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Formação de Professores:
produção e difusão de conteúdos sobre
história e cultura afro-brasileira e africana
1a Edição
Florianópolis
2014
Prof. Dr. Antônio Heronaldo de Souza
Reitor
Prof. Dr. Marcus Tomasi
Vice-Reitor
Prof. Dr. Mayco Morais Nunes
Pró-Reitor de Extensão, Cultura e Comunidade
Prof. Dr. Emerson César de Campos
Diretor Geral do Centro de Ciência Humanas e da Educação
Prof. Dr. Fábio Napoleão
Diretor de Extensão do Centro de Ciências Humanas e da Educação
Prof. Dr. Paulino de Jesus Francisco Cardoso
Coordenador do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros – NEAB/UDESC
Revisão
Cristiane Mare da Silva
Secretaria e Colaboração Técnica
Karla Leandro Rascke
Doutoranda em História Social pela PUC-SP
Colaboração Técnica
Ana Júlia Pacheco; Carol Lima de Carvalho; Carolina Corbellini Rovaris
Graduandas em História pela UDESC
Projeto gráfico e diagramação
Gustavo Coelho da Costa
FICHA CATALOGRÁFICA
Catalogação na publicação – CIP – Brasil
Arquivo Público do Estado de Santa Catarina
F724 Formação de professores: promoção e difusão de conteúdos sobre história e
cultura afro-brasileira e africana / Paulino de Jesus Francisco Cardoso,
Karla Leandro Rascke (orgs.). – Florianópolis : DIOESC, 2014
248 p. : il. ; 23 cm
Inclui bibliografia.
CDD 371.12098164
Apresentação 7
MÓDULO 1 - Introdução 11
Capítulo 1 - Lei Federal 10.639/03, discussão de con-
ceitos: multiculturalismo, diversidade, ações afirmati-
vas, racismo, preconceito, afrodescendente, negro,
entre outros 12
Paulino de Jesus Francisco Cardoso
Karla Leandro Rascke
Capítulo 2 - O Movimento Negro brasileiro e as Dire-
trizes da Educação Nacional: a Lei Federal 10.639/03
é L.D.B! 29
Jeruse Maria Romão
Apresentação
Apresentamos a todos e todas este trabalho desenvolvido pela equipe
de profissionais do curso “Formação de Professores: produção e difusão de
conteúdos sobre história e cultura afro-brasileira e africana”, ação 1 do Pro-
grama Diversidade Étnica na Educação (PDEE-UNIAFRO), desenvolvido
pelo Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da Universidade do Estado de Santa
Catarina (NEAB/UDESC), sob a coordenação do Prof. Dr. Paulino de Jesus
Francisco Cardoso.
O PDEE-UNIAFRO tem por finalidade contribuir para a implementa-
ção da Lei Federal 10.639/03, que inclui no currículo oficial a obrigatoriedade
da temática “História e Cultura Afro-Brasileira” e o Parecer CNE 003/2004,
que cria as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações
Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Afri-
cana.
O curso foi oferecido para professores e professoras da rede básica de
ensino (pública e privada) do estado de Santa Catarina. Possui a carga horária
de 180 horas, sendo estas divididas entre encontros presenciais nas cidades de
Chapecó, Criciúma, Florianópolis, Joinville e Lages (40 h) e atividades a dis-
tância através da Plataforma Moodle da UDESC (140 h).
As atividades presenciais serão divididas entre introduções aos quatro
módulos didáticos, oficinas e a discussão das atividades finais. As atividades
à distância incluem a leitura dos capítulos de textos dos módulos didáticos e
dos materiais complementares (documentos, vídeos, mapas, imagens, textos,
artigos científicos e outras indicações pertinentes), a participação nos cinco
fóruns propostos, a elaboração da atividade final e a resposta ao questionário
de avaliação do curso.
O público-alvo de nosso curso é formado por professores e professoras
da rede básica de ensino (pública e privada) de Santa Catarina, com ofereci-
mento de 1.500 vagas divididas entre as regiões de Chapecó, Criciúma, Floria-
nópolis, Joinville e Lages (300 vagas para cada região). O curso tem duração
entre 12/03/2014 e 15/08/2014. Os critérios para participação, continuidade
e certificação em nosso curso exigem que o/a professor/a cursista deve reali-
zar as seguintes atividades: participar dos cinco fóruns propostos dentro dos
prazos estipulados, elaborar e enviar a atividade final, responder ao questio-
nário de avaliação do curso e participar dos encontros presenciais (frequência
mínima de 80%).
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MÓDULO 1 - Introdução
O primeiro módulo deste curso, que também se apresenta por meio
deste livro, discute alguns conceitos de fundamental importância para a com-
preensão da sociedade em que vivemos e a necessidade de discutir as relações
étnico-raciais. Tratam-se de conceitos produzidos ao longo dos anos e preci-
sam ser conhecidos, repensados, criticados e transformados.
Neste sentido, o Módulo 1 convida a todos e todas para reflexões acerca
de termos, expressões e sentidos relacionados ao dia a dia, às vivências esco-
lares, às experiências em ambientes de trabalho, rodas de conversas, espaços
familiares, enfim onde existirem pessoas, pois, como sabemos, onde estas este-
jam, existem também relações, tensões, disputas e sonhos.
Compreender os sentidos do termo negro, afrodescendente, políticas de
ação afirmativa, racismo, Lei Federal 10.639/03 e tantas outras referências con-
ceituais e debates que compõem nossa vida em sociedade atualmente, permite
percebermos papéis sociais, lugares, histórias e memórias.
Vamos aos capítulos e suas proposições para estudo!
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O CONCEITO DE RAÇA
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NEGRO OU AFRODESCENDENTE?
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NEGRO-AFRICANO
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RACISMO
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AÇÕES AFIRMATIVAS
As ações afirmativas constituem um conjunto de medidas voltadas
a determinados grupos discriminados ou que sofrem com a exclusão social
ocorridos no passado ou no presente. Estas medidas possuem o objetivo de eli-
minar desigualdades existentes de modo a estabilizar oportunidades, ou seja,
impedindo uma discrepância de oportunidades entre diferentes grupos.
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Várias são as ações que diferentes países, dentre eles o Brasil, criaram
e ainda criam para diminuir as desigualdades sociais, econômicas, raciais, de
gênero, etc.
Neste sentido, a Índia e os EUA possuem medidas para tratar de suas
populações pobres e excluídas há muitas décadas, com programas que per-
mitem renda, ampliação de oportunidades e direitos. No Brasil, muitas destas
medidas são conhecidas também há décadas, como o caso dos 30% de vagas
para mulheres nos partidos políticos, cotas para deficientes físicos em con-
cursos públicos, programas sociais como o Bolsa Família, além de diferentes
programas de acesso ao Ensino Superior, o que permite mudança significativa
na vida de milhares de pessoas, bem como de seus familiares.
A partir do governo do presi-
“Os dados sobre as populações negras bra- dente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-
sileiras teimam em demonstrar a manu- 2010), o ensino superior brasileiro
tenção das desigualdades estruturais entre passou por profundas transforma-
brancos e negros. Logo, as desigualdades ções, constituindo a primeira etapa
raciais seriam o resultado do acúmulo de o aumento no número de vagas. O
desvantagens confirmadas nos indicado-
res de escolaridade, emprego, habitação e
Programa Universidade para Todos
consumo de bens. Desta forma, houve um (PROUNI), instituído pela Lei nº
reconhecimento no campo da educação e 11.096, em 13 de janeiro de 2005, nas-
em outros campos, da inoperância das ceu com o objetivo de ampliar a con-
políticas universalistas no que diz respeito cessão de bolsas de estudo integrais
à inclusão dos negros no ensino superior e e parciais em cursos de graduação e
nos demais níveis de ensino”. (REZENDE, sequenciais de formação específica,
2005, p. 158) em instituições privadas de educação
superior.
Segundo informações publicadas no site do Ministério da Educação, as
IES privadas e comunitárias que aderem ao Programa, recebem como contra-
partida, isenção de alguns tributos. Desde sua criação em 2004 até 2012, cerca
de um milhão de estudantes foram beneficiados. Destes, 67% com bolsas inte-
grais. Vale lembrar que, uma reestruturação do Programa de Financiamento
Estudantil (FIES), possibilitou a celebração de 01 milhão de contratos em 2012.
Outro importante ponto de ação foi a regulamentação, por parte do
Ministério da Educação (MEC), em tempo recorde, da Lei Federal 12.711/2012.
A famosa Lei de cotas, aprovada pelo Congresso Nacional, no mesmo ano, e
que instituiu a obrigatoriedade da reserva de vagas para estudantes de esco-
las públicas, negros e indígenas, nos vestibulares das instituições federais de
ensino. O decreto Nº 7.824, de 11 de outubro, obrigou a totalidade das institui-
ções a iniciar a implementação ainda em 2012.
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MULTICULTURALISMO E DIVERSIDADE
O entendimento que propomos acerca das ideias de multiculturalismo
e diversidade importam no sentido de repensarmos, ou pelo menos, refletir-
mos sobre, qual educação queremos e como podemos atuar para torná-la mais
adequada às realidades socioculturais de nossa sociedade. Vivemos uma rea-
lidade que indica, a todo instante, mudanças, constituição de novas identida-
des, dúvidas, um novo tempo na qual a ideia de uma identidade única, nacio-
nal, pautada na figura de algum “grande herói”, não é capaz de dar conta da
imensidão de experiências e sujeitos nas suas mais variadas formas, vivências
e expressões culturais.
