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Gilmar de Oliveira
Diretor Administrativo
Eduardo Santini
UNIFATECIE Unidade 4
FICHA CATALOGRÁFICA BR-376 , km 102,
Saída para Nova Londrina
FACULDADE DE TECNOLOGIA E
Paranavaí-PR
CIÊNCIAS DO NORTE DO PARANÁ.
Núcleo de Educação a Distância; (44) 3045 9898
KOJO, Cléber Henrique Sanitá.
PERES, Paulino Augusto.
www.fatecie.edu.br
Formação Sóciocultural e Ética. Cléber Henrique Sanitá. Kojo.
Paulino Agusto. Peres
Paranavaí - PR.: Fatecie, 2019. 97 p.
As imagens utilizadas neste
Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária livro foram obtidas a partir
Zineide Pereira da Silva. do site ShutterStock
AUTORES
UNIDADE I....................................................................................................... 7
História e Cultura Africana
UNIDADE II.................................................................................................... 33
O Negro no Brasil: Abolição e seu Legado
UNIDADE III................................................................................................... 52
História e Cultura Indígena
UNIDADE IV................................................................................................... 72
Relações Étnico-Raciais e Direitos Humanos
UNIDADE I
História e Cultura Africana
Professor Especialista Paulino Augusto Peres
Plano de Estudo:
• O ainda mal compreendido negro no Brasil
• Africanos são todos iguais? De onde veio a população negra no Brasil?
• O que foi a escravização?
• O africano no Brasil
• A Resistência Negra
• Os quilombos como sinônimo de resistência negra
Objetivos de Aprendizagem:
• Contextualizar a história do africano no Brasil a fim de perceber que sua existência hoje
se dá através de muita luta, e que sua cultura está presente no nosso dia a dia.
• Compreender que a africanidade no Brasil é composta de diversas etnias africanas e
não de apenas um povo chamado africano, pois não existe um povo africano, mas povos
africanos.
• Estabelecer a importância da compreensão da escravização negra no Brasil como ponto
de partida para entender a existência do próprio negro no Brasil contemporâneo.
• Entender que os escravizados não aceitavam passivamente sua escravidão, mas resis-
tiam de diversas formas, sobretudo na forma de concentração quilombolas.
7
INTRODUÇÃO
Segundo Alencastro, entre 1551 e 1575, cerca de 25 mil africanos tinham sido
trazidos ao Brasil. Entre 1576 e 1600, houve um salto considerável para quase 200 mil afri-
canos. Entre 1676 e 1700 houve um pequeno recuo para cerca de 175 mil pessoas trazidas
da África e mais de 350 mil entre 1741 e 1760[3]. A maior parte dos africanos trazidos ao
nosso país era da costa oeste africana, sobretudo dos povos sudaneses e banto.
Da África Setentrional, no norte do continente, vieram ao Brasil povos de Castelo
da Mina, Costa da Mina, povos Ajudá, Bissau, Oorin, Calabar e Cameron. Calcula-se que
entre 1812 a 1820 17.691 escravizados tenham sido trazidos em 68 navios. Já da África
Meridional ao sul do continente, 20.841 africanos foram trazidos em 69 navios negreiros ao
país do Congo, Zaire, Cabinda, Angola, Moçambique, Quillemani, Cabo Lopes, Malambo,
Rio Ambris e Zanzibar. Esta estatística não nos diz a nacionalidade dos negros trazidos ao
Brasil, mas nos apresenta que os navios negreiros vinham da costa oeste africana, entre
povos bantos e sudaneses.
Os dados, ainda que limitados, nos mostram a procedência dessas pessoas trazi-
das para o trabalho escravo no Brasil. O governo inglês proibira o comércio de escravos,
tornando, assim, a atividade portuguesa em tráfico negreiro, e para despistar os ingleses,
muitos documentos foram destruídos, outros nunca chegaram a existir com a intenção de
enganar os britânicos.
O contingente de pessoas trazidas do Oeste da África fora chamado de “ouro negro”
pelos mercantilistas europeus. Portugueses, franceses, holandeses e ingleses disputavam
o comércio de escravos bantos e sudaneses no Oceano Atlântico. Reginaldo Brandi diz o
seguinte sobre esses povos:
‘[...] os sudaneses constituem os povos situados nas regiões que hoje vão
da Etiópia ao Chade e do sul do Egito a Uganda mais ao norte da Tanzânia’.
Quanto aos bantos, eram povos da ‘África Meridional, estão representados
por povos que falam entre 700 e duas mil línguas e dialetos aparentados,
estendendo-se para o sul, logo abaixo dos limites sudaneses, compreenden-
do as terras que vão do Atlântico ao Índico até o cabo da Boa Esperança. O
termo ‘banto’ foi criado em 1862 pelo filólogo alemão Willelm Bleek e significa
‘o povo’, não existindo propriamente uma unidade banto na África’.[4]
Brandi afirma que bantos e sudaneses são definições genéricas e imprecisas, pro-
duzidas no contexto da apropriação europeia do continente e dos povos da África. Sendo
assim, afirmações sobre a origem dos africanos no Brasil são quase sempre imprecisas.
Para compreender a história do nosso país é essencial entender o que foi a ampla
escravidão de pessoas no Brasil.
Os primeiros registros de escravidão de pessoas são de mais de cinco mil anos
atrás, na região da Mesopotâmia, basicamente no mesmo tempo das primeiras civilizações
sedentárias. O Código de Hamurabi estabelecia os parâmetros da escravização de pessoas,
incluindo condições de vida e origem daquele escravizado da seguinte forma: a compra de
um escravizado em mercados portuários; a escravização de prisioneiros de guerra e pes-
soas endividadas livres que poderiam ser levadas à escravidão. Essas motivações para a
escravidão levavam as sociedades a terem múltiplos estratos sociais e estiveram presentes
em diversas civilizações em diferentes regiões e diferentes períodos de tempo como na
Grécia e Roma antiga.
