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História dos surdos no Brasil

A história dos surdos no Brasil é marcada por entraves, opressões e luta. Considerados inferiores e ineducáveis pelos ouvintes, os
surdos lutaram e ainda lutam para terem seus direitos básicos garantidos, principalmente no que diz respeito à educação. Suas
histórias tanto no Brasil quanto no mundo são demarcadas pelo silenciamento, pois não lhes era dada a oportunidade de falar
sobre questões que lhes são próprias, sendo os ouvintes aqueles que discutiam e determinavam muitos fatores em suas vidas.

A língua oficial e utilizada pelos surdos no Brasil é a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS). Além da Libras, há também uma
segunda língua de sinais reconhecida, a Língua de sinais kaapor brasileira, falada pela comunidade indígena Ka'apor (presente no
sul do Maranhão, no Brasil), criada pelo grupo e com características próprias que compõe sua identidade.

No século XIX
Nomeação de Leopoldo Doyle Silva para ocupar interinamente o cargo de repetidor do Instituto dos Surdos Mudos, 1884
No ano de 1857, D.Pedro II convida o professor de surdos francês chamado Ernest Huet para fundar o Instituto Imperial de
Surdos-Mudos, no Rio de Janeiro, que mais tarde viria a ser o Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES). Ernest Huet foi
um nobre[1] que trabalhava com a educação de suAcademia de Librasrdos na França utilizando língua de sinais. A mescla da
língua de sinais aplicada por Huet com a língua utilizada pelos surdos brasileiros deu origem a Língua de Sinais Brasileira
(LIBRAS). O instituto era voltado para educação de meninos pertencentes a alta classe social.

O ano de 1880 é considerado um marco histórico na história mundial dos surdos, pois, neste ano foi realizado o Congresso de
Milão. Pessoas influentes e líderes de diversos países se reuniram para discutir acerca das formas de se educar os surdos, e
decidiram condenar e proibir as línguas de sinais, definindo assim, o oralismo como método ideal para educação dos surdos. Um
fato importante é que poucos surdos participaram, porém sem direito ao voto, deste congresso que instaurou um período de
aproximadamente 100 anos de obrigatoriedade do oralismo na maioria dos países.

É válido ressaltar que durante todo o período de proibição do uso da língua de sinais os surdos continuaram utilizando-a, porém
na ilegalidade. Eram realizadas reuniões escondidas para que eles pudessem perpassar a língua de sinais para outros surdos,
evitando que ela se perdesse.

No século XX e XXI
Somente no ano de 1929 surgiu um instituto voltado para mulheres. O Instituto Santa Terezinha era um internato que educava
meninas surdas também pelo método oral, depois passando a usar a filosofia da comunicação total. Assim como as demais escolas
para surdos alterou a metodologia de ensino na década de 90 para a filosofia do bilinguismo.

Filosofia do bilinguismo surge em decorrência da nova forma de se estudar a surdez a partir da década de 60 quando passa a ser
pelo viés etnográfico, o que leva a ideia de existência de uma cultura surda que, por sua vez, propõe uma mudança na forma de
ensinar. Esta filosofia começa a substituir, na década de 90, a chamada Comunicação Total, que nos anos 80 aparece como outra
forma de educar os surdos, tomando o lugar, em algumas escolas, do antigo método oral. Desta forma, a entrada do bilinguismo
faz com que muitas escolas abandonem a Comunicação Total e o Oralismo e passem a adotar a educação bilíngue no Brasil.

A partir da década de 70 a situação dos surdos começa a obter avanços. Em 1977 funda se a Federação Nacional de Educação e
Integração dos Deficientes Auditivos (FENEIDA), contudo, esta federação era composta somente por ouvintes, gerando uma
ineficácia em sua atuação, pois ouvintes não compreendiam as necessidades da comunidade surda. Devido a esta falta de
representatividade dentro da FENEIDA, em 1983 é criada a Comissão de Luta pelos Direitos dos Surdos, que reivindicava,
principalmente, a participação de surdos dentro da federação. Já em 1987, a Comissão consegue assumir a presidência da
FENEIDA por meio de uma assembleia geral e, então, cria-se a Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos
(FENEIS), que logo em seu primeiro ano e atividade oferece apoio para que a profissão de intérprete de libras obtivesse o
reconhecimento necessário. No ano de 1993, a FENEIS redige um documento intitulado: “As comunidades surdas reivindicam os
seus direitos linguísticos”, sendo de suma importância, pois nele é requerido o reconhecimento da língua de sinais como língua
natural dos surdos e por isso, o Estado e a sociedade deveriam reconhecer a comunidade surda como uma minoria linguística e
cultural.

A Constituição Federal de 1988, nos artigos 205 e 208, e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB, nos artigos 4, 58, 59 e
60 garantiam às pessoas surdas o direito de igualdade de oportunidade no processo educacional. Mas, somente em 1994, na
cidade do Rio de Janeiro, quando ocorre a marcha do grupo Surdos Venceremos, que mobilizou cerca de 2 mil pessoas, surdas e
ouvintes, é que a causa ganhou uma relevância nacional.

Como resultado desta marcha e da crescente mobilização social, em 2002 é criada a lei n°10.436/02, que reconhece a libras
oficialmente, e em 2005 é assinado o decreto n°5.626/05, que regulamenta a lei de libras e torna obrigatório o ensino de libras nos
cursos superiores de licenciatura e formação de professores. A partir da implementação deste decreto, é inaugurado em 2006 a
primeira licenciatura em libras do Brasil na Universidade Federal de Santa Catarina, sendo a referência na área em todo Brasil
hoje em dia. Atualmente este curso é ofertado em diversas universidades federais, na região norte: UFRA, UFRR e UFAM; na
região nordeste: UFAL, UFPI, UFC, UFS e UFRB; na região centro-oeste: UFMT e UFG; na região sudeste: UFMG, UFJF,
UFES e UFRJ; na região sul: UFSC.

Já no ano de 2019, houve um retrocesso em relação às políticas públicas voltadas para os surdos, a Secretaria de Educação
Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (SECADI) foi extinta e transformada em uma subpasta do governo e o
Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES) está sofrendo com supostas fraudes nas eleições para o cargo de diretor, pois foi
colocado para ocupar o cargo uma pessoa que perdeu a eleição e não prioriza as pautas da comunidade surda, fato que causa
grande revolta nos servidores do Instituto e na comunidade surda como um todo.

Bilinguismo (surdos)

O Bilinguismo, no caso dos Surdos, é uma especificidade do bilinguismo, gerido por conceitos específicos, relativos à deficiência
auditiva, à língua e à cultura dos Surdos. Pode ser definido como o uso, cotidianamente, da Língua de Sinais e de uma segunda
língua, não sendo obrigatório o domínio igualitário de todas as modalidades e habilidades dessas línguas para que o indivíduo seja
considerado bilíngue. [1]

O conceito
Em finais da década de 1970, com base em conceitos sociológicos, filosóficos e políticos surgiu a "Proposta Bilíngue de
Educação do Surdo".[2] Essa proposta reconhece e baseia-se no facto de que o Surdo vive numa condição bilíngue e bicultural,
isto é, convive no dia a dia com duas línguas e duas culturas:

a língua gestual e cultura da comunidade surda do seu país;


a língua oral e cultura ouvinte de seu país.
Numa abordagem educacional, o bilinguismo baseia-se no reconhecimento do facto de que as crianças surdas são interlocutoras
naturais de uma língua adaptada à sua capacidade de expressão. Assim sendo, a comunidade surda propõe que a língua gestual
oficial do seu país de origem lhes seja ensinada, desde a infância, como primeira língua. Reconhece ainda o facto de que a língua
oral oficial do seu país não deve ser por ela ignorada, pelo que lhe deve ser ensinada, como segunda língua. Os bilinguístas
defendem que a língua gestual deve ser adquirida, preferencialmente, pelo convívio com outros Surdos mais velhos, que dominem
a língua gestual.

