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UMA VISÃO HISTÓRICA DA

EDUCAÇÃO REFORMADA

A PRIMEIRA EDUCAÇÃO CRISTÃ


KARIS BEATRIZ ANGLADA DAVIS
Uma visão histórica da educação
reformada: a primeira educação cristã
Karis Beatriz Anglada Davis

Obra da capa: Lesender Knabe, 1861 (Johann Baptiste


Reiter)

Montagem e diagramação: Juliana Fontoura

Revisão: Emerson Almeida

1ª edição

© 2018 Educalar.
A primeira educação cristã
Karis Beatriz Anglada Davis

Dedicado a todos quantos batalham

para a promoção do Reino

de Deus no mundo
Sumário
Prefácio . . . . . . . . . . . . . . . 5

Educalar . . . . . . . . . . . . . . . 6

Introdução . . . . . . . . . . . . . . 8

Capítulo I
Jesus, o Mestre . . . . . . . . . . 12

Capítulo II
A Comunidade Cristã Primitiva . . . . . 14

Capítulo III
As Primeiras Escolas . . . . . . . . . 20

Capítulo IV
Os Primeiros Educadores Cristãos . . . . 25

Capítulo V
Resumo . . . . . . . . . . . . . . 39
Prefácio
O presente e-book é o primeiro da série
Fundamentos Históricos e Filosóficos de uma
Educação Bíblico-Reformada que será composta de
10 livros digitais baseados no Trabalho de Conclusão
de Curso de Karis Beatriz Anglada Davis, apresentado
ao curso de Pedagogia.

O trabalho apresenta e analisa os resultados


históricos da Educação Reformada e provê os
principais elementos de uma Filosofia da Educação
Reformada. A primeira parte fornece um histórico
da Educação Reformada e a segunda apresenta as
bases filosóficas e os pressupostos teológicos que
caracterizam uma filosofia da educação reformada,
e indica a sua relação com o mundo não-cristão.

Entendendo que não há neutralidade na


educação e na pesquisa, a autora apresenta o assunto a
partir de pressupostos bíblico-reformados e tem como
objetivo demonstrar a relevância da fé reformada
para o avanço da educação de um modo geral, e
especialmente a sua contribuição para o pensamento
educacional cristão e reformado.

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Educalar
A Educalar é um projeto de Educação
Domiciliar Cristão idealizado por Emerson
e Vanessa Almeida, Cristãos Reformados.

Vanessa já havia feito muitas leituras a respeito da


educação domiciliar, até que no ano de 2016, com
o planejamento para a chegada do primeiro filho e
diante da preocupação de como educá-lo, sentiu a
necessidade, juntamente com seu esposo, Emerson,
de aprofundar seus estudos sobre criação de filhos.

Através de leitura, muita conversa e da descoberta


da Educação Domiciliar, e tendo definido que esta
seria a educação que dariam aos seus filhos, vêem-
se desafiados a aprimorarem seus estudos no tema,
aperfeiçoando-se para fornecerem não apenas
qualidade à educação de seus próprios filhos,
como também de se tornarem aptos a ajudar e
incentivar outras famílias a educarem seus filhos.

Eric (primeiro filho do casal) nasceu no dia 03

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de março de 2017. O projeto Educalar foi, então,
lançado oficialmente em 31 de março deste mesmo
ano, através do primeiro Google Hangouts,
transmitido ao vivo, com o objetivo de criar uma
plataforma de apoio para as famílias educadoras.

A Educalar tem utilizado os métodos de


Educação Clássica Cristã e da Charlotte
Mason como base de seus materiais, ambos
guiados por uma comosvisão cristã reformada.

No momento em que este e-book está sendo


produzido, a Educalar já conta com a administração
de vários grupos de WhatsApp, de apoio às
famílias, um blog com muito conteúdo gratuito,
um conjunto de materiais no Google Drive
disponibilizado também de forma gratuita, o grupo
Educalar Premium (grupo pago), uma página no
Instagram e um canal no Youtube, com centenas de
vídeos sobre educação domiciliar e áreas de apoio.

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Acompanhe a Educalar, clicando nos links abaixo:

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Introdução
‘O cristianismo é, antes de tudo, uma religião.
Entretanto, dele brotam implicações filosóficas,
educacionais e sociais de grande ressonância. Costuma-
se mesmo afirmar que ‘com o aparecimento do
Cristianismo o rumo da história ocidental muda.’

Rosa Maria da Glória1

N
a busca da relação histórica entre o
cristianismo e a educação, esse primeiro
livro se dedicará a focalizar as implicações
educacionais e sociais da religião cristã em seu
primeiro momento, ou seja, do seu aparecimento
com o nascimento de Jesus Cristo até o período
medieval. Dentro deste período histórico, serão
abordados temas como o surgimento e a orientação
das primeiras escolas e se prosseguirá fornecendo um
resumo das contribuições pedagógicas dos primeiros
educadores cristãos, muitos dos quais conhecidos
como os pais da Igreja Cristã.

