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2020

ASPECTOS HISTÓRICOS DA
EDUCAÇÃO DE SURDOS

Profa. Dra. Livia Zaqueu


Na antiguidade chinesa, os surdos eram
lançados ao mar
◦ Em esparta, os surdos eram jogados do alto
dos rochedos e, em Atenas, eram rejeitados
e abandonados nas praças públicas ou nos
campos;
◦ Na Grécia os surdos não eram seres
competentes, pois defendiam que o
pensamento só se desenvolvia com a
linguagem e, para eles, só a fala desenvolvia
a linguagem. Assim, os surdos não recebiam
educação.
No início do século XVI

As experiências do médico italiano Gerolamo


Cardano (1501 a 1576) revelaram que a
aprendizagem não é prejudicada pela surdez “uma
vez que os surdos poderiam aprender a escrever e
assim expressar seus sentimentos”

JANNUZZI, 2004, p. 31
Gerolamo Cardano

O caso do arcebispo inglês John Beverley, o qual


ensinou, em segredo, um surdo a ler e a escrever
de forma clara, em York (tradicional cidade do
condado de Yorkshire, Inglaterra) por volta do ano
700.
Ele foi o primeiro educador de surdos que teve o
trabalho com uma pessoa surda registrado.
Espanha
1520 a 1584
◦ A Espanha também pode ser considerada o berço
da educação de surdos, pois lá foram reconhecidos
os primeiros educadores de crianças surdas - filhos
de famílias ricas que queriam manter seus bens e a
herança bem administrados
◦ - como o monge beneditino Pedro Ponce de León
que viveu entre 1520 a 1584

REILY, 2007
Pedro Ponce de Leon
Ele ensinava crianças surdas dentro do mosteiro de São Salvador, em
Oña (província de Burgos na Espanha), fazendo uso articulado de sinais
e leitura de lábios.
O primeiro professor de surdos
Os métodos utilizados não podiam ser divulgados e eram mantidos em
segredos, por isso não tiveram grande repercussão
SILVA, 2006

O monge Ponce de León trabalhava nomes escritos de objetos em seus


rótulos, indicações de palavras escritas para associar à pronúncia das
mesmas, utilizava um alfabeto manual e também fazia uso de uma
metodologia fonética de alfabetização (o alfabeto tinha 21 sons),
valorizando a representação sonora e visual de cada elemento gráfico

PLANN, 1997; REILY, 2007


Meados do século XVII até a
metade do XVIII (mais precisamente
entre 1620 e 1755)

Houve um avanço significativo na


educação dos surdos

SOARES, 2005; MESERLIAN; VITALIANO, 2009; VITORINO; SOUSA,


2015
Em 1620

Foi publicado o primeiro livro sobre educação de surdos


intitulado Redução das Letras e Arte de Ensinar a Falar os
Mudos pelo espanhol Juan Pablo Bonet (1573–1633) em
Madri, no qual publicou o alfabeto manual ou dactilológico.

Ele ensinava os surdos a ler através da visão. O êxito


alcançado por Bonet fez com que a educação dos surdos
recebesse uma compreensão didática.
Alfabeto dactilológico de Bonet
◦ Jacob Rodrigues Pereira (1715-
1780), inspirado por Bonet,
desenvolveu na França, o método de
ensino que estimulava a prática da
fala por meio de exercícios auditivos.
Em 1776, o abade francês Charles Michel
de L’ Épée (1712-1789)
Publicou um livro para relatar as suas técnicas metodológicas com os surdos

LACERDA, 1998

◦ Em 1775, ele inaugurou o primeiro instituto público especializado para a educação dos
surdos-mudos (como eram denominados na época) em Paris – o Instituto Nacional para
Surdos-Mudos (SILVA, 2003).

◦ método educacional denominado de "sinais metódicos” que consistia na combinação dos


sinais dos surdos (comunicação viso-gestual) e dos sinais criados pelo abade (POKER,
2007).
◦ Os educadores teriam que aprender os sinais com os surdos – língua natural dos surdos
segundo L’ Épée – como meio de favorecer o ensino da língua falada e a escrita da
gramática francesa do grupo socialmente majoritário, isto é, dos ouvintes
LACERDA, 1998
Um ponto a favor...
◦ Abade Charles Michel de L’ Epée
( 1712 – 1789) em Paris conheceu
duas irmãs gêmeas surdas que se
comunicavam por meio de sinais,
iniciou e manteve contato com os
surdos carentes e humildes,
procurando aprender seu meio de
comunicação e levar a efeito os
primeiros estudos sérios sobre a língua
de sinais.
Método mímico de L’ Épée
A técnica de ensino de L’ Épée recebeu
muitas críticas na época de sua
implantação

