Você está na página 1de 11

HISTÓRIA DOS SURDOS

HELLEN ADAMS KELLER E ANNE SULLIVAN MACY


HISTÓRIA DOS SURDOS

Ao pesquisarmos a trajetória da comunidade surda espalhada pelo mundo, verificamos o quanto


os surdos sofreram segregação, perseguição, exclusão e em alguns lugares perderam o direito de
viver. Simplesmente por serem diferentes da maioria (normal/ouvinte). Da mesma forma, na
atualidade comunidades tidas como inferiores, foram e ainda são tratadas com desprezo, vivendo
à margem da sociedade. Ao analisarmos na atualidade os programas de inclusão social,
implantados por Leis e Decretos, se observa certa lentidão em serem postos em prática, ora por
má vontade, geralmente das políticas públicas, ora dos gestores educacionais. Sem citar o
etnocentrismo incoerente vigente em nossa sociedade. Apesar de estarmos em plena era da
globalização, onde a determinação do cumprimento dos direitos humanos e uma vivência
democrática estejam sacramentadas pela ONU, não se cumprem na totalidade em nosso dia a
dia.

A autora Perlin (2004, p.80) cita: “As narrativas surdas constantes à luz do dia estão cheias de
exclusão, de opressão, de estereótipos”.

Somente a partir do século XVI é que surgem os primeiros educadores, preocupados em provar
uma filosofia adequada e condizente, frente à natureza diferente da comunidade surda, e em
consonância com suas aspirações de liberdade em se comunicarem com sua língua materna e
natural – a língua de sinais.

Esta preocupação educacional de surdos deu lugar às aparições de numerosos professores que
desenvolveram, simultaneamente, seus trabalhos com os sujeitos surdos e de maneira
independente, em diferentes lugares da Europa. Havia professores que se abocavam na tarefa
de comprovar a veracidade da aprendizagem dos sujeitos surdos ao usar a língua de sinais e o
alfabeto manual e em muitos lugares havia professores surdos (STROBEL, 2006, p. 248).

No antigo Egito as pessoas surdas, recebiam adoração similar aos deuses locais, e faziam a
mediação entre os deuses e os Faraós, obtendo assim grande admiração, sendo temidos e
respeitados. (CARVALHO, 2007).

Na nação hebreia, no Pentateuco, a Lei Hebraica faz referência aos surdos e cegos, sendo
protegidos e tidos como cidadãos. Já os chineses lançavam as crianças surdas ao mar. Os
gauleses sacrificavam aos seus deuses Teutates. Na Grécia os surdos eram considerados como
indivíduos incapazes. Aristóteles ensinava que os surdos por não terem linguagem, seriam
incapazes de raciocinar. Em Esparta jogavam os recém-nascidos surdos do alto dos rochedos.
Sêneca afirmava: “Matam-se cães quando estão com raiva; exterminam-se touros bravios;
cortam-se as cabeças das ovelhas enfermas para que as demais não sejam contaminadas;
matamos os fetos e os recém-nascidos monstruosos; se nascerem defeituosos afogamo-los, não
devido ao ódio, mas a razão, para distinguirmos as coisas inúteis das saudáveis”.

Os Romanos consideram os surdos imperfeitos, sem direito a cidadania. Não tinham o direito
de celebrar contratos, elaborar testamentos e ate de possuir propriedades ou reclamar heranças.
Exceto aos surdos que conseguiam falar. (CARVALHO, 2007).

Em Constantinopla os surdos eram tratados segundo os mesmos princípios dos Romanos.


Embora realizando algumas tarefas, tais como: o serviço de corte, como pajens das mulheres,
bobos da corte, serviços braçais. A Igreja da Idade Media, acreditava que os surdos não teriam
salvação. Fato evidenciado por não proferirem os sacramentos.

O primeiro registro que temos de um surdo sendo ensinado a falar ocorreu em 700 D.C através
de John Beverley considerado o primeiro educador de surdos.

No Renascimento com o advento da “razão”, os deficientes conquistam alguns direitos.


(CARVALHO, 2007).

