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Multiculturalismo
Professora Mestra Maria Helena Azevedo
Professora Mestra Laís Azevedo Fialho
Diretor Geral
Gilmar de Oliveira
Diretor Administrativo
Eduardo Santini
UNIFATECIE Unidade 3
Web Designer Rua Pernambuco, 1.169,
Thiago Azenha Centro, Paranavaí-PR
(44) 3045 9898
UNIFATECIE Unidade 4
FICHA CATALOGRÁFICA BR-376 , km 102,
FACULDADE DE TECNOLOGIA E Saída para Nova Londrina
CIÊNCIAS DO NORTE DO PARANÁ. Paranavaí-PR
Núcleo de Educação a Distância; (44) 3045 9898
FIALHO, L. A.
AZEVEDO, Maria Helena.
www.fatecie.edu.br
História da Infância e Multiculturalismo.
Maria Helena Azevedo Ferreira
Laís Azevedo Fialho.
Paranavaí - PR.: Fatecie, 2020. 102 p. As imagens utilizadas neste
livro foram obtidas a partir
Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária do site ShutterStock
Zineide Pereira dos Santos.
AUTORES
Caros (as) alunos (as), esta é uma oportunidade para que você descubra um pouco
mais sobre as vicissitudes do ser criança. Tudo o que conhecemos hoje nossa hábitos,
nossa forma de nos relacionarmos, como olhamos para as crianças, enfim, tudo é histórico!
Relacionar temas como infância, educação e multiculturalismo, nos permite um olhar mais
abrangente de um tema que foi por muito tempo esquecido.
Para começar, iniciamos nossa discussão com a seguinte questão: como foi cons-
truída a imagem de infância que temos hoje? Nem sempre prevaleceu a ideia de que as
crianças precisavam ser amadas e cuidadas, eram tratadas como um ser substituível em
períodos de alta mortalidade infantil. Alinhado à isso, discutiremos o próprio conceito de
infância, o que caracteriza esta fase tão especial da vida humana? Tudo isso, sem perder
o foco da inserção das crianças na família e na sociedade.
A unidade II será dedicada exclusivamente em pensar as políticas públicas para as
crianças e adolescentes. Diante de um cenário de diversos abusos e violências contra o
infante, qual o papel do Estado? Veremos que o Estado e sociedade civil se comportaram
de diferentes formas no decorrer do tempo para sanar a problemática da criança carente.
Após isso, já em nossa terceira unidade estudaremos algumas das normativas le-
gais na educação infantil, compreendendo as principais legislações para esta estruturação.
Abarcaremos o papel do educador enquanto um dos responsáveis para a formação plural
da criança, bem como salientaremos o importante papel da escola, principalmente diante
de questões que ameacem o bem-estar do infante.
Por fim, na unidade IV você verá alguns saberes e fazeres da educação multicul-
tural, de forma que o docente possa lançar de metodologias e teorias que o possibilitem
trabalhar com pluralidade, tendo em vista a complexa realidade brasileira. Esperamos que
você possa aproveitar as discussões aqui iniciadas!
Bons Estudos!
SUMÁRIO
UNIDADE I....................................................................................................... 6
Conceito de Infância, Família e Suas Historicidades
UNIDADE II.................................................................................................... 36
Atendimento às Crianças: Papel do Estado e as Políticas Sociais
UNIDADE III................................................................................................... 55
Organização do Espaço Infantil
UNIDADE IV................................................................................................... 73
O Multiculturalismo
UNIDADE I
Conceito de Infância, Família e Suas
Historicidades
Professora Mestra Maria Helena Azevedo
Plano de Estudo:
● Introdução e conceitos
● O conceito de infância
● História da infância
● Infância, família e categoria social: discutindo o conceito
Objetivos da Aprendizagem:
● Introduzir noções básicas acerca da infância e abordagem histórica
● Discutir o conceito de infância e suas implicações
● Apresentar a história da infância
● Refletir acerca do papel da família e sociedade
6
INTRODUÇÃO
Bons estudos!
Quando falamos em infância nos dias atuais, evoca-se a noção de direitos, proteção
e cuidado, principalmente no que se refere ao papel da família e sociedade na educação
das crianças. É bem verdade que nem sempre foi assim, esta fase da vida humana não
era tratada de forma especial e mesmo as investigações científicas não tomavam a in-
fância como objeto de estudo. Esse movimento de transformação no olhar para a criança
obedece, sobretudo, ao desenvolvimento histórico que permitiu que hoje várias instâncias
da sociedade estejam comprometidas com a proteção, educação e investigação acerca da
infância.
Falar em história da infância e suas diversas manifestações no seio cultural, exige
que entendamos a operação histórica. Poderíamos fazer uma longa discussão sobre quais
elementos recaem na construção do conhecimento histórico, no entanto, este não é nosso
objetivo central. Cabe dizer, em primeiro lugar, o que não é da alçada da história. O senso
comum insiste em apresentar a História como uma narrativa cronológica de eventos históri-
cos considerados importantes, normalmente encabeçados por grandes personagens.
Certamente, essa visão acerca da história predominou por muito tempo no horizon-
te da disciplina. Porém, a história não se trata apenas de narrar as informações de grandes
personagens e eventos. A própria possibilidade do estudo histórico da infância nos revela
isso. Burke (1992, p. 11) salienta que tudo passou a ser objeto da história: “a infância, a
morte, a loucura, o clima, os odores, a sujeira e a limpeza, os gestos e o corpo”. A amplia-
Assim, as palavras são apenas um dos indicativos que mostram como cada época
representa a infância, seja por fontes médicas, jurídicas, governamentais, dentre outras, ou
mesmo de relatos que evidenciem o caráter cotidiano da vida das crianças. É importante
salientar, como lembra Dourado (2009), que o conceito histórico de infância, deixa de ser
um dado meramente biológico, de estágio da vida humana, e passa a ser objeto de preocu-
pação de vários âmbitos sociais que projetam sobre o futuro, isto é, busca potencializar-se
o presente, focando na vivência das crianças, para a perpetuação de determinados valores.
Com isso, podemos perceber algumas diretrizes que guiam o estudo da criança
por viés histórico. O primeiro deles é que a visão de criança que temos hoje, como sujeito
de direitos, com necessidade de uma formação institucionalizada por meio de escola, e
sujeito digno de proteção, não é algo naturalmente dado, mas é produto de uma construção
histórica. Em segundo lugar, é possível notar que as vozes das crianças por meio da docu-
mentação histórica muitas vezes é difícil de ser ouvida, por isso, como defende Del Priore
(2010), são necessários esforços para que estas vozes sejam ouvidas e possamos tirá-las
do anonimato histórico.
A definição desta fase da vida ainda encontra subsídios legais. Diante do processo
de redemocratização do cenário político brasileiro, nasce a Constituição Federal em 1988,
em linhas gerais, o documento retrata a criança e o adolescente como sujeitos de direito,
especialmente nos artigos 227, 228 e 229. Já com o Estatuto da Criança e do Adolescente
Inferimos, portanto, que compreender o mundo infantil diz respeito a conhecer uma
linguagem que lhe é própria, mas também reside em compreender a infância como cate-
goria social, isto é, reconhecer os aspectos particulares que designam infância e também
perceber as interações sociais destes indivíduos com relação a outras categorias sociais.