Uma vez que cerca de 90% dos Surdos têm família ouvinte, para que a aquisição da língua gestual tenha sucesso, seria necessário
que a família aprenda a língua gestual para que a criança possa usá-la ao comunicar-se, em casa. A língua oral, que geralmente é a
língua da família da criança, seria a segunda língua desta criança.

No entanto, os defensores dessa abordagem não estão de acordo, quanto a se deve ser ensinada ao Surdo a modalidade oral ou
escrita dessa segunda língua, ou se ambas. Divergem ainda quanto ao momento em que deve ser ministrado o ensino, se em
simultâneo com a língua gestual – "Modelo Simultâneo" – ou se após a aquisição dessa língua – "Modelo Sucessivo",[3] e se a
segunda língua deverá ser introduzida apenas usando a língua dominante.[4]

Para os bilinguístas, os Surdos não precisam almejar ser iguais aos ouvintes, podendo aceitar e assumir a surdez.[5] O conceito
principal que a filosofia bilíngue traz é de que os Surdos formam uma comunidade, com cultura e língua próprias. Os bilinguístas
preocupam-se em entender o indivíduo Surdo, as suas particularidades, a sua língua (língua gestual), a sua cultura e a sua forma
particular de pensar, em vez de apenas os aspectos biológicos ligados à surdez.

A Suécia foi o primeiro país a iniciar o caminho para a implantação do bilinguismo.[6] Como proposta educacional, o bilinguismo
ganhou força nos inícios dos anos 1960, nos Estados Unidos da América[7] e foi implementado, em 1979, em Paris, quando
Danielle Bouvet iniciou a sua primeira turma bilíngue, em que a Língua Gestual Francesa foi ensinada como língua materna dos
Surdos e a Língua Francesa como segunda língua.[8]

Baker e Daigle, entre os tipos de ensino bilíngue/bicultural, retêm o ensino bilíngue transitoire e o ensino bilíngue guidé. O
primeiro é realizado com o objetivo de lançar os alunos através da língua maioritária e dominante. O segundo reforça os
conhecimentos da língua minoritária, desenvolve a identidade cultural dos alunos e ajuda a afirmar os seus valores culturais,
utilizando a língua maioritária. Para os Surdos, a aproximação deve ser ao modelo guidé, visto que é essencial reforçar os
conhecimentos da língua gestual, o sentimento de identidade surda que, na maioria dos casos, são oriundos de famílias ouvintes.
[9]

Bilinguismo e cultura surda


O movimento multicultural abrangeu minorias dos mais variados tipos, que reclamavam o direito de uma cultura própria. Essas
minorias englobavam minorias étnicas e estenderam-se às minorias com necessidades especiais, que se negavam a ser
consideradas como cidadãos de segunda classe. Foi neste ambiente que os Surdos encontraram um caminho para que sua língua
fosse "ouvida".

No século XIX os Surdos reivindicaram os seus direitos e a sua língua já foi reconhecida. Entre esses direitos estava a utilização
da sua língua na educação dos Surdos, que eles fossem reconhecidos não como deficientes, mas como diferentes e que sua cultura
fosse respeitada. Assim, dentro da comunidade ouvinte, eles construíram uma comunidade própria, com a sua língua, a sua cultura
e tentaram estabelecer-se como grupo minoritário que pudesse ser aceite numa visão multicultural.
Os Surdos têm experiências diferentes da cultura ouvinte, a partir da perda auditiva, da sua língua e tudo o que implica o uso de
uma língua com características tão diferentes no seu comportamento do dia-a-dia. Eles têm uma história de Surdos que se
destacaram em aspectos da vida pública, da sua educação, do desenvolvimento das suas comunidades e têm regras de
comportamento, costumes e tradições.

De acordo com a complexidade humana, com os fatores sociais pertencentes à sociedade como um todo e com os fatores
educacionais e familiares, no entanto, o Surdo pode ter uma identidade cultural (e Orgulho Surdo) ou não, de acordo com o seu
próprio critério de se admitir pertencente ao mundo ouvinte e/ou ao mundo Surdo, ou pode ainda circular por ambos.[6]

O movimento de reconhecimento da cultura, comunidade e identidade dos Surdos, além de afirmar a sua autenticidade, conseguiu
mobilizar alguns responsáveis pela educação dos Surdos para a reformulação da situação da educação do Surdo. Essa nova
proposta de trabalho recebeu o nome de Bilinguismo.

A língua gestual não pode constituir-se apenas numa ferramenta para aceder a outra língua, ou funcionar como um prémio de
consolação para os Surdos; enquanto língua, tem um estatuto e um lugar privilegiado na definição de uma identidade e na
expressão de uma cultura.[4]

Bilinguismo desde a infância?


Para a maioria das crianças, a língua oficial do país onde vivem é, simultaneamente, língua materna e língua de escolarização –
não o é, no entanto, para os Surdos. Para essa população, a língua de aquisição espontânea e natural terá de ser uma língua
gestual. Há que lembrar, contudo, que a língua de escolarização, em que se aprende a ler, e se estuda, é uma língua oral (no nosso
caso, a Língua Portuguesa), o que faz com que a escola precise de ensinar estas crianças a ler e a escrever, isto é, a conhecer o
Português escrito. O uso de uma língua gestual e de uma língua oral torna imperioso que na educação da criança se tenha sempre
presente o desenvolvimento de competências que lhe permitam funcionar, eficaz, cómoda e adequadamente nas duas línguas e nas
duas comunidades.

A linguagem escrita é uma modalidade linguística de cariz secundário, no entanto, a impossibilidade de ler e escrever numa
língua (sem o conhecimento da estrutura gramatical e do vocabulário da língua) é um problema real ao ensino das crianças surdas.
Ao contrário do que acontece com as crianças ouvintes, a aprendizagem da leitura e da escrita, por parte dos Surdos, não pode
partir da mobilização do conhecimento da língua oral; antes, é através da aprendizagem do vocabulário escrito e pelo ensino
explícito da estrutura gramatical da língua oral que a criança surda, quando desconhecedora da língua oral, tem acesso ao
conhecimento dessa língua, e assim extrai significado do material escrito – estamos assim diante da aprendizagem de uma
segunda língua e não de um uso secundário de uma língua oral.

O grande objetivo do ensino da linguagem escrita é tornar o aluno autónomo na procura e uso de informação, que lhe permita a
integração dessa informação na sua vida escolar e social.

