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Fonética e Fonologia das Línguas de Sinais
Revisão Textual:
Profa. Ms. Natalia Conti
Fonética e Fonologia das Línguas de Sinais
Objetivos
• Discutir sobre as contribuições dos estudos linguísticos para sistematização e descrição
da Língua de Sinais.
• Apresentar um panorama das contribuições do legado de William C. Stokoe.
• Compreender os elementos constitutivos da fonologia das Línguas de Sinais.
• Analisar processos morfológicos da Língua Brasileira de Sinais.
Caro Aluno(a)!
Normalmente, com a correria do dia a dia, não nos organizamos e deixamos para o
último momento o acesso ao estudo, o que implicará o não aprofundamento no material
trabalhado ou, ainda, a perda dos prazos para o lançamento das atividades solicitadas.
Assim, organize seus estudos de maneira que entrem na sua rotina. Por exemplo, você
poderá escolher um dia ao longo da semana ou um determinado horário todos ou alguns
dias e determinar como o seu “momento do estudo”.
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de
discussão, pois estes ajudarão a verificar o quanto você absorveu do conteúdo, além de
propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de
troca de ideias e aprendizagem.
Bons Estudos!
UNIDADE
Fonética e Fonologia das Línguas de Sinais
Contextualização
Para iniciarmos esta unidade convido você a assistir o vídeo a seguir, referente à Gramá-
tica da LIBRAS, produzido pelo Instituto Nacional de Educação de Surdos – INES do Rio
de Janeiro. Neste vídeo, de forma dialógica, são apresentados alguns aspectos introdutórios
para a constituição da Língua de Sinais, em especial para sua organização fonológica.
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William C. Stokoe, “Pai da Língua de Sinais”
Conforme estudamos na unidade anterior, Charles-Michel de L’Epée recebeu o titulo
de “Pai dos Surdos”, pois em seu trabalho dedicou-se ao desenvolvimento pedagógico
de seus alunos surdos, buscando desenvolver métodos e estratégias para o ensino da
pessoa com surdez. Em relação ao trabalho de L’Epée, a autora Moura afirma:
A importância de L’Epée não está somente no fato dele ter desenvolvido um método
novo na educação dos Surdos, mas de ter tido a humildade de aprender a Língua de
Sinais com os Surdos para poder, através desta língua, montar o seu próprio sistema
para educá-los (2000, p. 23).
O trabalho de L’Epée em seu tempo não foi visto com “bons olhos”, em especial
pelos defensores de uma concepção oralista. Contudo, posteriormente e até nossos dias,
seu trabalho é compreendido como referência no pioneirismo na Educação de surdos.
Na história dos Surdos assim como temos as contribuições de L’Epée com o título
de “Pai dos Surdos”, encontramos o título atribuído a William C. Stokoe como “Pai da
língua de Sinais americana”, devido a seu legado e contribuições para a composição dos
estudos linguísticos das línguas de sinais.
Frydrych (2013) relata que Stokoe no ano de 1955 foi convidado para ministrar
aulas de Inglês na Gallaudet University, importante centro de ensino para surdos, Stokoe
não era fluente em língua americana de sinais e também desconhecia os contornos da
identidade surda.
Lembrando que esta prática de contratar professores ouvintes que não conheciam
língua de sinais para lecionar para alunos surdos era recorrente, pois as diferentes
instituições que atendiam aos surdos ainda viviam reflexos das determinações do
Congresso de Milão em 1880, assim defendiam uma concepção oralista de educação
para surdos, em que a sinalização era entendida como inferior à comunicação oral
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UNIDADE
Fonética e Fonologia das Línguas de Sinais
Nesse contexto Stokoe inicia seu trabalho junto aos alunos surdos da Gallaudet, e no
contato com eles percebeu que a língua de sinais nas mãos de seus alunos era eficaz e
repleta de significados e assim ele declara:
Eu percebi que quando essas pessoas surdas estavam juntas e comunicando-se umas
com as outras, o que elas estavam comunicando era em uma língua, mas não a língua
de outro; já que não era Inglês, aquilo só podia ser a sua própria língua. Não havia
nada “quebrado” ou “inadequado” nela; eles se saiam esplendidamente bem com ela.
(STOKOE apud MAHER, 1996. p, 55)
Frydrych (2013) aponta que muitos professores nesta época não atribuíam um status
linguísticos as línguas de sinais, pois, entendiam a comunicação dos surdos como uma
deformação da língua oral inglesa, e a produção destes professores na verdade consistia
em um sistema manual de decodificação do inglês ou ainda uma forma de inglês
sinalizado. Outros professores também percebiam essa diferença entre sua sinalização e
de seus alunos, contudo, diziam que a língua que os surdos utilizavam não era compatível
com níveis de formalidade da linguagem e consecutivamente deveria ser evitada.
Stokoe entendeu que antes de ensinar algo a seus alunos ele que deveria aprender.
