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Introdução à Língua Brasileira de

Sinais - LIBRAS
Desenvolvimento do material
Jadson Abraão

1ª Edição
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Sumário
Introdução à Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS
OBJETIVOS ........................................................................................ 04
Introdução ......................................................................................... 05
1. A História da Educação dos Surdos no Brasil ............................. 06
1.1 Onde Tudo Começa ............................................................... 06
1.2 Chegada ao Brasil ................................................................. 10
2. Alfabeto Manual e o Uso da Datilologia ................................... 12
3. Tipos Numéricos em Libras ..................................................... 13
Síntese ............................................................................................ 17
Referências ........................................................................................ 18
OBJETIVOS
▪ Conhecer o processo histórico da educação de surdos no mundo e
no Brasil.
▪ Reconhecer por quais correntes a educação dos surdos passou e
como ela se encontra hoje.
▪ Identificar a criação da 1ª escola para surdos no Brasil e seus
principais atores.
▪ Reconhecer o alfabeto manual e reproduzi-lo.
▪ Reconhecer os numerais na LIBRAS, identificando suas diferenças
entre número cardinais, ordinais e quantitativos.

4 Libras
Introdução
A Língua Brasileira de Sinais, ou LIBRAS, é usada pela comunidade
de surdos no país e já foi reconhecida por lei, ou seja, é uma língua oficial,
tal como a nossa língua falada. Sua importância é tão grande que os sistemas
educacionais, federal, estadual e municipal devem garantir seu ensino. Em
24 de abril de 2002, a LIBRAS foi reconhecida como a língua no Brasil,
utilizada pela comunidade surda. A comunidade surda, que lutava por esse
acontecimento até então, conseguiu festejar a valorização da sua identidade
e cultura, além do reconhecimento linguístico da LIBRAS como língua
natural das pessoas surdas.

No Brasil, o surdo ganhou status de um sujeito bilíngue, por ter,


no seu processo de alfabetização, o ensino de duas línguas: a LIBRAS e
o Português (na modalidade escrita). Segundo o Censo de 2010, realizado
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população
brasileira ultrapassa 183,5 milhões de habitantes, e estima-se que cerca de
14,5 da população possui algum tipo de deficiência. Entre as deficiências
identificadas, a deficiência auditiva ocupa a quarta posição, com 7,5 milhões
de pessoas que sofrem com algum tipo de déficit auditivo – entre estes, mais
de 4 milhões são usuários da Língua Brasileira de Sinais.

Nesta unidade de aprendizagem conheceremos o processo histórico


da educação dos surdos e daremos início ao estudo aprofundado da LIBRAS.

Libras 5
1. A História da Educação dos Surdos no Brasil
Até chegarmos a realidade que os surdos vivem hoje no Brasil, passamos
por vários processos aqui em nosso país e no mundo todo. Uma longa trajetória
foi percorrida por vários personagens, quer seja anônimos ou não. Vejamos,
a seguir, alguns acontecimentos que contribuíram significativamente para a
construção da educação para a comunidade surda no Brasil e no mundo.

1.1 Onde Tudo Começa


Charles-Michel de L’Épée foi um educador filantrópico francês do
século XVIII, que ficou conhecido como “Pai dos surdos”. Europeu, ele
nasceu em uma família abastada em Versailles, em uma das famílias mais ricas
da Europa. Estudou para ser padre católico, mas foi-lhe negada a ordenação
em resultado da sua recusa em negar o Jansenismo, um popular movimento
de reforma religiosa da época. Então, L’Épée estudou Direito, mas pouco
depois, foi aceito e designado abade.

Figura 1: Charles-Michel de L’Épée.

6 Libras
No centro das discussões estavam pelo menos três grandes
abordagens metodológicas: oral, mímica e mista. A preocupação
em definir as causas da surdez e sua classificação quanto à perda
auditiva objetivava uma escolha mais adequada do método a ser
trabalhado. O desenvolvimento da fala era defendido para aqueles
que tinham algum resíduo auditivo. Aos duros de ouvidos, como
eram denominados o surdos profundos, o trabalho tinha como foco
a escrita. (ROCHA, 2008, p.15)

Charles-Michel era voltado para caridade e atuava em uma parte pobre


de Paris, onde teve oportunidade de encontrar duas jovens irmãs, surdas, que
se comunicavam por meio da língua gestual (ou língua de sinais, como é
chamada no Brasil). L’Épée decidiu, então, dedicar-se à salvação dos surdos
e, em 1755, fundou um abrigo (escola), custeado com seu próprio dinheiro,
que chegou a ter 60 alunos ricos e pobres. Em consequência das teorias
filosóficas que emergiram na época, ele começou a acreditar que os surdos
possuíam uma linguagem e que por meio dela, os surdos poderiam ser salvos
e receberem o sacramento e ir para o céu. Com isso, ele criou um método/
sistema de ensino e instrução da língua francesa e da religião. Nos primeiros
anos da década de 1760, o seu abrigo tornou-se a primeira escola de surdos, a
nível mundial, aberta ao público.

