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História da Língua de Sinais

Responsável pelo Conteúdo:


Profa. Ms. Juliana da Silva Bezerra

Revisão Textual:
Profa. Ms. Natalia Conti
História da Língua de Sinais

Nesta unidade, trabalharemos os seguintes tópicos:


• Contextualização
• Abordagens na Educação de Surdos
• Mitos em Torno das Línguas de Sinais ao Longo dos Tempos

Fonte: iStock/Getty Images


• Marcos Históricos e Legais Referentes aos Surdos e às
Línguas de Sinais

Objetivos
• Compreender a evolução histórica dos estudos referentes às Línguas de Sinais.
• Discutir sobre mitos em torno das Línguas de Sinais
• Conhecer os marcos legais da oficialização de LIBRAS no Brasil.
• Discutir a respeito das principais contribuições dos estudos lingüísticos para as línguas
de sinais.

Caro Aluno(a)!

Normalmente, com a correria do dia a dia, não nos organizamos e deixamos para o
último momento o acesso ao estudo, o que implicará o não aprofundamento no material
trabalhado ou, ainda, a perda dos prazos para o lançamento das atividades solicitadas.

Assim, organize seus estudos de maneira que entrem na sua rotina. Por exemplo, você
poderá escolher um dia ao longo da semana ou um determinado horário todos ou alguns
dias e determinar como o seu “momento do estudo”.

No material de cada Unidade, há videoaulas e leituras indicadas, assim como sugestões


de materiais complementares, elementos didáticos que ampliarão sua interpretação e
auxiliarão o pleno entendimento dos temas abordados.

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de
discussão, pois estes ajudarão a verificar o quanto você absorveu do conteúdo, além de
propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de
troca de ideias e aprendizagem.

Bons Estudos!
UNIDADE
História da Língua de Sinais

Contextualização
Surdo, surdo-mudo, deficiente auditivo, linguagem de sinais, linguagem das mãos,
língua dos gestos e mímica, LIBRAS não é língua, entre outras.

Com certeza são expressões ou dúvidas que você já ouviu serem proferidas por
diferentes pessoas. Contudo, você sabe que são expressões que remetem a um
desconhecimento da identidade surda e da Língua de Sinais.

Hoje você está em um curso de Pós-Graduação em Língua Brasileira de Sinais,


certamente já superou tais questionamentos, mas gostaria de fazer-lhe algumas
perguntas:
• Você saberia fundamentar teoricamente todas as respostas referentes aos questio-
namentos que explicitamos no início desse texto?
• Quais autores fundamentam suas afirmações?
• Qual teoria linguística fundamenta suas respostas?
• Quais contribuições os estudos linguísticos apontam para responder tais questões?

Para responder estas e outras indagações convido você a realizar a primeira unidade
da disciplina “Aspectos linguísticos das LIBRAS”.

Para iniciarmos nossas discussões, assista integralmente o vídeo a seguir que traz
a tradução do capítulo 2 do livro: Libras? Que língua é essa? Crenças e preconceitos
em torno da língua de sinais e da realidade surda da autora Audrei Gesser, o texto foi
traduzido por Sarah Caetano de Melgaço.

Aproveite para exercitar sua compreensão em LIBRAS e ampliar seu repertório linguístico.

Tradução: Libras que língua é essa - Parte 1: https://youtu.be/jcT2Io-nQwg


Tradução: Libras que língua é essa - Parte 2: https://youtu.be/NQ0_-sHwCtc

Abordagens na Educação de Surdos


• A língua de sinais não é capaz de expressar todos os discursos produzidos nas línguas orais.
• A língua de sinais é uma composição de mímicas e pantomimas.
• Surdo, surdo mudo e deficiente auditivo são termos equivalentes.
• A linguagem de sinais não pode ser considerada língua.

Estas e outras afirmações a respeito da Língua de Sinais muitas vezes perparssam


o imaginário de uma sociedade majoritariamente oral auditiva. No primeiro momento
pensamos que são afirmações pontuais que se embasam no desconhecimento do
indivíduo Surdo.

