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MARCELO DASCAL

(ORG. )
FUNDAMENTOS METODOLÓGICOS DA LINGUÍSTICA
cJP-Brasil, eata1ogação-na-Fonte
Câmara Brasileira do Livro, SP VOLI
Fundamentos metodológicos da Iingüfstica / Marcelo
Dascal org. - São Paulo: Global, 1978 -

,;_ JYJ~
-. .ati \
·'l) \.
F9T1 ' · (Global universitária : Série
v. 1- Ungllagem, comumcaçao
· • e soei'edade)
~
Texto de vários autores por diversos tradutores.
Bibliografia.
Conteúdo : v;, 1. Concepções gerais da teoria lin-
gu!stica.
1. LingUagem 2. Lingüistica I. Dascal, Marcelo,
1940 - II. Título.
CDD-410
78-06.53 -400
CONCEPÇÕES GERAIS
tndices para catálogo sistemâtico DA
1. Linguagem 400
2. Ling(lfstica 410 TEORIA LINGUÍSTICA
M.DASCAL
L. BLOOMAELD
N. CHOMSKY
G. LAKOFF
M. HALLIDAY
- ·\ l : t , ~lnNY'IVlol'.,_, _ _ _ _
'
cor>Yrlght
GLOBAL EDITORA
Cl 1978 E DISTRIBUIDORA LTOA,
\
1'
Rtvlilo: Arm1ndlna V•"'nclo ÍNDICE DO VOLUME 1
Prefácio . . . . . . . . • . . • . . . . . . • • • . . • . . . . . . . . . 9
Capa: Projeto - Su•II Bicha 1ntrodução . . . . . . . . . . . • . . • • • . . • • . . . . . . . . . 15
Arte Final - Darlon Marcelo Dascal
As Convulsões Metodológicas da Lingü ística Contem-
porânea . . . . . . . . . . . . . . . • . . . . • . . . . . . . . . . . 15
PARTE 1: CONCEPÇÕES GERAIS DA TEORIA
LINGÜl~TICA .... .· ...................... 43
N~ d1 Cat.logo - 1099
't,
1- Leonard 8/oomfield
Um Conjunto de Postulados para a Ciência da Lingua-
gem (1926). .. ........................... 45
2- Noam Chomsky
Modelos Explanatórios em Lingü(stica (1962) . . . 61
Rllltfvadoa TOdoa 01 Olr1lto1 P0r ,, 3- George Lakoff
GLOBAL EDITORA E DISTRIBUIDORA LTOA. Semântica Gerativa ( 1971) . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94
Ru, JQl6 Antõnlo Coelho, 814. CEP 04011 - Slo P1ulo 4- M. A. K. Halliday
Com1101101 lmllrlaao na EDITORA PARMA LTOA. As Bases Funcionais da Linguagem (1973). ...... 125
Rui d1 V6rz11, 394 - Sfo Paulo - Braail
7
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1 ~···~. -- . ... Zü .. .
l
ENSAIO INTRODUTORIO
As Convultões Metodológica da
Lingü íltica Colltlrnporfna
Marcelo Ducal
l
1
,. J .
Ê prática corrente, no ensino da lingµística, apresen- \
. tar-se ao estudante uma imagem mais 01:1 menos monolítica e
homcgênea da ciência à qual é iniciado. Limita-se o ensino
aos tex.tos mais recentes da teoria considerada "correta"
pelos organizadores .do currículo. As teorias rivais são sim•
plesmente ignoradas ou então relegadas a um plano total-
mente secundário, sendo interpretadas como "desvios" sem
importância da doutrina "correta". Além disso, raramente
considera-se .necessário apresentar esta doutrina dentro de
uma perspectiva histórica. Nos raros casos em que isto é feito,
os autores do passado são apresentados como meros "pre-
cursores" da teoria presente favorecid~·.b...½
Tais procedimentos não são cf apanágio da lim:1üístlca.
Nas demais ciências, especialmente as que se vangloriam de
ter atingido há muito sua maturidade, eles também são práti-
ca corrente. Afinal, o que "interessa" é Iniciar os novos
aprendizes nos segredos dos problemas, métodos e técnicas
mais "avançados" de uma ciência, para que possam começar a
"produzir" o mais rapidamente poss(vel, como cientistas. As-
~im, acredita-se, aumentará com rapidez nosso saber, o
estoque de nossos conhecimentos e, conseqüentemente, a
possibilidade de utilizá-los para o bem-estar do homem.
Uma atitude como essa, porém, embora possa talvez
·contar a seu favor resultados práticos (o que considero duvl-~
• doso) , pressupõe uma concepção extremamente questionável
do desenvolvimento da ciência e da "produção " científica.
Segundo ela, "produzir" em ciência seria acrescentar ao esto-
que dos conhecimentos existentes novas peças, e o desenvol-
vimento da ciência seria essencialmente linear ou quasi-linear,
no sentido da acumulação de conhecimentos. Uma simples
17
1 l
~.c----- 1
-- -· . --l'lllUIII'-"!
"
la porém, basta para comprovar a
oa lh da à história da cliêncn~""'º· Os "avanços" cient(flcos
ddetaco .
8
lmplauslblllda ntes ·lmpll~m ~mp.re_num rompimento 1 a própria delimitação do objeto de estudo e ..
ea -- lado com 01 métodos, teorias e crltd-
. mente, também os resultados obtid , ~on~ouente-
r lmente
.-·- ~ ~- pronunc · ·
'- niãls ou menos de róbl.!"1ª' corren~emente~ e_!os. 1 Em vez essas mutações. Longe de terem c os - nada ficou _imune a
1/ ,101 de ~ • ~(nuo de acumulaçlo da saber, o que,. processar-se ainda hoje, diante de n:':o~º~,~~: ~ont1~uan:, a
àe ·um orocesso co~lstórla da ciência tS uma 1uce1S10 de rentes, muitas vezes opostas em rela--iro a questõ. eforiads d1fe-
t · f · 'l'G es un amen-
pode obse~ar n~elatlvamente bruscas, verdadeiras "convu1- a1s, con muam disputando a primazia dentro da lingüística
descontlnuidades5 ~ 11972) popularizou com o nome de atual. A evolução recente dessa disciplina porta t .