Samuel Heinicke (1729-1970) na Alemanha que acreditava


que tal linguagem viso-gestual era desprovida de uma
gramática própria que possibilitasse aos indivíduos surdos a
reflexão e a discussão, o que seria possível apenas por meio
da língua oral, em que a língua escrita seria secundária

LACERDA, 1998; SILVA, 2003


Brasil

◦ Em 1855 Hernest Huet, como professor


surdo, com experiência de mestrado e
cursos em Paris, chega ao Brasil a
convite do imperador D. Pedro II, com a
intenção de abrir uma escola para
pessoas surdas
◦Em 1857 foi fundada a primeira
escola para pessoas surdas no
Rio de Janeiro – “O Imperial
Instituto de Surdos Mudos” ,
hoje “ Instituto
Nacional de Educação de
Surdos” ( 26 de Setembro)
Instituto Nacional de
Educação de Surdos - INES
Algumas nomenclaturas...
◦ 1856 – Colégio Nacional para Surdos- Mudos
◦ 1857/1858 – Instituto Imperial para Surdos- Mudos
( ano de sua fundação)
◦ 1858/1865 - Imperial Instituto para Surdos-Mudos
◦ 1865-1874 – Imperial Instituto dos Surdos –Mudos
◦ 1874- 1890 – Instituto dos Surdos- Mudos
◦ 1890- 1957 – Instituto Nacional de Surdos – Mudos
◦ 1957 ? Atual- Instituto Nacional de Educação de
Surdos
Filosofias da Educação
de Surdos
 Oralismo;
 Comunicação Total;
 Bilinguismo.
Oralismo...
◦ Língua da comunidade ouvinte, com foco na fala;
◦ O surdo só seria aceito na sociedade se falasse;
◦ Atrocidades cometidas “em nome da ciência”

VISÃO DA FONOAUDIOLOGIA :
◦ O fono procura suprir a dificuldade sensorial dos
surdo buscando aproximá-lo da realidade do
ouvinte, não estimula nenhum tipo de linguagem
gestual, procura o desenvolvimento da emissão
oral através de estímulos diversos
Comunicação Total
◦ Aquisição da língua da comunidade ouvinte, porém utiliza-
se de todos meios possíveis para tal finalidade, inclusive
fazendo uso da língua de sinais como recurso
metodológico;

VISÃO DA FONOAUDIOLOGIA
◦ Procura respeitar a diferença sensorial, faz uso da língua
de sinais e trabalha com a ideia de facilitar a comunicação
utilizando para isso as estratégias e recursos que forem
necessários, desenvolve a leitura labial, o treino
articulatório e auditivo com ênfase na protetização precoce,
leitura e a escrita.
BILINGUISMO
◦ Aquisição da Língua de Sinais como a primeira
língua ( L1) e a língua da comunidade ouvinte
( foco na modalidade escrita) como a segunda
língua da pessoa surda ( L2) com metodologia
específica para tal aprendizado.
VISÃO DA FONOAUDIOLOGIA
◦ Baseia-se na ideia de que a Língua de Sinais é
mais espontânea para o surdo e, portanto mais
facilmente adquirida, quanto mais precoce melhor
para a criança, pois esta adquire proficiência em
duas Línguas.
Congresso Internacional de
Milão
◦ As decisões tomadas no Congresso de Milão
( 1880) disseminaram fortemente o oralismo ,
chegando no Brasil em meados dos anos de 1911;
◦ Nesse evento, que era para tratar dos aspectos
relacionados ao surdo, foram 160 votos a favor do
oralismo contra 4 contra;
◦ Proibindo assim, terminantemente, o uso da Língua
de Sinais, e empregados os métodos orais na
educação de surdos, sob a alegação que a mesma
destruía a habilidade da oralização dos sujeitos
surdos.
SURDEZ
◦ É a incapacidade parcial ou total da audição;
◦ Pode ser de nascença ou causada posteriormente
por doenças;
◦ A surdez é um “defeito” invisível;
◦ A audição é o sentido que mais nos coloca dentro
do mundo e a comunicação humana é um bem de
valor inestimável;
◦ Nosso ouvido é dividido em três partes: externo,
médio e interno
TIPOS DE SURDEZ
1 - CONDUÇÃO: quando existe um bloqueio no
mecanismo de transmissão do som, desde o canal
auditivo externo até o limite com o ouvido interno.
◦ CAUSAS: obstrução por acúmulo de cera ou por
objetos introduzidos no canal do ouvido;
Perfuração ou outro dano causado no tímpano;
Infecção no ouvido médio;
Infecção, lesão ou fixação dos pequenos ossinhos
( ossículos) dentro do ouvido médio.
PERCEPÇÃO OU NEUROSSENSORIAL ( lesão de
2–

células sensoriais e nervosas): é aquela provocada


por problema no mecanismo de percepção do som
desde o ouvido interno ( cóclea) até o cérebro.