Kramer (2006) esclarece que a ideia de infância, enquanto categoria social, nasce
com base na percepção da classe média e no tratamento direcionado às crianças. Neste
sentido, a autora concorda com Ariès (1978), para quem a infância, retratada no sentido
de cuidado e proteção, seria um produto da sociedade burguesa moderna. Porém, dada a
diversidade de contextos, a infância é representada de formas diferentes, de acordo com
os recortes de classe, econômicos, dentre outros.
Por muito tempo ainda, os pobres vão encarar a mortalidade infantil como
fatalidade a ser aceita na ordem natural das coisas. Para os ricos, no entanto,
esse fenômeno torna-se um inimigo a ser combatido, a fim de preservar os
futuros cidadãos que deverão ocupar-se dos rumos da sociedade. (DOURA-
DO, 2009, p. 3)
No âmbito das brincadeiras e dos jogos, Benjamin (2017) nos alerta para o fator
geracional envolvido, ou seja, da relação entre mundo infantil e mundo dos adultos. Os
brinquedos são sempre uma imposição do mundo adulto, ainda que não sejam imitações de
instrumentos deste mundo, “pois, quem senão o adulto oferece primeiramente às crianças
os seus brinquedos?” (BENJAMIN, 2017, p. 96). No entanto, é graças a imaginação infantil
que estes objetos impostos se tornam, de fato, brinquedos.
Kramer (2006) retifica a propensão lúdica própria da infância para as brincadeiras
ao dizer que as crianças se utilizam de “restos da história”, isto é, podem manipular e criar
narrativas através daquilo que não há muito valor para a sociedade em geral, criando uma
cultura:
Enquanto a Europa vivia o início da Idade Moderna, nós éramos colônia e os valo-
res burgueses de cuidado e proteção para com o infante não haviam chegado. A educação
era realizada de forma esparsa, por meio das escolas jesuíticas e não eram acessíveis aos
pobres e muito menos às crianças escravizadas. Até o século XIX, no Brasil, o trabalho
ainda era visto pelas famílias menos abastadas como a “melhor escola”. (DEL PRIORE,
2010). Aqui, não se trata de fazer um paralelo como se a realidade europeia fosse a ideal
Não apenas isso, aos grumetes eram impostas as piores condições de acomoda-
ção e alimentação. Acomodados perto dos doentes e expostos as condições climáticas, as
crianças também viviam com menos comidas do que os demais tripulantes, sobrevivendo
com bolachas apodrecidas, ratos, baratas e água, que também não se encontrava no me-
lhor estado. Essa situação fazia com que os infantes fossem sistematicamente sucumbidos
pela inanição e pelo escorbuto, causado pela falta de vitamina C. (RAMOS, 2010).
1 Os anos entre 1500 e 1530 são considerados “anos perdidos” e a historiografia (a escrita da história)
tem dificuldades em narrar os fatos que antecederam 1530 pela falta de documentação relativa ao período.
Contudo, sabe-se que o Brasil foi rota para diversos marginalizados pela história, que são ignorados pela
narrativa oficial. São viajantes, náufragos e pessoas deixadas para trás ou enviadas para cumprir pena em
terras brasileiras, que podem também ser considerados os primeiros brasileiros. (BUENO, 1998)
Enfim, o cotidiano das crianças que embarcavam para as terras brasileiras era
extremamente penoso. Neste cenário, o universo infantil e o ser criança não tinham espaço,
já que a utilização da mão de obra e do corpo das crianças era regra. Assim, estas crianças
forçosamente eram integradas ao mundo adulto. Por isso, raramente chegavam ilesas ao
local de destino, seja fisicamente ou emocionalmente. (RAMOS, 2010).
Nas primeiras décadas de colonização portuguesa no Brasil, uma das ordens que
teve maior influência foi a Companhia de Jesus. A ordem jesuítica era missionária e visava
converter o gentil para a fé cristã e aqui no Brasil isso se cristalizou através do ensino.
Acreditava que juntamente com o ensino moralizante, disciplinador e inspirado pela palavra
de Deus, todo o povo poderia se converter. Cabe lembrar que para os jesuítas o principal
alvo de conversão eram os índios, considerados como um “papel em branco”, sob o qual
poderia imprimir-se qualquer doutrina. (CHAMBOULEYRON, 2010).
A Companhia de Jesus no Brasil escolheu o caminho do ensino das crianças, mas
existia uma preocupação docente no cerne da ordem, pois havia uma preocupação em
formar não apenas seus membros, mas também a juventude para que estes pudessem
propagar os valores de cristandade. Com este intuito e observando que os índios adultos,
em geral, eram arredios aos ensinamentos dos padres, os jesuítas focavam o ensino para
as crianças, consideradas mais maleáveis. (CHAMBOULEYRON, 2010).
A preocupação dos pais da elite com a educação dos filhos revela um aspecto
importante que marca nossa sociedade até os dias atuais, que é a preocupação com a vida
futura dos filhos. Assim, a morte prematura passa a ser motivo de tristeza em um contexto
em que não haviam vacinas, doenças contagiosas eram pouco conhecidas e as condições
de higiene eram precárias. É a partir disso que nascem os mecanismos de cuidados na
primeira infância para evitar a mortalidade infantil, que ficou a cargo das mulheres. As mães
tinham uma árdua tarefa na criação dos filhos, especialmente porque os nascimentos eram
consecutivos. As mulheres da elite, visando atenuar-se do fardo da amamentação, designa-
vam amas de leite, normalmente escravas, para cumprir tal função. (MAUAD, 2010).
A situação das crianças escravizadas, caso chegassem com vida na travessia do
Atlântico, era completamente oposta das crianças da elite. A morte de crianças escravas
com menos de dez anos chegou a representar até um terço das mortes entre os escravos,
dentre estes dois terços morriam antes dos dois anos e 80% antes de completar cinco anos
de idade. Além disso, muitas destas crianças perdiam os pais muito cedo. Estima-se que na
capital fluminense no século XIX, metade das crianças até cinco anos eram órfãs. (GOÉS;
FLORENTINO, 2010)
Em determinadas situações a criança órfã ficava ligada à sua rede parental, irmãos,
tias, tios, avós ou mesmo padrinhos e madrinhas sem ligação de sangue. Como estratégia
de sobrevivência em comunidade, os escravizados utilizavam-se de um sacramento da
Igreja para fortalecer seus vínculos sociais e proteger seus filhos:
Os escravos puseram o catolicismo a seu serviço para fazer parentes e fa-
mílias. O batismo e a irmandade, mais do que incorporá-los ao rebanho de
um Deus-Pai de filho branco, possibilitava refazer a vida pela criação de uma
comunidade africana como não havia na própria África. (GOÉS; FLORENTI-
NO, 2010, p. 222)
Essa classe operária era sobretudo estrangeira, normalmente vinda da Itália, fugin-
do da fome e do frio. Desde o fim do século XIX até as primeiras décadas do séculos XX
A citação deixa claro que o conceito que família estende-se desde as relações
parentais, isto é, pai e mãe criando o (a) filho (a), até a as relações monoparentais, que
dizem respeito ao pai ou a mãe sozinhos criando a criança. Não apenas isso, a Constituição
define família também as relações anaparentais, na qual não há a presença dos genitores,
mas pode se constituir na criação pelos irmãos ou mesmo “por famílias distintas que se
unem formando uma família comum; a família homoafetiva, se forma em torno da união
conjugal entre pessoas do mesmo sexo [...]”. (PASCHOAL; MARTA, 2012, p. 232).
