiste em imitar o gavião ao caçar sua presa (beliscar a parte superior das
mãos do outro, e este a fazer o mesmo nas mãos da pessoa, de forma a sobrepor-se mão
sobre mão, uma a beliscar a outra, enquanto repetem o nome “carapinhé, pinhé, pinhé”).
CARAPUÇA: (pesca) Parte superior no Pano da tarrafa Gerival, onde ficam aprisionados
os camarões.
CARATINGA: Eugerres brasilianus. Espécie de peixe de escamas.
CARAVELHA / CRAVELHA: (Fandango Caiçara) Peça de madeira – tarracha - na
‘cabeça’ da Viola Fandangueira, servindo como afinador das cordas. Também chamado
de Cravilha ou Caravilha.
CARÃO: Levar bronca; passar vergonha. Também Pito ou Ralho.
CARAVELA: Animal marinho Physalia physalis, parente da Água-Viva, é altamente
tóxica em contato com o ser humano.
CARCAÇO: Diz-se da pessoa ‘arteira’, malandro.
CARCOMIDO: Diz-se da pessoa abatida, cansada, vencida.
CARDO DE MASSA [via R.S]: Líquido resultante da Massa da Mandioca espremida na
Prensa. Mesmo que Mandicuera.
CARDERADA / CALDERADA: (culinária) Ensopado de peixe; pode ser preparado com
diversas espécies, como o bagre, a corvina, a tainha, entretanto, consiste na utilização de
vários temperos também (salsinha, cebolinha, cebola, dentre outros).
CARNEGÃO: Parte dura, no interior de furúnculos, devendo ser expelida, para ter cura
da enfermidade.
CARNICEIRO: Diz-se do profissional dentista de má fama.
CAROVA / CAROBA: Jacaranda puberula. Espécie de madeira.
CARQUEI-LHE / DEI-LHE / LARGUEI-lHE: Expressão que remete a bater, espancar.
CARQUEJA: Baccharis trimera DC. Planta utilizada como Remédio do Mato. A espécie
‘Carquejinha’ é procurada para perda de peso.
CARREGADO: Designa nuvens no céu, indicando chuva.

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CARREIRO / TRILHA / PICADA: Mesmo que caminho. Diz-se ainda da trilha ou
rastros na mata, por onde andam determinadas caças, geralmente próximo aos rios.
CARRERA / CARRERO: Pressa; corrida. Ainda remete ao fato de ser expulso de
algum lugar (levar um carrero) ou ainda “sair no Carrero”, desaparecer pelos caminhos.
CARRINCA [via R.S]: Encaixe, na Canoa Caiçara, para se colocar, quando necesário, o
mastro, usando da força do vento para navegação. Também chamado de Calinga.

“[carrinca] furo deixado no fundo da canoa, debaixo do banco de proa. Quando vai fazer a canoa,
a parte fica mais grossa embaixo do banco de proa. Fura o banco; passa o mastro pelo banco e
vai lá dentro da carrinca”.
(Juninho - Ubatumirim/SP, 2020).

CARTAZ: Propaganda que exalta as qualidades da pessoa.

(Fandango Caiçara)

CARUERA: Sobra de casca da mandioca, depois de ralada e prensada.


CASA DE TRÁFICO: Local onde se guardam os equipamentos e apetrechos de fazer
Farinha de Mandioca. Também chamado de Casa da Farinha ou Farinheira.
CASARIA: (embarcação) Cobertura de madeira sobre o Bojo da embarcação, no sentido
da Proa, geralmente em Bote ou lancha.
CASINHA: Privada ou Mitório, quase sempre construído distante da casa-moradia.
CASQUEIRA: Acidente; algo que deu errado.
CATAIA: Pimenta pseudocryophyllus. Árvore cujas folhas são utilizadas na Medicina
Caseira e como tempero; também apreciada em infusão na chachaça – Uísque Caiçara.
CATINGA: Mau odor. Ver Asco, Pitiu, Jaó e Réla.
CATREVAGE [via R.S]: Refere-se a quantidade de pessoas ou ainda a animais.
CATUERO: (pesca) Linha de pesca com 3 anzóis presos, porém, com bóia de
identificação numa ponta e poita na outra, devendo ficar fundeada. Espécie de Espinhel.

- 48 -
CATUTO: Ninho de vespa. Também se refere ao instrumento musical e artesanal, feito
de cabaça ou porungo, com formato semelhante a um bandolim, por isso também
chamado de Bandola.
CAVAÇÃO: Ato de plantação de Rama de Mandioca. Também Covareá.
CAVACO: Instrumento musical; também pedaço de madeira para lenha.
CAVALHEIRO: (Fandango Caiçara) Diz-se do homem que faz par com a Dama.
CAVALO MARINHO: Família Syngnathidae. Espécie marinha utilizada na Medicina
caseira. Dizem afastar o mau olhado e atrair sorte.
CAVERNAGE: (embarcação) Remete à fase inicial da construção naval, apenas a
‘caverna’, ou seja, aparelhamento de vigas e caibros. Também na culinária, remete à
ossada, restos do frango ou da caça.
CAXETA: Tabebuia cassinóides. Madeira branca, tida como “mole”, sendo, portanto,
utilizada na confecção de artesanatos, utilitários e, tradicionalmente, predominante na
confecção de intrumentos do Fandango Caiçara.
CEBOLANA: Indeterminado. Planta marinha cujo fruto – cebolana – é utilizado na
Medicina Rústica no tratamento de verrugas.
CEDRO: Cedrela fissilis. Espécie de árvore cuja madeira é boa para caibros e vigas.
Também usada na confecção de Viola Fandanguera.
CEGO: Instrumento (faca, serrote, formão) desamolado. Também Serenga.
CENTRO: (mato) Diz-se ao estar na floresta, mato adentro ou no meio do mato.
CERNE: A madeira, quando cortada, sua parte mais interna, apresentando boa
durabilidade.
CERCO / PASSÁ O CERCO: (pesca) Consiste em dois camaradas, em Canoas
diferentes, ‘cercar’ o cardume com o Pano da rede.
CERCO / CERCO FIXO: (pesca) Semelhante a um curral, confeccionado de Taquara,
armado próximo ao mangue para capturar Tainha na época da Corrida da Tainha.
Técnica proibida no litoral do Paraná, porém, utilizado em fase experimental, aguardando
parecer definitivo do estudo de viabilidade.
CERRO / CERRAÇÃO / CERRADO: Cerração que dificulta a visibilidade na
navegação. Remete ainda ao Baixio.
CETRA: Mesmo que estilingue; instrumento de criança para Pelotear.
CÉVA: Local onde se coloca comida para atrair animais para caçar em seguida.

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CEVÁ: (culinária) Ralar a Mandioca; mesmo que Relar.
CEVADEIRA / RODA: Instrumento da Casa do Tráfico, em formato de roda sobreposta
por metal perfurado, servindo para ralar a Mandioca, obtendo a massa que vai resultar na
Farinha das Mandioca.
CHACHO: Âncora feita com pedras, em cruz, com 4 varas de madeira. Também designa
qualquer trabalho mal feito. Ver Fateixa.
CHAMAR A CANOA: (embarcação) Movimento do Remo na água, a partir da Proa
(quando se faz da Popa, se diz “governá a canoa”), a mudar o direcionamento da
navegação na Canoa Caiçara.
CHAMUSCADO: Meio queimado.
CHAPA: Também refere-se à dentadura.
CHAPADA / CHAPULETADA: Murro, soco.
CHAPADO: Embarcação com excesso de carregamento de mercadorias. Também
designa o bêbado.
CHAPEADA / CHAPA: Corrida, velocidade. Geralmente refere-se ao motor da
embarcação em máxima aceleração.
CHAPÉU DE COURO: Echinodorus grandiflorus Mich. Planta utilizada na Medicina
Caseira.
CHAPOCA: Brincadeira, como um combinado; ao encontrar, de surpresa atingir o outro,
assim como Metadinha e Hoje Não. Consiste em dar um tapa, com a mão entre aberta, na
nuca de outra pessoa.
CHAPUZ: (construção civil) Peça, espécie de braçadeira, que reforça a armação do
telhado na casa de madeira.
CHARCO: Terreno alagadiço.
CHEGADA: (Romaria do Divino Espírito Santo) Cantoria27 em louvor ao Divino Espírito
Santo, executado pelos Foliões do Divino, quando da entrada em cada casa de seus
romeiros. Nesta cantoria improvisam versos pedindo a presença do Divino Espírito Santo,
saudando o senhor e a senhora donos da casa, seus familiares e cada imagem de santo
ou objeto sagrado disposto no altar previamente montado para o ritual.
CHEIRANDO: Diz-se quando a comida está estragada, apodrecendo; Também Moído,
no caso de carne ou peixe, ou mesmo Suruí.

27
Ouça no álbum “Mandicuéra: Fandango pancada”:
<https://drive.google.com/file/d/1BMAJ55jRxRG8gwYnxTXVaNvenWgoq7x2/view?usp=sharing>.

- 50 -
CHIIII: Expressão após ser surpreendido com alguma notícia assustadora.
CHIANDO: Resmungando, reclamando.
CHIBA: Manifestação cultural caiçara, consistindo em dança sapateada ou rufada,
praticada no litoral de São Paulo e Rio de Janeiro.

“Ciranda e Chiba é uma variante do Fandango [...]. Ciranda é uma dança de roda e Chiba uma
dança sapateada, rufada. Não é algo assim, específico, no sentido de identificar todo um
movimento [...]. aqui muita gente antiga usava o termo Fandango e Chiba era uma dança. O Chiba
virou uma referência porque tinha casa onde o pessoal dançava só chiba. É uma dança, uma
variante que fazia parte de todo conjunto musical do caiçara”.
(Mário Gato – Ubatuba/SP, 2020).

CHICO: (Fandango Caiçara) Moda em que se intercala o batido e o valsado.


CHIMARRITA / CHAMARRITA: (Fandango Caiçara) Moda valseada, também
chamada de Limpa Banco, onde todos os presentes fazem questão de dançar. O nome
deriva de espécie de planta Vernonia polyanthes Less.
CHIMARRO: Amargo. Diz-se do café servido sem tempero/adoçar.
CHIMIA: Doce de abóbora ou qualquer outro doce caseiro, em calda.
CHIMIRDE: Remete tamanho descomunal de algo ou alguém.
CHINCHADA: Bronca.
CHINCHA: Diz-se ao pressionar alguém à confessar ou delatar algo; “encostar no muro”.
CHIO: Dor no peito; dor nos pulmões. Bronquite.
CHIPUTE [via R.S]: (culinária) Café misturado com farinha de milho.
CHISPA: Ser expulso de algum lugar.
CHOÇA: Cabana.
CHOCO: Diz-se do ovo podre; Ainda designa pescador azarado ou Pé Frio.

Quando a esposa engravida, diz-se que o pescador fica ‘choco’; a esposa deve evitar entrar no
rancho de pesca e caso o faça, o esposo então deve desentralhar e entralhar seu pano de rede.
Acreditam que dá azar passar por cima do pano da rede.

CHOCOLATERA [pesq.A.D]: Panela, bule ou jarro de barro, mais precisamente a


panela que serve para torrar café.
CHORAMINGAR: Reclamar. Insistir na reclamação.

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CHUMAÇO: Muito mato; emaranhado de matagal e capim. Ver Guanxume.
CHUMBADO: Bêbado. Também Chapado, Embalado, Escamado, Calabreadao e
Banzeiro.
CHUMBEIRO [pesq. A.D]: Utensílio de barro usado como contrapeso na rede de pesca.

“peça de barro em forma de elipse, com dois furos usado como


contrapeso na arpoera para afundar a rede no mar”.
(Aorélio Domingues – Paranaguá/PR).

CHORORÓCA: Forte irritação na garganta; pigarro.


CHURRILHO: Diarréia.
CIAR: Querer bem, proteger, sentir ciúmes.
CINTA DA MARÉ [via R.S]: Marcação natural do nível da água do mar nas estruturas
do mangue, do barranco, das pedras. Quando no mangue, também chamado de Nhundu.
CIPÓ-CHUMBO [via R.S]: Diz-se da pessoa “folgada”. Remete a uma espécie de cipó,
utilizada como Remédio do Mato.

“aquela que gosta de tirá proveito dos outros”.


(Ciro Xavier – Iguape/SP, 2020).

CIRANDA CAIÇARA [via R.S]: Manifestação cultural caiçara, consistindo em dança de


roda, praticada no litoral de São Paulo e Rio de Janeiro.
A Ciranda Caiçara de Paraty, é declarada Patrimônio Cultural Imaterial do Estado do
Rio de Janeiro (Lei nº 7994/2018).

(Ciranda Caiçara – Paraty/RJ)

CISCANDO / CISCANDO DE GALO: Expressão que remete ao ser valente, que


insiste em estar em lugares onde não é bem vindo.
CISCAR: (animais) Refere-se ao remexer a terra do Terrero em busca de alimentos.
CISCO: Sujeira, poeira, miudeza.
COBREIRO: Infecção na pele.

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CÓÇA: Surra; apanhar. Também Cornaço ou Sóva.
COCEROSO [pesq.A.D]: Que coça muito.
COCHO: Pedaço de Canoa Caiçara, cortada ao meio, servindo ainda para o fabrico da
farinha da Mandioca ou plantar verduras no quintal.

Cocho com Massa de Mandioca

CÓCICA: Cócega.
CÓCORA / CRÓCA: Posição corporal, agachado; o peso do corpo sobre as pernas.
COCORÉCO: (onomatopéia) Imitação do cantar da Criação, diz-se remeter a espíritos
vagando (quando o galo canta “fora de hora”, deve jogá-lo na maré vazante), também
moças fugindo de casa (quando as galinhas cocorecam) ou prenúncio de morte.
COISA FEITA: Remete a trabalhos de feitiçaria, malefício sofrido por alguém.
COISA RUIM: Remete a forças malígnas; ainda aos desobedientes e ou violentos.
COIVARA: Técnica de agricultura itinerante nas comunidades tradicionais que, consiste
em abrir uma clareira, empilhar os galhos e queimá-los, assim, adubando a terra e
plantando – pousio – por períodos determinados, interrompendo-os para regeneração.

O Sistema Agrícola Tradicional das Comunidades Quilombolas do Vale do Ribeira -


um conjunto de saberes e técnicas acumuladas, oriundas do repertório de conhecimentos
agrícolas, ambientais, sociais, religiosos e lúdicos das comunidades quilombolas
localizadas na Região Sudeste do Estado de São Paulo e leste do Estado do Paraná, no
Vale do Ribeira, foi reconhecido como Patrimônio Cultural do Brasil (Iphan, 2018).
Para saber mais:
<http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/1944>.

- 53 -
(reza para apagar o fogo – recolhida em 2020 com José Hipólito Muniz - Guaraqueçaba).

COMBRO: Duna de areia, intersecção entre a praia e a vegetação.


COMEDIO: (mitologia) Diz-se de seres que habitam o solo, ocasionando eventuais
desbarrocamento na superfície.
COMÊ SOLTO: Designa briga, discussão.
COMICHANDO: Remete a fartura, quantidade de qualquer espécie.
COMIZANHA: Fartura de alimentos.
COMPANHEIRO: (Fandango Caiçara) Diz-se do parceiro tocador de Viola
Fandangueira. Também chamado de Camarada.

(Fandango Caiçara)

CONGADO: Manifestação cultural-religiosa com canto e dança28 como louvor a São


Benedito e Nossa Senhora do Rosário; centenária em Ubatuba/SP.

“TÁ NA FRENTE NOSSO SANTO PADROEIRO

QUE REPRESENTA NO QUADRO DESSA BANDEIRA


VENHA VER A CONGADA BRASILEIRA
VENHA VER NOSSO MANEJO DE OCNGUEIROS”
(Robson “Robinho Fernandes” – Ubatuba/SP, 2021).

CONGO: Arius spixii. Espécie de Bagre Amarelo. Também chamado de Gonguito.


CONSERTADA: Cachaça artesanal, atualmente produzida em Ubatuba/SP, com açúcar
queimado, Cravo e Canela. Em Guaraqueçaba/PR, garrafada destinada à parturientes.

28
Ouça o Grupo de Congado de bastões de São Benedito, de Ubatuba/SP:
<https://www.facebook.com/CongadaDeBatoesDeSaoBenedito/videos/2503508606337043>.

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CONSERTAR: Ato de limpar o peixe para o consumo ou a venda. Também Lidar.
CONTRAVAPOR: Reação inversa ao ato de dar um Murro ou Soco em alguém.
COPIADA DE DENTRO [via R.S]: “Amarrado de Bambu que faz a vez da bóia na rede
do Cerco, próximo ao caminho do Cerco”.
COPIADA DE FORA [via R.S]: “Amarrado de Bambu que faz a vez da bóia do lado de
fora da rede do Cerco”.

Para saber mais:


http://informativo-nossopixirum.blogspot.com/2009/05/chico-mula-simplesmente-e-eterno-chico.html

CORADO: Diz-se da pessoa bem de saúde, de aparência saudável.


CORDEÁ: Garrafada; também chamado de Remédio do Mato ou Beberagem.
CORNAÇO: Surra. Também Cóça.
CÓRNO: Cantil feito com chifre de boi.
COROA: (mar) Banco de areia.
CORÓ / GORÓ: Espécie de larva (Indeterminado), em madeira podre, utilizado como
Remédio do Mato e mesmo na alimentação.
CORPO SANTO: (mitologia) Diz-se de corpos de pessoas que eram muito boas em vida
e que sofreram um processo de mumificação natural e, mesmo sepultadas, aparentam
estarem vivas, num estado de graça e, dizem, com sangue ainda nas veias.
CORPO SECO: (mitologia) Diz-se do corpo que não se decompõe, mas sofre um
processo de mumificação, aparentando estado de secura, espanto, tristeza, sendo
rejeitados pela própria terra de suas sepulturas pois quando em vida eram pessoas más,
bateram nos pais ou nos padrinhos; se encontrados devem ser transferidos de lugar, do
- 55 -
contrário perturbam aquele que o encontrou. Quando nas matas, uma vez secos e
enrugados, tomam semelhanças com as prórpias árvores secas, cheias de bromélias.
CORREIÇÃO: Carreiro de formigas.

CORRENDO: Diz-se do período de Lua Cheia, na saída ou ‘andada’ do Caranguejo Uçá


da toca. Também remete à época da pesca da Tainha, quando o cardume se aproxima da
Costa. Ver também Tá de Bola.
CORRIDA DA TAINHA: Diz-se do período de abundância do peixe, de maio a agosto,
sobressaindo o mês de mais frio, junho ou julho. Ver Espia.
CORRIMANÇA: Cachorros no cio.
CORRUPTO: Callichirus major. Crustáceo utilizado como isca viva em Pescaria de Vara.
CORTAR A CANOA: Acelerar e podar aquela que estava a frente na navegação.
CORTIÇA: Isopor, bóia utilizada no Pano de Rede, confeccionada a partir da raíz das
árvores caxeta e do Araticum.
CORUMBAR: Forçar, coagir.
CORVINA / COROVINA: Micropogonias furnieri. Espécie de peixe de escamas.
CORVO: Urubú.
COSCOVILHO [via R.S]: Fofoca.
COSTA: Mar de fora; águas oceânicas; Também Mar Grosso.

Na cabeça da Corvina encontra-se uma


‘pedra’ (otólitos), formada por Carbonato
de Cálcio e proteínas, utilizada como
amuleto por alguns ou como Remédio
para outros. Dizem ser boa prática
guardar, pois faz bem para a memória.

COSTADO: (embarcação) Remete à madeira, lateral da embarcação. Também às


costas (ser humano).

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COSTANEIRA: Diz-se da madeira, as partes laterais inutilizadas para o fabrico de
tábuas.
COSTEIRA: Vizinhança; andar a ermo.
CÓVA: Pequenos buracos abertos no roçado para plantação da rama da Mandioca.
COVAREAR: Plantar rama de Mandioca na roça; abrir a ‘cova’, por isso, ‘covareá”.
Setembro é o mês de plantar e colher, aproximadamente um ano e meio depois.
COVO / CÓVO: (pesca) Armadilha para peixes confeccionada com Taquara; possui
estreita porta de entrada, sendo dificultada na saída; disposto na corrente do rio ou mar.
COZIDO: Embriagado. Ver Chapado, Embalado, Calabreado, Banzeiro ou Escamado.
COXADO: Dor extrema, quando a pessoa se enrola pelo chão, sem poder aliviar. Na
pesca artesanal, diz-se quando os cabos do Pano de Rede se enrolam entre sí ou em
Caliça ou galhos. Também remete às cordas da Viola Fandangueira, ao ato de enrolar
duas cordas finas para Tinir como uma corda grossa.
CRACA: Espécie de crustáceo marinho da Ordem Thoracica que se agrupa em colônias
no fundo da embarcação, causando diminuição da velocidade durante a navegação.
Refere-se, no ser humano, à sujeira acumulada do suor corporal.
CRACUNHADO [pesq.A.D]: Enrugado, crespo, encurunhado; se enrugou com o tempo.
CRENDIOROSO / CRENDIOSPADRE: Expressão que remete a “Creio em Deus Pai
todo poderoso”, jaculatória Católica Apostólica Romana, expressada em ocasiões de
susto ou tragédias.
CRIAÇÃO: Diz-se das aves, geralmente de galinhas, criadas no Terrero de casa.
CRIAME: Criação de peixes.
CRIERA / QUIERA [via R.S]: Diz-se da sobra (farelo) ao ralar a Mandioca, destinado a
alimento das galinhas, da Criação.
CRISTÉ [via R.S]: Posição corporal ‘de quatro’, comumente entendida como agachado,
encostando as mãos no chão. Designa lavagem intestinal.
CROQUE: Movimento com o dedo médio, curvado, a bater na cabeça de outro. Também
chamado de Cascudo. Ver Peteleque.
CUÁ: Peneirar; coar a massa da Farinha de Mandioca.
CUCURUTE [via R.S]: Topo de morro; morro é mais alto e de formato meio roliçado.
CUÍ [via R.S]: Pequeno. Diz-se do pó, sobra da Farinha de Mandioca, após torrada.

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CUIA: (embarcação) Recipiente que serve para retirar água ou como unidade de
medida (peixe, camarão). Também chamado de Coco ou Esgote. Ainda remete à Casa do
Tráfico, como unidade de medida da farinha recém torrada para comercialização.

CUITELINHO: Também chamado de “Galo de Deus”. Caso seja abatido, prenuncia


chuva. É o Beija-Flor.
CUJIANDO / ESCUGIAR: Espiar, vigiar. Também Fuçar ou Pescoçando.
CUMBIÉ / CUMBIÁ: (marisco) Gastrópode Olivancillaria vesica vesica. Também
chamado de Chave.
CUMIZANHA: Esfomeado.
CUNHA: Pedaço de madeira para calçar uma superfície de madeira em outra qualquer.
CUNHENHO / CONHÉM: Posição corporal desajeitada.
CURUANHA [pesq.A.D]: “O filhote do macaco Bugiu, agarrado no colo da mãe e que
limpa a sua baba quando ele grita”. Também adjetivo designado à pessoa que fica ao
lado de outra sendo incoviniente.
CURUANHA: Dioclea violace. Suas sementes, também chamadas de Olho de Boi, são
recolhidas no mar e servem para brincadeiras de crianças, tanto para Três Marias ou,
quando friccionadas em atrito na pedra, absorvem calor, ficando extremamente quentes;
são utilizadas ainda na Medicina Caseira.
CORRUÇÃO: Molência no corpo após as refeições; doença relacionada a moléstia.
CURRUÍRA: (mitologia) Pássaro Troglodytes musculus. Vive a recolher e carregar
Ciscos e galhos; dizem que é ‘abençoado’, pois quando São José e Santa Maria, Mãe de
Jesus, apressadamente fugiam para esconder o Salvador do malfeitor Herodes, a
Curruíra, limpava o caminho por onde passavam, cobrindo suas pegadas, não deixando
rastros da Sagrada Família. Ver Bem-Te-Ví, Gralha Azul, Sabiá Laranjeira e Linguado.
CUSTOSO: Algo difícil, quase impossível.
CUTUCAR: Mexer. Também Expirucar.

