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Fonética e Fonologia das Línguas de Sinais

Responsável pelo Conteúdo:


Profa. Ms. Juliana da Silva Bezerra

Revisão Textual:
Profa. Ms. Natalia Conti
Fonética e Fonologia das Línguas de Sinais

Nesta unidade, trabalharemos os seguintes tópicos:


• William C. Stokoe, “Pai da Língua de Sinais”
• Fonética e Fonologia das Línguas de Sinais
• Morfologia da Língua de Sinais

Fonte: Thinkstock/Getty Images


• Processos de Formação de Sinais na LIBRAS

Objetivos
• Discutir sobre as contribuições dos estudos linguísticos para sistematização e descrição
da Língua de Sinais.
• Apresentar um panorama das contribuições do legado de William C. Stokoe.
• Compreender os elementos constitutivos da fonologia das Línguas de Sinais.
• Analisar processos morfológicos da Língua Brasileira de Sinais.

Caro Aluno(a)!

Normalmente, com a correria do dia a dia, não nos organizamos e deixamos para o
último momento o acesso ao estudo, o que implicará o não aprofundamento no material
trabalhado ou, ainda, a perda dos prazos para o lançamento das atividades solicitadas.

Assim, organize seus estudos de maneira que entrem na sua rotina. Por exemplo, você
poderá escolher um dia ao longo da semana ou um determinado horário todos ou alguns
dias e determinar como o seu “momento do estudo”.

No material de cada Unidade, há videoaulas e leituras indicadas, assim como sugestões


de materiais complementares, elementos didáticos que ampliarão sua interpretação e
auxiliarão o pleno entendimento dos temas abordados.

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de
discussão, pois estes ajudarão a verificar o quanto você absorveu do conteúdo, além de
propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de
troca de ideias e aprendizagem.

Bons Estudos!
UNIDADE
Fonética e Fonologia das Línguas de Sinais

Contextualização
Para iniciarmos esta unidade convido você a assistir o vídeo a seguir, referente à Gramá-
tica da LIBRAS, produzido pelo Instituto Nacional de Educação de Surdos – INES do Rio
de Janeiro. Neste vídeo, de forma dialógica, são apresentados alguns aspectos introdutórios
para a constituição da Língua de Sinais, em especial para sua organização fonológica.

Gramática De Libras: https://youtu.be/3Qp9v1WYa5c

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William C. Stokoe, “Pai da Língua de Sinais”
Conforme estudamos na unidade anterior, Charles-Michel de L’Epée recebeu o titulo
de “Pai dos Surdos”, pois em seu trabalho dedicou-se ao desenvolvimento pedagógico
de seus alunos surdos, buscando desenvolver métodos e estratégias para o ensino da
pessoa com surdez. Em relação ao trabalho de L’Epée, a autora Moura afirma:
A importância de L’Epée não está somente no fato dele ter desenvolvido um método
novo na educação dos Surdos, mas de ter tido a humildade de aprender a Língua de
Sinais com os Surdos para poder, através desta língua, montar o seu próprio sistema
para educá-los (2000, p. 23).

O trabalho de L’Epée em seu tempo não foi visto com “bons olhos”, em especial
pelos defensores de uma concepção oralista. Contudo, posteriormente e até nossos dias,
seu trabalho é compreendido como referência no pioneirismo na Educação de surdos.

Na história dos Surdos assim como temos as contribuições de L’Epée com o título
de “Pai dos Surdos”, encontramos o título atribuído a William C. Stokoe como “Pai da
língua de Sinais americana”, devido a seu legado e contribuições para a composição dos
estudos linguísticos das línguas de sinais.

Figura 1 - William C. Stokoe (1919 – 2000)


Assista ao resumo produzido em LIBRAS referente ao legado de William Stokoe. Conheça seu
sinal e aproveite para ampliar seu conhecimento linguístico: https://youtu.be/WoO7x4AYcfM

O trabalho desenvolvido por Stokoe traz um pioneirismo na descrição linguística da


língua de sinais americana que contribui para a análise de outras línguas de sinais.

Frydrych (2013) relata que Stokoe no ano de 1955 foi convidado para ministrar
aulas de Inglês na Gallaudet University, importante centro de ensino para surdos, Stokoe
não era fluente em língua americana de sinais e também desconhecia os contornos da
identidade surda.

