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A autora Perlin (2004, p.80) cita: “As narrativas surdas constantes à luz do dia estão cheias de
exclusão, de opressão, de estereótipos”.
Somente a partir do século XVI é que surgem os primeiros educadores, preocupados em provar
uma filosofia adequada e condizente, frente à natureza diferente da comunidade surda, e em
consonância com suas aspirações de liberdade em se comunicarem com sua língua materna e
natural – a língua de sinais.
Esta preocupação educacional de surdos deu lugar às aparições de numerosos professores que
desenvolveram, simultaneamente, seus trabalhos com os sujeitos surdos e de maneira
independente, em diferentes lugares da Europa. Havia professores que se abocavam na tarefa
de comprovar a veracidade da aprendizagem dos sujeitos surdos ao usar a língua de sinais e o
alfabeto manual e em muitos lugares havia professores surdos (STROBEL, 2006, p. 248).
No antigo Egito as pessoas surdas, recebiam adoração similar aos deuses locais, e faziam a
mediação entre os deuses e os Faraós, obtendo assim grande admiração, sendo temidos e
respeitados. (CARVALHO, 2007).
Na nação hebreia, no Pentateuco, a Lei Hebraica faz referência aos surdos e cegos, sendo
protegidos e tidos como cidadãos. Já os chineses lançavam as crianças surdas ao mar. Os
gauleses sacrificavam aos seus deuses Teutates. Na Grécia os surdos eram considerados como
indivíduos incapazes. Aristóteles ensinava que os surdos por não terem linguagem, seriam
incapazes de raciocinar. Em Esparta jogavam os recém-nascidos surdos do alto dos rochedos.
Sêneca afirmava: “Matam-se cães quando estão com raiva; exterminam-se touros bravios;
cortam-se as cabeças das ovelhas enfermas para que as demais não sejam contaminadas;
matamos os fetos e os recém-nascidos monstruosos; se nascerem defeituosos afogamo-los, não
devido ao ódio, mas a razão, para distinguirmos as coisas inúteis das saudáveis”.
Os Romanos consideram os surdos imperfeitos, sem direito a cidadania. Não tinham o direito
de celebrar contratos, elaborar testamentos e ate de possuir propriedades ou reclamar heranças.
Exceto aos surdos que conseguiam falar. (CARVALHO, 2007).
O primeiro registro que temos de um surdo sendo ensinado a falar ocorreu em 700 D.C através
de John Beverley considerado o primeiro educador de surdos.
Pedro Ponce de Leon, monge beneditino nascido na Espanha (1520 – 1584), era o educador dos
filhos surdos dos nobres. Desenvolve o alfabeto manual. Funda em Madri a primeira Escola para
Surdos. Ponce é considerado o “Pai da Educação dos Surdos” (MOURA, LODI, HARRISON,
1997).
A Revista edição 08-1 da Editora Arara Azul apresenta um Artigo: Educação e Surdez: Um
Resgate Histórico pela Trajetória Educacional dos Surdos no Brasil e no Mundo. (KATIA
REGINA CONRAD LOURENÇO e ELENI BARANI).
“Ponce constituiu uma escola para Surdos em seu próprio monastério. Utilizava, para educar
seus alunos, um alfabeto bi-manual – utilizando ambas as mãos – e alguns sinais simples. No
entanto, Gomes (2008, p.9) afirma que “Dessa forma, com o alfabeto bi-manual o estudante
aprendia a soletrar, letra por letra, qualquer palavra, mas não a se comunicar”.
http://editora-arara-azul.com.br/site/edicao/53 acesso 10/12/2015.
Juan Pablo Bonet, utilizando o trabalho de Leon, escreveu sobre as maneiras de ensinar os
surdos. Por meio do alfabeto manual, os ensinava a ler e a falar. Porem Bonet não permitia o uso
da língua gestual, utilizando o método oral. (JANNUZZI, 2004), relata acerca do trabalho de
Bonet:
“A linguagem visível, na forma de alfabeto visual, foi publicada por Juan Pablo Bonet, em 1620,
no livro Reducción de las letras y arte de enseñar a hablar a los mudos, este explicava como
exercitar o educando para a emissão dos sons.”
John Bulwer médico inglês afirmava que a língua gestual deveria ser usada como o principal
método na educação. O primeiro a desenvolver uma metodologia de comunicação com os
surdos. Publicou vários livros, atestando o uso de gestos. No início do século XVI o médico
italiano Gerolamo Cardano (1501 – 1576), Afirmava que a escrita poderia representar os sons da
fala, ou ideias do pensamento, sendo assim, o surdo (mudez) não impedia o acesso ao
conhecimento. Em seu tempo atuava de forma totalmente contraria aos médicos. Procurou
desenvolver e estudar uma metodologia para a educação dos surdos. Em 1579, Rosselius
escreveu Theasaurus, que seria um alfabeto manual italiano. (SOARES, 1999).
