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LIBRAS

Mariana Isidoro de
Alencastro
Revisão técnica:
Joelma Guimarães
Graduada em Pedagogia — ênfase em Educação Infantil
Especialista em Alfabetização
Especialista em Administração, Orientação
e Supervisão Escolar
Especialista em Educação Infantil
Mestre em Educação

P728l Plinski, Rejane Regina Koltz.


Libras [recurso eletrônico] / Rejane Regina Koltz Plinski,
Carlos Eduardo Lima de Morais, Mariana Isidoro de
Alencastro; [revisão técnica: Joelma Guimarães]. – Porto
Alegre: SAGAH, 2018.

ISBN 978-85-9502-459-5

1. Língua brasileira de sinais. I. Morais, Carlos Eduardo


Lima de. II. Alencastro, Mariana Isidoro de. III.Título.

CDU 378

Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin CRB -10/2147


História da educação
de surdos
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Reconhecer os marcos históricos na educação dos surdos.


 Diferenciar os principais métodos de ensino aplicados dentro do
período estudado.
 Identificar as influências que as transformações ocorridas trouxeram
para a atualidade.

Introdução
Desde os primórdios da humanidade há registros de pessoas “diferentes”,
ou seja, aquelas que estavam fora dos padrões da sociedade. Eram con-
sideradas dentro da normalidade aquelas pessoas com estatura similar
aos outros, com todos os membros, com capacidade de ver, ouvir, falar,
pensar e de procriar a espécie. Todas aquelas que não faziam parte desse
padrão eram consideradas “anormais”.
Tudo isso envolve as percepções da sociedade, como os conceitos de
ética e moral, que estão ligadas à época vivenciada. Associam-se também
os valores culturais e religiosos como influência. Dentro do contexto
religioso há registros de que na trajetória educacional dos surdos, os
padres, monges e frades tiveram um papel importantíssimo, pois eles
passaram a ensinar os surdos e as pessoas com deficiência. Essa ação dos
religiosos fez com que se iniciasse uma nova era na história dos surdos,
pois deu-se os primeiros passos para a integração em sociedade com o
objetivo de oportunizar o acesso à educação e ao trabalho aos surdos.
Na Grécia antiga, na qual se cultuava o corpo e a beleza física, as
pessoas com deficiência eram afastadas da sociedade, sendo privadas
do convívio social e posteriormente atiradas ao rio Tibre. Segundo Sil-
veira (2012), as pessoas com deficiência eram vistas como um perigo à
sociedade, já que eram incapacitadas de procriar a própria espécie. Em
74 História da educação de surdos

algumas culturas as pessoas com deficiência eram associadas a imagens


demoníacas, a forças sobrenaturais que as levavam a serem imperfeitas
e associadas também com bruxaria e feitiçaria. No século XIX, há registro
de algumas tentativas de recuperação e reconstrução de membros;
em alguns casos não só de membros, mas também a reconstrução do
psíquico.

A história da língua brasileira de sinais


A língua brasileira de sinais (Libras) é utilizada como meio de comunicação
sinalizada por surdos e ouvintes. Existe um número expressivo na esfera de
brasileiros natos, levando em conta o crescente número de usuários da língua,
mesmo que esse número não seja preciso. Inclusive, no ano de 2010, o IBGE
constatou que existe aproximadamente 9.722.163 milhões de brasileiros com
problemas de audição, sendo que 2,6 milhões são surdos (FUNDAÇÃO DE
ARTICULAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE POLÍTICAS PÚBLICAS
PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA E COM ALTAS HABILIDADES
NO RIO GRANDE DO SUL, 2011).
A Libras é uma das línguas utilizadas no Brasil e reconhecida nacionalmente
pela Lei nº 10.436/2002. Embora seja uma das línguas faladas nacionalmente,
ainda há um número relevante de pessoas que vê a Libras apenas como mímica,
gestos soltos no ar, movimentos sem nexo ou, ainda, simplesmente uma cópia
fiel da língua portuguesa. Pesquisas na área da linguística aplicada apontam
que há uma complexidade na estrutura gramatical da língua, inclusive ao que
se refere às formas de expressão e a sua contextualidade, assim como qualquer
outro idioma ou língua oral, conseguindo expressar ideias de diversos níveis
de compreensão e complexidade.
Em 2005 ocorreu mais um fato importante para a comunidade surda no
Brasil, a regulamentação do Decreto n° 5.626/2005 que regulamenta e oficia-
liza a difusão da língua de sinais e a insere como disciplina obrigatória nas
instituições de ensino, para a formação de professores, instrutores de libras.
Além disso, esse decreto auxilia na divulgação da língua de sinais brasileira
e do português para as pessoas com deficiência auditiva/surdos, nos cursos de
formação de tradutores e intérpretes de libras, assim como, garante o direito
ao acesso à saúde e à educação para surdos.
A Libras foi criada a partir da língua de sinais francesa. Com a vinda
do francês Eduard Hernest Huet para o Brasil, que foi aluno do Instituto de
Paris, a educação de surdos teve início durante o segundo império. Nessa
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época, promoveu-se a Libras, com forte influência da França. No entanto,