Este pensamento na verdade deveria permear a prática docente dos atuais professores
que atuam junto aos alunos surdos na escola. Assim, podemos apontar aqui algumas
características do trabalho de Stokoe, que deveriam ser consideradas por docentes da
contemporaneidade que lecionam para alunos surdos:
• Envolvimento com a comunidade Surda
• Reconhecimento da natureza linguística da língua de sinais
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• Aprender antes de ensinar
• Observação e pesquisa da realidade comunicativa no encontro surdo-surdo
Em seu tempo Stokoe foi uma exceção à regra, pois enquanto a regra era envergo-
nhar-se da língua de sinais e desprestigiá-la, ele na contramão de seu tempo, embora o
ceticismo e críticas que recebeu (assim como L’Epée), assumiu o pioneirismo na análise e
descrição da língua de sinais. A esse respeito leia sua declaração:
Logo no início daquele verão comecei a desenvolver o argumento de que (a) as pessoas
surdas compartilhavam uma cultura quando na companhia uma das outras; (b) tal cultura
difere da cultura Americana padrão (ou de qualquer de suas variantes) por causa da
diferença radical que há em seus fundamentos fisiológicos; e (c) no entanto, o sistema
de símbolos gestuais, não vocais, usados pelas pessoas surdas é por definição uma
língua [...] Minha tarefa era ver como os usuários usavam a língua, especialmente os
contrastes e as equivalências que eles faziam (STOKOE, apud MAHER, 1996. p, 60)
Assim como L’Epée e Stokoe trilharam uma jornada na contra mão de seu tempo a favor
de uma militância social, política e principalmente linguística na comunidade surda. Você
ou alguém que conheça também já realizou proposições, projetos, pesquisas ou atividades
junto à comunidade surda de forma inovadora?
Jackendoff (1994) também destaca que a língua de sinais é por definição uma língua,
assim como as línguas orais, porém, parece ser completamente diferente de outras
línguas auditivas, pois sua transmissão não é através do trato vocal, criando sinais
acústicos, ela é de caráter visual, embora o sistema periférico seja diferente, a atividade
inerente é a comunicativa.
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línguas de sinais, com base nas obras de Quadros e Karnopp (2004). Estas características
são encontradas nas línguas orais e também nas línguas de sinais, o que novamente
legitima o status linguístico da L.S de forma irrefutável.
Propriedades das Línguas Humanas nas
Línguas Orais (L.O) e Línguas de Sinais (L.S)
L.S
Flexibilidade e Versatilidade Apresenta o mesmo grau de flexibilidade
e versatilidade comunicativa em relação às
L.O emoções, sentimentos e tempos, nos
Dar vazão às emoções e sentimentos diferentes tipos de discurso com alusão
Referenciar diferentes tempos concreta ou abstrata e ainda questionar
Enunciar questões objetivas e abstratas Arbitrariedade ou afirmar uma informação.
L.O L.S
Possui sinais arbitrários em que sua
Conexão arbitrária entre forma não apresenta relação com o
forma e significado Descontinuidade referente. Ex: sinal do verbo“TER”
L.O L.S
Apresenta sinais que são considerados
Palavras que diferem de maneira pares mínimos e diferem apenas
mínima na forma. Ex: faca/vaca Criatividade e Produtividade em um ou dois parâmetros.
L.O L.S
Permite a construção e compreensão de Possibilita a criação, construção e reconstrução de
um número indefinido de enunciados diferentes discursos de forma criativa, em espe-
de forma criativa e inovadora. Dupla Articulação cial com o uso dos recursos de comunicação.
L.O L.S
Combinação de uma camada de sons Apresenta a combinação de unidades menores
que se combinam em uma segunda que são expressas pelos parâmetros
camada de unidades menores. Padrão
L.O L.S
Apresenta um padrão de Os sinais apresentam um padrão
organização dos elementos. Dependência Estrutural de colocação e combinação.
L.O L.S
As sentenças contêm As sentenças possuem estruturas e
uma estrutura dependente não podem ser realizadas de forma aleatória.
Figura 2
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Os termos fonética e fonologia têm sido usados para descrição dos elementos básicos
da constituição da Língua de Sinais em diferentes estudos, contudo, por ser a Língua
Portuguesa de canal comunicativo oral auditivo e a Língua de Sinais de canal comunicativo
visual gestual, a fim de considerar a distinção existente no canal comunicativo dessas
línguas Stokoe (1960) propôs o termo Quirema para estudo das unidades mínimas que
constituem um sinal, relativa aos parâmetros da Língua de Sinais e para o estudos de
suas combinações propôs e termo Quirologia. Contudo, atualmente os termos fonética
e fonologia já tem sido utilizados por diferentes linguistas também nas línguas de sinais.
Stokoe apontou na descrição da língua de sinais americana três parâmetros que são
considerados a base para formação dos sinais:
i) Configuração de mãos (CM)
ii) Locação da mão (L) / ponto de articulação (PA)
iii) Movimento (M)
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Figura 5 – Configurações de Mãos Sistematizadas em 2009
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Cabeça
Espaço
Tronco
Neutro
Mão
Figura 6
Figura 7
Para cima
Para baixo
Figura 8
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O quinto e último parâmetro reconhecido como Expressões não manuais (ENM) ou
expressões corporofaciais são empregadas nas marcações de construção sintática ou
para diferir itens lexicais.
