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LÍNGUA BRASILEIRA DE

SINAIS -
LIBRAS
Profa. Dra. Rita de Cácia Santos Souza
(DED/Núpita/UFS)
Profa. Dnda. Adriana Alves Novais Souza
(PPGED/ Núpita/UFS)
LIBRAS

Aspectos históricos da
surdez
A história começa impedindo o sujeito
surdo de ser”
Gladis Perlin (1998)
Idade Antiga (476 D.C) Idade Média (476 – 1453)

Eram queimados em
Castigo divino
fogueiras

abandono, eliminação, Lei da proibição da


escravidão herança

Para Aristóteles a
Proibidos de votar e de
linguagem era condição
direitos cidadãos.
humana

Voto de silêncio dos


monges beneditinos
IDADE MODERNA
PedroUsava
Ponce de Leon
datilologia,
Foi o primeiro Não publicou em vida,
treinamento da voz e
professor de surdos método foi esquecido
leitura orofacial

Abade Michel de l’EpéePrimeira escola


Contato com surdas Estudou os surdos
pública: Uso dos
que usavam gestos carentes de Paris
Sinais metódicos

Samuel Heinicke
Integração pelo Primeira escola pública
Não divulgava seu
aprendizado da língua baseada no método
método
oral. oral.
Educação de surdos na América

• Abade Charles Michel de l’Epée fundou 21 escolas para


surdos na França e na Europa;
• Thomas Hopkins Gallaudet parte à Europa para buscar
métodos de ensino de surdos e conhece Laurent Clerc, do
Instituto de Paris.
• Em 1815, fundam a primeira escola para surdos americana,
o Asilo Hartford, posteriormente denominado Instituto
Gallaudet.
• Em 1864, o instituto deu lugar à Universidade Gallaudet,
primeira universidade para surdos do mundo.
ENQUANTO ISSO, NO BRASIL...

Em 1855, Eduardo Huet, professor de surdos


francês chega ao Brasil, com apoio de D. Pedro
II.

Em 1857, foi fundada a primeira escola para


surdos no Rio de Janeiro, o “Imperial Instituto dos
Surdos-Mudos”, hoje, “Instituto Nacional de
Educação de Surdos”– INES, em 26 de
setembro.
Método único
para educação
da pessoa
surda
Unidade
Superioridade
linguística
da fala como
como resgate
forma de
da identidade
expressão
cultural

Congresso
Internacional
de Educação
de Surdos,
Milão, 1880
Curiosidades sobre o Congresso
[...] havia 164 delegados no evento, sendo uma boa maioria de franceses
e italianos a favor do oralismo, votou pela proibição da língua de sinais
nas escolas da época. Com a influência de Graham Bell pelas criações
de aparelhos auditivos, admirados e criados como uma solução para a
“cura” da surdez, o Congresso finalizou com a aprovação do método oral,
único e exclusivo para a educação de surdos (STROBEL, 2009, p. 33);

Os congressistas surdos não tiveram direito de votar sobre o que


consideravam melhor para a sua condição;

Uma das justificativas para a abolição dos sinais era a de que destruía a
capacidade da fala dos surdos, alegando-se que eram “preguiçosos”
para falar, reabilitando-os à “normalidade” (Goldfield, 1997);

O Congresso de Milão não foi o marco do oralismo; apenas legitimou,


com o aval da medicina e de outras áreas da saúde, práticas e políticas
que já existiam em vários lugares do mundo, com grande número de
adeptos (SKLIAR, 2016).
• Envolvimento e dedicação: criança, família e escola;
• Início da reabilitação o mais precoce possível;
• Não oferecer outro meio de comunicação que não seja
oral;
• Participação ativa da mãe;
• Profissionais especializados: fonoaudiólogo e pedagogo;
• Aparelho de amplificação sonora;
• Como o surdo não tem palavra em sua mente, somente
pode aprender por meio de sinais que assimilam pelo
contato visual.
CONSEQUÊNCIAS
L.S. totalmente proibida e estigmatizada

Figura do professor surdo começa a desaparecer, pois aos


poucos foram sendo demitidos;

Domínio da língua oral passou a ser condição indispensável


para a sua aceitação social;

Grande parte dos surdos profundos não desenvolveu uma fala


socialmente satisfatória;