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Contudo, esse pensamento clínico patológico a respeito da surdez tem seus pilares
arraigados historicamente. Não são pensamentos apenas de nossa sociedade atual, são
concepções historicamente construídas e definidas a partir da compreensão da surdez
pela anormalidade clínica.

Tudo começa pela concepção de surdez, pois essa concepção direcionará meu
olhar para entender a língua de sinais. Historicamente a concepção de surdez tem sido
influenciada por distintas correntes filosóficas como o oralismo, a comunicação total e
o bilinguismo.

Antes de continuarmos refletindo sobre os fatores que influenciam a identidade surda,


pare um momento e reflita sobre as principais marcas teóricas dessas três correntes
filosóficas. Você recorda as características de cada uma delas?

Para auxiliá-lo, a seguir apresento um quadro para ajudar você a recordar. Vamos
relembrar?

Quadro 1: Abordagens da Educação de Surdos


O Surdo era visto como doente, por isso buscou-se uma cura para essa doença,
adotando uma metodologia de ensino voltada para a aquisição de língua oral/
auditiva pelos surdos.
A L.S era considerada inferior à língua oral/auditiva
Oralismo
A língua de sinais foi proibida, pois o foco era o o treino orofacial e
desenvolvimento da fala; proibindo-se o uso de sinais, o objetivo primordial era
a busca da “normalidade”. Durante séculos a Língua de Sinais foi considerada
inferior à Língua Oral.

O surdo consegue o direito de usar alguns sinais devido aos problemas de comuni-
cação entre surdos e ouvintes.
O surdo ainda é visto como doente e a L.S inferior à comunicação oral/auditiva.
Comunicação total Os sinais são utilizados com a estrutura da Língua Portuguesa.
Voltada para o aprendizado do Português.
Defende o uso simultâneo de diferentes códigos e tecnologias como: sinais, datilo-
logia, amplificação sonora, aparelho auditivo, leitura labial e português sinalizado.

A principal característica é o reconhecimento de que os surdos têm cultura e


língua próprias.
Sai de cena o discurso clínico, e o surdo passa a ser visto como diferente.
Reconhecimento de LIBRAS legalmente.
Entendimento de LIBRAS como a língua que melhor pode ser aprendida de forma
Bilinguismo natural pelo surdo, sendo portando, sua língua materna (L1). O Português deve
ser considerado sua segunda língua (L2).
Nesta abordagem o surdo tem acesso aos conteúdos escolares em Língua de
Sinais, a língua Portuguesa é ensinada na modalidade escrita. Estudos recentes
têm apontado esta proposta como sendo a mais adequada para a educação
de surdos. Nela, o discurso clínico sai de cena, e o surdo passa a ser visto como
diferente, com cultura e língua próprias.

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UNIDADE
História da Língua de Sinais

Veja também um resumo em LIBRAS das principais características das três grandes
abordagens da Língua de Sinais: oralismo, comunicação total e bilinguismo.
Para facilitar a tradução do vídeo, leia com atenção o quadro: Abordagens da Educação
de Surdos, disponível em seu material teórico.
O vídeo foi produzido em L1 (LIBRAS), não há legenda ou áudio com tradução, esta é uma
excelente oportunidade para você exercitar sua compreensão em Língua de Sinais. Caso
encontre dificuldade para compreender o vídeo, volte e leia com atenção o quadro em
Português, pois ele contempla as mesmas ideias expostas no vídeo.
https://youtu.be/i9BYKP4tCqw

Observe como as diferentes concepções sobre a surdez não fazem parte de um


momento histórico passado, muitos mitos atuais sobre a surdez e a língua de sinais são
reflexos dessa história. Muitas considerações errôneas a respeito da Língua de Sinais
têm sua raiz em uma concepção oralista sobre a surdez ou ainda está carregada de
perspectivas oriundas da comunicação total.