ções", que T. ~ ~ll;' :- ·t u1-se
· num campo pnv1leg1ado
. . . para estudo, d n. o, const1-
11 O
luções cjentíflcas · . . . os vai-e-vens do
!!!º · trar nos detalhes da teoria de Kuhn a respeito da pensamento c1entrf1co. De forma mais espec(fica os seg .
fatos con ferem uintes
1 ..
- Sem en
çã h'stórlca da ciência, que serao .. discut1'dos ma II ad'1an- • um .interesse particular ao estudo, da evouçao
evolu domo1s desde já tirar uma cone 1usão de cara"'ter " pratl- "' da 1...
mQU ,st1ca:
te, po e d . A 1. Q__~studo da linguagem humana transformou-se nos
" baseada no simples reconhecimento a ex1stunc1a e da
~op~rtância das "revoluções científicas". <Se há e se deve Qltimos cem a~~s, de uma disciplina "literária", de fu~ção
1m .,. . ,, ,, .< f IM(amente_auxillar .(do ponto de vista pedagógico) e de cará-
have, tais_revolucõe! para QY,La ç_1~nc1a_ avance , 1:: unda- ~r normativo, ero ,uma "ciência" na plena acepção do ter-
mental que a prática cient(fica, em oualquer momento, pre- mo - com todas suas conotações de prest(gio para uns e de es-
serve pelo menos a_lguns "interst(cios" ou "frestas" nos tigma para outros. A análise dessa transformação nos propor-
qüãifpõssam germinar as novas ldéiªç., semeates da tev..QJuçâ'o éionaria se'!1 dúvida uma certa compreensão das condições
cOiitra a própriaJ~_rática_cLentrf!ca exlste11_t~. Ou seja, IS Preci- sociológicas, psicológicas, históricas e epistemológicas da
so que a iniciação à prática científica não elimine de antemão, "emen:iência"de uma ciência.
entre os iniciados, todos os poss(veis "dissidentes" futuros. 2. _sucessão relativamente rápida, na história recente da
De um certo modo, é preciso até que ela estimule o surgimen- ljngü (stica, de teorias_e abordagens radicalmente distintas e
to de pelo menos algumas "dissidências" virtuais. Um melo conflitantes entre si parece indicar a ocorrência, nessa disci-
natural de se garantir isso parece ser o ensino, paralelamente piJnã;êfé vár.ias-.'. !.revoluçlSes cient(ficas" durante um períod_o
ao da prática dominante aceita, de abordagens que dela diver- r_!lativamente cy,:tp. A tentativa de verificação dessa tese po-
gem no presente ou que dela·divergiram no passado. A pre- de levar ao refinamento do conceito de "revolução científi-
sente antologia, ao apresentar lado a lado textos perten- ca" (e dos conceitos que lhe são associados) ou • sua rejeiçã'o,
ce~te~ a Pelo menos três concepções distintas do objeto e ou seja, pode servir como instrumento para a testagem dos
Principalmente dos métodos da lingü (stlca, conforma-se ple- modelos existentes da evoluçlo da ciência.
namente ao que acabo de sugerir. . 3. Os dois pontos anteriores adquirem especial interesse
st se levarmos em conta que a lingü(stica tem servido co~~
1A inve igaçlo cient(fica da linguagem humana objeto
da re ativamente • - modelo de "cientificidade" para as demais ciênçiãs'nuinª-nas
fre - --~CUrt11 ncia• e~ minada "lingü(stica" - so-
- - - --;-"'-- - - - - -- (basta lembrar certas pal.mlras:chav.e...co~stru.t~ralismo",
formações ( ~lt llCJa_,~urn grande numero de_trans~ "behaviorismo" ,_etc,). Ou seja, os resultados - quaisquer que
· s métodos de observação e andllse dos dados, - -- . .
1 finiçio como "clfncla". Muito, eutorn tentam localizar em fpocaa muito . nllil
remotas 011ntecedentt1 de teorl11 lingü/1tica1 c~ntempor,nea1 (p/x., ~~:~i•!::
· Nlo quero sugerir com isso que a história da llngü latice remonta apenas 1966 ) e tela qut1tc5t1 l(o bastante controv1rt1d11. Pa'.a ~m• pe lptCt I çl d1
•._do"'"''"'"°'·T,_ ''"" do -
18 .,,,.,_do_,, "'to-do- rica mal, ampla 1obre li continuidades • de1eont1;~;d1d11 na avo u o
retl,xlo 1obr1 a linguagem, vtr, por ,x,mplo, ~oblna 119 ·
19
t· ~·
Ili
.
·ses acima propostas. poderiam ser vistos
. _ das an ál I d mais ciências humanas. " norma I". • aos segi m_das. de cjêncja "extraordinária". Veja-
seiam sintomático~ para as _efoi uma ciência altamente cons- mos quais as caracteristicas de cada um deles.