Portanto, termos como diversidade e multiculturalismo servem para
dialogarmos com este “novo tempo”
e com suas demandas que, nada mais Diversidade: “As educadoras Gomes e
são do que demandas construídas e Silva nos indicam que ‘o trato da diver-
sidade não pode ficar a critério da boa
reivindicadas por grupos sociais. vontade ou da implantação de cada um.
Com base no glossário de Ele deve ser uma competência político-
termos e expressões antirracistas da -pedagógica a ser adquirida pelos profis-
obra Orientações e Ações para a Edu- sionais da educação nos seus processos
formadores, influenciando de maneira
cação das Relações Étnico-Raciais, positiva a relação desses sujeitos com os
editada pela SECADI/MEC, diversi- outros, tanto na escola quanto na vida
dade e multiculturalismo podem ser cotidiana’ (2002, p. 29-30). (…) Afirma
definidos nos seguintes termos, con- Nilma Lino Gomes: ‘Assumir a diversi-
dade cultural significa muito mais do que
forme quadros destacados. um elogio às diferenças. Representa não
Percebemos que a diversidade, somente fazer uma reflexão mais densa
neste caso em especial, ressalta a sobre as particularidades dos grupos
importância de pensarmos os sujei- sociais, mas, também, implementar polí-
ticas públicas, alterar relações de poder,
tos históricos e seus grupos culturais redefinir escolhas, tomar novos rumos e
a partir de um olhar crítico sobre suas questionar a nossa visão de democracia’
vivências. A ideia é compreender os (2003)” (SECADI/MEC, 2005, p. 218).
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Referenciais Bibliográficos
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lei. Das chamadas minorias, observa-se que os acolhidos pelo primeiro texto
da lei foram os “portadores de necessidades especiais”, pensados também pela
primeira vez no sistema educacional brasileiro.
1 “O embate político coloca-se entre o Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública na LDB
(FNDEP), formado por 26 entidades (científicas, sindicais e estudantis, de especialistas de
educação, de secretários estaduais de educação e de dirigentes municipais de educação)
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O texto da Lei Federal 10.639/03 - que nasceu como lei ordinária, mas,
quando sancionada tornou-se lei complementar à Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional - foi assim votado e aprovado. Quando assinada pelo pre-
sidente da república, foram vetados os parágrafos 3º do artigo 26 A e o artigo
79 A.
No ano de 2008, a lei foi alterada para acrescer as populações indígenas
em seu texto e contexto, ficando assim sua redação:
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2 “Esta parcela ou grupo do movimento negro formada por Petronilha Silva - UFSCAR/
CNE, Ivair A. A. dos Santos – MJ/SEDH, Maria Auxiliadora Lopes - MEC, Maria Siqueira
– MINC/Fundação Palmares, Raimundo Miranda - CNE, Jeruse Romão – UNESCO/UNI-
SUL e Zélia Amador de Deus – MDA/INCRA elaborou o Programa para Educação da Pop-
ulação Negra e entregou a comissão de transição do Presidente que estava recém-eleito em
2002, Luis Inácio “Lula” da Silva, as propostas para a expansão da participação da população
negra nos sistemas de ensino que, entre outras coisas, solicitava ao Presidente da República
a inclusão da cultura e da história do povo negro como conteúdo escolar. Petronilha Silva
cita este documento em relatório de prestação de contas ao movimento negro de sua partici-
pação no CNE como um dos documentos mais importantes articulados com a participação
dela” (GATINHO, 2008, p. 102).
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Agora que você leu esse artigo, acredito que já possa compreender um
pouco melhor as trajetórias do movimento negro por educação no Brasil e em
Santa Catarina. Gostaria que você refletisse sobre as mudanças que os movi-
mentos sociais – negros, mulheres, indígenas, necessidades especiais entre
outros - promoveram na educação buscando ver refletidas em seus princípios
a questão de identidade de cada um.
Pensando nos conteúdos de matriz africana e afro-brasileira no currí-
culo, como determina o artigo 26ª da LDB, é importante refletir sobre o por-
quê da necessidade de uma lei para que os conteúdos sobre África, africanos e
seus descendentes pudessem fazer parte do currículo da escola brasileira, se na
sociedade onde essa escola se insere, a população negra é maioria.
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Referenciais Bibliográficos
http://educacao.uniso.br/prod_cientifica/alunos/2009/Gisele_Karin_de_
Moraes.pdf
ARAÚJO, Márcia e SILVA, Geraldo da. Da interdição escolar às ações edu-
cacionais de sucesso: escolas dos movimentos negros e escolas profissionais,
técnicas e tecnológicas. In: ROMÃO, Jeruse (Org.). História da educação do
negro e outras histórias. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e
Diversidade. – Brasília: Ministério da Educação, 2005.
BRASIL. Congresso Nacional. Redação Final do Projeto de Lei n. 1 258 – C
de 1988 “que fixa diretrizes e bases da educação nacional”, Diário Oficial, ano
XLVIII, suplemento ao n. 80, 14 de maio de 1993, Brasília, DF
_______ Ministério da Educação. Diretrizes curriculares nacionais para a edu-
cação das
relações Etnicorraciais e para o ensino de história e cultura afro-brasileira e
africana. Brasília: MEC, [s.d.]. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/
cne/>.
DIAS, Lucimar Rosa. Quantos passos já foram dados? A questão de raça
nas leis educacionais – da LDB de 1961 à Lei 10.639 de 2003. In: ROMÃO,
Jeruse (Org.). História da educação do negro e outras histórias. Secretaria de
Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. – Brasília: Ministério da
Educação, 2005.
GATINHO, Andrio Alves. O Movimento Negro e o processo de elabora-
ção das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações
Étnico–raciais. Belém: UFPA, 2008 (Mestrado).
http://www.ppged.belemvirtual.com.br/arquivos/File/dissertacoes2008/
andrio_gatinho_dissertacao.pdf
GONCALVES, Luiz Alberto Oliveira; SILVA, Petronilha Beatriz Gonçalves
e. Movimento negro e educação. Rev. Bras. Educ., Rio de Janeiro, n. 15,
dez. 2000. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S1413-24782000000300009&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 09
jan. 2014.
GRUPIONI, Luiz Donisete B. A Nova LBD e os INDIOS: a rendição dos
caras-pálidas. Cadernos de Campo, n. 1, 1991, p. 105-114.
http://www.revistas.usp.br/cadernosdecampo/article/download/36780/39502.
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Ainda que seja tarefa de considerável monta, o Estado não está sozinho
na discussão, pelo contrário, é a partir da sociedade civil organizada, pensado-
res, pesquisadores, acadêmicos, ativistas, que a busca do enfrentamento desta
situação tem se verificado atualmente no Brasil. Entre os estudos que nos auxi-
liam nas discussões que aqui propomos, podemos destacar os trabalhos sobre
a Educação para as Relações Étnico-Raciais no Brasil (MUNANGA, 1999,
2005, 2006; GOMES, 2006; PAIXÃO, 2003; CARDOSO, 2008a, 2008b; GON-
ÇALVEZ e SILVA, 2008; CAVALLEIRO, 2001), além de pesquisas de escopo
mais locais, com destaque para os desenvolvidos dentro do Núcleo de Estu-
dos Afro-Brasileiros da Universidade do Estado de Santa Catarina (NEAB/
UDESC). Destacamos também a rica produção do governo federal, a partir
dos Ministérios, principalmente o MEC e suas secretarias, SECADI e SEPPIR.
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penteado, os acessórios que usa, o que carrega ou como o faz, para julgar as
pessoas. E nessa observação entra a cor da pele. Mas, as conclusões que tira-
mos de cada uma dessas características mudam, dependendo de quem faz a
observação.
Nessa perspectiva, o Projeto Cor da Cultura propõe uma reflexão bem
interessante. Em síntese:
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“Ora, se nos informamos e formamos majoritariamente pelo que é emitido pelos sis-
temas midiáticos, o que podemos depreender dos discursos sobre o negro e a mulher
negra, veiculados por programas televisivos e radiofônicos, peças e anúncios publicitá-
rios, jornais impressos e eletrônicos, novelas e congêneres? Olhando se soslaio para a
paisagem midiática brasileira podemos observar um trajeto, pontilhado por estigmas e
estereótipos, que parece se repetir indefinidamente. As malhas verbovisuais que com-
põem a cena intersemiótica (imagens, textos escritos, som, projeções gráficas e diagra-
máticas) posicionam sujeitos e temas nos espaços de representação de modo a fixá-los
em categorias predeterminadas. As imagens contemporâneas têm ligação subterrânea
com imagens de tempos pretéritos. As referências do passado ás vezes parecem desapa-
recer, mas em termos de articulação ganham nova roupagem, permanecem, na maioria
das vezes, como suporte de construção de imagens de negros, índios (o cinema ameri-
cano que o diga), mulheres e outros segmentos vulneráveis” (BORGES, 2012, p. 188).
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Síntese da proposta:
“Por que será que todos os livros que tratam do tema ‘corpo humano’ mostram
exclusivamente corpos brancos? Será que os negros são diferentes por dentro ou
é apenas uma questão de preconceito por parte dos livros? A fim de descobrir se
os brancos diferem anatomicamente dos negros fizemos uma série de radiografias
cujos ‘pacientes’ eram um negro e um branco. Estes raios x foram mostrados para
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pessoas que circulavam num determinado centro cultural e que deveriam identifi-
car a cor das pessoas radiografadas. Adivinha o que eles responderam?
Um rapaz branco disse que ‘não tem como ver a pele da pessoa porque o raio x é
uma fotografia de ossos’. Outro rapaz com a pele bem clara também comentou que
era impossível definir porque ‘a única diferença entre ambas as raças é a melanina’.