Assim as expressões faciais podem ser divididas em dois grandes grupos: expressões
afetivas, relacionadas aos sentimentos para complemento do sinal, como por exemplo,
nas sinalizações: triste, alegre, medo, raiva entre outros. E em expressões gramaticais para
marcação de diferentes tipos de sentenças como negativas, interrogativas, afirmativas,
exclamativas e outras. Lembrando que as marcas não manuais, segundo Ferreira-Brito e
Langevin (1995) podem ser produzidas da seguinte forma:
Rosto
Rosto e Variações
Cabeça
Cabeça das ENM
Tronco
Figura 9
O estudo das bases fonéticas e fonológicas das línguas de sinais ainda contribui com
o campo da notação de sinais, em especial da escrita de sinais que pode ser aplicada em
diferentes L.S.
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Pares Mínimos
Assim, é muito importante que você compreenda bem o nível fonológico da Língua
de Sinais, pois isso o ajudará na próxima secção da unidade, referente à morfologia
da LIBRAS. Caso tenha alguma dúvida até esse momento, retorne e leia novamente,
para então continuar seus estudos, pois o próximo tema dará continuidade à analise
linguística da LIBRAS.
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Ainda conforme estas autoras, o estudo morfológico das línguas de sinais é vasto e
bastante complexo e encontra alguns questionamentos como: (a) estudo da morfologia
da L.S. com base na morfologia tradicional das línguas orais, o que dificulta a percepção
de elementos e termos contrastivos às línguas de sinais dado a diferença dos canais
comunicativos; e (b) estudar a morfologia com base nas pesquisas apenas em língua de
sinais, também se apresenta como um dificultador, dado que a bibliografia na área da
morfologia das línguas de sinais ainda é reduzida e em construção.
Tabela 2
Processo de Derivação Nominalização
Felipe (2006) Quadros e Karnopp (2004)
A Libras também possui muitos verbos denominais ou A nominalização se dá na criação de um substantivo a
substantivos verbais que possuem a mesma forma para partir de uma categoria que não seja um substantivo,
os pares verbo/substantivo. O mesmo sinal é empregado, gerando assim a mudança categorial.
contudo apresenta alteração no parâmetro movimento.
Tabela 3
Composição na Língua Brasileira de Sinais
Quadros e Karnopp (2004) consideram
Felipe (2006) indica três processos:
as seguintes regras:
a) Justaposição de dois itens lexicais, ou seja, dois sinais a) Regra do contato: frequentemente um sinal inclui
que formam uma terceira forma livre. algum tipo de contato, seja no corpo ou na mão passiva.
b) Regra da sequência única: movimento interno ou
b) Justaposição de um classificador com um item lexical.
repetição são eliminados.
c) Regra da antecipação da mão não dominante: quando
c) Justaposição da datilologia da palavra, em português.
dois sinais são combinados para formar um composto
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Alguns autores como Xavier, Neves (2016), Quadros e Karnopp (2004) ainda indicam
o processo de incorporação da locação para diferenciar os verbos em LIBRAS:
Tabela 4
Tipo Definição Exemplo
Verbos simples Quando não apresentam flexão Gostar/ Trabalhar/ Aprender
em pessoa e número.
Verbos com concordância Tem sua produção modificada Perguntar / Ajudar/ Responder/
ou direcional dependendo dos referentes. Proteger
Verbos espaciais Tem afixos locativos, ou seja, Ir / Viajar / Chegar
necessitam do espaço para
sua produção.
Modificação/
Incorporação
Formação/
Composição
Formação
de Sinais
Figura 16
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Vídeos
LIBRAS - Aula 10 - A linguística das línguas de Sinais I - Unidades Formativas dos Sinais
https://youtu.be/bKSX96VZ63I
LIBRAS - Aula 11 - A linguística das línguas de Sinais II - Processos de Formação e Modific
https://youtu.be/GsvsKSOE_n8
Estrutura Gramatical da LIBRAS por Ronice Quadros
https://youtu.be/O66o7BvuYwA
Leitura
Revista sinalizar: descrição de aspectos morfológicos da LIBRAS
https://goo.gl/lFda67
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Referências
CAGLIARI, L. C. Fonética: Introdução à linguística: domínios e fronteiras. São Paulo:
Cortez, 2001.
FRYDRYCH, L.A.K. O estatuto linguístico das línguas de sinais: a libras sob a ótica
saussuriana. 2013. 92 f. Dissertação (Mestrado em Letras), Universidade Federal do
Rio Grande do Sul, Instituto de Letras, Porto Alegre, RS, 2013.
MOURA, M. C. O surdo: caminhos para uma nova identidade. São Paulo: Editora
Revinter, 2000.
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