No Império Romano, a escravidão estava presente nas mesmas possibilidades,
incluindo o cenário em que um escravizado poderia conquistar ou comprar, não apenas a
sua liberdade, mas também sua cidadania, por exemplo, pelo serviço militar. É importante
notar que esses mecanismos eram universais, sem restrições étnicas e geográficas. Em
Roma, as pessoas escravizadas poderiam ser romanas, germânicas, cartagineses, celtas,
trácias, etíopes, basicamente todas as etnias dentro das fronteiras da República ou do
Império. Entre os povos indígenas americanos, a escravidão pela guerra ou por dívidas era
praticada, dentre outros, pelos povos mesoamericanos, pelos caribe, pelos comanches e
O papa era a maior autoridade política na Europa naquele período, por isso, uma
bula papal tinha importância não somente na Europa, mas nos novos territórios que esses
países conquistavam. Nesta Bula os portugueses eram autorizados a conquistar territórios
não cristianizados e consignar a escravatura perpétua aos sarracenos e pagãos que cap-
turassem como forma de defesa, uma vez que estes vinham perseguindo e ameaçando
cristãos da época. Esse documento é considerado frequentemente como o advento do
comércio e tráfico europeu de escravos na África Ocidental.
Nesse contexto de guerra, entre os séculos XVI e XIX até um milhão de europeus
foram escravizados por reinos muçulmanos, especialmente para servirem como remadores
em galés, foram escravizados espanhóis, gregos, italianos e até islandeses. É importante
notar, entretanto, que esse caráter de guerra religiosa com escravização foi restrito ao
mediterrâneo e à Europa, não afetando o Brasil e nossa sociedade. Nenhuma expedição
para captura de pessoas foi realizada por muçulmanos ao solo do continente americano.
Esse é o primeiro motivo que invalidade a comparação entre a escravização realizada aos
africanos com as demais escravizações.
Foi a África a região que mais sofreu com a escravização de pessoas de diferentes
regiões e etnias. Até treze milhões de africanos foram escravizados por reinos muçulmanos,
outros quatro milhões foram escravizados por povos ocidentais e árabes pelo Oceano Índi-
co e outros vinte milhões escravizados pelo Atlântico, destes, entre 11 e 12 milhões foram
trazidos para as américas, principalmente para territórios onde hoje são Brasil, Estados
Unidos da América, além do Caribe e destes, algo entre dois e quatro milhões morreram
durante o tráfico antes de chegar ao destino final. No Brasil, os primeiros africanos escra-
vizados chegaram em 1538. No total, quatro milhões e oitocentos mil africanos chegaram
ao litoral brasileiro, fora os que, propositadamente, não foram contabilizados no século XIX.
Com a cada vez maior presença portuguesa no continente africano e sua posição
geográfica privilegiada, Portugal se torna no maior centro mercador de escravizados da
Europa. No século XVI, mesmo indo além dos territórios muçulmanos, Portugal já está
totalmente comprometido com o comércio de africanos escravizados. Outras potências
europeias também investem nesse comércio de pessoas formado por escravos africanos
negros.
Diante da tentativa de suicídio foi vendido a outro proprietário, que fazia viagens
marítimas pelo litoral brasileiro. Numa viagem a nova York, em 1847, ele conseguiu fugir com
ajuda de religiosos abolicionistas dos Estados Unidos. Ele já sabia falar diversas línguas,
incluindo o árabe, o português e o francês e aprendeu a escrever em inglês. Mudou-se
para o Canadá, onde escreveu seu livro, depois foi para o Haiti, que era o único país do
continente onde os negros chegaram ao poder. O final de sua vida não é conhecido, mas
seus planos eram de retornar ao continente africano.
Essa história tem algo em comum com as demais histórias dos sobreviventes do
tráfico negreiro, seja pela fuga, pela revolta ou pela negociação e busca de alforria: a resis-
tência.
Não se sabe o que acontece com Baquaqua depois de 1857. Ele estava então na Ingla-
terra e havia recorrido à Sociedade da Missão Livre Batista Americana para ser enviado
como missionário à África.
Sua biografia foi publicada pelo abolicionista estadunidense Samuel Moore em 1854,
seu relato foi fundamental pois revelou detalhes das operações do tráfico negreiro da
época.
REFLITA
“Oh! a repugnância e a imundície daquele lugar horrível (navio negreiro) nunca serão
apagadas de minha memória. Não: enquanto a memória mantiver seu posto nesse cé-
rebro distraído, lembrarei daquilo. Meu coração até hoje adoece ao pensar nisto.”
Baquaqua. Mohammah Gardon. Biografia. p. 272.
LARA, Silvia Hunold. Biografia de Mohammah Gardon Baquaqua. Revista História Brasilei-
ra, São Paulo, v. 8, n. 16, p. 269-284, 1988.
Material Complementar
LIVRO
Título: O Trato dos Viventes: Formação do Brasil no Atlântico Sul
– Séculos XVI e XVII.
Autor(a): Luiz Felipe de Alencastro.
Editora: Companhia das Letras
Sinopse: O padre Antônio Vieira escrevia: “Angola... de cujo triste
sangue, negras e infelizes almas se nutre, anima, sustenta, serve
e conserva o Brasil”. Em O trato dos viventes, o historiador Luiz
Felipe de Alencastro mostra que a colonização portuguesa, ba-
seada no escravismo, deu lugar a um espaço econômico e social
bipolar, englobando uma zona de produção escravista situada no
litoral da América do Sul e uma zona de reprodução de escravos
centrada em Angola.
FILME/VÍDEO
Título: Amistad
Diretor: Steven Spielberg
Ano: 1997
Sinopse. Costa de Cuba, 1839. Dezenas de escravos negros se li-
bertam das correntes e assumem o comando do navio negreiro La
Amistad. Eles sonham retornar para a África, mas desconhecem
navegação e se vêem obrigados a confiar em dois tripulantes so-
breviventes, que os enganam e fazem com que, após dois meses,
sejam capturados por um navio americano, quando desordenada-
mente navegaram até a costa de Connecticut. Os africanos são
inicialmente julgados pelo assassinato da tripulação, mas o caso
toma vulto e o presidente americano Martin Van Buren (Nigel Haw-
thorn), que sonha ser reeleito, tenta a condenação dos escravos,
pois agradaria aos estados do Sul e também fortaleceria os laços
com a Espanha, pois a jovem Rainha Isabella II (Anna Paquin)
alega que tanto os escravos quanto o navio são seus e devem ser
devolvidos. Mas os abolicionistas vencem, e no entanto o governo
apela e a causa chega a Suprema Corte Americana. Este quadro
faz o ex-presidente John Quincy Adams (Anthony Hopkins), um
abolicionista não-assumido, sair da sua aposentadoria voluntária,
para defender os africanos.
