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da Literatura Surda
Professora Esp. Mariana Alves Carnelozzi
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Tiago Pereira da Silva
Revisão Textual
Beatriz Longen Rohling
Carolayne Beatriz da Silva Cavalcante
Kauê Berto
UNIDADE I....................................................................................................... 3
História e Fundamentos da Literatura Surda
UNIDADE II.................................................................................................... 27
Produção da Literatura Surda
UNIDADE III................................................................................................... 56
Letramento Literário
UNIDADE IV................................................................................................... 75
Literatura Surda: Produções Culturais em Língua de Sinais
UNIDADE I
História e Fundamentos
da Literatura Surda
Professora Esp. Mariana Alves Carnelozzi
Plano de Estudo:
● Um breve resgate histórico da Comunidade Surda numa perspectiva
socioantropológica;
● Conceito da Literatura Surda;
● Características da Literatura Surda;
● História da Literatura Surda;
● Tipos de obras (narrativas, poesias, humor, autobiografias).
Objetivos da Aprendizagem:
● Identificar os diferentes tipos de produção literária em sinais;
● Conhecer os diferentes tipos de produção literária escrita e visual;
● Entender e identificar as características das produções do povo surdo;
● Diferenciar uma produção cultural do povo surdo de produção sobre o Surdo.
3
INTRODUÇÃO
Que este material contribua com seu processo de aprendizagem, bons estudos!
E a normatização,
Define-se “normatização” como “Ato de estabelecer padrões ou inserir algo
num modelo ou padrão a ser seguido pelos demais: normatização das regras
de higiene.” (NORMATIZAÇÃO, 2021).
Nessa perspectiva anátomo-política dos corpos, a pessoa surda tem suas capaci-
dades interpretadas sob a ótica do audismo e do capacitismo.
Tal conceito do “audismo” baseia-se na ideia de “colonialismo”, sob a ótica
das relações de poder, desiguais, que se estabelecem entre dois ou mais
grupos em que “um não só controla e domina o outro, como ainda tenta im-
por sua ordem cultural ao(s) grupo(s) dominado(s)” (MERY, 1991 apud WRI-
GLEY, 1996, p. 72).
1 Nas sociedades de controle, que cada vez mais parecem materializar-se diante de nossos olhos,
a tônica dominante é, portanto, o controle permanente sobre os fluxos de informação, sobre os padrões de
comportamento dos indivíduos, gerando relações de poder mais difusas e descentradas, mas, mesmo por
isso, mais abrangentes e mais eficientes nos processos de regulação social. (ASPIS; GALLO, 2010. p. 11)
Quando esta se propõe a produção literária, podendo-se utilizar das mais diferen-
ciadas modalidades: autobiografia, história de contos, narrativa, poesia, teatro, fábulas,
5.1 Narrativas
As narrativas trazem representações e concepções na qual a pessoa narradora
comunica e argumenta a respeito de si mesmo (a), desde a forma que se enxerga, quanto
do modo que o mundo lhe vê. Nessas narrações, podemos perceber a cultura, os valores,
as qualidades, as características e identidade desses indivíduos ou grupos.
Refere-se a descrição da vida, podendo-a reinventar sob diferentes óticas ou dis-
correr acerca da sua realidade, tanto do ponto de vista de quem narra, de quem a vive, ou
de quem a vislumbra sob outros âmbitos.
Anteriormente, as narrativas eram conhecidas pela nomenclatura ‘épico’. Como
exposto acima, este gênero trata-se da narração de uma história com personagens que se
encontram em um tempo e espaço específicos.
Para que um texto seja considerado narrativo, deve conter esses elementos:
● Enredo – história que narra uma progressão de acontecimentos.
● Narrador – aquele (a) que apresenta, conta a história.
● Personagens – pessoas que compõem e estão presentes na história.
● Tempo – a época em que ocorre.
● Espaço – local onde acontece.
5.2 Poesias
Tal como nas outras línguas, a poesia em língua de sinais também investiga e se
utiliza dos mais variados recursos linguísticos com o objetivo de realizar tais produções
com efeitos estéticos, este é um dos fatores que diferenciam a poesia da comunicação que
é estabelecida cotidianamente entre as pessoas que se utilizam de determinada língua.
Especificamente, abordamos nessa temática, a língua de sinais e as produções literárias
da comunidade surda.
Neste módulo não iremos abordar a gramática da Língua de Sinais, contudo, va-
mos discorrer acerca do conceito de um, dos cinco parâmetros que compõem a estrutura
gramatical da LIBRAS: as configurações de mãos. Podemos conceituá-la como as variadas
formas que a mão se apresenta ao executar cada sinal ou expressão, ou seja, são os
formatos que as mãos experienciam e tomam conforme a sinalização é realizada.
Posto este significado, e conforme os estudos já realizados, compreendemos que
as configurações de mão fazem parte da estruturalização necessária para a criação e/ou
realização de um sinal, que, com um conjunto de outros sinais vai se estabelecendo frases,
textos, práticas de conversação, enfim, comunicação. Nesse sentido, e sob uma ótica da
literatura surda, podemos caracterizar o uso criativo deste parâmetro, metodológica tradu-
tória que possibilita que o poema, assim como toda a literatura surda, se apresente e entre
em contato com múltiplas interpretações, corporeidades e construções de sentidos.
Cabe citar que este dinamismo também pode ser aplicado para os outros parâ-
metros, e até muitas das vezes ocorrem de maneira indireta, pois ambos constituem a
estrutura da língua de sinais de maneira intrínseca.
A Língua de Sinais nos apresenta diferentes possibilidades de escolhas tradutórias.
Ao realizar a adaptação, tradução ou interpretação de uma frase, texto, criação de uma
literatura surda, etc. nos deparamos com essas escolhas. Claro, estas não são livres e
sem sentido, mas sim, permeadas por regras gramaticais, estruturas, parâmetros, e com
esse dinamismo que a língua de sinais, aqui em nosso pais - a LIBRAS - se compõe, com
a formação, a aprendizagem e contato com a comunidade surda adequados, percorremos
diferentes caminhos.
5.3 Fábulas
A fábula se determina como um texto de ficção. Estas, são narrativas que podem
apresentar os personagens como animais personificados em que a vida humana é repre-
sentada por eles, estes animais possuem e representam características que o ser humano
experiência em sua vida, podendo ser como a preguiça, a inveja, a ganancia, a sabedoria,
a coragem, etc.
Neste enredo a histórica se desenvolvem com o objetivo final de realizar um ensi-
namento utilizando-se de uma lição de moral que habitualmente é passada no final de cada
produção.
SAIBA MAIS
REFLITA
‘As mãos rompem o silêncio e fazem a comunicação de quem não ouve, mas vê, sente
e se emociona’.