Lembrando que esta prática de contratar professores ouvintes que não conheciam
língua de sinais para lecionar para alunos surdos era recorrente, pois as diferentes
instituições que atendiam aos surdos ainda viviam reflexos das determinações do
Congresso de Milão em 1880, assim defendiam uma concepção oralista de educação
para surdos, em que a sinalização era entendida como inferior à comunicação oral

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Fonética e Fonologia das Línguas de Sinais

auditiva e por isso proibida. Embora da proibição e compreensão da surdez por um


prisma clínico patológico, a língua de sinais sempre se manteve viva e produtiva nos
dormitórios, corredores das escolas e principalmente no encontro surdo-surdo.

Nesse contexto Stokoe inicia seu trabalho junto aos alunos surdos da Gallaudet, e no
contato com eles percebeu que a língua de sinais nas mãos de seus alunos era eficaz e
repleta de significados e assim ele declara:
Eu percebi que quando essas pessoas surdas estavam juntas e comunicando-se umas
com as outras, o que elas estavam comunicando era em uma língua, mas não a língua
de outro; já que não era Inglês, aquilo só podia ser a sua própria língua. Não havia
nada “quebrado” ou “inadequado” nela; eles se saiam esplendidamente bem com ela.
(STOKOE apud MAHER, 1996. p, 55)

Esse contexto comunicativo entre seus alunos surdos despertou em Stokoe o


interesse pela pesquisa da língua de sinais americana. Frydrych (2013) relata que Stokoe
rapidamente a partir do contato e observação da comunicação entre seus alunos surdos,
percebeu que os sinais que lhe foram ensinados para estabelecer uma comunicação
com os alunos durante as aulas, diferiam muito da comunicação produzida por eles. Nas
mãos dos surdos a língua era viva e repleta de significados, e não uma paródia da língua
inglesa, como era vista por muitos professores.

Frydrych (2013) aponta que muitos professores nesta época não atribuíam um status
linguísticos as línguas de sinais, pois, entendiam a comunicação dos surdos como uma
deformação da língua oral inglesa, e a produção destes professores na verdade consistia
em um sistema manual de decodificação do inglês ou ainda uma forma de inglês
sinalizado. Outros professores também percebiam essa diferença entre sua sinalização e
de seus alunos, contudo, diziam que a língua que os surdos utilizavam não era compatível
com níveis de formalidade da linguagem e consecutivamente deveria ser evitada.

A constatação da diferença comunicativa dos grupos surdo-surdo e surdo-ouvinte


motivou Stokoe a se aproximar da língua que circulava na comunidade surda. Conforme
Maher (1996 apud FRYDRYCH, 2013, p.21) embora Stokoe tenha aprendido um
vasto vocabulário sua sinalização não era tão fluente e móvel quanto se imagina, a esse
respeito declarou:
Talvez a dificuldade de Stokoe em usar a língua, sua inabilidade para tomá-la por si
só como um simples método de comunicação, e sua necessidade em olhar para ela
cuidadosamente, foram os responsáveis, em parte, por suas descobertas. Foi necessário
alguém de “fora” para olhar o que estava lá o tempo todo. (MAHER 1996 apud
FRYDRYCH, 2013, p.21)

Stokoe entendeu que antes de ensinar algo a seus alunos ele que deveria aprender.
Este pensamento na verdade deveria permear a prática docente dos atuais professores
que atuam junto aos alunos surdos na escola. Assim, podemos apontar aqui algumas
características do trabalho de Stokoe, que deveriam ser consideradas por docentes da
contemporaneidade que lecionam para alunos surdos:
• Envolvimento com a comunidade Surda
• Reconhecimento da natureza linguística da língua de sinais

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• Aprender antes de ensinar
• Observação e pesquisa da realidade comunicativa no encontro surdo-surdo

Observe que Stokoe, considerado “pai da língua de sinais” e L’Epée intitulado


“pai dos surdos”, em seus legados consideram o protagonismo do indivíduo surdo e
principalmente sua língua. Esse pensamento, por certo foi a base sólida para o impacto
e propagação de suas pesquisas.