não havia escolas especiais para surdos, por isso Huet solicitou ao imperador
Dom Pedro II um estabelecimento para educar os surdos brasileiros. No
dia 26 de setembro de 1857 foi fundado o instituto de surdos-mudos do Rio
de Janeiro, atualmente conhecido como Instituto Nacional de Educação de
Surdos (INES).
A partir desse momento, o Brasil deu seus primeiros passos para a edu-
cação de surdos, utilizando o ensino do alfabeto manual. Em meados de
1911, o INES adotou a metodologia do oralismo para que os surdos tivessem
a oportunidade de se comunicar e conseguir com eficácia expressar suas
vontades e pensamentos.

Metodologia oralista
Entre 1930 e 1947, o doutor Armando Paiva Lacerda desenvolveu sua meto-
dologia com base na oralização, a qual nomeou de pedagogia emendativa.
Acreditava-se que a oralização era a única forma de inserir o surdo na socie-
dade. O processo pelo qual uma sociedade expulsa alguns de seus membros
obriga a que se interrogue sobre o que, em seu centro, impulsiona essa dinâmica
(CASTEL, 1998 apud QUADROS, 2006, p. 14).

Para esclarecimento, utilizaremos o termo “Surdo”, pois se refere ao deafhood; e não


“deficiente auditivo” ou DA, já que é popularmente conhecido na comunidade surda,
por ficar limitado apenas a questões clínicas da deficiência.

No INES, ainda na gestão de Lacerda e para o êxito de sua metodo-


logia, os surdos eram submetidos a testes que tinham como finalidade a
identificação do nivelamento da inteligência ou a aptidão para o exaustivo
processo de oralização. E, de acordo com as capacidades cognitivas, os
surdos eram separados em grupos. O nivelamento cognitivo era necessá-
rio, pois era o meio encontrado para garantir o sucesso do método pela
pedagogia emendativa.
76 História da educação de surdos

Após 100 anos de existência, o INES contou com o primeiro profissional na


área da educação, a diretora e professora Ana Rímoli de Faria. Para a época foi
uma grande inovação, principalmente com a implantação do curso Normal de
formação de professores para surdos. No país o curso tornou-se referência, tinha
duração de três anos e sua base era voltada para a metodologia do oralismo.

Comunicação total
Em 1970, conheceu-se a terminologia comunicação total. A educadora Ivete
Vasconcelos a trouxe para o Brasil, pois lecionava para surdos na universi-
dade de Gallaudet e a utilizava. Algumas décadas após a breve passagem
de Vasconcelos pelo território brasileiro, começou a ser difundido no país o
bilinguismo. As pesquisas realizadas na área da linguística pelas educadoras
Lucinda Ferreira Brito e Eulália Fernandes foram um grande incentivo para
o desenvolvimento e a difusão da educação de surdos no Brasil.
Com o passar dos anos, a oralização foi perdendo a força no processo de
ensino e aprendizagem dos surdos. Atualmente, nas escolas especiais para
surdos não é utilizada a oralização; no entanto, algumas escolas disponibilizam
o tratamento com fonoaudiólogo para as técnicas de oralização para aqueles
que desejam “falar”. Nas escolas de hoje em dia, a LSB é fundamental para
o aprendizado dos surdos, respeitando sempre as peculiaridades da língua e
da cultura da comunidade surda.