É ainda imprescindível a aquisição da língua gestual nos primeiros anos de vida da criança, sob pena das seguintes consequências:
o Surdo perderá a oportunidade de usar a linguagem;
não irá recorrer ao planeamento para a solução de problemas;
não adquirirá independência da situação visual concreta;
não controlará seu próprio comportamento e o ambiente;
não terá vida social adequada.[5]
Legislação portuguesa
Com respeito ao ensino bilíngue, a lei portuguesa diz o seguinte, no decreto-lei 3/2008, de 7 de Janeiro, artigo 4º:

As escolas devem incluir nos seus projetos educativos as adequações relativas ao processo de ensino e aprendizagem, de carácter
organizativo, e de funcionamento, necessárias para responder adequadamente às necessidades educativas especiais de carácter
permanente das crianças e jovens, com vista a assegurar a sua maior participação nas atividades de cada grupo ou turma e da
comunidade escolar em geral.
Para garantir as adequações de carácter organizativo e de funcionamento referidas no número anterior, são criadas, por despacho
ministerial:
Escolas de referência para a educação bilíngue de alunos Surdos;
[...]
O mesmo decreto lei, capítulo V, artigo 23º, contém orientações para docentes, no âmbito da formação/educação de Surdos, no
pré-escolar, primeiro ciclo, ensino básico e secundário. Informa sobre como os grupos de docentes devem ser formados e como
assegurar uma educação bilíngue aos Surdos, com o objetivo:

Assegurar o desenvolvimento da LGP como primeira língua dos alunos Surdos;


Assegurar o desenvolvimento da LP escrita como segunda língua dos alunos Surdos;
Artigo 23º
Educação Bilíngue de alunos Surdos

A Educação das crianças e jovens Surdos deve ser feita em ambientes bilíngues, que possibilitem o domínio da LGP, o domínio
do português escrito e, eventualmente, falado, competindo à escola contribuir para o crescimento linguístico dos alunos Surdos,
para a adequação do processo de acesso ao currículo e para a inclusão escolar e social.
Bilinguismo no programa curricular de LGP
O programa curricular de LGP, do Ministério da Educação português, visa orientar a criação de condições que permitam um
desenvolvimento da LGP nos alunos Surdos, equivalente aos alunos ouvintes na Língua Portuguesa, colocando, para esse efeito,
como objetivo garantir o acesso à informação, à representação do mundo e do conhecimento e o meio mais eficaz de processar as
aprendizagens, que é através da língua natural dos alunos. A fim de que estes objetivos sejam alcançados, o programa reconhece a
importância de que seja facilitado o acesso a todo o currículo através da LGP, o que implica que existam professores Surdos, nas
várias disciplinas e professores ouvintes que plenos conhecimentos da LGP.

O Ministério da Educação, em Portugal, reconhece também, através do Programa Curricular, que é fundamental que a Língua
Portuguesa, na sua forma escrita, seja sempre encarada como segunda língua, seguindo o seu próprio currículo, e não como uma
vulgar língua estrangeira; deve ser considerada como segunda língua, especificamente para Surdos.

Reconhece ainda que a educação bilíngue deve ser encarada não como uma necessidade para os Surdos, mas sim como um
direito, tendo sempre como base a premissa de que as línguas gestuais são património da humanidade e que expressam a cultura
da comunidade surda.[10]

Assim sendo, notamos que, embora tanto a legislação como o programa curricular deem a devida atenção ao direito bilíngue dos
Surdos, no entanto, na grande maioria dos casos, a lei não é totalmente aplicada, pois ainda se carece de meios para o fazer. Na
grande maioria das escolas, por exemplo, existem apenas intérpretes, não existindo, contudo, docentes, das diversas disciplinas,
versados em LGP.
Sobre o bilinguismo e os Surdos
O Dr. Leland Emerson McCleary, pesquisador no âmbito da comunidade surda, no Brasil, quanto ao sistema de educação
bilíngue, na maioria dos países, acredita que o campo da educação bilíngue sempre foi um campo de batalha ideológica. Por um
lado, existem pessoas que apenas aceitam a educação bilíngue como um "mal necessário" – e fazem de "bilíngue" um termo quase
pejorativo. Por outro lado existem pessoas que veem a educação bilíngue como uma ferramenta para cultivar pluralismo, o
respeito às diferenças, a autoestima de grupos minoritários e o conhecimento cultural e linguístico essenciais para uma sociedade
globalizada.

Na grande maioria dos países, o bilinguismo daqueles que não são proficientes na língua nacional, mas que falam outra língua
como materna, é desprezado.

Assim sendo, apesar do bilinguismo dos ouvintes ser considerado elegante, o bilinguismo dos Surdos não o é, visto que o Surdo
não domina a língua nacional como nativo da língua.

Vantagens do bilinguismo
A criança surda que adquire a Língua de Sinais e a Língua Portuguesa possui como vantagens:
Exposição precoce e natural a uma língua visual, que torna possível o desenvolvimento global da criança surda e promove acesso
a estruturas linguísticas abstratas e que podem servir de auxílio para a aprendizagem subsequente de outras línguas;
Favorece o desenvolvimento cognitivo e a ampliação do vocabulário;
Possibilidade de se comunicar com ouvintes, que não dominam a Língua de Sinais, e com os surdos;
No geral, a aquisição da Língua de Sinais vai permitir que a criança surda esteja mais próxima da sua comunidade, criando uma
forma de pensar e ver o mundo, e a Língua Portuguesa, possibilitará o fortalecimento das estruturas linguísticas. [11][12]
Desvantagens do bilinguismo
Há quem defenda que há certas desvantagens de ser bilíngue. Algumas desvantagens são:

A complexidade de aprender duas línguas que, neste caso, uma é espaço-visual e a outra oral-auditiva;
Acesso desigual às línguas;
Possibilidade de misturar as diversas línguas, acidentalmente;
Sentimento de ir perdendo uma das línguas (por norma, a minoritária);
Ver-se "obrigado" a servir de intérprete em diversas situações.
O bilíngue escolhe a língua do interlocutor e desativa, da melhor maneira que consegue, a(s) outra(s) língua(s); no entanto esta
desativação não é total: há interferências. As interferências podem ocorrer a diversos níveis:

Fonológico;
Sintático;
Morfológico;
Semântico;
Pragmático.
Bilinguismo com abordagem fonoaudiológica
A Fonoaudiologia, profissão regulamentada em 1981, sob a Lei nº 6.965, atua em pesquisa, prevenção, avaliação e terapia
fonoaudiológica nas áreas da comunicação oral e escrita, voz e audição. Desse modo, o fonoaudiólogo é o profissional
responsável para tratar do indivíduo com surdez, podendo trabalhar com intervenções voltadas para a audição e fala.[13] A
Audiologia Educacional é o ramo da Fonoaudiologia que trabalha a relação da audição e linguagem, possuindo diferentes
abordagens terapêuticas, dentre elas, o bilinguismo. [14]

Em 2019, a Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia (SBFa), aprovou o Comitê de Língua de Sinais (LS) e Bilinguismo para
Surdos alocado dentro do Departamento de Linguagem, para cumprir com o objetivo de integrar a área da linguagem às Línguas
de Sinais. Três são as dimensões da Língua de Sinais na Fonoaudiologia:
Aquisição típica da LS, como primeira língua (L1);
Bilinguismo educacional para aprendizes surdos, auxiliando no letramento da primeira e segunda língua (L2) e no contato da
criança surda com a Língua Portuguesa como L2, mediada pela LS;
Atipias em LS, consideradas como qualquer manifestação de desordem da comunicação expressa nas Línguas de Sinais. [15]
Para a criança surda, a aquisição da LS é mais natural, visto que a língua possui modalidade visuoespacial, não havendo
impedimentos na aprendizagem se comparada a uma língua oral-auditiva, já que sua percepção auditiva está afetada. O
fonoaudiólogo, então, conhecendo o desenvolvimento da linguagem e os métodos para tornar a língua oral mais acessível ao
surdo, pode trazer maior eficiência aos padrões comunicativos desse indivíduo.