Em seu tempo Stokoe foi uma exceção à regra, pois enquanto a regra era envergo-
nhar-se da língua de sinais e desprestigiá-la, ele na contramão de seu tempo, embora o
ceticismo e críticas que recebeu (assim como L’Epée), assumiu o pioneirismo na análise e
descrição da língua de sinais. A esse respeito leia sua declaração:
Logo no início daquele verão comecei a desenvolver o argumento de que (a) as pessoas
surdas compartilhavam uma cultura quando na companhia uma das outras; (b) tal cultura
difere da cultura Americana padrão (ou de qualquer de suas variantes) por causa da
diferença radical que há em seus fundamentos fisiológicos; e (c) no entanto, o sistema
de símbolos gestuais, não vocais, usados pelas pessoas surdas é por definição uma
língua [...] Minha tarefa era ver como os usuários usavam a língua, especialmente os
contrastes e as equivalências que eles faziam (STOKOE, apud MAHER, 1996. p, 60)

Assim como L’Epée e Stokoe trilharam uma jornada na contra mão de seu tempo a favor
de uma militância social, política e principalmente linguística na comunidade surda. Você
ou alguém que conheça também já realizou proposições, projetos, pesquisas ou atividades
junto à comunidade surda de forma inovadora?

Moreira (2007) destaca o pioneirismo dos estudos de Stokoe e seus desdobramentos


que auxiliaram e ainda auxiliam na compreensão e aceitação das línguas de sinais como
línguas naturais:
A linguística ignorou, por muitos anos, o fato de as línguas sinalizadas emergirem
naturalmente, como qualquer outra língua natural, em comunidades de surdos, e de
serem línguas estruturadas, apresentando uma gramática, sinais com uma estrutura
fonético-fonológica, morfológica, sintática e características discursivas e pragmáticas
como qualquer outra língua de modalidade oral. (MOREIRA, 2007. p,15)

Jackendoff (1994) também destaca que a língua de sinais é por definição uma língua,
assim como as línguas orais, porém, parece ser completamente diferente de outras
línguas auditivas, pois sua transmissão não é através do trato vocal, criando sinais
acústicos, ela é de caráter visual, embora o sistema periférico seja diferente, a atividade
inerente é a comunicativa.

Desta forma muitos pesquisadores a partir dos estudos de Stokoe integraram as


línguas de sinais ao contexto dos estudos linguísticos, pois as características inerentes
às línguas humanas, de caráter oral auditivo anteriormente pesquisadas, puderam ser
percebidas nas línguas de sinais de forma análoga.

Para exemplificar apresento um quadro síntese das principais características e


propriedades presentes nas línguas humanas que podem ser observadas também nas

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Fonética e Fonologia das Línguas de Sinais

línguas de sinais, com base nas obras de Quadros e Karnopp (2004). Estas características
são encontradas nas línguas orais e também nas línguas de sinais, o que novamente
legitima o status linguístico da L.S de forma irrefutável.
Propriedades das Línguas Humanas nas
Línguas Orais (L.O) e Línguas de Sinais (L.S)
L.S
Flexibilidade e Versatilidade Apresenta o mesmo grau de flexibilidade
e versatilidade comunicativa em relação às
L.O emoções, sentimentos e tempos, nos
Dar vazão às emoções e sentimentos diferentes tipos de discurso com alusão
Referenciar diferentes tempos concreta ou abstrata e ainda questionar
Enunciar questões objetivas e abstratas Arbitrariedade ou afirmar uma informação.

L.O L.S
Possui sinais arbitrários em que sua
Conexão arbitrária entre forma não apresenta relação com o
forma e significado Descontinuidade referente. Ex: sinal do verbo“TER”

L.O L.S
Apresenta sinais que são considerados
Palavras que diferem de maneira pares mínimos e diferem apenas
mínima na forma. Ex: faca/vaca Criatividade e Produtividade em um ou dois parâmetros.
L.O L.S
Permite a construção e compreensão de Possibilita a criação, construção e reconstrução de
um número indefinido de enunciados diferentes discursos de forma criativa, em espe-
de forma criativa e inovadora. Dupla Articulação cial com o uso dos recursos de comunicação.
L.O L.S
Combinação de uma camada de sons Apresenta a combinação de unidades menores
que se combinam em uma segunda que são expressas pelos parâmetros
camada de unidades menores. Padrão

L.O L.S
Apresenta um padrão de Os sinais apresentam um padrão
organização dos elementos. Dependência Estrutural de colocação e combinação.