Plano de Estudo:
1. OS AGENTES DA ABOLIÇÃO DA ESCRAVIDÃO NO BRASIL
2. O MAIOR LEGADO DA ESCRAVIDÃO: O RACISMO
Objetivos de Aprendizagem:
● Compreender o processo de abolição no Brasil e evidenciar o movimento abolicionista
para destacar que foram os negros que lideraram esse processo e não uma princesa
branca ou grupos brancos como se está no imaginário popular.
● Contextualizar o racismo no Brasil como um fenômeno que surge com a escravidão e não
acaba com o fim da mesma, pois vários mecanismos de desprezo a população negra no
Brasil ocorre durante a nossa história pós fim da escravatura.
● Compreender os dois tipos de preconceitos categorizados por Oracy Nogueira, o de
marca e o de origem para que o aluno possa compreender que o racismo se apresenta de
diversas formas em diversos locais do mundo
● Estabelecer a importância de entendermos que o Brasil é um país racista e que esse
racismo é camuflado, escondido e que se torna evidente em momentos de conflito de
forma cruel.
33
INTRODUÇÃO
Olá, caros estudantes. Iniciamos no módulo anterior nossa viagem ao passado para
compreendermos como foi a escravidão no Brasil. Neste módulo essa viagem continua. A
iniciamos com a abolição da escravatura no nosso país.
Em uma de nossas paradas perceberemos que a abolição da escravidão no Bra-
sil pouco tem a ver com movimentos brancos. O abolicionismo foi liderado por negros.
A princesa Isabel, abolicionista, era apenas uma personagem na abolição, os principais
protagonistas eram negros.
Em nossa última parada você terá contato com uma comparação realizada pelo
sociólogo Oracy Nogueira sobre o preconceito nos Estados Unidos e Brasil, sendo a versão
americana nomeada preconceito de origem e no Brasil, preconceito de marca.
Espero que você compreenda o racismo como legado da escravidão negra no
Brasil durante mais de 300 anos.
https://www.infoescola.com/wp-content/uploads/2010/05/carta-lei-aurea.jpg
Em 2018 tivemos o aniversário de 130 anos da assinatura da lei áurea que encer-
rou escravidão de pessoas negras no Brasil. Costumamos ver essa lei nas escolas como
se tivesse acontecido de repente com uma assinatura e fim. A Lei Imperial nº 3.353, nome
“Não é de bom tom puxar o assunto da cor”, pois, afinal de contas, “em casa de
enforcado não se fala em corda”.
Oracy Nogueira
Art. 402. Fazer nas ruas e praças públicas exercício de agilidade e destreza corporal co-
nhecida pela denominação Capoeiragem: andar em carreiras, com armas ou instrumen-
tos capazes de produzir lesão corporal, provocando tumulto ou desordens, ameaçando
pessoa certa ou incerta, ou incutindo temor de algum mal;
[...]
Art. 403. No caso de reincidência será aplicada à capoeira, no grau máximo, a pena do
art. 400. Com a pena de um a três anos.
Em 1935 a capoeira deixou de constar como arte proibida com a queda do Decreto de
11 de outubro de 1890. Posteriormente, em l937, a então Secretaria da Educação con-
seguia um registro oficial que qualificava seu curso de capoeira como Curso de Educa-
ção Física. Em 26 de dezembro de 1972 a capoeira foi homologada pelo Ministério da
Educação e Cultura como modalidade desportiva.
“O quilombo [...] constituía-se ‘em polo de resistência que fazia convergir para o seu
centro os diversos níveis de descontentamento e opressão de uma sociedade que tinha
como forma de trabalho fundamental a escravidão’ e por estar ‘dentro da situação de
negação à ordem escravista, tinha de se defender constantemente da repressão dos
senhores’ (Moura, 1987, p.44).
Fonte: MOURA, Clóvis. Os quilombos e a rebelião negra. São Paulo, Brasiliense, 1987.
Mais uma Unidade chega ao fim. A abolição fora contemplada não pelos olhos
de princesas, mas a partir dos olhos dos negros brasileiros que foram escravizados ou
tiveram ancestrais escravizados para que através dessa abolição percebêssemos que
nossos espíritos não haviam sido emancipados junto com os negros. A abolição deu fim à
escravatura, mas, não ao racismo.
O racismo existe e está presente entre nós brasileiros. Herança da escravidão. Ele
permanece sorrateiro no Brasil. Se esconde, se camufla, se espreita, dentro da mentalidade
do Brasileiro que acredita que racismo é o que existe nos Estados Unidos, um racismo
explícito. O brasileiro não vê o preconceito racial explícito, portanto, considera-o não
existente ou de pouca relevância por aqui. Engana-se.
Para mostrar o equívoco do brasileiro à respeito das questões raciais, Oracy
Nogueira fora evocado para apresentar a diferença do preconceito racial nos EUA e Brasil
para que venhamos perceber, que, não importa se o racismo é de marca ou origem, é tudo
racismo.