Contudo, o reconhecimento jurídico de famílias monoparentais e anaparentais é
fenômeno recente na história do Brasil:
A história da proteção à infância no Brasil é marcada pela emergência do mo-
delo de família nuclear, baseada nos moldes burgueses e ditada pelo saber
especialista que logo ganha espaço no meio jurídico, justificando a interven-
ção do Estado junto àqueles considerados desviantes. (SILVA Jr; ANDRADE,
2007, 426).
Os meninos e as guerras
Durante esta unidade você viu que a noção de infância, enquanto fase especial da vida
humana é recente na história da humanidade. A separação entre mundo adulto e mundo
infantil veio apenas no século XIX na Europa e foi marcada por estudos no âmbito da
pedagogia, psicologia e pediatria, que ajudaram a demarcar este estágio da vida en-
quanto particular. Mas antes disso, os meninos entre 14 anos engrossavam as frentes
de batalha nas guerras, lado a lado com os homens. No Brasil não foi diferente, as crian-
ças eram recrutadas pela Marinha e também foram chamadas a combater na Guerra do
Paraguai, um dos mais sangrentos conflitos na história brasileira.
REFLITA
“[...] querer conhecer mais sobre a trajetória histórica dos comportamentos, das formas
de ser e de pensar das nossas crianças, é também uma forma de amá-las todas, indis-
tintamente melhor.”
Você acabou de ver que nem sempre a vida das crianças foi muito fácil e pode ser
que tenha percebido o contraste com as crianças da atualidade. Mesmo assim, é importante
compreender que mesmo nos tempos contemporâneos existem crianças desprovidas do
mínimo para sobrevivência. Este olhar, de reconhecimento de multiplicidades – sejam dife-
renças entre passado e presente ou dentro do presente – é graças a percepção histórica,
que nos ajuda e muito a compreender a quantas anda a situação da criança no presente.
Neste sentido, no primeiro tópico você reconheceu como opera a abordagem histó-
rica acerca do tema infância, entendendo que este tipo de estudo ainda é recente no Brasil.
Viu também sobre a necessidade de nos destituir de pré-concepções sobre a infância, pois
entendemos que tais noções foram sendo construídas ao longo do tempo. Além disso,
pudemos averiguar que boa parte do que se diz sobre a criança está baseado apenas na
concepção do adulto, dando pouco ou nenhum valor na representação que a criança faz
de si mesma.
No tópico seguinte, falamos sobre o conceito de infância e suas facetas. Primeiro
começamos pelas definições legais do que se compreende infância e também adentramos
em discussões sobre a relevância da compreensão das linguagens infantis na definição
deste conceito. Pudemos compreender também como são importantes as diferenças con-
textuais ao falarmos de infância a fim de que possamos enquadrá-la em um cenário amplo
e diverso.
No terceiro tópico, fizemos uma considerável apresentação da história da infância,
que não pretendeu esgotar a discussão, que introduziu alguns panoramas centrais. Co-
meçamos pela Antiguidade, pela Idade Média e pela Idade Moderna, mas nosso foco foi
a história da infância no Brasil, compreender sua extensão e multiplicidades de contextos.
Por fim, nos dedicamos a pensar a constituição da família no seio social e sua cor-
relação com a infância. Abordamos a diversidade de famílias, que não atendem ao modelo
construído de família tradicional, mas isso não retira seu caráter de família, inclusive no
âmbito legal.
LIVRO
Título: Pensando a família no Brasil: da colônia à modernidade.
Autora: Angela Mendes de Almeida (organizadora)
Editora: da UFRRJ
Sinopse: O livro é composto de três partes, sendo que na primeira
parte discute-se a construção do modelo patriarcal de família du-
rante o período colonial brasileiro, este modelo foi sedimentado na
obra do intelectual Gilberto Freyre e até os dias atuais possui força
ideológica. Na segunda parte, o livro retoma o papel da família
frente a construção da subjetividade do indivíduo, tomando como
pressuposto também um olhar psicanalítico. Por fim, “Pensando a
Família no Brasil” se desdobra em pensar uma possível crise na
família brasileira e como isto pode significar uma mudança signifi-
cativa do que até então tem-se identificado como família.
FILME/VÍDEO
Título: A vida é bela.
Ano: 1998
Sinopse: O filme começa na Itália contexto da Segunda Guerra
Mundial. Um pai o judeu Guido e seu filho Giosué são capturados e
levados para um campo de concentração nazista. Em meio a tanto
caos e violência, o pai resolve preservar a infância do seu filho,
fazendo parecer que tudo aquilo não passa de uma brincadeira.
Plano de Estudo:
● Análise histórica das políticas sociais voltadas à criança suas raízes históricas
● Estatuto da Criança e do Adolescente: avanços e desafios
● A política social contemporânea, o neoliberalismo, a Reforma do Estado,
o repasse das responsabilidades para a sociedade civil
Objetivos da Aprendizagem:
● Contextualizar as premissas das políticas públicas voltadas à criança
● Compreender os antecedentes históricos e impacto do ECA
● Analisar os preceitos neoliberais frente às políticas públicas
36
INTRODUÇÃO
Mais tarde, em 1927, surge o Código dos Menores, o qual já citamos brevemente,
que tratava a internação como medida eficaz para redução de delinquência entre crianças
e adolescentes. Havia uma abordagem multidisciplinar, que articulava preceitos médicos e
jurídicos, no tratamento da criança e do adolescente dentro do âmbito das instituições de
reclusão. A partir desta abordagem, instaurou-se a disciplina a norma como eixos educati-
vos destes jovens, a fim de atender a reprodução do sistema capitalista, que no alvorecer
da década de 1930 começava a se fortalecer nas grandes cidades. (LONGO, 2007).
Esta prática, sustentada pelo Código dos Menores, possuía um caráter controver-
so, já que a delinquência era e é fruto da desigualdade social e ainda recebia a punição do
sistema que gerou essa desigualdade. Algumas instituições dedicadas a cuidar exclusiva-
mente deste problema social foram criadas, como foi o caso do SAM (Serviço de Assistência
ao Menor) criado durante o governo de Getúlio Vargas e mais tarde a FUNABEM – hoje
conhecida como Fundação CASA – fundada durante o regime militar. (LONGO, 2007).
A emergência do populismo de Vargas, a conquista dos direitos trabalhistas em
1943, não consegue tirar da marginalidade um grande contingente populacional, fazendo
perpetuar o problema da criança e do adolescente delinquente. Com isso, a questão dos
menores volta para o centro dos debates ainda em 1943 na forma da Lei de Emergência:
Esta lei promoverá uma mudança no Código de Menores de 1927, com os
trabalhos de uma comissão revisora do mesmo, que definirá o critério de ‘pe-
riculosidade’ manifesta na personalidade do adolescente como determinante
para a decisão dos encaminhamentos do juiz. (LONGO, 2007, p. 3).
1 Fundo Internacional de Emergência das Nações Unidas para a Infância, em inglês United Nations
Internacional Children’s Emergency Fund.
SAIBA MAIS
Esta reforma, que acaba por se desdobrar em um enxugamento dos gastos públi-
cos com políticas sociais, desfere grandes consequências para a sociedade. Apontou-se,
assim, para uma queda no oferecimento de serviços públicos e na qualidades destes
serviços. (VIDIGAL; SUGUIHIRO, 2017). Em virtude disso, é possível entender que os
atuais problemas no oferecimento de serviços públicos não é algo recente, ele é, além de
um problema estrutural, fruto das escolhas dos governantes em oferecer ou não serviços
públicos de qualidade.