L.O L.S
As sentenças contêm As sentenças possuem estruturas e
uma estrutura dependente não podem ser realizadas de forma aleatória.

Figura 2

Fonética e Fonologia das Línguas de Sinais


Os estudos fonéticos se concentram nas questões de descrição e identificação dos sons
da fala e a fonologia preocupa-se com aquilo que é distintivo, e tem função na língua.
Enquanto a fonética é basicamente descritiva, a fonologia é explicativa, interpretativa;
enquanto análise fonética se baseia na produção percepção e transmissão dos sons da
fala, a análise fonológica busca o valor dos sons em uma língua, ou seja, sua função
linguística (CAGLIARI, 2001, p.106).

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Os termos fonética e fonologia têm sido usados para descrição dos elementos básicos
da constituição da Língua de Sinais em diferentes estudos, contudo, por ser a Língua
Portuguesa de canal comunicativo oral auditivo e a Língua de Sinais de canal comunicativo
visual gestual, a fim de considerar a distinção existente no canal comunicativo dessas
línguas Stokoe (1960) propôs o termo Quirema para estudo das unidades mínimas que
constituem um sinal, relativa aos parâmetros da Língua de Sinais e para o estudos de
suas combinações propôs e termo Quirologia. Contudo, atualmente os termos fonética
e fonologia já tem sido utilizados por diferentes linguistas também nas línguas de sinais.

Assim, nesse momento vamos estudar mais detalhadamente a estrutura da língua


de sinais e iremos iniciar pelos aspectos fonéticos e fonológicos. Conforme Quadros;
Karnopp (2004) as línguas de sinais possuem os mesmos princípios subjacentes de
construção que as línguas orais, ou seja, apresentam um conjunto de símbolos
convencionais regidos por regras gramaticais. Assim a língua de sinais apresenta uma
estrutura com propriedades sem significado e regras que manipulam estas propriedades.

Stokoe apontou na descrição da língua de sinais americana três parâmetros que são
considerados a base para formação dos sinais:
i) Configuração de mãos (CM)
ii) Locação da mão (L) / ponto de articulação (PA)
iii) Movimento (M)

Posteriormente outros pesquisadores que analisaram as unidades formativas dos


sinais sugeriram a adição de mais dois parâmetros:
i) Orientação da mão (Or)
ii) Aspectos não manuais (NM)

Para a constituição de um sinal o primeiro parâmetro considerado diz respeito à forma


que as mãos assumem na produção dos sinais, ou seja, em sua Configuração de Mãos
(CM). Em relação ao registro dessas configurações de mãos gostaria de trazer os mate-
riais produzidos por Ferreira-Brito (1995), Pimenta e Quadros (2006) e Faria-Nascimento
(2009). Observe com atenção os três quadros que apontam um registro de CMs.

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Figura 3 – Configurações de Mãos (1995)

Figura 4 – Configurações de Mãos Sistematizadas (2006)

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Figura 5 – Configurações de Mãos Sistematizadas em 2009

Observe que o registro de Ferreira-Brito aponta CMs básicas e CMs variantes,


totalizando 46 CMs, que são agrupadas verticalmente. O registro de Pimenta e Quadros
(2006) indica um número de 61 CMs, já o trabalho de Faria-Nascimento em 2009 aponta
um total de 74 CMs. Esse acréscimo de CMs pode ser entendido devido aos neologismos
incorporados à Língua Brasileira de Sinais, ou seja, com o passar do tempo, novos sinais
foram acrescidos em decorrência da ampliação das terminologias na área.

Em relação aos novos sinais e pesquisas que difundem um registro da lexicografia da


LIBRAS convido você para conhecer o glossário virtual do curso de Letras LIBRAS da
Universidade Federal de Santa Catarina. Nele você encontrará sinais específicos como:
alofone, metáfora, Piaget, fonética, fonologia e muitos outros: https://goo.gl/eVQthg

O Parâmetro Locação ou Ponto de Articulação (PA) indica o espaço de enunciação,


ou seja, o lugar onde a CM será posicionada, lembrando que estes espaços devem
ser respeitados, pois sua modificação implicará no significado dos sinais produzidos.
Ferreira-Brito e Langevin (1995) dividem em quatro as principais regiões para locação
com seus respectivos desdobramentos.