Bilinguismo
Em meados da década de 1980, surge o bilinguismo no Brasil. Muitos pesqui-
sadores linguistas começaram a estudar e a discutir sobre esse novo método
de ensino para surdos. Esta proposta reconhece o sujeito surdo e seu idioma, a
língua de sinais; além disso, essa prática educacional proporciona percepções
mentais, cognitivas e visuais e tem capacidade para analisar os conceitos de
modo subjetivo e objetivo sobre as informações recebidas, respeitando as
caraterísticas e regras gramaticais do idioma.
A declaração de Salamanca é considerada um dos principais documentos
mundiais, pois visa à inclusão social, consolidando a educação inclusiva e
tendo sua origem atribuída aos movimentos de direitos humanos. Uma das
implicações educacionais orientadas a partir da declaração de Salamanca
refere-se à inclusão na educação (FERREIRA, 2007).
História da educação de surdos 77

A declaração de Salamanca salienta e reafirma os direitos de todos há edu-


cação, favorecendo a educação inclusiva, abrindo caminho para os movimentos
humanos e auxiliando nas orientações educacionais na educação especial.

Para ler mais sobre a declaração de Salamanca acesse o


link abaixo ou o código ao lado.

https://goo.gl/aJbxeD

BRASIL. Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005. Regulamenta a Lei no 10.436, de


24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras, e o art.
18 da Lei no 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Brasília: Presidência da República,
2005. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/
decreto/d5626.htm>. Acesso em: 9 mar. 2018.
BRASIL. Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de
Sinais - Libras e dá outras providências. Brasília: Presidência da República, 2002.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2002/L10436.htm>.
Acesso em: 9 mar. 2018.
FUNDAÇÃO DE ARTICULAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE POLÍTICAS PÚBLICAS PARA
PESSOAS COM DEFICIÊNCIA E COM ALTAS HABILIDADES NO RIO GRANDE DO SUL.
Censo 2010 – Pessoas com Deficiência – Primeiros Resultados. Porto Alegre: FADERS,
2011. Disponível em: <http://www.portaldeacessibilidade.rs.gov.br/portal/index.
php?id=noticias&cod=2128>. Acesso em: 30 set 2012
NASCIMENTO, L. M. Educação especial: cadernos de estudos. Indaial: Uniasselvi, 2011.
QUADROS, R. M. (Org.). Língua de sinais brasileira: estudos linguísticos. Porto Alegre:
Artmed, 2006.SILVEIRA, T. S. Educação inclusiva: caderno de estudos. Indaial: Unias-
selvi, 2012.
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Leituras recomendadas
FENEIS. Site. [S.l.]: FENEIS, c2017. Disponível em: <http://www.feneis.org.br/>. Acesso
em: 30 set. 2012.
FERREIRA BRITO, L.; FERNANDES, E. A aquisição do português por surdos sob uma
perspectiva semântico-pragmática. In: CONGRESSO DA SIPLE – DESAFIOS E RESPOSTAS
PARA O ENSINO DE PORTUGUÊS COMO SEGUNDA LÍNGUA, 3., 2007, Brasília. Anais...
Brasília: UnB, 2007.
HONORA, M.; FRIZANCO, M. L. Livro ilustrado de língua brasileira de sinais: desvendando
a comunicação usada pelas pessoas com surdez. São Paulo: Ciranda Cultural, 2009.
MANZINI, E. J. Considerações sobre a elaboração de roteiro para entrevista semi-estru-
turadas. [S.l.: s.n., 2000?].
MANZINI, E. J. Entrevista semi-estruturada: análise de objetivos. In: MARQUEZINE,
M.C.; ALMEIDA, M.A; OMOTE, S. (Org.). Colóquios sobre pesquisa em educação especial.
Londrina: UEL, 2003, p. 11-25.
PERLIN, G.; MIRANDA, W. Ponto de vista: processos inclusivos em diferentes espaços
educativos. 5. ed. [S.l.: s.n.], 2003.
QUADROS, R. M. Estudos surdos I, parte A. [S.l.]: Editora Arara Azul, 2006.
QUADROS, R. M. Estudos surdos I, parte B. [S.l.]: Editora Arara Azul, 2006.
VILHALVA, S. Pedagogia surda. Petrópolis: Arara Azul, [2000?]. Disponivel em: <http://
www.editora-arara-azul.com.br/pdf/artigo8.pdf>. Acesso em: 30 set. 2012.
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