John Wallis (1616 – 1703) Após varias tentativas de oralização dos surdos, desistiu dessa
metodologia e partiu para o ensino da escrita. Mas para tal façanha, utilizava os gestos na
comunicação. Escreveu o livro Da Fala ou da Formação dos Sons da Fala (1698), sua publicação
inaugurou os estudos do desenvolvimento oral, que alavancou a fonoaudiologia atual.
Charles Michel de L`Epée nascido em 1712, reconheceu que a língua gestual fazia parte da vida
dos surdos. L`Epée contribui grandemente para a comunidade surda criando uma filosofia
manualista e oralista. Segundo GREMION (1998, p.47), esta seria a primeira vez na história,
onde a comunidade surda adquiriu o direito de se comunicarem na língua materna (língua de
sinais).
• Entendeu que ensinar um surdo a falar era perda de tempo. (GOLDFELD, 1998).
O método de L’Epée originou a palavra gestualismo, pois tal abordagem usava a língua de sinais.
Conforme citação de Lacerda (1998, p. 7), para L’Epée :
[...] a linguagem de sinais é concebida como a língua natural dos surdos e como veículo
adequado para desenvolver o pensamento e sua comunicação. Para ele, o domínio de uma língua,
oral ou gestual, é concebido como um instrumento para o sucesso de seus objetivos e não como
um fim em si mesmo. Ele tinha clara a diferença entre linguagem e fala e a necessidade de um
desenvolvimento pleno de linguagem para o desenvolvimento normal dos sujeitos.
Thomas Braidwood fundou uma escola para surdos, em Edimburgo. Essa foi a primeira escola da
Europa que fazia a correção da fala.
Samuel Heinicke (1723 – 1790) criou as bases da filosofia do oralismo. Seu método de
aprendizagem era ensinar os surdos a falar. Tal metodologia foi muito defendida no congresso de
Milão em 1880. (KOJIMA; SEGALA, 2003).
Na Espanha Jacob Rodrigues Pereira (1715 – 1780) tendo uma irmã surda, inicia seus estudos
sobre a surdez. Em 1744 na França da inicio a educação dos surdos.
Roch-Ambroise Cucurron Sicard (1742 – 1822), abade francês fundador da Escola de Surdos de
Bordeus, em 1782. Ficou famoso pelo seu trabalho como educador dos surdos. Posteriormente se
uniu a L'Epée no Instituto Nacional dos Surdos-Mudos em Paris, de 1800 até 1820 (JANNUZZI,
2004).
Pierre Desloges nascido na França ficou surdo aos sete anos de idade devido à varíola. Defensor
atuante da língua gestual. Também foi o primeiro escritor surdo. Em seu livro defendia que a
língua gestual já existia, mesmo antes da criação das primeiras Escolas de Surdos.
Jean Marc Itard (1774 – 1830), primeiro médico francês a interessar-se pela temática da surdez e
deficiências auditivas. Usavam em suas pesquisas cargas elétricas, sangramentos, perfuração de
tímpanos, entre outros. Após anos de pesquisas, concluiu que a língua gestual era o método ideal
na educação de surdos. Em 1821, publicou o livro Traité des maladies de l’oreille et de
l’audition, no qual afirmava que o surdo poderia ser educado apenas pela fala (GUARINELLO;
MASSI; BERBERIAN, 2007).
Laurent Clerc surdo de origem francesa e educador acompanhou Thomas Hopkins Gallaudet,
educador ouvinte, aos EUA, onde fundaram uma escola para surdos, em abril de 1817, a Escola
de Harford. Gallaudet instituiu a Língua Gestual Americana na escola. Usando o inglês escrito e
o alfabeto manual em sua metodologia. Já em 1830 existiam nos EUA cerca de 30 Escolas para
Surdos. (Wikipédia).
Edward Miner Gallaudet, filho de Thomas Gallaudet deu continuidade ao trabalho de seu pai.
Conseguindo reconhecimento das autoridades americanas no estatuto do Instituto de Columbia a
colégio. Esse colégio veio em 1857, a tornar-se Universidade Gallaudet. Onde por 40 anos a
presidiu. (GOLDFELD, 1998).
Em fins de l830 ocorre uma grande mobilização da comunidade surda na França. Ferdnand
Berthier, líder do movimento Surdo, escreve ao rei Luis Filipe pedindo que Bebian ex-diretor do
Instituto Nacional de Surdos-Mudos fosse readmitido. Em face de ser defensor do método
gestual. Nesse período existia uma ferrenha luta. Um pelo método oralista e outros pelo método
gestualista. Nessa época quase todas as escolas da França usavam o método de Bebian na
educação dos surdos. (Wikipédia).