Uma moça branca reconheceu que ‘não tem como saber a cor’. Muito bem. Um
jovem branco, no entanto, ponderou que ‘um nariz largo pode ser afro’ diante de
um raio x e houve uma mulher negra que arriscou um palpite: ‘acho que essa chapa
é de uma pessoa branca por causa da mandíbula afilada’.
Dois pulmões, um fígado, um estômago, um coração, a mesma quantidade de ossos.
Tudo que existe no corpo de um branco também pode ser encontrado no corpo de
um negro. Daí a dificuldade das pessoas de identificar, a partir de uma radiografia,
qual a etnia do dono dos ossos fotografados. Esta mesma pesquisa poderia ter sido
feita com amostras de sangue porque as respostas seriam as mesmas. Isso porque
brancos, negros, pardos e até albinos fazem parte de uma única espécie: a humana”.
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“Alguns anúncios pedem que o candidato tenha carro próprio, outros exigem nível supe-
rior. Há os que solicitam domínio do inglês ou experiência comprovada. Antigamente as
pessoas deviam preencher um item importante para concorrer a um posto de trabalho:
a chamada ‘boa aparência’. Essa exigência foi considerada racista, o que torna a empresa
passível de processos. Hoje, muitos empregadores substituíram a ‘boa aparência’ pelo
envio de fotografias. Será que o pedido de fotos dos candidatos é uma atitude inocente
ou uma prova de preconceito racial? Para responderam estas questões, fizemos um jogo
com pessoas comuns nas ruas. Diante das fotografias de cinco brasileiros em busca de
emprego, entre brancos e negros, vamos ver quais foram escolhidas para ocupar as vagas
fictícias, por parecerem representar melhor a empresa também sediada na ficção”.
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vezes repudiados com veemência, isso não impede que versões camufladas e
veladas ou sub-reptícias dessas atitudes sejam comuns, conforme elencadas no
vídeo:
O racismo aparece nas relações de trabalho de forma explícita
e implícita. E muitas vezes os negros não só são discriminados
pelo mercado profissional, mas também vêem caírem sobre seus
ombros a culpa por não terem tido as mesmas oportunidades
educacionais que os brancos. “A sociedade brasileira construiu
ao longo dos séculos uma percepção muito negativa dos povos
de origem africana e a escola tem um papel importantíssimo:
mudar essa imagem, traduzir de outra forma o que é a história
dessa comunidade negra no Brasil”, defende a historiadora Vânia
Sant’anna.
“Uma moça branca escolheu três brancos e dois negros, alegando que o critério
adotado foi ‘simpatia’. Houve um negro que selecionou, majoritariamente, afrodes-
cendentes. ‘No mercado de trabalho seria o inverso. Enquanto não quebrarmos
essa coisa de ‘o branco sabe mais do que o preto’, nunca vamos chegar a um mundo
melhor’, opina. Uma garota loura selecionou três negros entre cinco candidatos um
rapaz afrodescendente deu visível preferência a pessoas da etnia negra.
Nesta pesquisa informal, o público elegeu mais candidatos negros do que brancos,
mas será que esta mesma tendência se repete no cotidiano do mercado de trabalho?
‘Quem é vítima da discriminação, muitas vezes não toma nem conhecimento de
que está sendo discriminado’, rebate o advogado Eloá dos Santos Cruz, ele mesmo
alvo de discriminação racial. A experiência de atriz Daniele Ornelas também indica
que não.
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‘Fui fazer um teste para um filme em São Paulo, depois de conversar com a pro-
dutora pelo telefone. Ela havia ficado super empolgada com meu currículo, tanto
que marcou um encontro. Chegando lá, estou vendo uma pessoa passar de um
lado para o outro. Até que ela se aproximou e perguntou se eu estava procurando
alguém. Quando me apresentei, a primeira reação foi de espanto: ‘ Você é a Daniele?
Nossa! Imaginei você tão diferente, não sabia que você era assim’. Assim negra. ‘A
gente percebe o preconceito velado, lamenta a atriz’.”
Para uma discussão mais completa e efetiva sobre estas questões, busca-
mos abordagens teóricas sobre diversidade e educação para as relações étnico-
-raciais e para o ensino de História e cultura Afro-Brasileira e Africana – Lei
10.639/2003, e destacamos o referencial, abordado pelo MEC, apresentado
na Proposta de Plano Nacional de Implementação das Diretri-
zes Curriculares Nacionais, sobre a temática, em 2008. Para o órgão,
podem-se identificar pelo menos três dessas abordagens. Uma abordagem
possível tem
por base o binômio inclusão/exclusão, que busca incorporar
os excluídos a um modelo instituído de política a partir da
perspectiva socioeconômica, desconsiderando suas identidades
específicas. Em tal abordagem a questão étnico-racial se dilui, e
a diversidade não resulta em revisão das concepções, modelos
e referências das políticas educacionais. (BRASIL, MEC/MJ/
SEPPIR, 2008, p. 23)
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“Ninguém é igual a ninguém. Mas ao longo da vida a gente acaba descobrindo que
tem pessoas parecidas com a gente e outras nem tanto. E é nessa relação de alteri-
dade, no diálogo, no jogo de oposições e aproximações que formamos nossa iden-
tidade. Às vezes a gente acaba pertencendo a este ou aquele grupo por escolha, mas
certas características identitárias têm a ver com o país onde nascemos, a família de
onde viemos, a cultura da qual fazemos parte, a língua que falamos, nosso gênero,
nossa cor, etc.
Diferenças existem. Vão existir sempre. E é bom que existam. O problema é quando
as diferenças servem para produzir preconceitos e desigualdades. É fundamental
que a escola seja um espaço de valorização da identidade e da diversidade. E um
dos passos é romper com a vinculação do negro à escravidão, como se a herança
negra e africana ao Brasil se resumisse à mão de obra. Joaquim Nabuco disse: “Os
negros deram um povo ao Brasil”. É o reconhecimento da função civilizadora dos
negros no Brasil, como explica o escritor e professor Muniz Sodré. É a afirmação
do patrimônio e dos valores civilizatórios afro-brasileiros e, consequentemente, da
nossa humanidade e brasilidade.
Valorizar a identidade étnico racial dos alunos vem sendo um dos objetivos de
uma iniciativa realizada no estado de São Paulo. Um dos desafios enfrentados pelos
professores é a questão da religiosidade. E uma das alternativas foi utilizar a lite-
ratura e a música, assim a questão dos mitos africanos e da ancestralidade pode
ser trabalhada de forma lúdica. A valorização da identidade pode trazer resultados
surpreendentes não só em termos de aprendizado, mas também na forma como o
aluno se coloca diante do mundo.
Gênero, raça, etnia, orientação sexual, origem geográfica, língua, religião, herança
histórica, posicionamento político, comportamento alimentar, time de futebol,
categoria profissional... É, vários aspectos sócio-políticos, históricos e culturais
podem compor a identidade de um indivíduo. E as pessoas, que já não nascem
iguais umas as outras, tornam-se ao longo da vida ainda mais únicas, originais,
diferentes. E viva a diferença!” (Projeto a Cor da Cultura - Programa Nota 10 http://
antigo.acordacultura.org.br/nota10/programa/9)
Referenciais Bibliográficos
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de um governo das condutas era uma das formas de educação dos afrodes-
cendentes que participavam da vida associativa e liam esses jornais, visando
inculcar o respeito à ordem entre os afrodescendentes e, por consequência,
conquistar o respeito dos demais setores da sociedade brasileira.
Os jornais e as sociedades beneficentes de afrodescendentes das primei-
ras décadas do século XX criaram uma estrutura de comunicação entre si, que
fazia com que se agisse através de um entendimento, também proporcionou
uma ação comunicativa, que extrapolava as funções e conteúdo da comunica-
ção cotidiana, imprimindo a vontade do grupo. Isto significa que construíram
uma espécie de esfera pública letrada de afrodescendentes.
A discriminação não era combatida somente através do governo de con-
dutas, a esfera pública letrada de afrodescendente criou diversos espaços edu-
cativos. A criação de salas de leituras, bibliotecas, cursos de instrução, escolas
foram algumas iniciativas dessas pessoas que tentavam retirar as populações
afrodescendentes da condição subalterna na sociedade brasileira. Os avanços
econômicos das colônias estrangeiras fez confirmar esse período histórico
como momento de oportunidades, a ação, logo, tinha que se inspirar nas colô-
nias estrangeiras, como é apontado em O Alfinete.
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para agregar valor à renda dessas pessoas por meio do acesso à educação supe-
rior.
Entretanto, outras políticas afirmativas foram as sanções das Leis 10.639
em 2003 e, a sua modificação, 11.645 em 2008, bem como as Diretrizes Curri-
culares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino
de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana de 2004. Essas medidas foram
criadas para lidar com os problemas na educação básica, grau de escolaridade
em que existe uma grande taxa de evasão das populações não brancas.
Militantes e pesquisadores preocupados com a saída prematura de estu-
dantes, notaram que uma justificativa repetitiva era a falta da sensação de per-
tencimento aos valores da escola. Isso ocorre porque os conteúdos ensinados
causam constrangimentos nos estudantes não brancos, associados somente
a escravos, índios dizimados na colonização, pessoas preguiçosas, que não
contribuíram positiva e intelectualmente para a sociedade brasileira atual. O
ensino universalista eurocêntrico transforma as populações de origem afri-
cana e indígenas em meros penduricalhos na história do Brasil.