- 58 -
-D-
DÁ PRA SER: Expresssão que remete à dúvida em algum assunto.
DADO: Adjetivo de pessoa simpática.
DALE: Expressão que remete à empolgação em situações de discussão, briga, festa,
competições. Ver Amanhece.
DAMA: (Fandango Caiçara) Diz-se da mulher, dançarina que faz par com o Cavalheiro.
DANDÃO / DONDOM: (Fandango Caiçara) Moda em que se dança valseado. Também
chamado de Bailadinho.
DANINHO [pesq.A.D]: Pessoa mesquinha, egoísta, miserável.
DANTES: Tempo de antes ou seja, antigamente. Também De Primeiro e Tempo Antigo.
DAR CORDA: Dar confiança à algum ‘espertalhão’. Ao contrário de Pegar Corda.
DAR GANJE: Dar atenção a alguém.
DA LATA: Expressão que remete à qualidade superiora de um produto. Surgiu em 1987
quando no litoral carioca, paulista e paranaense, acostaram ‘latas’ com maconha, jogadas
ao mar pela tripulação do navio panamenho Solana Star. Ver Verão da Lata.

Para saber mais:


<http://informativo-nossopixirum.blogspot.com/2015/09/verao-da-lata-maconha-espalhada-pelo.html>

DAR NA TELHA: Fazer quando se está com vontade.


DAR TRELA: Dar confiança no ‘papo’, conversa de alguém de caráter duvidoso.
DE BOTUCA: Ficar ‘ de olho’; vigiar; cuidar.

- 59 -
DE CESTO / DE CÉSTO [via R.S]: Quando a pessoa fica nervosa sem motivo aparente.
DE CRÓCA / DE CÓCORAS: Posição do corpo agachado, sustentado sobre as duas
pernas.
DE FORA: Refere-se ao visitante ou turista, aquele que não reside na região caiçara.
DE LUA: Expressão que remete à desvio de personalidade, um dia alegre e sorridente,
noutro carrancudo e fechado.
DE OVO VIRADO: Expressão que remete à uma boa pessoa, porém, devido a algum
acontecimento muda repentinamente seu humor.
DE PRIMERO: Antigamente. Também Tempo Antigo; Dantes.
DE REDONDO: (pesca) Tipo de pesca em que, em duas canoas, cerca-se o cardume.
Ver Caracol.
DE REVEZGUELHO: Olhar com desconfiança; vigiar.
DEBICAR: (embarcação) Movimentos da canoa na quebrança das ondas.
DEBULHANDO: Expressão que remete a sucesso em competição. Vitória.
DECEPÁ: Cortar a rama da Mandioca na Roça. Remete ainda a qualquer tipo de corte
profundo. Ainda Atorar.
DECERTO / POIS DECERTO: Ao certo.
DEDAR: Denunciar. Dedurar.
DEDO: Remete à medida, em pequena quantidade.
DEDO DE CARANGUEJO: Indeterminado. Planta cujas raízes se assemelham ao dedo
do caranguejo, sendo utilizadas em infusão na cachaça.
DEFRUÇO / DIFRUÇO [via R.S]: Gripe; também arrepio.
DEGALHAR: (culinária) Retirar as galhas, barbatanas dos peixes. Também Lidar,
Consertar.
DEIXAR AO LÉU: Abandonar esquecido, desguarnecido, sem provimento.
DEJAHOJE: A pouco.
DENTE SECO [via R.S]: Aproveitadores, espertalhões.
DEPELAR: (culinária) Ato de banhar a Caça em água fervente com a finalidade de
facilitar a retirada dos pêlos.
DERGADO [via R.S]: Formato da entrada de água da proa e da popa da canoa.

- 60 -
“o dergado é o que faz a mistura do que é quilha e do que vai virando fundo. A canoa que tem
uma quilha que vai virando, coxando sentido da madeira até virar o fundo. Isso é o dergado.
Dergado pranchado de uma “canoa cargueira” que não tem quase proa nem popa o fundo é mais
comprido. O dergado da “canoa de viagem”, a proa é comprida e a popa também. O fundo é mais
curto. É um formato mais de canoa de corrida”
(Juninho - Ubatumirim/SP, 2020).

Bote, Batera, Canoa e Baleeira

DERRADEIRO: Último filho.


DERREADO: Caido ao chão, vencido; muito cansado.
DERRUBADA: Espécie de Mutirão, onde os homens se reuniam para derrubar árvores e
fazer a Coivara.
DESACORÇOO: Sem esperança, triste. Ainda Amuado, Aborrido, Mocambuzo e Jururu.
DESAPARTAR: Apartar uma confusão.
DESAPRECATAR: Desprevenido.
DESARVORADO: Sair sem rumo.
DESBASTAR: Cortar, aparar o mato alto; afinar madeira.
DESCAÍDO: Com formato inclinado. Remete fisicamente à pessoa abatida, doentia.
DESCOIVARÁ / COIVAREÁ: Limpar terrenos para fazer Roça, juntar e amontoar os
galhos. Ver Coivara.
DESCONJUNTADO: Refere-se à pessoa desajustada, com aparência e trejeitos
estranhos. Ver Sanananga.
DESEJO: Remete à mulher grávida e aos inusitados desejos que a acompanham.

- 61 -
DESENTERRAR O CARNAVAL: (Fandango Caiçara) Passado o período da
Quaresma, retornam a casa em que pela última vez foi dançando Fandango Caiçara, na
terça-feira de Carnaval, quando ‘enterraram o Entrudo’, recomeçando os bailes. Também
chamado de Ranca Toco.
DESENTRALHAR: (pesca) Cortar Entralhe (nós, costura) errado no Pano da Rede.
DESGOTAR: (pesca) Retirar água dentro da canoa. Também Desencher.
DESGOVERNAR: Perder o rumo na canoa
DESGRACENTO: Remete à pessoa maldosa.
DESMALHAR: (peixe) Retirar os peixes emalhados na Rede, logo após a pescaria.
Também Despescar.
DESMAZELADO: Diz-se da pessoa sem organização ou preocupação semelhante.
DESMENTIU: (Fandango Caiçara) Diz-se quando desafinam as cordas da Viola
Fandangueira. Ver Destemperou.
DESMIOLADO: Pessoa ‘sem juízo’, “avoada”, maluco. Também Destrambelhado.
DESPEDIDA: (Romaria do Divino Espírito Santo) Cantoria29 entoada logo após a
cantoria da Chegada, em que em versos agradecem a recepção e doações recebidas.

Despedida no Porto
Romaria do Divino Espírito Santo – Mestre André Pires, de Cananéia/SP
(Comunidade de Barra de Ararapira – Guaraqueçaba/PR, em 2004)

DESPEDIDA NO PORTO: (Romaria do Divino Espírito Santo) Cantoria realizada no


Porto da última casa visitada na comunidade, antes de dirigirem-se à outra comunidade.

29
Ouça no álbum “Mandicuéra: Fandango pancada”:
<https://drive.google.com/file/d/1HA9fys8JCOnthi3mrHdumIc9hYTyCqx4/view?usp=sharing>.

- 62 -
DESPENCAR: Diz-se ao cortar as pencas de banana do cacho; também ao cair de
algum lugar alto.
DESTEMPERAR: (Fandango Caiçara) Cordas e instrumento desafinado.
DESVARAR: (embarcação) Mesmo que tirar a Canoa Caiçara, do Porto ou do Rancho,
em direção ao mar.
DEVARDE [via R.S]: Mesmo que Atoa; desafazerado.
DILIZENTE [pesq.A.D]: Pessoa ladina, puéta, extrovertida com facilidade de convencer
os outros e entrar em qualquer ambiente.
DISQUE [via R.S]: Referente ao verbo ‘dizer’.
DOBRA: Refere-se ao canto dos passarinhos.
DOMINGUEIRA: (Fandango Caiçara) Quando o baile de sábado avança madrugada
adentro e, mesmo com o raiar do sol, prossegue até duas horas da tarde de domingo.
DOR DE PERÊ: Dor no baço.
DOR D’OLHO: Conjuntivite; irritação nos olhos.
DORMENTO: Madeiras, em toras, retiradas no mato, com utilidade para a construção de
ferrovia ou mesmo servindo como Estiva em caminhos e trilhas alagadiças.
DORMITRATO [via R.S]: Cama. Ver Tarimba.
DOR NO APÁ: Dores nas costas.

“dedo mindinho, seu vizinho, pai de todos, fura bolo,mata piolho”


- Cadê o rato que estava aqui? - o rato comeu.
- Cadê o rato? - foi pro mato.
- Cadê o mato? - o fogo queimou.
- cadê o fogo? - a água apagou.
- Cadê a água? - o boi bebeu.
(parlenda)

- 63 -
-E-

Enxó

ÊH: Expressão de espanto, que antecede resposta acerca de quantidade.


EITA LASQUERA: Expressão que remete a êxito em determinada ação.
EITO: Remete à distância.
EITO DA NOITE: Altas horas da noite; pela madrugada.
ELAVORAR: Jogar algo muito longe.
EM RIBA: Estar em cima de qualquer lugar ou sobressaindo em determinada situação.
EMALOU / EMPACHOU: Diz-se do empate nas disputas de Jogo de Burico ou mesmo
no Jogo de Cartas.
EMBALADO: Veloz. Diz-se também do embriagado. Também Chapado, Chumbado,
Escamado, Calabreadao e Banzeiro.
EMBIRRADO: Diz-se da pessoa com ‘cara fechada’, bravo. Também designa o teimoso.
Ver Birra.
EMBOCAR: Entrar apressadamente, sem permissão ou sem ser visto.
EMBUCHADO: Quando está com a boca cheia; também remete a gravidez.
EMPACHADO: Barriga cheia, estômago satisfeito por ter comido demasiadamente.
EMPACOTÁ: Queda; cair. Ir ao chão ou ao fundo.
EMPALÁ: (pesca) Consiste em fincar a rede presa num Palanque, na praia e com outra
extremidade, adentrar na água e fazer o cerco do cardume.
EMPALAMADO / UVÚ: Pessoa de cor muito branca; amarelo; anêmico.
EMPAPUÇADO: Diz-se da pessoa que comeu demais. Também Empanturrado.
EMPAZINADO / INPAZINADO: Aquele que comeu demais ou a comida fez mal.

- 64 -
EMPOLADO: Diz-se da pessoa metida, soberba. Anda com ‘peito levantado’, querendo
parecer mais ou superior aos outros. Ver Pachola.
EMPUTECER: Ficar bravo, irritado ou ficar “puto da cara”.
ENCAFIFADO: Desconfiado.
ENCARANGAR: Ter os movimentos diminuídos devido ao frio. Ver Engruvinhado.
ENCARDIDO: Estar sujo ou com as roupas sujas. Denomina ainda o malígno.
ENCASQUETOU: Desconfiado. Persistir na dúvida. Mesmo que Encucar.
ENCEBANDO: Enrolando.
ENCERRO: (Romaria do Divino Espírito Santo) Remete à cantoria30 executada já ao final
do dia, na Ave-Maria, encerrando o dia de Romaria.

“pra começo de oração / façamos o sinal da cruz


VAMOS FAZER O SANTO ENCERRO / DEste espÍrito jesus”
Romaria do Divino Espírito Santo – Mestre André Pires, de Cananéia/SP
(Comunidade de Barra de Ararapira – Guaraqueçaba/PR, em 2004)

ENCHARCANDO O CORO: Expressão que designa estar consumindo muita bebida


alcoólica
ENCHEU A LATA: Remete ao fato de ter capturado em grande quantidade.
ENCORUJADO: Triste, acabrunhado. Também Jururu.
ENCOSTÁ REMO [via R.S]: “Fixar o remo na borda da canoa, fazendo movimento para
manobrar”. (Mário Gato-Ubatuba/SP, 2020.).
ENCURUROU: A banana quando, mesmo estando madura, permanece dura ou rijo.
ENDIABRADO: Diz-se da pessoa muito atentada, peralta. Também Endemonhinhado.
ENERVADO: Nervoso. Também Estourado.
ENFERRUSCADO: Diz-se da pessoa com a ‘cara fechada’, muito brava. Também
Embirrado ou Enfesado.
ENFIAR A CARA NO MATO: Fugir, correr de qualquer situação desagradável.
ENFURNADO: Escondido.
ENGABELAR / INGABELAR: Enganar.
ENGENHADO [via R.S]: Enrugado, amassado.

30
Ouça no álbum “Chegadas e Despedidas - Mestre André Pires – Cananéia/SP”:
<https://drive.google.com/file/d/1lSZiP8t8Mp2F--_Q2mteR3r1CbZ7nMdm/view?usp=sharing>.

- 65 -
ENGIRIZADO: Pessoa ruim, atentada. Mesmo que Endiabrado.
ENGODO: (pesca) Consiste em isca para pesca, a partir de restos de peixe cozido e
alfavaca, misturados ao barro, colocados ao mar, atraindo cardumes.
ENGORFADO: Esfomeado; Quando se está com a boca cheia e querendo comer mais.
ENGRIZIA: (Fandango Caiçara) Diz-se quando a moda cantada não possui uma letra
uniforme ou Moda Tirada, mas apenas ‘versos’ ou Pé de Moda.
ENJOAÇÃO: Enjôo; vômito. Também Mareado ou Imbucá.
ENLEADO: Enroscado, preso a um fio; fio embolado. Ainda remete a recolhimento ou
enrolar um fio no carretel.
ENQUIZILHADO / INQUIZILHADO: Nervoso, bravo, aborrecido.
ENRODILHADO [via R.S]: Enrolada, coberta, envolta.
ENTENDIDA / CURIOSA: Parteira31. Também Vó de Umbigo.

“eu usava só uma tesoura pra cortá o umbigo, mais nada. Mede três dedinhos assim no cordão,
amarra e corta; passava dois, três dias e já cai. Eu primeiro fazia [na gestante] um banho bem
forte com água e sabão virgem, sem uso. Em cróca era lavado as mulheria nas cadera, barriga. Aí
você olha no ponto pra vê que jeito tava. Depois daquele banho aí se o tempo demora muito,
pegava o pano da cozinha, esquentava pra passá na barriga da mulher, aí vem a dor”
(Genésia Cunha – In Memoriam)
(comunidade de Barra de Ararapira/Guaraqueçaba/PR – depoimento recolhido em 2004).

ENTERRADA DE PROA: Diz-se da Canoa Caiçara quando os remadores, em


velocidade, estão aportando, fazendo-a subir e encalhar ou varar.
ENTERRAR O ENTRUDO: (Fandango Caiçara) Diz-se do Fandango Caiçara na terça-
feira de carnaval, quando ao amanhecer da Quarta-Feira-de-Cinzas adentram o período
cristão da Quaresma, encerrando os festejos carnavalescos. Da mesma forma que,
quarenta dias depois, no Sábado-Aleluia, reunem-se na mesma casa onde ‘enterraram o
Entrudo’ para então ‘desenterrar o carnaval’. Também chamado de Meio Toco e após o
período de Ranca Toco.

“lá SE VAI O SANTO ENTRUDO / JÁ VEM A PÁSCOA DA FLOR


JÁ TÁ SE PASSANDO O TEMPO / da gente tratá de amor”
(Fandango Caiçara)
31
Para acessar o artigo “Notas sobre benzeduras e parteiragens em Guaraqueçaba/PR”:
<http://www.seer.ufu.br/index.php/hygeia/article/download/33704/19482>.

- 66 -
ENTERTIDO: Distrair alguém.
ENTOJADO: Antipático, chato, mimado.
ENTONCE [via R.S]: Então.
ENTURRADO / ENTURRAÇÃO [via R.S]: Prisão de ventre; Também Peido, Ventuzil,
Sainô.
ENTRALHAR: (pesca) Ato de costurar ou remendar o Pano da rede. Ver Desentralhar.
ENTRANHADO: Pessoa apegada a outra.
ENTRÃO: Gaiato; aquele que aparece sem ser convidado.
ENTRUDO: Refere-se ao período festivo do Carnaval.
ENTRUNCADO: Pessoa forte. Mesmo que Parrudo.
ENVARO [via R.S]: Varas, dispostas na vertical para amarrar o Pau a Pique.
ENVIAZADO: Diz-se do corte na madeira, de forma transversal.
ENXOTAR: Tocar; expulsar.
ÉPA [via R.S]: Época.
ESBUGALHADO: Quando se está com vermelhidão nos olhos e com estes muito
abertos. Ver também Olho de Butuca ou Olho de Boto.
ESCABECHE: (culinária) Aproveitamento do peixe frito, sobra da noite anterior,
acrescido de temperos e molho de tomate.
ESCADEIRA: Parte do corpo humano, relativo à coluna. Também chamado de Bacia.
ESCAFEDER: Correr; fugir às pressas; desaparecer. Também Meter a cara no mato.
ESCALÁ: Consiste em fazer cortes no corpo do peixe limpo, facilitando assim a Salga.
ESCALABRADO / ESCALABREADO: Machucado. Também Emperebado.
ESCAMÁ / DESCAMÁ: Limpar, tirar as escamas do peixe. Também Lidá.
ESCAMADO: Bêbado. Também Chapado, Embalado, Calabreado, Banzeiro ou Cozido.
ESCAMBAU: Não dar atenção, não acreditar.
ESCAMOSO: Liso.
ESCANGALHADO: Estragado, arruinado, quebrado.
ESCAPULIU: Escapou.
ESCARCÉU: Bagunça; gritaria.

- 67 -
ESCARDÁ: (culinária) Água ou caldo do peixe cozido, já em estado de fervura ou bem
quente, jogada sobre a Farinha de Mandioca para fazer o Pirão do Mesmo ou Pirão de
Jacuva.
ESCARDA-PÉ: (remédio) Trata-se da lavagem dos pés com folhas de laranjeira cozida
na água com sal.
ESCARRADO: Diz-se de aparências iguais, semelhantes.
ESCONSO [via R.S]: Balangando. Também penso.
ESCORA: Viga de madeira para segurar ou como apoio de estrutura de casa ou Rancho.
ESCRACHADO: Zombaria.
ESCRIVÃO: Indeterminado. Espécies de peixe, de escamas, com tamanho pequeno.
ESCULHAMBÁ: Desmoralizar publicamente. Também Avacalhar ou Esculachar.
ESCURRAÇADO: Enxotado, tocado, expulsar.
ESFOMEADO: Ganancioso. Faminto.
ESGANADO: Diz-se daquele que está com muita fome. Também Varado ou Rafado.
ESGOTE: (pesca) Instrumento semelhante a uma Cuia para retirar a água do fundo da
Canoa. Também Pote, Cabaça ou Cumbuca.
ESGRUVIO [via R.S]: Faminteza, gulodice.

“quando tem pessoas discutindo; crianças discutindo, querendo brigar e chega um [adulto]
e manda todo mundo ficar quieto, calar a boca. Chegou fulano de tal e fez um espalhafate
em tudo eles. Mandou ficar quieto, sair andando”.
(Ciro Xavier - Peruíbe/SP, 2020).

ESPARRELA: Armadilha feita com laço, junto ao bambú, para aprisionar aves.
ESPATIFADO [via R.S]: Cair e se machucar. Remete a fruta quando cai e estraga.
ESPERNEAR: Debarter-se; mexer-se muito.
ESPIÁ: (caçada) Ficar de tocaia, no Trepeiro, a espera da Caça.
ESPIA: (pesca) Camarada que fica na praia ou no alto do morro observando o Lote de
Tainha nadar Barra adentro para avisar aos demais a fazerem o Cerco. Também refere-
se à corda da tarrafa Gerival.
ESPICHADO: Ereto. Ainda Esparramado.

- 68 -
ESPICULAR: Curiosidade ou perguntando por demais sobre de determinado fato.
ESPIGÃO [via R.S]: Alto do Morro, porém, quando é um morro comprido.
ESPINHAÇO: Trata-se dos espinhos do peixe. Ver Nhamutacanga e Tovacanga.
ESPINHEL: (pesca) Consiste em fixar muitos anzóis em cabos curtos a partir da Madre e
iscá-lo com resto de peixes e ou siris.
ESPINHO DE JUDEU: Xylosma ciliatifolia. Árvore, com muitos espinhos em seu tronco.
ESPIRRO: Ejacular. Também Guspir.
ESPULETADO: Pessoa, jovem, atentada, peralta. Engirizada.
ESQUENTE: Refere-se a preocupação.
ESSE GURI / ESSE MENINO: Remete à pessoa jovem.
ESTABANADO: Desajeitado com as coisas; desastrado. Mesmo que Estovado ou Sem
Propósito.
ESTAQUEÁ: (pesca) Quando se fixa Estiva na lama, em ambos os lados e deixa a rede
amarrada nestas, a espera de bater peixes e se emalhar.
ESTEIO: Caibro de madeira para fazer escóra em construções.
ESTENDAL: Varas dispostas no terreno, onde as redes são colocadas sobre, ao sol,
para secar.
ESTERICADO [via R.S]:

“ele estava estericado no chão. Caído, sem poder levantar”.


(Joaquim Pires - Cananéia/SP, 2020).

ESTIVA: Paus colocados no caminho afim de tornar o terreno encharcado pouco mais
firme. Ainda remete àos colocados no trajeto da Varação, para a canoa recém tirada
escorregar até o Porto.
ESTORVO: Aquele que só atrapalha.
ESTOVADO: Descuidado; desastrosa. Mesmo que Estabanado.
ESTRACAÇÃO [via R.S]: Brincadeira de agarramento; briguinha, de mentirinha.

“brincadeira de estracação é quando é uma brincadeira, briga que não é briga”.


(Ezequiel dos Santos – Ubatuba/SP).

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ESTRONCA: “é o furo que é feito nos Esteios da casa de Pau a Pique, onde vai encaixar
os Envaros.

“os envaros ficam na horizontal de um esteio no outro - é feito um furo c’o formão ou com o trado
e é encaixado esse envaro no meio, em cima e próximo ao chão. Geralmente são três estroncas.
Estas estroncas são a base da parede do pau-a-pique. Depois vem o pau-a-pique amarrado nas
estroncas, depois os envaros, também na horizontal, só que fica amarrada nas outras peças. As
estroncas fica amarrada, uma fica prendendo na estrutura da casa, os esteios. E é por ela que é
passada o imbé pra fixar os pau-a-piques todos. Os pau-a-piques ficam presos nas estroncas”.
(Juninho - Ubatumirim/SP, 2020).

ESTROPIADO [via R.S]: Maltrapilho. Machucado.


ESTUPOR [via R.S]: Xingamento à pessoa de baixas qualidades.
ESTURRICAR [via R.S]: Queimar; passar do ponto.
ESVAÍSSE [pesq.A.D]: Vertigem; desmaio. Vazamento.
EU VOU: Expressão que remete à desconfiança em determinado assunto.
EVARISTO: Refere-se àquele reconhecido como muito curioso.
EXCELÊNCIAS: (religião) Religiosidade popular. Trata-se de preces, cantadas, sobre o
corpo presente do defunto, realizada pelo Capelão.

“Uma Excelência que deu, a Virgem do Rosário


e do ventre d’ela abriu-se o sacrário.
Sacrário aberto, saiu o Senhor fora,
acompanha esta alma, levai-a para a Glória”
(repete-se esta jaculatória por quinze vezes)

EXPIRUCAR: Também Funicá, Má-Criação, Procurá.

“eu não mato, mas se achar morto, carrego”


(expressão que tenta redimir da culpa por algo cometido)

- 70 -
-F-
FABRIQUEIRO: Construtor artesanal de instrumentos do Fandango Caiçara32 ou da
Canoa Caiçara.
FACEIRO: Diz-se da pessoa exibida; aquela que, ainda que em lugar onde não devia,
porta-se alegremente.
FACHEAR / FACHIÁ / FAXIÁ: [via R.S] (pesca) Consiste na pesca noturna, sob a luz
do Facho em que um pescador fica na praia com a luz e seu Camarada, na canoa, a
cercar o cardume, aprisionando e trazendo à praia. Ver Camboá ou Arrasto de Praia.
FACHEIRO / FACHO: Consiste em uma vara, geralmente de Taquara, com um pano
em sua ponta, embebido em querosene, para clarear a noite, na pesca de Fachear.
FANDANGO CAIÇARA: É uma expressão musical-coreográfica-poética e festiva, cuja
área de ocorrência abrange o litoral sul do Estado de São Paulo e o litoral norte do Estado
do Paraná. [...] Possui uma estrutura bastante complexa e se define em um conjunto de
práticas que perpassam o trabalho, o divertimento, a religiosidade, a música e a dança,
prestígios e rivalidades, saberes e fazeres (IPHAN, 201133).

Para acessar a documentação do registro do Fandango Caiçara – Patrimônio Cultural:


<http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/83/>

Para acessar a Biblioteca Virtual do Fandango Caiçara “Mestre Nilo Pereira”:


https://drive.google.com/drive/u/3/folders/1QDkVsQBe7b2XcQWJ3822TKHe3bz4Etwx

32
Assista ao documentário “Mané da Paz – fabricante de viola”: <https://www.youtube.com/watch?v=CpZEur-00Mo>.
33
IPHAN; CABURÉ. Fandango Caiçara: expressões de um sistema cultural. Dossiê de Registro do Fandango Caiçara.
Disponível no site: <http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/Dossi%C3%AA%20Fandango%20Caicara.pdf>.