1
l1 como4_ A lingü (st1ca sem -~a metodoló ico. O estudo de sua Dura_nte _um período "n~rmal"_de uma ciilncia, asativida- /J.~ w r
onto de v1 .
cientiza a O t revelar a influência que podem ter des dos c1ent1stas que a praticam sao regidas pelo que K h LPI'" ifl' ,Y
.. de portan o, . (f. d .. . d · d ,, u n NF
evoluçao po ' .. do método c1ent 1co, quan o sao mais e~omma e um paradigma:'.. Este é um dos conceitos cen- ' 1
trais e ao mesmo tempo mais ambíguos de sua teoria (3) E 'fJ .
diferentes conc~~ço~:nte assumidas pelas diferentes escolas · · · · m /) J. iwt°
1. h
m a~ ger?1~, um paradigma consiste em um conjunto~ {O ~
ou menos expllc_ita_ ,·na A tomada de consciência desse tipo
de uma d1sc1p 1 · • - .. • gras 1mp/1c1tas que regulam aspectos da atividade científica tr."
dentro . d ·nteresse do próprio 1mgu1sta, enquanto
1
de influência é .;aça..0 geral é do interesse do filósofo, do tais como a definição do que vem a ser um problema digno · / r,91 ~
ue sua caracter1 . . de se tornar objeto de uma pesquisa, o Que contaria como
q_ . dOr e do sociólogo da c1ênc1a.
st uma solução posslvel para um problema, quais os metódos de
hi oria te nio poderemos, no âmbito deste ensaio,
i. Certamen d d . . .. observação, descrição e representação formal de dados que
odos esses temas. Na ver a e, sua mvest1gaçao podem ser utilizados em uma pesquisa, sobre que tipos de
abarcar t · d h·
·t · um amplo programa de pesau1sa no campo a 1st6-
constI u1 . •;i. • ( 'd 1 dados ou fatos deve concentrar-se a investigação, etc . .!,.
ria· da lingüística e da filosofia. da c1cnc1a em senti • o ato), importante lembrar que as regras que constituem o paradigma
que certamente proporcionaria assu~to par~ mais de uma são impllcita$ _e_jamais_cb.e~am_a_ser_.expli.c.itamen.te formuJa-
tese. Limitar-me-ei ao tratamento - ainda assim extremamen- cfas e reconhecjdas...c.omJl...tais. Elas são aceitas tacitamente
te esquemático - do ponto 2, com algumas indicações relati- pelos praticantes de uma ciência em seu período "normal" e
vas ao ponto 4. E, neste tratamento, restringirei minha aten- são tran_smitidas aos estudantes dessa ciência de forma
ção, por um lado, ao modelo de evolução da ciência proposto implícita, através de exercícios de solução de determi_nados
por Kuhn e a ah1uns aspectos centrais da história mais recente tipos de problemas, do estudo intensivo da teoria "paradig-
da lingüística, a dos últimos 30 anos, digamos. Come~arei por mática", e por meios semelhantes. Em geral, uma determina-~
uma exposição dos conceitos princjpais__Qa téoria"de- Ku.hn da teoria que se impôs â comunidade científica por ter sido
{2}, passando depojs a uma tentali~@.de apli~·los à evolução capaz do "feito heróico" de resolver uma "crise" gerada pela
da lingüística contemporJoet. Espero, com isso, pelo menos incapacidade do ~aradigma anterior de trata~ ~tisfatoria-
contribuir indiretamente para um começo de compreenslo mente de uma série de problemas é que const1tu1 um novo
dos debates metodológicos que constantemente afloram nos - '\ paradigma ou modelo a ser seguido doravante. n r ,JJ"
textos lingüísticos contemporâneos. Uma vez consumado um "feito heróico" desse tipo, ini- Li ifY'r ,.,-l
• . • I • l(jl/f
eia-se um oeri'odo de ciência no~mal: Ele comp?rta. 1n1_c~a · ""
n:,ente, _atividades como a determmaçao._ com ma,?r prec1~ç, ~ J obv-"
li d_e fatos_( no _o í.v.eLobser:vacional> e conce 1tos (no ni vel teórico) (\,,vQ.f.}ff•.J-1
• ersal• 1 ·
Segundo Kuhn, é possível distinguir na evolução de minologia. Tel escolhe não implica na sugestao- de que tal moda 1O 181•8 univ rJ_t..'b'wvP
mente aceito pelos filósofos e historiadores da ciência, como sa pod~ comprovar ('f'P'
qualquer ciência períodos relativamente longos de estabilida- etravés de uma simples folheede de Lakatos e Musgrave (1970). lnfehzment';íem
de separados por períodos breves de instabilidade, crise e mu- nossa exposição teremos que omitir 01 detalhados exemplos de Kuhn, que O ª
dança, Aos Primeiros ele dá o nome de períodos de ciência parte mais interessante de sua obra. .. . " em
2 3. Masterman (1970) conta 21 usos_ di!erente1 do .t~rmo por
10 8
Kuhn, que classifica em três grupos .~rlncipais. T~I amb~g~~'!':eguir na tentativa
f · A llcolha do mOdelo de l<uhn como fulcro de nossa investigação deve-se Kuhn, e teremos que "acostumar-nos a ela, sa qu sarmo
•to de .Que muitos lingüi1ta1 constantemente fazem uso de pelo menos sue ter- de eplicar o modelo de Kuhn à lingüística.
20
21
; ....
_J
,.
. mostrou ser importantes enquanto re- 19
11 novo paradigma · . a dos fenõmenos estudados pela •
quedo da estrutura extraordinária", que pode culminar corn 11
'":;:'1 ' • • • rna cevntução.
vela or85 .. .fr:Q.C! e-se
ê dedução. das consequências
.
··ncia .em questao. do-se assim predições experimentais . Note-se _que a ex1stênc11 de contra-exemplos à teor'18)
dominante nao leva por si s6 à reJ"eiça- do
11 c1e . elat>Qran d f · ... 0 n
d'1gma. Tam- -l'..