As leis 10.639/03 e 11.645/08 e as Diretrizes exigem a mudança de foco
dessa história. Garantem que as populações indígenas e de origem africana
tenham espaço de estudo, a partir de dinâmicas próprias e expondo suas atu-
ações enquanto sujeitos na formação do Brasil e do mundo. Atualmente livros
didáticos reformularam seus conteúdos para se adequarem às leis, cursos de
formação de professores são oferecidos por secretarias de educação e diversas
linhas de financiamento são abertas para que as Leis sejam implementadas,
sendo problema a formação inicial. Mesmo com diversos concursos criados
para a disciplina de História da África nas universidades públicas, as leis não
exigem que esta disciplina seja obrigatória no ensino superior. Acabam vol-
tando-se mais ao ensino básico.
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UM POUCO DE HISTÓRIA
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Fonte: http://odia.ig.com.br/portal/rio/integrantes-de-movimento-feminista-protestam-na-
-candel%C3%A1ria-1.558893 Acessado 23.02.14.
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Fonte: http://www.geledes.org.br/areas-de-atuacao/questao-racial/violencia-racial/12321-
-bahia-lidera-numero-de-crimes-contra-jovens-e-negros-no-brasil. Acessado em 23.02.2014.
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DESCOBRINDO A DIFERENÇA
Racialismo
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Figura 3 - Redenção de Cã
Fonte: Redenção de Cã, Modesto Brocos y Gómez, óleo sobre tela, 200,7 x 166,4, 1895,
Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro.
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Fonte: http://www.gazetadopovo.com.br/blogs/posse-do-obama/vitoria-nas-urnas-obama-e-
-eleito-o-44-o-presidente-dos-eua/. Acessado em 21.02.2014.
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Fonte: http://escolamariacarmelita.blogspot.com.br/2010_11_01_archive.html
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Formação de Professores: produção e difusão de conteúdos sobre história e cultura afro-brasileira e africana
11 Disponível em http://agencia.ipea.gov.br/images/stories/PDFs/100408_relatorio_
odm%20.pdf. Acessado 02.03.2014.
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AÇÕES AFIRMATIVAS
12 Fonte:http://noticias.terra.com.br/educacao/noticias/0,,OI4376799-EI8266,00-Des
igualdade+racial+persiste+apesar+de+melhorias+na+educacao.html . Acessado
23.02.2014
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Fonte: http://wap.portaldostrabalhadores.com.br/news-pt-br/2012-04-25/movimento-
-negro-comemora-legalizacao-de-cotas-nas-universidades/ Acessado 23.02.14.
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OS DESAFIOS DA IGUALDADE...
13 http://exame.abril.com.br/economia/noticias/os-grandes-numeros-da-classe-
media-brasileira#2. Acessado em 23.02.2014.
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Referenciais Bibliográficos
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Não podemos negar que várias regiões da África enfrentam graves pro-
blemas, incluindo os indicados no vídeo. Mas, muitas vezes, temos acesso,
através da televisão, jornais ou revistas, por exemplo, apenas sobre os proble-
mas encontrados por aquelas populações. Nessa imagem, há apenas a savana,
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DIVERSIDADE E MULTICULTURALISMO
“Ao analisar um livro que aborda a questão da africanidade (como tema, autoria e
foco), o mediador de leitura deve estar atento a alguns aspectos que discutiremos
ao longo do nosso estudo. Houve um cuidado do editor em informar de onde
veio a história contada? É um reconto ou adaptação de história proveniente da
África? Ou é uma história inspirada nas tantas culturas desse continente? O que
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caracteriza a obra com abordagem africana? O autor é africano? Vale a pena tra-
balhar a obra com os alunos? [...] Um passo importante é verificar as informações
contidas na obra, caso elas se refiram a um povo ou comunidade especifica. Elas
podem ser reconhecidas como verdadeiras pelo ou pela comunidade a que se refe-
rem? [...]
Há livros, por exemplo, que incluem elementos (artesanatos, bichos) de outras cul-
turas e nações em história africanas, equivocadamente. Outros que tratam o negro
como único representante étnico da África. Será? Outros que tratam o candomblé
como uma religião dos africanos. Por outro lado, há livros que enriquecem o texto
com palavras e expressões das diversas línguas faladas na África. Alguns têm o cui-
dado de trazer um glossário, para facilitar o entendimento. Há de se imaginar que,
mesmo com o português falado no Brasil. [...]
Cabe ressaltar que o conhecimento das diversidades – étnicas, sociais, culturais – é
de relevância a todas as crianças. Para tanto, o professor deve estar seguro quanto
ao objetivo do seu trabalho com os alunos. E deve conhecer a diversidade caracte-
rística da África. [...] Os livros escolhidos para um trabalho em sala de aula devem
ser compatíveis como os interesses, a bagagem pessoal e a capacidade cognitiva
dos alunos. As crianças gostam de se emocionar com a história, torcer pelo sucesso
ou fracasso de alguma personagem e, dessa maneira, enriquecer sua própria reali-
dade”. (MACHADO, 2012, p. 21-22)
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“Os rios são os meios de comunicação mais importantes do continente. Entre eles
se destacam o Nilo, que nasce na região do lago Vitória e deságua no Mediterrâneo,
o Senegal, o Gâmbia, o Volta e Níger, que nascem nas montanhas da Fula Jalom e
desaguam no oceano Atlântico, em pontos diferentes da costa ocidental africana;
o Congo e o Cuanza, que nascem no interior de Angola e no coração da floresta
equatorial central e desaguam no oceano Atlântico, e finalmente, o Limpopo e o
Zambeze, no sudoeste do continente, que desaguam no oceano Índico, onde hoje
é Moçambique. São referências importantes os grandes lagos da região centro-
-oriental. A grande faixa do Saara divide o continente. Ali, onde um dia existiram
lagos, existem hoje algumas minas de sal”. (SOUZA, 2005, p. 11)
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FAUNA E FLORA
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“As riquezas vegetais tiveram importância capital, também, no que concerne à pro-
visão de utensílios e indumentária e à moradia. A utilização de instrumentos de
madeira foi comum em quase toda a África, inclusive quando à construção de
cercas, estacas e armadilhas de caça. Usou-se casca de árvores para confecção de
vestimentas, recipientes e cordas, além da construção de abrigos que substituíram
as cavernas como habitação”. (BENJAMIN, 2006, p. 14)
Mas entre toda essa riqueza, uma espécie surge por especial interesse.
Espalhando-se por todo o continente com seu porte e aparência inconfundí-
vel, o baobá apresenta-se como um bom exemplo de um dos elos para toda a
África.
“Por seu imenso porte e longevidade, o baobá é fonte de inspiração para diversi-
dades lendas, ritos e poemas. Sob sua copa – semelhante a raízes – muitas comu-
nidades se reúnem para ouvir histórias, conselhos e ensinamentos dos anciões
ou de griôs, para os quais seu tronco pode servir de túmulo. O baobá – também
conhecido como embondeiro ou abansônia – é encontrado em quase todo o con-
tinente africano ao sul do Saara e serve de elo entre povos de línguas, hábitos, reli-
giões e culturas tão diversos quanto os nomes que lhe emprestam. Além de ser tida
como um símbolo do continente, essa árvore é emblema nacional do Senegal. E o
embondeiro é considerado um símbolo de Angola”. (MACHADO, 2012, p. 177)
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A VARIEDADE DE POVOS
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GRUPOS LINGUÍSTICOS
“Para resumir esse retrato da África, podemos enxergá-la a partir dos seus quatro
grandes grupos linguísticos: afro-asiático, níger-congo, Nilo-saariano e cóisan. A
região do Saara e do Sael é habitada por povos falantes de língua afro-asiáticas,
formadas pelas misturas entre os povos locais e as levas de migrantes do Oriente
Médio. As regiões ao sul do Sael falavam a língua níger-congo, tronco que se sub-
divide em cinco outros grupos. Dois deles, as línguas banto e zande, se ligam a
expansão banto. Os outros quatro grupos existentes na África ocidental são o
kwa, ao qual pertencem línguas axante, ioruba, ibo, igala e falados nas regiões de
floresta e savana que estendem da costa atlântica até o Sael; o mande, falado na
região do alto e médio Níger; o atlântico ocidental, que abrange as línguas jalofo e
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fula faladas na região do rio Senegal; e o voltaico, ao qual pertence a língua mossi,
falada na região do alto rio Volta. Os caçadores e coletores que não se misturam aos
bantos espalhados pela África central se fixaram no sudoeste do continente e são
falantes de línguas cóisan. Os falantes de línguas Nilo saarianas, eram nômades do
Saara e do Sael”. (SOUZA, 2005, p. 21)
“Algumas sociedades africanas formaram grandes reinos, como Egito, o Mali, Son-
gai, Oió, Axante e Daomé. Outras eram agrupamentos muito pequenos de pessoas
que caçavam e coletavam o que a natureza oferecia ou plantavam o suficiente para
o sustento da família e do grupo. Mas todas, das mais simples às mais complexas,
se organizavam a partir da fidelidade ao chefe e das relações de parentesco. Assim,
todos ficavam unidos pela autoridade de um dos membros do grupo, geralmente
o mais velho.
Nas aldeias, que eram a forma mais comum de os grupos se organizarem, havia
algumas famílias, cada uma com seu chefe, sendo todos subordinados ao chefe
da aldeia. Se a forma básica de organização dos grupos girava em torno das rela-
ções de parentesco, a orientação de tudo na vida era dada pelo sobrenatural: como
os espíritos da natureza, com antepassados mortos e heróis míticos, que muitos
grupos consideravam os fundadores de suas sociedades. Todo conhecimento dos
homens vinha dos mais velhos e dos ancestrais, que mesmo depois de mortos con-
tinuavam influenciando a vida.