ANJOS, Rafael Sanzio Araújo dos. “As geografias oficial e invisível do Brasil: algumas refe-
rências”. Geousp – Espaço e Tempo (Online), v. 19, n. 2, p. 375-391, 2015. Disponível em:
http://www.revistas.usp.br/geousp/article/viewFile/102810/105686
Material Complementar
LIVRO
Título: Nem preto nem branco, muito pelo contrário: cor e raça na
sociabilidade brasileira
Autora: Lilia Moritz Schwarcz
Editora: Claro Enigma
Ano: 2013
Sinopse: No Brasil, a questão do preconceito racial é tão complexa que
parece desafiar a própria objetividade dos números. Em uma pesquisa
realizada em 1988, 97% dos entrevistados afirmaram não serem racistas,
mas 98% deles declararam conhecer alguém que fosse. E nem mesmo
as análises mais biológicas, que apostam num DNA fixo para a nossa
pele parecem resistir à ambiguidade das relações sociais brasileiras, já
que, como se diz popularmente, “preto rico no Brasil é branco, assim
como branco pobre é preto”. Nesse contexto, a determinação da própria
cor se torna critério tão subjetivo que em questionário recente do IBGE,
pautado na autoavaliação, foram detectadas mais de uma centena de
colorações diferentes de pele. Em “Nem preto nem branco, muito pelo
contrário”, a antropóloga Lilia Moritz Schwarcz revela um país marcado
por um tipo de racismo muito peculiar - negado publicamente, praticado
na intimidade. Para isso, volta às origens de um Brasil recém-descoberto
e apresenta ao leitor os primeiros relatos dos viajantes e as principais
teorias a respeito dos “bárbaros gentis”, desse povo sem “F, sem L e
sem R: sem fé, sem lei, sem rei”, teorias estas fundamentais para o leitor
moderno entender a complexidade de uma nação miscigenada e com
tantas nuances. Passando pelos modelos deterministas raciais de finais
do XIX, pelas teorias de branqueamento do início do século XX, depois
pelas ideias da mestiçagem dos anos 1930, ou de estudos que datam
da década de 1950, que queriam usar o “caso brasileiro” como propa-
ganda, pois acreditava-se que o Brasil seria um exemplo de democracia
racial, a autora nos mostra que, por trás do mito da convivência pacífica
e da exaltação da miscigenação como fator determinante para a cons-
trução da identidade nacional, na prática, a velha máxima do “quanto
mais branco melhor” nunca foi totalmente deixada de lado. Se por um
lado a autora traça um panorama histórico, por outro joga luz sobre as
sutilezas perversas do cotidiano. Seja na literatura, como no conto de
fadas “A princesa negrina”, em que os pais desejam ver a sua filha negra
transformada em garota branca, seja na boneca loira como modelo de
beleza, é também nos detalhes que a ideia de uma nação destituída de
preconceitos raciais cai por terra. Com um texto engenhoso e claro, este
ensaio, mais do que propor análises conclusivas, convida o leitor para
uma grande reflexão sobre a questão racial no país.
Título: Ó pai ó.
Ano: 2007
Sinopse: O filme conta a história dos moradores de um animado
cortiço do centro histórico do Pelourinho em Salvador. Tudo se
passa no último dia do Carnaval, em meio a muita música, dança
e alegria. Até que Dona Joana, uma evangélica, incomodada com
a farra dos condôminos, decide acabar com a festa, fechando o
registro de água do prédio.
Embora contenha um tom de comédia, este filme revela um lado
desconhecido da cidade de Salvador, do seu carnaval e o con-
traste social. Toca em assuntos como violência, drogas, mídia,
preconceito e racismo.
WEB
Plano de Estudo:
• Conceitos e Definições da história e cultura Indígena desde o início na visão eurocêntrica
e a lei 11.645/08.
• A cultura e a atividade socioeconômica das tribos indígenas.
• Breve histórico da religiosidade indígena e a aculturação imposta pelos portugueses, além
de sua influência ontem e hoje.
• Atualidade dos povos indígenas e de sua Cultura.
Objetivos de Aprendizagem:
• Conhecer a cultura indígena e sua influência na formação da sociedade brasileira.
• Conhecer a lei 11.645 de 11 de março de 2008 e sua importância para manutenção da
cultura indígena.
• Contextualizar todo o processo de colonização reconhecendo o etnocentrismo existente
ontem e hoje.
• Estabelecer a importância da cultura e da historiografia indígena na construção das iden-
tidades do povo brasileiro.
• Compreender os desafios da cultura indígena na sociedade atual.
52
INTRODUÇÃO
Nela, até agora, não pudemos saber que haja ouro, nem prata, nem coisa
alguma de metal ou ferro; nem lho vimos. Porém a terra em si é de muito bons
ares [...]. Porém o melhor fruto que dela se pode tirar me parece que será
salvar esta gente (BERUTTI, F.; FARIA, R.; MARQUES, A., 2001).
O ponto que você pode observar é o desprezo da cultura do povo “descoberto”, pois
não se preocupa em verificar se existe religião ou religiosidade entre os índios e aponta que
a salvação religiosa é necessária, ou seja, catequizar os índios, trazer a cristandade aos
“bárbaros de vergonhas de fora”.
Vale ressaltar que quero que você entenda o ponto onde os portugueses de-
monstram seu interesse econômico na nova terra e não se preocupa com os moradores
desse território. Vale destacar ainda que os índios são extremamente importantes para a
historiografia brasileira, ajudando assim a produzir essa miscigenação cultural que forma o
povo brasileiro, pois podemos entender melhor essa mistura cultural quando nós brasileiros
adotamos o hábito do banho diário, herdados dos Guaranis e não do colonizador. Outro
ponto destacado é que a carta do escrivão Pero Vaz de Caminha pode ajudar a desvendar
o processo aculturação indígena/colonizador.
Acredite na importância da carta de Caminha, pois assim podemos entender todo
o processo de colonização e a relação entre dominados e dominadores. Vale ressaltar que
no ano de 2005, a UNESCO, Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência
e a Cultura, reconheceu a importância da Carta de Pero Vaz de Caminha para memória,
isso dentro de um programa recente que tem como grande objetivo o reconhecimento de
documentos adotados como verdadeiros patrimônios em âmbito nacional e internacional,
facilitando assim a preservação e o acesso para narrar os povos e sua cultura, podendo
assim desenvolver em você um interesse e uma análise com semelhanças e diferenças
entre índios e portugueses, colonizados e colonizador.
Recentemente, em nosso país ocorreu a homologação da lei 11.645, para ser mais
exato, foi promulgada no dia 11 de março de 2008, alterando a Lei 9.394/1996 e por fim
complementando a Lei 10.639/2003, estabelecendo a partir dessa data nas diretrizes e
bases da educação nacional, a inclusão no currículo nacional, a obrigatoriedade do estudo
do tema “História e cultura afro-brasileira e indígena”. Assim, passamos a olhar e debater
outra visão do índio, e claro que é por isso que estamos debatendo esse conteúdo maravi-
lhoso e conhecendo nossas raízes.
Assim podemos afirmar que a discussão nas instituições educacionais sobre essas
duas culturas, principalmente a indígena, tem resgatado as grandes contribuições que
formaram nossa história, promovendo um pensamento crítico sobre esses povos, evitando
preconceitos e discriminação com um material didático renovado e com tolerância em sua
essência.
SAIBA MAIS
Nosso território foi chamado pelos europeus como Ilha de Vera Cruz, Terra de Santa
Cruz e por fim de Brasil. Vale ressaltar que o nome atual é devido à primeira riqueza en-
contrada para exploração em nosso país, o chamado Pau-Brasil, uma árvore que servia
para os portugueses construir móveis, embarcações e principalmente para tingir roupas,
pois o mesmo solta uma coloração avermelhada como brasa de fogo.
