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Comunhão com quem?

1Corintios 10.14-22

Introdução

“Me diga com quem andas que eu te direi quem és”. É um ditado popular português que
as nossas mães e avós nos diziam e dizem constantemente.

E sempre após uma frase como essa, sempre vinha uma história. Para aqueles que tem o
privilégio de ter seus avós ainda vivos, sabem muito bem disso. Eles nos contam as histórias de
seus conhecidos que se envolveram com pessoas erradas e acabaram se prejudicando. E nós
ficamos com aquela cara de bobo como se estivéssemos conhecendo tudo a história e os nomes
das pessoas.

O problema é que nós achamos que essas histórias antigas acompanhadas de ditos
populares são antiquados e não servem para a nossa realidade.

Quando olhamos para esse capítulo que Paulo escreve para a igreja de Coríntio, vemos
ele se remetendo para histórias do Antigo Testamento para ensinar a igreja. Desde o início do
capítulo ele mostra que Deus havia conduzido o povo debaixo da nuvem, que Deus os fizeram
passar no mar vermelho, deu maná do céu em meio ao deserto e deu de beber a todos eles. E
mesmo assim, o povo caiu em idolatria e imoralidade.

No texto de hoje nós veremos que quando o crente se relaciona com os ídolos ele se
torna um com ele refletindo o seu caráter e se distancia do Senhor, deixando de lado o caráter
de Deus.

Tema: Comunhão com quem?

I) A glória da comunhão – 1Co 10.14-17

A) Fuja da Idolatria

Após Paulo falar sobre como Deus cuidou do povo durante a peregrinação no deserto e
qual foi a resposta dada pelo povo, ele termina dizendo que Deus não permitirá que sejamos
tentados acima daquilo que podemos suportar, mas que ele mesmo daria o escape (v.13).

E assim ele começa o verso 14 recomendando, de forma pastoral, se dirigindo aos irmãos
que usem do bom sendo e fujam da idolatria. Ou seja, o meio pelo qual Deus daria o escape era
fugindo da idolatria.

E ele mostra a razão disso. A razão é que a igreja participa do corpo e do sangue de Cristo.
Esta “participação” (vv. 16, 17) não está se referindo à comunhão, simplesmente, de Atos 2 ou
da identificação que temos com Cristo em sua morte.

Mas essa “participação” está se referindo aquilo que chamamos em ter parte em algo. Ou
seja, o que Paulo mostra é que a igreja tem parte, ela se compromete com o Senhor em ter a
sua natureza, natureza santa. Pedro usa do mesmo conceito para dizer que somos participantes
da glória (1Pe 5.1) e que nos tornamos participantes da natureza divina (2Pe 1.4).

Ou seja, se o pão e o vinho, que simbolizam o corpo de Cristo, refletem caráter o espiritual
daquilo que eles significam, a igreja, que participa desta comunhão, deverá refletir esse caráter.

B) Somos idólatras em potencial


Duas coisas, pelo menos, aprendemos nessa passagem. Primeiro, a nossa união com
Cristo. E quando a gente entende isso percebemos que temos uma união, uma comunhão
gloriosa. Nós somos os ramos e Jesus é a vinha (João 15:5); Jesus é a cabeça e nós somos seu
corpo (1Co. 6:15-19); Cristo é o fundamento e nós somos as pedras vivas unidas ao fundamento
(1Pe. 2:4-5); e o casamento entre o marido e a mulher aponta derradeiramente para a união
entre Cristo e os crentes (Ef. 5:25-31). Todo o Novo Testamento nos ensina que essa união, que
esse privilégio que temos de estarmos unidos a ele ocasiona todos os benefícios de nossa
redenção1.

Uma segunda coisa que podemos ver é que, quando Paulo orienta a igreja a fugir da
idolatria, mesmo que esses crentes participam do corpo de Cristo, é porque toda a humanidade
é idólatra em potencial. Idolatria e tirar Deus do centro e colocar qualquer outra coisa, e desde
o Éden sempre foi assim. Idolatria não está, somente, em ter uma imagem de algum santo e
dobrar diante dele. Idolatria é deixar de ter comunhão com Deus e ter comunhão com qualquer
outra coisa.

C) Nós nos esquecemos do corpo de Cristo

Quando Paulo escreve essas orientações e as anteriores desde o início do capítulo, ele
está escrevendo para os ditos cristãos fortes que ele trata desde o capítulo 8. E nós temos essa
pretensão de que, por conhecer um pouco de doutrina, ser filho de oficial, presidente de
sociedade, cantar no coral da igreja ou desempenhar qualquer outra função na igreja, nós já
somos fortes suficiente para que não necessitemos de nenhuma orientação ou instrução. Igual
quando nossos pais ou avós nos repreendem, nós nos achamos mais sábios do que eles. Mas o
que não vemos é que estamos caindo nos erros que Israel cometeu e o povo de Coríntios
também: se esquecendo da comunhão com Cristo e caindo em idolatria.