-la or exem Io a . e m1çao das bé m d u!ante o período de . ciência normalpara pode haver um
, que ode~ me,nto.S- qulmicas-d~o~hecidos,-mas certo numero de quebra-cabeças nio solucionado
.J: d~d· uazios-na -tabela periódica de .Mande- · f • .. s, sem que
\> ~,:..dOS-rv d dº . . isto ª. ete a cred1b1hdade do paradigma. Tais casos são em
~iJ1/ p~-, b-etapa que se po e 1stmgu1r é a da geral interpretados como casos em que o cientista é testado
\ .=Au1 uma outra su • d · 11
I l1tYJW-1-• ,, adigma que consiste na etermH1açao de e não o _paradipma (5) •. O~ praticantes de uma ciência afer-'
1
"articulaçã~, d ,º _par por ex.) requeridas pela teoria, na for- ram-se ao. paradigma, resistindo à mudança e às vezes até re- 1
/
" stantes (1 s1cas, f . . . f.
con • uantitativas ou orma1s rigorosas e, mal~ jeitando os próprios dados experimentais aue sé constituem :y
1
mulação de eissa~o do domínio de aplicação do paradigma em contra:exemplos. Para que haja uma mudança de paradig- 1
mente na exten d . ºd d . ma é preciso que, além dos contra-exemplos, surja um novo /
' . de fenômenos. Kuhn escreve a at1v1 a e c1ena
a novos tipos . d ··· • candidato a paradigma capaz de substituir o antigo. /
• período de ciência norma 1 como sen o uma at1v1-
t (f 1ca no"resolução de quebra-ca beças"( puzz 1e-so 1vmg . ) . As possibilidade de emergência de embriões de novos J>!I·
dade de .. , . .. b h . radigmas é a característica fundamental de um pe_ríodo de
regras de solução, embora nao exp 1,citas, sao em con ec1das
de todos os praticantes. Os resultados se acumulam progres- ciência extraordinária.. Ela -se êx-olica pelo relativo relaxa-
-----
mento dos estereótipos e normas do oaradigma estabelecido
'r sivamente. Periodicamente eles são compilados em manuais
que ocorre em tais oeríodos. Graças a isto, podem surgir
(textbooks), de acordo com os quais os estudantes são trei-
nados para resolver mais quebra-cabeças dos mesmos tipos. então, além de ajustes ad hoc da teoria paradigmática a fim
de "e~plicar" os fatos recalcitrantes, explicações mais livre-
As vezes, os resultados experimentais obtidos no curso
mente especulativas, experimentos relativamente casuais que
das atividades acima descritas podem ser contrários aos pre- podem levar à descoberta inesperada de novos fatos (e talvez
ditos com base no paradigma e na teoria dominante. Tais ca- a novas anomalias). 1: comum também, nesse período, que os
sos constituem o que Kuhn chama de ~ncfrnãTiãs''.\ Uma vez cientistas recorram a análises e concepções filosóficas, em
1 detetada uma anomalia, geralmente intensifica-se à investiga- busca de ajuda para a solução de seus problemas. Cada um
t· çlo em torno a ela, até que se obtém de novo uma harmoni- desses tipos de atividade, concentradas todas em torno da(s)_J(i) &-
1
- zação entre teoria e dados. Isto pode ser conseguido por meio área(s) anômala(s), ~ode cont~~ º. embrião ~e ~m novo~;rt" iJI-'
de. peque_nos reajustes da teoria paradigmática, tornando-se paradigma. l.lm J)erLodo _de c•eoc1a extraocdmána 12.Q4e, 'i _,. ~ , ,.,
.
assim •mais um caso de um que bra-cabeças satisfatoriamente . segundo ~ ~h'!, . !!ncerr.or 7.se_d,.e_ três for1Jlll:_J L O ~ /Jf:r,1wrf
1 , .Jll ~
· lf'}-W reso 1v1do dentro do d' ( ánt~c.LõL..co.nseaue__fina!mente resolver o problema aue pro- 1P
fi . . JJf ' malia persist P~ra igma 4). Ouando porém uma ano-
~)," consciência c~epor mtto tempo (e os cientistas dela tomam ~ou a crise; volta-se então a uma situação de ciência normal
'f1~ rode anomalia~e:e praticada afnêf~_ gg_ acordo com sLQ.uele paradigma, 2) O
1 ~u quando se acumula um certo núme- prÕblem~__Qerad.QL da_cr.ise_é,_pow.ssim-dizer~anaeladQ''
ficam sem soluçi ' quando demasiados quebra-cabeças
1 e para a ciência e~ª equ~da, 0 paradiqma entra em "crise" pela c_gmµ_nida.Pe cie,otltica, deixar:ido-se..par:a-maiS...ta~e..sua
queStao começa um período de "çiência sÕlução, _aJegandQ-~ qu_e- ain.da..o!o..bá..cond1ções...exiutt11ll11l-
G),.fotl-tt tais, por exemplo, para resolvê-lo no momento. 3) O para-
um pan O que 16 ti POnível Ide lfl
pile de fundo que define 1 ., nt . car IIQo como uma "anomalia" contra 6. Este ti uma das tese• com que Kuhn se opõe i vlllo dl 1Voluçfo dl ct•n-
'Portanto, e de "1>aradlgme" normalidade". A noção de "anomalia" praau-
1cf. Kuhn, 1972, p, 5 1.