Lacerda (1998) aponta que as três concepções coexistem em nossos dias e possuem
adeptos em todo o mundo, e que as três vertentes trazem prós e contras. Contudo, que
devem ser vistas como caminhos para que os Surdos tenham seus direitos garantidos.

Muitas vezes de forma até subjetiva os pressupostos mais rudimentares dessas


concepções são propagados, podemos citar os seguintes exemplos:
• Televisão aberta sem janela de tradução e interpretação em LIBRAS.
• Alunos Surdos nas escolas regulares sem a presença do profissional tradutor-
intérprete de LIBRAS.
• Profissionais sem domínio de LIBRAS exercendo a função de tradutor intérprete.
• Famílias que proíbem seus filhos surdos de aprenderem LIBRAS, entre outros.

Como podemos ver, as diferentes abordagens da Língua de Sinais coexistem e


influenciam distintas concepções sobre a surdez em nossa sociedade.

Mitos em Torno das Línguas


de Sinaisao Longo dos Tempos
Mitos são visões errôneas ou distorcidas da realidade e muitas vezes são propagadas
como sendo um retrato da realidade. Esses mitos estão presentes em diferentes áreas de
nossa sociedade e também podem ser percebidos ao longo dos tempos na história das
línguas de sinais e da pessoa com surdez.

A seguir apresentamos um breve panorama histórico, em que nosso foco não será
a ordenação cronológica com citação de nomes e datas e sim levá-lo a refletir que um
ponto de vista distorcido da realidade que hoje é difundido a respeito da surdez não esta
isolado, ele é construído e influenciado historicamente, assim, é necessário conhecer

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suas raízes para conseguirmos estabelecer e difundir novos paradigmas. A linha do
tempo a seguir foi sintetizada a partir das contribuições oriundas de diferentes autores
(FERNANDES, 2007; GESSER, 2012; HONORA e FRIZANCO, 2009; LACERDA,
1998; MOURA, 2000; STROBEL, 2009; VELOSO e MAIA, 2012).

Marcos Históricos e Legais Referentes


aos Surdos e às Línguas de Sinais
Idade Antiga
Egito
No Egito acreditavam que os surdos eram protegidos e podiam comunicar-se com os deuses.
4000 a.C.
Heródoto
Classificava os surdos como “Seres castigados pelos deuses”.
485 – 420 a.C.
China
Muitos surdos foram sacrificados aos deuses ou lançados aos mares.
485 – 483 a.C
Não eram reconhecidos como seres humanos, pois entendiam que a ausência da fala os tornava
Grécia
sem raciocínio, logo estavam abaixo da linha da humanidade. Eram lançados pelos precipícios,
480 – 425 a.C
afogados nos rios ou totalmente rejeitados e abandonados nas praças.
Aristóteles Afirmou que o ouvido era o órgão mais importante para o aprendizado, assim como os surdos não
384 – 322 a.C possuíam a audição, logo não podiam aprender ou pensar.

Por muito tempo, os Surdos foram vítimas de uma concepção equivocada que vincula-
va a surdez com a falta de inteligência, levando-os a serem marginalizados, a partir da
crença hegemônica de que, como não podiam pensar, não existiriam possibilidades de
aprendizagem formal. Esse pensamento influenciou as práticas sociais durante toda a
Antiguidade e grande parte da Idade Média, sendo privados do acesso à instrução (...)
Por conta disso atos extremamente desumanos foram praticados por diferentes civili-
zações, as quais consideravam a surdez um castigo. (FERNANDES, 2007, p. 28-29).

Na antiguidade, mais que mitos, podemos notar por vezes práticas desumanas
contra os Surdos, pensamentos arraigados no preconceito que resultavam na ação
discriminatória. Observe que hoje, por vezes tais pensamentos ainda são produzidos,
porém de forma “mascarada”.