Autor desconhecido.
A cultura surda engloba possibilidades e elementos próprios da vida dos sujeitos que
se reconhecem como surdos, abrangendo não apenas aspectos mais corriqueiros da vida de
cada um, mas também o grupo social que constituem. A privação do sentido da audição não
inviabiliza a interação linguística, a participação social ou a produção cultural das pessoas
surdas. Na verdade, abre possibilidades alternativas para a sua atuação nessas áreas. Ao
nos aproximarmos mais da realidade surda, pela vivência e pelo estudo, descobrimos que ela
comporta um rico, complexo e instigante conjunto de elementos culturais caracterizados pelas
formas alternativas de produção e interação dessas pessoas, alimentados e enriquecidos nas
comunidades surdas e, infelizmente, ainda pouco conhecidos entre os ouvintes.
A seguir, procuramos referir e descrever sucintamente alguns elementos que fazem
parte da cultura surda.
Visualidade: a vivência surda é muito visual. A visão é possivelmente o principal
sentido de contato com o mundo, de apreensão e significação das informações. Na visua-
lidade se centram, certamente, a maior parte das alternativas planejadas para a pessoa
surda, como se observará mais adiante.
Linguístico: as línguas de sinais, de características visuoespaciais, são as línguas
naturais para as pessoas surdas. A língua de sinais é tão complexa quanto qualquer outra.
Não se trata de uma versão em sinais de uma língua oral como o português, nem de
simples gestos ou mímica, embora estes possam ser usados quando ainda não se sabe
a língua de sinais, mas de um sistema complexo, com regras próprias. Em salas de aula,
eventos públicos ou mesmo na televisão, deve ser feita a tradução entre a língua oral e a
de sinais por um intérprete.
Família: ligada ao nascimento de filhos surdos em lares ouvintes e de filhos ou-
vintes em lares surdos, ou mesmo de filhos surdos em lares surdos. Nesse âmbito, muitas
questões ligadas à aceitação, à superproteção, à concepção sobre a surdez são discutidas.
Comunidade surda: composta por surdos e por ouvintes militantes da causa, como
professores, familiares, intérpretes, amigos, entre outros.
Associações e organizações: centros cuja importância se manifesta, por exemplo,
na possibilidade de o surdo interagir com outras pessoas surdas, o que favorece a constru-
ção da sua identidade, a possibilidade de aprender a língua de sinais, as lutas sociais do
segmento, por vezes, abraçadas nessas organizações, etc.
Fonte: IFPB (Instituto Federal da Paraíba). O que é a Cultura Surda. Ministério da Educação, 2018.
LIVRO
Título: Fiquei surdo, e agora? Como eu me tornei referência em
uma comunidade de dança ouvindo pouco (ou quase nada)
Autor: Jhonny Surdinho.
Ano: 2020.
Sinopse: Neste e-book, eu conto como foi ficar surdo aos 10 anos
de idade, graças a uma caxumba, e, quase 30 anos depois, me
tornar referência em uma comunidade de dança.
FILME/VÍDEO
Título: A Linguagem do Coração
Ano: 2016.
Sinopse: Final do século XIX, França. Marie Heurtin (Ariana Rivoi-
re) é uma moça que nasceu cega e surda. Vivendo em seu próprio
mundo, sem conseguir se comunicar, o pai dela a manda para um
convento que cuida de crianças surdas. Entretanto, devido à falta
de condições para tratá-la, a madre superiora (Brigitte Catillon) a
recusa. Graças à insistência da freira Marie Marguerite (Isabelle
Carré), que diz que pode cuidar dela apesar de seu problema de
saúde, a madre superiora volta atrás em sua decisão. Só que fazer
com que Marie aprenda questões básicas de higiene e convívio
com outras pessoas não é uma tarefa nem um pouco fácil.
Plano de Estudo:
● Gênero Infantil na Literatura Surda;
● Traduções e suas variações (Contos de Fadas e Fábulas);
● Poesia em Sinais;
● Humor na Literatura Surda.
Objetivos da Aprendizagem:
● Apresentar algumas produções do gênero infantil na Literatura Surda;
● Compreender as possibilidades de tradução nos contos de fadas e fábulas ;
● Entender como são construídas as poesias em sinais;
● Conhecer o gênero literário humor da Literatura Surda.
27
INTRODUÇÃO
Vamos iniciar este novo módulo com uma indagação, e para respondê-la analise a
sua realidade: Você têm o hábito de ler? Independente do gênero literário, do formato do livro
(físico ou digital), ler faz parte da sua rotina, das atividades que te satisfazem?. Pare por um
instante, e responda a si mesmo esta pergunta, perceba como o processo de leitura ocorre
em sua vida, de quais maneiras, e ainda, traga a memória sua infância e seu contexto neste
âmbito. Você foi uma criança leitora, os adultos lhe incentivaram ao hábito da leitura?
Essas mesmas perguntas terão respostas diferentes a depender de cada pessoa,
a criação e acesso à educação e cultura que cada indivíduo teve. Nesta perspectiva, não
nos cabe discorrer acerca das desigualdades sociais que permeiam nosso país, nem como
idealizar uma educação. Levantei tais questões para compreendermos algumas assertivas
que permeiam o acesso e incentivo à leitura, estas que estão diretamente relacionadas ao
meio e ao ambiente em que cada pessoa se desenvolveu e vive atualmente.
Pensando no tema central desta disciplina – Literatura Surda – sempre delineamos
alguns conceitos e apresentamos algumas históricas necessárias para a compreensão
do tema. Neste caminho, vamos abordar a questão da leitura. Como apresentado na
unidade anterior, a pessoa surda se organiza em um ambiente multicultural e muitas
vezes se integra no processo de ensino-aprendizagem, bem como a formação de sua
identidade em esferas bilíngues. Não podemos colocar a formação das pessoas surdas
de uma maneira geral, assim como a das ouvintes, pois há diversos fatores que influenciam
Sob essa perspectiva da produção, divulgação e registro da cultura surda que são
criados os gêneros infantis.
● A seguir gostaria de apresentar algumas dessas literaturas existentes:
Fonte: KARNOPP, Lodenir Becker. Literatura Surda. Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis,
2008. Disponível em: http://www.libras.ufsc.br/colecaoLetrasLibras/eixoFormacaoEspecifica/literaturaVisual/
assets/369/Literatura_Surda_Texto-Base.pdf. Acesso em: 13 set. 2021.
Fonte: KARNOPP, Lodenir Becker. Literatura Surda. Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis,
2008. Disponível em: http://www.libras.ufsc.br/colecaoLetrasLibras/eixoFormacaoEspecifica/literaturaVisual/
assets/369/Literatura_Surda_Texto-Base.pdf. Acesso em: 13 set. 2021.