Pedro Ponce de Leon, monge beneditino nascido na Espanha (1520 – 1584), era o educador dos
filhos surdos dos nobres. Desenvolve o alfabeto manual. Funda em Madri a primeira Escola para
Surdos. Ponce é considerado o “Pai da Educação dos Surdos” (MOURA, LODI, HARRISON,
1997).

A Revista edição 08-1 da Editora Arara Azul apresenta um Artigo: Educação e Surdez: Um
Resgate Histórico pela Trajetória Educacional dos Surdos no Brasil e no Mundo. (KATIA
REGINA CONRAD LOURENÇO e ELENI BARANI).

“Ponce constituiu uma escola para Surdos em seu próprio monastério. Utilizava, para educar
seus alunos, um alfabeto bi-manual – utilizando ambas as mãos – e alguns sinais simples. No
entanto, Gomes (2008, p.9) afirma que “Dessa forma, com o alfabeto bi-manual o estudante
aprendia a soletrar, letra por letra, qualquer palavra, mas não a se comunicar”.
http://editora-arara-azul.com.br/site/edicao/53 acesso 10/12/2015.
Juan Pablo Bonet, utilizando o trabalho de Leon, escreveu sobre as maneiras de ensinar os
surdos. Por meio do alfabeto manual, os ensinava a ler e a falar. Porem Bonet não permitia o uso
da língua gestual, utilizando o método oral. (JANNUZZI, 2004), relata acerca do trabalho de
Bonet:

“A linguagem visível, na forma de alfabeto visual, foi publicada por Juan Pablo Bonet, em 1620,
no livro Reducción de las letras y arte de enseñar a hablar a los mudos, este explicava como
exercitar o educando para a emissão dos sons.”

John Bulwer médico inglês afirmava que a língua gestual deveria ser usada como o principal
método na educação. O primeiro a desenvolver uma metodologia de comunicação com os
surdos. Publicou vários livros, atestando o uso de gestos. No início do século XVI o médico
italiano Gerolamo Cardano (1501 – 1576), Afirmava que a escrita poderia representar os sons da
fala, ou ideias do pensamento, sendo assim, o surdo (mudez) não impedia o acesso ao
conhecimento. Em seu tempo atuava de forma totalmente contraria aos médicos. Procurou
desenvolver e estudar uma metodologia para a educação dos surdos. Em 1579, Rosselius
escreveu Theasaurus, que seria um alfabeto manual italiano. (SOARES, 1999).

John Wallis (1616 – 1703) Após varias tentativas de oralização dos surdos, desistiu dessa
metodologia e partiu para o ensino da escrita. Mas para tal façanha, utilizava os gestos na
comunicação. Escreveu o livro Da Fala ou da Formação dos Sons da Fala (1698), sua publicação
inaugurou os estudos do desenvolvimento oral, que alavancou a fonoaudiologia atual.

George Dalgarno desenvolveu a dactilologia, sistema inovador. Konrah Amman era


ardoroso defensor da leitura labial. Para ele os surdos que não falassem não eram considerados
humanos. Amman não utilizava a língua gestual. Para o educador os gestos atrofiavam a mente
dos surdos. Porem, em seu método de ensino concebia o uso dos gestos, para atingir a oralidade.
(SOARES, 1999).

Charles Michel de L`Epée nascido em 1712, reconheceu que a língua gestual fazia parte da vida
dos surdos. L`Epée contribui grandemente para a comunidade surda criando uma filosofia
manualista e oralista. Segundo GREMION (1998, p.47), esta seria a primeira vez na história,
onde a comunidade surda adquiriu o direito de se comunicarem na língua materna (língua de
sinais).

• Instituto Nacional de Surdos-Mudos em Paris. A primeira escola de surdos no mundo.

• Reconhecimento do surdo como ser humano.

• Reconhecimento da língua gestual como meio de comunicação.

• Adoção do método de educação coletiva.

• Entendeu que ensinar um surdo a falar era perda de tempo. (GOLDFELD, 1998).
O método de L’Epée originou a palavra gestualismo, pois tal abordagem usava a língua de sinais.
Conforme citação de Lacerda (1998, p. 7), para L’Epée :

[...] a linguagem de sinais é concebida como a língua natural dos surdos e como veículo
adequado para desenvolver o pensamento e sua comunicação. Para ele, o domínio de uma língua,
oral ou gestual, é concebido como um instrumento para o sucesso de seus objetivos e não como
um fim em si mesmo. Ele tinha clara a diferença entre linguagem e fala e a necessidade de um
desenvolvimento pleno de linguagem para o desenvolvimento normal dos sujeitos.