O surgimento da educação cristã se confunde


com o surgimento do cristianismo e com a vida e

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obra de Cristo na terra, e prossegue com a primeira
comunidade dos cristãos, com a obra dos apóstolos.
O cristianismo como religião universal tem início
com a vinda de Cristo, o Messias Prometido dos
judeus. Isso aponta para a unidade e continuidade
entre o cristianismo e a religião judaica. Na verdade,
para os cristãos, o Antigo e o Novo Testamento da
Bíblia são duas dispensações ou fases de uma mesma
história da redenção que se centraliza na pessoa de
Jesus Cristo, o Messias. Enquanto o povo judeu na
antiga dispensação era considerado o povo escolhido
de Deus, naquele momento com um caráter nacional
enquanto aguardava o Messias, os cristãos são o povo
de Deus na nova dispensação, de caráter universal,
inaugurada pelo nascimento de Jesus.

O que é relevante deixar claro, ao se considerar


a educação cristã nesse primeiro momento do
cristianismo, é que Jesus e seus primeiros seguidores
eram judeus, e que neste contexto, muitas das famílias
judias enfatizavam a educação e consideravam
importante que seus filhos aprendessem um ofício,
não só como um meio de subsistência, mas também
para que aprendessem a ler e a estudar os escritos
bíblicos. Essa prática estendia-se tanto a judeus
como aos prosélitos do judaísmo e incluía tanto
meninos como meninas.

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Ao tratar desse assunto didaticamente, alguns
autores dividem a educação cristã primitiva em alguns
períodos. Têm-se, assim, o período apostólico, que
corresponde à atuação de Jesus de Nazaré, o mestre
por excelência, e dos primeiros apóstolos, aos quais
foi dada a incumbência de pregar a Boa Nova a toda
criatura (Mateus 28:18-20)2 . O período patrístico
aponta para o trabalho exercido pelos primeiros pais
da igreja, quase todos educadores, numa fase que cobre
os primeiros séculos da Igreja. O período monástico
é o período dos monges ascetas que se refugiavam e
dedicavam-se a Deus através de orações e exercícios
piedosos, primeiramente vivendo isolados e, a partir
do século IV, formando uma comunidade religiosa nos
mosteiros, os quais se tornaram centros da cultura e
da educação medieval, pela preservação e reprodução
da literatura clássica. E o período escolástico refere-
se ao movimento intelectual que cobre o século XII
até a renascença, caracterizado pela “escolástica”
como método particular de ensino.

Nesse momento não se irá tratar de cada


um destes períodos aqui detalhadamente, mas o
objetivo é tão somente caracterizar o ambiente que
marcou a comunidade cristã primitiva e que moldou
a primeira educação cristã. No seu desenvolvimento,
destacam-se a vida, o pensamento e as obras dos
pais da Igreja Cristã que constituem seu legado para

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a Educação Cristã, especialmente no que tange aos
princípios gerais de educação que estabeleceram.

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CAPÍTULO I

Jesus, o Mestre

J
esus Cristo é a pessoa mais importante e
o centro da religião cristã. Para os cristãos
há somente um Deus, que subsiste em três
pessoas, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, sendo
que o Filho Se fez homem na pessoa de Jesus Cristo,
o Verbo eterno, para ser o único mediador entre
Deus e os homens, de maneira que “nEle habita
corporalmente, toda a plenitude da divindade” (Cl 2:9).

Em toda a Bíblia, e de um modo especial


nos Evangelhos, Jesus é apresentado como Mestre
Divino, como Pastor das Ovelhas, como a Verdade e a
Luz, “que vinda ao mundo, ilumina a todo homem”
(Jo 1:9), e seu ministério neste mundo consistiu,
em grande parte, no revelar e ensinar a vontade de
Deus ao seu povo. Há, portanto, para os cristãos,
somente um Mestre perfeito, o Mestre dos mestres.
Seu exemplo é o exemplo perfeito. Ele é o ideal, o
padrão, o ponto central sobre o qual toda a atenção
deve ser dirigida. Por isso, também, os primeiros pais
da Igreja, como Clemente de Alexandria, não cansavam
de estabelecer essa relação de Jesus como o Pedagogo.

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Sua contribuição como Pedagogo se dá em
muitas esferas. Primeiro, pelo que Jesus é. Ele é
apresentado na Bíblia como o caminho, a verdade, a
porta, a luz, a sabedoria personificada3 . Em seguida,
pelo que ele ensinou, através de sua palavra escrita
e das palavras que falou enquanto esteve na Terra,
instruindo e orientando os seus discípulos. Jesus é
ainda tido como exemplo para os educadores. O Mestre
perfeito deixou um exemplo para ser seguido por todos
quantos almejam a perfeição, tanto no que se refere à
sua vida, moral e atitudes, como também à abordagem
educativa e métodos de ensino que ele utilizou em seu
ministério e na instrução que deu a seus discípulos.

A idéia é que sendo Cristo o agente da obra


da criação, da providência e da redenção, e sendo
a educação um elemento dessa criação, somente
Cristo pode redimir e criar a verdadeira Pedagogia
baseada nos princípios fundamentais da doutrina
bíblica, que levam em conta a seqüência dos es-
tados do homem: criação-queda-redenção.

Finalmente, pensadores reformados como


Zwínglio, Comênius, e a tradição reformada
como um todo entende que a própria obra de
Jesus na cruz foi tão ampla e poderosa que Ele
pode ser visto como o Redentor da Pedagogia.