◦ CAUSAS:
Ruído intenso; intensidade de som acima de 75
decibéis podem causar perdas auditivas induzidas
pelo ruído (PAIR)
Infecções bacterianas e virais, especialmente
rubéola, caxumba e meningite, podem causar surdez;
◦ Certos medicamentos, especialmente alguns
antibióticos, podem lesar as estruturas
neurossensoriais causando surdez,

◦ Idade (presbiacusia), é uma ocorrência quase


habitual nos idosos.
◦ É um processo degenerativo de células
sensoriais do ouvido interno e fibras nervosas
que conectam com o cérebro.
Surdez MISTA

◦ Quando existe problema em ambos os mecanismos


◦ COMO RECONHECER?
1 – ausência de reações do bebê a sons e vozes,
ou batidas de portas ( piscando, assustando-se ou
cessando seus movimentos)
2 – Por volta do quarto ou quinto mês a criança já
procura a fonte sonora, girando a cabeça ou virando
seu corpo;
◦ Crianças que assistem televisão muito próxima do
aparelho e que pede sempre para que o volume
seja aumentado;
◦ Só responde quando a pessoa fala de frente;
◦ Sempre pedem pra repetir varias vezes o que foi
dito “o quê?” “como?” ou tem problemas de
concentração na escola;
◦ Crianças com problemas comportamentais podem
estar apresentando dificuldades auditivas.
COMO FUNCIONA A PERCEPÇÃO DO SOM PELOS
OUVIDOS
Surdez Congênita
◦ Quando uma criança nasce surda a causa pode ser
hereditária ( genética) ou embrionária ( intrauterina)
◦ CAUSAS INTRAUTERINAS: rubéola, sífilis,
toxoplasmose, herpes, alguns tipos de vírus e certos
medicamentos usados pela gestante;
◦ Variações da pressão no líquido do ouvido interno
pode ocasionar perda gradativa da audição; esta
alteração é chamada de doença de menière e vem
acompanhada, em sua forma clássica, de vertigem
e zumbido;
◦Tumores que atingem o
ouvido interno ou a área
entre o ouvido interno e o
cérebro podem causar
surdez
GRAUS DE SURDEZ
◦ NA ANTIGUIDADE
A primeira classificação da surdez foi feita
por Jerônimo Cardano, médico ( 1501-1576)
a)Surdos de nascença
b)Perda auditivas antes da fala
c)Perda auditiva após aquisição da fala
ATUALMENTE
◦ LEVE ( perda de 25 a 40 decibéis)
◦ MODERADA ( perda de 40 a 70
decibéis)
◦ SEVERA ( perda de 70 a 90 decibéis)
◦ PROFUNDA ( perda superior a 90
decibéis)
LEVE ( 25-40 db )

◦ Dificulta a percepção de alguns fonemas, tendo


igualmente dificuldade de perceber todos os
sons da fala, voz fraca e distante não é ouvida;
◦ Adquire linguagem oral naturalmente, podendo
apresentar um pequeno atraso e trocas de
fonemas;
◦ Frequenta escola comum, necessitando
acompanhamento de fonoaudiologia
MODERADA (40-70 db)

◦ Não consegue perceber sons entre 40-70 dB


( voz fraca) , tendo dificuldade de entender
completamente a conversa normal;
◦ Adquire linguagem oral, apresentando atraso e
dificuldades de articulação;
◦ Frequenta escola comum, necessitando de
acompanhamento de fonoaudiólogo, prótese
auditiva.
SEVERA(70-90db)