Thomas Braidwood fundou uma escola para surdos, em Edimburgo. Essa foi a primeira escola da
Europa que fazia a correção da fala.

Samuel Heinicke (1723 – 1790) criou as bases da filosofia do oralismo. Seu método de
aprendizagem era ensinar os surdos a falar. Tal metodologia foi muito defendida no congresso de
Milão em 1880. (KOJIMA; SEGALA, 2003).

Na Espanha Jacob Rodrigues Pereira (1715 – 1780) tendo uma irmã surda, inicia seus estudos
sobre a surdez. Em 1744 na França da inicio a educação dos surdos.

Roch-Ambroise Cucurron Sicard (1742 – 1822), abade francês fundador da Escola de Surdos de
Bordeus, em 1782. Ficou famoso pelo seu trabalho como educador dos surdos. Posteriormente se
uniu a L'Epée no Instituto Nacional dos Surdos-Mudos em Paris, de 1800 até 1820 (JANNUZZI,
2004).

O francês Auguste Bébian, um ouvinte, aprendeu a Língua de Sinais no Instituto de Surdos de


Paris, logo após escreveu o livro Mimographia, em 1822, tido como a primeira tentativa de
transcrição da língua de sinais (GUARINELLO; MASSI; BERBERIAN, 2007).

Pierre Desloges nascido na França ficou surdo aos sete anos de idade devido à varíola. Defensor
atuante da língua gestual. Também foi o primeiro escritor surdo. Em seu livro defendia que a
língua gestual já existia, mesmo antes da criação das primeiras Escolas de Surdos.

Jean Marc Itard (1774 – 1830), primeiro médico francês a interessar-se pela temática da surdez e
deficiências auditivas. Usavam em suas pesquisas cargas elétricas, sangramentos, perfuração de
tímpanos, entre outros. Após anos de pesquisas, concluiu que a língua gestual era o método ideal
na educação de surdos. Em 1821, publicou o livro Traité des maladies de l’oreille et de
l’audition, no qual afirmava que o surdo poderia ser educado apenas pela fala (GUARINELLO;
MASSI; BERBERIAN, 2007).

Jean Massieu foi um dos primeiros professores surdos do mundo. (Wikipédia).

Laurent Clerc surdo de origem francesa e educador acompanhou Thomas Hopkins Gallaudet,
educador ouvinte, aos EUA, onde fundaram uma escola para surdos, em abril de 1817, a Escola
de Harford. Gallaudet instituiu a Língua Gestual Americana na escola. Usando o inglês escrito e
o alfabeto manual em sua metodologia. Já em 1830 existiam nos EUA cerca de 30 Escolas para
Surdos. (Wikipédia).

Edward Miner Gallaudet, filho de Thomas Gallaudet deu continuidade ao trabalho de seu pai.
Conseguindo reconhecimento das autoridades americanas no estatuto do Instituto de Columbia a
colégio. Esse colégio veio em 1857, a tornar-se Universidade Gallaudet. Onde por 40 anos a
presidiu. (GOLDFELD, 1998).

Em fins de l830 ocorre uma grande mobilização da comunidade surda na França. Ferdnand
Berthier, líder do movimento Surdo, escreve ao rei Luis Filipe pedindo que Bebian ex-diretor do
Instituto Nacional de Surdos-Mudos fosse readmitido. Em face de ser defensor do método
gestual. Nesse período existia uma ferrenha luta. Um pelo método oralista e outros pelo método
gestualista. Nessa época quase todas as escolas da França usavam o método de Bebian na
educação dos surdos. (Wikipédia).

Em 1834 um comitê de dez membros surdos sob a liderança de Berthier organizou um banquete
em honra do abade de L`Epée. Com o tempo estes banquetes realizados anualmente, tornaram-se
festivais de Língua Gestual.