No entanto, muito antes desses nomes escolhidos pelo explorador, esse território tinha
um nome adotado pelos moradores (índios) que era PINDORAMA, que em tupi-guarani
era: “ou pindó-retama”, “terra/lugar/região das palmeiras”, ou seja, o primeiro nome
do Brasil foi Pindorama devido a suas riquezas naturais.
A grande aventura histórica que estamos vivendo nessa disciplina inicia-se quando
você percebe aos poucos que estamos conhecendo e retomando a vida e cultura indígena
no Brasil do antes e depois, do passado e do presente, ou seja, vamos relacionando os
acontecimentos e a cultura com a atualidade dos mesmos. Vale ressaltar que agora você
vai conhecer a vida em sociedade do índio, pois assim que ocorreu a chegada do Portu-
guês, percebemos que nossos índios viviam em uma sociedade quase que pré-histórica,
pois os mesmos viviam basicamente da caça, da pesca e da agricultura de milho, feijão,
amendoim, batata-doce e principalmente a chamada de mandioca. Vale ressaltar que, para
que ocorresse a prática dessa agricultura, os índios faziam a técnica da “Coivara”, que era
basicamente a derrubada de mata e queimada para limpar o solo para o plantio, fazendo
assim uma limpeza no território para que se pudesse produzir e trabalhar na terra. Vale
destacar ainda que os índios também praticavam o chamado “Couvade”, onde o homem
acompanhava sua esposa durante todo o período do resguardo dentro da “Oca” (casa)
ajudando e auxiliando nos cuidados do recém-nascido.
Nas tribos indígenas existia uma divisão de trabalho por sexo, ou seja, trabalho
dividido entre homens e mulheres. A caça, a pesca, as habitações, o preparo da terra para o
plantio e a proteção da aldeia ficavam a cargo dos homens, já coleta de frutos, a agricultura,
o cuidado das crianças ficava a cargo das mulheres.
Além disso, os índios domesticavam pequenos animais como capivaras e porco
do mato. Servia tanto para convivência tribal como para a alimentação. Talvez você se
pergunte o porquê de não domesticar animais como cavalos e galinhas, e, a resposta é
simples: O cavalo e a galinha vieram para cá com a chegada dos europeus. Vale destacar
que na Carta de Pero Vaz Caminha (1500) é descrito o espanto que os índios ficaram ao
entrar em contato com uma galinha pela primeira vez, sem dúvidas foi o mesmo espanto
que o europeu teve ao ver as Araras coloridas.
Nas tribos indígenas a propriedade tribal é de uso coletivo e o trabalho tem um papel
sagrado, onde os mesmos produzem arcos, flechas, redes de pesca entre outros, e esses
mesmo sendo de propriedade de cada indivíduo servem para suprir as necessidades de
todos os membros da tribo, e, o mais importante que não existia uma competição entre os
mesmos, pois se sabe da coletividade e da união dos membros tribais. O trabalho indígena
gira em torno da sua subsistência e o mesmo entra no aspecto sagrado da natureza, onde
os mesmos retiram a quantidade necessária sem destruir o seu ser maior onde começa sua
SAIBA MAIS
“Nós, povos indígenas do Brasil, percorremos um longo caminho de reconstrução dos
nossos territórios e das nossas comunidades. Com essa história firmemente agarrada
por nossas mãos coletivas, temos a certeza de que rompemos com o triste passado e
nos lançamos, com confiança, em direção ao futuro.”
Fonte: Documento final da Conferência dos Povos e Organizações Indígenas do
Brasil. Coroa Vermelha, Bahia, 21 de Abril de 2000.
A religiosidade indígena está presente a milhares de anos atrás, pois foi encontrado
vestígios arqueológicos de rituais e cerimônias de sepultamento ou uma espécie de mumi-
ficação / defumação de corpos na América, além de sacrifícios humanos na américa central
acima. Vale ressaltar que no Brasil atual existe uma religião intitulada de Santo Daime,
que absorve, que tem uma miscigenação de várias religiões, do espiritismo ao catolicismo,
mas o que chama a atenção de seus seguidores é o chamado “Ayahuasca”, que na língua
quéchua, “aya” significa “espírito ou ancestral” e “huasca” significa “vinho ou chá, ou seja,
“chá dos espíritos”, uma bebida indígena das tribos amazônicas que provoca alucinações.
Vale ressaltar que a primeira descrição histórica sobre o consumo desse chá
no ano de 1855, por Richard Spruce, onde percebe-se uma formação interessante para
produção desse chá, que é realizado pela folha de uma planta chamada Chacrona que
possui a propriedade alucinógena, no entanto, se a consumirmos pura não ocorre o efeito,
pois é provado cientificamente que o corpo humano tem uma enzima que destrói essa
propriedade, mas não se sabe como os índios descobriram que se misturassem a folha da
Chacrona com o cipó chamado Jagube chegariam a um chá alucinógeno, pois cientistas
provaram que o cipó tem propriedades que destroem as enzimas e com isso temos esse
chá comercializado na atualidade, seja em folhas, cipó e mudas das plantas que podem ser
encontradas facilmente na internet, pois se for para fins religiosos é permitido a venda e o
consumo no Brasil. Outro ponto a ser ressaltado que existem estudos iniciais que apontam
que o consumo do chá do Ayahuasca pode ser utilizado para tratamentos de depressão,
pois o mesmo ativa áreas do cérebro que estão relacionados a atividade e ação do indivíduo.