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Variações no Parâmetro Locação (L)


ou Ponto de Articulação (PA)

Cabeça

Espaço
Tronco
Neutro

Mão

Figura 6

Em relação ao Parâmetro Movimento (M), é necessário que haja objeto e espaço.


Ferreira-Brito e Langevin (1995) indicam que o parâmetro movimento é complexo e
apresenta uma vasta maneira de formas, direções e maneiras para ser realizado, assim
podem ser apresentados com as seguintes modificações:

Variações no Parâmetro Movimento (M)

Tipo Direcionalidade Maneira Frequência

Figura 7

O Parâmetro Orientação (Or) é compreendido pela direção da palma da mão con-


forme Ferreira-Brito e Langevin (1995), ou seja, a direção ou orientação do posiciona-
mento da palma da mão durante a execução do sinal. Em relação às possibilidades de
orientação, Brito (1995) indica:

Variações no Parâmetro Orientação (Or)

Para cima

Para o lado/ Para dentro/ Para o lado/


Ipsilateral para fora Contralateral

Para baixo

Figura 8

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O quinto e último parâmetro reconhecido como Expressões não manuais (ENM) ou
expressões corporofaciais são empregadas nas marcações de construção sintática ou
para diferir itens lexicais.

Assim as expressões faciais podem ser divididas em dois grandes grupos: expressões
afetivas, relacionadas aos sentimentos para complemento do sinal, como por exemplo,
nas sinalizações: triste, alegre, medo, raiva entre outros. E em expressões gramaticais para
marcação de diferentes tipos de sentenças como negativas, interrogativas, afirmativas,
exclamativas e outras. Lembrando que as marcas não manuais, segundo Ferreira-Brito e
Langevin (1995) podem ser produzidas da seguinte forma:

Rosto

Rosto e Variações
Cabeça
Cabeça das ENM

Tronco

Figura 9

O estudo da fonologia das línguas de sinais é um campo em constante pesquisa,


porém sua compreensão, descrição e detalhamento têm sido realizados por diferentes
linguistas, em especial a partir dos trabalhos de Stokoe em 1960.

Sem dúvida a consideração destes parâmetros auxilia a compreensão da natureza


linguística das línguas de sinais também de seus níveis fonológicos, assim como nas
línguas de orais auditivas.

Observação, descrição e explicação de unidades mínimas visuais que tornam possível


a composição e criação lexical de forma infinita com criatividade e produtividade,
contudo, sem desconsiderar o padrão linguístico das línguas de sinais e sua estrutura.

O estudo das bases fonéticas e fonológicas das línguas de sinais ainda contribui com
o campo da notação de sinais, em especial da escrita de sinais que pode ser aplicada em
diferentes L.S.

Muitas vezes aprendizes de LIBRAS demonstram ansiedade apenas pelo aprendizado


lexical da língua, porém se esquecem da necessidade de compreensão dos itens formativos
destes sinais, pois este estudo certamente irá auxiliá-los na fluência comunicativa da língua,
o que com certeza resultará na ampliação do repertório linguístico de forma sistematizada.

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Observação da Produção dos Parâmetros (CM, PA/L, M, OR e ENM)


na Sinalização

Figura 10 – Sinal: Feliz

Figura 11 – Preocupação Figura 12 – Trabalhar Figura 13 – Gostar


CM: Mãos em “X” CM: Mãos em “L” CM: Mão aberta
PA/L: Olhos PA/L: Espaço neutro PA/L: Em frente ao peito
M: Circular M: Para dentro e para fora M: Circular
Or: Contralateral Or: Para baixo Or: Para dentro
ENM: Sobrancelhas franzidas ENM: Não apresenta ENM: Sobrancelhas levantadas

Conforme Quadros e Karnopp (2004) a identificação dos parâmetros que organizam


a L.S ainda contribuirá para o apontamento dos pares de sinais que contrastam
minimamente através da alteração de um parâmetro.

