Você está na página 1de 6

UNINASSAU/UNESC – VILHENA

DEPARTAMENTO DE MEDICINA

Hellen Julia

André Luís

Maria Luiza

Weverton

Miriam de Freitas Torresan

ASPECTOS HISTÓRICOS DA SURDEZ

Vilhena, 2023

1
INTRODUÇÃO

Ao fazer uma análise da literatura atual, é encontrado poucos documentos que


registram a história das Pessoas Surdas (PS´s) na Antiguidade. Dos poucos registros
existentes sobre a fase histórica dessas pessoas, pode-se observar que existiram muitos
obstáculos com relação ao seu reconhecimento enquanto seres humanos. No século XII (Idade
Antiga), partindo de relatos históricos eurocentrados, as PS´s eram adoradas no Egito e na
Pérsia, pois se acreditava que elas se comunicavam com os deuses, porém na Grécia e em
Roma, eram assassinadas e as que escapavam eram escravizadas, uma vez que não eram
consideradas seres pensantes, visto que a capacidade de raciocínio era diretamente ligada à
fala (STROBEL, 2009). Com o surgimento do Cristianismo, passou-se a crer que o indivíduo
tinha alma e, portanto, ele pertencia a Deus. Assim, não caberia ao homem a decisão de
eliminá-lo (LEVY, 2019). No fim da Idade Média, começaram a surgir pesquisas a respeito da
surdez, uma vez que as famílias nobres que tinham herdeiros surdos, com o interesse em
compreendê-los e integrá-los na sociedade para não perder as riquezas familiares, passaram a
financiar a educação de tais, dando ênfase ao estudo da surdez (SCHLUNZEN; DI
BENEDETTO; SANTOS, 2013).

É importante pontuar que a língua de sinais foi originada a partir de uma comunicação
proposta por Ponce de Leon (1510-1584), monge Beneditino, que usava sinais para se
comunicar por conta de um voto de silencia que havia feito na Espanha, sua terra natal. A
partir disso, observou-se que Leon dominava muitas ciências e seu trabalho foi reconhecido
por toda a Europa, a ele conferiu-se o crédito da descoberta de que a PS era capaz de realizar
atividades diversas, como qualquer ser humano, inclusive, a de raciocinar. Com base nisso, a
pessoa surda passou a ser vista com mais igualdade, uma vez que houve uma comprovação de
que a cognição não estava relacionada à audição de palavras (SCHLUNZEN; DI
BENEDETTO; SANTOS, 2013). Em 1750, um dos responsáveis pela mudança na história da
educação dos surdos foi o abade Charles Michel de l’Épée. Ele aprendeu com os surdos
pobres que viviam nas ruas de Paris a língua de sinais e introduziu esse sistema de signos na
educação de outros surdos, possibilitando uma transformação significativa da realidade. O
religioso fundou a escola que viria a ser o Instituto de Surdos de Paris (Perello, Tortosa, 1978;
Rabelo, 2001). Com isso, Entre os séculos XVIII E XIX foram surgindo as primeiras escolas
especiais que eram voltadas as pessoas com deficiência que conseguiam se adaptar a algum

2
tipo de ensino formal, com o objetivo de serem inseridas de algum modo em suas famílias e
sociedade. Assim, surgem diversas instituições especializadas, e no Brasil não foi diferente,
em 1857, foi fundada a primeira escola para surdos em solo brasileiro, Instituto dos Surdos-
Mudos, o atual Instituto Nacional da Educação dos Surdos (INES). (LANNA, 2010, p12-13).

DESENVOLVIMENTO

Antes de tudo, é fundamental compreender que na Europa, durante o século XVIII,


surgiram duas tendências distintas na educação dos surdos: o gestualismo (ou método francês)
e o oralismo (ou método alemão). Muitos educadores não reconheceram o gestualismo e
atuavam numa linha oralista. Defensores do oralismo, valorizavam somente a língua oral na
reabilitação e não admitiam o uso dos sinais, pois os consideravam prejudiciais para o
desenvolvimento e incapazes de promover a educação e assim instaurou-se uma guerra entre
educadores de surdos (LACERDA, 1998, p. 3; Eiji, 2020). A história dos surdos passou por
diversas transformações, isto é, períodos de revelações e isolamentos culturais, isso porque os
anos que sucederam 1800 foram marcados por conturbadas interpretações e reinterpretações
pelos educadores de surdos. Dessa forma, Os países da Europa que tiveram influência nos
interesses e necessidades da comunidade surda, assim como os Estados Unidos, começam a
refletir sobre o papel da escola em não mais ensinar sinais e, exclusivamente, a palavra e seu
significado. Foi iniciado um legado de educadores drasticamente defensores do oralismo, ou
seja, aqueles que ensinavam os surdos a falar, se opondo à língua de sinais (LEVY, 2019).
Em 1878, foi realizado em Paris o I Congresso Internacional de Educação de Surdos,
que aprovou uma resolução considerando que só a instrução oral podia incorporar o surdo na
sociedade e que o método articulatório, que incluía a leitura labial, devia ser preferido a todos
os outros (GOLDFELD, 1997; GHIRARDI, 1999; Rabelo, 2001; CARVALHO, 2007). Ainda,
assim, a educação para os surdos continuou a ser questionada, com o argumento de que o uso
simultâneo de fala e sinais era considerado prejudicial para o aprendizado da leitura labial e a
precisão das ideias. A partir disso, em 1880 ocorreu mais um congresso, o II Congresso
Internacional de Educação de Surdos, em Milão, com o objetivo de estabelecer critérios
internacionais e científicos para a educação dos surdos. As resoluções oriundas desse
congresso trouxeram uma completa mudança na vida dos surdos Foi deliberado que apenas a
língua oral de seu país deveria ser aprendida, atribuindo à língua de sinais o estatuto de língua
3
inferior. (PADDEN, HUMPRIES, 1996). Assim, a educação de alunos surdos foi
empobrecida.