Na aprendizagem de uma língua, a estimulação é muito importante, visto que uma criança ouvinte, durante esse processo, tem
acesso a várias informações auditivas, recebendo estimulação da família, em sociedade e na experiência com os sons ambientes.
No caso da criança surda, que, provavelmente, não terá o acesso em casa à Língua de Sinais, sendo seus pais ouvintes, suas
capacidades linguísticas não serão desenvolvidas pela falta de estímulos.

As crianças surdas podem ser subdivididas em dois grupos: o de filhos surdos de pais ouvintes e o de filhos surdos de pais surdos.
Essa subdivisão será necessária para avaliação e desenvolvimento do processo terapêutico fonoaudiológico, por influência da
aquisição da linguagem desses dois grupos, que não ocorrerá do mesmo modo, dado que, no primeiro, as crianças devem receber
acompanhamento de linguagem precoce, para que não afete o processo de aprendizagem, no qual, para aquelas com pais que
também são surdos, ao serem expostas a um ambiente comunicativo ideal as suas modalidades sensoriais preservadas, o
desenvolvimento da linguagem será adequado.

Diante disso, a proposta da abordagem bilíngue é de que o surdo tenha, o mais cedo possível, acesso aos conhecimentos sociais e
culturais da língua de domínio e também desenvolva a segunda língua, de modo que ele obtenha recursos suficientes para a
aquisição dessas línguas, estando em uma escola com estrutura e metodologia adequadas para o receber, além do
acompanhamento com o fonoaudiólogo que irá criar situações para o auxílio da fluência das línguas. [16][17]

Oralismo

Oralismo é um método de ensino para surdos, defendido principalmente por Alexander Graham Bell (1874-1922).

Este método considera que a maneira mais eficaz de ensinar o surdo é através da língua oral ou falada, utilizando treino da fala, da
leitura labial (oralização) e treino auditivo. Ele acredita que o surdo só pode aprender e se desenvolver tanto intelectualmente
quanto linguisticamente através da língua oral.[1]

O Oralismo considera a visão clínico-terapêutica, a surdez é uma "deficiência" em relação a comunidade ouvinte, em outras
palavras, os surdos possuem uma desvantagem quando comparada aos demais Surge assim a ideia de que a surdez é uma
deficiência que necessita ser minimizada, com a intenção de que o surdo seja igual ao ouvinte. [2] Em síntese, o oralismo foi um
paradigma imposto a população surda por pesquisadores ouvintes que desconsideraram a autonomia e identidade surda. [3]

Surdos que foram educados através deste método de ensino são considerados surdos oralizados.

História
O fundador do oralismo foi Samuel Heinicke, que criou a metodologia que ficou conhecida como o "método alemão". Para ele, o
pensamento só era possível através da língua oral, o ensino pela língua de sinais significava ir contra o avanço dos alunos. [4]

Este método ganhou força no Congresso Internacional de Educadores de Surdos, realizado em Milão nos dias de 9 a 12 de
setembro de 1880 (conhecido como Congresso de Milão), que trouxe uma importante mudança nos rumos da educação de surdos
e, por isso, é considerado um marco histórico. [3]

O congresso contou com uma maioria oralista com o propósito de dar força de lei às suas proposições no que dizia respeito à
surdez e à educação de surdos. Seu objetivo era desenvolver a oralidade dos surdos, para os defensores deste método, a língua
falada era essencial para a comunicação e desenvolvimento do ser humano. [5]

Houve uma votação que culminou na proibição da língua de sinais como método de educação de surdos. A única oposição feita
ao oralismo foi apresentada pelo americano Thomas Hopkins Gallaudet, que discordou dos argumentos apresentados, reportando-
se aos sucessos obtidos por seus alunos. [6] Com exceção do americano, todos os participantes, em sua maioria europeus e
ouvintes, votaram por aclamação a aprovação do uso exclusivo e absoluto da metodologia oralista e o banimento da língua de
sinais sob o argumento que o uso de gestos e sinais seria um impedimento na aprendizagem da língua oral, sendo essa
considerada a mais importante do ponto de vista social. [4]

A partir do Congresso de Milão, o oralismo foi o referencial assumido no mundo todo sem qualquer questionamento por quase
um século. No entanto, essa abordagem educacional não gerou em grandes resultados, a maior parte dos surdos profundos não
desenvolveu uma fala socialmente satisfatória. Geralmente, esse desenvolvimento era parcial e tardio em relação à aquisição de
fala apresentada pelos ouvintes, implicando um atraso de desenvolvimento global significativo. [7]

Por consequência, no início do século XX, começou-se a observar que os surdos não conseguiam se oralizar plenamente, e
passaram a serem considerados deficientes. O descontentamento com os resultados do oralismo levou a pesquisas sobre línguas
de sinais, que deram origem a novas propostas em relação à educação da pessoa surda. [8]

Assim, nos anos 70, a "Comunicação Total", uso de sinais, da leitura orofacial, da amplificação e do alfabeto digital para fornecer
inputs linguísticos para estudantes surdos, foi sendo usada. Esse método trouxe melhoras nos aspectos educativos, assim, os
surdos, no final do processo escolar, conseguiram compreender e se comunicar um pouco mais satisfatória. [8]

Apesar desse pequeno avanço, eles apresentam ainda sérias dificuldades em expressar sentimentos e na comunicação em
contextos extraescolares, visto que, a grande maioria não conseguia atingir níveis acadêmicos satisfatórios para sua faixa etária.
Os sinais ainda ocupavam um lugar acessório, de auxiliar da fala, não havendo um espaço para seu desenvolvimento, assim,
muitas vezes, os surdos atendidos segundo essa orientação comunicam-se precariamente apesar do acesso aos sinais. [8]

A "Comunicação Total" favoreceu o contato com os sinais, que era proibido pelo oralismo, e esse contato propiciou que os surdos
se dispusessem à aprendizagem das línguas de sinais. [8]

No decorrer do século XX, o oralismo foi reafirmado a partir do aperfeiçoamento progressivo das tecnologias auditivas corretivas.
Passou-se a julgar que a estimulação auditiva possibilitaria ao surdo/deficiente auditivo se comunicar por meio da terapia da fala.
Vários artefatos auditivos vêm sendo desenvolvidos, como o implante coclear, que tem sido considerado pela comunidade
técnico-profissional como terapia curativa da surdez. [1]

Oralismo e Bilinguismo
Em conjunto com desenvolvimento das propostas de comunicação total, estudos sobre línguas de sinais foram sendo estruturados,
e, assim, aos poucos, surgiram alternativas educacionais voltadas para uma educação bilíngue. [8]

Segundo estudos de Bouvet (1990) a linguagem de sinais é adquirida pelos surdos com naturalidade e rapidez; e,
consequentemente, ela possibilita o desenvolvimento de uma comunicação eficiente e completa, como a dos sujeitos ouvintes.
Além de proporcionar a expansão cognitivo e social adequado e compatível com a faixa etária do indivíduo. [9]

No modelo bilinguista, o que se propõe é que sejam ensinadas duas línguas: a língua de sinais e, secundariamente, a língua oral. A
língua de sinais é considerada a mais adaptada à pessoa surda, por contar com a integridade do canal viso gestual. Esse modelo se
contrapõe ao modelo oralista e à comunicação total porque considera o meio viso gestual de importância fundamental para a
aquisição de linguagem da pessoa surda e defende um espaço efetivo para a língua de sinais no trabalho educacional. [8]