Outra cerimônia religiosa realizada pelos índios brasileiros e apresentada para gru-
pos de visitantes em aldeias Kaingang, é a cerimônia do Kikikói, onde os índios recebem os
turistas e explicam todo o processo, desde o funcionamento até o consumo do Kiki ao tér-
mino. A cerimônia começa com a divisão dos Kingang em dois grupos que representará os
seus ancestrais intitulados Kamé e Kayrucré. Vale destacar que após a divisão ocorre uma
sequência de rituais com cantos, danças, rezas representando os espíritos dos ancestrais
mortos e expondo o caminho que seguiram, além de pedirem proteção para a aldeia contra
as doenças, pois os mesmos acreditam que os ancestrais os protegem, assim como os
católicos acreditam na proteção dos anjos e santos. Vale ressaltar que durante os dias da
cerimônia do Kikikói, os índios adentram na mata, escolhem uma árvore passando a cantar,
Mesmo com sua religiosidade demonstrada em toda sua história, gestos, pinturas
corporais, o índio passou por um processo de aculturação onde ocorre o desprezo de sua
ligação com a natureza e impõe a religião europeia herdada do período medieval. Sabemos
que o Catecismo e Ordem jesuíta liderada por Inácio de Loyola, nasceram no contexto da
contrarreforma e refletiu-se no Brasil, pois de sua descoberta a esquadra de Cabral já era
acompanhada pelo “exército de cristo”, que por sua vez começou o processo de evan-
gelização dos índios, liderado por José de Anchieta os Jesuítas passaram a aculturar os
nativos, ensinando-lhes também a cultura europeia com a intenção de aproximar o território
brasileiro do território português, pois assim facilitariam o processo colonial e criariam um
abismo entre a fé católica e a crescente fé protestante.
Os Jesuítas procuravam ensinar aos nativos o hábito do trabalho diário, ensinava
também a língua portuguesa, a religião, trocando assim experiências, e, por fim os pa-
dres conheciam a cultura e a religião do nativo, que mesmo a desprezando a utilizava
na aculturação religiosa e política, pois com essa estreita relação os padres conheciam
o território e suas riquezas, facilitando assim a exploração portuguesa. Vale ressaltar que
com esse processo de aculturação dos índios temos o nascimento de uma cultura nacional,
ou seja, graças a isso nasceu à chamada “cultura brasileira”. Vale destacar que com o
nascimento da cultura brasileira a cultura indígena praticamente desaparece, nascendo o
que nós chamamos de folclore, além da absorção de hábitos alimentares que se reproduz
na atualidade, ou seja, a cultura indígena e uma parte integrante da identidade brasileira.
“Os índios Paranaobí, que foram buscados por tantos anos (…) desceram para a igreja.
Viviam 130 léguas metidos pelo sertão (…). Postos a caminho, começaram a sentir os
trabalhos rigorosos e os perigos deles [os rios encachoeirados). Até que enfim chega-
ram todos com saúde e alegria na Aldeia dos Reis Magos. Mas como acharam esta
aldeia infestada de bexigas, ateou a peste delas nos novamente chegados e pouco a
pouco começaram a morrer.”
Fonte: Padre Antônio Vieira, missionário jesuíta, 1624-1625
E o nosso Brasil? Já citei nosso porte estratégico. Mas tem uma dificuldade
para transformar isso em poder. Ainda existe o famoso ‘complexo de vira-lata’
aqui no nosso país, infelizmente”, disse Mourão. “Essa herança do privilégio
é uma herança ibérica. Temos uma certa herança da indolência, que vem da
cultura indígena. Eu sou indígena. Meu pai é amazonense. E a malandragem.
Nada contra, mas a malandragem é oriunda do africano. Então, esse é o
nosso ‘cadinho’ cultural.”
Fonte: REVISTA VEJA / GLOBO.COM, agosto de 2018.
Como apresentado acima é uma declaração errônea, pois contraria inclusive a es-
sência das leis 10.639/03 e 11.645/08 que abordamos em todo nosso processo de ensino/
aprendizagem da disciplina. Vale ressaltar que esse pensamento faz parte do senso comum
de um grande número de brasileiros, podendo ser até mesmo você antes de conhecer e
estudar essas leis e essa disciplina. Outro ponto ressaltado é que esse pensamento de
senso comum se faz presente até mesmo por desconhecimento que o índio dedica grande
parte do seu tempo a atividades consideradas sem importância como o cuidado com o
corpo, o convívio familiar e as atividades na floresta. Vale ressaltar que o documentário
Índio Presente de foi ao ar no dia 27/04/2008 ás 05:30 na TV Brasil, com produção: Amazon
Picture e dirigido por Bruno Villela e Sérgio Lobato afirma:
Em Mato Grosso do Sul, os Guarani-Kaiowa refletem sobre a importância do
Bem Viver, ou teko porã, que exprime uma vida pautada pela reciprocidade,
benevolência e a generosidade. Em Rondônia, os Suruí apresentam as dinâ-
micas de manejo do território que emergem no diálogo entre o modo de vida
tradicional e as novas estratégias de gestão do seu território.
• Será que é a maioria dos índios que estão vendendo seu artesanato nos sinais?
• Será que querem estar naquele local, passando por humilhações, fome, sede e
exposição ao perigo eminente do trânsito e do roubo e assaltos?
• O que você fez quando presenciou ou quando presenciar a cena?
• Onde está sua cultura se está inserido no processo de aquisição de capital,
dinheiro?
“Enquanto o Brasil real não assumir, com a devida lucidez e honestidade, sua trajetória
indígena e indigenista-antindígena secularmente, na política oficial-este país, pluricul-
tural, pluriétnico, plurinacional, não estará em paz com sua consciência, ignorará sua
identidade e carregará a maldição de ser oficialmente-etnocida, genocida, suicida.”
Dom Pedro Casaldáliga, bispo de São Félix do Araguaia
Material Complementar
LIVRO
• Título: “A carta de Pero Vaz de Caminha” – Comentado por
Douglas Tufano.
• Autor: TUFANO, Douglas.
• Editora. Moderna; Edição: 1 (1 de janeiro de 1999)
• Sinopse: Edição comentada e ilustrada da carta de Pero Vaz
de Caminha ao rei de Portugal por ocasião do “achamento” do
Brasil. Texto integral reescrito em português contemporâneo. O
projeto objetiva comemorar os quinhentos anos do descobrimento
oferecendo ao aluno de primeiro grau cujo currículo prevê a
leitura da carta e ao público em geral um texto de compreensão
acessível. Informações subsidiárias como fotos mapas e ilustrações
complementarão as notas ao texto.
LIVRO
• Título: ADORADORES do SOL : Reflexões sobre a Religiosidade
indígena. Coleção: Subsídios Pedagógicos.
• Autor: Lucio Paiva Flores.
• Editora. Vozes, 2003.
• Sinopse: O livro descortina a riqueza, beleza e magia da
religiosidade indígena, misteriosa e milagrosamente preservadas
ao longo desses 500 anos. São experiências vivenciadas dentro
de aldeias, entre diversos povos, participando de diferentes rituais,
com o olhar, a alma e o sangue de um índio.