Várias aldeias podiam estar articuladas umas com as outras, formando uma con-
federação de aldeias, que prestavam obediência a um conselho de chefes. Além de
aldeias, das confederações, dos reinos e grupos nômades, havia sociedades orga-
nizadas em cidades, mas que não chegavam a formar um reino. Assim muitos são
exemplos de organização política e social, cabendo um estudo particular de cada
grupo, por exemplo os reinos do Sudão ocidental, os reinos Iorubás e Daomeanos,
o reino Monomotapa”. (SOUZA, 2006, p. 3)
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Formação de Professores: produção e difusão de conteúdos sobre história e cultura afro-brasileira e africana
FAMÍLIA
A ORALIDADE
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livro Homens da África, o escritor Ahmadou Kourouma nos diz que a figura do
griô surgiu no Mali, na Idade Média, criada pela antiga civilização mandiga, da
qual se originaram diversos grupos étnico-linguísticos. Nesse antigo reino, cada
príncipe tinha o seu griô, que funcionava como espécie de conselheiro particular.
[...]
Considerados verdadeiras bibliotecas vivas, esses homens e mulheres, cuja pro-
fissão é hereditária, são capazes de narrar, com emoções e riqueza de detalhes, os
feitos de seu protetor e de seus ancestrais, de maneira a louvar a memória da gene-
alogia dos clãs. Devido à sua importância, em casos de guerra, os griôs não podiam
ser presos ou mortos. Atualmente, só os ricos têm seus griôs particulares. Mas há
também os que, sem pertencer a ninguém, circulam livremente entre as aldeias,
anunciam novidades de interesse geral para as pessoas, mediam conflitos, montam
espetáculos em praças públicas e sobretudo, contam histórias que tragam algum
ensinamento”. (MACHADO, 2012, p. 130)
“Acolhidos como aqueles que mais receberam a sabedoria dos ancestrais, os velhos
têm um papel relevante na organização social do grupo. Cabe a eles a transmissão
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Formação de Professores: produção e difusão de conteúdos sobre história e cultura afro-brasileira e africana
de conhecimento aos mais jovens, e sua experiência e saber de vida devem ser
tomados como exemplo. Para ressaltar a importância do papel dos anciões, o
escritor Ahmadou Hampâté Bâ cunhou uma frase que se tornou famosa, quase
um provérbio: ‘Na África, cada velho que morre é uma biblioteca que se queima’”.
(MACHADO, 2012, p. 146)
RELIGIOSIDADES
“Os povos yorubá, da região da África onde hoje se situam Benim, Nigéria e Togo,
com nomenclaturas diferentes, cultuavam os orixás, divindades espirituais presen-
tes na criação do mundo. [...] Em algumas cidades da Nigéria, como Abeokuta,
cultuava-se Iemanjá, e em outras, como Oyó, os cultos eram dedicados a Xangô.
Por isso, a manifestação religiosa difundida pelo Brasil e conhecida como candom-
blé é constituída de rituais, símbolos e especificidades que mudam de acordo com
o grupo que lhe deu origem”. (MACHADO, 2012, p. 151)
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Formação de Professores: produção e difusão de conteúdos sobre história e cultura afro-brasileira e africana
Para saber mais: PRANDI, Reginaldo. Ifá, O Adivinho. São Paulo: Cia das Letri-
nhas, 2002.
Ou acesse: http://antigo.acordacultura.org.br/livros/content/if%C3%A1-o-adivi-
nho-
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Formação de Professores: produção e difusão de conteúdos sobre história e cultura afro-brasileira e africana
“Para muitos povos africanos, o pilar que sustenta o equilíbrio de forças dentro
de uma comunidade - ou seja, a harmonia - é a ancestralidade. Assim, a arte afri-
cana visa assegurar a harmonia da comunidade, a partir do respeito aos ances-
trais. Quando essa harmonia é rompida, os membros da comunidade costumam
consultar seus sacerdotes ou curandeiros, em busca de uma explicação para os
infortúnios, doenças, pragas etc. Para expulsar as forças malignas, os sacerdotes ou
curandeiros utilizam, além da palavra, alguns objetos, como esculturas e máscaras,
e símbolos gráficos, como pinturas corporais, tatuagens e nas fachadas das casas.
Algumas esculturas, por exemplo, servem para proteger os lares, ao passo que
algumas máscaras, geralmente com forma de animais, são usadas para sensibilizar
os espíritos da natureza, para que protejam plantações e assegurem a fertilidade.
Devido à sua importância, o processo de criação desses objetos implica rituais e
saberes específicos, como conhecer os segredos de árvores e plantas, bem como a
técnica de entalhes. Depois de prontas, as máscaras e esculturas precisam ser inves-
tidas pelo sacerdote, por meio de orações ou com o acréscimo de novos acessórios,
adornos e símbolos. Isso talvez explique o fato de algumas esculturas em madeira
terem sua decoração modificada, às vezes mais de uma vez, com sementes, contas,
pedacinhos de vidro”. (MACHADO, 2012, p. 159)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Referenciais Bibliográficos
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SIMÃO, Maristela. “Lá vem o dia a dia, lá vem a Virge Maria. Agora e na
Hora de Nossa Morte”: A Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e São
Benedito dos Homens Pretos, em Desterro (1860-1880). Casa Aberta: Itajaí,
2008.
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Vídeo sugerido:
- A África antes do século XV – História,
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organiza seus estudos sobre esse tema em três grupos: A África do Nordeste,
os Estados Sudaneses e os Estados das Savanas meridionais.
1. A ÁFRICA DO NORDESTE
1.1 Egito
Segundo José Rivair Macedo, o
Egito localiza-se no nordeste da África, Ao longo do Nilo, via natural da
passagem entre a África mediter-
entre o deserto da Líbia e o Mar Verme- rânea e os países ao sul, as relações
lho, sendo uma das mais antigas civili- eram visivelmente antigas. Mas
zações da humanidade. As inundações até onde no sul, e antigas desde
anuais do Nilo tornaram a região fértil. quando? (M’BOKOLO, 2003, p. 31)
Politicamente unificada cerca de três
milênios a.C., formando um “Estado” de caráter teocrático, foi governado por
trinta e uma dinastias de Faraós. Suas capitais foram: Tebas, Mênfis e Saís. Seu
território marca a história da humanidade com grandes monumentos e teste-
munhos arquitetônicos e estéticos, como é o caso das pirâmides, dos templos
e dos palácios pomposos e colossais, mas também das construções menores,
que possuem características de relevo e pinturas também peculiares. Nesta
área desenvolveram-se também conhecimentos acerca de sistemas de irriga-
ção para aproveitamento das águas do Nilo, astronomia, estudos matemáticos
e médicos (MACEDO, 2013, p. 24-25).
Algumas tensões registram as disputas em torno da memória e da histó-
ria do Egito. Nas palavras de Elikia M’ Bokolo,
Há já cerca de duzentos anos que a questão das relações entre
Egipto faraónico e a África negra se tornou um dos problemas
mais tratados na historiografia africana e um dos pontos
de fixação privilegiados pela memória negro-africana. Mas
contrariamente às ideias difundidas na opinião corrente, não
se trata apenas de saber se estes egípcios eram negros, questão
que se podia de resto decompor indeterminadamente: quais
egípcios (função de critérios sócio-político ou de localizações
geográficas) e em que épocas? (M’BOKOLO, 2003. p. 53).
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Formação de Professores: produção e difusão de conteúdos sobre história e cultura afro-brasileira e africana
1.3 Meroé
Meroé era um reino africano muito bem organizado. Apresenta algu-
mas características marcantes no que se referem a reinos africanos. A maneira
de designar o soberano, bem como a natureza da realeza e o modo de assegu-
rar o controle do poder real.
Meroé foi assim o primeiro reino assentado nos princípios
da realeza sagrada: identificação da integridade física do rei
e da integridade do reino, assimilação da beleza física e das
qualidades morais do rei a propriedade e a glória do reino;
realização de cerimônias rituais reatualizando a coroação do
rei e destinadas a rejuvenescer o rei e o seu reino; organização
de uma execução ritual, mais frequentemente sob a forma de
suicídio, se estas prescrições não fossem respeitadas ou se o reino
acumulasse catástrofes ou todas as espécies de pragas. [...] A
posição do reino e seus recursos próprios fizeram de Meroé uma
das placas giratórias do negócio internacional na antiguidade.
(M’BOKOLO, 2003. p. 83)
Do primeiro ao século III d. C o reino entrou em declínio, “consequên-
cia simultânea da evolução do mundo mediterrâneo e da audácia dos povos
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1.5 Berberes
Os habitantes do Norte da Vídeo sugerido:
África - onde se situa a Líbia, a
- Os reinos perdidos da África – O reino
Tunísia, a Argélia e o Marrocos berbere de Marrocos
-, eram conhecidos como Berbe- Disponível em: youtu.be/EpTr9Op0Eik
res, recebendo forte influência
árabe desde o século VII, pelo menos. “Mas Berbere também é o nome dado a
uma variedade de povos nômades, que viviam na região do deserto, que cria-
vam camelos e conheciam os oásis e poços de água, como os Azenegues e
Tuaregues”. (SOUZA, 2008. p. 14)
2. OS ESTADOS SUDANESES
Antes de os europeus toma- Vídeo sugerido:
rem conhecimento da África sub- - Os reinos perdidos da África – África
Ocidental
saariana, ou também chamada
África Negra, existiram, nessa Disponível em: youtu.be/AdYItZ5XFPw
região, sociedades que merecem
nossa atenção. As principais se localizavam na região que chamamos de delta
interior do Rio Níger (SOUZA, 2006, p. 34).