Nível de aprendizagem da leitura e escrita dos surdos após


anos de escolaridade era muito ruim;
MÉTODO DE COMUNICAÇÃO
TOTAL
• Desenvolvido por Dorothy Schifflet;
• Pautado na comunicação surdo-ouvinte, utilizava todas as
formas de comunicação possíveis, inclusive ao mesmo
tempo (bimodalismo);
• Preocupa-se com a aprendizagem da língua oral pela
criança surda, mas prioriza os aspectos cognitivos,
emocionais e sociais, pois não acredita que a língua oral
assegure seu pleno desenvolvimento;
• Defende a utilização de qualquer recurso espaço - visual
como facilitador da comunicação;
• Chegou ao Brasil na década de 70 e ainda é adotada em
escolas atualmente. Os Estados Unidos é o maior
representante desta abordagem.
BILINGUISMO

• 1960- Pesquisas de Willian Stokoe sobre a língua de


sinais americana.
• Baseados nas pesquisas de Stokoe, outras publicações
sobre língua de sinais surgiram, manifestando a
insatisfação de muitos educadores de surdos com o
método oralista, promovendo um movimento em favor da
legitimação da língua de sinais em outros países e a uma
revisão estrutural dos currículos das escolas para pessoas
surdas
• A partir de 1980 o bilinguismo para surdos ganha espaço
no cenário mundial.
FILOSOFIAS EDUCACIONAIS DA SURDEZ

Comunicação
Oralismo Bilinguismo
Total
• A língua da • Língua da • Aquisição da língua
comunidade comunidade de sinais como a
ouvinte ouvinte. primeira língua
• Foco na fala • A língua de sinais • Foco na
como recurso para modalidade escrita
o aprendizado da da L2
língua oral • Método de ensino
• Libras sem status de língua adicional.
de língua
• O Bilinguismo entra em cena com a proposta de uso da
Língua de Sinais;
• Estudos Surdos (1980)- estuda a surdez para além de
uma experiência biológica, abordando e compreendendo
os fenômenos sociais, culturais, políticos, linguísticos e
discursivos vivenciados por surdos desde uma
perspectiva cultural, tendo a surdez como marcador da
diferença e não como experiência da falta, realizando
pesquisas cujo foco é abordar temas relevantes para
surdos a partir da visão surda;
Reconhecimento linguístico da Libras
Lei 10.436
de
24/04/2002

Lei 12.319 Decreto


de 5.626 de
01/09/2010 22/12/2005

Lei 7.611
de
17/11/2011.
Art. 1º É reconhecida como meio legal de comunicação e
expressão a Língua Brasileira de Sinais - Libras e outros
recursos de expressão a ela associados.
Art. 2º Deve ser garantido, por parte do poder público em geral
e empresas concessionárias de serviços públicos, formas
institucionalizadas de apoiar o uso e difusão da Língua
Brasileira de Sinais - Libras como meio de comunicação
objetiva e de utilização corrente das comunidades surdas do
Brasil.
Art. 3º As instituições públicas e empresas concessionárias de
serviços públicos de assistência à saúde devem garantir
atendimento e tratamento adequado aos portadores de
deficiência auditiva, de acordo com as normas legais em vigor.
Parágrafo único. A Língua Brasileira de Sinais - Libras não
poderá substituir a modalidade escrita da língua
portuguesa.
DA INCLUSÃO DA LIBRAS COMO
DISCIPLINA CURRICULAR
Art. 32 A Libras deve ser inserida como disciplina curricular
obrigatória nos cursos de formação de professores para o
exercício do magistério, em nível médio e superior, e nos
cursos de Fonoaudiologia[...]
§ 22 A Libras constituir-se-á em disciplina curricular
optativa nos demais cursos de educação superior e na
educação profissional, a partir de um ano da publicação
deste Decreto.
Para garantir o atendimento educacional especializado e o acesso previsto
no caput, as instituições federais de ensino devem:
1 - promover cursos de formação de professores para: o ensino e uso da
Libras; a tradução e interpretação de Libras - Língua Portuguesa; o ensino
da Língua Portuguesa como segunda língua para pessoas.

2 - ofertar, obrigatoriamente, desde a educação infantil, o ensino da Libras e


também da Língua Portuguesa como segunda língua para alunos surdos.

3 - prover as escolas com: professor de Libras ou instrutor de Libras;


tradutor e intérprete de Libras - Língua Portuguesa; professor para o ensino
de Língua Portuguesa como segunda língua para pessoas surdas;
professor regente de classe com conhecimento acerca da singularidade
linguística manifestada pelos alunos surdos [...].