O objetivo da educação bilíngue é que o indivíduo surdo possa ter um desenvolvimento cognitivo-linguístico equivalente aos
demais. Também é pensada para que consiga desenvolver uma relação com ouvintes, bem como com pessoas surdas, acessando
as duas línguas: a língua de sinais e a língua oral. [8]

Esse modelo de bilinguismo não é como ao de quem fala duas línguas orais diferentes, porque nesse caso é aprendido as duas
línguas usando o canal auditivo-vocal. Enquanto no caso das crianças surdas, trata-se da aprendizagem de duas línguas que
envolvem canais de comunicação diversos. [8]

Políticas Públicas Inclusivas na educação dos surdos


Algumas das políticas que permeiam a trajetória da Educação Inclusiva no Brasil até alcançar a Lei de Libras - Decreto nº
5.626/05, que regulamenta a Lei nº 10.436/2002, são listadas abaixo:

Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948);


Declaração Mundial sobre Educação para Todos – Declaração de Jomtien (1990);
Declaração de Salamanca (1994);
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB (1996);
Plano Nacional de Educação (2001);
Lei de Libras (2002);
Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (2006);
Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (2008). [10]
Inicialmente, é importante considerar o impacto da Declaração Universal dos Direitos humanos (1948), elaborado para validar os
direitos à liberdade, igualdade, saúde e educação como bens humanitários atribuídos a todo e qualquer sujeito. O documento
defende que a discriminação, de qualquer natureza, é crime; além de reafirmar que qualquer ser humano tem direito à vida,
liberdade e segurança, direito à educação gratuita de qualidade e à liberdade de expressão. [10]

Ainda no quesito educação para todos, é subentendido que o atendimento educacional deve respeitar a especificidade de cada
indivíduo. Nessa mesma perspectiva, em 1990, em Jomtien, foi elaborado o documento intitulado “Declaração Mundial sobre
Educação para Todos: Satisfação das Necessidades Básicas de Aprendizagem”, que defende a universalização do acesso à
educação e promoção de equidade. [10]
Seguindo esses princípios, em 1994, a Declaração de Salamanca foi realizada durante a Conferência Mundial sobre necessidades
Educativas Especiais. A Declaração é vista como um passo essencial no desenvolvimento da Educação Inclusiva; por meio dela,
houve a ampliação do conceito de necessidades educacionais especiais que contemplem a diversidade. [10]

Apesar de propor e defender melhorias, as declarações não foram suficientes para superar os desafios pedagógicos da inclusão.
Nesse cenário, a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, que ocorreu em 2006 foi um marco no
sentido de ressignificar o conceito de diversidade; ampliando o horizonte para o fato de que a diversidade implicava em
abordagens diversas também. [10]

A partir de mudanças no cenário internacional, o Brasil avançou com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB
(1996), mesmo que timidamente, na inclusão, na modalidade de Educação Especial. Para a lei, a Educação Inclusiva é tifa como
uma modalidade de educação escolar, a qual é dever do Estado e deve ser oferecida na rede regular de ensino. Seguindo com o
avanço, entra em cena, em 2001, o Plano Nacional de Educação – PNE, englobando âmbitos sociais, culturais, políticos e
educacionais questionadas pela população, sob a ótica das lutas e proposições que defende a construção de uma sociedade mais
justa e igualitária. [10]

Em 2008 houve a elaboração da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. O documento
apresenta um copilado de orientações sobre políticas públicas voltadas para a Educação Especial e Inclusiva: orienta os sistemas
de ensino a garantir não só no acesso ao prédio escolar, mas também pedagógico, garantindo aprendizagem, ensino contínuo e
oferta de atendimento educacional especializado. [10]

A Lei de Libras em 2002 reconhece essa linguagem como forma de comunicação e expressão; assim, em consonância com esse
pressuposto, o Decreto nº 5.626/05 foi elaborado. O Decreto propõe disposições específicas para o desenvolvimento da Educação
Inclusiva para os surdos, isto é, a Educação Bilíngue. [10]

Artefatos auditivos
A política pública para os surdos no Brasil, intitulada "Política Nacional de Atenção à Saúde Auditiva", se baseia na perspectiva
biomédica de inclusão do surdo na sociedade ouvinte, através da disponibilização de aparelhos auditivos, dentre outras práticas de
oralização.[1]

Usuários de implante coclear ou de aparelhos auditivos fazem a opção pela filosofia oralista em sua educação; portanto, são
deficientes auditivos oralizados e não usam a língua de sinais como meio de comunicação. Os deficientes auditivos oralizados
tendem a ter uma vida social mais restrita que a das pessoas surdas, pois não participam da cultura surda ou usam a língua de
sinais, e também são rejeitados pelas pessoas ouvintes por causa da sua deficiência.

Congresso de Milão
O Congresso de Milão foi uma conferência internacional de educadores de surdos, em 1880[1]. Depois de deliberações entre 6 e
11 de Setembro de 1880, o congresso declarou que a educação oralista era a mais apropriado que à de língua gestual e aprovou
uma resolução que preferencialmente seria utilizado o uso da língua oral nas escolas.

Antes do Congresso
Antes do Congresso, na Europa, durante o século XVIII, surgiram duas tendências distintas na educação dos surdos: o
gestualismo (ou método francês) e o oralismo (ou método alemão). A grande maioria dos surdos defendia o gestualismo,
enquanto que apenas os ouvintes apoiavam o oralismo - por exemplo Bell, nos EUA, fazia campanha a favor deste método, entre
muitos outros professores, médicos, etc.

Congresso de Veneza
Em 1872, no Congresso de Veneza, decidiu-se o seguinte:

O meio humano para a comunicação do pensamento é a língua oral;


Se orientados, os surdos lêem os lábios e falam;
A língua oral tem vantagens para o desenvolvimento do intelecto, da moral e da linguística
Resoluções do Congresso de Milão
O Congresso de Milão, em 1880, foi um momento obscuro na História dos surdos, uma vez que lá, um grupo de pessoas, a
maioria ouvintes, tomou a decisão que a língua oral seria utilizada na educação e no ensino de surdos, substituindo-a língua de
sinais/gestuais (o comité do congresso era unicamente constituído por ouvintes.)[2]. Em consequência disso, o oralismo foi a
técnica preferida na educação dos surdos durante fins do século XIX e grande parte do século XX.