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CAPÍTULO II

A Comunidade
Cristã
Primitiva
A
comunidade dos primeiros cristãos, juntamente
com a família, era o meio ou o ambiente
educativo no período de formação e surgimento
da religião e da educação cristã, em que pelo
ministério e pregação de Jesus e dos apóstolos, os
primeiros cristãos judeus e gentios se convertiam
ao Evangelho e se reuniam nas primeiras igrejas.
Estas, muitas vezes, funcionavam nas casas dos
convertidos, e mesmo em catacumbas e lugares
escondidos, em virtude da perseguição que os cristãos
enfrentaram já no primeiro século da religião cristã.

O cristianismo, do seu surgimento até o reinado


de Constantino no início dos anos 300, desenvolveu-se
a tal ponto que passou a ser a religião dominante na
Ásia menor, como também na Trácua e Armênia, na
Antioquia, na Síria, nas costas da Grécia e Macedônia,
nas Ilhas gregas, no Norte do Egito, na província da
África, na Itália, no sul da Gália e na Espanha, sendo
mais fraco em outras partes do Império Romano. O

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fato marcante é que o cristianismo alcançou os povos
das mais variadas línguas e culturas, mostrando-
se mais inclusivo que qualquer outra tradição
cultural, no sentido de assimilar diferentes raças,
culturas, línguas, sexos, profissões e camadas sociais.

O cristianismo introduziu-se em todas as


classes sociais. Eram numerosos os cristãos na
corte imperial, entre os elementos do governo, e
entre os soldados. Em sua gênese, os adeptos da
religião cristã eram principalmente os artesãos,
pequenos negociantes, proprietários de pequenas
terras, em sua maioria pessoas humildes.

Sabe-se também que o cristianismo


primitivo promoveu uma grande mudança social
em certas regiões (CAIRNS, 1990, p. 47). Earle E.
Cairns, pesquisador da história da Igreja Cristã,
confirma esta reorganização social decorrente
das doutrinas e práticas da Igreja primitiva:

A Igreja de Jerusalém insistiu sobre a igualdade


espiritual dos sexos e deu muita importância às
mulheres na igreja. A criação de um grupo de
homens para tomar conta das necessidades foi outro
acontecimento de relevância social ocorrido ainda nos
primeiros anos do nascimento da Igreja. A caridade
deveria ser administrada por um corpo organizado,
os precursores dos diáconos. (CAIRNS, 1990, p. 47).

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Os primeiros cristãos enfrentaram perseguições
tanto por parte dos judeus, quanto da parte dos
Imperadores Romanos, e o resultado destas
dificuldades contribuiu para moldar em grande parte
o caráter moral da Igreja. A vida cristã foi mantida
assim num alto nível moral, devido ao fato de que os
que não eram verdadeiramente convertidos desistiam
ante o terror e o sofrimento que tinham de enfrentar
por amor a Cristo. Durante o II e o III séculos, o
caráter espiritual, moral e de conduta social dos
cristãos permaneceu como desde o princípio, num
nível bastante elevado, que os distinguia do resto do
mundo, especialmente pela sua moralidade superior.
A fraternidade cristã, a pureza, a honestidade, a
bondade e o amor cristãos eram qualidades estranhas
ao mundo da época e se destacava em épocas de
calamidade, em que os cristãos proviam e cuidavam
não somente dos da mesma fé, mas de todos os
necessitados, sem distinção (NICHOLS, 1981, p. 33).

A igreja primitiva insistia em que seus


membros não deveriam tomar parte nas práticas
pagãs da sociedade romana, como a idolatria
ou imoralidade pagãs; era permitido o convívio
com os pagãos em relações sociais que não
fossem prejudiciais, e que não comprometessem
ou sacrificassem os princípios cristãos:

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““
O cristão devia seguir os princípios de não fazer
nada que prejudicasse o corpo do qual Cristo
era Senhor, nada que prejudicasse os outros ou
enfraquecesse os cristãos, evitar tudo que não
glorificasse a Deus.” (CAIRNS, 1990, p. 69)

Apesar dessa atitude de separação moral


e espiritual com relação às práticas e relações
do mundo não-cristão, os cristãos poderiam ser
considerados cidadãos exemplares, desde que não
fossem instados a violar os preceitos de Deus, a
maior autoridade a quem deviam obediência absoluta;
obedeciam, respeitavam e oravam pelas autoridades
devidamente constituídas, pagavam os impostos
devidos, de modo que sua influência no mundo se
fez claramente sentir, fato comprovado através do
reconhecimento oficial do Imperador Constantino
da importância do Cristianismo para o Estado.

A educação cristã no primeiro século era


uma educação sem escolas, como aconteceu com
grande parte das religiões em religiões em seus
primeiros tempos (LUZURIAGA, 1987, p. 71). As
famílias eram o núcleo imediato da vida e da
educação e, aos poucos, além da formação para o
trabalho e para a leitura e estudo das escrituras, foi
surgindo uma forma própria de ensino, de caráter
mais religioso que pedagógico, visando a preparação

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para a vida eterna, e mais concretamente, para
que os alunos tivessem os conhecimentos bíblicos
considerados pré-requisitos para o batismo.