- 71 -
FANDANGO INVENTADO: Em épocas que não aconteciam Mutirões, a vizinhança se
reunia e cada participante contribuia com alguma comida ou bebida para se alimentarem
durante o Fandango Caiçara. Ver Finta.
FARELO DA MANDIOCA: Após a massa da Mandioca ser coada, é o resto, a sobra,
que serve de comida para a Criação.
FARINHA-DE-ÁGUA: Farinha de Mandioca, mas torrada, chamada de Farinha Grossa.
FARINHA DE MANDIOCA: Produzida na Casa do Tráfico, a partir da raíz da Mandioca
ralda, prensada e Forneada.
FARINHA-MANEMA: Farinha de Mandioca grossa, também chamada de Farinha da
Água. Alguns dizem ser ainda a farinha de Milho.
FARINHA SECA: Farinha de Mandioca, muito bem torrada, bem seca e fina.
FARINHEIRA: Local onde se transforma a Mandioca em farinha. Também Casa de
Farinha ou Casa do Tráfico.
FARISEU [via R.S]: Diziam daquele que machucavam os animais ou a Criação.
FARNEL: Lanche.
FARPELA DO CAMPO [via R.S]: Diz-se da mulher de má reputação. Também Fogueta.
FARQUEJAR: Artesanalmente dar forma a uma madeira, confeccionando instrumentos
ou utensílios ou mesmo artesanatos.
FARRANCHO: Pessoa peralta, festeira; Badernar.
FASTIO [via R.S]: Diz-se ao estar desconsolado cansado e, consequentemente sem
fome. Mal estar.
FATEIXA: Espécie de Âncora, confecionada com paus e pedras.
FAVA: Semente, coração ou caroço do Chuchu.
FAZENDA: Tecidos.
FAZER ALELUIA: Distribuir doces para as crianças; jogar para cima para ver quem
consegue pegar mais.
FAXINEIRA: (Fandango Caiçara) Moda valseada.
FEDEGOSO: Senna cf. ocidentalis. Planta utilizada na Medicina Caseira, contra os
males do intestino.
FEDELHO: Criança.
FEIÇÃO: Aparência semelhante; expressão facial.

- 72 -
“amorosa despedida / saudade de uma feição
o meu querido benzinho / prenda do meu coração”
(Fandango Caiçara)

FEITICEIRA: (pesca) Rede com três tamanhos de malhas diferentes (20mm, 12mm e
6mm) uma das outras, porém, entralhadas na mesma Arcala. Consiste em armar a rede
para captura da Manjuba (Anchoviella lepidentostole) ou Manjuva. Ver Filó.

“o peixe entra na malha clara e fica na menor”

FEITIO: Modo de fazer (instrumento, canoa, artesanato). Designa a identidade, amarca


pessoal do construtor ou do fabriqueiro em seu instrumento.
FERIDA RUIM: Ferimento, hematoma com difícil cicatrização.
FERPA [via R.S]: Pequenos pedaços de madeira que acidentalmente fincam-se na pele,
principalmente entre os dedos.
FERRAR: Prejuízo.
FERRAR O PEIXE: Fisgar.
FESTA DOS BICHOS: (mitologia) Folclore nacional; Adaptado como Moda no
Fandango Caiçara.

“escute lá meu amigo o Sapo tirou a dama


um caso que vou contar a dama não quis dançar
que a Raposa com o Lagarto isto era meia noite passou a mão na garrucha
trataram de se casar e o baile sem parar pegou dar tiro pro ar
o Tamanduá era o padre o Tatu que era padrinho
o Lobo o sacristão tratou de acomodar
a Cutia e Capivara deu um tapa no Lagarto
eram damas do salão. que tirou orelha do lugar”.

(Recolhido com José Hipólito Muniz, em Guaraqueçaba no ano 2000).

FIANCO: Posição corporal desajeitada. Também Través, Cunhenho ou Conhém.


FIANDO: Depender dos outros.
FIAPO: Pedaço pequeno de trapo.
FIAPINHO SÓ: Expressão que designa algo de tamanho descomunal; grande.

- 73 -
FICOU DE CARA: Expressão que remete à espanto, inconformado.
FICAR DE BOTUCA: Olhando, vigiando.
FICAR DE MOLHO: Remete à longa espera; ainda àquele que não pode trabalhar por
algum acometimento com a saúde.
FICAR MORDIDO: Ficar aborrecido.
FILHA DA PUTA: (culinária) Consiste em peixe (bagre), enrolado na folha da bananeira
e enterrado sob as brasas ardentes. Ainda chamado de “Puta que o pariu”.
FILHA DAS UNHA: Remete à pessoa imprestável.
FILÓ: (pesca) Pano de rede para a pesca da Manjuva. Ver também Feiticeira. Esta
prática é proibida no litoral do Paraná.
FINTA: (Fandango Caiçara) Cada qual leva um alimento ou bebida para compartilhar
com os participantes durante o Fandango Caiçara. Ver também Fandango Inventado.
FIQUEI LOUCO DA VIDA / FIQUEI PUTO DA VIDA: Expressão que indica
indignação e atitudes enérgicas em determinada situação.
FISGA: Instrumento utilizado para pesca ou na captura de jacaré. Ver Garatéia.
FIÚZA: Depender do trabalho ou da palavra de outros. Mesmo que Fiando.
FLATO: Desmaio. Também Ziquezira ou Esvaísse.
FOCO: Lâmpada.
FÔFÔFÔ: Expressão que indica mau odor no ambiente.
FOGARÉU: Manifestação cultural-religiosa na noite de Quinta-Feira-Santa (Quinta-Feira-
de-Lava-Pés), quando um grupo de pessoas saem pelos caminhos, portando tochas
acesas nas mãos a simbolizar os soldados romanos procurando Jesus para aprisioná-lo
após traição de Judas. Complementa esta tradição a Malhação de Judas.
FOGUETA / FOGUETÔ [via R.S]: Pessoa abusada, assanhada; Ainda Sasaricô.
FOJO: (armadilha) Consiste num buraco aberto ao chão e coberto com folhas e galhos.
FOLIÕES: (Romaria do Divino Espírito Santo) Equipe composta pelo violeiro (mestre),
pelo rabequeiro, pelo tocador de caixa e pelo Tipe, além do Alferes.
FORA DE BRINCADEIRA: Expressão que designa a seriedade da conversa.
FORDUNÇO: Barulho, festa, confusão.
FORNEÁ: (culinária) Ato de mexer a Massa da Mandioca no forno (tacho de cobre), após
ralada e prensada, objetivando deixá-la torrada.
FORRADO: Estar satisfeito após ter comido demasiadamente. Cheio de coisas.

- 74 -
FORQUETA: Vara com gancho em uma extremidade, servindo para empurrar canoas
Rio Acima. Ver Varão ou Varejão.
FRADEANDO: Quando, na canoa, se contorna a costa do morro ou da pedra.
FRATO [via R.S]: Estar com fome.
FRIAGE: Frio em épocas de inverno, com vento e chuva.
FRIEIRA: Infecção causada por fungos, ocasionando coceiras pelo corpo.
FUÇA: Rosto. Também Feição.
FUÇAR: Procurar algo em lugar que não lhe pertence. Também Espiar ou Escugiar.
FUMEIRO DE SAPÉ: Espécie de esteira ou tear, acima do Fogo de Chão, onde se
colocam peixes para defumar. Também Estendal, Jirau ou Tupé.
FUNÇÃO: (Fandango Caiçara) Diz-se da realização das manifestações culturais
tradicionais ou mesmo do próprio Fandango Caiçara. Chamado de Candindim ou Paga.
FUNDEIO / ESPERA: (pesca) Consiste em fundear a rede, com Arinque, geralmente
próximo a boca de rio ou pesqueiros e deixá-la, geralmente para ir buscar noutro dia.

Tipos de Pesca

FUGIU A CANOA: Diz-se da Canoa Caiçara quando desaparece, por vezes levada pela
correnteza do mar.
FUNDILHO: Diz-se dos fundos da roupa; parte traseira.
FUNDURA: Profundidade.
FUNICÁ: Ato sexual. Também Expirucar, Má-Criação ou Procurá.

- 75 -
FURA / CHAPEADO / EMBALO / CARRERA: Velocidade; corrida. Também Pinote.
FURA-OLHO: Boteco ou pequeno bar. Diz-se ainda de traição amorosa entre amigos.
FURADO: Canal aberto artificialmente ou não por entre o Manguezal, facilitando a
navegação entre baías.
FUSO: Instrumento de madeira, confeccionado de forma roliça e com rosca, utilizada na
Casa do Tráfico para expremer a Mandioca dentro do Tipiti. Também Prensa.
FUTRICAR: Fofocar. Também Fuxicar.
FUZACA: Bagunça.
FUZILADO: Diz-se da pessoa atrevida ou mesmo entendida em certa profissão.
Também exprime consequência penosa para determinado ato cometido.
FUZILO: Relâmpago.

Renda de Bilro na Esteira de Piri

- 76 -
-G-

Gaiola de Siri

GABAR / GAVAR: Elogios; Falar bem de sí ou de outrem ou de algum objeto que


possui.
GABOLA / GAVOLA: Diz-se daquele metido. Ver Pachola.
GADALHA: Mal feito, ruim, feio. Ver Gambiarra.
GADANHO: Diz-se daquele que tem os dedos dos pés abertos, como um rastrelo.
GAGOSA: Sobra.
GAIOLA: (pesca) Armadilha para captura de Siri.
GALEAR / GALEADO/ BORRADO: Estar sujo. Também Breado.
GALHA: Barbatanas do peixe.
GALHADA: (pesca) Local com acúmulo de galhos no fundo, formando pesqueiros, ideal
para pescar.
GALO: Hematoma resultante de pancada na cabeça.
GAMBÁ: Didelphis. Espécie de marsupial. Exala forte odor ao sentir-se ameaçado.
Também chamado de Raposa ou Raposinha.
GAMBÁ / GAMBADA: (Fandango Caiçara) Quando dançavam descalços sobre o arroz
recém colhido com a finalidade de decascá-lo.
GAMBARRA: Baú para carregar ou guardar roupas e alimentos.

- 77 -
GAMBIARRA: Trabalho mal feito, improvisado. Ver Gadalha.
GAMBITO: Diz-se daquele magro, de pernas finas.
GAMELA: Utensílio semelhante a uma bacia ou bandeja, mas de madeira e construída
de forma artesanal, geralmente com a madeira Caxeta ou raíz da Gameleira
(Indeterminado).
GANA: Determinado, fazendo de tudo possível para conseguir o objetivo.
GANJE: Dar atenção; mimar.
GARACUVA: Piolho de galinha. Causa coceiras.
GARATEIA: Âncora feita com 4 pernas de ferro opostas. Também diz-se da fisga com
três pontas para captura de Jacaré, ainda do gancho, com cabo comprido para capturar
quelaquer coisa que caia ao mar.
GARGA / MACACA: Instrumento de medida do tamanho das telhas, na construção civil.
GARNÉ [via R.S]: Feito de qualquer jeito.
GAROUPA: Epinephelus marginatus. Espécie de peixe. Sua captura é proibida no litoral
do Paraná. Também chamada de Badejão.
GARRAFADA: Infusão de ervas naturais na pinga, utilizados como Remédio do Mato.
Também Beberagem e Cordeá.
GARRÃO [pesq.A.D]: Nome dado ao Tendão de Aquiles, no Tornozelo.
GARRÔ: Expressão utilizada no sentido de correr, se apressar ou fugir.
GASTURA: Queimação, males do estômago.
GATO-PINGADO: Pouca gente.
GAVOL [via R.S]: (pesca) Gingar com o remo, na pesca do camarão.
GERIVAL: (pesca) Tarrafa ou rede especificamente para Camarão. Também chamada
de Arrasto de Travessão, pois o Pano está fixo em uma vara de forma que o Camarão
batendo, acaba subindo para a Carapuça. Sua malha permitida é de 2.5mm.
GESSI: Estar com o corpo ou partes do corpo amortecido.
GIRAU / JIRAL: Prateleira fixa (estrado), da janela da casa ou da cozinha, para fora,
para secar louças.
GIVÓCA [via R.S]: Farinha quando não tá no ponto de comer, ainda está mole, não está
bem torrada.

- 78 -
“põe a massa da Mandioca no forno e tá fumaceando pouco ainda, tá em givóca. Quando pára de
fumaceá leva uns quinze minutos mexendo daí tá torrada”.
(Ciro Xavier – Iguape/SP, 2020).

GOGA: Espécie de planta semelhante a vitória régia, encontrada no rio Varadouro. Diz-
se ainda do limo do peixe que fica preso, sujando o pano da rede; Ver Igoga.
GOIPA [via R.S]: Abertura na madeira para facilitar o encaixe

“a goipa é um chanfrado na ponta de um esteio, em formato de “V”, onde é feito uma boca e onde
se vai encaixar. Por exemplo, uma trave de futebol, feito de madeira do mato. Faz uma goipa
encima dos esteios e encaixa o travessão nessa boca que é feito na goipa. É afinado um lado e
outro da madeira depois é feito um ‘V’, um encaixe em forma de ‘V’ nessa lâmina que é feita na
madeira. Faz uma lâmina e depois abre uma goipa. Pra fazer rancho de pesca usa muito”.
(Juninho – Ubatumirim/SP, 2020).

GOMA: Massa que se forma e acumula no fundo da Gamela, após a Mandioca ser
ralada e prensada.
GOMO: Parte, pedaço de uma fruta.
GORADO: Mau olhado. Chamam assim o ovo da criação, quando chocou e não saiu
pintinho.
GORGOMILO: Garganta.
GORPADA: Golada. Diz-se ao tomar todo líquido em uma única vez.
GORPE / GORPINHO: Copo de água ou de café, em pouca quantidade; dose, copada.
GOVERNÁR A CANOA: (embarcação) Movimento do Remo na água, a partir da Popa
(quando se faz da Proa, se diz “chamá a canoa”), a mudar o direcionamento da
navegação na Canoa Caiçara.
GRACIOSA / GRACIANA: (Fandango Caiçara) Moda derradeira, já ao amanhecer do
dia, quando os Cavalheiros falavam versos no ouvido do violeiro e este cantava, seguido
de resposta da Dama com a qual se dançava. Ver Meia Canja.
GRALHA AZUL: Cyanocorax caeruleus. Seu cantar diz ter significado em “vai alí”;
denunciava assim a Sagrada Família quando fugiam das mãos do Rei Herodes. Ave
símbolo do Estado do Paraná (Lei Estadual nº 7957/84).
GRAÚDO: Expressão de medida, designa tamanho do produto. Também Tá Grosso ou
Granduço.

- 79 -
GRAVEVÊ [via R.S]: Galhos ou gravetos finos de madeira seca, útil para se fazer fogo.
Também Siriri. Ainda uma espécie de peixe do mar, que habita nas pedras.
GRETA: Buraco na parede das casas.
GRILADO: Ficar atento, estar “de olho”.
GROSSO: (mar) Quando o mar está revolto, com ondas altas e perigosas.
GUACÁ [via R.S]: Árvore cuja madeira se sobressai na utilidade de fabricação de remo.
GUAJÚ: Espécie (Indeterminado) de formigas.
GUAMIOVA: Genoma gamiova. Planta de areia, palmeirinha. A folha serve para tecer e
fazer Rencas de Palha para cobrir Rancho.
GUANANDI: Calophyllum brasiliensi. Árvore de madeira nobre.

GUANXUME: Muito mato; emaranhado de matagal e capim.


GUAPECA: Diz-se do cachorro vira-lata; Também designa ter a perna curta ou
vagabundear. Também Jaguapoca.
GUAPURUVU: Schizolobium parahybae. Árvore cuja madeira se utiliza na confecção de
Canoa Caiçara.

com a semente do Guapuruvu é feito um


colar para crianças recém-nascidas, quando
da primeira dentição; desta forma, acredita-
se, não ocorrerá inflamação.

GUARDADO: Relativo a tesouro escondido, enterrado. Também Achado.


GUARDAMENTO: Velório.
- 80 -
GUARDAR POUSO: Diz-se ao pedir pouso, passar uma noite em casa de compadre.
GUARICANA: Genoma sp. Árvore cujas folhas são utilizadas na cobertura de ranchos.

“as palmeiras do morro, guaricana (Geonoma sp), aquelas do brejo, guamiova (Geonoma elegans
Mart.) e o indaiá (Attalea dúbia Burr.) eram utilizadas nas casas mais simples e primitivas dos
pescadores. Quando utilizadas na cobertura, eram empregadas duas camadas de folhas de
palmeiras, a inferior de guaricana ou guamiova e a superior de indaiá. As folhas eram dispostas
sobre ripões de jacatirão (Tibouchina pulchra Cogn.) ou mesmo de jiçara (Euterpe edulis Mart.)
em séries superpostas. As divisões internas eram de esteiras confeccionadas de uma
Cyperaceae, designada de Piri, ou também de tábuas serradas no mato”.
(BIGARELLA, 199134).

GUARICICA: Vochisia bifalcata. Madeira cuja utilização em fabricação de canoas e na


construção civil.
GUASCADA / AGUASCADA: Diz-se de jogar água, aos baldes em alguém ou se
molhar, demasiadamente, na chuva.
GUELRA: Aparelho respiratório dos peixes.
GUENZO: Torto, penso.
GUNDE: Diz-se do ser mentiroso.
GURIA DO CÉU: Expressão que remete à fofoca.
GUSPIR: Mesmo que cuspir; Também ejacular ou Espirro.

34
BIGARELLA, J.J. Matinho: homem e terra Reminiscências... Prefeitura Municipal e Matinhos. Associação de Defesa e
Educação Ambiental - ADEA. l.ed. 1991.

- 81 -
-H-
HOJE NÃO: Brincadeira de adolescentes, como um combinado; ao encontrar, de
surpresa atingir o outro, assim como Metadinha e Chapoca. Consiste em dar um murro,
com a mão fechada, nas costas da outra pessoa.
HOME / OS HOME: Remete à força de fiscalização que impõe restrição ao modo de
vida caiçara.

modista: Paulinho de Jesus Pereira – Cananéia/SP.

HORA / ORA, ORA, ORA: Expressão utilizada ao final da frase que remete a
desapontamento por alguma ação mal feita. (Ex: “Jacaré soltou o Jerival na caliça e
rasgou tudo o Pano, ora, ora, ora”).
HORA O SENHOR IMAGINE / ORA O SENHOR IMAGINE: Expressão utilizada no
início da frase que remete a desapontamento por alguma ação mal feita.

- 82 -
-I-
ICICA [via R.S]: Pão ou bolacha amanhecido, consumido de um dia para outro.
IGOGA [via R.S]: Gosma do peixe. Ver Goga.
ILHARGA: (anatomia) Costelas ou “cadeiras”.
IMALOU: Empatou. Também Empachou.
IMBÉ: Philodendron spp. Espécie de cipó utilizado para amarração ou fabricar cestos.
IMBUCÁ [via R.S]: Ânsia de vômito. Também Mareado ou Enjoação.
IMEIÔ: Chegou até o meio. (Ex: “a canoa imeiô de água”).
IMPACHÔ [pes.A.D]: Remédio do Mato. Emplasto com folhas medicinais.

“[impachô] é um socado de ervas colocado sob um pano”.


(Cleiton do Prado – Iguape/SP, 2020).

IMPAZINADO / EMPAZINADO / IMPAVEZADO [via R.S]: Estar ‘cheio’, satisfeito.


Também designa pessoa feia, mal-acabada.

“[impazinado] é o mesmo que empanturrado, quando a comida não faz bem”.


(Joaquim Pires – Cananéia/SP, 2020).

IMPULERADO / EMPULEIRADO: Estar trepado nos galhos altos.


IMUNDICE [pes.A.D]: Sujo; encardido; com cheiro ruim. Também mosquitos,
pernilongos, borrachudos.
INBRENHAR / EMBRENHAR: Entrar no mato.
INCHERIDO / ENXERIDO: Intrometido.
INCHÓ / INXÓ / ENXÓ [pes.A.D]: Ferramenta utilizada na fabricação artesanal de
Canoa Caiçara, semelhante a enxada, com lâmina arcada e côncava e cabo curto.
Dependendo da utilização possui os formatos “Goiva” e “Chata”.
INCHUME: Remendo, enchimento.
INCÕE / INCONHA / INGONHA: Grudado ou gêmeos; diz-se de duas bananas quando
nascem grudadas uma na outra no mesmo cacho;

“ingonha é duas bananas juntas; Não pode comer as duas juntas, senão fica com fastio barredô,
fica guloso”.
(Juninho – Ubatumirim/SP, 2020).

- 83 -
“se uma pessoa comer as duas bananas incõe, ela vai ter filhos gêmeos”.

INCORUROU / INCURUNHÔ: Quando o alimento não cresce ao ponto do corte;


Encolheu. Também Desandô ou Mingô.
INCUSTIPADO [via R.S]: De constipação. Gripado, resfriado. Do popular Constipado.
INDEZ: Único ovo no ninho da Criação.
INDIVIDO / INDIVIDO-PESTE [via R.S]: Pessoa arteira, peste, abusada.
INFELISCITADO: Pessoa ruim, atentada.
INFIRUSCADO / ENFARRUSCADO: Diz-se da pessoa com a Cara Fechada, brava,
aparência de mal.
INFISTULADO / ENFISTULADO: Diz-se da pessoa com feridas pelo corpo.
INFRUIDO: Diz-se da pessoa entendida no assunto; aquela que sabe das coisas.
INGAÇO: Caroço.
INGIRIZADO / ENGERIZADO: Diz-se da pessoa “atentada”, maldosa, endiabrada.
ÍNGUA: Infecção ou inflamação que faz surgir um caroço na região, geralmente a virilha.

“colocava o pé na cinza fria e deixava a marca. Aquele que riscava a faca no desenho do pé na
cinza dizia: ‘íngua inflamada eu mesmo corto’. Repetia três vezes”.
(José Hipólito Muniz – Guaraqueçaba/PR, 2015).

INGRESIA: (Fandango Caiçara) Moda Dondom, quando composta apenas por Pé de


Moda (versos), não havendo a Cabeça da Moda (refrão).
INGRUVINHADO / ENGRUVINHÁ [via R.S]: Arrepiado; Também enrugado,
principalmente pelo fogo. Ainda Cracunhado [pes.A.D]. Ver Encarangar.
INHACA: Odor de podridão.
INHAPA: Conseguir algo a mais do que o esperado. Também De Quebra.
INHURES [via R.S]: Em lugar nenhum. Também Argures.
INLINHAR [via R.S]: Enleado, enrolado.
INORAR: Criticar, falar mal.
INSONSO / INSOSSO: (culinária) Insosso. Diz-se da comida sem sal.
INTAIVADO: (Fandango Caiçara) Modo de Temperar e tocar a Viola Fandangueira.

- 84 -
INTERTIDO / ENTRETIDO: Distraído.
INTIJUCADO: Borrado de lama. Ver Tijuco.
INTIRIÇADO [via R.S]: Diz-se da pessoa ‘amarela’, anêmica.
INTIRINHO: Inteiro.
INTIRUME / INTIRUMA / TIRUMA [via R.S]: Jejum; “só com um cafezinho puro”.
INTOJADO / ENTOJADO: Diz-se da pessoa enojada, metida.
INQUISILHADO [via R.S]: Nervoso.
IR PRA FORA / SAIR PRA FORA: (pesca) Expressão que remete ao pescar em águas
oceânicas, para o Mar de Fora ou Alto Mar.

“é verdade mesmo; a turma falam, né. Eles falam que se levar banana estraga a pescaria,
né. Se tiver lá fora, e jogar farinha na água, chama vento”.
(Roger dos Santos – Superagui - [via R.S], 2021).

IR PRO MATO: Diz-se da saída dos caçadores para caçar ou cortar palmito.
IR VER: Ir buscar.
ISCÁ: (caça) Diz-se ao ato de colocar isca na armadilha de caça ou pesca (Mundéu ou
Espinhel).
ISCAR: Consiste em Atiçar o cachorro, com som labial, para que ataque alguma caça.
ISTURRICADO: Apertado.
ISOPEAR [via R.S]: (pesca) Lavar a canoa e passar um pano ou espuma.

“NÓS INVERGA, MAIS NUM QUEBRA”


(expressão equivalente a ‘balança mais não quebra’ ou mesmo ‘treme, mas aguenta o tranco’,
‘igual palanque no banhado’, ou seja, remete à força, persistência, em que, numa situação difícil
ainda assim se supera).