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Pares Mínimos

Figura 14 – Aprender Figura 15 – Sábado


CM: Mão em “C” CM: Mão em “C”
PA/L: Testa PA/L: Boca
M: Abrir e fechar M: Abrir e fechar
Or: Para dentro Or: Para dentro
ENM: Não apresenta ENM: Não apresenta
Sinais que se opõem quanto ao ponto de articulação ou locação

Como você pode ver, a fonologia é um importante nível de análise linguística, em


especial para compreensão das unidades formativas dos sinais. Ela explica, compara e
contrasta parâmetros de composição lexical, o que permite a ampliação do repertório
das línguas de sinais, conforme aponta Felipe (2006):
Estes cinco parâmetros podem expressar morfemas através de algumas configurações
de mão, de alguns movimentos direcionados, de algumas alterações na frequência do
movimento, de alguns pontos de articulação na estrutura morfológica e de alguma
expressão facial ou movimento de cabeça concomitante ao sinal, que, através de
alterações em suas combinações, formam os itens lexicais das línguas de sinais.
(FELIPE, 2006, p. 202)

Assim, é muito importante que você compreenda bem o nível fonológico da Língua
de Sinais, pois isso o ajudará na próxima secção da unidade, referente à morfologia
da LIBRAS. Caso tenha alguma dúvida até esse momento, retorne e leia novamente,
para então continuar seus estudos, pois o próximo tema dará continuidade à analise
linguística da LIBRAS.

Morfologia da Língua de Sinais


Xavier e Neves (2016) relatam que o componente morfológico da gramática da LIBRAS
ainda foi pouco explorado pelos linguistas. Nesse sentido, podemos encontrar trabalhos
que apontam diferentes considerações em relação à morfologia das línguas de sinais.

Conforme Quadros e Karnopp (2004, p.86) ”morfologia é o estudo da estrutura


interna das palavras ou dos sinais, assim como das regras que determinam a formação
das palavras (...) os morfemas são as unidades mínimas de significado”.

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Fonética e Fonologia das Línguas de Sinais

Ainda conforme estas autoras, o estudo morfológico das línguas de sinais é vasto e
bastante complexo e encontra alguns questionamentos como: (a) estudo da morfologia
da L.S. com base na morfologia tradicional das línguas orais, o que dificulta a percepção
de elementos e termos contrastivos às línguas de sinais dado a diferença dos canais
comunicativos; e (b) estudar a morfologia com base nas pesquisas apenas em língua de
sinais, também se apresenta como um dificultador, dado que a bibliografia na área da
morfologia das línguas de sinais ainda é reduzida e em construção.

Em relação aos processos de formação de sinais na LIBRAS, atualmente encontramos


diferentes trabalhos que indicam alguns dos processos possíveis e ainda os de maior
recorrência nos processos morfológicos. Felipe (2006) aponta que os processos de
formação de sinais em LIBRAS podem acontecer por modificação de raiz, com adição
de afixos ou de modificação interna. Esse autor entende em relação à raiz como a parte
da palavra que permanece, ao serem retirados os afixos, as desinências e vogal temática.
Em seguida trago alguns processos de formação de sinais que são descritos por três
grandes autores da área (Felipe 2006; Quadros e Karnopp 2004).

Processos de Formação de Sinais na LIBRAS


Tabela 1
Modificação - Felipe (2006)
Modificação por adição à raiz Modificação interna da raiz
Flexão (para pessoa do discurso)
Flexão para aspecto verbal
Negação Flexão para gênero
Incorporação do numeral
Incorporação do intensificador MUITO ou de casos modais

Tabela 2
Processo de Derivação Nominalização
Felipe (2006) Quadros e Karnopp (2004)
A Libras também possui muitos verbos denominais ou A nominalização se dá na criação de um substantivo a
substantivos verbais que possuem a mesma forma para partir de uma categoria que não seja um substantivo,
os pares verbo/substantivo. O mesmo sinal é empregado, gerando assim a mudança categorial.
contudo apresenta alteração no parâmetro movimento.