Sinopse: Quando Rapunzel foi raptada pela bruxa, ela percebeu que Rapunzel não
realizava, no entanto possuía uma grande atenção visual. Para se comunicar, ela apontava
para as coisas que desejava e fazia gestos. A bruxa então descobriu que ela era surda e
começou a se comunicar por sinais com ela.
Como resultado da pesquisa “Letramento e surdez: uma abordagem lingüística e
cultural”, desenvolvida por Lodenir Becker Karnopp e Caroline Hessel Silveira (2021), os
livros Cinderela Surda e Rapunzel surda foram os primeiros livros de literatura infantil do
Brasil a serem publicados com a escrita em língua de sinais (SignWiriting), como apresen-
tados nas sinopses acima, e que também podemos perceber pelo título e capa da história,
estes são releituras dos contos tradicionais, com elementos específicos que remetem a cul-
tura e identidade da comunidade surda. Tais produções se efetivaram sob o intuito principal
de divulgação da escrita de sinais, bem como para incentivar as escolas a implementação
da LIBRAS como disciplina no currículo escolar comum.
Fonte: KARNOPP, Lodenir Becker. Literatura Surda. Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis,
2008. Disponível em: http://www.libras.ufsc.br/colecaoLetrasLibras/eixoFormacaoEspecifica/literaturaVisual/
assets/369/Literatura_Surda_Texto-Base.pdf. Acesso em: 13 set. 2021.
Sinopse: O livro “Tibi e Joca – uma história de dois mundos” (Bisol 2001), narra a
história de Tibiriçá Maineri. Na apresentação do livro consta: “Esta história de um menino
surdo é parecida com a de muitas outras crianças que nasceram ou ficaram surdas. Dúvi-
das, desespero, culpa, acusações, sofrem os pais. Solidão, um imenso sem-sentido, um
mundo que teima em não se organizar, sobre a criança. O que fazer?” (Bisol, 2001).
No decorrer da história nos deparamos com um menino surdo filho de pais ouvintes.
A comunicação é estabelecida com dificuldade e com muitos limites, até que eles começam
a utilizar a língua de sinais. Em contato com o material, podemos observar a riqueza de
ilustrações. Tal narrativa é registrada na língua portuguesa e possui um boneco-tradutor
que sinaliza as palavras-chave de cada página, permitindo assim, que a pessoa usuária da
LIBRAS consiga acompanhar a histórica.
Fonte: KARNOPP, Lodenir Becker. Literatura Surda. Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis,
2008.Disponível em: http://www.libras.ufsc.br/colecaoLetrasLibras/eixoFormacaoEspecifica/literaturaVisual/
assets/369/Literatura_Surda_Texto-Base.pdf. Acesso em: 13 set. 2021.
Sinopse: Este livro conta a história de Ana, o mistério que ela precisa resolver, e que
quando todas as outras crianças e adultos ao seu redor mexem a boca, estes conseguem
sempre o que desejam – na escola, no mercado, na padaria, na rua, etc., mas quando Ana
mexe sua boca, as pessoas não a compreendem. O livro também possui sua versão em
DVD com tradução em LIBRAS.
Fonte: KARNOPP, Lodenir Becker. Literatura Surda. Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis,
2008. Disponível em: http://www.libras.ufsc.br/colecaoLetrasLibras/eixoFormacaoEspecifica/literaturaVisual/
assets/369/Literatura_Surda_Texto-Base.pdf. Acesso em: 13 set. 2021.
1. Tradução Intralingual
Esta tradução não precisa de uma segunda língua para ocorrer. Ela acontece
dentro de uma mesma língua e pode ser também definida como reformulação.
Quando transcrevemos nosso entendimento acerca de uma leitura que realiza-
mos, ou quando explicamos para uma criança algum conceito que ela não entendeu
ocorre a tradução intralingual. Estamos sempre realizando essa tradução em processos
formais ou informais.
3. Tradução Interlingual
Definição da tradução em seu mais direto significado. Ocorre entre dois idiomas ou
línguas, sendo necessário o conhecimento de ambas para que o processo de tradução não
seja comprometido e possa ser exercido com qualidade. Tal conhecimento da língua não se
limita apenas a ela, diz respeito também à cultura, às vivências de cada povo, etc.
Quando tratamos do processo de tradução, podemos nos utilizar de diferentes recur-
sos e estratégias, e como citado acima, indiferente do caminho percorrido, indispensável é ter
conhecimento da língua e da cultura. Principalmente no que tange uma língua de modalidade
gesto-visual, uma pessoa alfabetizada é formada em uma língua oral-auditiva deve ter bem
trabalhado em si os conceitos que compõem e diferenciam tais línguas. Se traduzirmos pa-
lavra-por-palavra, do português para a LIBRAS ou vice-versa, teremos como resultado uma
tradução sem estrutura, e muitas vezes até sem sentido. Precisamos respeitar e nos utilizar
da estrutura e modalidade linguística que compõe cada língua, bem como a forma de cada
indivíduo se comunicar para caminharmos na aquisição de uma LIBRAS natural.
Vamos conduzir esta leitura ao delineamento de alguns traços gerais para tal pro-
cesso. Vamos supor que seja realizada a tradução do livro – “Chapeuzinho Vermelho’ – uma
história de conto de fadas clássica e conhecida ouso afirmar, pela maioria das pessoas.
Em primeiro lugar, é indispensável que se conheça a história, que se realize a leitura do
material, esta leitura irá ocorrer uma, duas, três, inúmeras vezes, e cada qual com um
objetivo diferente.
Inicialmente se trata de um conhecimento mais generalizado acerca da literatura.
Leio Chapeuzinho Vermelho para conhecer a história, leio novamente para dar início ao
processo de estruturalização da tradução. Neste momento, posso percorrer por diferentes
caminhos, cada qual vai criando e montando as estratégias que melhor funcionam para cada
pessoa. A partir daí nós utilizamos do conhecimento da língua, das escolhas tradutórias, do
uso dos classificadores, expressões faciais, entre outros. Uma mesma história, terá tradu-
ções diferentes a depender de cada indivíduo que realiza tal procedimento. Tais diferenças
se caracterizam pela liberdade que a língua de sinais nos propõe. As estratégias, os sinais
Algumas das fábulas mais conhecidas e utilizadas por crianças ou adultos como
material metodológico de ensino são: ‘A Cigarra e a Formiga’, ‘A Raposa e o Lobo’ e ‘A
Lebre e a Tartaruga’.
Ao realizar o processo de tradução de um determinado material, aqui especificamos
as fábulas, deve-se considerar a historicidade e as especificidades que formam tal gênero,
bem como o público alvo para qual a tradução está sendo realizada. As fábulas traduzidas
do português para a Língua de Sinais, serão retratadas em uma visualidade específica.