O Congresso durou 3 dias, nos quais foram votadas 8 resoluções, sendo que apenas uma (a terceira) foi aprovada por
unanimidade. As resoluções são:

O uso da língua falada, no ensino e educação dos surdos, deve preferir-se à língua gestual;
O uso da língua gestual em simultâneo com a língua oral, no ensino de surdos, afecta a fala, a leitura labial e a clareza dos
conceitos, pelo que a língua articulada pura deve ser preferida;
Os governos devem tomar medidas para que todos os surdos recebam educação;
O método mais apropriado para os surdos se apropriarem da fala é o método intuitivo (primeiro a fala depois a escrita); a
gramática deve ser ensinada através de exemplos práticos, com a maior clareza possível; devem ser facultados aos surdos livros
com palavras e formas de linguagem conhecidas pelo surdo;
Os educadores de surdos, do método oralista, devem aplicar-se na elaboração de obras específicas desta matéria;
Os surdos, depois de terminado o seu ensino oralista, não esqueceram o conhecimento adquirido, devendo, por isso, usar a língua
oral na conversação com pessoas falantes, já que a fala se desenvolve com a prática;
A idade mais favorável para admitir uma criança surda na escola é entre os 8-10 anos, sendo que a criança deve permanecer na
escola um mínimo de 7-8 anos; nenhum educador de surdos deve ter mais de 10 alunos em simultâneo;
Com o objectivo de se implementar, com urgência, o método oralista, deviam ser reunidas as crianças surdas recém admitidas nas
escolas, onde deveriam ser instruídas através da fala; essas mesmas crianças deveriam estar separadas das crianças mais
avançadas, que já haviam recebido educação gestual, a fim de que não fossem contaminadas; os alunos antigos também deveriam
ser ensinados segundo este novo sistema oral.[3]
Uma década depois do Congresso de Milão, acreditava-se que o ensino da língua gestual quase tinha desaparecido das escolas em
toda a Europa, e o oralismo espalhava-se para outros continentes.

História dos surdos

A história dos surdos registra seus acontecimentos históricos como grupo, que possui uma língua, uma identidade e uma cultura.

Gesticulando
Ao longo das eras, os Surdos travaram grandes batalhas pela afirmação da sua identidade, da comunidade surda, da sua língua[1]
e da sua cultura,[2] até alcançarem o reconhecimento que têm hoje, na era moderna.

Até à Idade Média


No Egito, os surdos eram adorados, como se fossem deuses, serviam de mediadores entre os deuses e os Faraós, sendo temidos e
respeitados pela população.

Na época do povo Hebreu, na Lei Hebraica, aparecem pela primeira vez, referências aos Surdos.

Grécia
Na Antigüidade os chineses lançavam os surdos ao mar, os gauleses os sacrificavam ao Deus Teutates, em Esparta eram lançados
do alto dos rochedos. Na Grécia, os Surdos eram encarados como seres incompetentes. Aristóteles,[3] ensinava que os que
nasciam surdos, por não possuírem linguagem, não eram capazes de raciocinar. Essa crença, comum na época, fazia com que, na
Grécia, os Surdos não recebessem educação secular, que não tivessem direitos, que fossem marginalizados (juntamente com os
deficientes mentais e os doentes) e que muitas vezes fossem condenados à morte. No entanto, em 360 a.C., Sócrates, declarou que
era aceitável que os Surdos se comunicassem com as mãos e o corpo. Séneca afirmou:

“ Matam-se cães quando estão com raiva; exterminam-se touros bravios; cortam-se as cabeças das ovelhas enfermas para
que as demais não sejam contaminadas; matamos os fetos e os recém-nascidos monstruosos; se nascerem defeituosos e
monstruosos, afogamo-los, não devido ao ódio, mas à razão, para distinguirmos as coisas inúteis das saudáveis.[4] ”
Os Romanos, influenciados pelo povo grego, tinham ideias semelhantes acerca dos Surdos, vendo-o como ser imperfeito, sem
direito a pertencer à sociedade, de acordo com Lucrécio e Plínio. Era comum lançarem as crianças surdas (especialmente as
pobres) ao rio Tibre, para serem cuidadas pelas Ninfas. O imperador Justiniano, em 529 a.C., criou uma lei que impossibilitava os
surdos de celebrar contratos, elaborar testamentos e até de possuir propriedades ou reclamar heranças (com excepção dos surdos
que falavam).

Roma
Em Constantinopla, as regras para os surdos eram basicamente as mesmas. No entanto, lá os Surdos realizavam algumas tarefas,
tais como o serviço de corte, como pajens das mulheres, ou como bobos, de entretenimento do sultão.
Mais tarde, Santo Agostinho defendia a ideia de que os pais de filhos Surdos estavam a pagar por algum pecado que haviam
cometido. Acreditava que os Surdos podiam comunicar por meio de gestos, que, em equivalência à fala, eram aceites quanto à
salvação da alma.

Os cristãos, até à Idade Média, criam que os Surdos, diferente dos ouvintes, não possuíam uma alma imortal, uma vez que eram
incapazes de proferir os sacramentos.

John Beverley, em 700 d.C., ensinou um Surdo a falar, pela primeira vez (em que há registo). Por essa razão, ele foi considerado
por muitos como o primeiro educador de Surdos.

Foi só no fim da Idade Média e inicio do Renascimento, que saímos da perspectiva religiosa para a perspectiva da razão, em que a
deficiência passa a ser analisada sob a óptica médica e científica.

Até à Idade Moderna


Foi na Idade Moderna que se distinguiu, pela primeira vez, surdez de mudez. A expressão surdo-mudo, deixou de ser a
designação do Surdo.

Pedro Ponce de León


Pedro Ponce de León, um monge católico da ordem dos beneditinos, inicia, mundialmente, a história dos Surdos, tal como a
conhecemos hoje em dia. Para além de fundar uma escola para Surdos, em Madrid, ele dedicou grande parte da sua vida a ensinar
os filhos Surdos, de pessoas nobres, nobres esses que de bom grado lhe encarregavam os filhos, para que pudessem ter privilégios
perante a lei (assim, a preocupação geral em educar os Surdos, na época, era tão somente económica). León desenvolveu um
alfabeto manual, que ajudava os Surdos a soletrar as palavras (há quem defenda a ideia de que esse alfabeto manual foi baseado
nos gestos criados por monges, que comunicavam entre si desta maneira pelo facto de terem feito voto de silêncio).

Nesta época era costume que as crianças que recebiam este tipo de educação e tratamento fossem filhas de pessoas que tinham
uma situação económica boa. As demais eram colocadas em asilos com pessoas das mais diversas origens e problemas, pois não
se acreditava que pudessem se desenvolver em função da sua "anormalidade".[5]

Juan Pablo Bonet, aproveitando o trabalho iniciado por León, foi estudioso dos Surdos e seu educador. Escreveu sobre as
maneiras de ensinar os Surdos a ler e a falar, por meio do alfabeto manual. Bonet proibia o uso da língua gestual, optando o
método oral.

John Bulwer, médico inglês, acreditava que a língua gestual deveria possuir um lugar de destaque, na educação para os Surdos;
foi o primeiro a desenvolver um método para comunicar com os Surdos. Publicou vários livros, que realçam o uso de gestos.

John Wallis (1616-1703), educador de Surdos e estudioso da surdez, depois de tentar ensinar vários Surdos a falar, desistiu desse
método de ensino, dedicando-se mais ao ensino da escrita. Usava gestos, no seu ensino. George Dalgarno desenvolveu um
sistema inovador de dactilologia. Konrah Amman, defensor da leitura labial, já que considerava que a fala era uma dádiva de
Deus que fazia com que a pessoa fosse humana (não considerava os Surdos que não falavam como humanos). Amman não fazia
uso da língua gestual, pois acreditava que os gestos atrofiavam a mente, embora os usasse como método de ensino, para atingir a
oralidade.

O Abade Charles-Michel de l'Épée, fundador da primeira escola para surdos.