6
cia proposta por Popper (cf. Kuhn, 1972, p. 771. ~ " ",,.....Q,{'
22
23
i. ______J
-
(d por um novo paradigma, ou seja e muito menos por algum princípio de racionalidade que
. cuhstftY o . W """"--J
1 cão" c1ent ica. guiaria a escolha do "melhor" paradigma (6). Os argumentos
d ~~.e~o
roce eveY descri-A'o
""" desta . última possibilidade apresentados são ·de natureza puramente persuasiva e acabará
P 1: com uma. br posiçio da teoria de Kuhn. Uma re- por vencer o paradigma capaz de um "feito heroico" que con-
• i minha ex ,, . . - ---..:..:
' ~aue term1~are . . . - - siste na solução dos oroblemas que geraram a crise. Entretan-
,\(lJP-" volu ão c1eãe:rua200~~~~~a..ç1ênc1a. no c~rso do ®ai to, tal "solução" só pode ser avaliada por critérios irremedia-
ll~ !ativo no d . é substituído u parc1almente.p0 r velmente vagos, alguns de natureza estética, outros vagamente
- .h''Jf' um anti o. aradi m; el com ele" (p. 92). A ênfase nessa defi- metodológicos (predição de novos fenômenos), já que qrande
(:}Jft"' r um novo inco ª ~os nio-acumulativo e incompatlve/, que parte da incomoatibilidade entre os dois paradigr,nas consiste
• N é sobre os ter . ·t. h . .
niçao ter(sticas que JUStl 1cam e amar tais ep1só- precisamente na rejeição dos critérios mais ou menos precisos
. am as carac f · b
design " 1 ões". Kuhn insiste, com e eito, so re o fato de solução de oroblemas do adversário.
dios de revo uç candidato a paradigma, emergindo da crise, é Terminada a revolução, inicia-se uma nova fase de ciên-
de que um novo , I" ( - 'd cia normal, em que o novo paradigma começa a ser articula-
,, ou "incompat1ve nao num senti o pura-
"incomensuráve1 · EI d'f do, reformula-se o currículo de ensino da discipl_ina (re-es-
mente 16g1co • ) com O paradigma anterior. es I erem • entre si
N s6 "substância", isto é, quanto ao conteudo das teses crevendo-se sua história), surgem os primeiros manuais, co-
nao • sem que sustentam (isto . é " 1 d' . d'f leções de exercícios, etc.
te6rica _ , d e es .nos 1zem d coisas I e-
tes a respeito da populaçao o universo e o comporta-
mento
ren dessa população" (p. 103 ) - um para d'1gma pode afir-
111
mar a existência de partículas sub-atômicas, enquanto que
seu competidor a nega), mas também metodolog icamente Há na história da linQü ística episódios que poderiam ser- ~o- l°l(
(técnicas experimentais aceitas por um podem ser rejeitadas vir, eventualmente, de ilustração para a quase total'idade dos
pelo outro, problemas admitidos por um podem ser conside- conceitos e teses de Kuhn. Assim, por exemolo, poder-se-ia
rados "nlo-cient(ficos" pelo outro, etc.). Mesmo quando apa- dizfil _JJ,!.l e a lingü ística passou do estágio pré-paradigmático
rentemente os mesmos conceitos passam de um paradigma a estágio de maturidade cient(fica por .volta de meados do .ltu?- /~
outro, eles são na verdade conceitos distintos, pois são usados séculp pa.ss.ado.,_q.uando desenvolveu-se a que provavelmente .i, 1rr
num quadro teórico completamente diferente (cf. o conceito foi o seu p rimeiro paradigma: o da lingüJstica histórica e com- ~:! 1JJJl1~ f'
; de massa em mecânica clássica e em mecânica relativista). parativa~ !J ma v,~z atingida a maturidade, não tardou a passar , -.
Tudo isso resulta, segundo Kuhn, numa incomensurabilidade e_or__~ a__ primeira revolução cient(fica, cujo principal herói foi ,';
P~ofunda que ele descreve, de forma admitidamente obscura, f:.e.rd.inand de Sa11ssuce, cciadoc do chamado estruturalismo ,J s,oJP"'·
dize~do que "os proponentes de paradiQmas em competição no iD.,ício d_e ste sécu Lo_ (7)_. O paradigma estru_turalista, em 1 1 w~..?
praticam sua N f'
. ,
crítica as tentaf pro 1ssao
d . em mundos diferentes". Da( sua
u_ma ou outra de suas variantes {uma das quais se conven- 06 n b:ri,.,,,
, .
Paradigma em tivas e interpretar a passagem de um a .o utro /1"';) A irracionalidade da pauagem de um paradigma a outro, Isto é, da au-
\. aplicação de . éer~os P~ra~ente cumulativos ou através da sênc~ critt1rios racionais para comparai-los é uma das t_. Kuhnlanas mais
~rJ, crit rios rac1ona1s · criticadas por Popper e seus disc(pulos, defensores de um racionalismo r~lcal.
Dada essa inc . ·.
'._/' tistas ao Parad·1 om~nsurab1lidade, e dado o apego dos cien- 7. Poder-se-ia talvez Identificar uma "revoluçio" anterior à uussureana am
lingüística, a saber, o movimento dos "nao-gra!Tlllticos". Esta é uma queltio qua
~aJl96 digmas assume ~~~a~igent~, competição entre os dois para- merece ser Investigada à parte, ponlm. Para uma outra tentativa de aplicar os con-
lha de Paradigmas" a~ten st icas de uma batalha. Essa "bata- ceitos de Kuhn a alguns episódios da história da lingüfstica nos llltlmos cam anos,
ver Koerner (1974).
24 nao Pode ser regida por critérios claros,
25

"estrutura l·ismo
- ameriçano")
- domin..o~ --··
. chamar de d de 50 (8). Em 1957 , corri -ª-
Ç!.OJ]OY • da. d,@Cª a Ch
1. nü"r/~stt 11cuiLfiOS · . Structures de_ _Noa!TI omsky, aplicado a um' corpus, produz automaticamente a ,, á.