Perante a compreensão da estrutura de uma fábula, e do conceito primordial da
moral, iremos agora analisar como tal gênero se constitui em Língua de Sinais. Sob a
óptica tecnológica, e das infinitas possibilidades que seu uso nos permite, vamos abordar
tais metodológicas mediante o uso de tais recursos - câmeras, gravações – mecanismos
tecnológicos que permitem a comunidade surda a visualidade e registro de tais produções.
Se compararmos os vídeos sobre ou em LIBRAS no youtube, iremos encontrar um
extenso e rico arcabouço de produções, no entanto, podemos observar em busca pessoal
ou por meio de pesquisas científicas que a quantidade existente referente às traduções de
fábulas nos meios digitais ainda são poucos em comparativo com os demais gêneros.
Em esfera técnica, podemos utilizar de fundos lúdicos onde apresentamos os ani-
mais, os personagens, bem como se utilizar de edições que enriqueçam a visualidade da
tradução. Estruturalizar a apresentação dos vídeos com o sujeito A, sujeito B, em que cada
pessoa representa um personagem. A contação de histórias se constrói em um processo
que exige múltiplas capacidades. Vai muito além do conhecimento da língua de sinais, pois,
Fonte: AMIGUINHOS, os. A Cigarra e a Formiga | Fábula em Língua Brasileira de Sinais (Libras) | com
legendas. Youtube. Disponível em: (77) A Cigarra e a Formiga | Fábula em Língua Brasileira de Sinais (Libras)
| com legendas - YouTube. Acesso em: 13 set. 2021.
Fonte: PHALA, Instituto. A Cigarra e a Formiga – Em LIBRAS. Youtube. Disponível em: (79) A Cigarra e a
formiga - Em LIBRAS - YouTube. Acesso em: 13 set. 2021.
Fonte: LINO, Pollyanna. História em LIBRAS – A Cigarra e a Formiga LIBRAS. Youtube. Disponível em:
(79) HISTÓRIA EM LIBRAS “A Cigarra e a formiga LIBRAS” - YouTube. Acesso em: 13 set. 2021.
Fonte: TODOS, Fundamental para. Fábulas em Libras - A cigarra e a formiga - Esopo #narrativasemlibras.
Youtube.Disponível em: (80) Fábulas em Libras - A cigarra e a formiga - Esopo #narrativasemlibras - YouTube.
Acesso em: 13 set. 2021.
A expressão poética foi delimitada durante muito tempo para uma pequena par-
cela da sociedade. Quando nos referimos a poesia, automaticamente nos referimos a um
conjunto de palavras ‘complicadas’ que rimam, a enxergamos como um gênero elitista. No
entanto, a poesia abrange um conceito muito mais diversificado, ainda mais quando nos
referimos às produções de poesias em língua de sinais as possibilidades são infinitas.
Inicialmente precisamos compreender a poesia como um gênero literário que se
constitui pela arte de compor, escrever versos. Novamente iremos adentrar em uma dis-
cussão de âmbito político, social e de representatividade. Pois, esses versos não surgem
do nada, não se criam sozinhos, as palavras não aparecem combinadas de repente. Há
uma persona que o cria, que estabelece o tema, que pesquisa as possibilidades de rimas
de acordo com a mensagem que deseja transmitir.
Antigamente poderíamos trazer uma definição tradicional de poesia, no entanto, nos
dias atuais reconfiguramos tal conceito. Você conhece, já se encontrou com o conceito de
‘Slam’? De maneira mais simplificada, vamos conceituar slams ou poetry slams como os en-
contros de poesia falada (spoken word) e performática. Tal modalidade ocorre geralmente em
modo de competição composto por um júri popular em que uma pessoa é escolhida espontânea
e aleatoriamente entre o público, esta define a nota aos slammers (os poetas), em que devem
ser considerados principalmente a poesia e o desempenho como critérios avaliativos.
Fonte: CULTURAIS, Sapoti Projetos. SLAM em Libras - CCBB EDUCATIVO SÃO PAULO. Youtube. Dis-
ponível em: (80) SLAM em Libras - CCBB EDUCATIVO SÃO PAULO - YouTube. Acesso em: 13 set. 2021.
Fonte: Reis, Samid. Slam do Corpo no Manos e Minas – Empatia. Youtube. Disponível em: (80) Slam do
Corpo no Manos e Minas - Empatia - YouTube. Acesso em: 13 set. 2021.
Fonte: TV, Trip. O silêncio e a fúria – poetas do corpo. Youtube. Disponível em:
(80) O silêncio e a fúria - poetas do corpo - YouTube. Acesso em: 13 set. 2021.
Fonte: CÂMARA, Nilton. Slam do Corpo – Voz. Youtube. Youtube. Disponível em: (80) Slam do Corpo - Voz
- YouTube. Acesso em:13 set. 2021.
O ato de achar graça das coisas ao se colocar e analisar o mundo é uma caracte-
rística própria do ser humano a qual faz parte do seu dia-a-dia. Em um instante estamos
concentrados e de repente estamos rindo, gargalhando.
O que irá diferenciar o humor de uma cultura ouvinte da cultura surda é justamente
as características e identidades que os compõem. O humor surdo retrata prioritariamente a
problemática da incompreensão da surdez por parte da pessoa ouvinte.
Para que possamos compreender os sentidos humorísticos desse gênero na litera-
tura surda, é fundamental a fluência em língua de sinais, pois há muitas sutilezas que sem
conhecimento, passam despercebidas, e incompreendidas, se perde o sentido humorístico
do gênero.
Podemos definir o gênero humor na literatura surda em cinco conceitos:
A primeira viria das imitações de pessoas, animais, filmes e objetos. O se-
gundo tipo abrange “brincadeiras com as configurações do alfabeto ou dos
números, em que o contador pode criar uma história a partir delas”. O terceiro
tipo são “brincadeiras com o movimento”, em que os sinais produzidos reali-
zam movimentos que remetem à piada/anedota que está sendo contada. O
quarto tipo envolve “brincadeiras com temas tabu, como sexo ou cocô”, que
são também muito frequentes entre os ouvintes. A autora afirma que “estas
produções não são produzidas em contextos formais, mas são antes prefe-
ridas em convívios informais, em grupos pequenos [...]”. O quinto tipo inclui
“anedotas que vão passando de mão em mão e de país para país, entre os
surdos”. (MORGADO apud KARNOPP e SILVEIRA, 2014, p. 09).
Fonte: BRANCO, Colégio Rio. |TV CES| Piada em Libras - “O leão e o surdo”. Youtube. Disponível em: (80)
|TV CES| Piada em Libras - “O leão e o surdo” - YouTube. Acesso em: 13 set. 2021.