- 85 -
-J–

JÁ VOU JÁ: Expressão que remete à aguardar alguns instantes; logo em seguida.
JABACUÍ: (culinária) Milho torrado, socado no pilão e depois coado e utilizado como
Mistura para o café ou para misturar nas refeições.
JABURU: Espécie de ave marinha (Indeterminado), da família das garças.
JACATAÚVA: Citharexylum myrianthum. Planta com utilização para cerca viva.
JACATIRÃO: Tibouchina mutabilis. Planta utilizada como cerca viva, ainda como
madeira na construção civil. Sua casca, fervida, serve para tintura de pano de rede.
Também chamada de Quaresmeira.

JACU: Diz-se do homem tolo, bobo. Também Mongo, Pedro Bó, Palermo ou Sonso.
Refere-se a uma espécie de ave (Peneloppe obscura).
JACUCACA: Penelope superciliaris. Espécie de ave. Também Jacupemba.
JACUTINGA: Pipele jacutinga. Espécie de ave.
JACUVA / JACUBA: (culinária) Pirão de farinha com água fria.
JAGUARA: Ser ordinário, imprestável.
JAGUARAIVA: Preguiçoso.
JAHOJE / DEJAHOJE: Aconteceu há poucos instantes.
JAMANTA: Espécie de Raia Mobula birostris. Designa ainda peso acima da média.
JAÓ / AÓ [via R.S]: Mau cheiro. Ver Pitiu, Asco, Catinga.
JAÓ: Cripturellus noctivagus. Espécie de ave.

- 86 -
JATUTÁ BRANCO: Megalobulimus paranaguensis. Caramujo. Utilizado como remédio,
depurativo do sangue. É assado ao fogo com casca e tudo até virar pó e este musturado
na comida. Também Aruá.
JAZIGO / JAGIGO [pesq.A.D]: Abertura nas nuvens, cujo reflete raios solares. Também
diz-se do amansar das ondas, quando as canoas podem sair para o Mar de Fora.
JERERÊ: (pesca) Armadilha que consiste em um aro (boca) de onde desce, preso, uma
rede, formando um funil, sendo manuseado pelo pescador, com passadas ao fundo do rio.
JERIVÁ / JARUVÁ: Árvore, palmeira (Indeterminado).

“trata-se de pé de pau (árvore) ou do fruto que nele nasce. Com aparência de coqueiro mas de
folhagem mais curta. A fruta é conhecida como Jaruvá ou Coquinho. De cor amarela, quando
madura, parecida com um coco pequeno. Da-se em cachos grandes”
(Aorélio Domingues – Paranaguá/PR).

JERIVAL: (pesca) Tarrafa para a pesca do Camarão Branco, no Mar de Dentro.


JIPOAIA [via R.S]: “Baixio que s eforma entre a correnteza do rio e do mar”. (Cleiton
Prado – Iguape/SP, 2020).
JIRAU / ESTENDEAL / TEAGEM: Estrado de varas, ao lado de fora da janela para
colocar louças para secar ao sol; também estrado sobre o fogo para defumar peixes e
carnes. Ver também Tupé.

- 87 -
JÓÇA: Qualquer coisa; sem valor nem importância alguma. Também Ninharia.
JOÇADO: Pó que levanta ao Pilar o arroz e provoca coceiras pelo corpo.
JOJÓCA: Soluço.
JORRA / A JORRA: Expressão que remete à quantidade. Também De Bola.
JUÁ: Solanum aculeatissimum. Planta pequena com espinhos nas folhas e caule, e frutos
pequenos e arredondados que servem como brinquedo de crianças, sendo, ainda
comestível, é utilizado na Medicina Caseira.
JUNDIÁ: Indeterminado. Espécie de bagre de água doce.
JUNDU / JUNDUM [via R.S]: Vegetação rasteira da praia; onde o mar deixa o lixo que
Acosta.
JUNTAMENTO: Espécie de Mutirão, porém, neste, há a troca de favores, pois quando o
outro precisar, este a quem esteve trabalhando, lhe estará devendo um dia de serviço.
Pode-se ainda ser feita a Paga com dinheiro. Ver Pacotilha e Trocadilho.
JURUPU: Talo que une a Rama com a Mandioca.
JURURÚ: Sentimento de tristeza; estar abatido, adoecido. Também Amoado,
Desacorçoado, Aborrido, Mocambuzo.

“josé pé, catibiribé, cherachirixé, cheramacuté;


maria pia, catibiribia, cherachirixia, cheramautia”
(brincadeira infantil que consiste em fazer rima com nomes próprios de conhecidos).

JOGO: Brincadeira de criança, com osso “fúrcula” da


galinha. Logo após o almoço, deixar o ossinho ao sol para
secar e quando assim, joga-se ao solo, obedecendo a ponta
que cair a cada lado dos jogadores; cada um puxa sua ponta
e vence quem ficar com o pedaço maior, havendo paga de
alguma prenda ou desafio para aquele perdedor.

- 88 -
-L-
LABRAR: Cavoucar, cortar, ir moldando, retirando pedaços da madeira.
LAÇO DE QUEBRAR CANELA / LAÇO DE QUEBRAR PEITO: Armadilha; ao pisar
nos fios, aciona o pau que vai abater a presa, na altura do que se pretende capturar.
LACINHO: Armadilha para captura de Caranguejo Uçá, quando ainda dentro do buraco,
no mangue, em período de defeso (prática proibida).
LACRANADO: Com ferimento; cortado; sangrando.
LADINO: Pessoa esperta, astuta.Também Matreiro.
LAGAMAR: Baía ou Porto onde se pode Fundear com segurança.
LAJE: Pedra em meio ao mar.
LAMBADA: Soco forte; batida.
LAMBAZO [via R.S]: Pano de Rede velha.

“rede velha que a gente usa pra secar a canoa”.


(Edinho – Praia de Almada - Ubatuba/SP, 2020).

LAMBE VIOLA [via R.S]: Diz-se do violeiro que durante o Fandango Caiçara não abre
espaço para outro violeiro tocar.
LAMBIDO: Diz-se da pessoa metida, exibida; aquela que conta vantagens.
LAMBUJA: Receber pelo serviço feito e ganhar algumas vantagens a mais.
LAMBRECA [pesq.A.D]: Sujeira; algo gosmento.
LAMPARINA: Lata ou vidro com cabo e dentro uma tira de pano por entre a tampa
furada, embebido em querosene e aceso a noite. Também Candeia, Lampeão de
querosene e Liquinho.
LANCEAR / LANCEIO: (pesca) Pesca de Espera, onde a rede é solta e vai seguir o
ritmo da maré, até ser colhida.
LANÇOU [via R.S]: Vomitar.
LANGANGO: Mole.
LANHO: Corte acidental pelo corpo humano ou proposital no peixe (para salgar).
LAPA: Grande, muito. Ver também Baita, Lemarde, Ximirde.
LAPADA: Tapa, pancada. Também Tabefe.

- 89 -
LAPAR: Diz-se da vitória total em disputas; ganhar tudo; remete a quantidade alcançada.
LARÉ: Algazarra, falaria.
LARGADO: Remete à pessoa ou objeto abandonado.
LARGAR A REDE: Soltar a rede; pescar de rede.
LARGO: (mar) Baía ou Mar de Dentro. Diz-se também da pessoa com sorte.
LARGUE MÃO: Exprime a ideia de desistência em qualquer ato.
LASCA: Pedaço de madeira ou de qualquer outro objeto.
LASCADO / LASCOU-SE: Estar encrencado, ferrado, atarefado. Ver Fuzilado.
LASTRADO: Borrado, sujo. Ver Breado.
LAVAGE: Café fraco.
LAVAR: (pesca) Limpar a rede.
LEÍ [via R.S]: Veja. Olhe. Ainda Vede.
LEMARDE: Algo muito grande; Tamanho descomunal. Também Baita e Ximirde.
LENCAR [via R.S]: Levantar.
LENGA-LENGA / CONVERSÊ: Conversa fiada, sem importância; perda de tempo.
LERA: Canteiro para plantação.
LESTADA: Vento que sopra do Leste ou Vento Leste.
LIBERATO: Alcunha de pessoa que tem o hábito de mentir.
LICENÇO: Doença de pele, semelhante ao furúnculo.
LICO: Alcunha de pessoa que tem o hábito de mentir.
LIDAR / LIDÁ: Limpar peixe; Também se refere a trabalho.
LIMOSO: Liso, escorregadio.
LIMPA-BANCO: (Fandango Caiçara) Diz-se das modas valseadas ou bailadinhas, onde
todos fazem questão de dançar e não fica ninguém sentado.
LINGUADO: Paralichthys sp. Peixe com corpo achatado e os dois olhos no mesmo lado,
virado para cima, vive no fundo do mar, parcialmente enterrado na areia.

“Jesus andava pela terra e ia atravessar o mar; perguntou


ao Linguado, um peixe muito bonito naquele tempo:
‘Linguado a maré vaza ou enche’. Foi arremedado pelo
peixe. Assim foi pela segunda vez a pergunta e quando pela
terceira vez, Jesus lhe disse: ‘por me imitar e não me
responder, vai viver se arrastando’”.
- 90 -
(mitologia)
LINHOTE: Linha para pescar com anzol grande.
LISO QUE NEM UM BAGRE: Expressão que remete sagacidade em fugir de
determinadas situações. Também “liso como Raia”.
LITRADO: Pessoa inteligente.
LOMBADO: Preguiçoso.
LOMBERA / LOMBEIRA: Sonolência; Sono após o meio-dia.
LONJURA: Distância.
LOUVAÇÃO: (Fandango Caiçara) Moda em que se canta agradecendo ao dono da
casa, ao dono do Mutirão, dentre outros que cederam a casa para a realização do
Fandango.

“cantando peço licença


Pro dono dessa morada
Se me der licença eu canto
se não der posso parar”.
(Fandango Caiçara)

LOUVADO: Pedido de benção aos pais, avós e padrinhos, de forma especial na Sexta-
Feira-Santa, quando, logo ao amanhecer do dia, se dirige à casa doaqueles para ‘pedir o
Louvado’.

LOTE: (pesca) Cardume.


LUBICACO: (mitologia) Lubisomem.
LUZERNA: Luz, fogo alto, ardente.

- 91 -
-M-

Moqueca com oveiro de Bagre Amarelo

MACADAME [via R.S]: (culinária) Arroz e feijão cozidos e misturados. Ver Mimestre.
MAÇARANDUBA: Manilkara subsericea Dubard. Madeira utilizada na confecção de
remos. Também utilizado para a confecção de Esteios para a construção civil (casa).
MACHETE / MACHETINHO: (Fandango Caiçara) Instrumento de cordas, artesanal,
semelhante ao Cavaquinho.
MACHUCADURA: Qualquer machucado. Ainda distensão muscular ou Rasgadura.
MACUCA [via R.S]: Canoa reaproveitada, em partes, após ter sua madeira apodrecida.

“canoa cortada quando apodrecia a proa ou a popa; cortava, tirava a parte podre,
calafetava com pano ou asfalto, derretia e tampava e usava o pedaço da canoa”.
(Ciro Xavier – Iguape/SP, 2020).

MACUCO: Tinamus solitarius. Espécie de Ave.


MADORNA: Cochilo após a refeição; sonolência. Ver Tirar uma Pestana.
MADRE [via R.S]: (pesca) Alça do Espinhel ou de qualquer outro tipo de rede de pesca.
MÃE C’A FILHA: (cachaça) Bebida típica; consiste na mistura da pinga com o melado.
MÁ-CRIAÇÃO: Ato sexual; Também Expirucar, Procurá ou Funicá
MÃE DE FOGO: Toras de madeira, grossas, que mantém as brasas acesas por longo
período no fogo de chão.
MÃE DE OURO: (mitologia) Indica a localização de Guardados.
MÃE DE UMBIGO: Diz-se da Parteira, Entendida ou Curiosa.
MAENGA [via R.S]: Minha mãe. Expressão de admiração ou susto em momentos de
alegria ou também de tristeza. Ver Meu Bom Jesus ou Senhor Bom Jesus de Iguape.
- 92 -
MALACO: Trapaceiro.
MALAMANHADO: Diz-se da criança chorona, mimada.
MALECHO: Estar doentio; caído; sem ânimo.
MALEITA [via R.S]: Barriga d’água, febre, malária.
MALEMAR: Não feito muito bem; mais ou menos.
MALHAÇÃO DE JUDAS: Manifestação popular onde se prepara um boneco a
representar Judas Iscariotes – o discípulo que traiu Jesus Cristo - e publicamente o
malham, queimando-o em seguida. Ver também Fogaréu e Testamento de Judas.

ao final da Quaresma, período em que os cristãos guardam 40 dias em jejum ou abstinência, na


Sexta-Feira-Santa para o amanhecer do Sábado-Aleluia (finalizando o período) confeccionam um
boneco, espécie de espantalho com folhas de bananeira, com o intuito de julgá-lo, condená-lo e
queimá-lo publicamente como punição por ter entregue Jesus Cristo aos soldados romanos.

MALHEIRO: (pesca) Instrumento de madeira, com medidas diferentes de acordo com a


Malha que se quer, para o Entralhe da rede de emalhe. Ver Agulha e Pano de Rede.
MALHERINHA: Indeterminado. Espécie de peixe de escamas.
MALQUERENÇA: Estar indisposto. Não cumprimentar outrem.
MAMICA: Peito; seios.
MANÁ: Açúcar medicinal, utilizado como remédio para crianças.
MANAPANÇA [via R.S]: (culinária) Bijú com massa de Mandipuva.
MANDICUÉRA / MANDIQUÉRA: Líquido branco, venenoso, resultante da Massa de
Mandioca prensada. Após fervido, é utilizado em algumas receitas caiçaras.

Mandicuera (caldo)

- 93 -
MANDIOCA BRAVA / BRABA: Manihot sp. Mandioca venenosa, portanto, não
utilizada para o consumo, apenas para a fabricação da Farinha de Mandioca, pois passa
pela alta temperatura no momento de Forneá.
MANDIOCA DA ÁGUA / MANDIPUVA: Diz-se da mandioca, quando colhida recebe
cortes verticais na casca e é deixada de molho, em um buraco com água, durante 8 dias,
sendo retirada já apodrecida e utilizada na culinária caiçara. Ver Bijú de Mandipuva.
MANDIOCA MANSA / AIPIM: Manihot utilíssima. Mandioca utilizada para o consumo.
MANDUVIRANA: Desmodium adscendens (SW) DC. Planta rasteira que dá no campo.
Utiliza-se na Medicina Caseira para chá e também para banhos.
MANGÃO [via R.S]: Devagar. Também Lerdeza.
MANGONA: Carcharias taurus. Espécie de peixe; tubarão.
MANGORREIRO [via R.S]: Xingamento ou depreciação da pessoa.
MANGOTE: (embarcação) Escape, no motor marítimo, por onde sai a água.
MANGUEIRO: Cerdocyon thous. Espécie de Cachorro do Mato.
MANHA: Indica habilidade em determinado ofício. Remete também a choro de criança.
Ver Malamanhado.
MANJUVA / MANJUBA: Anchoviella lepidentostole. Espécie de peixe, cuja variedade
se distingue de acordo com seu tamanho Zerinho, 0, 1, 2 e 3; no litoral paranaense sua
captura é proibida. Também chamada de Irico. Ver Feiticeira ou Filó.

MANTA: (pesca) Mesmo que cardume.


MÃO FRIA: Diz-se da pessoa com habilidades para Lidar o peixe, bem como para o seu
preparo.
MÃO NA RODA: Diz-se da facilidade em algum instrumento ou serviço. Receber ajuda.
- 94 -
MAQUITOLA: Andar com dificuldade; mancar.
MAR DE DENTRO: (pesca) Nas baias, Barra adentro.
MAR DE FORA: (pesca) Nas águas oceânicas, Barra afora ou Alto Mar.
MAR GROSSO: Mar bravio, revolto, com ondas altas. Também Mar de Fora.
MARANDOVÁ: Lagarta ou embira. Ver Cachorrinho ou Bicho de Figueira.
MARANÚNCIA [via R.S]: Feitiço, magia.
MARCA: (Fandango Caiçara) Diz-se das diferentes coreografias dançadas no Fandango
Caiçara, onde varia também o toque na Viola Fandangueira.
MARDELOADO [via R.S]: Vagabundo, sacana.
MARDIZENDO: Maldizer. Reclamando.
MARÉ ARRUINADA: Quando de Rebojo. Impossível sair para pescar.
MARÉ DE LUA: Maré cheia, cresce muito; primeira maré na Lua Cheia.
MARÉ DE QUARTO: Maré que enche e seca pouco, por duas vezes ao dia.
MARÉ DE SETE ANOS / RESSACA: Maré que enche demasiadamente de tempos
em tempos, geralmente é anual ou uma vez a cada sete anos. Preamar.
MARÉ TORRADA / TOSTADA: Diz-se quando o mar seca demais. Jusante.
MAREADO [via R.S]: Ficando enjoado, tonto. Também Enjoação ou Imbucá.
MARESIA: Maré grande ou cheia, acompanhada de frio e vento.
MARINHEIRO: (Fandango Caiçara) Moda batida, porém em determinados momentos da
coreografia, os casais valseam. Em alguns lugares chamado de Mantiqueira.
MARISCÁ: Tirar marisco.
MARMANDADA [via R.S]: Diz-se da pessoa desobediente, que não faz o que se pede.
MARMENTE: Malemar; mal feito ou mal acabado.
MAROLA: Ondas.
MARTIM PESCADOR: Espécie de ave marinha (Alcedinidae). Também chamado de
Caracachá. Quando canta, sobrevoando a casa, é sinal de gravidez.
MARTÍRIO DE CRISTO: (cantoria popular) Orações cantadas35 na região de
Ubatuba/SP, em ocasiões como a Folia do Divino Espírito Santo. Em versos são
relacionadas todas as partes do corpo de Jesus Cristo em seus momentos de aflição e
martírio que antecederam sua crucificação. Ver também Bendito e Rosário de Maria.

35
Ouça na voz da Folia do Divino de Ubatuba/SP: <https://drive.google.com/file/d/1HYaJPHlzM-
AXHyWwibMokE_9Fntq9F6W/view?usp=sharing>.

- 95 -
“essa música ela canta parte por parte, né. [A] colocação da coroa, depois as lanças, os
cravos, vai na boca, vai no pescoço, ombro, braço, perna e termina nos pés. Então faz, os
versos todos relacionados ao corpo de Cristo”.
(Rogério Estevenel - Ubatuba/SP, 2021).

“os vosso sagrados olhos / InclinadoS para o chão


para remir nossos pecados / passou deus tanta paixão”
(“Mestre Néco” Manoel Moisés – Ubatuba/SP).

MARUIN: Mosquitinho de mangue.


MARULHADA: Som emitido pelo movimento das águas do mar.
MATA - PAU: Diz-se do carpinteiro “meia boca”. Remete ainda à uma espécie de árvore.
MATÁ PEIXE: (pesca) Ir pescar.
MATALOTAGEM [pesq.A.D]: Utensílios pessoais para viagem; bagulhos. Ajuntamento
das coisas confusas, misturadas.
MATOU-SE: Expressão que designar ter caido, se machucado. Também se esforçado
demasiadamente no trabalho.
MECÊ / MECÊS / MECESE [via R.S]: Pronome de tratamento [2ª pessoa do singular /
4ª pessoa do plural].
MEDONHO: Feio, ridículo.
MEIA–BOCA: Trabalho mal feito, sem capricho.
MEIA CANJA: (Fandango Caiçara) Moda semelhante a Graciosa, já ao romper do dia ,
onde o Cavalheiro recitava verso ao violeiro, destinado à Dama e esta, em
seguida, respondia ao verso que recebera, recitando para que o violeiro também o
cantasse.
MEIA-MARÉ / MARÉ DE QUARTO DE LUA [via R.S]: Intervalo entre a enchente e a
vazante da maré.

“dia de maré grande ou maré de lua. Maré enche, pára, e continua a encher. Este
intervalo denomina-se meia-maré”.
(Aorélio Domingues – Paranaguá/PR).

- 96 -
MEIA TRENCA / MEIA TENCA [via R.S]: Ficar na dúvida.

“Refere-se à estar ‘em cima do muro’, ‘nem lá nem cá’, na metade”.


(Claiton do Prado - Iguape/SP, 2020).

MEIO-PAU: (vestimenta) Diz-se de calça com a barra pelas canelas.


MEIO TOCO: (Fandango Caiçara) Mesmo que Sapo ou Pujuva. Assim também é
chamado o Fandango, da última noite de Entrudo, terça-feira de Carnaval, quando o baile
vai até meia-noite, ao amanhecer Quarta-Feira-de-Cinzas, inicia a Quaresma. Ver
também Enterrar o Entrudo.
MEMÓRIA: Diz-se de anel ou jóias com brilhantes.

Fandango Caiçara

MERDA DE LUA36: Espécie de fungo Fuligo septica, de cor amarelada e sem cheiro. Há
uma superstição, quando aparece no terreiro, pelas primeiras horas do dia, indica caso de
gravidez pela vizinhança.

“as roupinhas das crianças recém-nascidas não podiam


ficar dependuradas no varal em noite de Lua Cheia, pois
se a Lua cagar, a criança certamente vai adoecer”.

MERO: Epinephelus itajara. Espécie de peixe ameaçada de extinção, podendo chegar a


aproximadamente 500 kg e até 3m de comprimento. Também conhecido como “Senhor
das Pedras” por habitar as formações rochosas do fundo do mar.

36
Há uma matéria no Blog Nosso Pixirum: <http://informativo-nossopixirum.blogspot.com/2012/04/lua-e-seus-encantos-na-
crendice-caicara.html>. Assista ao episódio da Associação Mandicuéra de Cultura Popular:
<https://drive.google.com/file/d/15MXLddId0XnnuAu7D6JxGB45UhWd_XxG/view?usp=sharing>.

- 97 -
MESTRE: (Romaria do Divino Espírito Santo) Geralmente o tocador da viola,
responsável ainda pela Tripulação e por todo Trajeto, desde que Tira a Bandeira da
Igreja.
METADINHA: Brincadeira de criança; combinado; ao encontrar o amigo em posse de
algum alimento (doce, salgado), este deverá dar-lhe metade se acaso pronunciar antes. O
outro pode pronunciar “não dou metadinha”, livrando-se da repartição.
MEU BOM JESUS / MEU BUNJISUIS: Expressão de admiração, susto em momentos
de alegria ou também de tristeza. Remete à devoção ao Senho Bom Jesus de Iguape/SP.
MEU CANECO: Expressão que remete a admiração, susto.
MICAGE: Caretas.
MIGALHA [via R.S]: Coisas pequenas, coisas poucas.
MILOME: Aristolochia paulistana Hoene, Aristolochia triangularis Cham. Espécie de cipó,
chamado de Mil-Homens, utilizado na Medicina Caseira, no combate à febres, ainda para
os males do Estômago, dos Rins e contra vermes e mordida de cobra.
MIMESTRE / AMESTRE [via R.S]: (culinária) Arroz quando cozido junto com o feijão.
Mesmo que Macadame.
MINHA GENTE / MINHA GENTE DE LÁ DO CÉU: Expressão que remete
aadmiração ou susto.
MINGUADO: Não cresceu, desandou. Estar desiludido. Também Mirrado.
MIRAGUAIA: Pogonias cromis. Espécie de peixe de escama. O período de captura
geralmente é de julho a setembro; entre maio e junho sobe pra fazer desova no rio.
MIRRADO: Desandou; ficou pequeno (culinária). Pouca quantidade. Também Minguado.
MISTURA: (culinária) Diz-se dos acompanhamentos na refeição (almoço ou café).
MITÓRIO: Casinha; banheiro fora da casa.
MIUÇALHA [via R.S]: Misturinha; peixe miúdo. Ainda Esmiuçar.
MÓCA: Café.
MOCAMBUZO [via R.S]: Triste. Também Amoado, Desacorçoado, Aborrido e Jururu.
MOCHO / MOCHINHO / MUCHINHO: Banqueta; banquinho pequeno para sentar-se
principalmente ao Pé do Fogo.
MODA: (Fandango Caiçara) Composições para as danças batidas (com os tamancos) ou
bailadas (onde os casais valseiam pelo salão). Ver Cabeça de Moda e Pé de Moda.

- 98 -
MODA TIRADA: (Fandango Caiçara) Composição que conta história completa acerca
de algum conhecido e ou alguma proeza. Também Pisquim.
MODISTA: (Fandango Caiçara) Diz-se daquele que compõe as modas.
MOERÃO / MOURÃO / MOIRÃO: Estaca, de madeira; palanque, vara.
MOÍDO: estragado
MOIRA / MOERA: Lavagem, escorrido que sai do peixe salgado.
MOLENGA: Diz-se da pessoa preguiçosa, vagarosa.
MOLEIRA: Cabeça de criança recém nascida (coroa).
MOLENTADO [via R.S]: Abatido; ressaca.
MOLINHA, MOLINHA, TEIN: Brincadeira entre duas criança; consiste em segurar a
mão do outro, deixando-a mole e tentar atingir partes daquele corpo enquanto fala
“molinha, molinha, tem”.
MONGO: Diz-se da pessoa atrapalhada. Também Jacu e Pedro Bó ou Mocorongo.
MONO / MONADA: (Fandango Caiçara) Moda valseada sobre o Bugio (Alouatta guariba).