As políticas sociais, como já dissemos, foram tratadas como mais um elemento
do mercado e não mais como um direito conquistado. Em consequência disso, ações de
entes privados foram cada vez mais ganhando espaço e houve um desmantelamento dos
serviços sociais, o que gerou um discurso de retorno de responsabilidade das famílias e
outros órgãos da sociedade civil, tais como Igrejas, ONG’s, empresas interessadas em
filantropia, dentre outros. (VIDIGAL; SUGUIHIRO, 2017).
Até os dias atuais ouvimos dizer sobre o problema das crianças carentes, não
que a preocupação de proteção e cuidado não se estenda às crianças das classes mais
abastadas, pois as políticas públicas são para todos. No entanto, é preciso entender que
dentro de um país extremamente desigual como o nosso, a existência de políticas públicas
que visem minar esta desigualdade é fundamental. A pobreza, a fome, a violência e o
abandono são frutos perversos de um sistema que cada vez mais gera essa situação e se
exime da responsabilidade de combatê-lo ao tratar não mais como direito, mas sim como
prerrogativa de mercado. Assim, “essas crianças empobrecidas pelo próprio sistema são
carentes: carentes de políticas públicas eficazes e emancipatórias, carentes de justiça,
sobretudo, de respeito e cumprimento dos direitos, constitucionalmente, a elas destinados.”
(SILVA, 2005, p. 43).
Você viu durante nossa discussão, o quão grave foi o tratamento para com as
crianças ao longo dos anos e como foram feitos esforços para tentar sanar este problema.
É de suma importância lembrar que muitas vezes a sociedade fecha os olhos para uma
realidade que está muita próxima, preferindo marginalizar crianças de certos estamentos
REFLITA
“Estas crianças e jovens, mais do que legislação adequada, instrução pública ou polí-
ticas sociais, merecem a liberdade de viver para, talvez, criar seus filhos distantes das
punições, inventando prazeres”
(PASSETTI, 2010).
Você viu que ao longo do tempo foram várias as abordagens com relação ao
atendimento à criança e ao adolescente, certo? Esta unidade teve como intuito central
em lhe fazer compreender sobre a necessidade do braço do Estado em políticas públicas
eficientes para crianças e adolescentes e chamar a atenção para o esforço da sociedade
civil em fazer frente aos vários tipos de abuso e violência.
Por isso, no primeiro tópico, procurando fazer com que entenda este processo,
mostramos algumas das premissas históricas das políticas públicas no atendimento de
crianças e adolescentes. Você viu que em um primeiro momento a preocupação do Es-
tado era com a delinquência e tomando este ponto de vista, procurou combater a família
desestruturada, que naquele contexto era considerada motivo da criminalidade. Com isso,
surgiu uma das primeiras legislações sobre a criança e adolescente, que foi o Código dos
Menores de 1927, voltado para um caráter punitivo, assim como o Código dos Menores
de 1979, feito durante o regime militar. Deixamos claro que este caráter punitivista só será
abandonado com o Estatuto da Criança e do Adolescente.
O Estatuto da Criança e do Adolescente foi o tema de nosso segundo tópico. Pri-
meiro você observou os antecedentes históricos à promulgação do Estatuto, e de que forma
este se alinhava aos preceitos dos direitos universais da criança, como o direito à vida, à
saúde, à educação, dentre outros. Falamos sobre como tais reivindicações estiveram a par
da confecção da Constituição, apresentando um teor bastante democrático. Vimos também
que a sua estruturação no Brasil foi de suma importância para promoção de mudanças nos
âmbitos institucionais de proteção à criança e ao adolescente.
No último tópico, ressaltamos o tratamento que as políticas públicas, tema de nossa
unidade, tem sofrido desde a década de 1970. Tais ações, como você viu, se pautaram por
uma ideologia neoliberal nas últimas décadas do XX, e buscavam transferir o papel do
Estado, como aquele capaz de prover os direitos básicos, para a sociedade civil, fazendo
aprofundar ainda mais as carências das crianças e adolescentes do país.
Lu Sodré
LIVRO
Título: Endereço Desconhecido: Crianças e Adolescentes em
Situação de Rua
Autores: Normanda Araújo de Morais; Lucas Neiva-Silva; Silvia
Helena Koller
Editora: Casa do Psicólogo
Sinopse: Pensar a infância e adolescência em situação de rua é,
sobretudo, trabalhar com a infância em situação de vulnerabilidade
social e com famílias e contextos sociais em situação de vulnera-
bilidade. É preciso, portanto, voltar... Voltar as nossas pesquisas e
propostas de intervenções para as comunidades de baixa renda,
voltar para as famílias negligenciadas pelas políticas públicas,
voltar para as escolas... Portanto, voltar-se para toda a diversidade
de atores, programas e políticas sociais, localizados em diferentes
endereços desconhecidos, os quais estão em diferentes níveis,
relacionados ao fato de que crianças e adolescentes continuam
a fazer da rua o seu principal (ou um dos principais) contextos de
desenvolvimento. Junto a estes podemos contribuir para o fortale-
cimento e desenvolvimento de alternativas mais viáveis e sadias
de projetos de vida para essas crianças e adolescentes.
FILME/VÍDEO
Título: O contador de histórias
Ano: 2009
Sinopse: Baseado na história real de Roberto Carlos Ramos, O
Contador de Histórias mostra a inocência ultrajada de uma mãe
que entrega seu filho, de 6 anos, aos “cuidados” da Febem, le-
vada por uma propaganda da ditadura (1964-1985). O anúncio
mostra a prisão de crianças e jovens “infratores” como um local
acolhedor e educacional. O menino, porém, se depara com uma
realidade bem diferente e aprende a sobreviver nesse mundo-cão,
juntando-se a outros meninos e fugindo dos castigos da instituição
repressora. Escapa dessa vida ao se encontrar e ser “adotado” por
uma pedagoga francesa que desenvolveu uma pesquisa sobre a
vida das crianças brasileiras. Comovente e revelador, o filme relata
as consequências da desinformação sobre a vida das pessoas,
mesmo as bem-intencionadas.
Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?time_conti-
nue=1&v=XXGPAFp3PC0&feature=emb_logo
Plano de Estudo:
● Histórico sobre as políticas de regulamentação para educação infantil.
● O papel do educador para o atendimento a criança.
● O papel da escola frente à violência contra crianças.
Objetivos da Aprendizagem:
● Compreender o conceito de educação infantil, creche e pré-escola.
● Apresentar e analisar os objetivos da educação infantil
para o desenvolvimento da criança.
● Conhecer alguns desafios e dificuldades para este componente curricular.
55
INTRODUÇÃO
Bons estudos!
Por meio da pesquisa nota-se que, em sua maioria, as crianças com acesso à
educação são aquelas de famílias com renda alta e privilégios sociais, ou seja, as crianças
de famílias com baixa renda têm menos acessos a este direito. Neste sentido as pesquisas
de Campos (1991) mostram que as crianças que frequentam creches e pré-escolas apre-
sentam resultados mais satisfatórios ao realizarem testes nos primeiros anos de educação
formal. Resultado este avaliado em diferentes países como Grã-Bretanha, Estados Unidos
e América Latina. Sendo que as crianças mais beneficiadas foram as mais pobres. Para o
mesmo autor a educação infantil é a modalidade que mais traz retornos a sociedade dos
recursos nela investidos.