11 • . ,, gram tr-
in~ 5:v'!)tBCtlC d 1' .. ( · ca t axonom1ca capaz de dar conta adequ d
N
pu blicação
- de _"·revoluçao -c'teot(flc.a
· dentro ª-. tngu_st,ca,
pectos 1.tngu.. (strcos
. desse corpus. No caso da aestamente t dos as- ,,.
ihicia-se uma nova reiismo ao paradigma gerat1vo_-transfor- .1 1d . . ru ura senten-
st cia, o pº~u a o ~ás1co de STR é que as sentenças têm uma , 5
e rutu . te É somente a esta mais recente
•a Que levouh do · predomtnan · . estrutu~a h1erárQ~.1ca (= classificatória) única, representável
/ ,::; macional o1e - -~ nvolvimentos posteriores a ela
\~~-· r,- revolução e sobretudo :enção à luz dos conceitos elaborados p5>r meto de um marcador frasal" em forma de árvore, por
' Que dirigiremos nossa a ' exemplo, g~e reagrupa os elementos funcionais sempre em
se Qrupos .de "constituintes imediatos" (10). As estruturas hie-
.por Kuhn._
A prime1ra questão que surge é a de. se.. (determinar
. rárquic~s representadas por tais marcadores frasais, que na
'v efetivamente a mu dança aue ocorreu na ltngu f sttca f por
.. vo 1- verdade nada mais são do que um conjunto de constituintes
• i't'~· 1957 de ser caracterizada - como se az reQuente-
1 imediatos com "etiquetas" a eles associadas (indicando as
''f .Af,,•ta de mente - compoo uma revolução científica no sentido de Kuhn.
. . _ "categorias" às quais pertencem), seriam "descobertas" pela
Para resp ondê-la , é preciso determinar a. natureza dda opos1çao . _ aplicação de uma série de procedimentos standard (substitui-
existente entre os dois paradigmas a_s~tm como a transtçao ção, co-ocorrência, paráfrase, etc.) a um corpus dado. Nesta
de um para o outro, a fim de verificar se apresentam as preocupação com a definiçã'o precisa de procedimentos de
características atribuídas por Kuhn às revoluções científicas. descoberta levada ao extremo por flli22m.Het<:Le...tfarris,_pode-c, ' (
Comecemos por enumerar, de forma bastante sumária, as t se discernir a influência de concepções positivas do método i t
1
· \, JJ;
_~ acterísticas essenciais dos dois paradigmas. - ~'\<J. da ciência, como o operacionismo (Bridgman), que consider/ ; '
\-----, A lingü(stica estr~tt.!t@Jista (ST_R) tem um~ f_l nalidade es- um conceito teórico legitimamente "cient(fico" somente se a '.
\ sencialmente taxonôm,ca, como foi apontado inumeras vezes elecorresponde uma série de "operações" bem definidas ao '
C)ífll por Chomsky e seus sêguidores (9) . Ela pretende, em última nível observacional. A observaçã'o estrita de tais preceitos
análise, elaborar uma classificação exaustiva dos elementos metodológicos(ou de outros similares, também provenien-
f@cionais em cada língua, j_y01_am.ente com uma d escrição tes do positivismo indutivista) seria a única maneira de ga-
~ emática das restrições existentes sobre as combinações rantir, aos olhos dos praticantes do paradigma STR, a científi-
P~ eJ! de tais elem!n_!Qs. 1 estruturalismo americano, que cidade da lingüística. Da( a importância vital _g_ue atrjbuiam
diretamente nos concerne, Jttr ter sido a teoria paradigmática, à formulação_de procedimentos de descoberta rigorosos e à
dentro de STR, contra a qual se instaurou a suposta revolução ~ãDTiêã~fu fenômenos Qbserváveis, JstQ é, a um corpus
ch~mskyana, _caracteriza-se l'tr pretender atingir os objetivos (11) . . ..
acima por meio da formulação e aplicação de um procedimento \L,, A concepção de teoria lingü(stica proposta 1n1c1almente
de descoberta, isto é, de uma espécie de algoritmo que, quando n~1'/f- r7por Chomsky (CH) opõe-se ao paradigma STR tanto metodo-
\ \:, U') lógica quanto substancialmente. Substancialmente, por negar
8. Os textos de Seusaure sio suficientemente conhtcidoa. N11t1 antologia \ que uma simples estrutura hierárquica (um ~arc~dor fra!I~
o ltltor tncontrtli textos de v6rios rtDrtaententea do tatruturellamo (1mericenol, @ª'---jyfj_çi~nte para representar a estrutura-s.111tát1ca de ;
notldamente 01 de Biooomt111d, Houeeholder, Wella, Hockttt, Sepir • pelo menos
um texto cl611ico do lltn.ltureuamo contlnentel, o dt Trubetzkoy.
1O. Pare melorta dtt1lh11, veja-se o texto de Wells neste volume./ •
9. A Pllevre "texon6mico" cheQou mtamo a tdquirlr, 01r1 01 llngü latea
Vtr1tl-.o-trinsformec1on111, uma conoteçio PIJoretive, por aue 1110ei1çfo com !í..) rsmo
I extremamente complexo das
taç10 . t' 1 Compere-M, por exe~plo, 0 forma exemplo de um manual dentro
Pl•~lgme 0
Pl1-t-tvo1uc1o~rlo. Evidentemente ' nfo I utillzam61 com tl!I cono- análises-t!istribuciona is de c , :i,lmente u exemplos de pro·
ll
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dtate paradigma , veje•M
blem11.
(l~:~!·
- 1• 11 1
27
·~111•-- ---
mentos de Chomsky para demonstrar a ins radigmas, que deixamos de mencionar ( 13), as diferenças
•d"~"'nca Os argu d t f I" lJ.