◦ Não consegue perceber sons e nem ruídos


familiares, poderá perceber apenas voz fortes;
◦ Não utiliza a audição como canal preferencial de
comunicação:; Língua de Sinais;
◦ Necessita de estimulação precoce, prótese auditiva,
escolaridade especial, acompanhamento de
profissionais e, talvez um programa de
comunicação total; Língua de Sinais
PROFUNDA ( acima de 90
db)
◦ Não consegue perceber os sons e a gravidade
desta perda é tal, que priva o sujeito de
informações auditivas necessárias para
identificar a voz humana, impedindo
naturalmente de adquirir a língua oral;
◦ Difícil aquisição da linguagem oral sem
intervenção adequada;
◦ Necessita de estimulação precoce, prótese
auditiva e escolaridade especial: Língua de
Sinais
Para Refletir
Como melhorar a sua audição em casa
Cultura surda
◦ Os surdos tem cultura e identidade própria, tem
cultura e identidade próprias ( língua específica de
sua comunidade)
De acordo com QUADROS ( 2002)
Como a identidade cultural de um grupo de
surdos que se define enquanto grupo diferente
de outros grupos. Essa cultura é multifacetada,
mas apresenta características que são
específicas: ela é visual, traduz de forma visual.
As formas de organizar pensamento e a
linguagem transcendem as formas ouvintes.
Comunidade surda, não se considera relevante o grau
de perda auditiva de seus membros, mas antes se
valoriza os sentimentos, o auto reconhecimento e a
identificação como surdo
Skliar (2011)

◦A Surdez não seria percebida como déficit, deficiência


ou um desvio da normalidade o que forçaria esses
indivíduos as situações de preconceito e marginalidade

◦Lacerda (2006) e Witkoski (2009), mas como algo


diferente o que reforça os laços de identidade grupal
em uma comunidade linguística minoritária da
sociedade (SÁ, 1999; ALPENDRE, 2008).
COMUNIDADE SURDA

◦ É aquela que reúne pessoas usuários da língua


de sinais – LS surdos, familiares de surdos,
profissionais da área da surdez, professores,
interpretes, instrutores e tradutores da língua de
Libras, bem como amigos e outros que
compartilham os mesmo interesses em comuns
em um determinado local, que podem ser
associações de surdos, federações, igrejas e
outros.
POVO SURDO
◦Grupo de sujeitos surdos que
tem costumes, histórias,
tradições em comuns e
pertencentes às mesmas
peculiaridades, ou seja, constrói
sua concepção de mundo
através da visão.
Referências
◦ CAPOVILLA, Fernando C. Filosofias Educacionais em relação ao surdo: do oralismo à comunicação total
ao bilinguismo. Revista Brasileira de Educação Especial, v.6, nº1, 2000, p.99-116.
◦ CAPOVILLA, Fernando César; CAPOVILLA, Alessandra Gotuzo Seabra; MAZZA, Cláudia Zocal; AMENI,
Roseli; NEVES, Maria Vilalba.. Quando alunos surdos escolhem palavras escritas para nomear
figuras: paralexias ortográficas, semânticas e quirêmicas. Rev. bras. educ. espec. [online]. 2006, vol.12, n.2,
pp.203-220.
◦ LACERDA, C. B. F. de. A prática fonoaudiológica frente as diferentes concepções de linguagem. Revista
Espaço, Instituto de Educação de Surdo, v.10, p.30-40, 1998.
◦ LACERDA, C. B. F. de. A inclusão escolar de alunos surdos: o que dizem alunos, professores e intérpretes
sobre esta experiência. Cad. CEDES, maio/ago. 2006, vol.26, n. 69, p.163-184.
◦ SILVA, Danielle Caruline Sena; MELO, Eurides Bonfim; CAVALCANTE, Tícia Cassiany Ferro Cavalcante. As
filosofias educacionais na educação dos surdos: uma análise da prática docente e da interação surdo-
ouvinte; 2010.
◦ SKLIAR, Carlos. Uma perspectiva sócio-histórica sobre a psicologia e a educação dos surdos. In: SKLIAR, C.
(Org.). Educação e Exclusão: abordagens sócio-antropológicas em educação especial. 5.ed. Porto Alegre:
Editora Mediação, 2006.
◦ SKLIAR, Carlos. Os estudos surdos em Educação: Problematizando a normalidade. SKLIAR, Calos (Org.). In:
A Surdez: Um olhar sobre as diferenças. 5. ed. Porto Alegre: Mediação; 2011. 192 p.
◦ QUIXABA, Maria Nilza Oliveira. O Ensino da Língua de Sinais Brasileira como Possibilidade de Inclusão
Sócio-Político-Cultural das Pessoas Surdas no Sistema Público Estadual de Ensino de São Luís – MA,
2011. pp. 1-16. Disponível em: http://www.linguagemidentidades. ufma.br/publicacoes2.php. Acesso em: 20 set
2011.

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