Em 1838 foi fundada a Sociedade Central de Assistência e Educação de Surdos-Mudos. Sendo a


primeira no mundo. (Wikipédia).

Antes do Congresso de l880 na Europa havia duas tendências distintas na educação dos surdos.
O gestualismo ou método francês e o oralismo ou método alemão. Alexander Graham Bell (1847
- 1922), inventor do telefone e do aparelho audiométrico nos EUA era um ardente propagandista
do método oralista e totalmente contrário à língua de sinais (KOGIMA E SEGALA, 2003).

Em 1883 o padre Bonhomme, funda a Congregação das Irmãs de Nossa Senhora do Calvário, na
França, inicia um trabalho cuidando de crianças pobres, deficientes, enfermos, idosos e
posteriormente de pessoas surdas. (Pastoral dos Surdos, 2006).

Em 1872 ocorre em Veneza um congresso decidindo o seguinte:

• O meio humano para a comunicação do pensamento é a língua oral;

• Se orientados os surdos leem os lábios e falam;

• A língua oral tem vantagens para o desenvolvimento do intelecto, da moral e da


linguística.

O Congresso de Milão em 1880 no período de 06 a 11 de setembro, contou com a participação


de 182 pessoas, sendo a maioria de ouvintes. Estiveram presentes os seguintes países: Alemanha,
Bélgica, Canadá, Estados Unidos, França, Inglaterra, Itália, Suécia e Rússia. (SILVA et. al,
2006). Segundo Skliar (1997, p. 109), as resoluções adotadas durante o Congresso dividiram a
história educacional da comunidade surda em dois períodos:
Um período prévio, que vai desde meados do século XVIII até a primeira metade do século XIX,
quando eram comuns as experiências educativas por intermédio da Língua de Sinais, e outro
posterior, que vai de 1880, até nossos dias, de predomínio absoluto de uma única 'equação',
segundo a qual a educação dos surdos se reduz à língua oral.

Foi um marco trágico para a comunidade surda no mundo inteiro. Um profundo retrocesso à
educação dos surdos. A comissão do congresso era unicamente de ouvintes. Os surdos não
tiveram direito a defesa. Total manifestação de segregação e autoritarismo. Em face da
imposição do método oralista, os surdos ficaram proibidos de se comunicarem através da
gestualidade. Perdurando esse método do oralismo durante fins do século XIX e grande parte do
século XX.

O Congresso durou três dias e foram votadas oito resoluções. O uso da língua falada, no ensino e
educação dos surdos, deve se preferir à língua gestual;

1. O uso da língua gestual em simultâneo com a língua oral, no ensino de surdos, afeta a
fala, a leitura labial e a clareza dos conceitos, pelo que a língua articulada pura deve ser
preferida;

2. Os governos devem tomar medidas para que todos os surdos recebam educação;

3. O método mais apropriado para os surdos se apropriarem da fala é o método intuitivo


(primeiro a fala depois a escrita); a gramática deve ser ensinada através de exemplos práticos,
com a maior clareza possível; devem ser facultados aos surdos livros com palavras e formas de
linguagem conhecidas pelo surdo;

4. Os educadores de surdos, do método oralista, devem aplicar-se na elaboração de obras


específicas desta matéria;

5. Os surdos, depois de terminado o seu ensino oralista, não esqueceram o conhecimento


adquirido, devendo, por isso, usar a língua oral na conversação com pessoas falantes, já que a
fala se desenvolve com a prática;

6. A idade mais favorável para admitir uma criança surda na escola é entre os 8-10 anos,
sendo que a criança deve permanecer na escola um mínimo de 7-8 anos; nenhum educador de
surdos deve ter mais de 10 alunos em simultâneo;

7. Com o objetivo de se implementar, com urgência, o método oralista, devia ser reunido às
crianças surdas recém-admitidas nas escolas, onde deveriam ser instruídas através da fala; essas
mesmas crianças deveriam estar separadas das crianças mais avançadas, que já haviam recebido
educação gestual, a fim de que não fossem contaminadas; os alunos antigos também deveriam
ser ensinados segundo este novo sistema oral.