Idade Média
Não davam tratamento digno aos Surdos. Não tinham direito à escolarização e à religião, pois não
podiam recitar os sacramentos sagrados. Não podiam casar-se para não procriar outros “anormais”.
476 – 1453
Monges que estavam em clausura e haviam feito voto do silêncio utilizam uma forma de
comunicação não manual, posteriormente estes monges tornaram-se preceptores dos Surdos.

Lacerda (1998) relata que por toda Antiguidade e quase toda a Idade Média os Surdos
eram considerados imbecis e não educáveis. Em relação a estes períodos, podemos dizer
que há uma lacuna histórica referente aos registros de escolarização da pessoa com
surdez, pois nessa época muitos Surdos estavam sendo mortos e banidos da sociedade.
Consequentemente, muito de sua historia também foi perdida.

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UNIDADE
História da Língua de Sinais

Idade Moderna
Bartollo Della Marca
d’ Ancora Pioneiro na alusão de que os surdos podem aprender através da língua de sinais.
1453
Girolamo Cardano Acreditava que era possível ensinar um surdo através da escrita e também dos sinais. Dizia que
1501- 1576 era um crime não ensiná-los.
Pedro Ponce de León Monge espanhol beneditino, utilizava a soletração do alfabeto manual e gestos adotados em alguns
1520-1584 mosteiros para o ensino da palavra falada aos Surdos de famílias nobres.
Em 1620 publicou o famoso tratado: “Reducción de lãs letras y arte para ensenãr a hablar a los
Juan Pablo Bonet
mudos”. Nesta obra descreve a arte de ensinar os Surdos a falar através de técnicas individuais
1579- 1623
entre professor e aluno em sala fechada sem qualquer distração.
Ao observar dois surdos conversarem entendeu a importância da língua gestual na vida dos
John Bulwer Surdos. Acreditava que a Língua de Sinais era universal e icônica. Foi o primeiro inglês a
1614-1684 desenvolver um método de comunicação entre surdos e ouvintes seus estudos; defendiam o
alfabeto manual, língua de sinais e leitura labial.
Seguidor do método de Bonet, trabalhava com um pequeno grupo de Surdos na tentativa
de ensiná-los a falar, porém declarou que esta fala se deteriorava, pois o Surdo necessitava
John Wallis
constantemente de um retorno externo para monitorá-lo. Após abandonar o ensino da fala,
1616-1703
utilizava a Língua de Sinais e considerou a língua visual-gestual fundamental para o ensino da
pessoa com surdez.
Johann Conrad Amman
Criou o movimento oralista alemão.
1669-1724
Jacob Rodrigues Pereire
Pioneiro no ensino dos Surdos franceses.
1715-1780
Samuel Heinicke Declarou que os surdos em sua escola eram ensinados através de um processo fácil e lento de
1729 – 1790 fala, através da voz clara com diferentes entonações.
Charles-Michel de L’Epée Ícone na defesa da Língua de Sinais, recebendo o título de “pai dos surdos”, fundou 21 escolas
1712 - 1789 para Surdos.

A importância de L´Epée não está somente no fato dele ter desenvolvido um método
novo na educação dos Surdos, mas de ter tido a humildade de aprender a Língua de
Sinais com os Surdos para poder, através desta língua, montar o seu próprio sistema
para educá-los. Ele foi o primeiro a considerar que os Surdos tinham uma língua, ainda
que a considerasse falha para ser usada como método de ensino. Através desta visão,
em que a língua dos Surdos era reconhecida, ele colocou os Surdos na categoria huma-
na. (MOURA, 2000, p. 23).