Nesse contexto de inculcar nas crianças


e convertidos as principais doutrinas bíblicas
necessárias à salvação e ao ingresso formal na Igreja
através do batismo, surgiu a chamada instrução
catequista, dada por oficiais eclesiásticos que
instruíam os catecúmenos. Tal preparação, de início
muito elementar, foi-se desenvolvendo aos poucos,
até darem origem a escolas propriamente ditas.

Essa instrução doutrinária oferecida pela


Igreja é confirmada por Nichols (1981, p. 35),
outro pesquisador da história da Igreja Cristã:

““
Para que os catecúmenos ou candidatos ao
batismo fossem devidamente instruídos, como
também para defender o cristianismo dos erros
dos gnósticos, foram estabelecidas certas de-
clarações breves sobre o que constituía objeto
de fé para os cristãos”.

Esses estudos, segundo a citação, geraram os


primeiros credos e catecismos da Igreja, que passaram
a constituir o conteúdo da instrução, aos quais se
juntaram mais tarde, o canto e a música. Nos períodos
em que os cristãos enfrentavam maior perseguição

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religiosa, esse ensino era dado clandestinamente,
nos lugares dedicados ao culto e aos sepultamentos.

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CAPÍTULO III

As Primeiras
Escolas

A
instrução catequista, de cunho elementar e
informal oferecida pelos oficiais eclesiásticos,
com o avanço do cristianismo, teve a
necessidade de se organizar melhor e de contar com
mestres especialmente preparados para a educação.
Surgiram, então, as escolas de catequistas, em
seguida as escolas episcopais, a escola paroquial ou
presbiterial e finalmente a educação dos mosteiros.

A primeira escola de catequista que surgiu foi a


de Alexandria, criada por volta de 179 por Pantaenus,
filósofo grego convertido à fé cristã. Era uma escola
que objetivava instruir os convertidos do paganismo
ao Cristianismo, e que se tornou grande centro de
cultura religiosa e estudo superior da época e foco
de atração da elite greco-romana. Ali era dado um
ensino religioso, de um ponto de vista enciclopédico
e teológico. Ao fundador sucederam dois dos mais
destacados Pais da Igreja: Clemente e Orígenes.

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Por volta do século IV surgiu um outro
tipo de escola, a escola episcopal, que visava a
formação de oficiais eclesiásticos. Nela se dava
instrução superior (ensino de teologia e serviço
eclesiástico) aos aspirantes da Igreja, como diáconos
e presbíteros. A escola episcopal mais conhecida
foi criada por Santo Agostinho em Hipona, em 391.

Depois da invasão de Roma pelos bárbaros


em 410, aparece um tipo de escola elementar,
que alcançou um número maior de alunos. Era a
escola das igrejas rurais, chamada de paroquial
ou presbiterial. Uma importante recomendação
pronunciada no Concílio de Vaison, de 529, e repetida
noutros Concílios, fornece uma visão do propósito
e conteúdo da educação nesta escola ordenava-se

““
a todos os sacerdotes encarregados de paróquia
receber jovens na qualidade de leitores com o
fim de educa-los cristãmente, de ensinar-lhes
os salmos e as lições da Escritura e toda a lei do
Senhor, de modo que possam preparar entre
eles dignos sucessores.” (LUZURIAGA, 1987, p.
72).

O propósito da maioria desses tipos de escolas


citados era, evidentemente, religioso, e visava a
formação de eclesiásticos. Existiam ainda, na época,
as escolas romanas ordinárias, que, por estarem já

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estabelecidas há mais tempo, acabavam por alcançar a
maior parte da população que recebia alguma educação.
Entretanto, estas desapareceram com as invasões
dos bárbaros, e o ensino ficou reduzido a educação
oferecida nos mosteiros, principais mantenedores
da educação e da cultura durante a Idade Média.

A educação monástica surgiu no Oriente, entre os


monges que se retiraram para o deserto e organizaram
os primeiros mosteiros, onde os noviços recebiam
instrução mais ascética e moral do que intelectual.
Esta última, entretanto, era necessária para que o
aluno pudesse ler as Sagradas Escrituras, aprender
os salmos e epístolas, e entregar-se à leitura e cópia
de manuscritos. Basílio e João Crisóstomo ordenaram
que fossem admitidos desde a primeira infância os
meninos levados pelos pais ou os órfãos, para ensina-
los a ler e conhecer a Bíblia (LUZURIAGA, 1987, p.73).

Dentre as diversas regras de conduta para os


monges, a Regra da Ordem de São Bento (criada por
volta do ano de 525) foi a que mais se destacou e veio
fornecer o modelo para esse tipo de educação em toda
a Europa. Ela estabelecia a leitura dos textos sagrados
durante a refeição dos monges, a admissão de meninos
para educar, a necessidade de os monges terem um
ofício, por ser a ociosidade considerada como inimigo
da alma e ainda dispunha sobre horas de leitura fora

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das refeições, em livros da biblioteca, haja vista que
todo convento deveria ter uma biblioteca, instituindo-
se um inspetor que velasse para que as leituras fossem
feitas. Em decorrência dessa regra rígida de educação
monástica, a ordem dos beneditinos acabou por se
converter em importante centro de cultura e educação.