FILME/VÍDEO
• Título. O Descobrimento do Brasil.
• Ano. (1937).
• Diretor: Humberto Mauro.
• Roteirista: Humberto Mauro.
• Sinopse. Clássico do cinema nacional que narra a chegada do
navegador português Pedro Alvares Cabral ao Brasil. Uma das
características do filme foi a reconstituição, em tamanho natural, da
nau capitânia de Cabral, construída dentro dos estúdios da Cinédia.
Já as miniaturas foram feitas por José Queiroz, que anteriormente
desenvolveu o mesmo trabalho técnico em ‘Bonequinha de Seda’.
FILME/VÍDEO
• Título. THE MISSION: A Missão.
• Ano. (1986).
• Diretor: Rolland Joffé.
• Roteiro: Robert Bolt.
• Sinopse. No final do século XVIII Mendoza (Robert De Niro), um
mercador de escravos, fica com crise de consciência por ter ma-
tado Felipe (Aidan Quinn), seu irmão, num duelo, pois Felipe se
envolveu com Carlotta (Cherie Lunghi). Ela havia se apaixonado
por Felipe e Mendoza não aceitou isto, pois ela tinha um relacio-
namento com ele. Para tentar se penitenciar Mendoza se torna
um padre e se une a Gabriel (Jeremy Irons), um jesuíta bem in-
tencionado que luta para defender os índios, mas se depara com
interesses econômicos.
Plano de Estudo:
• Conceitos de raça-etnia, cultura e inclusão.
• Formas / Desenvolvimento de socialização no mundo moderno e na sociedade brasileira.
• As perspectivas da inclusão na atualidade.
• A minoria na sociedade e formas de inserção social.
• Direitos humanos e a exclusão social.
Objetivos de Aprendizagem:
• Conhecer a definição dos conceitos de raça, étnico e etnia;
• Definir cultura em suas diferentes possibilidades de conceituação.
• Relacionar o conceito de cultura com sua função na constituição das identidades.
• Compreender o processo etimológico que deu origem a palavra cultura e como se deu a
transformação de seus significados durante a história.
• Perceber os sentidos que a ideia de cultura adquiriu e sua relação com as teorias evolucionistas
do século XIX, que procuravam identificar e estabelecer critérios de classificação para os
diferentes grupos humanos;
• Conhecer o determinismo como uma corrente de pensamento destinada a pensar as raças
humanas, sua origem e evolução, além de compreender suas derivações geográfica e
biológica;
• Perceber o processo histórico de “estranhamento” entre os povos de diferentes origens
étnicas;
• Compreender o surgimento e difusão do conceito de raça durante o século XIX. Analisar as
implicações dessas teorias sobre a vida das pessoas.
• Entender os princípios básicos de algumas dessas teorias e suas possíveis aplicações
sociais;
• Compreensão de duas correntes de pensamento fundamentadas na Biologia, mas que
tiveram desdobramentos políticos, administrativos e sociais: a eugenia e o darwinismo social;
• Analisar a composição étnica da sociedade brasileira, tendo como referência o estudo
produzido por Von Martius sobre a contribuição das três grandes raças fundadoras na
nacionalidade brasileira;
• Perceber a mudança de paradigma sobre o conceito de raça durante o século XX, com
atenção às mudanças científicas que colaboraram para essa reorientação sobre os estudos
étnico-raciais;
• Apresentar alguns grupos minoritários e ações que são realizadas para a inclusão e
cidadania.
72
INTRODUÇÃO
Determinismo geográfico
O Sertanejo
O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos
mestiços neurasténicos do litoral. A sua aparência, entretanto, ao primeiro
lance de vista, revela o contrário. Falta-lhe a plástica impecável, o desem-
penho, a estrutura corretíssima das organizações atléticas. É desgracioso,
desengonçado, torto. Hércules quasímodo, reflete o aspecto, a lealdade típi-
ca dos fracos. Agrava-o a postura normalmente abatida, num manifestar de
displicência que lhe dá um caráter de humildade deprimente. (...) É o homem
permanentemente fatigado”. (CUNHA, Euclides da. Os Sertões, 2002, p. 47).
O Gaúcho
“Como são melancólicas e solenes, ao pino do sol, as vastas campinas que
cingem as margens do Uruguai e seus afluentes!
A savana se desfralda a perder de vista, ondulando pelas sangas e coxilhas
que figuram as flutuações das vagas nesse verde oceano. Mais profunda
parece aqui a solidão, e mais pavorosa, do que na imensidade dos mares.
É o mesmo ermo, porém selado pela imobilidade, e como que estupefato
ante a majestade do firmamento.
Raro corta o espaço, cheio de luz, um pássaro erradio, demandando a som-
bra, longe na restinga de mato que borda as orlas de algum arroio. A trecho
passa o poldro bravio, desgarrado do magote; ei-lo que se vai retouçando
alegremente babujar a grama do próximo banhado”. (ALENCAR, José. O
Gaúcho, 1870.).
Até o momento nessa disciplina, você conheceu os conceitos básicos que são in-
terligados as relações étnico-raciais. Agora vamos iniciar uma viagem aos discursos sobre
raça, desde a evolução histórica até a formação das identidades humanas. Vale ressaltar
que uma das questões que engloba o ser humano é a curiosidade para explicar de onde
veio, sua origem, e, para responder essa questão partimos do princípio da origem humana
na terra, que pode-se confrontar entre ciência e religião, ou seja, teoria evolucionista e a
divina. Você acompanha na atualidade esse conflito na vida cotidiana, e o impressionante
é que grande da humanidade apresenta sua existência através de Deus, Javé, Alá entre
outros. Logo a criação divina foi um desafio antropológico de superação, pois os estudio-
sos precisaram elaborar uma explicação para a diversidade existente no mundo, sejam
diferenças culturais, étnico-raciais e até mesmo comportamentais. Vale destacar que muito
antes da ciência se preocupar e começar a questionar esse tema, alguns povos produziam
conhecimento sobre outros povos, sua vida, seu cotidiano, sempre usando o método de
comparação entre si, e, assim pode iniciar uma análise evolutiva da sociedade.
Para entender melhor como acontecia essa comparação podemos relembrar a
origem da palavra “bárbaro”, ou “Barbarói”, criada pelos romanos para descrever todos
aqueles que viviam fora das fronteiras ou da cultura romana. Será possível essa divisão?