(moda recolhida com José Hipólito Muniz, por Aurélio Gasparini Jr, em Guaraqueçaba/PR, no ano de 2019).

MONTOU NO PORCO: Expressão que remete a sucesso na empreitada; se dar bem.


MONTUERA: Indica grande quantidade.
MONTURO / MUNTURO: Lugar para depositar o lixo.
MOQUECA / BOQUECA: (culinária) Bolinhos feitos a partir do Oveiro do Bagre
Amarelo, misturado com Farinha de Mandioca e assado enrolado na folha de bananeira.
MOURÃO / MURRÃO: Pinga (Murrão Ribeira) vendida em Cananéia/SP.

- 99 -
Fandango Caiçara

MORCEGANDO / MORGANDO: Enrolando no trabalho. Procrastinando.


MORMAÇO: Temperatura alta; abafado.
MORTE: Diz-se do corte ou rasgo que ocorre no caninho elástico da Setra (estilingue) ao
se fazer mira em corvo (urubú).

Quando se faz mira no corvo com a Setra, deve-se, evitando a ‘morte’, ou seja, arrebentar
o caninho elástico, passar, a setra, três vezes por debaixo das pernas do atirador”.

MOTOR: (culinária) Diz-se do casco do Caranguejo Uçá (Ucides cordatus).


MUÇUM: Família Synbranchidae. Espécie de peixe, semelhante a uma cobra. Não
indicado para o consumo.
MUCUIM: Espécie de pulga, daquelas que atacam em áreas gramadas.
MUNDÉU: Armadilha para caçar.
MUQUE: Sinônimo de força; músculo; bíceps.
MUQUIRANA: Pessoa mesquinha, pão-duro, mão fechada. Sovina ou Sumítico.
Também Daninho, Sumítico e Vir.
MURRINHO / MORRINHA: Diz-se cheiro de cachorro molhado ou seja, mau odor
decorrente de secar roupas na sombra. Fedor ou mau cheiro. Ver Catinga ou Jaó.
MUTACANGA [via R.S]: Mesmo que Ventrecha.
MUTIRÃO / PITIRÃO / MIXIRÃO / MITIRÓ / PITIRÓ: Trabalho coletivo tendo como
Paga, a realização do Fandango Caiçara na casa do Dono do Mutirão, este que devia
abastecer de alimentos e bebidas durante a Paga. Ainda Pechiró.

“morceguinho, morcegão,
levai este dentinho e trazei um bem bonitão”
(repete-se ao jogar o dente, que acabou de cair, sobre o telhado da casa).

- 100 -
-N-
NA MOITA: Diz-se de passar despercebido; ficar em silêncio.
NACO: Pedaço.
NANENINANÃO: Expressão que enfatiza a negação; não concordar com algo.
NÃO SEI O QUE LÁ: Expressão que significa desconhecer do assunto tratado.
NAQUELE TEMPO: Expressão que remete a antigamente; tempo passado.
NEM PRO FUMO: Expressão que remete à carência de mantimentos, produtos.
NESGA: Pedaço de trapo.
NHÁ / INHÁ / NHANHÁ [via R.S]: Pronome de tratamento feminino.
NHO / INHO / NHONHÔ [via R.S]: Pronome de tratamento masculino.
NHABITITANA: Crocosnia crocosmiflora. Planta utilizada na Medicina Caseira.
NHACUNDÁ / JACUNDÁ: Crenicichla spp. Espécie de peixe com escama.
NHAMUTACANGA: Espinho de peixe. Ainda Espinhaço, Tovacanga e Mutacanga.
NHOPECANGA [via R.S]: Espécie de cipó com espinhos. Utiliza-se na Medicina Rústica
como depurativo do sangue.
NIMARDE / LIMARDE: Grande. Também Ximirde, Baita, Butelo.
NITINHO [via R.S]: Expressão jocosa que designa estar fora de aparência normal ou em
atitude vergonhosa.
NÓ NA BARRIGA [via R.S]: Dor de barriga; dor estomacal (“nó nas tripas”).
NOROESTADA: Vento Noroeste; Vento que refresca.
NUVEADO: Mesmo que nublado, ou ainda, indica serração.

“quando venta noroeste, olha, veio sopro quente de noroeste e o vento noroeste não gosta de
matar a mãe dele de sede. Vai vim chuva ai. Três dias e três noite”.
(Juninho – Ubatumirim/SP, 2020).

“narigão, narigutinga, pé de onça comideira,


pescoço de camiranga, cara de segunda-feira”
(parlenda - trava língua).

- 101 -
-O-
O QUE DISQUE: Expressão que indica desconhecer algum fato; curiosidade.
O QUE É ISSO RAPAZ: Expressa susto com atitude inespeada.
OBRÁ / OBRANDO / DESISITIR / SOLTAR BARRO: Defecar.
OCHA / OCHE / PÔXA [via R.S]: Expressão que remete à admiração em algum fato.
OFENDER: (artesanato) Quando se estraga a madeira, inutilizando-a.
OLHA A BOCA: Expressão que remete à Ralhar em situações de palavrões, blasfêmias
proferidas por algum ‘boca-dura” ou “boca-suja”.
OLHANDO ATRAVESSADO: Diz-se do olhar com cara de bravo, de mau, dando
aparência de querer encrenca.
OLHO D’ÁGUA: Nascente de rio; água que brota da terra.
ORA, ORA, ORA: Expressão que remete à desapontamento em alguma ação.
ORASEJA / ASEJA: Expressão que demonstra compaixão em determinada situação.
ORNÔ: Diz-se quando uma roupa “cai” bem, fica boa na pessoa. Também Panca.
OS ANTIGOS: Refere-se aos mais velhos, avós. Ainda Velhusco.
OVEIRO: (culinária) Ova de peixe, geralmente Bagre Amarelo, servindo para receitas
como a Moqueca.
OVEVA: Larimus breviceps. Espécie de peixe de escamas.
OVO NA BOCA: Expressão que designa sujeito que fala e outros não entendem.
OVO SECO [via R.S]: Remete à pessoa que não tem filhos. Também Roncolho.
OVURA: Enchente da maré, de acordo com a Lua Cheia.
OXOXOI / XOXOI / OJOJOI: Expressão que remete a nojo; desdenhar.

oveiro de Bagre-Amarelo e ova de Tainha

- 102 -
-P-

Pé direito

PÁ: Refere-se a omoplata.


PACHOLA: Diz-se da pessoa que se exibe. Ver Gabola.
PACHORRA: Paciência. Ainda vagareza, lentidão.
PACOTILHA: Espécie de Mutirão, porém, neste, há a troca de favores, pois quando o
outro precisar, este a quem esteve trabalhando, lhe estará devendo um dia de serviço.
Também Juntamento.
PAGÁ: Vingar-se.
PAGA: (Fandango Caiçara) Em pagamento pelo dia trabalhado o dono do Mutirão
oferece a casa e alimentos para fazer o Fandango Caiçara. Ver Função.
PAGAR PAU: Puxa saco; apoiador.
PAJANÔ: Assim chamam a Garça Branca Grande (Ardea alba).
PALMA BENTA: Folha de palmeira benzida na Quinta-Feira-Santa. O caiçara possui um
ramo atrás da porta da casa para queimar em dias de tempestade, fazendo com o ramo, o
sinal da Cruz em direção à trovoada.

- 103 -
PAMONÁ: Mistura de qualquer comida com a Farinha de Mandioca; pirão.
PAMPAMPAM: Expressão que indica surpresa, indignação em relação a algum assunto.
Também Parará.
PAMPERO: Tempestade.
PAMPO: Peprilus paru. Espécie de peixe de escama, também chamado de Pampano.
PANÃ-PANÃ [via R.S]: Estar fraco; diz-se da pessoa pálida.
PANARIZ: Infecção ao redor das unhas.
PANCA: Diz-se das belas vestimentas; da pessoa bem vestida e maquiada.
PANDULHO: Estômago.
PANAPANEANDO [pes.A.D]: Andando a toa, batendo perna, zanzando. Origina-se do
‘bater asas’ da borboleta Panapaná (Indeterminado). Também Devarde, Campeando,
Pela Costera.
PANEIRO: (embarcação) Designa o assoalho ou estrado de madeira sobre a caverna da
embarcação.
PANO / PANAGEM: (pesca) Unidade de medida, referente ao próprio ou mesmo ao
tamanho da rede de pesca. Também designa vestimenta, camiseta.

“o pano, das redes, antigamente eram feitos de fibra vegetal d emebaíba branca ou de
tucum, mesmo. Era banhada em tintura de Aroeira ou de Canapuva também. De Jacatirão
também; Daí se esperava a maré de lua, uns 7 dias depois pra poder soltar ela no mar”

PANO PRA MANGA: Trabalho que vai se estender para além do imaginado.
PAPA-OVO: Cachorro que come ovos de galinha.
PAPANÁ: (apelido) Diz-se da orelha do indivíduo com tamanho descomunal. Também
Orelha de Abano.
PAQUERA [pes.A.D]: Miúdos da caça (buxada, intestino), cozidos e conservados na
banha.Também chamado de Fissura Boa (comestível) e Fissura Ruim (não aproveitável
para alimentação).
PAQUETE [via R.S]: Menstruação, “tá de Chico”, incomodada.
PAR / A PAR: Estar sabendo das coisas (a par das coisas).
PARADA: Diz-se quando a mulher está grávida.
PARARA: Expressão que designa surpresa com algum assunto, notícia inesperada.
Também Pampampampampam.

- 104 -
PARARACA: Chuvinha de verão, passageira.
PARATI PEMA: Mugil gaimardianus. Espécie de peixe de escama e tamanho pequeno
(miúdo). Ocorre no verão, pelo mês de setembro em diante.
PARATI GUAÇÚ: Mugil curema. Espécie de peixe de escama e tamanho grande.
Ocorre o ano todo.
PARATI POÁ: Filhote do Parati Guaçú.
PARELHO: (pesca) Igualar diferentes Panos de Rede, com duas embarcações.
PARIOBA / PARIOVA: (frutos do mar) Molusco (Indeterminado). Diz-se que tem
formato de um ‘anjo’. Ocorre na ‘beirinha’ da maré. Ver Manini.
PARMACETA [via R.S]:

“parafina. Se confunde com esparmacete de Baleia”.


(Cleiton Prado – Iguape/SP, 2020).

PARRUDO: Diz-se da pessoa forte, porém baixa de estatura; Mesmo que Entruncado.
PARTE: (pesca) Divisão do pescado entre os pescadores; Mesmo que Quinhão.
PARÚ: Peixe (Chaetodipterus faber).
PASMADO / PASMO: Lugar muito parado; pessoa sem expressão; abobado; admirado.
PASQUIM / PISQUIM: Escrever poesia sobre a vida de alguém. Ver Moda Tirada.

o termo se origina-se na Roma Antiga quando se aproximavam da estátua de Pasquino e defronte


desta declamavam ou escreviam versos reclamando das desigualdades sociais encontradas
naquele Império. Remete hoje a sátiras e versos populares.

PASSAGUÁ: (pesca) Pequena rede, afunilada, com a boca aberta e o fundo fechado,
presa em um cabo. Sua finalidade é ‘caçar’ os peixes mais pesados, evitando que
escapem do anzol; ainda é utilizado para pegar objetos que caem na água.
PASSANGUVA / PAÇANGUVA [via R.S]: Travessa de madeira para reforçar a parede.

“Travessa de madeira no meio da parede, na altura da janela, onde prega o meio da


tábua e que segura a parede”.
(Cleiton Prado – Iguape/SP, 2020).

- 105 -
Paçanguva
(imagem enviada por Cleiton do Prado – Iguape/SP)

PASSAR O CERCO: (pesca) Diz-se do ato de cercar o cardume de peixes.


PASSARINHAR: Ir ao mato caçar aves, matar passarinhos.
PATACÃO / PATACA: [pesq.A.D]: Nome da Rótula (joelho). Diz-se também de moeda
antiga.
PATILHA / PATILHÃO: (embarcação) Reforço de madeira na Proa e na Popa da
canoa, protegendo o Bojo, também facilitando tanto na proteção quanto na navegação.
PATOTA: Grupo, turma ou gangue.
PÁU D’ÁGUA: Pessoa cachaceira.
PAU DA VIOLA: Expressão que remete à pessoa magra, doentia. Ainda Pau de Virar
Tripa ou Vara Pau.
PAU DE VIOLA: (Fandango Caiçara) Madeira Caxeta (Tabebuia cassinóides).
PAÚRA: Medo. Amedrontado.
PAVIOLA / PABIOLA: Assim se chama, quando duas pessoas, com dois Varejão,
estão a carregar carga.
PÉ DE ÁGUA: Aguaceiro; chuva forte.
PÉ DE MANPARRA: Confusão, assombro. Também diz-se Banzé.
PÉ DE MODA: (Fandango Caiçara) Mesmo que verso musical. Ver Cabeça de Moda.
PÉ DE PAU: Madeira; árvore.
PÉ DO FOGO: Ficar sentado ao redor do fogão de lenha.
PÉ DO OUVIDO: Estar muito próximo da pessoa.

- 106 -
PÉ FRIO: Diz-se do pescador azarado; Ainda Choco.
PÉ REDONDO: (mitologia37) Conta-se acerca de um exímio e desconhecido violeiro que
apareceu num Fandango Caiçara. Tocava viola e nenhum outro conseguia acompanhá-lo.
Alguém viu que seu pé era redondo e desconfiou que era o ‘coisa ruim’, então cantaram
versos e o ‘coisa’ explodiu, deixando a viola e um forte cheiro de enxofre.

“cada um como O fez”


(respondia quando perguntavam sobre seu pé ser redondo e nunca de formato normal: “cada um
como Deus o fez”, pois não podia dizer o nome sagrado, então apenas dizia O fez.

“meu senhor dono da casa, feche a porta e ascenda a luz, tamo co diabo em casa,
rezemos o credo em cruz”

PECHIRÓ: Mutirão; Ainda diz-se Pixiró, Putirão, Mixiró, Mitirão, dentre outras variações.
PEDRO BÓ: Diz-se da pessoa abobada, lerda. Também Jacu e Mongo.
PEDRO CEM: Diz-se da pessoa avarenta. Também Sumítico ou Vir. Aquele que em tudo
que possuía, queria ter cem vezes mais.
PEGA FOGO: (Fandango Caiçara) Moda batida, de difícil execução e cansativa.
PEGA PREÇO: Expressão que remete à valor em alguma atitude.
PEGAR CORDA: Expressão que remete à ódio de determinada pessoa. Ver Dar Corda.
PEGOAVA / MANINI: Marisco (Donax hanleyanus), utilizado na alimentação.
PEITO DE ROLA: Diz-se da pessoa magra com peito empolado (levantado).
PEITUDO: Pessoa Corajosa. Também Topetudo.
PEIXE DE FORA: Diz-se das espécies encontradas e capturadas no Mar de Fora.
PEIXE DE TERRA: Diz-se das espécies encontradas e capturadas no Mar de Dentro.
PEIXE DE VARAL: Diz-se do peixe, quando salgado e seco ao sol, estendido em varal.
PEIXE DEFUMADO: Diz-se do peixe, quando salgado e seco no Fumeiro, sobre as
brasas do Fogão de Lenha.
PEIXE MOÍDO: Diz-se quando a carne está estragada, podre.
PEIXE SECO COM BANANA: (culinária) Cozido ou Calderada de peixe seco
(Defumado ou de Varal), com banas verdolengas e temperos.

37
Assista ao episódio da Associação Mandicuera de Cultura Popular:
<https://drive.google.com/file/d/1PvVpBwlJUnzUalVRXpbSAzo_o-l6D--J/view?usp=sharing>.

- 107 -
PELAS TRÊS: (Fandango Caiçara) Modo de afinar (temperar) e tocar a Viola
Fandangueira. Vide também Intaivado.
PÊLO [via R.S]: Sinônimo de ficante, companheiro(a).
PELO MEIO: (Fandango Caiçara) Modo de afinar (temperar) e tocar a Viola
Fandangueira. Vide também Intaivado.
PELOTE: Munição, pedras ou bolinhas de barro, para Setra ou para Bodoque.
PELOTEAR: Mesmo que passarinhar, caçar aves, passarinhos; atirar Pelotes.
PENDENGA: Questão mal resolvida; dívida.
PENDENGANDO: Risco de cair, desabar.
PENSO: Inclinado.
PENÚRIA: Sentimento que exprime dó, caridade em lamentável situação de pobreza.
PERÊ / DOR DE PERÊ: Dor muscular; dor no baço.
PEREBA: Feridas sobre o corpo; sarna.
PEREVA [via R.S]: Pouca coisa, punhadinho, sobra.
PERFILHAR: Diz-se quando nascem vários brotos do mesmo caule.
PERNA DE SARACURA: Apelido dado a pessoas magras e com pernas compridas.
PERRENGUE: Apertado, situação difícil, economicamente.
PERVA: Diz-se de pessoa vulgar, meretriz ou sem escrúpulos.
PESCADA AMARELA: Cynoscion acoupa. Espécie de peixe de escama, podendo
pesar até 20 quilos; ocorre de setembro a dezembro. Também chamada de Cambucu.
PESCADA BICUDA: Cynoscions microlepidotus. Espécie de peixe de escamas; ocorre
no Mar de Fora. Assim chamada, pois é “roliça e tem o bico comprido”. Também chamada
de Galheteira.
PESCADA BRANCA: Cinoscyon leiarchus. Espécie de peixe de escama. Chamada
também de Perna de Moça.
PESCADA CAMBUCU: Cynoscion virescens. Espécie de peixe de escama, de porte
pequeno e carne como a Pescada Amarela.
PESCADA 7 BUCHO: Nebris microps. Espécie de peixe de escama. Diz-se da Pescada
Amarela, com 7 buchos; de carne branca. Também chamada de Pescada Banana ou
Olho de Chumbo.
PESCADA MALHERA: Isopisthus parvipinnis. Espécie de peixe de escama, de porte
pequeno e carne branca.

- 108 -
PESCADA MEMBECA: Macrodon ancylodon. Espécie de peixe de escama, podendo
pesar até 1 quilo.
PESCOÇANDO: Escugiando, vigiando.
PESCOÇO: Diz-se da pessoa chata, insuportável.
PESTEADO: Diz-se do cão doente ou da pessoa muito enferma.
PETELECO / PITELEQUE: Refere-se a dedada na orelha, semelhante ao Cascudo ou
Croque e ao beliscão.
PETITICO: Pequenino.
PICADA: Trilha, caminho aberto no mato.
PIÇARRA: Solo argiloso. Decomposição de solo, misturando-se com cascalho e areia.
PICARÉ: (pesca) Rede atada a duas varas que se arrasta na arrebentação das ondas na
praia por duas pessoas. Ver Cambau.
PICHORRA / PIXORROTE [via R.S]: Qualquer coisa misturada na caneca, com farinha,
para tomar café.
PICONGÓ [via R.S]: Refere-se a passarinho judiado. Também Mirrado ou Minguado.
PICO-PICO: Bidens pilosa. Planta utilizada na Medicina Caseira, sendo indicada contra
males nos Rins e no fígado.
PICOMÁ / PICUMÃ / PICOÃ: Fuligem da queima de madeira, que pende no teto da
cozinha com fogo de chão. Utilizado na Medicina Rústica para tratamento de resfriados
(chá) e ainda para parar sangramento.
PICOR: Coceira, alergia.
PICUÍ [via R.S]: Sobra do peixe servido no almoço, misturado na farinha para comer mais
tarde.
PICUINHA: Intriga; provocação.
PIDÃO / PIDONHO: Pedinte.
PIFE [via R.S]: Diz-se da pessoa desanimada, sem ânimo.
PIGARRA / PIGARRO: Estar engasgado; com tosse forte.
PIJUCO [via R.S]: Quando a madeira ou outro material está apodrecendo.
PILA: Refere-se à pessoa mentirosa; Também designa dinheiro, grana.
PILÃO: Instrumento onde se Pila ou soca o café e o milho.
PILAR: Socar no Pilão.

- 109 -
PILHANDO: Atocicando; “colocando lenha em confusão alheia”. Também pegar, ajuntar
objetos.
PILHAR FRIAGE: Ficar desprotegido em dias chuvosos e frios.
PIMENTEIRA: Mollinedia schottiana. Madeira utilizada na confecção de Remo.
PINCHAR / APINCHAR: Jogar, lançar para fora, para longe.

Fandango Caiçara
Modista: Zé Muniz

PINDAÍBA: Diz-se ao se encontrar em difícil situação financeira; Sem eira nem beira.
PINGUELA [via R.S]: Tronco de árvore disposto sobre um rio, para atravessá-lo (ponte).
PINICAR: Coçar, beliscar. Ver Picor.
PINOTE: Correria; apressado. Ver Fura.
PIQUE DE RAMA [via R.S]: Pedaços da Rama de Mandioca, para plantar.
PIRAMBIJÚ / PARAMBIJÚ: Rachycentron canadum. Espécie de peixe de escama.
PIRÂMIDE: Brincadeira de crianças, quando no mar; trata-se do formar uma base, com
algumas delas de braços dados e acima destes, subir outras menores, aumentando o
assim tamanho da “pirâmide”.
PIRANGUEIRO: Diz-se do comedor de Pirão.
PIRÃO DE JACUVA: (culinária) Mistura da Farinha de Mandioca com água fria.
PIRÃO DO MESMO: (culinária) Mistura da Farinha de Mandioca com caldo do Bagre
Amarelo cozido.
PIRÃO ESCALDADO: (culinária) Mistura da Farinha de Mandioca com água fervente.
PIRI: Rhynchospora cephalotes. Espécie de fibra, como a Taboa e o Junco, utilizados na
confecção de esteiras, chapéus e cestos; usa-se esta planta para medir a perna de
criança quando está Cambaio, acreditando assim corrigir.
PIRUÁ: Diz-se do milho torrado, que não estourou, ou seja, não virou pipoca.

- 110 -
PITÁ: Fumar no cachimbo de barro.
PITACO: Dar palpites.
PITIU [via R.S]: Mau cheiro vindo da lida do peixe. Também Asco, Réla ou Jaó.
PITO: Levar bronca; também Ralho ou Carão. Designa ainda cachimbo para Pitá.
PITOCO [pesq.A.D]: Pessoa que se apresenta em trajes menor; nua ou pelada.
PIUMA [via R.S]: Crosta de gordura e fuligem grudada no fundo da panela.
PIXACA: Farofa.
PIXACO: Cabelo encaracolado. Também Grenho. Ainda Pixaim.
PIXÉ: Farinha de milho, torrada, como mistura para comer no café; Também qualquer
tipo de comida misturada.
PIXÉCA: Comida misturada.
PODÃO: Ferramenta utilizada para cortar ou desbastar o mato alto.
POITA: (embarcação) Âncora, peso que serve para fundear a embarcação. Mesmo que
Arinque ou simplesmente ‘Ferro’. Diz-se ainda remeter ao pescador preguiçoso, que nada
quer fazer na embarcação além de soltar a rede.

“contrapeso, peso, âncora que se joga no mar para segurar o barco, a canoa, na correnteza. Feita
geralmente com pedras amarradas, usada em embarcação de médio porte”.
(Aorélio Domingues – Paranaguá/PR).

POITEAR: (embarcação) Mesmo que Fundear, ou seja, soltar a Poita, as Âncoras da


embarcação, fazendo com fique num mesmo lugar.
PONTEADO: (Fandango Caiçara) Acompanhamento melódico feito com a Viola
Fandangueira ou o Machetinho.
PONTO: (Fandango Caiçara) Casas, no braço da Viola Fandangueira, onde dá a
afinação (Intaivado, Pelo Meio ou Pelas Três).
POPA: (embarcação) Parte traseira da embarcação.
POR BOM JESUS DIGUAPE / DA CANA VERDE / DIGUANHA / DE IGUAPE:
Expressão que remete a estar dizendo a verdade; admiração, surpresa com algo.

