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Etologia (Estudo do Comportamento).

É uma área multidisciplinar que estuda o comportamento animal.


Derivado do grego, o termo “ethos” significa “costume”, “hábito”, “da
natureza das coisas”. É uma área com conhecimento multidisciplinar, abrangendo a
biologia desenvolvimental dos organismos, fisiologia, genética, evolução, psicologia,
zoologia e ecologia. A abordagem que vamos estudar pensa que o comportamento é
produto do processo de evolução filogenética.

Etologia: Origem e Conceitos


Utilizado para descrever estilos de vida, o termo etologia apareceu pela
primeira vez na França, no século XVIII, porém foi só no século XX, que este, foi
utilizado pela primeira vez para se referir especialmente ao comportamento animal,
pelo holandês Niko Tinbergen, em 1950.
Os psicólogos foram os primeiros a estudar os comportamentos humanos, por
isso a etologia humana se desenvolveu inicialmente nesta área no século XX.
Por um longo período, etólogos se preocuparam com os padrões estereotipados
do comportamento, chamados de padrões fixos de ação (Lorenz 1935 e 1965). Estes
padrões são comportamentos explicados por um estímulo muito característico,
denominado estímulo sinal ou liberador. Mais tarde, com o avanço dos estudos, foi
descoberto que a maioria dos comportamentos não são estereotipados como
acreditava-se. Os padrões fixos de ação foram então renomeados para padrões
modais de ação (Barlow 1968).
Paralelo a esses estudos, outros psicólogos direcionaram seus trabalhos para a
investigação de atos comportamentais que pudessem ser claramente quantificados,
dando origem a estudos sobre aprendizado e sobre as bases fisiológicas dos
comportamentos. Nesta linha, antes de estudos com humanos, um fisiologista russo,
Ivan Pavlov, trabalhando principalmente com cães e estudando sua capacidade de
adestramento para a execução de pequenas tarefas, desenvolveu a ideia de
condicionamento clássico, ou seja, condicionar um animal a desempenhar uma
determinada função (Del-Claro, 2010).
Charles Darwin: a expressão das emoções nos animais
Desde o princípio o homem observa o comportamento de tudo a sua volta em
busca de respostas de como, quando e do que pode se alimentar; para domesticar os
animais; para evitar a ação de predadores; para aprender; e principalmente, por
curiosidade.
Proveniente deste comportamento humano, o naturalista inglês Charles Darwin
apresentou vários exemplos de expressões de emoções detectadas tanto em animais,
quanto em humanos.
Emoções como mau-humor, boa disposição, manifestação de fúria em alguns
animais, vingança arquitetada, amor e carinho de um cão com seu dono na hora da
morte, afeição materna das fêmeas de todas as espécies, dor intensa das macacas pela

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perda dos filhotes, adoção de macacos órfãos por outro bando. São exemplos a partir
dos quais Darwin argumentou sobre seu princípio de ação ser o mesmo nos
animais e no homem.
Comparando feições humanas aos de macacos antropóides, Darwin explica
que “Diversas emoções são manifestadas por movimentos quase similares dos
músculos e da pele, especialmente acima das sobrancelhas e ao redor da boca;
algumas dessas expressões chegam a ser praticamente as mesmas, como o choro de
certos tipos de macacos e a risada de outros, durante a qual os cantos da boca são
repuxados para trás e as pálpebras franzidas”.

Os trabalhos de Karl Von Frish, Nicolas Timbergen e Konrad Lorenz


O comportamento animal se dá pelas influências genéticas e ambientais; alguns
com determinantes mais genéticos, chamados inatos, do que ambientais e vice-versa.
 Os chamados comportamentos instintivos são aqueles programados
geneticamente e com pouca influência do meio, essenciais para a
sobrevivência do animal (Ex: um cachorro quando imergido na água,
imediatamente começa a bater as pernas para nadar, mesmo sem nunca
ninguém ter o ensinado).
 e há também o comportamento por aprendizado, do qual dependem
inteiramente do que será passado pelos demais do bando (Ex: se um
filhote de cachorro for criado com um mais velho que só urina em um
lugar na casa, ele passará a fazer o mesmo).
Há cerca de 80 anos, em 1940, o austríaco Karl von Frisch realizava vários
experimentos com abelhas e fontes artificiais de alimentos. Desta forma descobriu
que elas são capazes de comunicar a localização de fontes de comida distantes por
um comportamento estereotipado, a sua famosa dança. Assim como outros insetos, as
abelhas utilizam o sol para se localizar, sendo ele o ponto de partida para
transmitir a localização às demais; a abelha forrageadora indica a posição da fonte
de alimento em relação ao sol. Quando o curso da dança aponta para cima do favo,
significa que a flor encontrada está na mesma direção do sol e quando o curso aponta
para baixo, significa que a flor se localiza na direção contrária do sol, e a distância é
passada pelo balanço e emissão do ruído, quanto mais perto está a comida, mais
rápida é a dança.
O ornitólogo holandês Nikolaas Tinbergen é conhecido por propor as quatro
perguntas básicas para a compreensão de qualquer comportamento animal, das
quais falaremos mais detalhadamente à frente.
O austríaco naturalista Konrad Lorenz (1903 - 1989) foi o primeiro a estudar o
comportamento animal denominado imprinting. Este é um fenômeno exibido por
diversas espécies enquanto jovens, principalmente aves, logo que saem dos ovos e
têm seu primeiro contato com o meio externo, eles seguirão o primeiro objeto ou
organismo que verem em movimento a sua frente. Lorenz realizou seu
experimento com filhotes de gansos, comprovando que ao criá-los desde pequenos