No Brasil no período imperial, com a chegada do educador francês Hernest Huet, (surdo
congênito) em 1855 com apoio de D.Pedro II, funda no Rio de Janeiro em 1857 o Imperial
Instituto dos Surdos-Mudos (Lei número 939, de 26 setembro de 1857) Através da Lei número
3198 de 06 de julho de 1957, temos a denominação de Instituto Nacional de Educação de Surdos
(INES). (ROCHA, s.d.)

O interesse de D. Pedro II em fundar o Imperial Instituto de Surdos-Mudos, se deve ao fato


segundo a escritora Reis que: “o professor Geraldo Cavalcanti de Albuquerque, discípulo do
professor João Brasil Silvado, diretor do INSM em 1907, informou a ele em entrevista, que o
interesse do imperador D. Pedro II em educação de surdos, viria do fato de ser a princesa Isabel,
mãe de um filho surdo”, além de ser casada com o Conde D’Eu, parcialmente surdo. (REIS,
1992, p. 5).

O Instituto segue a proposta educacional de Huet contendo em seu currículo as disciplinas:


Língua Portuguesa, Aritmética, Geografia, História do Brasil, Escrituração Mercantil,
Linguagem Articulada, Doutrina Cristã e Leitura sobre os Lábios. Posteriormente a data de
fundação foi mudada conforme informação no site da INES (Instituto Nacional de Educação de
Surdos).

Até o ano de 1908 era considerada a data de fundação do Instituto o dia 1º de Janeiro de 1856. A
mudança deu-se através do artigo 7º do decreto nº. 6.892 de 19 de março de 1908, que transferiu
a data de fundação para a da promulgação da Lei 939 de 26 de setembro de 1857 que em seu
artigo 16, inciso 10, consta que o Império passa a subvencionar o Instituto. Antes desse decreto
os alunos eram subvencionados por entidades particulares ou públicas e até mesmo pelo
Imperador. (ROCHA, s.d.).

Segundo Rocha (s.d.) no período da inauguração do Instituto houve várias mudanças de


nomenclatura: 1856 a 1857 – Collégio Nacional para Surdos-Mudos, 1857 a 1858 – Instituto
Imperial para Surdos-Mudos, 1858 a 1865 – Imperial Instituto para Surdos-Mudos, 1865 a 1874
– Imperial Instituto dos Surdos-Mudos, 1874 a 1890 – Instituto dos Surdos- Mudos, 1890 a 1957
– Instituto Nacional de Surdos Mudos e de 1957 até os dias de hoje chamado de Instituto
Nacional de Educação de Surdos (INES).

Desse modo o ensino da língua de sinais por Huet teve grande influência francesa, país originário
de Huet. Durante muito tempo, surdos de todo o Brasil e países vizinhos, concorriam para o Rio
de Janeiro devido a ser a única escola referência para educação, profissionalização e
socialização.

O INES, atualmente, oferece turmas para crianças de 0 a 3 anos de idade, Ensino Fundamental,
Ensino Médio e Ensino Superior através do Curso Bilíngue de Pedagogia.

No ano de 1875 um ex-aluno do Instituto, Flausino José da Gama publica o livro Iconografia dos
Sinais dos Surdos, no intuito de divulgar o modo de comunicação da comunidade surda no
Brasil.

Em 1915 a comunidade surda da um passo importantíssimo no espaço político, criando a Word


Federation of the Deaf (W.F. D).

Funda-se no Brasil a Associação Brasileira de Surdos, movimento de conscientização pelo


direito do ensino para os surdos em língua de sinais. Isso nos anos de 1923 a 1929.

Um grande passo na educação dos surdos foi iniciado pelo governo Dutra (1946 – 1950).
Aprovando um regimento, ao qual determinou o uso de metodologias dos Estados Unidos e um
maior atendimento aos surdos.

No ano de 1951 no mês de junho temos a regulamentação do ensino do Curso Normal de


Formação de Professores para Surdos-Mudos, o mesmo fora determinado pelo então presidente
Eurico Gaspar Dutra e assinado pelo Ministro da Educação e Saúde, Clemente Mariano (SOUZA
1999:70). O Decreto tinha o objetivo de alfabetização da comunidade surda em todo o território
nacional.