2.1 Mali
O primeiro império da África subsaariana sobre o qual se tem notícias
mais precisas é o Mali. O antigo Mali foi criado por povos da região situada
entre o rio Senegal e o rio Níger. Nele Tombuctu, Jené e Gaô foram impor-
tantes cidades, centros de troca e de concentração de pessoas, permitida por
uma rede de rios que fertilizava as terras e facilitava o transporte na região
da curva do Niger. Segundo Laura de Mello e Souza, vestígios arqueológicos
indicam que desde cerca de 800 d. C. havia ali cidades e formas de comércio. A
população do Mali era composta de várias etnias, sendo os mandingas (malin-
quês ou também conhecidos por manden) a principal delas. “No século XIV o
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império era composto de povos da região do Rio Senegal, como Jalofos, Sere-
res, Tucolores e Fulas; das cabeceiras do Níger, como Bambaras e Soniquês;
a leste subjugou os Songais e aproximou-se da terra dos Hauçás” (SOUZA,
2006. p. 34-35). No entanto, apesar de seu poderio e dos territórios extensos
possuídos, a partir do século XV o império sentiu-se enfraquecido, declinando
com dificuldades de manter seus domínios. Novos povos disputando espaço e
poder político contribuíram para o acirramento de disputas e para o enfraque-
cimento do Mali (MACEDO, 2013, p. 58).
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2.3 Songai
No final do século XV Son-
gai passou a ser o principal estado De todas as cidades, Tombuctu desta-
cou-se como a mais brilhante devido
do médio Níger. A cidade Gao era ao renome dos sábios que ensinavam
importante centro comercial, polí- nas escolas corânicas. Para lá se diri-
tico e econômico. O império Son- giam homens com boa formação em
gai formou-se por um processo de teologia, astronomia, matemática,
expansão militar, destacando-se literatura e poesia, originários do pró-
prio Sudão ou do Marrocos e do Egito.
Sonni Ali como um grande conquis- Foram esses eruditos, entre os quais al-
tador e estrategista, tomando Tom- -Sadi e Mahmud Kati, que redigiram
buctu e Djenné, além de outras cida- as primeiras crônicas com os relatos
des. O império se expandiu para o históricos dos povos da bacia do Níger
leste, dominando as cidades Hauçás, nos séculos XVI e XVII. O mais influente
mantendo-se como o estado mais dos sábios de Tombuctu chamava-se
Ahmed Baba, viveu entre 1556 e 1627,
forte do Sudão ocidental até 1591, escreveu cerca de livros e se mantém até
quando foi invadido por exércitos hoje como referência de autoridade para
vindos do Marrocos. os chefes religiosos locais”. (MACEDO,
Construções e monumen- 2013, p. 61)
tos construídos ao longo dos sécu-
los foram destruídos por povos que invadiram a região. Mesquitas, escolas e
bibliotecas foram destruídas, os sábios deportados, as estruturas de mando
e de justiça foram arrasadas. A urbanização e o comércio “cederam espaço
para as atividades agrícolas e de pastoreio, as religiões tradicionais voltaram a
florescer e o islã, que se alimentava das caravanas que atravessavam o deserto,
levando e trazendo, além de mercadorias, peregrinos e especialistas em teolo-
gia, passou para segundo plano” (SOUZA, 2006, p. 34-35).
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3.1 Congo
Na margem meridional do baixo Rio Congo, existiu um reino conhe-
cido por sua influência sobre os povos da região, pelos relatos feitos por euro-
peus que conheceram este território e/ou que nele moraram. Estes, além de
suas observações, registraram a história oral dos povos locais.
O reino do Congo se formou a partir da mistura, por meio
de casamentos de uma elite tradicional com uma elite nova,
descendente dos estrangeiros que vieram do outro lado do Rio.
Isso ocorreu no início do século XV, e quando os portugueses a
ele chegaram (o primeiro contato se deu em 1483) encontraram
uma sociedade hierarquizada. Com aglomerados populacionais
que funcionavam como capitais regionais e uma capital central na
qual o Mani Congo, como Obá de Benin e muitos outros chefes
de grupos diversos, vivia em construções grandiosas, cercado de
mulheres e filhos, conselheiros, escravos e ritos. (SOUZA, 2006,
p. 38-40)
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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A complexidade do con-
tinente africano, no entanto, Vídeo sugerido:
necessita ser compreendido África: passado e presente (conferência profe-
em toda sua extensão. Nossa rida por Alberto da Costa e Silva)
visão daquele espaço muitas Disponível em: youtu.be/gJVnA8Va1is
vezes responde mais a ques-
tões políticas que geográficas ou demográficas.
A África vive uma tripla condição restritiva: prisioneira de um
passado inventado por outros, amarrada a um presente imposto
pelo exterior e, ainda, refém de metas que lhe foram construídas
por instituições internacionais que comandam a economia. A
esses mal entendidos se somou outra armadilha: a assimilação
da identidade por razões de raça. Alguns africanos morderam
essa isca. A afirmação afrocentrista sofre, afinal, do mesmo erro
básico do racismo branco: acreditar que os africanos são uma
coisa simples, uma categoria uniforme, capaz de ser reduzida
a uma cor de pele. Ambos os racismos partilham do mesmo
equívoco básico. Ambos se entreajudaram numa ação redutora
e simplificadora da enorme diversidade e complexidade do
continente. Ambos sugerem que o ‘ser africano’ não deriva da
história, mas da genética. E no lugar da cultura tomou posse a
biologia. (COUTO, 2005. p. 11).
Referenciais Bibliográficos
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PORTUGAL
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ESCRAVIDÃO NA ÁFRICA
Falar de escravidão em solo africano é algo difícil, porque o continente
é muitas vezes tratado como local de escravos e, consequentemente, africanos
se tornam sinônimos de escravos. Entretanto, escravidão é uma instituição
antiga, presente na vida de vários povos em diferentes contextos históricos.
Não podemos, então, limitar essa experiência como algo somente africano
(LOVEJOY, 2002, p. 55). Além disso, nas sociedades africanas nem sempre
houve o que podemos chamar de escravidão, pelo menos não como definida
pela historiografia europeia. As práticas de escravização foram transformadas
com a entrada dos europeus no comércio de pessoas.
Carlos Serrano e Maurício Waldman dizem que, numa tentativa de
“minimizar o papel pioneiro do mundo mercantil em expansão nos eventos
brutalizantes que gerenciaram um processo de transmigração compulsório de
enorme contingente humano”, alguns estudos focam somente na cumplicidade
de chefes e reis africanos, considerando que sem ela não seria possível lotar os
navios de escravos para o restante do mundo (2008, p. 161). A cumplicidade
não é negada pelos autores, mas acreditam que apresentar as transformações
do sistema é importante para compreender as conexões comerciais, relações
de poder e as dinâmicas das sociedades africanas.
Numa tentativa de colocar os africanos como agentes da formação do
mundo atlântico e demonstrar as conexões da escravização com a cultura afri-
cana, John Thornton aponta que “não se deve aceitar a teoria de que eles (mer-
cadores ou líderes políticos africanos) foram compelidos a participar sobre
coerção ou a tomar decisões irracionais” (THORNTON, 2004, p.124). Ainda,
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O MUNDO PÓS-GUERRA
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A GUERRA FRIA
A CONFERÊNCIA DE BANDUNG
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O PAN-AFRICANISMO
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por um advogado de Trinidad, Sylvester Willians, que levantava sua voz con-
tra a expropriação de terras pelos europeus na África do Sul e reivindicava o
direito dos negros a sua própria identidade.
A partir desta contextura começa a se disseminar a ideia de uma consci-
ência africana, e o movimento foi se configurando em uma corrente crítica do
racismo e do colonialismo, pregando a libertação e reabilitação das civilizações
africanas, da dignidade do homem negro, o retorno à África e a unificação
dos africanos em todo o mundo. Na Jamaica, Marcus Mosiah Garvey funda a
Associação Universal para o Progresso dos Negros, unida em torno do lema
“África para os africanos”.
Em 1919, acontece o primeiro Congresso Pan-Africano em Paris, sob
a liderança de Willian Edward Brurghardt Du Bois, um dos intelectuais com
grande influência sobre o movimento. Outros congressos se seguiram em
1921, 1927, e em 1945. Este último foi realizado em Manchester, e se caracte-
riza por ser mais incisivo do que os anteriores, reivindicando independência
para os povos da África. Aliás, o manifesto aprovado nesta conferência resume
bem este objetivo: “Resolvemos ser livres: povos colonizados e subjugados do
mundo inteiro, uni-vos”.
Desse modo, desde a data do congresso tais projetos se fortaleceram,
sendo adotados por vários políticos e intelectuais que viviam em território
africano, futuros líderes de uma África independente. Entre esses novos líde-
res, destacaram-se: Jomo Kenyatta (Quênia), Peter Abrahams (África do Sul),
Hailé Sellasié (Etiópia), Namdi Azikiwe (Nigéria), Julius Nyerere (Tanzânia),
Kenneth Kaunda (Zâmbia) e Kwame Nkrumah (Gana).
AS INDEPENDÊNCIAS AFRICANAS
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DESAFIOS
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cinco mil estudantes, deixou 600 pessoas mortas. Naqueles anos, Steve Biko,
idealizador do movimento de Consciência Negra foi preso e assassinado sob
tortura.
Diante da pressão de muitos países, governo e sociedade civil, além da
ampliação da resistência negra, o Regime do Apartheid libertou Nelson Man-
dela e este, coordenou uma difícil transição até sua eleição para presidente da
república em 1994.
O TEMPO PRESENTE...