“senhor bom jesus, deus de compaixão


aceitai benigno, esta nossa devoção”
(trecho do Hino ao Bom Jesus)

- 111 -
Para saber Mais:
http://informativo-nossopixirum.blogspot.com/2011/07/bom-jesus-dos-perdoes-de-guaraquecaba.html

POR CIMA: Diz-se quando a embarcação está carregada ao máximo em sua carga.
POR FORA: Navegando pelo mar de fora, em águas oceânicas. Também remete
desconhecer algum assunto.
POR MINHA MÃE MORTINHA: Expressão que remete a pessoa estar falando a
verdade. (quando pronuncia esta expressão, a pessoa une os dedos indicadores, em
formato de cruz, em frente a sua boca e os beija).
POR REPARO: Expressão que designa a intromissão ou “se meter” a observar e opinar
sobre os bens ou mesmo a vida dos outros; curioso. Também Reparadeira ou Incherida.
POR TERRA: Navegar próximo a costa.
PORFIA / PROFIA / APROFIÁ: (Fandango Caiçara) Disputa de versos entre violeiros
ou cantadores.
PORQUERA / PORQUEIRA: Diz-se da pessoa sem valores.
PORRUDO / PORRUDO: Espécie de marisco (Indeterminado) que ocorre na lama.
PORTA: Refere-se ao terreiro ou terreno, propriedade do dono daquela casa.

“conheço cachorro que caga na minha porta”.


(expressão que indica conhecimento do perfil acerca das pessoas que o cercam)

PORTA / PRANCHA: (pesca) Consiste em dois pranchões, pesados, amarrados na


extremidade, um a cada lado, da rede de Arrasto, responsáveis por afundar a rede ao
máximo.
- 112 -
Porta

PORTO: (Fandango Caiçara) Lugar que cada Dama ocupa na roda da dança. Na pesca
é o espaço entre a casa do pescador e o mar, onde se localiza o Rancho.
PORVINHA / PÓRVA / PÓLVORA: Inseto, mosquitinho de mangue.
POSTA: Mesmo que pedaço.
POUSIO: Descanso do terreno, por um período de tempo, entre uma plantação e outra.
POVIDÉU: Muitas pessoas. Também Gentarada ou Montuera.
PRA MAIS DE METRO: Diz-se quando de enorme quantidade de algum produto.
PRAGA DO PADRE: (Fandango Caiçara) Expressão que designa o baile estar
animado. Deriva de lenda38 em Guaraqueçaba de uma suposta maldição em um carnaval.

38
Para saber mais: <http://informativo-nossopixirum.blogspot.com/2010/10/lendas-guaraquecabanas-parte-1-maldicao.html>.

- 113 -
PRAGUAÍ: (frutos do mar) Gastrópode (Thais mariae) utilizado na alimentação.
PRAGUEJADO / ESPRAGUEJADO: Amaldiçoar.
PRAINHA DA LAMA: Diz-se do espaço, à beirinha do mangue.
PRATURÁ: Lama do Mangue; Gramínea em área lodosa.
PRECINTO: Marca da sujeira da maré que fica na praia, após encher. Ver Nhundu.
PREGÁ O OLHO: Dormir.
PREGALHE / PREGUEI-LHE: Receber punição, no sentido de merecido.
PREJEREVA: Labotes surinamensis. Espécie de peixe de escama.
PRETEJAR: Escurecer. Diz-se das nuvens escuras, prenunciando tempestade.
PRETUME: Nuvens escuras ou nuvens carregadas no céu, indicando que vai chover.
PROA: (embarcação) Parte dianteira da embarcação.
PROCISSÃO DOS MORTOS: (mitologia) Diz-se da noite do Dia de Finados (02 de
novembro), quando os falecidos saem a rondar os caminhos e trilhas.

Poeiro (a); Caloeiro (b); Chumbeiro (c) e Popeiro (d)

PROCURÁ: Relação sexual. Também Expirucar, Funicá ou Má-Criação.


PUÁ / APÚ: Sinal sonoro. Gritar com as mãos em concha, defronte a boca, chamando
alguém.
PUNHADO: Unidade de medida; trata-se de uma mãozada ou encher a mão com algo.
PUÇÁ: (pesca) Apetrecho de pesca; espécie de rede, armadilha para pegar sirí.
PUÉTA [pesq.A.D]: Pessoa ladina, dilizente, peralta, brincalhona, divertida.
PUJUVA / PUXUVA [via R.S]: (Fandango Caiçara) Mesmo que Sapo.

- 114 -
“mutirão de ½ dia pra tarde. Acho que vou fazer uma Pujuva. Junta as pessoas pra trabalhar de
meio dia pra tarde, pra carpir, cavando, roçando, alguma coisa assim”.
(Ciro Xavier – Iguape/SP, 2020).

PUNILHA: Espécie de cupim branco – broca - que corrói móveis e papéis, também ataca
madeira de instrumentos artesanais.
PURUNGO: Fruto da cabaceira, em que seus frutos servem para fazer Cuia. Também
chamado de Cabaça. Servia ainda como unidade de medida para venda de peixes.
PUSSUVEIRO [via R.S]: Posse; individualista.
PUXADO: Aumentar peças da moradia.
PUXAR: Ato de transportar grandes quantidades ou com muito peso, podendo ser a
Canoa para o Rancho, lenha do mato para a casa ou ainda aterro para o terreno.
PUXAR: Designa também arrumar confusão (puxar briga) ou mesmo iniciar um cochilo
(puxar um sono ou puxar um ronco).
PUXAR CORDÃO: No Entrudo, trata-se de uma brincadeira onde homens e mulheres,
de mãos dadas, saem pela vizinhança, entrando nas casas, cantarolando marchinhas e a
cada casa visitada, aumenta-se o “cordão” de brincantes com as pessoas daquelas casas
por onde passaram.

- PEGAR AR NO FUNDO DA CANOA –


(brincadeira de criança)

quando a tomarem banho de mar, suspendem a Canoa Caiçara e viram-na, de boca para
baixo, fazendo-a ficar com ar por dentro e mergulham, utilizando-se do ar que ficou preso
no bojo da canoa virada para cantarem, gritarem ou conversarem e os que não
mergulharam devem adivinhar o que falam submerso.

- 115 -
-Q-
QUARESMEIRA: Tibouchina mutabilis. Árvore também chamada de Jacatirão.
QUATI GANGUELO: Serelepe.
QUATI NAS COSTAS: Expressão que indica preguiça.
QUE NEM: Expressão que remete a ser igual, semelhante.
QUEBRA PEDRA: Phyllanthus sp. Planta utilizada na Medicina Caseira para os males
da Bexiga e dos Rins.
QUEBRANÇA: Beira da praia, onde quebram as ondas do mar.
QUEBRANTO: Mau olhado. Amarelão.

Diz-se da criança recém-nascida, devendo ser batizada dentro de sete dias. Nesse
período aquele que ainda não viu o nenêm não poderá fazê-lo no 7º Dia, pois a criança
deverá, vestida de amarelo, ficar trancada, apenas dentro do quarto da casa. Alguns
ainda colocam uma tesoura aberta em formato de cruz debaixo do travesseiro, desta
forma evitam o ‘amarelão’, espantam a ‘bruxa’, evitam o ‘quebranto’.

(Fandango Caiçara)

QUEBRAR: (mar) Maré seca.


QUEDELE / QUEDELHE / QUIDELHE [via R.S]: Cadê. Procurar algo.
QUEIJO [via R.S]: Instrumento de madeira que fica sobre o Tipiti, utilizado na Casa do
Tráfico, Mesmo que Capacete ou Chapéu.
QUEIMADA: (cachaça) Garrafada; Mistura de cachaça com açúcar, pó de Nóz Moscada
(Myristica fragrans) e raspas de semente de Pixilim ou Pichurim (Licaria puchury-major).

- 116 -
QUEIXAR: Reclamar. Também enfermidade, dores na região do queixo ou dentes.
QUEIXO DE RABECA: Diz-se da pessoa com o queixo pontudo.
QUEIXO DE RAVENGAR: Remete a tamanho descomunal de queixo.
QUERUMANA: (Fandango Caiçara) Moda batida.

“querumana andou dizendo “querumana de meu deus


DE SAUDADE NINGUÉM MORRE Bateu uma pedra na outra
DE SAUDADE NINGUÉM MORRE Bateu uma pedra na outra
como então eu vou morrendo”. o meu coração com o teu”.

(recolhido com Dina Alves Costa – In Memoriam, em Guaraqueçaba no ano de 1999).

QUIÇASSA: Gandaia.
QUIBEBE: (culinária) Abóbora cozida.
QUINHÃO: (pesca) Na repartição dos peixes, trata-se da parte a cada qual, entre os
pescadores e os donos dos petrechos de pesca (canoa, rede, remos). Também Terço.
QUIRA: (cachaça) Produzida a partir da fermentação da garapa (caldo de cana)
juntamente com partes do bagaço.
QUIRERA: (culinária) Cozido a base de milho e carne; Também comida para a Criação.
QUIZILA [via R.S]: Raiva; inimizade. Ver Pegar Corda ou Virar a Cara.

“QUEM CuCHICHA O RABO ESPICHA,


QUEM SE IMPORTA O RABO INTORTA”.
(parlenda)

- 117 -
-R–

Rabeca (detalhe das peças)

RABEAR: (embarcação) Mudar a canoa de direção; rodear.


RABECA: (Fandango Caiçara) Instrumento artesanal, semelhante ao violino; usual com
três ou quatro cordas às quais se passa o arco e extrai a sonoridade.

“o nome era Rebeca, mas como é nome bíblico, mudaro”


(Faustino Mendonça - In Memoriam – Vila Fátima – Guaraqueçaba/PR, 2010).

RABEQUEIRO / RABEQUISTA: Diz-se de quem faz e ou toca a Rabeca.


RABISSECO: Diz-se da pessoa muito magra e com a bunda ‘seca’.
RABO DE GALO: Formação de nuvens escuras que se arrastam pelo alto do céu,
indicam chuva.
RABUJA [pesq.A.D]: Algo sujo e fedido. Diz-se da pessoa antipática, raivoza, de mau
humor. Ainda Ranhenta.

- 118 -
RAIA TICONHA: Rhinoptera jussieu. Espécie de peixe. Também Raia Gereva e Raia
Mantega.

“a carne de Raia não é aconselhado dar para mulher grávida comer”.

RALHO / RALHAR: Chamar atenção. Também Pito ou Carão.


RAMA: Mandioca. Também Pique de Rama.
RANCHO: Casa onde se guardam os apetrechos de pesca. Também chamado de
Tapera.
RAPAPÉ [via R.S]: Bronca enfezada. Também Carraspana.
RAPOSA: Assim chamado o Gambá (Didelphis). Remete à alguém com mau cheiro.
Também Catinga.

“liso que nem uma raposa”


(expressão que remete à agilidade animal ao atacar suas presas e fugir; diz-se ainda da agilidade
humana em sair rápido e ileso de determinadas situações constrangedoras ou violentas).

RASGA MORTALHA: (mitologia) Espécie de coruja – Sundara (Tyto furcata), cujo


canto se assemelha a um pano rasgando; dizem prenunciar morte na vizinhança.
RASGADURA [pesq.A.D]: Machucado; magoado por dentro. Distensão muscular.
RASGÃO: Diz-se dos rasgos na malha do Pano de Rede.
RASPA DO TACHO: Diz-se do filho caçula; o último filho.
REBARBA: Resto.
REBENTAÇÃO: Onde as ondas do mar quebram.
REBOJO: Mau tempo; forte vento Sul e chuva, impedem a pescaria.

“tempestade de vento sul com chuva fina”.


(Ciro Xavier – Peruíbe/SP, 2020).

RECARMO: Calmaria do tempo (chuva e vento).


RECOLHIMENTO: Recolhido, em caso de agravado com alguma moléstia. Também
Resguardo.
RECORTADO: (Fandango Caiçara) Moda batida em que os pares se ‘recortam’,
mudam um ao outro na coreografia da dança.

- 119 -
REDE DE CABO: (pesca) Consiste em duas canoas, cada qual com uma ponta do cabo
da rede, a cercar o cardume.
REFEGA / REFREGA: Vento com certa velocidade ou mesmo chuva forte e repentina.
Rajada.
REFESTELAR: Se aproveitar, curtir a ocasião.
REGALO: Diversão, prazer.

REINAR: Persistir, insistir.


REINAR A VIOLA [via R.S]: (Fandango Caiçara) Tocar a Viola.
REINTRANÇA [via R.S]: Parte descontínua de um rio; embocadura.
REIVA: Raiva; ódio.
RÉLA [via R.S]: Mau cheiro; Também Pitiu.
RELAR / RALAR: (culinária) Ralar a Mandioca; Mesmo que Cevá. Também indica ato
de tocar, encostar em alguém.
RELÉS / RELEZA: Pessoa malvada.
REMÉDIO DO MATO: Medicina Caseira ou Medicina Rústica com base nos
conhecimentos das plantas medicinais; mesmo que Sabença.
REMO DE PÁ: (embarcação) Tipo de remo para canoa de um tronco só ou Canoa
Caiçara.
REMO DE VOGA: (embarcação) Tipo de remo, duplo, para bateiras. Se utiliza sentado.
REMOCADA: Dar palpites contrários ao assunto ou à vida de alguém.
RENCA: Coletivo. Várias folhas utilizadas para a cobertura do Rancho ou Sapê,
geralmente da palmeira Guaricana. Designa ainda o coletivo de pessoas, grupo.

- 120 -
Renca de folhas de Guaricana

RENDA / RENDINHA / PÉ DE BURRO: (culinária) Goma extraída da massa da


Mandioca após ralada, prensada, assada e acrescida apenas de sal.
RENGO: Com andar torto. Também Sanananga.
REPICULHENTO [via R.S]: Mar bravio.
REPONTEANDO [via R.S]: (embarcação) Determinando a rota; destino.
RESGUARDO: Período de Recolhimento após o parto ou alguma doença.
RESINGA: Encrenca.
RESSABIADO: Desconfiado.
RÉSTIA [via R.S]: Pequeno feixe de luz.
RETALHADO / ALANHADO: Quando o peixe, após Lidado, recebe cortes horizontais,
para então a Salga ou outros temperos.
RETINIR / TINIR: (Fandango Caiçara) Equivalente ao eco, remetendo a sonoridade.
Ainda Bufo ou Zoada.
RETIRADA: (Fandango Caiçara) Moda valseada, dançada aos pares, já rompendo o dia.

“VAMOS DAR A DESPEDIDA / NA FONTE DA RETIRADA


QUE PARA DOIS CANTADOR / DESPEDIDA NÃO É NADA”
(Fandango Caiçara)

RETRANCA: (embarcação) Parte da vela que “solta o vento”, ao velejar.


REVERTÉRIO: Diz-se de passar mal após comer demais.

- 121 -
REVESSA: Mar quando vira (enchente ou vazante), faz corrente em sentido contrário.
REVESTRÉS / REVÉZ / REVESGUELHO: Olhar de Través, desconfiado. Medir de
Revesguelho, olhar torto. Também Fianco.
REZA BRAVA: Algo muito difícil de acontecer naturalmente.
REZINGA: Confusão; briga.
RINCHAR: Barulho, ruído da madeira.
RIJO: Fruta muito dura para comer, difícil de engolir; Também remete à pessoa má.
RIO ABAIXO [via R.S]: Indica direção; para baixo [do rio].
RIO ACIMA [via R.S]: Indica direção; para cima [do rio].
RIO BRANQUE [via R.S]: Em Paranaguá/PR, assim referem-se ao time da cidade os
torcedores do Rio Branco Esporte Club.
RISCO: Diz-se da velocidade; corrida. Também Rasgão.
RIVIDO [pesq.A.D]: Chaleira, leiteira ou bule que tem marca ou líquido grosso escorrido.
ROBA DAMA: (Fandango Caiçara) com chapéu
ROBALÃO: Espécie de peixe de escama. Centropomus undecimalis. Pesando de 5 a 18
quilos, ocorre nos meses de novembro a fevereiro.
ROBALINHO BRANCO: Espécie de peixe de escamas; é mais branco e bicudinho.
ROBALO FLECHA: Centropomus undecimalis. Espécie de peixe, filhote do Robalão.
ROBALO PEVA: Centropomus paralellus. Espécie de peixe de escama. Pesando até 5
quilos, “tem a cara mais arredondada, mais preta e é mais encorpado, mais grosso”.
ROLO: (embarcação) Instrumento cilíndrico, confeccionado em madeira, que serve para
varar, ou rolar, as embarcações na praia, da Quebrança ou Rebentação para o Combro.
Remete ainda a história, desavença, confusão.
ROMARIA DO DIVINO ESPÍRITO SANTO 39: Manifestação40 cultural religiosa que
consiste em levar a Bandeira Vermelha que representa o Divino Espírito Santo (a Branca
representa a Santíssima Trindade) às comunidades e moradias e em cada uma delas, a
equipe de Foliões do Divino, também chamados de Tripulação, realizam cantos
específicos – Chegada, Despedida, Encerro, Beijamento.

39
Para acessar o livro “Uma Romaria do Divino Espírito Santo”:
<https://drive.google.com/file/d/16eRHiwxHj9scVq3aA6h0UcGL93r-mEAA/view?usp=sharing>.
40
Assista ao trailer do documentário “Divino, folia, festa, tradição e fé no litoral do Paraná”:
<https://www.youtube.com/watch?v=0S0-G0nCJ34&t=36s>.

- 122 -
Para saber mais:
<http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/84/

Romaria do Divino Espírito Santo – Mestre André Pires, de Cananéia/SP


(Comunidade de Barra de Ararapira – Guaraqueçaba/PR, em 2004)

ROMPER O VENTO: Atravessar o mar com vento contra.


RONCOLHO [via R.S]: Que só tem o indez; Àquele que não tem filhos. Ainda Ovo Seco.
RONCOU / RONCANDO: Diz-se ao barulho dos relâmpagos e trovoada.
ROÇANDO: Desbastar; Diz-se ainda do ato de ficar se alisando em outrem.
ROSÁRIO DE MARIA: (cantoria popular) Orações cantadas41 na região de Ubatuba/SP,
em determinadas ocasiões, como durante a Folia do Divino Espírito Santo 42. Ver também
Bendito e Martírio de Cristo.
ROSETA: Soliva pterosperma. Planta com ramificação espinhuda, praieira e rasteira.
ROXO FORTE: (garrafada) Café quente e amargo, misturado com cachaça. Utilizado
para cura de resfriado.
RUERO: Diz-se da pessoa que gosta de andar a toa, pela vizinhança, pela Costera.
RUFAR / RUFO / RUFADO: (Fandango Caiçara) Batido do tamanco.
RUMOR: Barulho, falatório, discussão.

41
Ouça na voz da Folia do Divino de Ubatuba/SP: <https://drive.google.com/file/d/1H1Cf66abU-
J9nbiW21LnmE7WomGLPEYK/view?usp=sharing>.
42
Ouça na voz da Folia do Divino de Ubatuba/SP (2020): <https://fb.watch/4Ln7r3G28r/>.

- 123 -
-S-
SABEI-ME LÁ / SABELÁ / SAMELÁ: Expressão que indica desconhecer, não saber
acerca de alguma informação.
SABENÇA: Diz-se da sabedoria do Caiçara, explícita na relação com o mar e o mato.

“exprime a sabedoria do povo nos mais variados campos do conhecimento, seja sobre o tempo, a
cura das doenças, o cultivo da terra, sobre o mar, pesca, vida familiar e outras coisas. Trata-se de
conhecimento adquirido através dos tempos e passado de geração em geração”.
(BIGARELLA, 199143).

SABIÁ LARANJEIRA: Pássaro (Turdus rufiventris) de peito alaranjado. Seu cantar, no


mato, durante o verão, prenuncia [onomatopéia] a chegada do Natal e o nascimento de
Jesus (“Manoel já vem”).

“[nome da pessoa]
Manoel já vem”

SABO [via R.S]: Sábado.


SACI: (mitologia) Dizem se tratar de uma pássaro, preto, com cruzes debaixo das azas,
tendo relação direta com o Saci. Também Fim-Fim, Sem Fim e Fite.

43
BIGARELLA, J.J. Matinho: homem e terra Reminiscências... Prefeitura Municipal e Matinhos. Associação de Defesa e
Educação Ambiental - ADEA. l.ed. 1991.

- 124 -
SACO: Território marinho ou uma pequena enseada que desemboca em uma baía. Na
Baía de Paranaguá existe o Saco do Tambarutaca (São Miguel), na Baía dos Pinheiros o
Saco do Morro (Colônia do Superagui) e também o Saco da Rita.
SACUDIDO: Trabalhador habilidoso em seu saber-fazer. Ainda Pau pra toda obra.
SAFANÃO: Porrada; soco forte.
SAFO: Acertado; assunto resolvido; fim da questão.
SAGUÁ: Genyatremus lutheus. Espécie de peixe de escamas.
SAGUAÇAJÁ: Indeterminado. Planta Medicinal, utilizada para curar resfriado forte.
SAÍDO / SAÍDA: Diz-se da pessoa assanhada.
SAINÔ: Prisão de ventre; Também Peido, Ventuzil, Enturração.
SALGA: A salga de grandes quantidades de peixes, em Mutirão. Ainda Pechiró.
SALGAR O FOGO: Jogar lenha para avivar o fogo.
SALMOURA: Quando o peixe, após Lidado vai para Salga, envolto no líquido escorrido
acrescido do sal umedecido.
SALTEIRA: Oligoplites saliens. Espécie de peixe de couro. Também Salteira Guajuvira.
SAMBANDIJADO [via R.S]: Desgraçado; sem juízo.
SAMBURÁ: (pesca) Pequeno cesto de cipó deixado no mar para manter o camarão vivo.
SAMININA / SIMININO [via R.S]: Essa menina. Esse menino.

“antigamente, né, que os mais velhos, quando eles tavam conversando, né, um com o outro, né, e
que tinha algo de errado, eles falavam assim: coá, coá não, né samenina”.
(Cida Eustáquio - Ubatuba/SP).

SANANANGA: Fraqueza; estar com as pernas trêmulas, sem firmeza.

“que não tá bem seguro, está em falso, balangando, mancando”.


(Joaquim Pires – Cananéia/SP [via R.S], 2020).

“santa luzia,
PASSAI POR AQUI, COM SEU CAVALINHO, COMENDO CAPIM,
SANGUE DE CRISTO,
pinga nos meus olhos e livra todo mal de mim. amém”
(rezando, repete movimentos de levantar e abaixar os cílios, para aliviar dores na vista).

- 125 -
SANTA MARIA: Chenopodium ambrosioi. Planta utilizada na Medicina Caseira, indicada
para problemas decorrentes de vermes ou no estômago.
SANTA ROSA: A primeira Santa nativa da América é celebrada no calendário litúrgico
católico no dia 30 de agosto; acredita-se que não seja um bom dia para realizar pescaria,
pois estará propício à ventos e maresia forte.
SÃO GONÇALO: Padroeiro dos violeiros festejado em 10 de janeiro, é um santo
popular cuja devoção remete à tradição portuguesa, devendo ao fato deste tocar viola
como forma de conversão à prostitutas, usando, nestas noites, pregos dentro de seu
sapato como forma de penitência. Além do culto no Catolicismo Romano, o popular o
apresenta com uma viola nos braços, havendo a Moda de São Gonçalo, apenas valsada
e integrante do Fandango Caiçara e a Dança de São Gonçalo, unicamente como ‘paga de
promessa’. Também é invocado contra enchentes e ainda, casamenteiro das velhas.

“são gonçalo me ajudE / enquanto eu estiver cantando


ajude meus camaradas / e o povo que tá dançando”
(Fandango Caiçara)

SÃO JOÃO: Santo popular cujo dia festivo se celebra em 24 de junho.

A Fogueira de São João44 consiste na celebração a este Santo popular em que, em seu auge as
brasas de uma grande fogueira em sua homenagem são espalhadas pelo chão e os devotos,
descalços, atravessam sobre este tapete ardente. Crêem, no Dia de São João o fogo não
queima45.

44
Há registros no Blog Nosso Pixirum: <http://informativo-nossopixirum.blogspot.com/2011/06/fogueira-de-sao-joao-na-
comunidade-de.html> e <http://informativo-nossopixirum.blogspot.com/2017/06/utinga-fogueira-de-sao-joao-2017.html>.
45
Para acessar o capítulo de livro “No dia de São João o fogo não queima”:
<https://drive.google.com/file/d/1CpOuhdwRR8fgU3rFJuq1QzFzGA_FbiuH/view?usp=sharing>.

- 126 -
SÃO PEDRO: Padroeiro dos pescadores, cujo dia festivo se celebra em 29 de junho,
quando realizam procissões marítimas carregando andor com a imagem do Santo.
SAPECAR: Tostar; queimar a penugem de qualquer caça abatida.
SAPEQUEI-LHE: Dar; bater, no sentido de abater o outro.
SAPINHAUÁ / SAPIOÁ: Tivela mactroides. Marisco Bivalve utilizado na alimentação.
Ver Pegoava, Manini e Berbigão.