Nesta direção, cabe às instituições e aos professores fazerem esta relação, aco-
lhendo o saber da criança e ampliando-o por meio das práticas do brincar, nos passeios, nas
Dentre os maiores desafios para a educação infantil Scarr e Eisenberg (1993) des-
tacam a formação e valorização dos profissionais que atuam diretamente com as crianças
como fator prioritário de atenção e investimento. Isso porque os estudos indicam que a ca-
SAIBA MAIS
Fonte: Saiba como aplicar as competências socioemocionais na educação infantil, Educação Infantil de-
senvolvido por Aixsistemas, 12 de dez. de 2018. Disponível em: https://educacaoinfantil.aix.com.br/com-
petencias-socioemocionais-na-educacao-infantil/ Acesso em: 02 de out. de 2020.
REFLITA
Caro (a) estudante, no decorrer deste capítulo podemos ver como a educação em
creches e pré-escolas é organizada pelas principais normativas do país. Entendemos que
as leis auxiliam na garantia de uma educação que possibilite o desenvolvimento integral
da criança. No entanto, parte fundamental desta tarefa ainda é negligenciada por falta de
compreensão sobre o desenvolvimento infantil e preparo dos professores para exercerem
de fato seu papel neste processo.
Também ressaltamos o papel do educador como mediador do processo de en-
sino-aprendizagem e as necessidades principais da criança entre 0 e 6 anos. A criança
hoje, assume um papel mais participativo no processo e deve ser considerada em suas
características pessoais, saberes e contextos culturais que conforme inserida. O desafio da
formação profissional também foi considerado, bem como a necessidade de atualização e
preparo contínuo para o atendimento de qualidade.
Em seguida, realizamos uma breve reflexão sobre a violência e suas implicações
na escola. Compreendemos que a criança pode sofrer violência física e emocional e como
elas se manifestam em seu comportamento. Por fim, pontuamos que os educadores têm
papel fundamental na observação e prevenção da mesma no cotidiano escolar. Concluímos
apontando que apenas uma ação conjunta da família, da comunidade, escola e governo
poderiam auxiliar no combate à violência.
Conhecimento do educador sobre seu papel perante a criança que sofre de violên-
cia doméstica. Disponível em:
http://www.uel.br/eventos/congressomultidisciplinar/pages/arquivos/anais/2011/
FORMACAO/220-2011.pdf
LIVRO
Título: Rotinas na educação infantil
Autor: Maria Carmen Silveira Barbosa
Editora: Artmed
Sinopse: O livro apresenta as práticas cotidianas na educação
infantil no Brasil e em outros lugares do mundo, refletindo sobre
as mesmas e promovendo mudanças. Levando em consideração
que o ser humano, especificamente a criança deve ser valorizada
e participativa nesta construção de saberes.
FILME/VÍDEO
Título: Como estrelas na terra: toda criança é especial
Ano: 2007
Sinopse: Ishaan Awasthi é um garotinho de oito anos de idade
cheio de imaginação, mas ninguém parece dar muita atenção aos
seus sonhos. Ele gosta de cores, peixes de aquário, cães e pipas.
Tudo o que não é “importante para o mundo dos adultos”, mais
preocupados com o trabalho e ordem. Ocorre que Ishaan, por ser
muito sonhador, acaba não prestando atenção nas aulas da esco-
la. Os pais, preocupados, acham que ele deve ser disciplinado e o
mudam de escola. Num primeiro momento o garoto sofre o trauma
da separação. Até que ele conhece seu novo professor de artes,
Ram Shankar Nikumbh, um homem que traz alegria e otimismo
a todas as crianças. Menos Ishaan. Este professor fará de tudo
para descobrir os motivos da infelicidade do menino e assim abrir
caminho para que ele realize seus sonhos.
Plano de Estudo:
● A herança cultural brasileira.
● Os saberes e fazeres da educação das crianças.
● Diversidade étnico-cultural e suas implicações na organização escolar.
Objetivos da Aprendizagem:
● stabelecer as múltiplas heranças culturais que incidem sobre a formação brasileira;
● Compreender aspectos dos saberes e fazeres da educação infantil;
● Apreender os debates sobre a diversidade étnico-cultural
e suas implicações na organização escolar.
● Compreender que a educação não é neutra, está vinculada à cultura e sociedade.
73
INTRODUÇÃO
Bons estudos!
UNIDADE IV O Multiculturalismo 74
1. A HERANÇA CULTURAL BRASILEIRA
Olá caro(a) estudante, neste tópico refletiremos sobre A herança cultural brasilei-
ra, pelo viés do multiculturalismo. Em diversos campos do conhecimento, já se tem dado
atenção especial a esse tema, desde as últimas décadas. Esse recorte tem emergido como
mais uma possibilidade de compreender as complexidades culturais das sociedades e de
sistematizar estratégias de como transpor tais referenciais teórico-metodológicos para a
educação básica, com a elaboração de ações pedagógicas que tenham como propósito a
construção de uma educação plural e democrática.
É muito importante para os educadores conhecerem a formação e heranças que
incidem na cultura brasileira para atuarem com mais ferramentas teóricas e metodológicas.
Buscando construir pedagogias que dialoguem de fato com a realidade da nossa educação,
e que não se pautem somente em teorias exteriores aos fenômenos históricos, culturais e
sociais que constituem a nossa sociedade.
Cabe realizar uma breve introdução acerca da questão multicultural e relacioná-
-la com a História do Brasil e com os campos educacionais. Para isso, iniciaremos esta
Unidade com reflexões presentes na obra Multiculturalismo Diferenças culturais e práticas
pedagógicas, organizada por Moreira e Candau (2008).
Trata-se de uma coletânea de artigos que debatem questões de identidade, raça,
gênero, sexualidade, religião, cultura juvenil e saberes. Os trabalhos relacionam tais recor-
tes com a escola, o currículo, estudantes e docentes, ou seja, com a prática pedagógica. Os
UNIDADE IV O Multiculturalismo 75
textos presentes no livro buscam contrapor as representações normativas e hegemônicas.
Ou seja, não consideram somente realidades que correspondem a regra, e que exclua
identidades marginalizadas em nosso país. Esses trabalhos apontam aspectos teóricos e
práticos do multiculturalismo que podem
Na introdução da obra encontramos uma interessante definição de multiculturalismo
e suas possibilidades de uso como meta, conceito, atitude, estratégia ou valor:
Para Joe Kincheloe e Shirley Steinberg (1997), o multiculturalismo pode signi-
ficar tudo e, ao mesmo tempo, nada. Daí a necessidade, ao se enforcá-lo, de
se especificar o sentido do que se está pretendendo dizer. Quer usado como
meta, conceito, atitude, estratégia ou valor, o multiculturalismo costuma refe-
rir-se às intensas mudanças demográficas e culturais que têm “conturbado”
as sociedades contemporâneas. Por conta da complexa diversidade cultural
que marca o mundo de hoje, há significativos efeitos (positivos e negativos),
que se evidenciam em todos os espaços sociais, decorrentes de diferenças
relativas à raça, etnia, gênero, sexualidade, cultura, religião, classe social,
idade, necessidades especiais ou a outras dinâmicas sociais (MOREIRA,
CANDAU, 2008, p. 7).