Em 1834 um comitê de dez membros surdos sob a liderança de Berthier organizou um banquete
em honra do abade de L`Epée. Com o tempo estes banquetes realizados anualmente, tornaram-se
festivais de Língua Gestual.
Antes do Congresso de l880 na Europa havia duas tendências distintas na educação dos surdos.
O gestualismo ou método francês e o oralismo ou método alemão. Alexander Graham Bell (1847
- 1922), inventor do telefone e do aparelho audiométrico nos EUA era um ardente propagandista
do método oralista e totalmente contrário à língua de sinais (KOGIMA E SEGALA, 2003).
Em 1883 o padre Bonhomme, funda a Congregação das Irmãs de Nossa Senhora do Calvário, na
França, inicia um trabalho cuidando de crianças pobres, deficientes, enfermos, idosos e
posteriormente de pessoas surdas. (Pastoral dos Surdos, 2006).
Foi um marco trágico para a comunidade surda no mundo inteiro. Um profundo retrocesso à
educação dos surdos. A comissão do congresso era unicamente de ouvintes. Os surdos não
tiveram direito a defesa. Total manifestação de segregação e autoritarismo. Em face da
imposição do método oralista, os surdos ficaram proibidos de se comunicarem através da
gestualidade. Perdurando esse método do oralismo durante fins do século XIX e grande parte do
século XX.
O Congresso durou três dias e foram votadas oito resoluções. O uso da língua falada, no ensino e
educação dos surdos, deve se preferir à língua gestual;
1. O uso da língua gestual em simultâneo com a língua oral, no ensino de surdos, afeta a
fala, a leitura labial e a clareza dos conceitos, pelo que a língua articulada pura deve ser
preferida;
2. Os governos devem tomar medidas para que todos os surdos recebam educação;
6. A idade mais favorável para admitir uma criança surda na escola é entre os 8-10 anos,
sendo que a criança deve permanecer na escola um mínimo de 7-8 anos; nenhum educador de
surdos deve ter mais de 10 alunos em simultâneo;
7. Com o objetivo de se implementar, com urgência, o método oralista, devia ser reunido às
crianças surdas recém-admitidas nas escolas, onde deveriam ser instruídas através da fala; essas
mesmas crianças deveriam estar separadas das crianças mais avançadas, que já haviam recebido
educação gestual, a fim de que não fossem contaminadas; os alunos antigos também deveriam
ser ensinados segundo este novo sistema oral.
No Brasil no período imperial, com a chegada do educador francês Hernest Huet, (surdo
congênito) em 1855 com apoio de D.Pedro II, funda no Rio de Janeiro em 1857 o Imperial
Instituto dos Surdos-Mudos (Lei número 939, de 26 setembro de 1857) Através da Lei número
3198 de 06 de julho de 1957, temos a denominação de Instituto Nacional de Educação de Surdos
(INES). (ROCHA, s.d.)
Até o ano de 1908 era considerada a data de fundação do Instituto o dia 1º de Janeiro de 1856. A
mudança deu-se através do artigo 7º do decreto nº. 6.892 de 19 de março de 1908, que transferiu
a data de fundação para a da promulgação da Lei 939 de 26 de setembro de 1857 que em seu
artigo 16, inciso 10, consta que o Império passa a subvencionar o Instituto. Antes desse decreto
os alunos eram subvencionados por entidades particulares ou públicas e até mesmo pelo
Imperador. (ROCHA, s.d.).
Desse modo o ensino da língua de sinais por Huet teve grande influência francesa, país originário
de Huet. Durante muito tempo, surdos de todo o Brasil e países vizinhos, concorriam para o Rio
de Janeiro devido a ser a única escola referência para educação, profissionalização e
socialização.
O INES, atualmente, oferece turmas para crianças de 0 a 3 anos de idade, Ensino Fundamental,
Ensino Médio e Ensino Superior através do Curso Bilíngue de Pedagogia.
No ano de 1875 um ex-aluno do Instituto, Flausino José da Gama publica o livro Iconografia dos
Sinais dos Surdos, no intuito de divulgar o modo de comunicação da comunidade surda no
Brasil.
Um grande passo na educação dos surdos foi iniciado pelo governo Dutra (1946 – 1950).
Aprovando um regimento, ao qual determinou o uso de metodologias dos Estados Unidos e um
maior atendimento aos surdos.