Cabe acrescentar que a instrução monástica


que dominou a idade média foi marcada pelo
escolasticismo, que teve como representante
principal Tomás de Aquino. Entendido como um
completo sistema de pensamento, filosófico,
epistemológico, teológico, etc., o escolasticismo
medieval buscava uma síntese entre a religião cristã
e o pensamento não-cristão, sobretudo dos gregos.

O perigo da síntese tomasiana para o


cristianismo original foi representado pelo risco de
uma acomodação indevida das doutrinas cristãs aos
conceitos aristotélicos, com o que Deus deixou de
ser o Deus Pessoal da Bíblia e passou a ser visto a
partir dos conceitos filosóficos da Forma Pura e da
Causa não causada, e a ênfase filosófica gerou uma
tendência racionalista e uma intelectualização da fé
cristã. A crença de Tomás de Aquino na distinção
entre reino da graça e reino da natureza também
acabou por diminuir a autoridade da Palavra de Deus
sobre os assuntos mais práticos da vida humana.

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A escolástica medieval é um exemplo de como
o cristianismo ortodoxo pregado por Jesus e pelos
primeiros apóstolos, ou seja, fiel às doutrinas e à
simplicidade bíblicas, foi sendo descaracterizado pela
introdução de heresias e da filosofia grega humanista.
A adoção do cristianismo como religião oficial do
Estado Romano a partir do Imperador Constantino
também contribuiu para a decadência doutrinária
e moral da religião cristã. As igrejas encheram-
se de membros professos e muitas tradições e
costumes humanos foram introduzidos na liturgia,
na forma de governo, e na doutrina da Igreja Cristã.

Em seu posicionamento contra a síntese escolástica,


os reformadores insistiram em que somente a Escritura
deveria dirigir a vida humana e guiar o homem em sua
busca pelo conhecimento, sob o lema: “Sola Scriptura”.
Tal rompimento com a síntese escolástica ocorreu de fato
no âmbito doutrinário e eclesiástico, e seria de funda-
mental importância que tivesse um desenvolvimento
sólido como perspectiva norteadora de outras áreas da
vida humana, dentre as quais a educação.

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CAPÍTULO IV

Os Primeiros
Educadores
Cristãos
Clemente de Alexandria (155-225)

Clemente de Alexandria nasceu em Atenas.


Filho de pais pagãos, foi educado na filosofia grega,
viajando muito e estudando com muitos mestres
antes de começar a estudar com Pantaenus, por cuja

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influência se converteu ao cristianismo. Pantaenus
foi o primeiro diretor da Escola de Alexandria. Antes
de 190, Clemente passou a dirigir a escola junto com
Pantaenus, e dirigiu-a sozinho de 190 a 202.

Clemente tinha como objetivo para si o ideal de


um filósofo cristão, e em suas obras buscou aproximar
a filosofia grega do cristianismo evidenciando que
o cristianismo era a filosofia superior e definitiva.
Grande leitor da literatura pagã grega, chegou a citar
cerca de 500 autores em suas obras. Por reconhecer
a razão como base fundamental do conhecimento,
embora aliada à fé, é por vezes apresentado como
representante da tradição racionalista.

Em seu livro sobre a História da Igreja cristã


Cairns contrabalança essa idéia, afirmando que:

““
Sem dúvida alguma, Clemente tinha em alto apreço
a sabedoria grega, mas uma leitura cuidadosa de
suas obras deixará a impressão de que para ele a
Bíblia está em primeiro lugar na vida do cristão.
Ao mesmo tempo, já que toda verdade pertence
a Deus, tudo o que houvesse de verdadeiro na
sabedoria grega deveria ser empregado no serviço
de Deus. O perigo desta posição está em que se
pode imperceptivelmente sintetizar cristianismo
e filosofia grega, passando-se a considerar o cris-
tianismo como um simples sincretismo de filosofia
grega e teologia bíblica.” (CAIRNS, 1990, p. 91).

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Clemente é autor da célebre trilogia: o Pro-
tréptico, o Pedagogo e o Stromata. Seu Protréptico ou
Exortação aos Gentios é um documento missionário
de cunho apologético escrito por volta do ano 190
para provar a superioridade do cristianismo como a
verdadeira filosofia e assim levar os pagãos a aceitá-
lo. As Stromata ou Seleções evidenciam o amplo
conhecimento de Clemente da Literatura pagã de
seu tempo. No Livro I, o Cristianismo é apresentado
como o verdadeiro conhecimento. Clemente cria que
a filosofia grega tomara o que havia de verdade nela
do Velho Testamento e que era uma preparação para
o Evangelho. No Livro II, mostra que a moralidade
cristã é superior à pagã. O livro III é uma exposição
sobre o casamento cristão. Nos livros VII e VIII, ele
descreve o modo de viver dos cristãos.

Com relação à educação, sua obra mais im-


portante é a segunda de sua trilogia, o Paedagogus
ou Tutor, considerada o primeiro tratado cristão de
educação. Trata-se de um tratado moral de instrução
para os jovens cristãos, onde Cristo é apresentado
como o verdadeiro mestre que deixou as regras para a
vida cristã. O mestre é o Logos; quando encaminha os
homens para a verdade, chama-se Logos Pedagogo;
quando ensina a verdade, Logos Didascalo. Compõe-
se de três livros. No livro I, o autor desenvolve as

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conseqüências espirituais da noção da “pedagogia”
do Verbo, da formação que Deus dá aos fiéis por meio
de Cristo. Os Livros II e III constituem um tratado de
moral prática, examinando os deveres dos cristãos
e dando-lhes conselhos sobre a maneira de viver,
comer, beber, dormir, etc. (LUZURIAGA,1987; DE
ROSA, 1993).