Charles Michel de L'Épée, nascido em 1712, ensinava, numa primeira fase, os Surdos, por motivos religiosos. Muitos o
consideram criador da língua gestual. Embora saibamos que a mesma já existia antes dele, L'Épée reconheceu que essa língua
realmente existia e que se desenvolvia (embora a não considerasse uma língua com gramática). Os seus principais contributos
foram:

criação do Instituto Nacional de Surdos-Mudos, em Paris (primeira escola de Surdos do mundo);


reconhecimento do Surdo como ser humano, por reconhecer a sua língua;
adopção do método de educação colectiva;
reconhecimento de que ensinar o Surdo a falar seria perda de tempo, antes que se devia ensinar-lhe a língua gestual.
Ver artigo principal: Charles Michel de L'Épée
Jacob Rodrigues Pereira, educador de Surdos que usava gestos mas sempre defendeu a oralização dos Surdos. Nunca publicou
nenhum dos seus estudos. Thomas Braidwood, fundou uma escola de Surdos, em Edimburgo (a primeira escola de correcção da
fala da Europa). Samuel Heinicke, ensinou vários Surdos a falar, criando e definindo o método hoje conhecido como Oralismo.

Até à Idade Contemporânea


Depois da Revolução Francesa e durante a Revolução Industrial, entrou-se numa era de disputa entre os métodos oralistas e os
baseados na língua gestual. Roch-Ambroise Cucurron Sicard foi um abade francês, famoso pelo seu trabalho como educador de
Surdos; Sicard fundou a escola de Surdos de Bordéus, em 1782, posteriormente sucedeu a L'Épée, como director do instituto
criado pelo mesmo, também apoiou a criação de vários institutos de surdos em todo o país. Pierre Desloges, francês, tornou-se
surdo aos 7 anos, devido à varíola, foi defensor da língua gestual, tendo sido autor do primeiro livro publicado por um surdo, onde
revelava a sua indignação contra as ideias do Abade Deschamps, que havia publicado um livro que criticava a língua gestual.
Desloges, a esse respeito, declarou o seguinte:

“ Tal como o francês vê a sua língua desvirtuada por um alemão que apenas conhece algumas palavras da língua francesa,
penso que devo defender a minha língua contra as acusações falsas deste autor. ”
Desloges, em seu livro, defende a ideia de que a língua gestual (Antiga Língua Gestual Francesa) já existia, mesmo antes do
aparecimento das primeiras escolas de surdos, como criação dos surdos e sua língua natural.

Thomas Hopkins Gallaudet


Jean Itard, primeiro médico a interessar-se pelo estudo da surdez e das deficiências auditivas, usava os seguintes métodos nas suas
pesquisas: cargas eléctricas, sangramentos, perfuração de tímpanos, entre outras.[6]

Jean Massieu foi um dos primeiros professores surdos do mundo. Laurent Clerc, surdo francês, educador, acompanhou Thomas
Hopkins Gallaudet, educador ouvinte, aos EUA, onde abriram uma escola para surdos, em Abril de 1817, a Escola de Hartford.
Gallaudet instituiu nessa escola a Língua Gestual Americana, passou ainda a seu usado o inglês escrito e o alfabeto manual. Em
1830, quando Gallaudet se reformou, já existiam nos Estados Unidos cerca de 30 escolas para surdos.

Ver artigo principal: Thomas Hopkins Gallaudet


Edward Miner Gallaudet, filho de Thomas Gallaudet e também educador de surdos, lutou pela elevação do estatuto do Instituto de
Colúmbia a colégio. Esse colégio deu origem, em 1857, à Universidade Gallaudet, onde for presidente por 40 anos.

Nesse interím, Alexander Graham Bell, cientista estadunidense, trabalhava na oralização dos surdos. Casou com uma surda,
Mabel. Bell era grande defensor do oralismo e opunha-se à língua gestual e às comunidades de surdos, uma vez que as
considerava como um perigo contra a sociedade. Assim sendo, Bell defendia que os surdos não deveriam poder casar entre si e
deveriam obrigatoriamente frequentar escolas normais, regulares. No entanto, em 1887 Bell, no Congresso de Milão, admitiu que
os surdos deveriam ser oralizados durante um ano, mas se isso não resultasse, então poderiam ser expostos à língua gestual.[7]
Esta luta entre o oralismo e a língua gestual continua até aos nossos dias.[8]

Hellen Keller
Em 1880 nasce Hellen Keller, nos Estados Unidos. Hellen ficou cega e surda aos 19 meses de idade, por causa de uma doença.
Aos 7 anos Hellen havia criado cerca de 60 gestos (br: sinais) para se comunicar com os familiares. Anne Sulivan, a professora de
Hellen, isolou-a do resto da família, conseguindo assim disciplinar e ensinar Hellen. Sullivan ensina a Hellen usando o método de
Tadona, que consiste em tocar os lábios e a garganta da pessoa que fala, sendo isso combinado com dactilologia na palma da mão.
Hellen aprendeu a ler inglês, francês, alemão, grego e latim, através do braile. Aos 24 anos formou-se, em Radcliffe. Foi
sufragista, pacifista e apoiante do planeamento familiar. Fundou o Hellen Keller International, uma organização para prevenir a
cegueira. Publicou muitos livros e foi galardoada por Lydon B. Johnson, com a Presidential Medal od Freedoms.

Ver artigo principal: Hellen Keller


Associativismo
Quando Sicard morreu, o Instituto Nacional de Surdos-Mudos de Paris iniciou um período conturbado. Além de sucessivos
diretores que nunca conseguiram estabelecer uma liderança forte, as questões institucionais eram tratadas como questões
familiares e o Institudo começou a perder crédito. Como ao longo de toda a história dos surdos, nesta época a luta entre adeptos
do oralismo e do gestualismo continuava, dentro e fora do Instituto.

Bébian fundou uma escola privada para surdos, em Paris, onde usava o seu defendido método oralista, sendo proibido aos alunos
do Instituto Nacional que contactassem com Bébian, quer dentro quer fora do Instituto.

Em 1829 o Instituto tinha apenas dois professores Surdos e apenas alunos do sexo masculino usufruíam de suas aulas; não
existiam pessoas Surdas no conselho diretivo, no conselho colsultivo, na formação vocacional, nem mesmo entre os monitores.
Por estarem cientes destes problemas, alguns professores uniram-se na tentativa de mudar o rumo da situação e surgem então duas
frentes ideológicas, de um lado os defensores do método oralista, de outro lado os defensores do gestualismo.

No final de 1830 houve um grande movimento de pessoas Surdas, que mexeu com as bases do instituto. Ferdinad Berthier, líder
de uma delegação de surdos, escreveu ao Rei Luís Filipe, de França, pedindo a readmissão de Bébian na direção do Instituto - o
que chocou de tal modo a administração do Instituto que apenas aumentou as lutas e os desentendimentos de adeptos oralistas e
gestualistas, que entraram em ruptura.

Neste época, quase todas as escolas de Surdos em França usavam os métodos de Bébian na educação dos surdos e criticavam as
posições do Instituto.

Em 1834, um comité de dez membros Surdos liderados por Berthier organizou um banquete em honra do Abade de L'Épée,
banquete esse que se tornou um evento anual, usado pelos Surdos como fórum a fim de publicitar as suas ideias e exigências.
Nascia assim o Movimento Surdo, numa época em que pessoas Surdas tomavam conta de suas vidas e tomavam consciência do
que os rodeava, lutando por seus direitos e resolvendo seus próprios problemas. Com o tempo, estes banquetes tornaram-se
festivais de Língua Gestual.
Em 1838 foi fundada a Sociedade Central de Assistência e Educação de Surdos-Mudos - a primeira associação de Surdos do
mundo.