Idade Contemporânea
Realizava experiências com os surdos: uso de sanguessugas para perfurar as membranas
timpânicas de alunos; uso de descargas elétricas nos ouvidos e perfuração de membrana
Jean Marc Gaspard Itard
timpânica (levando um aluno à morte por este motivo).
1774- 1838
Após anos de trabalho, reconheceu que a melhor forma para o ensino dos Surdos era a Língua
de Sinais.
Joseph Marie Baron
Como diretor do Instituto Nacional de Surdos de Paris, substituiu os professores ouvintes
de Gérando
banindo o uso dos sinais.
1772 - 1842
Alexander Grahn Bell Acreditava que a surdez era um desvio e os surdos deveriam se passar por ouvintes encaixados no
1874 - 1922 mundo.
Eduard Huet Educador surdo, fundou em 22 de Setembro de 1857 o Instituto dos Surdos-Mudos do Rio de
1822- 1882 Janeiro atual INES.
Edward Miner Gallaudet
Fundou a primeira Universidade para Surdos, atual Universidade Gallaudet em Washington.
1837 - 1917
I Congresso Internacional de Definiu-se que o melhor método para a educação de Surdos consistia na articulação com
Surdos-Mudos em 1878 leitura labial e no uso de gestos nas séries iniciais.

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II Congresso Mundial de
A partir de votação foi abolido o uso da língua de sinais e o método oralista puro foi adotado.
Surdos-Mudos em Milão - 1880
Helen Adams Keller Escritora, conferencista e ativista social, rompendo de forma ilustre, em seu tempo, as barreiras
1880 - 1968 da surdocegueira.
Laura Redden Com o uso de um pseudônimo, foi a primeira mulher Surda no campo jornalístico
1840-1923 e da literatura.
Antônio Pitanga Escultor surdo natural do Pernambuco, ganhador de diversos prêmios em decorrência
1932 de suas esculturas.
William Stokoe
Pesquisador notável na área dos estudos linguísticos da ASL.
1919 - 2000

FENEIDA 1977 Fundada a Confederação Brasileira de Desportos dos Surdos.

Fundada a Federação Nacional de Educação e integração dos Surdos no Rio de Janeiro,


FENEIS - 1987
reestruturação da FENEIDA.
Marlee Beth Matlin Primeira atriz surda norte-americana a conquistar o globo de ouro e Oscar de melhor
1986 atriz dramática.

Marcos Legais
Art. 6º A partir de 31 de dezembro de 1999, em localidades com Serviço Telefônico Fixo Comutado,
DECRETO Nº 2.592, DE 15 DE
com acessos individuais, a Concessionária deverá assegurar condições de acesso ao serviço para
MAIO DE 1998.
deficientes auditivos e da fala, que disponham da aparelhagem adequada à sua utilização.
LEI Nº 10.436, DE 24 DE
Reconhece como meio legal de comunicação e expressão a Língua Brasileira de Sinais.
ABRIL DE 2002
DECRETO Nº 5.626, DE 22 DE Regulamentação da Lei de LIBRAS
DEZEMBRO DE 2005 Leia o Decreto nº 5.626, DE 22 DE DEZEMBRO DE 2005: https://goo.gl/WvHDjC
LEI Nº 11.796, DE 29 DE
Institui o dia 26 de Setembro como Dia Nacional dos Surdos
OUTUBRO DE 2008
LEI Nº 12.319, DE 1º DE Regulamenta o exercício da profissão de Tradutor e Intérprete da Língua Brasileira
SETEMBRO DE 2010 de Sinais - LIBRAS.
NOTA: Linha histórica realizada a partir da contribuição dos seguintes autores: FERNANDES, 2007; GESSER,
2012; LACERDA, 1998; MOURA, 2000; STROBEL, 2009; VELOSO e MAIA, 2012.

Estudar a linha do tempo dos Surdos e das línguas de sinais vai além da narração
cronológica ordenada por fatos. Os marcos históricos são artefatos que nos auxiliam a
conhecer o passado e refletir sobre nosso presente.
Um olhar voltado ao historicismo embasado em uma concepção clínico-patológica da
surdez verdadeiramente produziu e ainda produz mitos, máscaras e camuflagens discri-
minatórias produzidas pelo ouvintismo.

Historicismo: valorização excessiva do relato ou visão do colonizador na história, no caso


da comunidade Surda, supervalorização da concepção clínico-patológica de surdez e do
discurso ouvinte.