Fonte: BRANCO, Colégio Rio. |TV CES| Piada em Libras. Youtube. Disponível em:
(80) CES - Piadas em Libras - YouTube. Acesso em: 13 set. 2021.
Fonte: UFRJ, Letras- Libras. Piada em Libras - 01 - O Lenhador e a Árvore Surda. Youtube. Disponível em:
(80) Piada em Libras - 01 - O Lenhador e a Árvore Surda - YouTube. Acesso em: 13 set. 2021.
Estas são apenas algumas das diversas produções de humor surdo que há nos
meios digitais de comunicação. Assistindo os vídeos acima expostos, podemos também
verificar as diferentes performatividades utilizadas pelos humoristas. Neste sentido, pode-
mos considerar que:
Para ser um bom contador de histórias de humor, para além de ser surdo e
de possuir a identidade surda, tem necessariamente de ser fluente em língua
gestual”. Além de fundamentalmente ter talento artístico e dramático, expri-
mir com desenvoltura o movimento e as expressões, faciais e corporais; ser
criativo; e ser observador. (MORGADO, 2011, p. 56 apud SILVA, 2018, p. 03).
Fazer rir, por vezes é um desafio, as piadas, o humor também carrega históricas e
conceitos específicos de cada cultura. Rir das piadas em Libras pode significar o partilhar
desses aspectos culturais próprios de um grupo social, se constitui em uma troca.
Sobre a importância da criança surda ter contato com sua língua materna - a LIBRAS
A criança surda tem o potencial para a aprendizagem da língua de sinais, mas só poderá
adquiri-la se tiver contatos interacionais com usuários efetivos da mesma. Neste senti-
do, a sua língua materna (a língua da mãe e familiares) não favorece a sua constituição
como sujeito. Ela depende de uma língua estrangeira à família (a língua de sinais) e de
oportunidades de contato com a mesma para seu desenvolvimento. A família então tem
papel determinante em oferecer estas oportunidades e em constituir-se ela mesma em
usuária desta língua ou não (MOURA, 2013, p. 14).
É pela linguagem que o indivíduo estabelece sua identidade e se configura como único
nas suas particularidades. É pela linguagem que ele pode compreender o mundo a sua
volta e estabelecer relações de causa-efeito, de temporalidade, de espaço, etc. para
construir seu próprio universo e poder estar no mundo com os outros que o representa-
rão a partir do que eles percebem dele. E a partir do que os outros percebem dele, o in-
divíduo irá reconstruindo o seu próprio processo de identidade, realizando-se enquanto
sujeito social e da linguagem. Quando essa constituição é bem realizada, temos como
somatória um indivíduo bem adaptado à sociedade em suas diferentes esferas, usando
a linguagem para se colocar e para se tornar cidadão. Pode-se imaginar o efeito que a
língua de sinais tem na organização do indivíduo surdo. Será pela língua de sinais que o
surdo poderá compreender o mundo, localizar-se com relação a ele mesmo e aos outros
e ter as suas referências, inclusive aquela que o coloca de forma diferente no mundo
como surdo que percebe o mundo visualmente, que tem direitos e que deve ser respei-
tado na sua forma de ser (MOURA, 2000, p. 7).
Notas da autora: Neste sentido, podemos perceber a imprescindível importância da
criança surda ter contato e se formar por meio da sua língua de direito. É por meio dela
que esses indivíduos irão perceber o mundo, a sociedade e tudo que os cerca, bem
como formar suas identidades. Infelizmente, muitas das crianças surdas que nascem
em famílias ouvintes, vão se desenvolver com a língua portuguesa como sua primeira
língua, tendo contato tardiamente com a língua de sinais. Isso não compromete somen-
te seu desenvolvimento linguístico como também trata de questões referentes à identi-
dade e representatividade desses sujeitos.
Fontes: MOURA, M.C. Surdez e Linguagem. In: LACERDA, C.B.F.; SANTOS, L.F. (Org.). Tenho um alu-
MOURA, M. C. O Surdo: Caminhos para uma Nova Identidade. Rio de Janeiro: Revinter, 2000.
Fonte: SOUZA, Regina Maria de. Práticas alfabetizadoras e subjetividade. In: LACERDA, Cristina. &
GOÉS, Maria Cristina Rafael de (Orgs.). Surdez: processos educativos e subjetividade. São Paulo: Lovi-
se, 2000.
Neste momento concluímos mais uma unidade. Caminhamos juntos nesse processo
de aprendizagem e formação. Neste módulo, pudemos compreender como ocorre a leitura
de livros por crianças ainda não alfabetizadas. Delineamos também alguns processos de
traduções e foram apresentados alguns livros de contos de fadas, e vídeos de fábulas e
poesias em língua de sinais. Espero que tenha sido um produtivo e enriquecedor momento
de estudos.
Até mais!
A língua pertence a todos os membros de uma comunidade, por isso faz parte do
patrimônio social e cultural de cada coletividade. A língua geograficamente é distinta, como
por exemplo, no Brasil a língua falada é a Portuguesa, na Inglaterra é o Inglês, na França é o
francês e assim por diante. As línguas podem se manifestar de forma oral ou gestual, como
a Língua Brasileira de Sinais (Libras) Já a linguagem é a capacidade que os homens têm
para produzir, desenvolver e compreender a língua falada e outras manifestações, como
a pintura, a música e a dança. A linguagem é uma forma de ação interindividual orientada
por uma finalidade específica; um processo de interlocução que se realiza nas práticas
sociais existentes nos diferentes grupos de uma sociedade, nos distintos momentos da sua
história. (BRASIL, 2001, p.23-24)
LIVRO
Título: Língua de Sinais Brasileira – Estudos linguísticos
Autor: Ronice Muller de Quadros, Lodenir Becker Karnopp.
Ano: 2009.
Sinopse: Neste livro, Ronice Muller de Quadros e Lodenir Becker
Karnopp descrevem e analisam a língua de sinais brasileira, apon-
tando, de modo competente, seus aspectos fonológicos, morfoló-
gicos e sintáticos. Superando a dificuldade inerente à tradução e à
transcrição dos sinais, as autoras oferecem uma fonte imprescin-
dível para aprendizagem, compreensão, análise e uso da língua
de sinais brasileira, ricamente ilustrada por fotos realizadas com
rigoroso cuidado técnico, com o objetivo de que o leitor pudesse
ter idéia dos rápidos movimentos de corpo e mãos envolvidos em
cada sinal.
FILME/VÍDEO
Título: A Família Bélier
Ano: 2014.