UNIDADE IV O Multiculturalismo 76
Uma das questões problematizadas nesse contexto é o traço normatizador e ho-
mogeneizador da educação, em especial do que é classificado como “cultura escolar” e”
cultura de escola”. Sobre isso Sacristán (2001, 123-124) postula que:
A diversidade na educação é ambivalência, porque é desafio a satisfazer,
realidade com a qual devemos contar e problema para o qual há respostas
contrapostas. É uma chamada a respeitar a condição da realidade humana
e da cultura, forma parte de um programa defendido pela perspectiva demo-
crática, é uma pretensão das políticas de inclusão social e se opõe ao do-
mínio das totalidades únicas do pensamento moderno. Uma das aspirações
básicas do programa prodiversidade nasce da rebelião ou da resistência às
tendências homogeneizadoras provocadas pelas instituições modernas regi-
das pela pulsão de estender um projeto com fins de universalidade que, ao
mesmo tempo, tende a provocar a submissão do que é diverso e contínuo
“normalizando-o” e distribuindo-o em categorias próprias de algum tipo de
classificação. Ordem e caos, unidade e diferença, inclusão e exclusão em
educação são condições contraditórias da orientação moderna. [...] E, se a
ordem é o que mais nos ocupa, a ambivalência é o que mais nos preocupa.
A modernidade abordou a diversidade de duas formas básicas: assimilando
tudo que é diferente a padrões unitários ou “segregando-o” em categorias
fora da “normalidade” dominante.
Não seria possível nos deter nesse tema sem localizar a educação brasileira em
um contexto de profundas desigualdades raciais, e de sistemático apagamento e negação
de culturas minoritárias. É sabido que o Brasil foi construído historicamente como um país
com relações de poder assimétricas entre as diferentes matrizes culturais e raciais que
deram origem à cultura nacional.
Desse modo, falar de multiculturalismo é também falar de valorização da herança
cultural africana e indígena. É também buscar trazer para a educação, perspectivas que
valorizem a diversidade cultural e combatam os preconceitos na educação e na formação
de professores (GOMES; SILVA, 2002).
Para estudiosos dessa questão, como Nilma Lino Gomes (2002), historicamente
não houveram problematizações suficientes nas instituições educacionais brasileiras no
que tange o “mito da democracia racial”. Isso é sintomático de uma sociedade marcada
pelo racismo estrutural.
No entanto, seria possível afirmar que há igualdade de oportunidades para todos
os grupos raciais no Brasil, se a maioria dos índices nos apontam outra realidade? “De fato,
negros e negras são considerados o conjunto da população brasileira, que apresentam
um menor índice de escolaridade e, sim o sistema político e econômico privilegia pessoas
consideradas brancas” (ALMEIDA, 2018, p. 48).
Na obra O que é racismo estrutural? O intelectual Silvio Almeida esclarece-nos que:
Não se resume o racismo a comportamentos individuais, mas é tratado como
resultado do funcionamento das instituições que passam atuar em uma dinâ-
mica que confere ainda que indiretamente desvantagens e privilégios a partir
da raça. (ALMEIDA, 2018, p. 40).
UNIDADE IV O Multiculturalismo 77
Desse modo, negar a existência do racismo estrutural e corroborar a ideologia
da democracia racial não raramente culmina na reprodução do discurso da meritocracia.
Quando uma sociedade não admite que há desigualdades raciais que estruturam as re-
lações de poder e acessos às benesses sociais, como a educação, pode eximir-se da
responsabilidade das mazelas sociais, e culpabilizar os indivíduos, apontando que eles não
fizeram por merecer melhores condições de vida (ALMEIDA, 2018, p. 63).
Assim, o mito da democracia racial diz respeito ao processo social de reprodução,
aceitação e naturalização da noção de que todos os “brasileiros” são constituídos por uma
mesma identidade e gozam dos mesmos direitos sociais, políticos, econômicos e culturais.
Mas isso é problemático para construção de uma educação crítica. Essa perspectiva im-
pede o reconhecimento das diferenças e das desigualdades no que tange às condições às
quais a população negra foi relegada desde o período pós-abolição.
Conforme Gomes (2005, p. 57)
[...] Se seguirmos a lógica desse mito, ou seja, de que todas as raças e/ou et-
nias existentes no Brasil estão em pé de igualdade sociorracial e que tiveram
as mesmas oportunidades desde o início da formação do Brasil, poderemos
ser levados a pensar que as desiguais posições hierárquicas existentes entre
elas devem-se a uma incapacidade inerente aos grupos raciais que estão em
desvantagem, como os negros e os indígenas.
Cabe ainda apontar, caro(a) leitor(a), que nem todo discurso que considera a im-
portância de promover a diversidade, realmente apresenta reflexões suficientes e caminhos
oportunos para tal construção.
Ana Canen (2007) problematiza o que chama de multiculturalismo liberal, classifi-
cando-o como conservador, e não transformador. Ela afirma que a diversidade defendida
por essa vertente é folclórica e superficial. Estamos dizendo então, que nem todo discurso
que fala de multiculturalismo é de fato inclusivo, alguns só versam sobre conceitos que não
são de fato possibilidades de reformular as noções de educação.
Essa pesquisadora indica o multiculturalismo pós-colonial crítico como uma alter-
nativa possível e potente, cuja abordagem seria capaz de
[...] analisar suas identidades étnicas, criticar mitos sociais que os oprimem,
gerar conhecimento baseado na pluralidade de verdades, e construir redes
de solidariedade sob os princípios da liberdade, prática social e democracia
ativista” (CANEN, 2007, p. 521).
No que tange a História do Brasil, cabe destacar que não há minorias nacionais
de origem europeia. Por outro lado, se olharmos a história dos grupos indígenas que já
ocupavam terras brasileiras antes da formação moderna do país, como os Tupi, os Terena,
e os Potiguara, identificamos uma realidade social bastante diferente, de resistência e luta
UNIDADE IV O Multiculturalismo 78
para manter uma autonomia ainda que bastante limitada de seus territórios e sua cultura
(PAIVA; SCOTT; GERELUK, 2018).
Cabe ainda assinalar no que tange as heranças culturais do Brasil, que os grupos
franceses e holandeses que vieram para o país no período colonial não permaneceram
muito tempo. Tanto os descendentes desses, quanto os imigrantes do início do século XX
(alemães, espanhóis, suíços, sírios, japoneses, e ucranianos) passaram por um processo
de integração à cultura luso-brasileira.
No Brasil os imigrantes do século XX foram forçados a se integrar cultural-
mente, de modo que não existem escolas bilíngues exceto as escolas indí-
genas. Os membros das comunidades imigrantes que quiserem aprender ou
desenvolver a língua de seus ancestrais devem procurar escolas especiais
de línguas, todas privadas, sem subvenção ou auxílio do governo (PAIVA;
SCOTT; GERELUK, 2008).
UNIDADE IV O Multiculturalismo 79
seus pais fundadores, seus textos básicos, quase sagrados, seus marcos
históricos e geográficos, seus inimigos e heróis oficiais que garantem a legi-
timidade da retórica do pertencimento. Com o tempo, os nacionalismos bem
sucedidos experimentaram práticas colonizadoras ao relegar à ilegitimidade
e à inferioridade os outros povos. Noutro aspecto, para o povo colonizado,
sua afirmação como nação é, muitas vezes, um modo de autodeterminação
em sua luta por reconhecimento (RIBEIRO, 2011, s.p.).
Desse modo, podemos compreender que o Brasil é constituído por inúmeras heran-
ças de grande valor histórico e social de diferentes povos. Tais heranças representam tradi-
ções e legados históricos e culturais transmitidos de geração para geração. Reatualizadas
cotidianamente e operadas como práticas e saberes do passado no presente, tais como as
técnicas de trabalho, a religiosidade, o lazer, a culinária, a musicalidade, a linguagem e os
modos de fazer.