No início desta unidade abordamos alguns mitos que hoje circulam socialmente re-
ferentes aos surdos, e que por vezes são compreendidos como reais. Ao analisarmos
alguns marcos históricos apontados na linha do tempo podemos ver que muitos mitos
e preconceitos foram cristalizados ao longo de muitos anos, e hoje ainda circulam na
sociedade em diferentes esferas, como educação, saúde, política, entre outras.
Quais mitos você observa nesta linha histórica? Você pode perceber os reflexos deles
hoje no cotidiano da comunidade surda? A seguir salientaremos alguns em diferentes
períodos históricos:

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UNIDADE
História da Língua de Sinais

Mitos, Camuflagens e Máscaras Discriminatórias em Torno da História dos Surdos e das Línguas de Sinais
Antiguidade Idade Média Idade Moderna Idade Contemporânea
Sem audição não se Cessação de direitos Apenas Surdos nobres Surdez considerada doença e
pode aprender. como: educação, saúde, poderiam ter acesso necessitava de cura.
Os Surdos foram castigados comunicação e religião. à educação. Surdes vista como desvio.
pelos deuses. A língua de sinais é icônica Surdo deve se passar por
Ausência da fala os tornava e universal. ouvinte encaixado no mundo.
sem raciocínio. A fala lenta e clara com Os “gestos” devem ser
Deveriam ser banidos entonação pode ensinar o empregados apenas nas
da sociedade. Surdo a falar. séries iniciais.
A língua de sinais serviria
apenas para os surdos que
não obtiveram sucesso na
língua oral.
A língua de sinais estaria em
segundo plano.
Supervalorização do trabalho
ou produção ouvinte em
detrimento do surdo.

Assim, podemos observar que mitos, máscaras ou camuflagens são produzidos com
intencionalidade, não foram gerados pelo acaso, cristalizados por interesses em favor
ou detrimento de algo ou alguém. Nesse sentido, o olhar para história do surdo e de sua
língua influenciará a concepção linguística do uso e difusão da LIBRAS em nossos dias.

É fundamental sermos agentes de novos olhares; para isso a evolução da compreensão


da surdez e da importância da língua de sinais deve embasar sua prática na área, sempre em
defesa de uma concepção sócio histórica, culturalmente centrada na diferença linguística.

Um grande avanço na área dos Estudos Surdos que tem contribuído de forma positiva
para desconstruir mitos, máscaras e camuflagens na área da Língua de Sinais são as
contribuições dos estudos linguísticos.

Esse avanço nas pesquisas na área se dá em especial através da contribuição de


linguistas surdos e ouvintes que têm demonstrado que os elementos constitutivos da
organização interna das línguas orais estão presentes também nas línguas de sinais.

Não podemos deixar de citar as contribuições de William C. Stokoe como um dos


pioneiros nos estudos minuciosos e precisos a respeito da organização da American Sign
Language – ASL como língua natural, o que influencia até hoje o estudo das diferentes
línguas de sinais. Stokoe aponta elementos da linguística estrutural na organização das
línguas de sinais e ainda considera a essência culturalmente linguística da comunicação
entre surdo-surdo.

O deslocamento da análise da surdez e da língua de sinais do viés patológico para a


análise linguística resulta em avanços reais na descrição de seus usos linguísticos. E ainda
abre um novo panorama que auxiliará na compreensão da Língua de Sinais como língua
natural, rompendo paradigmas discriminatórios.

Em nossas próximas unidades iremos aprofundar nossos estudos sobre a linguística


das línguas de sinais. Espero que essa primeira unidade tenha contribuído de forma
introdutória para seu mergulho visual espacial.