“ENCONTREI COM O SAPO / NA BEIRA DO RIO


DE CAMISA FORA / TREMENDO DE FRIO”
“cuâ, cuâ”
“ENCONTREI COM O SAPO / NA BEIRA DO MAR
DE CAMISA FORA / QUERENDO CHORAR”
(Fandango Caiçara)
SAPO: (Fandango Caiçara) Moda valsada46; quando os violeiros imitam o coachar, os
Cavalheiros, flexionam as pernas e fingem cair no salão. Também Meio-Toco, quando se
reunem em Mutirão, mas apenas em uma parte do dia, geralmente após o almoço.
SAPOREMA: Mazela, doença que atinge a raíz da Mandioca; podridão.
SAPREMA: Alavanca.
SAPRESA [via R.S]: Deixar o peixe salgado de um dia para o outro.
SAQUARITÁ: (frutos do mar) Stramonita brasiliensis. Espécie de caramujo marinho.
SARACURA: Aramides saracura. Ave marinha. Ainda moda valseada no Fandango
Caiçara, onde os violeiros dão batidas com os dedos no tampo da Viola (toc-toc) e os
pares mudam a direção da dança no salão.

“saracura tá cantando / no meio do praturá


quando sarAcurA canta / adivinha temporá
saracura tá cantando / no meio do baixio
quando sarAcura canta / adivinha muito frio”
(Fandango Caiçara).

46
Ouça no álbum “Cananéia: Fandango em Romaria”:
<https://drive.google.com/file/d/1tzLtLbyF0uWZkwJhL0Pf2zleKQ7szFue/view?usp=sharing>.

- 127 -
SARAMILHADO: Vestimentas, geralmente calça, com predominância xadrex ou
multicolorida.
SARANHÃO [via R.S]: Assanhado.
SARAPUÃ: Espécie de instrumento, como um gancho, feito de madeira, com objetivo de
retirar a casca do Jacatirão, sem derrubar a árvore.
SARARÁ: Diz-se da pessoa com a cor da pele morena; mulato. Também Pardavasco.
SARA-SARÁ: Camponotus spp. Espécie de formiga.
SARDINHA PARATI: Sardinella brasiliensis. Espécie de peixe, com muitos espinhos,
mas de boa aceitação no mercado.
SARDINHA XINGÓ: Cetengraulis edentulus. Espécie de peixe com escamas e muitos
espinhos.
SARGO: Archosargus probatocephalus. Espécie de peixe de escamas.
SARNAMBI / SANAMBI: (fruto do mar) Espécie de marisco, encontrado na lama.
Também chamado de Unha de Velha. Cozinha-se e consome refogado ou acrescido de
farinha (farofa).
SARRABALHO: (Fandango Caiçara) Também Graciosa.
SARRO: Rir. Também Sirrir ou Se Abrindo.
SARRO DE PITO: Quando o marisco Bivalve, geralmente o Berbigão (Anomalocardia
brasiliana) apresenta gosto peculiar devido a concentração de areia/lodo, uma vez que
vive enterrado na lama do mangue ou na areia da praia. Ver Pegoava, Manini, Sapinhauá.
SARSERO / SALSEIRO: Confusão. Também vento que vem do mar; Mar ruim,
ventania.
SAVELHA: Brevoortia pectinata. Espécie de peixe.
SE ABRINDO: Rindo muito. Também Sirrir ou Tirar Sarro.
SE ALONGAR NO MATO [via R.S]: Sumir, desaparecer.
SE RACHANDO / ME RACHANDO: Remete a risos, gargalhadas.
SEM CAPRICHO: Diz-se da pessoa desavergonhada; Aquele que prejudica os outros.
SEMELHO: Remete ao tamanho; Grande. Também Solapa, Ximirde, Lemarde, Baita.
SENTOU A LENHA: Andou muito rápido; Quando se referindo a motor, acelerar ao
máximo. Também refere-se a bater com força.
SENTOU-LHE: Deu, golpeou, no sentido de esbofetear, na briga.
SERENGA [via R.S]: Faca velha, sem fio de corte. Também Cego.

- 128 -
SERPELA: Grande, descomunal. Ver Semelho.
SERRACIMANO: Referente ao morador da capital, ou seja, serra acima, longe do litoral.
Também De Fora.
SEVÁ: Ralar a Mandioca.
SEXTA-FEIRA-DAS-DORES: Calendário cristão, durante a Quaresma; na sexta-feira
anterior à Semana Santa, lembram as dores da Mãe de Jesus ao ver O Filho crucificado.
SEXTA-FEIRA-GRANDE / DA PAIXÃO: Calendário religioso, durante a Quaresma, se
refere a Sexta-Feira-Santa, quando guardam o silêncio. Dia em que não se pesca, nem se
caça.
SINSARÁ: (Fandango Caiçara) Moda batida. Remete a ave marinha (Indeterminado).
SINSARÁ CALOADO: (Fandango Caiçara) Moda batida, porém, intercala com
coreografia valseada, sendo, nesta, Cavalheiros e Damas com as mãos dadas.
SIRI METIDO A BESTA: (culinária) Siri cozido juntamente com o arroz, acrescidos de
temperos como alvafaca, dentre outros.

SIRI NA LATA: Expressão que remete à pessoa muita brava, nervosa.


SIRILHANDO: Andando como o siri, de um lado a outro, vagando, a toa. Também
Devarde.
SIRIÚVA: Avicena schaueriana. Espécie de Mangue.
SIRRIR: Risos. Também Se Abrindo.
SÓ A CASCA [via R.S]: Diz-se da pessoa muito magra. Também Pau de Virar Tripas.
SÓ BOBEANDO / DE BOBEIRA: A toa, sem fazer nada; desatento.
SÓ DE BUTUCA: Ficar de ‘olhos abertos’, atento em determinada situação; vigiando.
SÓ DE POUCO / SÓ DE QUILO: Expressão que significa em grande quantidade.

- 129 -
SOBRESSAME: Peça de madeira que é colocada abaixo da quilha da embarcação.
SÓCA: Lugar; ruína de antiga moradia. Ver Tapera.
SOCADOR: Mão de Pilão; para socar o café no pilão.
SOCÓ: Família Ciconiidae. Ave marinha.
SOCÓ-BOI: Tigrisoma lineatum. Ave marinha.
SOLAPA: Remete ao tamanho grande, descomunal. Ver Semelho.
SOQUETE [pesq.A.D]: Objeto de madeira, geralmente Caxeta, utilizada para moer grãos
de feijão, também fazer Caipirinha.
SORÉ [via R.S]: Bagunça.
SOROROCA / CAVALA: Scomberomus cavalla. Espécie de peixe, com couro. Ocorre
duas vezes ao no; nos meses de junho e julho, no Mar de Fora e em dezembro e janeiro,
ocorre em “corrida por terra”.

“REBENTA PIPOCA, MARIA SOROROCA”


(parlenda musical)

SÓVA: Surra. Também Cornaço ou Cóça.


SUCUÍ / SURUÍ [via R.S]: Quando o peixe assado está com a carne macia demais,
Moída, ou seja, estragada.

“peixe seco, salgado, que apodrece sem exalar odor, mas que proporciona paladar ruim”.
Aorélio Domingues – Paranaguá/PR.

SUERA [pesq.A.D]: Tempo ruim, com chuva fina o dia todo.


SUMBARÊ: Planta rasteira (Cyrtopodium polyphyllum) cuja seiva era utilizada como cola
para os instrumentos do Fandango Caiçara.
SUNDARA: Tyto furcata. Espécie de ave (coruja), tido como agourenta, pois seu canto
prenuncia a morte, por isso chamada de Rasga-Mortalha.
SUNDUNGA [via R.S]: Vento sudoeste. Prenúncio de agitação no mar, impossibilitando
a pescaria e ou navegação.
SURDO: (Fandango Caiçara) Tambor.
SURÉCO: Sem rabo; Diz-se de estar com roupas rasgadas ou mesmo sem roupas.
SURUCÁ: Entar, cutucar, mexer.

- 130 -
“surucô. Foi pro buraco, entrou”.
(Otoniel Pedro – Guaraqueçaba/PR). [via R.S], 2020.

SURUCUÁ: Trogon surrucura. Ave marinha.


SURUCUÁ MAL ATIRADO [via R.S]: Diz-se da “pessoa com cara de cansado, meio
aborrecido, com sono ou com preguiça”. (Zezé Manoel/Guaraqueçaba-PR).
SURUI [via R.S]: Farinha mole, quando não está torrada.
SURURU: (frutos do mar) Mytella guaianensis. Marisco que vive enterrado na lama do
manguezal, com dimensão superior ao do Bacucu. Também chamado de “Unha de
Velha”. Remete ainda à confusão, discussão.

marisco – mexilhão (bivalves)


(Sururu, Porrudo, Berbigão, Praguaí, Ostra, Pegoava, Sarnambi e Cumbié)

“seis marias”
(brincadeira de criança)
Faz-se um amontoado de Curuanhas espalhadas ao chão; lança uma para cima e
imediatamente, antes que caia, retira outra do chão, aparando, em seguida aquela que
havia lançado ao ar. Assim sucessivamente até recolher as ‘seis’ ou ‘doze’ que
previamente dispôs espalhadas pelo chão”.

- 131 -
-T-

Tipiti

TÁ ATÉ ROXO: Expressão que remete à formação de nuvens indicando tempestade.


TÁ DE BOLA: Expressão que remete à quantidade. Também Montuera.
TÁ GROSSO / GRAÚDO: Diz-se do peixe e ou camarão quando está com tamanho
considerável, bom para a venda.
TÁ LASCADO / FUZILADO: Expressão que remete a prejuízo, problema.
TÁ SE METIDANDO / TÁ SE LAMBENDO: Diz-se da pessoa exibida.
TABOA: Typha domingensis. Planta de lagoa, utilizada na confecção artesanal de
esteiras. Ver Piri.
TABOCUVA: Pera glabrata Poepp. Madeira utilizada para lenha.
TABULEIRO: Mata adentro, de lugar alto. Também instrumento artesanal, quadrado,
confeccionado de Taquara, para secar Manjuba.
TACANIÇA [via R.S]: Casa de quatro águas.
TACHO: Designa mau cheiro, estar sujo. Ainda remete ao caldeirão, espécie de panelão
de ferro utilizado para torrar a Farinha de Mandioca.
TACUI [pesq.A.D]: Lama pegajosa, barro muito fino e mole, utilizado na fabricação de
cerâmica cabocla.

- 132 -
TACURUBA / TICURUBA [via R.S]: Fogão improvisado feito com três ou quatro
pedras, sendo que a lenha e o fogo ficam em baixo.
TAIÁ: Xanthosoma taioba. Tubérculo comestível. É utilizado na Medicina Rústica,
indicado como depurativo do sangue.
TAINHA: Mugil planatus. Época de pesca entre maio a agosto; a banha acumulada em
sua cabeça, após fervida e coada serve como óleo. Ver Aguage, Cerco, Corrida, Espia,
Lote, Tára.

Pesca Milagrosa – Ilha do Mel – Paranaguá/PR.

TAINHA FACÃO: Diz-se quando o peixe – tainha – está magra, sem gordura.
TAIPA: Casa com parede de barro. Também Rancho ou Tapera.
TALHO: Corte em parte do corpo. Também cortar, esculpir na madeira.
TANGARÁ: Chiroxiphia caudata. Ave conhecida como “dançador” devido ao mito 47
existente para sua dança de acasalamento. Também uma marca de Fandango Caiçara.
TAPEAR: Enganar, disfarçar; “passar para trás”.
TAPERA: Palavra indígena que designa moradia abandonada. Remete ainda ao rancho
ou casa caiçara em abandono ou mesmo aquela utilizada para guardar apetrechos de
pesca. Ver Sóca.
TAPIRANGA: Marisco (Indeterminado) utilizado na alimentação. Ocorre no Mar Aberto,
em encosta de ilha.
TAQUARA: Espécie de bambú.
TAQUARUÇÚ: Chusquea gauduchaudii. Espécie de bambú, grosso.
TÁRA [via R.S]: Diz-se da Tainha “criada”, ou seja, a maior pescada no dia.

47
Para saber mais: http://informativo-nossopixirum.blogspot.com/2011/01/lenda-guaraquecabana-parte-ii-tangara-o.html;
Ainda https://drive.google.com/file/d/1eVml-ky3ycTVNiAskl4uphITnPIjzrNE/view?usp=sharing

- 133 -
TARARACA: Chuva rápida e passageira. Também Toró.
TARÉCO [via R.S]: Objeto com pouca serventia, descartável.

“qualquer coisa que você sempre usa, mas que só atrapalha em casa”.
(Cleiton Prado/Iguape-SP).

TARIMBA: Cama sem colchão, com estrado feito de madeiras.

“cama, nos barracos que fazemos no mato pra passar a noite”.


(Manassés Neto – Guaraqueçaba/PR [via R.S], 2020).

“tarimba é a cama suspensa, feita com madeira do mato e amarrada com cipó.
Chamavam de cama de pau duro”.
(Mario Gato – Ubatuba/SP, 2020).

TARRAFA: (pesca) Consiste em lançá-la da praia ou da canoa, com o objetivo de


melhor abrir o pano da rede e assim cobrir o cardume. Outra modalidade assim chamada
é o Gerival.
TARUGO: Pedaço de madeira, servindo como calço em cabos de ferramentas; assim
apelidam pessoas baixinhas e gordinhas.
TATATA TITITI: Expressão que remete a combinação, conversa sigilosa. Namorico.
TAVIVÊ / CATAVEVÊ: Diz-se da cinza ou fuligem, dos pedaços de madeira queimada
que voam quando o fogo está aceso.
TEMPERAR / DESTEMPERAR: (Fandango Caiçara) Ato de afinar a Viola
Fandangueira ou quando está desafinada (destemperar).
TEMPO ANTIGO: Remete aos tempos passados. De Primeiro ou Tempo de Dantes.
TENAZ: Espécie de pegador de madeira, resistente mas dobrável, utilizada para pegar
coisas quentes, por exemplo, ostra no fogo.
TENSO [via R.S]: (pesca) Parte inferior da tarrafa, onde se retém os peixes.
TENTEANDO [via R.S]: Insistindo, procurando. Repetir uma ação até dar certo.
TERÇO - CANTADO48: Tradição religiosa, católica, da reza do Terço nas capelas das
comunidades que, dificilmente assistidas pelos padres, seguiam a liderança comunitária

48
Ouça um trecho no álbum “Cananéia: tradição musical e religiosa” (1982):
<https://drive.google.com/file/d/1hLQ_vzH6rFuMuv7TA1I6AlFiNT5Seji8/view?usp=sharing>.

- 134 -
do Capelão, conduzindo-os nas cantorias e ladainhas aos santos (Santo Antônio, São
João), bem como em momentos como de “Corpo-Presente” ou “7º Dia”, além das rezas
da Ave-Maria.
DEUS VOS SALVE – MARIA MÃE DE DEUS PAI
DEUS VOS SALVE – MARIA MÃE DE DEUS FILHO
DEUS VOS SALVE – MARIA ESPOSA DO ESPÍRITO SANTO
DEUS VOS SALVE – MARIA TEMPLO DO SACRÁRIO DA SANTÍSSIMA TRINDADE

AMADO JESUS, JOSÉ E MARIA - EU VOS DOU MEU CORAÇÃO E ALMA MINHA.
(oração introdutória)

TERÇO DAS ALMAS: Reza do Terço (Santo Rosário) em dia dos Finados.
TERRA SANTA: Cemitério.
TESOUREIRO: Fregata magnificens. Ave marinha - Fragata.

(possui o rabo em forma de tesoura; assim se cantarolava quando o avistavam no céu).

TESTAMENTO DE JUDAS: Manifestação cultural, no Sábado-de-Aleluia, em que


fazem a leitura do Testamento de Judas, antes da malhação do boneco. Em versos,
expõem e pedem o fim de diversos males que assolam a humanidade e em tom irônico
envolvem os nomes de personalidades na trama. Ver Fogaréu e Malhação de Judas.
TIFUTE [pesq.A.D]: Diz-se da pessoa muito queimada do sol; ensolação. Também
Trigueiro.
TIGUÉRA [via R.S]: Mato sujo; roça abandonada; mata em regeneração.
TIJUCO: Lama do mangue, lodo.
TILOCA [via R.S]: Brincadeira de criança.
TIMBÓ [pesq.A.D]: Objetos que possuam cores escuras. Também bebida escura.
Remete a planta venenosa (Indeterminado).

- 135 -
TIMBOPEVA [pesq.A.D]: Philodendron. Cipó utilizado na confecção de cestos,
vassouras e cabos para barcos.
TIMIRIDADE [via R.S]: Caos. Bagunça. Também remete à quantidade.
TIMONEIRO: Aquele que guia a embarcação.
TINA: Mesmo que bacia, mas de ferro ou alumínio.
TINHOSO [pesq.A.D]: Insistente; ruim; teimoso; péssimo; terrível.
TINO: Atento; captar. Prever.
TINTURERA / CAÇÃO TINTURERA [via R.S]: Tubarão Tigre.
TIPE / TIRPE / TIPLE: (Romaria do Divino Espírito Santo) Geralmente uma pessoa
mais jovem e com voz aguda, destaque entre os Foliões nas cantorias.
TIPITI: Semelhante ao balaio, porém, confeccionado com Taquara, possuindo
elasticidade para espremer a massa da Mandioca.
TIPUMÃ: Espuma, no mar, resultante dos ventos, ondas ou da velocidade da canoa.
TIPUTÁ [pesq.A.D]: Gravetos que acostam na praia com as ondas da maré e que já
estão banhadas com água salgada. Utiliza-se na queima para espantar mosquitos.
TIRACA [via R.S]: Bandagem, curativo.
TIRANIA [via R.S]: Vida ruim.
TIRAR: (Fandango Caiçara) Tirar a moda, criar, compor. Diz-se de composição acerca
da vida de alguém. Ver Moda Tirada ou Pisquim.
TIRAR CANOA: Saber fazer da construção da Canoa Caiçara.
TIRAR A BANDEIRA: Diz-se da equipe de Foliões do Divino a ‘retirar’ a Bandeira do
Divino Espírito Santo da igreja e levá-la, em Romaria, às casas e comunidades.
TIRUMA / INTIRUMA: Café sem mistura. Também Tirre.
TIRRE: Diz-se do café sem mistura. Também Tiruma.
TISSUME: Ato de tecer palha para fazer Renca.
TITICA: Coisa sem valor; excremento de galinha.
TITINGA: Doença de pele; manchas brancas sobre a pele. Trata-se, na Medicina
Rústica, com a seiva do Taiá.
TOADA: (Fandango Caiçara) Ritmo das batidas nas cordas da Viola Fandangueira.
TOC-TOC: (embarcação) Diz-se da canoa com motor de centro; imitação do barulho que
faz o motor em funcionamento. Relativo à lentidão.
TOÇA [pesq.A.D]: Toceira. Agrupamento de plantas muito juntas. Também Tufo.

- 136 -
TOCADOR DE MEIA CARA: Remete à quem não domina instrumento musical algum.
TOEIRA: (Fandango Caiçara) Segunda corda grossa na Viola Fandangueira.
TONTA: (Fandango Caiçara) Marca batida, com coreografia estonteante.
TOPE: (Romaria do Divino Espírito Santo) Buquê de flores no topo da Bandeira do Divino
Espírito Santo. Também Cachopa ou Buquê.
TOPO: (Fandango Caiçara) Durante a cantoria se alcança a sonoridade mais alto.
Expressa o ponto mais alto em qualquer situação.
TOPOU: Expressão para encontrar algo ou alguém.
TOSSE CUMPRIDA: Coqueluche.
TOSSE DE CACHORRO: Tosse alta, forte.
TOVACANGA: Diz-se da cravícula do peixe. Ver Espinhaço e Nhamutacanga.
TRÁFICO / CASA DO TRÁFICO: Diz-se da Casa da Farinha. Colher a Rama e levar
para transformar em Farinha de Mandioca.

Fuso ou Prensa na Casa do Tráfico ou Casa da Farinha.

TRAJETO: (Bandeira do Divino Espírito Santo) Diz-se do período em que os Foliões


estão em Romaria, levando a Bandeira do Divino Espírito Santo às casas e comunidades.
TRALHA: Apetrechos de pesca.
TRANQUERA: Diz-se de algo sem valor.
TRAPO / ESTOPA: (culinária) Cozido de Raia desfiada, acrescida de temperos.
TRAQUITANAS [pesq.A.D]: Objetos sem uso. Também Matalotagem ou Quinquilharias.
TRATÁ: Cuidar de pessoa doentia.

- 137 -
TRAVA / TRAMELA / TRINCA: Espécie de fechadura em portas e janelas de madeira.
TREPEIRO: Estrado de varas, disposto em meio aos galhos da árvore, onde fica o
caçador trepado e Espiando a Céva, durante a caçada noturna.
TRESANTONTE / TRISANTONTE [via R.S]: Antes de ontem; A três dias; Dá a ideia de
que se passaram alguns dias.
TRIBUZANA / TRIBUJÃO: Tempo feio, ruim, com chuva e vento.

“são gregório levantou, seu pezinho e sua mão lavou


seu calçadinho calçou e seu caminho caminhou
Encontrou com Santa Bárbara: - “onde ide são gregório?”
“vou levar esta trovoada pro monte maligno, onde não faça mal a ninguém. Amém””.
(reza para acalmar trovoada – recolhido com José Hipólito Muniz, em 2015).

TRIGUEIRO [via R.S]: Diz-se da pessoa morena. Ver Tifute.


TRIPULAÇÃO: (Romaria do Divino Espírito Santo) Equipe de Foliões do Divino Espírito
Santo, composta por violeiro, rabequeiro, tocador de caixa e Tipe, além do Alferes.
Também chamado de Folia do Divino.
TRISTE / RIJO: Adjetivo de pessoa avarenta, ruim, travessa.
TRIÚME [via R.S]: Gulodice.
TROÇO: Refere-se a algo sem importância ou desconhecida. Também ao cocô ou tolete.
TROCADILHO: Espécie de Mutirão, porém, neste, há a troca de favores, pois quando o
outro precisar, este a quem esteve trabalhando, lhe estará devendo um dia de serviço.
Pode-se ainda ser feita a Paga com dinheiro. Ver Pacotilha e Juntamento.
TROCANDO PASSO: Remete a pessoa bêbada. Andando alcoolizada.
TRONCUDO: Pessoa forte.
TROPICÃO: Topada. Tropeçar.
TUÇA: Expressão utilizada como cumprimento ou como resposta ao ser chamado.
TUFO: Diz-se do maço de cabelo ou pêlos.
TUPÉ / TUPÊ: Estrado confeccionada com varas dispostas a certa altura sobre a
Tacuruba, onde se colocam peixes e carnes com objetivo de secar ou defumar ao fogo e
a fumaça. Também Estendal, Jirau e Fumeiro.
TURRÃO: Diz-se da pessoa briguenta; teimoso. Ainda valente.

- 138 -
-U-
UBÁ: Palavra indígena que remete a canoa artesanal caiçara, fabricada num tronco só.
Remete a árvore Ubá ou ainda ao Guapuruvú.
UNHA DE FOME: Diz-se do indivíduo avarento, ganancioso.
UPA: Abraço.
URINÓ [via R.S]: Penico.
URRANDO: Expressão que remete a enorme quantidade. Ver De Bola ou De Penca.
Também gritaria, berro.
URÚ: Odontophorus capueira. Ave que adivinha o tempo; pouco tempo depois de sua
cantoria é certeza que chove.
URUCURANA: Hyeronima alchorneoides. Árvore nativa, com madeira utilizada na
construção civil e no fabrico de artesanatos.
UVÁ: Planta (Indeterminado), cujo caule, uma varinha fina, é utilizada para confeccionar
gaiola para aprisionar passarinho.
UVIRA: Talipariti pernambucense. Árvore, com predominância próxima ao manguezal;
utiliza-se o linho de sua casca para tecer cordas.
UVIRUÇÚ: Pseudobombax grandiflorum. Madeira utilizada na construção civil, procurada
também para fabricação de instrumentos (Fandango Caiçara).
UVÚ: Diz-se da pessoa empalamada (doentia), muito branca, clara.
UVÚRA [via R.S]: Diz-se da pessoa de cor de pele muito clara, branca.

“[uvúra] maré pequena que fica bom tempo parado, não enche nem vaza”.

Urú

- 139 -
-V-

Viola Fandangueira

VAI PRO ESCORNO / VAI TE: Expressão que designa expulsar alguém do local.
VANZEIRO: Maré mexida; ondas no mar decorrente do vento.
VÃO / GRETA: Buraco na parede da casa de madeira.
VARAÇÃO: Mutirão para “puxar”, tirar do mato a canoa artesanal previamente
confeccionada onde fora derrubada a árvore.
VARAÇO: Ramo principal da árvore, pé ou trepadeira, de onde brotam outros ramos
secundárias que vão formar o fruto (maracujá, abóbora, chuchú).
VARADOURO: Varar; empurrar de um lado ao outro.