(...) que as atividades do INSM deverão se irradiar por todo o território nacional, a fim de dar
cumprimento ao que se preceitua o item V do art. 1 decreto número 26974, de 28 de julho de
1949, precitado, isto é, promover em todo o país a alfabetização dos surdos-mudos e orientar,
tecnicamente, esse trabalho, colaborando com os estabelecimentos congêneres, estaduais ou
locais (Brasil, instituto nacional de Surdos-Mudos, 1951).

Durante a gestão de Ana Rimoli de Faria Dória (1951 a 1961), no INES a concepção oralista
prevalecia. Dória sendo também professora do curso Normal do INES, até o ano de 1957,
escreveu em seu livro Compêndios de Educação da Criança Surda – Muda o trecho no prefácio:

A criança surda necessita de ser compreendida, querida, amada. Não é mais um pária que, pela
ignorância dos que não são surdos, ficou atirada à margem, sem direito de ser criança, como as
demais. Se chegarem até elas os recursos da técnica, da “arte” de ensinar-lhe a falar e
compreender o que os outros falam por certo a inteligência se desenvolverá e o progresso que
fizer estará na razão direta do esforço de seu professor (...). Nada é impossível, há caminhos que
conduzem a todas as coisas. Que Deus inspire e abençoe todos aqueles que se dispuserem a essa
árdua, mas compensadora tarefa! (DÓRIA, 1954).

O oralismo demandava um período enorme para a criança falar. Segundo Dória (1954, p.156).
“por meio de um longo e especializado curso de treinamento.”

Durante três décadas houve muitas tentativas de mudanças.

Em 1970 a senhora Ivete Vasconcelos, educadora de surdos visita a Universidade Gallaudet.


Com seu retorno ao Brasil, implanta a filosofia da Comunicação Total. Dez anos após, com os
estudos sobre a Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS surge uma nova filosofia: O Bilingüismo.

Somente em 1971, por ocasião do Congresso Mundial de Surdos, em Paris, devido aos estudos e
pesquisas desenvolvidos nos EUA sobre a Comunicação Total, é que a língua de sinais passa a
ser valorizada. Uma abordagem educacional recém-surgida que permitia o uso dos sinais.
(KOZLOWSKI, 2000).

No ano de 1975 ocorreu o Congresso em Washington. Todos foram unânimes que durante 100
anos a comunidade surda fora dominada pelo Oralismo. A mesma acarretou um enorme
prejuízo, pois de nada serviu tal abordagem, tanto na educação como no desenvolvimento social
dos surdos. O resultado do encontro foi determinante para uma nova era na condução e
desenvolvimento educacional dos surdos. Surgindo a filosofia Bilingue. (KOJIMA; SEGALA,
2003).

Os autores acima salientam a importância dos estudos de Danielle Bouvet, publicados em Paris,
no ano de 1981, relatando as pesquisas realizadas na Suécia e Dinamarca acerca do bilinguismo
na educação dos surdos. Fato que contribuiu grandemente na comunidade surda, pois resgatava o
uso da língua de sinais. (Kojima e Segala, 2003, p.14).

No ano de 1977, surge a Feneida. Federação Nacional de Educação e Integração dos Deficientes
Auditivos. Passando em 1987 a denominar-se Feneis (Federação Nacional e Educação e
Integração dos Surdos).

Finalmente em 20 de abril de 2002 temos a regulamentação da Língua Brasileira de Sinais –


LIBRAS, pela Lei número 10.436.

Analisando o desenrolar da epopéia da comunidade surda durante os séculos, fica notória, a


nefasta acepção comumente presenciada nos grupos mais fortes. Infelizmente são poucos os
educadores com olhares diferenciados, que aceitam e acolhem o que parece ser desprezível e
insignificante. Oxalá em nosso presente século os paradigmas excludentes, possam ser
eliminados, da mente de uma sociedade civilizada e democrática. Para reflexão um pensamento
do saudosista educador Paulo Freire: “Se discrimino o menino ou a menina pobre, a menina ou o
menino rico, o menino índio, a menina rica; se discrimino a mulher, a camponesa, a operária, não
posso evidentemente escutá-las e se não as escuto, não posso falar com eles, mas a eles, de cima
para baixo. Sobretudo, me proíbo entendê-los. Se me sinto superior ao diferente, não importa
quem seja, recuso-me escutá-lo ou escutá-la. O diferente não é o outro a merecer respeito é um
isto ou aquilo, destratável ou desprezível.”.