Essas heranças resistiram às mudanças no tempo e no espaço e, por este motivo,
devem ser reconhecidas como pilares da nossa construção enquanto brasileiros. Por isso
devem estar nos horizontes educacionais que almejam a valorização da pluralidade.
UNIDADE IV O Multiculturalismo 80
2. OS SABERES E FAZERES DA EDUCAÇÃO DAS CRIANÇAS
UNIDADE IV O Multiculturalismo 81
As propostas curriculares da Educação Infantil devem garantir que as crianças
tenham experiências variadas com as diversas linguagens, reconhecendo que
o mundo no qual estão inseridas, por força da própria cultura, é amplamente
marcado por imagens, sons, falas e escritas. Nesse processo, é preciso valori-
zar o lúdico, as brincadeiras e as culturas infantis. (BRASIL, 2012, p. 14).
UNIDADE IV O Multiculturalismo 82
alternativo aos discursos dominantes e normativos sobre os modos como as crianças devem
identificar a si mesmas e os outros.
Fazendo isso, rompe-se com hierarquias em que somente o branco europeu é
valorizado e as outras representações de identidades são apagadas ou sistematicamente
silenciadas.
Já um saber importante que se relaciona ao fazer citado é referente a positivação
da construção identitária. Ao conhecimento do professor e de toda equipe pedagógica em
relação à complexidade desse processo de se identificar e afirmar como pertencente a
um grupo minoritário. Visto que essas identidades não estão prontas, nem postas para a
maioria das crianças.
Por exemplo, algumas crianças, por não terem a pele retinta, não se consideram
negras. Demanda um saber e um fazer profissional qualificado contribuir para que essas
crianças aprendam e construam tal noção. Não deve se impor isso, mas deve-se contribuir
para o processo e o entendimento de como essas representações podem ser positivas e
importantes, de um ponto de vista político da afirmação racial. Pois num contexto de tanto
racismo e desigualdades, muitas vezes escolhe-se identificar-se como pardo, ou moreno,
invés de entender-se como negro.
Então, por que não contribuir para elaboração de imaginários positivos sobre modos
de ser negro, para além dos estereótipos estigmatizados? É fundamental que olhemos para
as crianças como sujeitos ativos e reflexivos, capazes de pensar a si mesmas e o seu
mundo. Contudo, não deve-se obrigar que elas assumam uma identidade, seja ela qual
for. Um princípio importante desse saber é considerar saudável que uma criança negra se
aceite. Um princípio importante desse fazer, é contribuir para que ela tenha orgulho de si e
da história dos seus ancestrais. Nunca perdendo de vista que a identidade é socialmente
construída e processual.
Concluindo, alguns fundamentos pedagógicos sobre os quais refletimos aqui e que
são de suma importância para a atuação docente são:
1. O educador tem de ter preparação para trabalhar esses temas.
2. O lúdico é importante no contexto dos fazeres para positivação da diversidade.
3. A ideia de diferença deve ser construída com a criança como algo bom e
relacional.
4. A criança tem de ter elementos que colaborem na construção de sua identida-
de de modo positivo, assim deve-se apontar caminhos, sem impor nada.
Desse modo, concordamos que:
a educação infantil deveria se constituir como um espaço de diáspora, que
não é a pátria idealizada e homogênea, mas uma inflexão territorial e tempo-
rada, operadas pelos coletivos sociais a partir da racialização, do gênero, da
sexualidade, e etnia (BRAMOWICZ; VANDENBROCK, 2014, p. 12).
UNIDADE IV O Multiculturalismo 83
3. DIVERSIDADE ÉTNICO-CULTURAL E SUAS IMPLICAÇÕES NA ORGANIZAÇÃO ESCOLAR
UNIDADE IV O Multiculturalismo 84
Afrobrasileira, nem recebem o signo de religião, mas de “folclore”, de “superstição”, de
“prática primitiva”, ou até “coisa do demônio”. E o que a escola tem a ver com isso? De que
modo uma educação que valoriza a diversidade étnico racial pode lidar com tais problemas
sociais e contribuir para a desconstrução de racismos naturalizados?
A lei 10.639, promulgada em 2003, tornou obrigatório o ensino de história da África
e cultura afro-brasileira na Educação Básica. Essa lei foi resultado de muita persistências
dos movimentos sociais negros, não foi uma política pública “dada de mão beijada” pelos
governantes. Até então, não havia grandes discussões nas escolas sobre as populações
afro-brasileiras, nem sobre suas pertenças culturais e religiosas. O único modo como o
negro aparecia nos livros didático era como escravizado, subjugado.
Como crianças que vêem aquelas imagens estereotipadas, ou vexatórias, de ne-
gros em posição de inferioridade ou subalternidade poderão construir uma autoestima e se
honrar de sua origem e descendência? No caso de serem negras, e no caso de não serem,
como construirão um arcabouço imaginário positivo dessa população se só conhecem tais
referências?
Não estamos querendo dizer que os materiais didáticos deveriam esconder tais
elementos. A escravidão foi realmente muito desumanizadora, violenta, absurdamente cruel
para com os povos africanos, e isso deve sim ser trabalhado, lembrado, problematizado.
Mas não deve ser o único foco dos estudos que busquem ser comprometidas com o fim dos
racismos. Essas, devem buscar apresentar outros elementos de positivação e valorização
da história desses povos no Brasil.
Assim, cabe apontar, que com o advento da lei supracitada, a cultura afro-brasi-
leira passou a ter certa visibilidade no currículo escolar como um elemento construtivo na
reafirmação da cultura brasileira. Isso tem grande relevância, porque conforme postula o
filósofo e historiador camaronês Achille Mbembe (2001), nenhuma democracia pode se
desenvolver sem memória.
Desse modo, se faz necessário reivindicar a difusão e o ensino da história Africana
e Afro-brasileira como respostas aos processos que seguem legitimando o apagamento da
cultura, da religião e das representações simbólicas negras no Brasil.
Mbembe (2001) teoriza sobre esse processo de apagamento como uma violência
de tipo metafísico e ontológico. Para ele, esse tem sido há muito tempo um aspecto da
ficção de desenvolvimento que os colonizadores procuram impor aos que colonizaram. O
autor reflete sobre os impactos subjetivos do poder do Estado no apagamento e morte da
memória social de grupos vulneráveis.
UNIDADE IV O Multiculturalismo 85
Ele entende essa memória social como um campo político, cognitivo, identitário e
performativo. Aponta que ela possui caráter polissêmico, e pode apresentar importantes
informações sobre o campo racial e político no mundo contemporâneo. As estratégias políti-
cas de apagamento coletivo das memórias sociais de um povo constituem a necromemória
(morte da memória). O objetivo na produção de silêncio por grupos dominantes é, muitas
vezes, estabelecer uma perda de ideias; uma perda de afetos que nos leva a questionar
como ele nos afeta socialmente.
Pensando no contexto escolar, apontamos que é responsabilidade dos educadores
negar essa lógica de desumanização e apagamento epistêmico e cultural que, segundo
Mbembe (2018), tem contribuído para a legitimação política de morte dos grupos margina-
lizados.
Aponta-se a importância de se estabelecer modelos educacionais que enfoquem
produções de outras narrativas e olhares sobre a educação, mais especificamente sobre a
formação docente. É o que o pesquisador Reis Neto (2019) aponta como docência desco-
lonizada (REIS NETO, 2019).