Vale ressaltar algumas considerações sobre


sua exposição demonstrando que Jesus é o verda-
deiro Pedagogo dos cristãos. Clemente relata que ao
se dar o nome de “pastor” e dizer: “Eu sou o bom
pastor”, Jesus Se compara aos pastores que guiam
suas ovelhas. Deus, portanto, conduz a humanidade
inteira e ama os homens, sendo que esta posição é
apresentada desde o Antigo Testamento: “Só o Sen-
hor foi o seu guia, e nenhum outro deus estava com
ele” (Dt 32:10-12); “Eu sou o Senhor teu Deus, que
te fiz sair do Egito” (Ex 20:2); “Eu sou contigo, para
te guardar onde quer que fores, e te reconduzirei a
esta terra, e não te abandonarei, sem ter cumprido
o que prometi” (Gn 18:15).

A própria Lei – prossegue Clemente - dada por


Deus ao povo de Israel, é considerada como aio, ou
pedagogo, para conduzir a Cristo. O Pedagogo, Cristo,
é aquele que ensina o seu povo, que tem autoridade,
exerce a disciplina e o juízo. Suas características

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marcantes são a Sabedoria, o Poder, a Solicitude.
Ele faz-se respeitar, chama e leva ao caminho da
salvação. Como um Pai, a bondade e a severidade de
Cristo se revelam aos crentes na medida certa, de
modo que dá mandamentos imprimindo-lhes uma
tal característica que permite aos fiéis executá-los,
com a ajuda do Santo Espírito.

Clemente, em sua obra, ainda fornece uma


indicação do propósito da educação e da Obra de
Cristo como Pedagogo: que os crentes adquiram a
semelhança com Deus, por meio da mortificação
da carne em seus desejos pecaminosos e do cultivo
das virtudes cristãs, e por meio destas alcancem
o propósito para o qual foram criados: a imagem
e semelhança de Deus. Quanto à pedagogia, é a
religião: ela é ao mesmo tempo o ensinamento do
serviço de Deus, educação em vista do conhecimento
da verdade e boa formação que conduz ao céu.

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Orígenes (185-254)

Discípulo e sucessor de Clemente na Escola


de Alexandria, era tão competente que foi escolhido
para suceder Clemente em 203, aos 18 anos de idade,
e ocupou este cargo até 231. Seu amigo Ambrósio,
homem rico que ele convertera do gnosticismo,
se responsabilizou pela publicação de suas muitas
obras. É possível que Orígenes tenha sido autor
de seis mil pergaminhos. Orígenes escreveu obras
filosóficas importantes, entre elas a obra intitulada
De Principiis, considerado o primeiro grande tratado
cristão de teologia sistemática. Assim, especialmente
em questões teológicas e hermenêuticas, Orígenes
pode ser comparado com Agostinho, no significado
de sua obra.

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Orígenes foi um homem de grande cultura.
Recomenda o estudo das ciências, especialmente das
matemáticas e considera a filosofia como coroamento
do saber e preâmbulo para doutrina religiosa, pois
para ele, a virtude pode ser ensinada e aprendida.
Contudo, nada se compara com a importância decisiva
que tem os Evangelhos e a tradição apostólica. Sua
importância como educador está na escola que dirigiu
em Alexandria e na que, mais tarde, fundou em
Cesaréia, e alcançou grande fama. (LUZURIAGA,
1987, p. 74).

Basílio (329-379)

Representante da pedagogia monástica, a


quem se deve a fundação dos mosteiros do mundo
católico oriental, homem de grande cultura e cujas

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Regras revelam grande valor pedagógico. Acentua
o senso social, de comunidade, e insiste no valor da
caridade e do auxílio mútuo. Como meios de educação
recomenda o trabalho e a leitura dos Evangelhos; as
letras serão aprendidas por meio deles, especialmente
do livro de Provérbios.

Jerônimo (340-420)

Natural de Veneza, Jerônimo converteu-se


ao cristianismo aos 25 anos de idade, quando era
estudante em Roma, sendo batizado em 360. Dedicou-
se ao estudo das Escrituras e à prática monástica, indo
passar vários anos, feito monge, num deserto perto

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de Antioquia, onde enfrentou muitas dificuldades,
embora sem abandonar seus estudos em Roma. Seu
grande amor ao Cristianismo, poder intelectual e
extraordinário raciocínio, exerceu grande influência na
aristocracia romana, particularmente entre algumas
mulheres da nobreza. Passou os últimos 35 anos de
sua vida em um mosteiro em Belém, estudando e
escrevendo, até sua morte em 420.

A principal de suas obras foi a tradução


que fez da Bíblia do original em Hebraico para o
latim, a Vulgata, a Bíblia da Idade Média, e revisou
cuidadosamente a versão latina do Novo Testamento
existente. Jerônimo escreveu ainda comentários,
tratados de teologia, livros em defesa da vida
monástica e inúmeras cartas.