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Referenciais Bibliográficos
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Claudia Mortari
Fábio Amorim Vieira
Este capítulo aborda alguns aspectos acerca das experiências das popu-
lações de origem africana no Brasil, no período compreendido entre os séculos
XVI ao XIX, visando apontar a diversidade de vivências no tocante a questões
que envolvem o cativeiro, as identidades, as solidariedades, a religiosidade e
as resistências. Evidentemente, toda produção que se propõe a discutir sobre
essas temáticas acaba por priorizar algumas questões em detrimento de tantas
outras e, por isso, é preciso considerar que para o escopo deste texto abor-
daremos apenas alguns aspectos que consideramos pertinentes ao ensino da
temática em sala de aula.
O período a se tratar é caracterizado por diferentes aspectos políticos,
administrativos, sociais e culturais que possuem suas especificidades: a cha-
mada América Portuguesa, quando o Brasil constituía-se enquanto Colônia
de Portugal, seguida da posterior condição de Estado Imperial. No entanto,
há algo comum relativo a todo este período: a escravização de africanos e seus
descendentes durante quatro séculos de história brasileira.
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“Tratado Proposto a Manuel da Silva Ferreira pelos seus escravos durante o tempo
em que se conservaram levantados (c.1789).
Meu senhor, nós queremos paz e não queremos guerra; se meu senhor também
quiser nossa paz há de ser nessa conformidade, se quiser estar pelo que nós qui-
sermos saber.
Em cada semana nos há de dar os dias de sexta-feira e de sábado para trabalhar-
mos para nós não tirando um destes dias por causa de dia santo.
Para podermos viver nos há de dar rede, tarrafa e canoas.
Não nos há de obrigar a fazer camboas, nem a mariscar, e quando quiser fazer
camboas e mariscar mandes os seus pretos Minas.
Para o seu sustento tenha lancha de pescaria ou canoas do alto, e quando quiser
comer mariscos mande os seus pretos Minas.
Faça uma barca grande para quando for para Bahia nós metermos as nossas cargas
para não pegarmos fretes.
Na planta de mandioca, os homens queremos que só tenham tarefas de duas mãos
e meia e as mulheres de duas mãos.
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“Em que medida, pelo menos no caso da Corte, foram os movimentos dos pró-
prios negros que instituíram esta cidade onde as distinções entre livres pobres e
escravas se desmanchavam lentamente? (...) o pardo Bráulio, escravo do Barão de
Três Ilhas, fugiu de uma fazenda em Valença e conseguiu alcançar a Corte. Passou
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então a se chamar Braz, pardo livre, carpinteiro por profissão. Ele chegou a morar
na Rua Estreita de São Joaquim por seis meses antes de ser detido – ‘por suspeito
de ser escravo’ – ao procurar tomar um vapor de volta para a Bahia, sua terra Natal.
(...). O preto Serafim (...) ao relatar sua fuga de uma fazenda da Província de Minas
para a Corte, contou que viajara sempre a noite, repousando ‘ora numa ora noutra
fazenda, com escravos e ora no mato’. Os escravos, ‘seus conhecidos e até desconhe-
cidos’, lhe davam os mantimentos necessários para a continuação da viagem. Ou
seja, durante a fuga pelas áreas rurais, Serafim tomou todo o cuidado para que não
se tornasse suspeito ou fosse reconhecido como escravo. Na Corte, o preto viveu
pelo menos um ano, talvez até três anos – ele declarava não saber calcular o tempo
–, e foi preso apenas porque se envolveu numa briga com um cocheiro português
e um praça de polícia em janeiro de 1884. As autoridades policiais e judiciárias
só ficaram sabendo da condição de cativo de Serafim a partir das declarações do
próprio preto. Podemos lembrar ainda de negros libertos condicionalmente, como
Desidério e Cristina (...). Vivendo uma situação ambígua, não sendo perfeitamente
livres nem escravos, estes negros pautaram sua conduta na tentativa de se tornarem
livres de fato – o curador de Cristina explicou que ela praticava ‘fatos de plena liber-
dade’, que no caso eram ‘viver só’ e não pagar jornal” (CHALHOUB, 1990, p. 216).
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por mãe e filho; e famílias extensas, formadas por pai, mãe e avós. Nos regis-
tros de batismo, as crianças nascidas entre casais unidos sob os preceitos cató-
licos do matrimônio eram consideradas legítimas; as nascidas de uniões con-
sensuais, isto é, do casal unido, mas sem a benção da Igreja, eram naturais; e,
finalmente, as crianças nascidas de mães solteiras eram tidas como ilegítimas
(VENÂNCIO, 1999).
O casamento de escravos, pela doutrina da Igreja, estava previsto nas
Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia de 1720, que estabelecia, de
acordo com “o direito divino e humano”, que os escravos poderiam se casar
com pessoas cativas ou livres e seus senhores não poderiam impedir o matri-
mônio “nem o uso dele em tempo e lugar conveniente, nem por esse respeito
os podem tratar pior, nem vender para outros lugares remotos, para onde o
outro, por ser cativo, ou por ter outro justo impedimento o não possa seguir”
(SILVA, 1998, p. 188).
Mesmo com o estabelecimento deste preceito católico e uma pressão
fervorosa por parte das autoridades da igreja para que senhores incentivassem
o casamento entre seus escravizados, o reduzido número de crianças legítimas
de africanos e afrodescendentes escravos, em relação ao percentual de filhos
ilegítimos de mães solteiras, evidencia que essa prática não foi recorrente.
A explicação para este fato, segundo a historiografia, é a de que os
senhores não incentivam o casamento entre seus escravos, pois tal união res-
tringiria seus direitos enquanto proprietários. Em tese, os cativos deveriam
escolher seus parceiros de vida dentre aqueles e aquelas disponíveis na pro-
priedade onde viviam, o que, no caso de pequenas propriedades, poderia ser
dificultado, ao contrário das maiores. Estes limites impostos teriam resultado
em uma tendência à endogamia e numa expressiva presença de famílias nas
propriedades maiores, visto haver maiores chances de se encontrar parceiros
(SLENES, 1987, p. 217-227; MOTTA, 1999).
Se é legítimo considerar a interferência dos senhores sobre o destino
de suas propriedades, o que não poderia ser diferente numa sociedade escra-
vista, por outro lado é possível que as próprias populações de origem africanas
escravizadas, em especial os africanos, não tenham buscado estabelecer seus
vínculos familiares a partir de preceitos católicos. Nesta perspectiva, o prin-
cípio de análise se amplia na medida em que se considera que os mesmos,
em determinados momentos, fizeram escolhas no campo das possibilidades
existentes, e essas eram resultados de sua própria cultura. Talvez isso explique
o reduzido número de casamentos de escravos e ao mesmo tempo a existência
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Referenciais Bibliográficos
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O FIM DA ESCRAVIDÃO
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“No dia 13 de maio [de 1888] mais de 90 por cento dos escravos brasileiros já
haviam conseguido a liberdade por meio das alforrias e das fugas. Entretanto, a
destruição da escravidão foi um evento histórico de grande importância e marco
fundamental na história dos negros e de toda a população brasileira. Foi uma notá-
vel conquista social e política. Mas é preciso perceber como os ex-escravos bus-
caram viabilizar suas vidas após a abolição” (FRAGA FILHO; ALBUQUERQUE,
2006, p. 196).
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AS ASSOCIAÇÕES BENEFICENTES
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porque foram, junto com os jornais, lugares usados pelas populações afrodes-
cendentes para intervir na sociedade nos primeiros anos de República em todo
o país. Através de seus estatutos e notícias, é possível notar a preocupação que
tinham com a educação, o sentimento de solidariedade, a busca pela ascensão
social e que seus membros se consideravam participantes de uma elite entre os
afrodescendentes, apesar de muitas vezes ter significado somente que possu-
íam uma ocupação remunerada.
Os membros das sociedades beneficentes, jornais e irmandades repre-
sentavam uma minoria entre as populações afrodescendentes, constituindo
lugares de gestão autônomas, onde buscaram construir laços de solidariedade,
identidades coletivas e mecanismos de ascensão social. Enquanto as irmanda-
des religiosas foram fortes expressões desde o período colonial, na República
as sociedades beneficentes surgiram com força em boa parte do território bra-
sileiro, a maioria delas ficou conhecida como sociedades recreativas por conta
das atividades lúdicas que tiveram maior adesão de sócios. Seus membros
eram considerados como uma elite, mas que economicamente se distinguiam
por terem uma ocupação fixa e participarem do mundo letrado, na maioria
das vezes. Compartilhavam dos valores e ideais das classes dominantes e luta-
ram contra a discriminação se afastando de posturas indesejadas pelas elites,
as quais poderiam reforçar os estereótipos.
Desta forma, a ação dos associados nas ruas era tão importante, quanto
nos eventos organizados pelas sociedades beneficentes. Os afrodescendentes
letrados buscavam o respeito do restante da sociedade, tentavam incorporar
os valores das classes dirigentes e agir a partir deles, desarmando argumen-
tos negativos sobre as maneiras de ser das populações de origem africana. As
roupas, as danças e os comportamentos precisavam ser vigiados para que nin-
guém pudesse falar algo contra a sociedade e seus associados.
Porém, a luta contra a discriminação não se limitava ao comportamento.