O autor compreende uma docência descolonizada aquela que se compromete com
o processo contínuo desconstruir noções racistas e de hierarquização de grupos étnicos
distintos, e que a partir disso buscar construir novos caminhos a partir da diversidade,
de epistemologias e linguagens que não se pautem em uma lógica de poder colonial e
etnocêntrica (REIS NETO, 2019).
Para Reis Neto (2019) é de suma importância que seja considerado no âmbito
escolar a prática da alteridade e a valorização da diversidade, como princípios básicos.
Isso aponta para a urgência em construir processos educacionais de formação múltipla,
que abarquem diferentes saberes e referências epistêmicas, como a filosofia e cosmovisão
afro-brasileira. O autor enquadra tal postura teórico-metodológica como busca de “justiça
cognitiva”.
É importante que o processo de descolonização da docência ultrapasse os já co-
nhecidos e limitados recursos, como apresentar filmes e músicas com temáticas raciais.
Deve-se por outro lado buscar construir outras perspectivas sensíveis, por meio do diálogo,
da superação das desigualdades e das mais diversas formas de discriminação. Descoloni-
zar a docência então, seria um processo ético-político e estético que rompe com a lógica
colonial, e que reconhece a história e cultura africana e afrobrasileira, como nascedouro de
ricos saberes brasileiros (NETO, 2019).
UNIDADE IV O Multiculturalismo 86
Nilma Lino Gomes (1996) também aponta que é dever dos educadores e educado-
ras o trato ético que não segrega e hierarquiza as diferenças no ambiente escolar. Para ela,
lutar contra a discriminação, seja ela de qualquer origem, é um imperativo ético, da própria
natureza do ser.
Para isso é preciso que nos lancemos à descolonização do nosso pensa-
mento pedagógico, na (re)construção das epistemologias, (re)contando as
narrativas, (re)construindo os discursos, combatendo a hegemonia colonial
eurocêntrica na produção do conhecimento, da pesquisa, na formação de
professores. Desse modo, disputar lugares e narrativas na tentativa de ga-
rantir a diversidade de pensamento nos espaços educativos e na formação
de professores (REIS NETO, 2019, p. 30).
UNIDADE IV O Multiculturalismo 87
SAIBA MAIS
REFLITA
(Paulo Freire).
UNIDADE IV O Multiculturalismo 88
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Bons estudos!
UNIDADE IV O Multiculturalismo 89
LEITURA COMPLEMENTAR
GOMES, Nilma Lino. Trajetórias escolares, corpo negro e cabelo crespo: reprodu-
ção de estereótipos ou ressignificação cultural? Revista Brasileira de Educação, Belo
Horizonte, n.21, p. 40-51, 2002
UNIDADE IV O Multiculturalismo 90
MATERIAL COMPLEMENTAR
LIVRO
Título: Um olhar além das fronteiras: Educação e relações raciais
Autor: Nilma Lino Gomes
Editora: Autêntica
Sinopse: O diálogo além das fronteiras realizado neste livro está
alicerçado em um dos ensinamentos de Paulo Freire: de que uma
das nossas brigas como seres humanos deva ser dada no sentido
de diminuir as razões objetivas para a desesperança que nos imo-
biliza. Nesse sentido, a recusa ao fatalismo cínico e imobilizante
pregado pelo contexto neoliberal, pela globalização capitalista,
pela desigualdade social e racial deve se pautar em uma postura
epistemológica e política criticamente esperançosa. É o que o
leitor e a leitora encontrarão nas páginas deste livro.
FILME/VÍDEO
Título: Besouro
Ano: 2009
Sinopse: Besouro era o sobrenome do reconhecido capoeirista
Manuel Henrique Pereira. O filme conta a história deste órfão que
se transformou num dos grandes mestres da capoeira, disciplina
criada por escravos africanos que eram proibidos de utilizar armas
UNIDADE IV O Multiculturalismo 91
REFERÊNCIAS
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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: jul./2020.
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99
CONCLUSÃO GERAL
Neste material, buscamos trazer para você os principais conceitos que auxiliem na
sua compreensão do Multiculturalismo e sua relação com infância, para a educação.
Para tanto, demonstrando as recentes abordagens históricas acerca do tema in-
fância, no Brasil. Identificando que a produção teórica do tema está baseada apenas na
concepção do adulto, ainda alheia à representação que a criança constrói de si mesma.
Apontamos algumas definições legais sobre infância e também sobre as linguagens infantis.
Destacamos que existem diferenças contextuais ao falarmos de infância e que é necessário
localizar tal assunto em cenários diversos. Ainda apresentamos trabalhos historiográficos
sobre infância, pensando Antiguidade, Idade Média e Idade Moderna. Assinalamos a cons-
tituição da família no seio social e sua correlação com a infância, assim como a diversidade
de modelos familiares.
Refletindo sobre sobre a atuação do Estado, demonstramos algumas das premissas
históricas das políticas públicas para crianças e adolescentes. Apontamos que inicialmente
o Estado combatia a delinquência, preocupando-se com famílias desestruturadas, que eram
relacionadas à criminalidade. Até que surgem as primeiras legislações sobre a criança e
adolescente, de caráter punitivo, assim como o Código dos Menores, criado no regime
militar. Buscamos destacar que o caráter punitivista só foi abandonado pelo Estado com o
Estatuto da Criança e do Adolescente. Assim, trabalhamos o contexto social e histórico de
promulgação do Estatuto. Ressaltamos o tratamento às políticas públicas desde a década
de 1970, e posteriormente, inseridas numa ideologia neoliberal.
Apresentamos como a educação em creches e pré-escolas é organizada pelas
principais normativas do país. Entendemos que as leis auxiliam na defesa de uma educação
que possibilite o desenvolvimento integral da criança, mas ainda negligenciam aspectos
importantes sobre o desenvolvimento infantil e preparo dos professores para exercerem
seu papel neste processo. Ressaltamos também o papel do educador como mediador do
processo de ensino-aprendizagem e as necessidades principais da criança entre 0 e 6
anos. Indicamos o desafio da formação profissional bem como a necessidade de preparo
contínuo para o atendimento de qualidade. Realizamos uma breve reflexão sobre a violên-
100
cia e suas implicações na escola. Pontuamos que os educadores têm papel fundamental
na observação e prevenção da mesma no cotidiano escolar.
Por fim, discutimos sobre multicultarismo, buscando relacioná-lo a à educação,
com enfoque na criança. Nesse sentido refletimos sobre como operar conceitos ligados à
educação multicultural que busquem combater as diferentes opressões e discriminações
sociais a grupos historicamente desprivilegiados no Brasil.
Entendemos que existem diversas heranças que incidem na cultura brasileira.
Demonstramos como essas heranças de diferentes povos têm grande valor histórico e
social. Indicamos a importância de se apropriar desses conhecimentos múltiplos, tanto nos
currículos, como nas pedagogias. Discutimos assim, sobre saberes e fazeres da educação
das crianças que possibilitem uma formação multicultural. Apontamos a importância de
uma postura ética-política dos docentes para criação de imaginários positivos sobre as
histórias e as heranças culturais de minorias estigmatizadas e marginalizadas no currículo
da educação infantil. Abordamos a diversidade étnico-cultural e suas implicações na or-
ganização escolar, com discussões teóricas que relacionem categorias étnicas-culturais à
práticas da educação infantil.
A partir de agora acreditamos que você já está preparado para seguir em frente
aprofundando ainda mais suas capacidades intelectuais e posturas teórico- metodológicas
e pedagógicas, acerca do Multiculturalismo em diálogo com a infância.
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