Sinopse: Paula (Louane Emera) é uma adolescente francesa que
enfrenta todas as questões comuns de sua idade: o primeiro amor,
os problemas na escola, as brigas com os pais... Mas a sua família
tem algo diferente: seu pai (François Damiens), sua mãe (Karin
Viard) e o irmão são surdos e mudos. É Paula quem administra
a fazenda familiar, e que traduz a língua de sinais nas conversas
com os vizinhos. Um dia, ela descobre ter o talento para o canto,
podendo integrar uma prestigiosa escola em Paris. Mas como
abandonar os pais e os irmãos?
Plano de Estudo:
● Letramento Literário do Povo Surdo;
● O Surdo Contador de História;
● Práticas pedagógicas para ensinar crianças surdas a contarem histórias.
Objetivos da Aprendizagem:
● Compreender a diferença entre alfabetização e letramento;
● Conhecer as possibilidades do letramento literário do Povo Surdo;
● Entender a importância do Surdo ser um contador de história;
● Aprender práticas pedagógicas para ensinar as crianças surdas a contarem histórias;
● Contextualizar a teoria com a prática nesses processos.
56
INTRODUÇÃO
Prezados alunos (as) iniciamos agora na terceira unidade, vamos dar continuidade
as nossas aprendizagens!
Neste texto delinearemos alguns caminhos, no entanto nenhuma abordagem se
apresenta de maneira pronta. A proposta é levá-los a refletir e construir essas possibilidades.
Sob esta ótica, conheceremos alguns caminhos possíveis para o letramento do
povo surdo, entender o que torna a pessoa surda uma contadora de histórias e de que
maneiras podemos incentivar as crianças surdas a se tornarem contadoras também.
Lembrem-se, o conhecimento é um caminho que se constrói.
Bons estudos!
Desta forma, uma das possibilidades para conduzir esse processo de letramento
pode ser permeada por quatro passos básicos: motivação, introdução, leitura e interpreta-
ção. Vamos compreender melhor essa metodologia:
a) Motivação – pelo próprio nome já podemos compreender o significado do
conceito. Esse primeiro momento diz respeito ao incentivo que traremos ao
aluno (a) ter contato com a literatura. Os caminhos para que essa motivação
ocorra são ainda mais diversos e devem abranger as diversidades culturais e
linguísticas dos sujeitos envolvidos.
A pessoa surda contadora de história permeia âmbitos que vão muito além da narrati-
va. A história de tais indivíduos se construiu e ainda se estruturaliza por meio de lutas, perdas
e conquistas na busca pelo direito de uso e reconhecimento de sua língua materna – língua
de sinais – bem como de políticas de acessibilidade e equidade para melhores condições
comunicacionais e de inclusão na sociedade e no sistema educacional de ensino.
Quando nos referimos a comunidade surda ou ao indivíduo surdo, precisamos
delinear diferenças históricas que definiram e ainda estabelecem os espaços e lugares
que essas pessoas podem ou devem ocupar na sociedade, como se a surdez fosse um
fator determinante da capacidade, e é por este olhar clínico da surdez que essas pessoas
sempre precisaram lutar para alcançar espaços que já são disponibilizados de maneira
natural para os ouvintes.
Há pessoas surdas por todo o Brasil, com diversas identidades e interesses, e que
produzem e consomem diferentes conteúdos, que habitam múltiplos espaços. A pessoa
surda não conversa somente sobre surdez, no entanto são invisibilizados. Neste sentido,
iremos compreender as implicações necessárias que permeiam essas vivências da pessoa
surda enquanto contadora de histórias.
Ao contar histórias podemos personificar personagens novos e transmutar em
diferentes roteiros sob diferentes pontos de vista. Temos a possibilidade de abordar uma
vivência, lutas, pautas que consideramos importantes, ou fatos que nos indignam, ou de
criar e apresentar as realidades que almejamos.
Várias pessoas com diferentes histórias, mas com algo em comum – a surdez. E as
semelhanças que eles compartilham são abordadas e expostas no vídeo. As indagações
e provocações nos levam a repensar algumas questões básicas – que as pessoas surdas
são seres humanos – que sorriem, se entristecem, sentem dor, se divertem, tem história
e cultura, e principalmente, assim como qualquer ser humano que convive em sociedade,
tem seus direitos.
A imagem acima representa o momento que eles abordam a Língua de Sinais e a
Comunidade Surda, a história contada refere-se às lutas enfrentadas neste âmbito, quando
as pessoas surdas tinha suas mãos amarradas e eram proibidas de sinalizar por conse-
quência dos acontecimentos do Congresso de Milão, o qual já conhecemos na primeira
unidade desta disciplina. Ao decorrer do vídeo cada indivíduo menciona um sentimento,
um desejo ou indagação. As individualidades e coletividades se mesclam e compõem a
totalização dessa construção.
Fonte: REI, Samid. Slam do Corpo no Manos e Minas – Deficiência. Youtube.Disponível em:
(87) Slam do Corpo no Manos e Minas - Deficiência - YouTube. Acesso em: 13 set. 2021.
Fonte: MARTINS, Jessika. Slam do Corpo: Grupo Paro e Observo - VI (18/06/2014). Youtube.
Disponível em: (87) Slam do Corpo: Grupo Paro e Observo - VI (18/06/2014) - YouTube. Acesso em: 13 set. 2021.
Fonte: SILVA, Rodrigo Custódio da. Poesia Surda para Sempre. Youtube. Disponível em:
(87) Poesia Surda pra Sempre (Libras) - YouTube. Acesso em: 13 set. 2021.
Fonte: SILVA, Heron Ferreira da. Versão em Libras do Poema ‘’Quando Ela Fala ‘’ – (Machado de Assis).
Youtube. Disponível em: (87) Versão em Libras do poema “Quando ela fala” de Machado de Assis - YouTube.
Todas práxis se permeiam por teóricas ou partem delas – ambas não se dissociam,
são construídas e encaminhadas em uma dualidade que se constitui por múltiplas persona-
lidades. Como assim?
O tema central deste subtítulo se baseia nas práticas pedagógicas para ensinar
as crianças surdas a contarem histórias. Para compreendermos e conseguirmos de fato,
aplicar tais práticas em nossa realidade, é necessário levar em consideração diversas con-
junturas de diferentes âmbitos.
Cada fator possui um circunstancial que deve ser analisado e considerado com
humanidade. Vamos entender com mais clareza essas questões:
Quando nos referimos às práticas pedagógicas, especificamos as metodologias
que podem conduzir as abordagens do processo de ensino-aprendizagem, bem como as
atividades que o professor(a) irá utilizar para ensinar e/ou avaliar as crianças. As escolhas
dessas atividades são resultadas de um plano de aula e do arcabouço de conteúdos que o
professor deve ensinar naquela faixa etária, em determinada escolaridade.
Tal prática de ensino voltada para as crianças surdas já possui outras implicações.