4 - adotar mecanismos de avaliação coerentes com aprendizado de


segunda língua, na correção das provas escritas, valorizando o aspecto
semântico e reconhecendo a singularidade linguística manifestada no
aspecto formal da Língua Portuguesa;
Novos ares
• Lei da Libras é resultado de luta e de muita reivindicação por
parte da comunidade surda;
• Destaque para a Feneis, INES e o Congresso Latino-Americano
de Educação Bilíngue para Surdos, ocorrido em 1999, em Porto
Alegre, que elaboraram o documento intitulado “A educação que
nós surdos queremos”, em que registravam seu direito enquanto
minoria linguística de reconhecimento da língua de sinais como
língua de instrução.
• Criação do primeiro curso de Letras Libras no país, na
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), na modalidade à
distância, em 2005 (QUADROS; STUMPF, 2014);
• Expansão do curso a partir de 2013 com o Plano Nacional dos
Direitos da Pessoa com Deficiência, o Viver sem Limite (Brasil,
2013).
• Atualmente...
ATENÇÃO
• O povo surdo é o grupo de sujeitos surdos que têm
costumes, história, tradições em comum e pertencem às
mesmas peculiaridades, ou seja, constroem sua concepção
de mundo através da visão.

• A comunidade surda não é composta só de surdos, já que


agregam sujeitos ouvintes: família, intérpretes, professores,
amigos e outros que participam e compartilham os mesmos
interesses em comum e defendem os direitos das pessoas
surdas.
TODO SURDO É IGUAL? (Perlin, 1998)

Surdos que nasceram


Surdos que nasceram de pais
ouvintes e, com o tempo, se
ouvintes e, com o tempo,
tornaram surdos têm
passaram a fazer parte da
presentes duas línguas, a oral
comunidade surda.
e a de sinais.

Surdos que querem ser


Surdos que nasceram de pais
ouvintes e não têm
ouvintes, mas negam a
compromisso com a
identidade surda.
comunidade surda.
Para refletir
• A história da surdez, aqui brevemente retratada, é, para muitos
surdos, motivo para que se sintam excluídos, estrangeiros,
exilados, forasteiros.
• As dificuldades enfrentadas por uma pessoa surda ao nascer
só podem ser minimamente imaginadas por uma pessoa
ouvinte.
• Não fomos “privados nem desafiados linguisticamente como os
surdos”, mas em contrapartida, “não descobrimos, ou criamos,
uma língua surpreendentemente nova” (SACKS, 2010, p. 101).
• A surdez não precisa ser uma sentença terrível: se a criança é
exposta à língua e ao diálogo, são inúmeras as possibilidades.
• É importante o reordenamento e a (re) construção de uma
educação de surdos: Não é possível apagar ou reescrever o
passado, mas sempre é possível escrever novas histórias, sob
outras perspectivas e discursos.
O encontro com a comunidade surda permite-
lhes sair do lugar do diferente, do excluído, do
estranho, do estrangeiro, para o de
“pertencimento”, um lugar em que se encontram
como iguais, sentem-se entendidos e
efetivamente conseguem estabelecer uma
relação de troca. Gladis Dalcin (2006).

Bons estudos!
Até a próxima aula!
REFERÊNCIAS
• GOLDFELD, M. A criança surda: linguagem e cognição numa perspectiva
sociointeracionista. 7ª Ed. - São Paulo: Plexus Editora, 2002PERLIN, G. T.
Histórias de vida surda: Identidades em questão. Dissertação (Mestrado)
- Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1998.
• PERLIN, G.; STROBEL, K. Disciplina Fundamentos da educação de
surdos. Universidade Federal de Santa Catarina: Licenciatura e
Bacharelado em Letras/ Língua Brasileira de Sinais, Florianópolis, 2008.
• SACKS, O. Vendo vozes: uma viagem ao mundo dos surdos. Trad. Laura
Teixeira Motta. São Paulo: Cia das Letras, 2010.
• SKLIAR, C. Um olhar sobre nosso olhar acerca da surdez e as
diferenças. In: SKLIAR, Carlos. (org.). A surdez: um olhar sobre as
diferenças. Porto Alegre: Mediação, 2016a.
• STROBEL, Karin. História de educação dos surdos. Apostila elaborada
para disciplina de curso de Licenciatura de Letras/Libras, UFSC,
Florianópolis, 2008.

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