Rizovaldo Costa Miranda (Pedagogo – Educação Especial – AEE)

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

CARVALHO, Paulo Vaz ded. História dos Surdos no Mundo. Editora Surd’Universo. (ISBN
978-989-95254-4-1-2). Lisboa 2007.

DÓRIA. Ana Rimoli de Faria. Compêndio de Educação da Criança Surda-Muda. 1. Ed. S/Ed,
1954.

GOLDFELD, M. Surdez. In: GOLDFELD, M (Colaboradores). Fundamentos em


Fonoaudiologia e linguagem. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1998.

GREMION, 1998, P. 47 – araraazul.com.br/cadernoacademico/007_teseneiva.pdef. Acesso em


10/07/2014 às 23h35min h.
GUARINELLO, A.C; MASSI, G.A.A.; BERBERIAN, A.P. Surdez e Linguagem Escrita: um
estudo de caso. Revista Brasileira de Educação Especial, v.13, p 205-218, 2007.

JANNUZZI, G. S. M. Educação do Deficiente no Brasil: dos primórdios ao início do século


XXI. 1. Ed. Campinas: Autores Associados, 2004, 243p.

KOJIMA, Catarina Kizuti; SEGALA, Sueli Ramalho. Dicionário de língua de sinais. São Paulo:
Escala 2003.

KOZLOWSKI, L. A Educação bilíngue-bicultural do surdo. I N: LACERDA, C. B.


NAKAMURA, H.; LIMA, M. C. (Org.). Fonoaudiologia: surdez e abordagem bilíngue. São
Paulo: Plexus, 2000.p. 8-102.

LACERDA, Cristina Broglia Feitosa de. Um pouco da história das diferentes abordagens na
educação de surdos. Caderno CEDES, vol. 19, n. 46. Campinas. 1998.

MOURA, Maria Cecilia de, LODI, Ana Claudia B., HARRISON, Kathryn M. P. História e
educação: o surdo, a oralidade e o uso de sinais. In: LOPES FILHO, Otacílio de C. Tratado de
Fonoaudiologia. São Paulo: Roca, 1997. Bibliografia: p. 327 -357.

Pastoral dos Surdos (2006) –


http://editora-arara-azul.com.br/portal/media/k2/attachments/campos_abreu.pdf. Acesso em
10/07/2014 – às 23h25minh.

PERLIN, Gladis. As Diferentes Identidades Surdas. Revista da FENEIS (Federação Nacional de


Educação e Integração dos Surdos) Ano IV – número 14 – abril/junho de 2002.

REIS, Vania Prata Ferreira. A criança surda e seu mundo: o estado-da-arte, as políticas e as
intervenções necessárias. 1992. Dissertação (Mestrado e Educação) – Universidade Federal do
Espirito Santo, Vitória: UFES, 1992.

ROCHA, S. M. História do INES. S.d. Disponível em:


http://portalines.ines.gov.br/ines_portal_novo/?page_id=1078 acesso em 19/06/2014 às 00:28
horas.

SKLIAR, Carlos, Educação & Exclusão: abordagens sócio-antropológicas em educação especial.


Porto Alegre: Editora Mediação, 1997-a.

SILVA, V. et al. Educação de surdos: Uma releitura da Primeira Escola Pública para Surdos em
Paris e do Congresso de Milão em 1880. In: QUADROS, R. M. (Org.). Estudos surdos I.
Petrópolis, RJ. Arara Azul, 2006. P. 324.

SOARES, M.A. A educação do Surdo no Brasil. Campinas, SP: Autores Associados, 1999.

STROBEL, Karin Lilian. A visão histórica da in(ex)clusão dos surdos nas escolas. In: Dossiê
Grupo de Estudos e Subjetividades. ETD – Educação Temática Digital, Campinas, v. 7, p. 245 –
254, jun. 2006 – ISSN: 1676-2592.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_dos_surdos.

Você também pode gostar