Além da ação monástica, Jerônimo se distinguiu


na educação pelas duas cartas que escreveu sobre a
educação das meninas, que revelam o tipo de educação
feminina pregada pelo cristianismo primitivo.
Recomendando a educação doméstica, materna,
adverte:

““
(...) a maior mestra de vossa filha sereis vós,
e vivereis de tal sorte que à tenra menina
admirem vossos santos costumes, e não veja
em vós, nem em seu pai, coisa que possa ser
pecado. Lembrai-vos, pois, de que sois mãe de
uma donzela, que melhor poderá ser ensinada

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com exemplos que com palavras e gritos.” (SÃO
JERÔNIMO apud. LUZURIAGA, 1987, p. 75).

Jerônimo recomenda a educação ascética e


a instrução baseada em orações, leitura de livros
religiosos e trabalhos manuais e domésticos.

Agostinho (354-430)

Agostinho foi sem dúvida o maior dentre os


pais da Igreja e um dos pensadores mais importantes
de todos os tempos, cuja contribuição ao Cristianismo
é reconhecida tanto pelo Protestantismo como pelo
Catolicismo Romano. Nasceu em Tagaste, na Numídia,
Norte da África romanizada, de pai pagão e mãe cristã.

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Sua mãe, Mônica, mulher piedosa e cristã fervorosa,
dedicou sua vida à sua formação e conversão à fé
cristã. Ele, porém, não lhe seguiu o exemplo na
mocidade, mas, ao ser enviado para estudar retórica
em Cartago, passou a viver uma vida de devassidão,
da qual resultou seu filho natural, Adeodato. De
início, embora meditasse bastante sobre assuntos
religiosos, vivia de modo praticamente irreligioso, mas
na busca pela verdade, aderiu à heresia maniqueísta
e aos ensinos do neo-platonismo4 . Ensinou retórica
em sua cidade natal e em Cartago até ir para Milão
em 384.

Nesta cidade, abalado profundamente pela


pregação de Ambrosio, o nobre bispo, aconteceu a
crise que levou à sua conversão, em 386. Começou
a estudar o Cristianismo, e numa certa ocasião em
que, num jardim, meditava sobre sua condição
espiritual, ouviu uma voz de um jovem vizinho
que dizia: “toma e lê”. Agostinho abriu sua Bíblia
em Romanos 13:13-14 e a leitura trouxe-lhe a luz
que não encontrara nem no maniqueísmo, nem no
neoplatonismo. Foi recebido à Igreja em 387 e, de
volta a Cartago, foi ordenado sacerdote em 391. Cinco
anos depois foi consagrado Bispo de Hipona. Fundou
aí uma comunidade religiosa, logo convertida em
grande centro da cultura eclesiástica e donde saíram

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destacados sacerdotes e bispos. Até a sua morte em
430, empenhou-se na administração episcopal,
estudando e escrevendo. Deixou mais de 100 livros,
500 sermões e 200 cartas (CAIRNS, 1990, p. 118).

Dentre suas numerosas obras, destacam-


se: Confessiones, provavelmente sua obra mais
conhecida e uma das maiores autobiografias de todos
os tempos, em que descreve a sua vida pregressa, a
sua conversão e os acontecimentos subseqüentes. O
livro traz no primeiro parágrafo a conhecida frase:

““
Tu nos fizeste para Ti e nosso coração não des-
cansará enquanto não repousar em Ti”.

Nas Retractationes, outra obra autobiográfica produzida


antes de sua morte, Agostinho faz um balanço de suas
idéias e lamenta em particular sua aproximação com
a filosofia pagã, a qual jamais pode levar o homem
à verdade como faz o cristianismo. De Doctrina
Christiana é a obra exegética mais importante que
escreveu, onde desenvolve o princípio da analogia
da fé (CAIRNS, 1990, p. 19). Outras obras e tratados
teológicos foram: De Trinitate, De libero arbítrio,
Soliloquia, Da Ordem, De civitate Dei, Contra
Acadêmicos e De Magistro.

As quatro últimas obras são as mais importantes


do ponto de vista pedagógico. No tratado Da Ordem,
ele explica sua concepção de educação integral

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humanística. De civitate Dei, ou A Cidade de Deus,
de caráter apologético, foi considerada por Agostinho
sua grande obra. Nela, o autor propôs uma filosofia
da história, real e abrangente, que contrapunha a
Cidade de Deus e a Cidade da Terra. Na primeira, o
povo de Deus, unido pelo amor e pelo desejo de Sua
Glória, viveria em felicidade eterna após o julgamento
final. A Cidade da Terra era composta pelos seres que,
amando a si mesmos, procuram sua própria glória e
benefício, e por isso seriam condenados ao castigo
eterno (CAIRNS, 1990, p. 120). Segundo Cairns (1990,
p. 120), a formulação de uma interpretação cristã da
história deve ser tida como uma das contribuições
permanentes deixadas por este grande erudito cristão.
Agostinho exalta o poder espiritual sobre o temporal
ao afirmar a Soberania do Deus que se tornou o
Criador da história no tempo. “Deus é o Senhor da
história e nada o limita, como ensinaria o filósofo
Hegel (1770-1831) [...] O fim ou objetivo da história,
para Agostinho, está fora da história, nas mãos de
um Deus eterno”.