A surdez é tão antiga quanto a humanidade. Sempre existiram


surdos. O que acontece, porém, nos diferentes momentos históricos,
é que nem sempre eles foram respeitados como seres humanos.
Desde os tempos mais remotos, há registro que indicam a existência
de pessoas que não ouviam, e que os Surdos congênitos (de nascença)
não aprendiam a falar normalmente e, por isso, expressavam-se
por sinais. A falta de audição, nesses relatos, sempre foi associada
à incapacidade para compreender e articular a palavra falada, daí
serem denominados de Surdos-mudos. (SÁNCHEZ, 1990, p.31
apud FERNANDES, 2012, p.19-20)

Embora o seu interesse principal fosse a educação religiosa dos surdos,


a sua advocacia e o desenvolvimento do francês gestual permitiram aos surdos,
pela primeira vez, defenderem-se em tribunal legalmente.

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O Abade L’Épée morreu no início da Revolução Francesa (1789) e seu
túmulo está na Igreja de Sain Roch, Paris. Dois anos depois da sua morte, a
Assembleia Nacional o reconheceu como “Benfeitor da Humanidade”, e foi
declarado que os surdos têm direitos de acordo com a Declaração dos Direitos
do Homem e do Cidadão neste mesmo ano (1791). O abrigo de L’Épée foi
transformado no Instituto Nacional dos Surdos-Mudos de Paris, tendo sido
seu primeiro diretor, o abade Sicard (1742-1822).

Os seus métodos de educação espalharam-se pelo mundo e o abade


de L’Épée hoje é considerado como um dos fundadores da educação para
os surdos.

Na Alemanha, Heinicke fundou a primeira instituição para surdos em


Leipzing no ano de 1778. Seu método de ensino era oral, embora utilizasse
alguns sinais e o alfabeto digital, com o objetivo de desenvolver a fala. O
que diferencia L’Épée dos educadores de surdos antes dele é o fato de ele
ter permitido que os seus métodos e o acesso às suas aulas fossem abertos ao
público e a outros educadores. Em resultado desta abertura, os seus métodos
influenciaram toda a educação de surdos atual. L’Épée também estabeleceu
programas de ensino e treinamento para estrangeiros que pretendiam levar os
métodos de ensino para o seu próprio país, tendo, deste modo, contribuído
para a abertura de imensas escolas ao redor do mundo.

Em 1815, o reverendo Thomas Hopkins Gallaudet estudou no


Instituto de Surdos de Paris com o professor Abade Sicard e, ao se formar,
voltou para os EUA na companhia de seu amigo Laurent Clérc, um professor
surdo, e que também foi ex-aluno do Instituto de Surdos em Paris. Eles
fundaram a primeira escola para surdos na América, situada em Washington,
e que anos depois (1857), se tornaria uma Universidade para surdos conhecida
no mundo todo.

No ano de 1880, houve um Congresso Mundial de Surdos realizado


em Milão, onde reuniram-se surdos e ouvintes da Europa e dos EUA para
discutirem os rumos da educação dos surdos, e qual seria a filosofia adotada
a partir daquele momento. Ficou decidido que a metodologia utilizada seria
a do oralismo, visando, assim, o desenvolvimento da fala e leitura labial das
pessoas surdas, e proibindo o uso de qualquer tipo de gestos e/ou sinais.

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Uma curiosidade é que neste congresso de 1880, houve a participação
de Mabel Bell (esposa de Alexandre Grahan Bell), o criador do telefone. Ela
era surda por conta de uma doença perto do seu quinto aniversário. Mabel era
a favor do oralismo e votou contra o método de utilização dos sinais.