~ - · chamadas "regras e estru ura rasa e a necessj. apontadas são suficientemente profundas para que se possa
ficiênc1a ,~as ras de transformação para dar conta da estrutu- efetivamente falar de uma "revolução Chomskyana (14). Qe·
dade de ~':nças são suficientemente conhecidos (12). Q..r.e- vido a ela. os "problemas" ~ _di*i~içãp _e classifi_?çâ'o,
18
ra das @11L1ÍPP de análise é gue ~ma sentença tem sua 81 _ ~e.o.ru>_ de ST_B,_~ei>e:~.r:am ..subJ~~l'l'.lente ~,e ter ~u~l-
~ s s e- para - os. Jingwstas _ da geraçã'~ seguinte,
1,JiJodt ~presentada P.QC uma ."~~ aç!o",. isto é, pé;"~ª ap.erando dentro ..d_e_C_H. A pesquisa passou a concentrar-se,
\9 12.)iY t,ru~~ra . de marcadores frasa1s (e_o!o .mais por um só) _da
seq
f.~ ª "
- uência !! 0 últimcu:o.a:eJP~Q.n de _sua estrutura suP-erfi- ' quase que exclusivamente de in(cio, na formulação dos
q . ' ' d t 1 t d · ·-
~ ,, onstitu(a o obJeto unico a1 a ençao os l1ngLiistas princ(pios de construçlo de sentenças, área até então consi-
c1al que c . d"f .
derada mais ou menos implicitamente como fundamental-
"",
. estrutura l'stas
1 · Metodologicamente a .I erença. é ainda . . mais
/J~~ º. !Y"' f da. Rec.usam-se os postulados bás1cos,g_o_Jndut1v1smo e a mente a-sistemática, e portanto fora do domínio próprio da
v:"t , i<A pro un
(),VI '
" · ·t· 'd d " d
1c1 a e epen d d
e a -
formu- língüística (pertencendo, talvez, ao domínio da "parole"
pr 6pn•a idéia de que a c1ent1
lac?"o de procedimentos de d esco berta. Com ·isso ca,· ª~ -- - saussureana). Ao abordar essa área, Chomsky, com seu novo
/l;, ().vr( ti:C,a do "corpus", sub~itu(da pelo reconh_ecim~nto de quf ú~v• J, formalismo e sua nova abordagem metodológica conseguiu
,-vc c\o que ueoria deve explicar é a competê~c1a tá~1~a ~!_~ai- '>'- )JJ("~f oferecer soluções para vários problemas da qramática inglesa
7 <,'lf" quer falante de gerar e compreender um num~ro 1llm1ta~ de 0_ ~,,(lf~: que se mostravam insolúveis ("exceções") dentro de STA, ou
SélÍtencas de sua língua. Isto só pode ser explica.do se s_e~c.oo- seja, para uma série de "anomalis" geradas dentro daquele
11;,kâ · éebe a "gramática" que o falante domina como sendQ...Y.m paradigma. E, ainda que tais soluções tenham sido depois
~º ; ~, conjunto de regras recursivas capaz de enumerar, recursiya- grandemente modificadas e em parte abandonadas pelos
0.do mente, todas e somente as sentenças "gramati_cais" da língl[a. . ..} r próprios chomskyanos (Chomsky entre eles), ficaram regis-
Jlf'l~ É tarefa fundamental da lingü(stica apresentar de forma ex~~v!,1 H• tradas como um "feito heróico", criando um modelo, que se
,<" pl(cita e forma! tais regra~, pois só dessa form~ serão suas) )J f;;ll' J!/l11 procurou imitar e desenvolver, instaurando assim um novo
afirmações teóricas testáveis. O elemento emp(rico no teste, ?/1 Y i paradigma.
lf"" s~fl porém, nã'o é mais concebido como sendo apenas aquilo que Obviamente, as soluções chomskyanas nlo foram aceitas
f pode registrar o gravador ou livro de notas do _lingüista abso- como tais pelos defensores de STA, pois nio se conformam às
~ J lutamente objetivo que entrevista os "nativos", mas sim..!S normas impl (citas desse paradigma. Estes, por seu lado, ape-
II" y,(r próprias iolUiçlles do lingüjsta a respeito da gr!.mati_ç_a!ic:l~e ,1o.J,:,~~"
garam-se a seu próprio paradigma, travando uma batalha ár-
das sentenças de sua líogu.a.. O método usado, em linhas g~ff11' hé dua contra as novas idéias. Aparentemente, porém, o novo
rais, é o de formular hipóteses expl(citas sob a forma deu r1M/Ju1' j/1l paradigma venceu a batalha. Rapidamente estendeu-se sua
conjunto de regras (baseadas num pequeno número de Q~em nw Jlf_/ 1};· aplicação a inúmeros fenõmenos lingü(sticos das mais varia-
11 das línguas, refinou-se seus conceitos, escreveram-se manuais,
plos), e verificar se as sentenç-ªU)-ºLlllitS. gm_du...e_e>.eclu.ída
correspondem às intuições de gramaticalidade. Não se tratai e reformularam-se os currículos.
mais, portanto, de fazer testes de substituição ou co-ocorrên- 13. Ne NÇio IV •rio lembrac:101 elgun1 dei.._
cia, isto é, análise distribucional, para determinar a estrutura. 14. Ne verdade, •ria prec:110 ampliar banente n01U lnvettlgeçlo para eh•
Apesar dos muitos elementos comuns entre os dois pa- gar tal conclulio. Por exemplo, -1• nac:etúrlo moetrar ctetalhac:larnenuo qual•
que ,urgirem dentro de STR e como foram aoluclonadH por Chom1ky,
..r 01 v•r101 - • • que houve v•r101 - candldllt01 e parac:ligma que teriam
12.Veja-s~. r-,- exemplo, o primeiro texto de Chom1ky e o texto de Po•- aurgido no período de crlM, etc. Temoa que deixar • - trebalho detalhado
tal, neste volumb. Ufl' texto rnen01 prograntlco e lntrodutõrlo que ette. daf- do car,i.r
révoluclorulrlo do Dougheny, 1/d.