Vale destacar que os romanos dominavam todo o mediterrâneo criando o chamado “Mare
Nostrum”, ou nosso mar. No entanto não conseguiram dominar os Gauleses, os Germanos
SAIBA MAIS
A complexidade da cultura humana tem limitado cada vez mais a seleção natural como
princípio de compreensão da realidade. A adaptação do homem nos mais variados am-
bientes denuncia o grau de relatividade das teorias evolutivas. A teoria da evolução
natural trouxe fundamentos para teorias sociais, como por exemplo, as evoluções das
sociedades.
1. O Português: “O descobridor”.
2. O Negro: “O motor, a força motriz”.
3. O Índio: “O nascer, a inocência motora”.
• Eugenia: “Teoria que tenta criar uma seleção com o que está presente na es-
pécie humana”.
• Eugênico: “Que diz respeito à eugenia, processo que pretende aprimorar a
genética humana”. “Diz-se do indivíduo apropriado para a reprodução, que vai
gerar filhos fortes e saudáveis”. “Que visa o melhoramento da raça”.
Enfim, podemos afirmar que anos após ocorreu a chamada II Guerra Mundial,
repleta de xenofobia e de eugenia, e, somente ao seu término com os horrores dos campos
de concentração que foram conhecidos por todos e que estão no imaginário das pessoas
até hoje, que ocorreu o início de uma onda de trabalhos que vieram a questionar a ideia de
raça ou mesmo afirmar a sua inexistência.
Vamos começar esse tema com a seguinte afirmação: “Todos somos iguais” pe-
rante a lei! Porém, a discriminação e o preconceito existem e estão disfarçados de várias
formas. O conceito de atitude está relacionado com questões sociais. Podemos começar
com o preconceito com relação ao poder ou riqueza que divide a sociedade em classes
A, B, C..., em seguida o preconceito contra negros, homossexuais, judeus, portadores de
necessidades. Falamos que não temos preconceito, porém muitas vezes nossas atitudes
nos desmentem:
• Contar piadas de negros, de portugueses, de loiras.
• Falar mal de mulheres que trabalham fora de casa.
• Ser amigo de homossexuais, “diga-me com quem andas e te direi quem és”.
• Falar: “Todos os negros são atléticos”.
• Falar: “É preto mais é gente boa”. (Cor define caráter?).
Por meio da análise histórica, podemos dizer que o preconceito contra os negros
começou no tempo da escravatura, que durou até finais do século XIX em alguns países.
O preconceito contra as mulheres, no mercado de trabalho, iniciou- se, quando os homens
tiveram que ir para a guerra e dependia delas o sustento da família, porém ainda hoje a
mulher é vista por muitos como progenitora e dona do lar. Então, cada caso, merece um
estudo aprofundado.
REFLITA
“A cultura traz para o processo de inclusão vários benefícios, dentre eles a aceitação do
diferente como integrante da comunidade, bem como sua formação como cidadão”. Dia
a dia educação / seed Paraná.
LIVRO
• Título: “Nós Do Brasil. Estudo Das Relações Étnico-Raciais”.
• Autor: RODRIGUES, Roseane.
• Editora: Moderna; Janeiro de 2003).
• Sinopse: O livro “Nós do Brasil” fala de integridade negra,
identidade africana, identidade indígena. Fala de ciganos, de
judeus, de muçulmanos, das diversas Áfricas que existem dentro da
África, suas diferenças culturais, povos e religiões, e fala do Brasil.
Este livro proporciona viagens, buscando possibilitar conexões
históricas para a compreensão de quem somos nós. Ele busca
mostrar que há saídas para a aplicação da temática das Relações
Raciais sem incorrer em dogmas, estereótipos ou folclorizações.
LIVRO
• Título: “Relações étnico-raciais para o ensino da identidade e
da diversidade cultural brasileira”.
• Autor: MICHALISZYN, Mario Sergio.
• Editora: INTERSABERES, 2014.
• Sinopse: A pluralidade de crenças, costumes e conhecimentos no
Brasil exige um constante aprendizado de respeito às diferenças
e de percepção da riqueza cultural. Por isso, é indispensável que
os profissionais envolvidos com a educação discutam as relações
étnicas e raciais. Com o propósito de oferecer subsídios para o
acompanhamento e a compreensão dos conteúdos acerca das
relações étnico-raciais, esta obra aborda os aspectos relacionados
à cultura, ao imaginário social e à construção de representações
sociais.
LIVRO
• Título: “Identidade racial”.
• Autor: BISPO, Luane; OLIVEIRA, Jéssica; FERRARI, Mônica.
• Editora: Adonis; Edição: 1 (23 de novembro de 2017).
• Sinopse: As relações étnicas são temas complexos e por isso,
faz-se necessário que os profissionais envolvidos na formação
das crianças sejam sensibilizados acerca da importância de seu
papel, compreendendo também que o respeito aos negros e sua
cultura deve ser trabalhado diariamente e não apenas no dia da
consciência negra. Espera-se, ainda, contribuir para desmistificar
o racismo implícito existente no cotidiano escolar, muitas vezes
presente de maneira simbólica. Pois esse conjunto de fatores pode
desencadear nas crianças negras e não negras um ego branco,
descaracterizando suas identidades desde a primeira infância,
percorrendo o ensino fundamental e seguir pela vida toda.
FILME/VÍDEO
• Título. “Cores e Botas”.
• Ano. São Paulo, (2010).
• Diretor: Juliana Vicente.
• Sinopse. Joana tem um sonho comum a muitas meninas dos
anos 80: ser Paquita. Sua família é bem sucedida e a apoia em
seu sonho. Porém, Joana é negra, e nunca se viu uma paquita
negra no programa da Xuxa.
FILME/VÍDEO
• Título. Vista Minha Pele.
• Ano. (2003).
• Diretor: Joel Zito Araújo.
• Sinopse. O filme coloca a realidade dos negros em evidência
ao propor uma inversão: narra a história de brancos e negros, em
papéis trocados. A empregada da família negra rica é branca, os
padrões de beleza são pautados na beleza negra etc. Nesse con-
texto, ele retrata a trajetória de uma aluna branca que tenta se
adaptar nesse universo.
ALENCAR, José de. O guarani. 3 ed. São Paulo: Ateliê Editorial, 2014.
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