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eles os seguiriam como se fossem sua mãe, e o fizeram até mesmo depois de adultos,
dando preferência a ele ao invés de outros de sua espécie.

Etologia humana: Irenaus Eibl Eibesfeldt


Para Irenaus Eibl-Eibsfelfeldt o desenvolvimento da sociabilidade entre os
vertebrados é resultado da evolução do cuidado parental e o aparecimento dos
sinais envolvidos na relação pais-filhos deu espaço para o desenvolvimento de uma
relação amigável e afetiva.
Ainda ressalta que devido a uma questão de sobrevivência, um maior
investimento parental foi exigido e, ao contrário de muitas outras espécies, a
presença fundamental do macho reprodutor.
Os 4 Porquês da Etologia
A etologia tem como base para o estudo de qualquer comportamento animal
quatro perguntas que foram propostas por Tinbergen. Essas perguntas abrangem:
 o mecanismo causal,
 o desenvolvimento,
 a evolução e
 a função de cada comportamento.
Mecanismo causal (Fisiologia)
O que causa o comportamento? O que desencadeia o comportamento, e quais
partes do corpo, funções e moléculas estão envolvidas no seu desenvolvimento
(sistema nervoso, hormônios etc)?
Desenvolvimento (Ontogenia)
Como o comportamento se desenvolve? O comportamento está presente no
início da vida? Muda ao longo do tempo de vida do organismo? Que experiências são
necessárias para o seu desenvolvimento (ex. família)?
Função (Ecologia) e Evolução (Filogenia)
Como o comportamento evoluiu? Como se compara ao comportamento das
espécies relacionadas? Por que evoluiu dessa forma? E, como é que o comportamento
impacta sobre as chances de sobrevivência e reprodução do animal?

Métodos da Etologia Clássica


A etologia clássica é caracterizada pelo estudo descritivo do comportamento
animal, abordando
 principalmente as bases fisiológicas dos comportamentos, desde os
mecanismos causais aos funcionais, e
 em segundo plano fica as bases evolutivas dos comportamentos, como as
funções adaptativas.
Ou seja, para que um organismo perpetue em um ambiente, ele precisa ser
capaz de crescer, se manter e reproduzir neste ambiente. Se ele for bem sucedido, sua
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prole poderá ser mais numerosa e com uma combinação genética propícia para este
ambiente, garantindo sua perpetuação no local.
Na segunda metade do século XX, uma batalha entre dois grupos distintos de
cientistas acontecia.
 De um lado, os etólogos liderados por K. Z. Lorenz, N. Tinbergen e K.
R. von Frisch (e mais tarde, os sociobiólogos como E. O. Wilson)
defendiam as observações naturalísticas do comportamento, a análise
comparativa pela observação de um número variado de espécies e a
compreensão do instinto e do componente inato do comportamento;
 do outro lado, estavam psicólogos comportamentalistas liderados por J.
B. Watson e B. F. Skinner que tentavam descrever os processos
psicológicos básicos, com foco na aprendizagem e a descrição dos
mecanismos que estavam por trás dos comportamentos expressos.
Como tentativa de solucionar esse conflito, Tinbergen (1963), inspirado em
Huxley (1923), propôs quatro questões complementares que deveriam ser
respondidas para compreensão completa de um comportamento.

O método de avaliação comportamental de Timbergen


Tinbergen postulou que haveria quatro questões principais que nortearam as
pesquisas em comportamento animal:
Causalidade: quais são as causas imediatas de um determinado
comportamento;
Ontogênese: como ele se desenvolve durante a vida do indivíduo;
Função: qual a sua função adaptativa (valor de sobrevivência);
Filogênese: como ele se desenvolveu durante a evolução.

Análises proximais: causalidade e ontogenia


As causas proximais governam as respostas do indivíduo a fatores imediatos do
ambiente e do desenvolvimento respondendo às perguntas por meio do
“como”.

Análises distais: valor adaptativo e filogenia


As causas distais são responsáveis pela evolução do código de DNA de cada
indivíduo, levando em consideração os aspectos da evolução de ancestrais
remotos para responder por meio do “por que” tais adaptações existem em
determinado organismo.
Entre o final da década de 1960 e o início dos anos 70, William D. Hamilton
deu uma abordagem totalmente nova à etologia. Hamilton propunha a aplicação da
seleção natural como ferramenta para entendermos as bases genéticas que moldavam
os comportamentos (Del-Claro, 2010).

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