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,tlllll,....uww
A ,
IV nova revolução em lingü ística, mas apenas um desenvolvimen- l?_,.';,
to perfeitamente natural dentro do período de "cit!ncla V · ''. ,,,,
N
hO mskyana, segundo o modelo de l<uhn normal" instituído pelo novo paradl~ma chomskyano. _!.• '/•·'-, l'J-·,
A revol_uçao e per(odo estável de "ciência normal',: ~_cfa_SG su1 ge.m,_p.rincipalmente, da .tentativa de se aplicar ,., ~-1 1 , ,
deveria seguir-se um paradigma. Entretanto, longe de viver novo paradig_!Tl!...!. U_!!l _2onjunto de fatos - os fatos seman- ,,
sob a ágide dod ":~bilidada e "normalidade", a lingü(stica 0
tfcõ's=-q ue a PJ:_~i_r1_tJtoda de Chomsky nfo abordou _de
hoje uma era e ulsionada por controvérsias e debates vio- f~ da. Em termos Kuhnianos, tratar-se-ia de um
. a a ser conv ,, 6
continu desenvolvimentos recentes, p s-revolucio~- cãsõde articulação do paradigma através de sua extendo
l~nt,?s. 1: ª~:Curaremos agora examinar. teórica e observacional. Segundo esta interpretaçfo os semân-
rios , ~ -imcia-com--a-revoluçlo chomskyana, ticos gerativos estariam apenas tratando de "resolver quebra -
ode~os distinguir duas fases. A prim~ira, de 1957 a 1965, cabeças", delineados dentro do paradigma CH. ,/''
& lq5t P..-
(>--
da elaboração e desenvolvimento do novo para- 2) Uma outra interpretação, sugerida por exemplo por {,
parece ser a . . . . - -
\"I (, '.) . que suas caracter(st1cas prmc1pa1s nao sao contes- a que vê no desenvolvimento acima pelo menos o co- · "
d1gma, em lh d I "d • . meço de uma nova revolução na lingü ística, comparável à re- ,
mas apenas articuladas me or, esenvo v, as, ap 11cadai
ta das, . .. í · · "d volução STA. Segundo esta interpretaçã'o, os primeiros pro- . ,, ,
a novos tipos de fenômenos_ 1mgu st1co!, e corri~,. as ou mo-
dificadas em pontos específicos, mas nao essenc1a1s. A partir blemas levantados pela SG levaram a uma crise do paradigma
':Í de 1965, começa a desenvol~e~:se uma concepção - depois Chomskyano, que por sua vez gerou um período de "ciência
\q~ chamada de "semântica gerativa (SG), por seus defensores- extraordinária", no qual já se detetam sinais de emergência de
~> que passa a contestar, primeiro impl feita e dep_ois_abertam..en- um novo paradigma triunfante (16). ,
:;r ~-,.,.te, certos pontos centrais da teoria chomskv..amL.(15). Tal As duas interpretações acima têm em comum uma atitu- , ,;:, -1,
G concepçâ'o ganha rapidamente muitos adeptos, a ponto de co- de essencialmente positiva em relaçã'o ã SG. Para 1m.ba1, a_Sµ ;:; 1 .
locar Chomsky e seus s.K.!Uidores mais próximos em minoria. r~esenta u m _oragreao, quer seja ele revolucionário, guJ:Jr / r',:: • f
Seus adeptos são na maioria alunos do próprio Chomsky e apenas intra-paraçf ig,nático,__ sobre _IL "teorla standard". ,
declaram que nada mais estão fazendo do que seguir rigorosa- Ambas compartilham também a tese de que a batalha CH/
mente os preceitos do mestre, sobretudo seus preceitos me- STA já se completou, j~ d coisa do passado, e que o para-
todológicos, mas que, assim fazendo, sio levados a defender digma CH, nela vitorioso, já se tornou do domínio comum .
modificações radicais da teoria de Chomsky (aquela que se entre os praticantes da lingü ística. ,
convencionou chamar de "standard theory" - formulada em . ~) A terceira interpretaçio nio aceita nem a apreclaçlo ,
1965). positiva da SG nem a tese de que STA/CH é irrelevante - por :, , ; ·
,~ Três interpreta~es desse conflito SG/CH, têm sido pro- ser coisa do passado - para uma discualo de CH/SG. Muito 1/ •
Ol-f->& postas. pelo contrário, e!Lço..Dl.i..d.e.r.a_euenciaJmente...a..SG-como.JJm 1-.,. f-,r. , '
/9f"> 1) A · · retrocesso e_nlo_co.mo..u.m...pmgr.:eMQ fttD r QJaçfD. ã rexolu.çl_o ;
primeira é a que se manifesta nas declarações de
alguns semânti · Chomskyana. E um retrocesso que signiflca..wncJa!mente 'li r, ) ,..
. cos gerativos como as mencionadas acima· o
con fl 1to é est ·ta . ·- u ~ volta ao _e!l!&dJg_ma taxonõmico. Segundo esta interpre- t? • ;,:h ·1- r'
ri mente intraj)aradigmático; SG nlo é uma
tação, defendida por partidários de um "chomskysmo estri- f ,:;1 • o,r:..,. .r
. l5. ~ -volume, as P0Slções da lefflântica gerativa do prin- 16. Em "'Sobre• volume), por Lekoff
c,pefrnenta P9los textos de Lakoff, que fornece indlc:aça.. lobre • orl-
uena • 01 membros deNe "-=ola". dilalta • condiç&a pera '"ergumen~ um tJpo de dilal8'0 qu•
clara de dellmlur oa llmltaa • ,..,._ do Inovo?) paradigma.
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