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Vídeos
História da Educação de Surdos
O vídeo produzido por Ribeiro e Barros apresenta uma organização visual espacial
excelente, após os estudo teórico da unidade, mesmo os alunos com pouco domínio de
LIBRAS conseguirão compreender a sinalização. Caso encontre dificuldade, você poderá
assistir ao vídeo com base na linha do tempo apresentada no material da unidade, pois
isto auxiliará sua compreensão e ampliação linguística.
https://youtu.be/fq8oexjpdS4
Resumo do filme: O milagre de Anne Sullivan
Neste pequeno vídeo é apresentado um resumo da vida de Hellen Keller, a trajetória vivida
com sua professora Anne Sullivan, e como Hellen superou as barreiras da surdocegueira.
https://youtu.be/5Zn6457CB68

Filmes
Filhos do Silêncio
Primeira atriz surda norte-americana a conquistar o globo de ouro e Oscar de melhor
atriz dramática. Conheça o filme estrelado por Marlee Beth Matlin que traz discussões
pertinentes em relação à identidade Surda.

Leitura
Um Pouco da História das Diferentes Abordagens na Educação dos Surdos
Artigo da professora Cristina Lacerda trazendo um panorama histórico das principais aborda-
gens da educação dos Surdos (oralismo, comunicação total e bilinguismo) e suas implicações.
http://bit.ly/2n0H1pL
Análise Sobre a Trajetória Histórica da Educação dos Surdos
Neste artigo Meserlian e Vitaliano apresentam um estudo da trajetória e dos desafios viven-
ciados pelos surdos, propondo uma reflexão dos embates, dúvidas e divergências que são
observados ainda hoje no processo educacional dos surdos.
https://goo.gl/UfFyix

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UNIDADE
História da Língua de Sinais

Referências
BRASIL. Lei nº12.319 de 1º de Setembro de 2010. Regulamenta o exercício da
profissão de Tradutor e Intérprete da Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS. Disponível
em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12319.
htm>. Acesso em: 10 de Jan. 2017.

_________. Lei nº 11.796, de 29 de Outubro de 2008. Instituído o dia 26 de


setembro de cada ano como o Dia Nacional dos Surdos. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11796.htm>. Acesso em 10
de Jan. 2017

__________. Decreto nº 5626 de 22 de Dezembro de 2005. Regulamenta a Lei


no 10.436, de 24 de abril de 2005. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/_ato2004-2006/2005/decreto/d5626.htm>. Acesso em 03 de Jan. 2017.

__________. Lei nº 10.436 de 24 de Abril de 2002. Reconhece como meio legal


de comunicação e expressão a Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10436.htm>. Acesso em: 10 de
Jan. 2017.

__________ . Decreto nº 2592, de 15 de Maio de 1998. Aprova o Plano Geral


de Metas para a Universalização do Serviço Telefônico Fixo Comutado Prestado no
Regime Público. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/
d2592.htm>. Acesso em 15 de Jan. 2017.

FERNANDES, S. Educação de surdos. Curitiba: Ibpex, 2007.

GESSER, Audrei. Libras? Que língua é essa? Crenças e preconceitos em torno da


língua de sinais e da realidade surda. São Paulo: Parábola Editorial, 2012.

HONORA, M.; FRIZANCO, M. L. E. Livro ilustrado de língua brasileira de sinais:


desvendando a comunicação usada pelas pessoas com surdez. São Paulo: Ciranda
Cultural, 2009.

LACERDA, C. B. F. Um pouco da história das diferentes abordagens na


educação dos surdos. Caderno Cedes, Campinas, v. 19, n. 46, p. 1-32,
1998. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid
=S0101-32621998000300007>. Acesso em: 17 jan. 2017.

MOURA, M. C. O surdo: caminhos para uma nova identidade. São Paulo: Editora
Revinter, 2000.

STROBEL, K. História da educação de surdos. Licenciatura em letras-libras na


modalidade à distância, Florianópolis, 2009. Disponível em: <http://www.libras.
ufsc.br/colecaoLetrasLibras/eixoFormacaoEspecifica/historiaDaEducacaoDeSurdos/
assets/258/TextoBase_HistoriaEducacaoSurdos.pdf>. Acesso em: 19 jan. 2017.

VELOSO, E; MAIA, V. Aprenda LIBRAS com eficiência e rapidez. 6. ed. Curitiba:


Ed. Mão Sinais, 2012.

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