(...) que as atividades do INSM deverão se irradiar por todo o território nacional, a fim de dar
cumprimento ao que se preceitua o item V do art. 1 decreto número 26974, de 28 de julho de
1949, precitado, isto é, promover em todo o país a alfabetização dos surdos-mudos e orientar,
tecnicamente, esse trabalho, colaborando com os estabelecimentos congêneres, estaduais ou
locais (Brasil, instituto nacional de Surdos-Mudos, 1951).
Durante a gestão de Ana Rimoli de Faria Dória (1951 a 1961), no INES a concepção oralista
prevalecia. Dória sendo também professora do curso Normal do INES, até o ano de 1957,
escreveu em seu livro Compêndios de Educação da Criança Surda – Muda o trecho no prefácio:
A criança surda necessita de ser compreendida, querida, amada. Não é mais um pária que, pela
ignorância dos que não são surdos, ficou atirada à margem, sem direito de ser criança, como as
demais. Se chegarem até elas os recursos da técnica, da “arte” de ensinar-lhe a falar e
compreender o que os outros falam por certo a inteligência se desenvolverá e o progresso que
fizer estará na razão direta do esforço de seu professor (...). Nada é impossível, há caminhos que
conduzem a todas as coisas. Que Deus inspire e abençoe todos aqueles que se dispuserem a essa
árdua, mas compensadora tarefa! (DÓRIA, 1954).
O oralismo demandava um período enorme para a criança falar. Segundo Dória (1954, p.156).
“por meio de um longo e especializado curso de treinamento.”
Somente em 1971, por ocasião do Congresso Mundial de Surdos, em Paris, devido aos estudos e
pesquisas desenvolvidos nos EUA sobre a Comunicação Total, é que a língua de sinais passa a
ser valorizada. Uma abordagem educacional recém-surgida que permitia o uso dos sinais.
(KOZLOWSKI, 2000).
No ano de 1975 ocorreu o Congresso em Washington. Todos foram unânimes que durante 100
anos a comunidade surda fora dominada pelo Oralismo. A mesma acarretou um enorme
prejuízo, pois de nada serviu tal abordagem, tanto na educação como no desenvolvimento social
dos surdos. O resultado do encontro foi determinante para uma nova era na condução e
desenvolvimento educacional dos surdos. Surgindo a filosofia Bilingue. (KOJIMA; SEGALA,
2003).
Os autores acima salientam a importância dos estudos de Danielle Bouvet, publicados em Paris,
no ano de 1981, relatando as pesquisas realizadas na Suécia e Dinamarca acerca do bilinguismo
na educação dos surdos. Fato que contribuiu grandemente na comunidade surda, pois resgatava o
uso da língua de sinais. (Kojima e Segala, 2003, p.14).
No ano de 1977, surge a Feneida. Federação Nacional de Educação e Integração dos Deficientes
Auditivos. Passando em 1987 a denominar-se Feneis (Federação Nacional e Educação e
Integração dos Surdos).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
CARVALHO, Paulo Vaz ded. História dos Surdos no Mundo. Editora Surd’Universo. (ISBN
978-989-95254-4-1-2). Lisboa 2007.
DÓRIA. Ana Rimoli de Faria. Compêndio de Educação da Criança Surda-Muda. 1. Ed. S/Ed,
1954.
KOJIMA, Catarina Kizuti; SEGALA, Sueli Ramalho. Dicionário de língua de sinais. São Paulo:
Escala 2003.
LACERDA, Cristina Broglia Feitosa de. Um pouco da história das diferentes abordagens na
educação de surdos. Caderno CEDES, vol. 19, n. 46. Campinas. 1998.
MOURA, Maria Cecilia de, LODI, Ana Claudia B., HARRISON, Kathryn M. P. História e
educação: o surdo, a oralidade e o uso de sinais. In: LOPES FILHO, Otacílio de C. Tratado de
Fonoaudiologia. São Paulo: Roca, 1997. Bibliografia: p. 327 -357.
REIS, Vania Prata Ferreira. A criança surda e seu mundo: o estado-da-arte, as políticas e as
intervenções necessárias. 1992. Dissertação (Mestrado e Educação) – Universidade Federal do
Espirito Santo, Vitória: UFES, 1992.
SILVA, V. et al. Educação de surdos: Uma releitura da Primeira Escola Pública para Surdos em
Paris e do Congresso de Milão em 1880. In: QUADROS, R. M. (Org.). Estudos surdos I.
Petrópolis, RJ. Arara Azul, 2006. P. 324.
SOARES, M.A. A educação do Surdo no Brasil. Campinas, SP: Autores Associados, 1999.
STROBEL, Karin Lilian. A visão histórica da in(ex)clusão dos surdos nas escolas. In: Dossiê
Grupo de Estudos e Subjetividades. ETD – Educação Temática Digital, Campinas, v. 7, p. 245 –
254, jun. 2006 – ISSN: 1676-2592.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_dos_surdos.