Precisamos considerar a diferença linguística, identitária e cultural da criança surda. A
forma de se comunicar e de acessar as histórias são diferentes das das crianças ouvintes,
portanto não podem ser utilizadas das mesmas abordagens. E pontuamos, não estamos a
definir qual é melhor ou pior, nenhuma língua, cultura ou comunidade se encontra superior
ou em grau de inferioridade, é justamente tal multiplicidade que compõe a sociedade. A sala
de aula é a representação em menor escala de toda esta incorporação social.
Fonte: LODI, Ana Claudia Balieiro; LACERDA, Cristina Broglia Feitosa. A inclusão escolar bilíngue de
alunos surdos no ensino infantil e fundamental: princípios, breve histórico e perspectivas. In: LODI, Ana
Claudia Balieiro; LACERDA, Cristina Broglia Feitosa. Uma escola duas línguas: letramento em língua
portuguesa e língua de sinais nas etapas iniciais de escolarização. Porto Alegre: Editora Mediação,
2009. p. 7-32.
REFLITA
Fonte: SOUZA, M. S. de; COSTA, M. de F. O.; TABOSA, H. R.; ARARIPE, F. M. A. Acessibilidade e in-
clusão informacional. Informação & Informação, Londrina, v. 18, n. 1, p. 01-16 jan./abr. 2013. Disponí-
Fonte: STUMPF, M. R. Mudanças estruturais para uma inclusão ética. In: R. M. Quadros, Estudos
LIVRO
Título: Teorias da Aquisição da Linguagem
Autor: Ingrid Finger, Ronice Muller de Quadros
Ano: 2008
Sinopse: A obra apresenta diferentes abordagens teóricas que
investigam o desenvolvimento linguístico da criança. O livro traz
as principais características das mais importantes abordagens
teóricas que norteiam as pesquisas relacionadas com a aquisi-
ção da linguagem. Os leitores terão contato com a perspectiva
behaviorista, o paradigma gerativista, a epistemologia genética, o
interacionismo, a abordagem conexionista e a abordagem psico-
linguística. Ao final, é apresentada a evolução das pesquisas em
aquisição da linguagem no Brasil.
FILME/VÍDEO
Título: Adorável Professor
Ano: 1995
Sinopse: Em 1964 um músico (Richard Dreyfuss) decide começar
a lecionar, para ter mais dinheiro e assim se dedicar a compor uma
sinfonia. Inicialmente ele sente grande dificuldade em fazer com
que seus alunos se interessem pela música e as coisas se com-
plicam ainda mais quando sua mulher (Glenne Headly) dá a luz a
um filho, que o casal vem a descobrir mais tarde que é surdo. Para
poder financiar os estudos especiais e o tratamento do filho, ele
se envolve cada vez mais com a escola e seus alunos, deixando
de lado seu sonho de tornar-se um grande compositor. Passados
trinta anos lecionando no mesmo colégio, após todo este tempo
uma grande decepção o aguarda.
Plano de Estudo:
● Cultura e Identidade Surda;
● Experiências Visuais;
● Língua de Sinais como artefato cultural.
Objetivos da Aprendizagem:
● Conhecer as especificidades da cultura e Identidade Surda;
● Entender a visualidade da Comunidade Surda;
● Identificar as características das produções do povo surdo;
● Perceber maneiras de construir essa visualidade;
● Estabelecer a importância de ter a Língua de Sinais como artefato cultural.
75
INTRODUÇÃO
Vamos iniciar!
Cultura e identidade são temas que não devem ser conceituadas em apenas um
significado. Muito além de termos científicos delineados em produções acadêmicas, a
questão da cultura e identidade permeiam termos muito mais intrínsecos e que se referem
às questões humanas.
Não é algo que pode ser criado, elaborado e estudado em laboratório. Se deseja-
mos compreender a identidade e cultura de um determinado povo, há um campo específico
onde devem ser realizadas tais pesquisas – a sociedade. Diz Perlin (1998) que:
Toda cultura e identidade são permeadas e construídas sob a influência dire-
ta das práticas e interações sociais estabelecidas pelos sujeitos que formam
tais grupos. Tendo como conceito de identidade cultural um conjunto de ca-
racterísticas que definem um grupo e que incidem na construção do sujeito,
sejam elas as que identificam ou as que excluem (PERLIN, 1998, p. 53)
Nesse sentido, vamos delinear esse olhar sob um âmbito mais geral, as pessoas
formam a sociedade e constituem os conceitos de cidadania, espaços e direitos políticos.
Cada ser humano, cada vida que há no brasil, a totalização de todos esses indivíduos, a
depender de região, estado, cor, gênero, entre outros, formam um grupo mais geral com
necessidades e capacidades múltiplas.
Vamos compreender melhor:
Todo ser humano possui a necessidade básica de alimentação, de saúde, seguran-
ça, educação, acesso ao mercado de trabalho e comunicação. Este é o molde geral que
constitui a humanidade e nestas necessidades, devemos tratar sobre políticas de equidade.
Estas são definições apresentadas sob uma perspectiva clínica da surdez a qual
pode nos nortear acerca de alguns entendimentos necessários, no entanto, não devemos
buscar categorizar todas as pessoas surdas dentro de tais definições identitárias, há ques-
tões muito mais profundas que influenciam direta ou indiretamente na formação de cada
indivíduo. O ser surdo(a) não pode ser classificado como a pessoa que não houve, esta é
uma definição extremamente rasa da multiplicidade que forma e caracteriza a comunidade
e as pessoas que a compõem.
Fonte: FLOCOS, Is. POR QUE SOU SURDO?. Youtube. Disponível em:
(98) POR QUE SOU SURDO? - YouTube. Acesso em: 13 set. 2021.
Fonte: VARELLA, Drauzio, Os surdos têm voz? Leonardo Castilho – Cabine #11. Youtube. Disponível em:
(98) Os surdos têm voz | Leonardo Castilho | Cabine #11 - YouTube. Acesso em: 13 set. 2021.
A relação da visualidade não diz respeito somente à língua, trata de muitas outras
subjetividades que permeiam a construção da cultura e identidade. A pessoa surda entra
em contato com o mundo que a cerca e vai descobrindo suas particularidades por meio
dessas experiências visuais, buscando também respostas a perguntas importantes, como:
De onde viemos? O que somos? Para onde queremos ir? Qual é a nossa identidade? Estes
são alguns exemplos de situações e indagações, no entanto pense em você pessoa ouvin-
te, em todas as dúvidas, curiosidades e descobertas que você já teve desde sua infância,
a pessoa Surda também passa por esse processo, e as respostas serão encontradas e
formadas mediante esta visualidade. A cultura surda retrata a formação desses indivíduos,
o qual parte da visualidade, portanto, caracterizamos de maneira geral, o ser surdo como:
Se vocês nos perguntarem aqui: o que é ser surdo? Temos uma resposta:
ser surdo é uma questão de vida. Não se trata de uma deficiência, mas de
uma experiência visual. Experiência visual significa a utilização da visão, (em
substituição total a audição), como meio de comunicação. Desta experiência
visual surge a cultura surda representada pela língua de sinais, pelo modo
diferente de ser, de se expressar, de conhecer o mundo, de entrar nas artes,
no conhecimento científico e acadêmico. (PERLIN, MIRANDA, 2003, p. 218).