A convivência passava também pela instrução e educação, por isso espaços
destinados à leitura e ao estudo são objetivos presentes nos diferentes esta-
tutos. Na Sociedade Recreativa União Operária de Laguna/SC, aponta Júlio
Cesar da Rosa que seus fins era:
a) Proporcionar reuniões dançantes ou quaisquer outras festas
em que se reúnam amistosamente os sócios e seus familiares;
b) criar uma sessão de leitura variada e instrutiva para seus
sócios fazendo aquisições de jornais, livros e revistas boas; c)
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Referenciais Bibliográficos
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IRMANDADES E CACUMBIS
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CAMPANHA ABOLICIONISTA
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Lisandra Macedo, a partir das fontes analisadas por esta autora, enfoca
aspectos da música popular em Florianópolis, nas décadas de 30 e 40 do século
XX, “período que parece ser de maior importância para o estabelecimento de
uma tradição musical popular e de uma identidade através da cultura nacio-
nal, tal como se pensa e se afirma entre o senso comum, hoje” (MACEDO,
2011). Pela escassez de informações mais precisas sobre o assunto, necessita-
mos atentar para a compreensão de que as escolas de samba são uma forma
de constituição expositiva do samba, mas este enquanto fenômeno cultural e
modo de vida transcende a experiência de escola.
A fundação das Escolas de Samba possibilitou uma nova realidade para
as populações de origem africana. Nos anos 1940 e 1950, os espaços de inser-
ção destas populações voltavam-se mais ao mundo do samba e do carnaval.
Se, anteriormente, muitos afrodescendentes tinham sua imagem vinculada aos
casos de polícia, a emergência das escolas de samba permitiu uma visibili-
dade positiva, baseada na cultura. No entendimento de Esiaba Irobi, trata-se
de pensar as práticas culturais trazidas por estas populações em suas bagagens,
as chamadas “escritas performativas” (IROBI, 2012, p. 273-293). Importa com-
preender como o corpo constitui “local de múltiplos discursos para esculpir
história, memória, identidade e cultura” (IROBI, 2012, p. 277).
Ao tratar a experiência da diáspora africana, a inteligência do corpo, a
performance, a dança constitui forte expressão de rememoração, sendo que
práticas estéticas e corpóreas (IROBI, 2012) permitem relembrar ou manter
laços culturais e identitários, como códigos culturais de matrizes africanas
(MACEDO, 2011, p. 16-18). Neste sentido, a música, a dança, principalmente
quando envolviam performances corporais, constituíram formas de manuten-
ção, reatualização e ressignificação cultural de Áfricas nas Américas.
Segundo Cristiana Tramonte, a escola de samba “é uma ação cultural que
processa e organiza as relações sociais, econômicas e políticas da parcela que
aí convive no que convencionamos denominar o ‘Mundo do Samba’” (TRA-
MONTE, 2001, p. 8). Para a autora, o samba constituiu e constitui tema de
interesse de inúmeros estudiosos na questão da identidade nacional, “na confi-
guração do que se convencionou denominar cultura nacional” (TRAMONTE,
2001, p. 13). Discutindo o samba desde sua formação, a autora aponta as modi-
ficações do movimento ao longo do tempo, enquanto era entrudo, depois sua
pomposidade elitista e a mobilização das classes populares em torno do ritmo
que as representava, em especial nas regiões periféricas dos centros urbanos.
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COMUNIDADES QUILOMBOLAS
A Constituição Federal de
“Hoje, remanescentes de quilombos
não necessariamente são descendentes 1988 garante às comunidades qui-
daquelas pessoas cativas que resistiramlombolas, comunidades compostas
à escravidão por meio da fuga e da for-pelos/as remanescentes das comuni-
mação de grupos de cativos/as fugidos/ dades de quilombos, a propriedade
as, como sugere o imaginário que se definitiva de suas terras. Preceitua
tem sobre quilombos”. De acordo com
Mariana Schlickmann e Camila Eva-
o Artigo 68 do Ato das Disposições
risto da Silva, no caso da Comunidade Constitucionais Transitórias: “aos
do Morro do Boi, em Balneário Cam- remanescentes das comunidades dos
boriú (SC), identificada pela Fundação quilombos que estejam ocupando
Cultural Palmares, “pessoas de origem suas terras é reconhecida a proprie-
africana ascendentes dos/as atuais dade definitiva, devendo o Estado
moradores/as da região do Morro do
Boi, ao que sugere a documentação, emitir-lhes os títulos respectivos”
construíram o espaço do Morro do Boi (CONSTITUIÇÃO, 1988). Reivindi-
como seu território por meio de teias cações do Movimento Negro, forta-
de relações com seus/suas senhores/as, lecido na década de 1980, que foram
de modo que, quando libertos/as, vie- contempladas após a abertura demo-
ram a ocupar tal região”. (2013)
crática, culminaram na garantia de
direitos e reconhecimento.
Quinze anos após a promulgação da Constituição Federal de 1988 foi
publicado o Decreto 4887 de 20 de novembro de 2003, sob o Governo de Luiz
Inácio Lula da Silva, que regulamenta o procedimento para identificação,
reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas por
remanescentes das comunidades dos quilombos (SILVA, 2013). Nesse sentido,
o termo “remanescentes de comunidades de quilombos” abriga uma diversi-
dade de grupos constituídos por diferentes processos. Ou seja, o termo qui-
lombo foi ressignificado para abranger novas categorias do tempo presente,
consonante com as políticas de reparação às populações de origem africana no
Brasil (SILVA, 2013).
A Associação Brasileira de Antropologia define que comunidades
quilombolas são grupos que desenvolveram práticas de
resistência e reprodução de seus modos de vida característicos
num determinado lugar. É importante ressaltar que nem sempre
as comunidades quilombolas atuais são originárias de fugas de
escravizados, há exemplos de terras doadas, terras ocupadas na
desagregação de lavouras, terras derivadas de ordem religiosa,
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Comunidade Data de
Código do
Município Remanescente de Situação Publicação no
IBGE
Quilombos D.O.U.1
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Comunidade Data de
Código do
Município Remanescente de Situação Publicação no
IBGE
Quilombos D.O.U.1
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Referenciais Bibliográficos
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MÚSICA
O SAMBA
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A “PEQUENA ÁFRICA”
PESSOAS HISTÓRICAS
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da Penha, tida como a principal festa do Rio fora do carnaval. Nessas casas,
quintais e festas, circulou a primeira geração de sambistas que fixou o gênero
na cidade, entre os quais podemos citar: Caninha, Donga, Pixinguinha, Heitor
dos Prazeres, João da Baiana e Sinhô.
19 Todas essas referências podem ser encontradas em: CABRAL, Sérgio. Pixinguinha: Vida
e Obra, 1997; CALADO, Carlos Calado. Pixinguinha, 2010; SILVA, Marília T. Barboza;
OLIVEIRA, Arthur L. Filho de. Pixinguinha: filho de Ogum Bexiguento, 1998.
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20 Essas referências podem ser encontradas em Amailton Magno Azevedo e Salomão Jovino
da Silva. Um Mundo Preto Paulistano. 1999. Texto em fase de publicação.
21 Idem.
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ARTES DO CORPO
Além da música, a busca para manter uma estética negra, se fez com as
artes do corpo: pintura, tecidos, estilo de cortes e penteados, tatuagens e moda.
Tais expressões tornaram possíveis também fazer perdurar signos africanos no
Brasil e nas Américas.
Na contramão das representações platônicas e cartesianas que conside-
ram o corpo um amontoado de órgãos desimportantes, o corpo nas cosmo-
gonias negras assume uma particularidade cultural. Música, dança, pintura e
evocação dos ancestrais significam modos de celebrar a vida; o que implica em
desafiar uma percepção desencantada e pessimista sobre o mundo.
Kabengele Munanga e Nilma Lino Gomes afirmam que
de uma ponta a outra do continente americano e do Brasil
a população negra utilizou o corpo como instrumento de
resistência sociocultural e como agente emancipador da
escravidão. Seja pela religiosidade, pela dança, pela luta, pela
expressão, a via corporal foi o percurso adotado para combate,
resistência e construção da identidade (2006, p. 116).
A capoeira pode ser considerada como um modelo desse processo. Seja
no período escravocrata ou no pós-abolição, as gingas e manhas do corpo
negro, agiram para enfrentar as adversidades. O corpo como festa, dança,
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RELIGIOSIDADES
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Referenciais Bibliográficos
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DEMOCRACIA RACIAL
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Figura 2 – Ama-de-leite
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Fonte: http://picaretasdatavola.blogspot.com.br/2010/09/esse-povo-de-deus-e-uma-benca.html
Fonte: http://www.ufrgs.br/gthistoriaculturalrs/sandra_jp.html
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Figura 5 - Pelourinho
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pressões, em 1964, o congresso dos Estados Unidos aprovou uma lei que fin-
dava legalmente a segregação racial nas escolas, nos espaços públicos e no pro-
cesso eleitoral.
Figura 7 - Martin Luther King Jr.
Fonte: http://www.google.com.br
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pele pintada por cosméticos que tornavam a tonalidade da pele mais escura. Em
uma época em que o negro era expressivo no campo das artes, não havia espaço
de trabalho para este ator social por conta da hegemonia da estética branca.
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Fonte:http://humbertodiscofunk.blogspot.com.br/2013/03/tony-tornado-o-soul-music-agra-
dece_6567.html
22 Tony Tornado foi preso por inspiração pelos movimentos negros dos EUA.
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Fonte: http://www.revistadehistoria.com.br/secao/na-rhbn/orgulho-da-cor-1
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Fonte: http://pt.slideshare.net/Marcielrocha/campanha-contra-o-extermnio-da-juventude
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Fonte: marchamulheres.wordpress.com
Fonte: www.mec.gov.br
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Fonte: http://umaoutraopiniao.tumblr.com/post/11691314522/liberdade-
-religiosa-o-mundo-e-plural
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Fonte: www.geledes.com.br
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Referenciais Bibliográficos
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SOBRE OS AUTORES
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Sobre os Organizadores
• Paulino de Jesus Francisco Cardoso
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IMPRESSÃO
2014