No metade do século XX, Com o desenvolvimento da linguística, vista como a ciência


que se ocupa em estudar as características da linguagem humana , juntamente com
movimentos em prol da inclusão social e visibilidade das pessoas com deficiência por todo o
mundo surgiu a percepção de que era impossível fazer com que os surdos deixassem de
sinalizar e que apenas o oralismo puro não estava ensinando os discentes (LEVY, 2019). A
partir disso, fundamentou-se a comunicação total, isto é, o surdo deveria utilizar sinais em
determinadas situações e a oral em outras ocasiões, diversos países perceberem que a língua
de sinais deveria ser utilizada (CARVALHO, 2011). Além disso, em 1980, foram divulgados
os pressupostos da filosofia educacional denominada bilinguismo, cujo objetivo era que o
surdo fosse bilíngue. Um diferencial profundo nesta concepção é a aceitação surdez, dado que
o surdo não precisa almejar uma vida semelhante ao ouvinte. Nessa filosofia, priorizava-se, o
mais precocemente possível, a exposição da criança a duas línguas – a de sinais e a oral de seu
país – e a estimulação ao uso de ambas. (QUADROS, 1997; MOURA, 2000).

É importante, também, pontuar que, no Brasil, o povo surdo, durante todo esse tempo
de luta para sentimento de pertencimento social, estava permanecendo nas escolas de surdos,
e não sendo integrados a uma educação, realmente, inclusiva. (LEVY, 2019). Com isso, a
partir de mobilizações nacionais, em busca do reconhecimento da libras como língua e a
importância de uma educação bilíngue, foi implementada a política que hoje chama-se
Educação inclusiva, na qual houve o fechamento das escolas especiais, e a integração dos
surdos em escolas regulares (SOUTO, 2014). Além disso, em 1982, por iniciativa de
movimentos sociais, o dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência foi instituído no
Brasil, sendo oficializado pela lei N° 11.133, de 14 de julho de 2005. Foi escolhido o dia 21
de setembro por estar próximo da primavera, isto é, aparecimento das flore, fenômeno que
representaria o nascimento e a renovação da luta das pessoas com deficiência por maior
inclusão social em todo o país (LEVY, 2019).

A luta persistente e sistemática do povo surdo culminou com a oficialização da Libras,


aprovada e publicada no Diário Oficial da União, na forma do decreto n.5.626, de 22 de
dezembro de 2005, que regulamentou a lei n.10.436/02, de 24 de abril de 2002. A Libras foi
reconhecida como meio legal de comunicação e expressão da comunidade surda brasileira
(Soraya et al., 2013). A aprovação dessa lei garante o acesso e o ensino de Libras, a formação

4
de instrutores e intérpretes e a presença de intérpretes nos locais públicos. Dessa forma, O
impacto dessa acessibilidade conduz a inserção da Libras para além das relações cotidianas
(FELIPE, 2013). Nesse contexto, compreende-se que o povo surdo forma uma comunidade
com cultura, língua e identidade próprias (CARVALHO, 2011).

CONCLUSÃO

Portanto, nota-se que o povo surdo vem buscando o sentimento de pertencimento e


inclusão social desde os séculos passados, enfrentando impasses e isolamentos culturais.
Diante disso,

Referências:

Henrique, Timótheo Machado. Educação de Surdos – aspectos históricos-linguísticos-culturais da


comunidade surda. Revista Educação Pública, v.21, n° 35, 2021. Disponível em:
https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/21/35/educacao-de-surdos-r-aspectos-historico-linguístico-
culturais-da-comunidade-surda.

LEVY, Cilmara Cristina Alves da Costa. História da Surdez. São Luís: Universidade Federal do
Maranhão. UNA-SUS/UFMA, 2019.

SCHLÜNZEN, Elisa Tomoe Moriya; DI BENEDETTO, Laís dos Santos; SANTOS, Danielle Aparecida
do Nascimento. História das pessoas surdas: da exclusão à política educacional brasileira atual – Disciplina
Libras - Prograd. 2013. Disponível em: http://acervodigital.unesp.br/handle/123456789/65523. Acesso em: 15
mar. 2013.

5
DUARTE, Soraya Bianca Reis et al. Aspectos históricos e socioculturais da população surda.
História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v.20, n.4, out.-dez. 2013, p.1713-1734.

Você também pode gostar