O oralismo e a supressão do Sinal resultaram numa deterioração


dramática das conquistas educacionais das crianças surdas e no grau
de instrução do surdo em Geral.
Muitos dos surdos hoje em dia são iletrados funcionais. Um estudo
realizado pelo Colégio Gallaudet em 1972 revelou que o nível
médio de leituras dos graduados surdos de dezoitos anos em escolas
secundárias nos Estados Unidos era equivalente apenas à quarta
série; outros estudos, efetuado pelo psicólogo britânico R. Conrad,
indica uma situação similar na Inglaterra, com os estudantes surdos,
por ocasião da graduação, lendo no nível de crianças de nove anos
(...). (SACKS, 1990, p.45 apud QUADROS, 1997, p.22)

Em um período de quase 100 anos, foi proibido o uso dos sinais, até
que em 1971, em um outro Congresso Mundial de Surdos, mas dessa vez
realizado em Paris, a Língua de Sinais passou a ser novamente valorizada e sua
reutilização aceita nos processos de ensino-aprendizagem das pessoas surdas.
Começaram a surgir vários questionamentos acerca do oralismo, pois as
crianças surdas nunca conseguiriam se comunicar como as crianças ouvintes.

Diante deste fato, nasce o que chamamos de comunicação total. Para


alguns teóricos, esse segundo movimento não é considerado uma Filosofia
ou Corrente da Educação, pois ele não vem negar ou contrapor o método
que estava em vigor até então, mas sim, fazer uma síntese e complementação
nesse novo sistema. Esse novo método considera vários artifícios, como a
língua de sinais, os gestos, a mímica e até leitura labial para colaborar com o
desenvolvimento da língua oral das pessoas surdas.

Essa nova modalidade não surtiu tanto efeito, visto que defendia o uso
simultâneo de duas línguas: os sinais e a fala, com estruturas completamente
diferentes, o que dificultava o aprendizado dos alunos.

Libras 9
Surge então, o terceiro movimento que chamaremos de bilinguismo.
Por volta dos anos 1980, surgem os primeiros estudos que apontam para o
bilinguismo, como uma solução a ser adotada para a educação dos surdos.
Nesta metodologia, o trabalho consiste em um modelo escolar apoiado no
ensino da Língua Portuguesa (escrita), como segunda língua = L2, e o ensino
da Língua de Sinais como primeira língua = L1.

Como visto na Lei da Libras, o Decreto estabelece a


obrigatoriedade da disciplina nos cursos de formação (...).
Esses documentos foram muito importantes para o reconhecimento
dos surdos brasileiros como uma comunidade social e linguística.
A educação dos surdos tem melhorado significativamente com a
regulamentação da língua brasileira de sinais, pois garante o direito
linguístico dos Surdos de terem acesso à educação e à sociedade na
sua língua. (CHOI, 2011, p.98)

Dentro dessa metodologia, que prioriza o uso e a aprendizagem da


primeira língua (Língua de Sinais), é possível perceber que fica mais fácil e
clara a leitura do mundo a partir das experiências visuais que os surdos têm,
já que as Línguas de Sinais são consideradas como língua viso-gestual e as
Línguas Orais são oral-auditivas.

1.2 Chegada ao Brasil


Diante dos acontecimentos que afetaram diretamente a vida dos
surdos na Europa, essa herança chega até o Brasil por meio de Ernest Huet,
que vem para o país com a ideia de fundar um instituto de educação para os
surdos brasileiros. Hoje, com o nome de Instituto Nacional de Educação dos
Surdos (INES), o local foi criado em meados do século XIX com a proposta
de educação para os surdos brasileiros.

Em 1855, E. Huet apresenta ao Imperador D. Pedro II um documento,


que tinha o intuito de fundar uma escola para surdos, visto que ele já trazia
consigo a experiência de dirigir um instituto para surdos na França.

D. Pedro II aprova a ideia de Huet e chama o Marquês de Abrantes


para acompanhar todo o processo de criação do Instituto Imperial de Surdos-
Mudos do Brasil, hoje com o nome de Instituto Nacional de Educação dos
Surdos (INES).

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No relatório entregue ao imperador, Huet apresentou duas
propostas para que o governo ajudasse na criação do colégio, já
que, segundo ele, a maioria dos surdos pertencia a famílias pobres
e, portanto, sem condições de arcar com as despesas relativas à
educação. Em uma, o colégio seria de propriedade livre (particular),
(...), em outra, as despesas totais seriam assumidas pelo Império
(pública). (ROCHA, 2008, p.28)

Figura 2: Instituto Nacional de Educação dos Surdos - RJ (1926). Fonte: Helb.