Uma de suas obras escritas em forma de diálogo


foi Contra Acadêmicos, onde se procura demonstrar
que o homem jamais pode alcançar a verdade completa
através do estudo filosófico e que a certeza somente
vêm pela revelação bíblica. Outra obra pedagógica
importante foi De Magistro, ou Do Mestre. Na obra,

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escrita em Cartago, Agostinho quer educar seu filho
Adeodato, com 16 anos de idade, dentro de sólidos
princípios religiosos, sem contudo negligenciar
a instrução profana. Segundo De Rosa (1993, p.
101), “a obra é bastante simpática aos estudiosos
da Educação, porque mostra os desvelos de um pai
que procura dirigir o espírito do Filho, tendo como
escopo final a salvação da alma”.

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CAPÍTULO V

Resumo

F
inalmente, como principais características
da Educação Cristã primitiva podemos listar:

• Consideração da família como a mais


imediata comunidade pessoal e educativa,
sendo o núcleo responsável pela educação,
através da vida, exemplo e ensino dos pais;
• Ensino fundamentado nas Escrituras Sagradas,
sendo a Bíblia considerada como o conteúdo da
instrução, outras vezes como o material didático
(para o ensino da leitura) e como o próprio
propósito da educação (que era preparar as
pessoas para que pudessem lê-la e estuda-la).
A presença da Bíblia no ensino cristão primitivo
era percebido também de forma indireta,
quando dela se extraíam princípios morais,
regras, e valores norteadores da educação cristã.
• Reconhecimento do valor do
indivíduo como obra de Deus.
• Tendência à universalização do ensino cristão,

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assim como aconteceu com a religião cristã,
através da superação dos limites de nação e Estado
e da criação da consciência universal humana;
• Fundamentação das relações humanas nas
virtudes cristãs, como o amor e a caridade.
• Igualdade essencial de todos os homens, seja qual
for a posição econômica, classe social ou gênero.
• Valorização da vida e propósito espirituais
sobre os puramente intelectuais;
• A vida terrena presente passa a ser vista à
luz da eternidade, e portanto, a educação
está intrinsecamente voltada para o que
pode ser útil nesse mundo tendo em
vista a vida futura (essa visão orientou
o avanço do Cristianismo no mundo).

E
STE E-BOOK FAZ PARTE DA SÉRIE
Fundamentos Históricos e Filosóficos
de uma Educação Bíblico-Reformada.
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‘Notas de fim’
1 Cf. DE ROSA, Maria da Glória de. A História da Educação
Através dos Textos. 19.ed. São Paulo: Cultrix, 1993, p. 87.

2 Os textos bíblicos que serão citados nesse trabalho


são tirados da versão revista e atualizada da tradução
de João Ferreira de Almeida, 2.ed. São Paulo: Sociedade
Bíblica do Brasil.

3 Cf. textos bíblicos: João 14:6; João 10:7,9; João


8:12; 9:5; Provérbios. 1:20; 7:4; I Coríntios 1:24,30.

4 O maniqueísmo e o neo-platonismo podem ser


consideradas duas heresias do início da Igreja cristã.
O maniqueísmo foi uma religião sincretista fundada
por Mani na metade do século III. Adotava um sistema
dualista (luz contra trevas) com elementos cristãos,
gnósticos e orientais. Havia muito ascetismo entre eles
e aos adeptos “perfeitos” era proibido o casamento.
Agostinho foi seguidor desta seita por doze anos,
combatendo-a depois energicamente. O neoplatonismo
era uma corrente filosófica fruto do helenismo, que
veio a se tornar uma religião, com árduos adeptos
em Roma mesmo depois que o Cristianismo foi
tornado oficial, e também entre os cristãos. O nome
aponta para Platão, com a defesa da existência da
“idéia” antes da forma, do espírito antes da matéria.

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Referências bibliográficas
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Uma História da Igreja Cristã. 2. ed. São Paulo:
Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 1990. 508p

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Pedagogia. 17.ed. São Paulo: Nacional, 1987.

3. NICHOLS, Robert Hastings. História da Igreja Cristã. 5.ed.


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11. GREGGERSEN, Gabriele. Vivendo e Aprendendo com C. S.


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uma avaliação cristã do pensamento e da cultura da
nossa época. 1.ed. São Paulo: Cultura Cristã:1999.

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Esse e-book faz parte do Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado ao curso de Pedagogia da Universidade
Estado do Pará sob o título FUNDAMENTOS HISTÓRICOS
E FILOSÓFICOS DE UMA EDUCAÇÃO
BÍBLICO-REFORMADA, para fins de citação utilize-se

as informações da Ficha Catalográfica:

ANGLADA, Karis Beatriz Gueiros


Fundamentos Históricos e Filosóficos de uma Educação Bíblico-
Reformada/ Karis Beatriz Gueiros Anglada.
300 f.
Monografia (graduação) – Universidade do Estado do Pará. Centro
de Ciências Sociais e Educação. Belém, 2004.
Área de Concentração: Educação
Orientador: Maria Betânia Barbosa Albuquerque.

1. Educação 2. Filosofia 3. Religião Cristã/Reformada


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