Remete ao Canal do Varadouro49, artificialmente aberto na década de 1950, ligando


as baías de Trepandé, em Cananéia/SP com a de Larangeiras, em Guaraqueçaba/PR.

“vá num pé e volte no outro”


(expressão que remete à rapidez na ação praticada)

49
Assista o documentário: “Varadouro história, cultura e natureza”: <https://www.youtube.com/watch?v=YTWkM-fJ178>.

- 140 -
VARÃO / VAREJÃO: Bambú ou palanque - madeiras finas e roliças - para empurar a
canoa em navegação no rio baixo; Serve também para fincar na lama e deixar a canoa
amarrada em lugar de maré baixa, quando não dá para Varar a Canoa. Ver Mourão.
VARAR A CANOA: Subir a canoa para um lugar alto e suguro no Porto.
VAREJERA: Espécie de mosca sobre os peixes. Também Biruanha.
VARGEDO: Mata roçada, portanto, não é mais Mata Virgem. Também Caporão.
VARIADO DAS IDEIAS [via R.S]: Maluco da cabeça.
VAROU A NOITE: Realizar atividades noturnas ou não conseguir dormir. Também
atravessou a madrugada.
VASSOURINHA: (Fandango Caiçara) Moda valseada onde um cavalheiro ou dama sai
ao salão com uma vassoura em mãos e batendo seu cabo ao chão, todos os casais,
dançando, devem trocar seus pares.
VELHACO: Diz-se da pessoa que possui muitas dívidas a pagar; caloteiro.
VENDA: Comércio, mercearia. Bodega.
VENTO LESTE: Vento que trás uma brisa suave, prenúncio de tempo bom para pescar
e plantar. Também Lestada.

VENTO NORDESTE: Vento quente, seco e abafado, prenúncio de má pescaria.


VENTO NOROESTE: Vento quente, prenúncio de ondas mansas; afugenta os peixes.
VENTO SUL: Mau tempo; chuva forte e vento, prenúncio de Rebojo, inviável à pescaria.
VENTRECHA / BENTRECHA: Buchada ou órgãos internos; também a Guelra do
peixe. Ainda chamado de Mutacanga.
VENTUZIL: Prisão de ventre. Também chamado de Peido, Enturração, Sainô.
VERDOLENGO [via R.S]: A fruta quando não está “nem verde, nem maduro”.
VERDUGUE: (embarcação) Detalhe no bojo da Baleeira.
VERGÃO: Ematoma decorrente de irritação ou machucado. Também Embolotado.
VERME BRABO: Diz-se da pessoa que tudo vê, já tá pedindo pra sí. Também Pidonho.
- 141 -
VIÇOSO: Diz-se daquele (a) pessoa bonito (a), com exuberância física.
VINGÁ: Diz-se da semente quando plantada precisa “vingá” para crescer e dar fruto.
VIOLA DE CAPA DE INDAIÁ / CAPA DE JARUVÁ: (mitologia) Diz-se da primeira
Viola de Fandango Caiçara tocada pelo Saci sentado sobre uma pedra e quando alguns
viram, este desapareceu deixando o instrumento feito de capa de Indaiá (Attalea dubia).
VIOLA FANDANGUEIRA: (Fandango Caiçara) Viola para tocar Fandango Caiçara,
conforme a chamam no litoral do Paraná. Pode ser Viola de Aro (feito na forma) ou Viola
Cavoucada. Ainda Viola Branca, no litoral norte de São Paulo.
VIONERA: Cabo de Rede.
VIR: Diz-se da pessoa maldosa; ruim de coração. Sovina ou Sumítico.viola de aro
VIRAÇÃO: Vento que vem do mar após uma tarde de muito calor.
VIRADO NUM CHAPÉU VELHO: Largado, abandonado.
VIROTE: Diz-se do filhotinho da Tainha, ainda em tamanho pequeno.
VISITAR O CERCO / DESPESCAR: Ir ao Cerco retirar os peixes que ficaram presos.
VINTE CINCO DE MARÇO: Na tradição cristã, Dia da Anunciação do Anjo Gabriel à
Maria, a mãe de Jesus. Dia de resguardo, não devendo caçar ou pescar; há um mito
acerca da proibição de fazer Fandango Caiçara50 nesta data.

“em 25 de março / no mato MUITO CORRI


levei 25 tiros / tÔ vivo, ainda não morri”.
(Fandango Caiçara).

VIÚVO: Inflamação na vista. Na Medicina Caseira, lava-se com chá de Rosa Branca.
VIVÚIA [via R.S]: Quando do fabrico da Farinha de Mandioca, durante a torreifação, a
primeira leva, quando a Farinha não está bem torrada.
VOLGAR [via R.S]: Remar; Ver também Remo de Voga.

“TREME QUE NEM UMA VARA VERDE”


“diz-se quando a pessoa tá com uma febre altíssima; dá um tremimento - estroncava Covo no rio
c’a ‘ vara verde. Ai, na vazante da maré a vara fica tremendo, né. A pessoa tá queimado em febre.
Tá que nem uma folha de bananeira”.
(Ciro Xavier – Peruíbe/SP, 2020).

50
Para saber mais: http://informativo-nossopixirum.blogspot.com/2016/03/lenda-guaraquecabana-iv-dia-25-de-marco.html

- 142 -
-X-
XANFRADO: Cortes feito na madeira com o objetivo de moldá-la à sua finalidade.
XARÉU: Caranx hippons. Espécie de peixe de couro. Ocorre com abundânica nos meses
de agosto e setembro.
XERELETE: Caranx crisos. Peixe de couro. Também conhecido como “Carapau”.
XERÉM: (culinária) Café misturado com Farinha de Milho. Também Carago.
XEXELENTO: Desarrumado; nojento.
XI: Expressão (alonga-se a pronúncia da vogal) que serve como resposta a informação
inesperada.
XIMANGO: (Fandango Caiçara) Moda valseada. O Violeiro amarra um lenço no braço da
viola.
XIMBADA: No futebol, chute muito forte.
XIMIRDO: Algo muito grande; Tamanho descomunal. Também Lemarde e Baita.
XIPUTE: (culinária) Banana madura moída dentro da caneca com café.
XÓXA / CHOCHA [via R.S]: Ninho de ave. Diz-se também da casa simples, humilde.
Tapera.
XOXÔI / OXOXOI [via R.S]: Remete a desprezo, a algo sem valor; porcaria.
XUXAR: Mexer, cutucar, enfiar a vara em algum lugar ou alguma coisa.
XUXO / CHUCHO: Enganação; combinação entre partes para enganar outros.

Xaréu

- 143 -
-Z-
ZAGARELHO: Espécie de âncora. Ver Chacho ou Garatéia. Ainda falante ou tagarela.
ZANZÁR: Estar vagando, sem rumo definido. Ver Panapaneando, Pela Costera.
ZÉ NINGUÉM: Remete à pessoa sem importância; Também Porquera.
ZÉ POVINHO: Refere-se à pessoa simples, humilde, do povo ou ‘povão’.
ZINABRE: Refere-se a mau cheiro. Ver Catinga. Ver Jaó, Pitiu, Asco, Catinga, Réla.
ZINHO: Diminutivo utilizado em diversas circunstâncias para pessoas e ou objetos.
ZIQUEZIRA [pesq.A.D]: Treco; loucura; desmaio. Pessoa que teve ataque.
ZOADA: Som alto, que ecoa a distâncias.
ZOAR / ZOMBAR: Rir da infeliz situação de outrem ou rir do indivíduo. Avacalhar.
ZONZO: Tonto.
ZUEIRA: Bagunça. Também Alaúza, Aloito, Berrero, Escarcéu, Banzé, Soré, Timiridade.
ZUM-ZUM-ZUM: Falaria.

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- 144 -
CRÉDITO DAS IMAGENS:

Acervo Júlio Alvar (Arapuca - pg. 18; Cevadeira – pg.41; Renda de Bilro – pg.76; Fuso – pg.137;
Mundéu – pg. 99; Pé Direito – pg.103; Tipiti – pg.132; Girau – pg.87; Renca de Guaricana – pg.121);
Fotos/acervo de Zé Muniz (Agulha e Malheiro – pg.20, Burro de Prensa - pg.29; Bote, Batera, Canoa
e Baleeira – pg. 61; Bijú, Cuzcuz e Cuscuzeiro – pg. 36; Cocho – pg. 53; Despedida no Porto –
pg.62; Romaria do Divino Espírito Santo – pg.123; Semente de Guapuruvu – pg.80; Intaivado –
pg.85; Lenda do Carnaval – pg.113 (desenho de José Eduardo de Souza); Rabeca – pg.118
(desenho de Leandro Diegues) e Viola Fandangueira (desenho de Leandro Diegues) – pg.140);
Maurício Muniz (Barra – pg.32); Acervo Miguel Von Behr (Espécies de Caranguejo – pg.46; Manjuva
– pg.94; Porta – pg.113); Rebimar Programa de Recuperação da Biodiversidade Marinha (Tipos de
Pesca – pg.75); Wagner Muniz (Arrasto de Praia – pg.28); Valéria/Tibicanga (Gaiola de Siri – pg.77);
Maurício de Lima (Mandicuera – pg.93); Cleiton do Prado (Passanguva – pg.106); Juninho, de
Ubatumirim (Prensa de Arataca – pg.24); Ana Muniz (Moqueca – pg.92); Acervo José Luís da Veiga
Mercer (Arpoeira – pg. 25; Proeiro - pg. 114); Aorélio Domingues (Merda de Lua - pg.97).

Desenhos, ilustrações e montagens/Direitos Reservados: Mapa do Território Caiçara (pg. 17 –


Direitos Reservados); Senacemão e navio chinês (pg. 19); Anu e tamanco (pg.23); Bagres (pg.30);
Viola e Batuíra e Rabeca (pg.33; 40; 71; 120; 141); Broinha (pg.39); Busano (pg.40), Chumbeiro de
barro (pg.52); Gengibre e Cravo (pg.55); Copo Sujo (pg.55); Corovina (pg.56); Porungos (pg.58);
Navio Solana Star (pg.59); Enxó (pg.64); Desenho de árvore e cama (pg.80); Espingarda e Remo
(pg.82); Caranguejo e Jacatirão (pg.86); Jogo da Galinha (pg. 88); Linguado (pg.90); Desenho de
brinco e anel (pg.97); Imagem de camisa e copo (pg.100); Bugiu e Cachorro (pg.99); Oveiro (pg.102);
Desenho de Dama e Cavalheiro (pg.110); Imagem do Bom Jesus (pg.112); Canoa (pg.115); Desenho
de chapéu e cruz (pg.116); Desenho do Divino Espírito Santo (pg.123); Sabiá Laranjeira e gorro do
Saci (pg.124); São Gonçalo (pg.126); Sapo e Saracura (pg.127); Siri Metido a Besta (pg.129);
Mariscos (pg.131); Nossa Senhora do Rocio e Tainha (pg.133); Fragata/Tesoureiro (pg.135); Uru
(pg.139); Xaréu (pg.143).

- 145 -
SUGESTÕES

DE

ATIVIDADES

- 146 -
PREZADO (A) PROFESSOR (A)

ELABORAMOS, COMO SUGESTÃO


ALGUMAS ATIVIDADES PARA SUA SALA DE AULA,
E ESPERAMOS QUE POSSA SER ÚTIL COM SEUS (SUAS) ALUNOS (AS).

GOSTARÍAMOS MUITO DE SABER


COMO FOI A EXPERIÊNCIA
DE TRABALHAR O LINGUAJAR CAIÇARA EM SUAS AULAS.

PARA TANTO,
SE DESEJAR COMPARTILHAR ESTA EXPERIÊNCIA CONOSCO
(relatos e imagens)
SEGUE UM ENDEREÇO
AO QUAL DESDE JÁ AGRADECEMOS.

DA MESMA FORMA O (A) LEITOR (A)


SE ACASO CONHECE ALGUMA PALAVRA QUE NÃO CONSTE NESTE REGISTRO
COMPARTILHE CONOSCO

AGRADECEMOS.

- 147 -
Atividade 01 - PALAVRA-CRUZADA

1) LEVAR BRONCA; PASSAR VERGONHA. TAMBÉM PITO OU RALHO.

2) TREMER. ESTAR FRACO. COM AS PERNAS TRÊMULAS.

3) VENTO QUE VEM DO MAR, REFRESCAR, APÓS UMA TARDE DE MUITO CALOR.

4) DIZ-SE DAQUELE (A) COM EXUBERÂNCIA E BELEZA FÍSICA, TAMBÉM NO ANDAR


E NO MODO DE SE VESTIR.

5) DIZ-SE DAS MODAS VALSEADAS OU BAILADINHAS, ONDE TODOS FAZEM


QUESTÃO DE DANÇAR.

6) LUGAR PARA DEPOSITAR O LIXO.

7) MESMO QUE TEMPESTADE.

8) EQUIPE COMPOSTA PELO VIOLEIRO (MESTRE), PELO RABEQUEIRO, PELO


TOCADOR DE CAIXA E PELO TIPE, ALÉM DO ALFERES.

- 148 -
Atividade 02 – AGORA VOCÊ ELABORA A PALAVRA-CRUZADA, SEGUINDO O
EXEMPLO ABAIXO:

1_______________________________________________________________________
________________________________________________________________________
2_______________________________________________________________________
________________________________________________________________________
3_______________________________________________________________________
________________________________________________________________________
4_______________________________________________________________________
________________________________________________________________________
5_______________________________________________________________________
________________________________________________________________________
6 - ESTAR DOENTIO; CAÍDO; SEM ÂNIMO.
7_______________________________________________________________________
________________________________________________________________________
8_______________________________________________________________________
________________________________________________________________________
9_______________________________________________________________________
________________________________________________________________________

- 149 -
Atividade 03 - CAÇA-PALAVRAS – Procure as palavras cujos significados estão listados
abaixo, em seguida, relacione cada palavra encontrada com o seu significado ao lado.

ASSANHADO: ____ ____ ____ ____ ____ ____ ____ ____.

LAMA, LODO: ____ ____ ____ ____ ____ ____ .

CAOS; BAGUNÇA: ____ ____ ____ ____ ____ ____ ____ ____ ____ ____ .

DIZ–SE DO INDIVÍDUO AVARENTO: ____ ____ ____ ____ DE ____ ____ ____ ____ .

PESSOA INTELIGENTE: ____ ____ ____ ____ ____ ____ ____ .

MAU CHEIRO: ____ ____ ____ .

DIZ-SE DA PESSOA ATENTADA: ____ ____ ____ ____ ____ ____ ____ ____ ____ ____.

FARINHA QUANDO AINDA NÃO ESTÁ BEM TORRADA: ____ ____ ____ ____ ____ ____.

METIDO: ____ ____ ____ ____ ____ ____ .

ESPIAR, PROCURANDO EM LUGAR QUE NÃO LHE PERTENCE: FUÇAR.

- 150 -
Atividade 04 - CARTA ENIGMÁTICA

O ABDALA ABANÔ
APARECEU COM UNS PANOS TUDO SARAMILHADO E UNS ATRAVESSA-RIO NA MATALOTAGEM; A
TURMA FICARAM TRAQUINANDO E ESPICULANDO QUANTO CUSTAVA AQUILO. NEM LIGARAM.
ELE ATÉ FICOU MEIO ABORRIDO, MAS LOGO SE ARREGANHOU E COMO NÃO ESTAVA COM
MALQUERENÇA NA LIDA, TIRAVA SARRO DA PINDAÍBA QUE SE ENCONTRAVA, POIS NUNCA FICOU NA
FIÚZA DE NINGUÉM.
NÃO PODIA FICAR BATENDO GUASCA PELA COSTERA, POIS O TEMPO JÁ DAVA SINAIS DE REBOJO E
NÃO É QUE DEPOIS DA REFÉGA VEIO UM PAMPEIRO, COM FUZILO E TUDO.
PRONTO NÃO TEVE COMO REALIZAR A VENDA PELA VIZINHANÇA. FICOU
DEVARDE POR ALI, ATÉ QUE O CHAMARAM PRA UM FARNELZINHO. ERA
UMA LAVAGE E EM TIRUMA AINDA. MAS LOGO LHE TROUXERAM JABACUÍ,
QUE ELE TRATOU DE FAZER UMA PICHORRA. FOI O QUE COMEU NAQUELA
MANHÃ.

________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
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________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________

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Atividade 05 - AGORA QUE TAL VOCÊ ELABORAR UM TEXTO ENIGMÁTICO COM AS
PALAVRAS A SEGUIR (ou outras retiradas desta pesquisa):

01 – ATRAVESSA – RIO: __________________________________________________.

02 – ESPALHAFATE: _____________________________________________________.

03 – FURA: _____________________________________________________________.

04 – GANJE: ____________________________________________________________.

05 – GUAPECA: _________________________________________________________.

06 – JAGUARAÍVA: _______________________________________________________.

07 – MIRRADO: __________________________________________________________.

08 - QUATI NAS COSTAS: _________________________________________________.

09 – RANZINZA: _________________________________________________________.

10 - SABEI-ME LÁ: _______________________________________________________.

________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________

- 152 -
Atividade 06 – RELACIONE A COLUNA DE IMAGENS COM A PALAVRA
CORRESPONDENTE, ANOTANDO O SEU RESPECTIVO SIGNIFICADO.

CUZCUZEIRO
_____________________
_____________________
_____________________

MEIO-TOCO
_____________________
_____________________
_____________________

ALEGRE
_____________________
_____________________
_____________________

TIPITI
_____________________
_____________________
_____________________

CERCO
_____________________
_____________________
_____________________

- 153 -
Atividade 07 – QUE TAL RECOLHER COM SEUS AMIGOS E FAMILIARES
PALAVRAS E SEUS RESPECTIVOS SIGNIFICADOS, AQUELAS QUE SÓ SE FALAM
EM SUA REGIÃO?

01- ______________________________________________________________________
__________________________________________________________________________

02- ______________________________________________________________________
__________________________________________________________________________

03- ______________________________________________________________________
__________________________________________________________________________

04- ______________________________________________________________________
__________________________________________________________________________

05- ______________________________________________________________________
__________________________________________________________________________

PROCURE NESTA PESQUISA DE PALAVRAS CAIÇARAS, AQUELAS QUE NÃO


CONSTAM NO DICIONÁRIO OFICIAL DA LÍNGUA PORTUGUESA (atualizado).

06- ______________________________________________________________________
__________________________________________________________________________

07- ______________________________________________________________________
__________________________________________________________________________

08- ______________________________________________________________________
__________________________________________________________________________

09- ______________________________________________________________________
__________________________________________________________________________

10- ______________________________________________________________________
__________________________________________________________________________

- 154 -
Atividade 08 - JOGO DA MEMÓRIA.

MOENDA

BOLANDEIRA

POITA

RANCHO

CAMBICHO

- 155 -
COVO

ENTRALHE

ESTEIRA DE PIRI

CANOA CAIÇARA

MITÓRIO

- 156 -
Atividade 09 – QUESTIONÁRIO ACERCA DA DIVERSIDADE LINGUÍSTICA BRASILEIRA.

1 – CRITIQUE A FRASE: “EXISTIAM NA ÉPOCA DA INVASÃO PORTUGUESA, MAIS DE


1.000 LÍNGUAS NATIVAS NO BRASIL”, E RELACIONE COM O NHEENGATU (pesquise):
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________

2 - QUAIS PAÍSES FALAM ATUALMENTE A LÍNGUA PORTUGUESA E POR QUE?


____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________

3 - QUANTAS LÍNGUAS SÃO FALADAS ATUALMENTE NO BRASIL? EXISTE OUTRA


LÍNGUA OFICIAL EM ALGUM ESTADO OU MUNICÍPIO BRASILEIRO (pesquise)?
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________

4 – POR QUE EXISTEM DIFERENÇAS NO LINGUAJAR, AINDA QUE NUM MESMO PAÍS?
E QUAL A DIFERENÇA ENTRE LÍNGUA, IDIOMA E DIALETO? JUSTIFIQUE A RESPOSTA.
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________

5 – DESCREVA A IMPORTÂNCIA E AS PRINCIPAIS MUDANÇAS DO NOVO ACORDO


ORTOGRÁFICO DA LÍNGUA PORTUGUESA (pesquise):
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________

6 – O QUE VOCÊ ACHA DA DIVERSIDADE LINGUÍSTICA BRASILEIRA? JUSTIFIQUE.


____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________

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Atividade 10 – COM DESENHOS OU UTILIZANDO RECORTES, CRIE UMA HISTÓRIA
EM QUADRINHOS COM PALAVRAS DE NOSSO LINGUAJAR CAIÇARA.

- 158 -
Atividade 11 – QUE TAL PESQUISAR ESPÉCIES DE ÁRVORES OU PLANTAS MEDICINAIS
QUE EXISTEM NO TERRITÓRIO CAIÇARA? QUAL NOME POPULAR A ESPÉCIE RECEBE?
QUAL A UTILIDADE DA MADEIRA OU A FUNCIONALIDADE DA ERVA NA MEDICINA CASEIRA?
ÁRVORES
NOME POPULAR NOME CIENTÍFICO UTILIZAÇÃO

PLANTAS MEDICINAIS

- 159 -
Atividade 12 – QUE TAL PESQUISAR OUTRAS ESPÉCIES DE PEIXES CONHECIDOS
EM NOSSA REGIÃO, ALÉM DESTAS QUE CONTÉM NO DICIONÁRIO?

PEIXES
NOME POPULAR NOME CIENTÍFICO IMAGEM / DESENHO

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BIOGRAFIA
JOSÉ CARLOS MUNIZ – Zé Muniz, nascido em Guaraqueçaba/PR, é filho de José
Hipólito Muniz e Maria Pires Muniz, pescadores da comunidade de Barra de Ararapira.
Zé Muniz, ainda que alguns chamem de ‘Zézinho’, iniciou sua experiência coletiva ainda
na infância em Grupos de Coroinhas e Grupo de Jovens “Nativos de Cristo”, movimentos da
Igreja Católica, em Guaraqueçaba, onde inclusive, mais tarde ocupou funções voluntárias no
Conselho de Administração Paroquial.
Artisticamente atuou no Grupo Teatral Pirão do Mesmo na década de 1990; fundador da
Associação dos Fandangueiros de Guaraqueçaba; integrou a Comissão de Patrimônio Cultural
de Guaraqueçaba – experiências que aprofundaram o mergulho na sua Cultura Caiçara,
propiciando alguns trabalhos entre eles: “Fandango Subindo a Serra I” e “Fandango de
Mutirão”, ambos projetos de Lú Brito; “Tamborango”, da Ong Cores da Rua/PR; “Museu Vivo do
Fandango”, da Ong Caburé/RJ, e na implantação do Ponto de Cultura “Casa do Fandango de
Guaraqueçaba”; coordenou, em parceria com o SESC/Paranaguá o “Festival de Cultura
Popular do Litoral”. Na arte bonequeira, atuou com o Grupo Mundaréu (Curitiba) nos
espetáculos “Guarnicê – uma singela pereta popular” e “As Aventuras da Viúva Alucinada”,
ainda com atuações na Cia. TiBiRiBão. É fundador do Grupo Fâmulos de Bonifrates (1999), do
Grupo Fandanguará (2008) e do Grupo Canutilho Temperado (2018), todos de Guaraqueçaba.
Publicou “Uma Romaria do Divino Espírito Santo” (SEEC, 2010), “Bom Jesus dos Perdões
de Guaraqueçaba” (do autor, 2014), “Voando Pela Cultura” (pdf, 2017), Guarakessaba: Janelas
do Passado (pdf, 2020), além de artigos e capítulos de livros sobre a Cultura Caiçara e
apresentado projetos de lei ao executivo e legislativo municipal.
Licenciado em História (FAFIPAR), Especializado em História, Arte e Cultura (UEPG),
História e Cultura Indígena e Afrobrasileira (ULBRA), Educação do Campo (FAEL) e Mestre
pelo Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Territorial Sustentável (UFPR-Setor
Litoral), é professor da rede pública e privada de ensino fundamental, médio e superior.
Em 2020 recebeu o prêmio Jornada Reconhecimento da Trajetória, selecionado ainda no
prêmio de obras literárias Outras Palavras, com o livro Histórias do Povo do Mar (SEEC-PR).
Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná e do Instituto Histórico e Geográfico
de Paranaguá.

E-mail: muniznativofilho@yahoo.com.br
Blog – Informativo Nosso Pixirum: <https://informativo-nossopixirum.blogspot.com/>.
Currículo Lattes: <http://lattes.cnpq.br/3237275917244363>.

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