Congresso de Milão

Alexander Graham Bell


Antes do Congresso, na Europa, durante o século XVIII, surgiam duas tendências distintas na educação dos surdos: o gestualismo
(ou método francês) e o oralismo (ou método alemão). A grande maioria dos surdos defendia o gestualismo enquanto que apenas
os ouvintes apoiavam o oralismo - por exemplo Bell, nos EUA, fazia campanha a favor deste método, entre muitos outros
professores, médicos, etc.

Ver artigo principal: Alexander Graham Bell


Em 1872, no Congresso de Veneza, decidiu-se o seguinte:

O meio humano para a comunicação do pensamento é a língua oral;


Se orientados, os surdos lêem os lábios e falam;
A língua oral tem vantagens para o desenvolvimento do intelecto, da moral e da linguística
O Congresso de Milão, em 1880, foi um momento obscuro na História dos surdos, uma vez que lá um grupo de ouvintes, tomou a
decisão de excluir a língua gestual do ensino de surdos, substituindo-a pelo oralismo (o comité do congresso era unicamente
constituído por ouvintes.).[9] Em consequência disso, o oralismo foi a técnica preferida na educação dos surdos durante fins do
século XIX e grande parte do século XX.

O Congresso durou 3 dias, nos quais foram votadas 8 resoluções, sendo que apenas uma (a terceira) foi aprovada por
unanimidade. As resoluções são:

O uso da língua falada, no ensino e educação dos surdos, deve preferir-se à língua gestual;
O uso da língua gestual em simultâneo com a língua oral, no ensino de surdos, afecta a fala, a leitura labial e a clareza dos
conceitos, pelo que a língua articulada pura deve ser preferida;
Os governos devem tomar medidas para que todos os surdos recebam educação;
O método mais apropriado para os surdos se apropriarem da fala é o método intuitivo (primeiro a fala depois a escrita); a
gramática deve ser ensinada através de exemplos práticos, com a maior clareza possível; devem ser facultados aos surdos livros
com palavras e formas de linguagem conhecidas pelo surdo;
Os educadores de surdos, do método oralista, devem aplicar-se na elaboração de obras específicas desta matéria;
Os surdos, depois de terminado o seu ensino oralista, não esqueceram o conhecimento adquirido, devendo, por isso, usar a língua
oral na conversação com pessoas falantes, já que a fala se desenvolve com a prática;
A idade mais favorável para admitir uma criança surda na escola é entre os 8-10 anos, sendo que a criança deve permanecer na
escola um mínimo de 7-8 anos; nenhum educador de surdos deve ter mais de 10 alunos em simultâneo;
Com o objectivo de se implementar, com urgência, o método oralista, deviam ser reunidas as crianças surdas recém admitidas nas
escolas, onde deveriam ser instruídas através da fala; essas mesmas crianças deveriam estar separadas das crianças mais
avançadas, que já haviam recebido educação gestual, a fim de que não fossem contaminadas; os alunos antigos também deveriam
ser ensinados segundo este novo sistema oral.[10]
Uma década depois do Congresso de Milão, acreditava-se que o ensino da língua gestual quase tinha desaparecido das escolas em
toda a Europa, e o oralismo espalhava-se para outros continentes.

Durante o século XX
Em resultado da evolução nos campos da tecnologia e da ciência, no século XX, particularmente no campo da surdez, a educação
dos surdos passou a ser dominada pelo oralismo (que encara a surdez como algo que pode ser corrigido). No entanto, sem a cura
da surdez[11] os insucessos do oralismo começaram a ser evidenciados, pois os surdos educados no método não os ajudava a
conseguir um emprego, comunicar com ouvintes desconhecidos ou manter uma conversa fluída.[12]

Ilustração do interior de um implante coclear.


Entretanto, surge o primeiro aparelho auditivo, em 1898.[13] Na Antiguidade, os aparelhos usados eram cornetas, ou tubos
acústicos,,[14] mas a ampliação electrónica começou com Bell, em 1876, quando inventou o telefone com a intenção de
amplificar o som para a sua esposa e mãe, ambas surdas.[15] ideia que é concretizada em 1900, em Viena, por Ferdinand Alt.[16]
Só em 1948 surgem aparelhos com pilhas incorporadas e em 1953 começou a ser usado o transístor em próteses.
Em 1970 aparecem as primeiras tentativas de implantação coclear. Esse tipo de implante sempre gerou muita controvérsia nas
comunidades surdas em todo o mundo. Os argumentos a favor do implante resumem-se ao acesso à língua oral, na idade crítica de
aquisição, que a cirurgia é simples e segura e com a possibilidade de proporcionar à criança de ter uma vida social com som, e
não com deficiência.[17][18] No entanto, a comunidade surda, como um todo, é contra a implantação coclear em crianças surdas,
antes da aquisição da linguagem.[19][20] Pensa a comunidade que obrigar a criança surda a ser ouvinte, mesmo não sendo,
influencia outros a negligenciar necessidades e meios de apoio à deficiência. Muitos médicos recomendam que o implante coclear
seja acompanhado com a língua gestual, especialmente nos primeiros anos da criança, a fim de assegurar o pleno
desenvolvimento cognitivo da criança. Segundo fontes médicas, os riscos do implante coclear incluem: infecção, vertigem,
estimulação retardada, forte exposição a campos magnéticos, necessidade de acompanhamento médico por toda a vida.[21][22]

Segunda Guerra Mundial


Em 1920, antes da chegada dos nazistas ao poder, surgiu nos EUA e na Alemanha um movimento da comunidade médica, com
apoio das sociedades em questão, em prol da esterilização de doentes mentais e psicopatas criminosos (na Alemanha este
movimento ficou conhecido como higiene racial). Em 1933, com a chegada dos nazis ao poder, este movimento teve suporte
político. Nesse mesmo ano, na Alemanha, foi aprovada uma lei para esterilizar as pessoas que possuíam doenças genéticas
transmissíveis, incluindo a surdez.[23][24]

Na época, Berlim continha cerca de vinte e cinco comunidades de Surdos.

Em Junho de 1933, o jornal alemão mencionou o primeiro Surdo a pertencer às S.A. e uma unidade militar composta dos Surdos;
um ano mais tarde, esta unidade foi dissolvida, sob pretexto de que o grupo não reunia o perfil da imagem do nazismo ideal.

Entretanto, os Surdos começaram a perder os seus direitos:

os programas recreativos para surdos foram extintos;


crianças surdas foram expulsas das escolas e denunciadas às autoridades;
gradualmente, as escolas de Surdos foram encerradas e convertidas em hospitais militares.
Dados comprovam que, em 1937, 95% das crianças surdas pertenciam à juventude hitleriana, tendo a letra G (em alemão, inicial
de gehoerlosan) marcada no ombro do casaco.

Posteriormente, assim que começou a guerra, a Alemanha passou da esterilização para a eutanásia, tanto por razões económicas,
como por razões ideológicas. Em 1941, era comum o uso de eutanásia nos hospitais, onde eram mortos bebés com deficiência,
incluindo surdos.[25] Posteriormente, tornou-se comum a prática do aborto, que era aplicada quando se suspeitava que os fetos
poderiam ter deficiências congénitas, ou qualquer tipo de doença, como no caso da surdez.

Poucos surdos escaparam, sobrevivendo em guetos e nos campos de concentração na Alemanha, Polónia e Hungria.

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