Para uma melhor compreensão deste tema, iremos abordar a questão da cultura
em âmbitos mais gerais, para depois definirmos as questões referentes à cultura Surda.
Podemos ter um entendimento baseado nas percepções do senso comum sobre
cultura, como aquela produzida com o tempo, os costumes, as ações, as tradições que
constituem determinado país ou região. Pensemos em questões culturais do Brasil e em
questões culturais mais específicas de cada região, uma definição básica e imprescindível
da cultura retrata o comportamento de grupos sociais. Podemos nos utilizar aqui como
exemplo, o folclore brasileiro como uma questão cultural, pois ocupa-se das históricas que
retratam um conjunto de costumes de maneira fantasiosa. E quando entramos em contato
com o tema, mesmo que de maneiras mais gerais, entendemos o conceito, do que se trata,
e a depender do nível de conhecimento, acesso e contato, temos mais ideias de referenciais
e histórias que dizem respeito ao folclore brasileiro.
No entanto, outra questão que deve ser considerada – o regionalismo – a depender
do estado, cada cultura terá uma importância e uma maneira diferente de ser abordada.
Não é um conceito ou conhecimento linear, sua construção tem influência de inúmeros
fatores sociais, históricos, políticos, educacionais, entre outros.
A cultura é um patrimônio social que forma parte da história do país e dos seus
cidadãos. Aquilo que eu considero e reconheço como cultura, pode ser algo desconhecido
por você, ou vice-versa. Se não encontramos um significado ou importância que justifique
Isto posto, independente da disciplina que estudamos ou do tema sobre o qual discor-
remos, que possamos agir com mais respeito e empatia ao olhar e nos relacionar com a Co-
munidade Surda, bem como buscar antes de promover qualquer discussão ou discorrer acerca
de conceitos que dizem respeito às pessoas Surdas, ter o olhar na perspectiva da diferença e
respeitar o lugar de fala de tais indivíduos. Quando nos referimos à questão da surdez, este
indivíduo deve-se fazer presente, seja fisicamente ou de maneiras indiretas, como as citações
e os autores dos quais buscamos abordar nesse processo de aprendizagem.
As indagações são inúmeras, e a cultura como algo produzido pela sociedade,
sempre passará por modificações, estará em constante evolução. Nosso maior anseio é o
que por muitas das vezes justificam nosso trabalho, ainda é a busca pelo reconhecimento
do sujeito Surdo como cidadão de direito.
Lei 10.436, de 24 de abril de 2002, dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras e
dá outras providências:
“Art. 1o - É reconhecida como meio legal de comunicação e expressão a Língua Brasilei-
ra de Sinais - Libras e outros recursos de expressão a ela associados. Parágrafo único.
Entende-se como Língua Brasileira de Sinais - Libras a forma de comunicação e expres-
são, em que o sistema lingüístico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical
própria, constituem um sistema lingüístico de transmissão de idéias e fatos, oriundos de
comunidades de pessoas surdas do Brasil.
Art. 2o - Deve ser garantido, por parte do poder público em geral e empresas conces-
sionárias de serviços públicos, formas institucionalizadas de apoiar o uso e difusão da
Língua Brasileira de Sinais - Libras como meio de comunicação objetiva e de utilização
corrente das comunidades surdas do Brasil.
Art. 3o - As instituições públicas e empresas concessionárias de serviços públicos de
assistência à saúde devem garantir atendimento e tratamento adequado aos portadores
de deficiência auditiva, de acordo com as normas legais em vigor.
Art. 4o - O sistema educacional federal e os sistemas educacionais estaduais, munici-
pais e do Distrito Federal devem garantir a inclusão nos cursos de formação de Educa-
ção Especial, de Fonoaudiologia e de Magistério, em seus níveis médio e superior, do
ensino da Língua Brasileira de Sinais - Libras, como parte integrante dos Parâmetros
Curriculares Nacionais - PCNs, conforme legislação vigente. Parágrafo único. A Língua
Brasileira de Sinais - Libras não poderá substituir a modalidade escrita da língua portu-
guesa.
Art. 5o - Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.”
É preciso que a escola e todas as demais instituições voltadas para a educação e a cul-
tura abandonem esse mito da “unidade” do português no Brasil e passem a reconhecer
a verdadeira diversidade lingüística de nosso país para melhor planejarem suas políti-
cas de ação junto à população amplamente marginalizada dos falantes das variedades
não-padrão. O reconhecimento da existência de muitas normas lingüísticas diferentes é
fundamental para que o ensino em nossas escolas seja conseqüente com o fato com-
provado de que a norma lingüística ensinada em sala de aula é, em muitas situações,
uma verdadeira “língua estrangeira” para o aluno que chega à escola proveniente de
ambientes sociais onde a norma lingüística empregada no quotidiano é uma variedade
de português não padrão. (BAGNO, p. 18, 2002).
Fonte: BAGNO, M. Preconceito linguístico. O que é, como se faz. 17. ed. São Paulo: Loyola, 2002.
Até a próxima!
LIVRO
Título: As Imagens do Outro Sobre a Cultura Surda
Autor: Karin Strobel.
Ano: 2016.
Sinopse: O livro se organiza para desconstruir o estranhamento do
outro e construir outros olhares sobre o ser surdo. Nesse sentido,
convida o leitor a entrar na jornada dos surdos. Com propriedade,
Karin Strobel pega o leitor pela mão e o conduz de modo a perse-
guir as trilhas dos surdos de um jeito surdo.
FILME/VÍDEO
Título: Crisálida
Autor: Reed Hastings e Marc Randolph.
Ano: 2019.
Sinopse: “Num universo onde o som não existe, jovens surdos
enfrentam os desafios de uma sociedade desenhada apenas para
ouvintes”.
ALMEIDA, Wolney Gomes (Org.). Educação de surdos: formação, estratégias e prática do-
cente. Ilhéus, BA: Editus, 2015. Disponível em: https://static.scielo.org/scielobooks/m6fcj/
pdf/almeida-9788574554457.pdf.
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Prezado(a) aluno(a),
98
+55 (44) 3045 9898
Rua Getúlio Vargas, 333 - Centro
CEP 87.702-200 - Paranavaí - PR
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