Tabela 3
Composição na Língua Brasileira de Sinais
Quadros e Karnopp (2004) consideram
Felipe (2006) indica três processos:
as seguintes regras:
a) Justaposição de dois itens lexicais, ou seja, dois sinais a) Regra do contato: frequentemente um sinal inclui
que formam uma terceira forma livre. algum tipo de contato, seja no corpo ou na mão passiva.
b) Regra da sequência única: movimento interno ou
b) Justaposição de um classificador com um item lexical.
repetição são eliminados.
c) Regra da antecipação da mão não dominante: quando
c) Justaposição da datilologia da palavra, em português.
dois sinais são combinados para formar um composto

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Alguns autores como Xavier, Neves (2016), Quadros e Karnopp (2004) ainda indicam
o processo de incorporação da locação para diferenciar os verbos em LIBRAS:

Tabela 4
Tipo Definição Exemplo
Verbos simples Quando não apresentam flexão Gostar/ Trabalhar/ Aprender
em pessoa e número.
Verbos com concordância Tem sua produção modificada Perguntar / Ajudar/ Responder/
ou direcional dependendo dos referentes. Proteger
Verbos espaciais Tem afixos locativos, ou seja, Ir / Viajar / Chegar
necessitam do espaço para
sua produção.

Enfim, embora diferentes autores apontem processos com denominações (nomes)


diferentes, estes processos são semelhantes em suas considerações. Em linhas gerais,
para a formação de sinais em LIBRAS é fundamental que você considere dois grandes
conjuntos de processos morfológicos:

Modificação/
Incorporação

Formação/
Composição

Formação
de Sinais

Figura 16

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Fonética e Fonologia das Línguas de Sinais

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Vídeos
LIBRAS - Aula 10 - A linguística das línguas de Sinais I - Unidades Formativas dos Sinais
https://youtu.be/bKSX96VZ63I
LIBRAS - Aula 11 - A linguística das línguas de Sinais II - Processos de Formação e Modific
https://youtu.be/GsvsKSOE_n8
Estrutura Gramatical da LIBRAS por Ronice Quadros
https://youtu.be/O66o7BvuYwA

Leitura
Revista sinalizar: descrição de aspectos morfológicos da LIBRAS
https://goo.gl/lFda67

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Referências
CAGLIARI, L. C. Fonética: Introdução à linguística: domínios e fronteiras. São Paulo:
Cortez, 2001.

FARIA-NASCIMENTO; SANDRA P. Tese de Doutorado: Representações lexicais da


Língua de Sinais Brasileira: uma proposta lexicográfica. 2009. UnB.

FELIPE, T. A. O processo de formação de palavra na Libras. Educação


Temática Digital, Campinas, 2006 v.7, n.2, p.200-217.

FERREIRA-BRITO, L. Uma abordagem fonológica dos sinais da LSCB. In: Espaço:


Informativo Técnico-Científico do INES, Rio de Janeiro, v. 1, nº 1. p. 20-43, 1990.

FRYDRYCH, L.A.K. O estatuto linguístico das línguas de sinais: a libras sob a ótica
saussuriana. 2013. 92 f. Dissertação (Mestrado em Letras), Universidade Federal do
Rio Grande do Sul, Instituto de Letras, Porto Alegre, RS, 2013.

MAHER, J. Seeing language in signs: the work of William C. Stokoe. Washington:


Gallaudet University Press, 1996.

MOREIRA, R. L. Uma descrição da dêixis de pessoa na língua de sinais


brasileira: pronomes pessoais e verbos indicadores. São Paulo: USP, Dissertação
de Mestrado, 2007.

MOURA, M. C. O surdo: caminhos para uma nova identidade. São Paulo: Editora
Revinter, 2000.

PIMENTA, N; QUADROS R. M. Curso de LIBRAS. Rio de Janeiro: LSB Vídeo, 2006.

QUADROS, R. M; KARNOPP, L. Língua de sinais brasileira: estudos linguísticos.


ArtMed: Porto Alegre, 2004.

XAVIER, A. N; NEVES, S. L.G. Descrição de aspectos morfológicos da LIBRAS.


Revista Sinalizar, UFG, v.1, n.2, p, 130-151, 2016. Disponível em: https://www.
revistas.ufg.br/revsinal/article/view/43933. Aceso em: 01 Fev. 2017.

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