A escola para surdos passou a funcionar em 1º de janeiro de 1856,


nas dependências do colégio de M. De Vassimon. Huet, em 1855, enviou
à Câmara dos Deputados uma petição para criação do Instituto Imperial de
Surdos-Mudos com todos os benefícios que o Instituto de Cegos já havia
conseguido. Só um ano e meio depois, em 26 de setembro de 1857, a petição
foi aceita e promulgada pela Lei 939, que garantia um orçamento anual para as
despesas do Instituto Imperial de Surdos-Mudos. Após a queda do império e a
criação da república no Brasil em 1889, o instituto
teve o seu nome alterado para Instituto Nacional de Importante
Educação dos Surdos (INES), que permanece até
hoje. Atualmente, a instituição fica situada na Rua De acordo com o IBGE, cerca
das Laranjeiras, nº 232, em Laranjeiras, Rio de de 9,7 milhões de brasileiros
Janeiro. O instituto possui não só o Ensino Regular possuem deficiência auditiva,
(1º ao 9º ano), como também o Ensino Médio, o que representa 5,1% da
Pré-Vestibular, Graduação e Pós-graduação. população do país.

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2. Alfabeto Manual e o Uso da Datilologia
O uso do alfabeto manual é de extrema importância na Língua
Brasileira de Sinais (LIBRAS). Por meio dele, podemos expressar nomes,
nomes de lugares e até aprender palavras novas, que ainda não conhecemos na
LIBRAS. Observe o alfabeto a seguir, por meio da Figura 3:

Figura 3: Alfabeto Manual da LIBRAS.

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3. Tipos Numéricos em Libras
Na LIBRAS, temos representações distintas para cada um dos tipos
de números, sendo estes separados em três grupos:

Números Cardinais

Figura 4: Números cardinais.


Para formar números compostos (dezenas, centenas e milhares),
basta realizar os números em sequência. Os números cardinais devem ser
apresentados na forma horizontal (deitado). Veja o exemplo a seguir do
número 31, por meio da Figura 5:

Figura 5: Exemplo de números cardinais.

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Números Ordinais

Os números ordinais devem ser realizados com a mesma configuração


(forma das mãos) dos números cardinais, acrescida de mais duas alterações:

▪ Inflamos a bochecha (somente de um lado);


▪ Realizamos um leve movimento da mão com o numeral (para cima
e para baixo).

Figura 6: Números ordinais.

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Números Quantitativos

Para os numerais de quantidade, realizaremos a alteração apenas nos


4 primeiros números simples (1, 2, 3 e 4). Depois disso, os números seguem
a mesma configuração característica na LIBRAS, inclusive nas dezenas,
centenas e milhares. Observe os exemplos a seguir:

Figura 7: Números quantitativos: 1, 2, 3, 4.

Exemplo de números cardinais:

Você mora na casa 1 ou na casa 2?

Figura 8: Números quantitativos.

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Exemplo de números de quantidade:

Onde você mora tem 1 ou 2 casas?

Figura 9: Números quantitativos.

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Síntese
Nesta unidade de aprendizagem, conhecemos a trajetória da educação
dos surdos no Brasil e no mundo, analisando as diferentes correntes
educacionais, desde a antiguidade até a atualidade. Iniciamos a nossa
aprendizagem da Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS, conhecendo o
Alfabeto Manual e os Numerais.

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Referências
CHOI, D. et al. Libras conhecimento além dos sinais. São Paulo: Pearson
Prentice Hall, 2001.

FERNANDES, S. Educação de surdos. Curitiba: InterSaberes, 2012.

HELB. Instituto Nacional passa-se a chamar Instituto Nacional de


Educação de Surdos. Disponível em: <http://www.helb.org.br/index.php/
linha-do-tempo/1065-1957/41-instituto-nacional-passa-se-a-chamar-
instituto-nacional-de-educacao-de-surdos>. Acesso em: 17 jan. 2019.

IBGE. Censo 2010. Disponível em: <http://www.censo2010.ibge.gov.br/>.


Acesso em: 17 jan. 2019

QUADROS, R. M. Educação de surdos: a aquisição da linguagem. Porto


Alegre: Artmed, 1997.

ROCHA, S. O INES e a educação de surdos no Brasil: aspectos da trajetória


do Instituto Nacional de Educação de Surdos em seu percurso de 150 anos.
Rio de Janeiro: INES, 2008.

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