Como anda a comunhão de vocês com a igreja? Quando a Bíblia fala de nossa comunhão
com Cristo ela também remete comunhão com a família de Deus. Dentro dos seus círculos de
amizade, quem são seus maiores e melhores amigos, crentes ou ímpios? Com quem você fala
de suas angústias e dúvidas? Com qual amigo você busca aconselhamento quando os seus pais
lhes proíbem de fazer certas coisas?

Aquele com quem você tem mais comunhão mostrará ou não se você tem comunhão com
Cristo.

II) O compromisso desta comunhão – 1Co 10.18-22

A) Considerem a comunhão

Após Paulo mostrar que temos com Cristo uma comunhão gloriosa onde que participamos
em Cristo disto, agora ele mostra que devemos o compromisso desta comunhão.

Quando nós lemos essa passagem ela nos faz lembrar do que ele disse no capítulo 8 sobre
os crentes, se poderiam ou não, comer carnes sacrificada aos ídolos. E ele vai dizer que não
nenhum problema quanto a isso, mas por causa do escândalo é melhor evitar para que não
contribuamos com o afastamento de pessoas da igreja (cf. 8.4-9).

1
cf. FESKO, J.V. União com Cristo. <https://voltemosaoevangelho.com/blog/2013/04/a-uniao-com-
cristo-nas-epistolas-de-paulo-j-v-fesko/>. Acesso em 22 de junho de 2019
E parece ser uma contradição de Paulo aqui. Porque Paulo diz que o ídolo para o qual o
alimento é oferecido não tem valor, mas agora ele diz que o que está por detrás dos ídolos são
os demônios. Se no capítulo 8 Paulo, em tese, permite que a igreja coma dessas carnes, agora
Paulo diz que não podemos comer da mesa dos demônios (v.21).

Óbvio que não é uma contradição. O que Paulo trata no capítulo 8 não está relacionado
diretamente à comida, mas a sua consciência cristã de entender que sua comunhão com a igreja
é mais importante com aquilo que você correto.

Aqui Paulo vai fechar ainda mais o cerco para a igreja, dando o exemplo de Israel em duas
passagens diferentes. No verso 18 Paulo está citando Êxodo 32.5, 6 que faz uma referência ao
bezerro de ouro, onde que Arão anunciou dizendo que aquele bezerro era uma festa ao Senhor.
Além disso, Paulo faz um claro contraste coma ceia do Senhor. Se na Ceia os crentes expressam
essa comunhão e participação com Cristo, na festa aos ídolos as pessoas que participam tem
comunhão e são parte daquilo.

Nós conseguimos entender essa afirmação olhando para os versos 19-21, especialmente
o verso 20. Os que comem da mesa de demônios tem comunhão com eles. E, mais uma vez, ele
se remete ao Antigo Testamento para explicar isso. A referência aqui é Deuteronômio 32.16-21
e é óbvio que os crentes de Coríntios não estão oferecendo sacrifícios, mas Paulo está fazendo
essa relação com Deuteronômio para mostrar que o tanto o oferecer como o participar tem o
mesmo propósito, ser um com os ídolos.

Esse alerta que Paulo faz se une aos outros dois, de que se os crentes se participarem
destas festas estão se unindo aos demônios, Paulo diz que nós estaremos provocando o ciúme
de Deus com a pretensão de sermos mais fortes do que Deus (v.22).

B) Somos parecidos com que adoramos

Na primeira parte nós vimos que somos participantes de Cristo por causa da nossa
comunhão com Ele. E agora, Paulo diz que seremos participantes da natureza dos demônios,
dos ídolos, se mantivermos comunhão com eles. E isso é o que diz o Salmo 115.8. A descrição
que o salmista faz dos ídolos são atribuídos aos seus adoradores, ele diz que os ídolos são: obras
das mãos humanas, não falam, não enxergam, não ouvem, não sente cheiro, não apalpam, não
andam e não falam (vv.4-7); e aqueles que o adoram são semelhantes a eles.

E isso vai ser retratado como adultério espiritual. Quando o povo de Deus se envolvia com
outros deuses, Deus os condenava como adultério espiritual, como podemos ver em Oséias 4.7
e no Salmo 106.20, eles trocaram a glória de Deus por um boi que come capim. Eles trocaram a
comunhão, o relacionamento com o Deus Soberano por ídolos, por demônios.

C) Com quem nós nos parecemos

Quando lemos Salmo 106.20 quando ele diz que povo de Israel trocou o Deus que os
livrara do Egito por um boi que come capim, parece ser algo que somente uma ignorante poderia
fazer. Igual quando fazemos com as crianças quando elas ganham R$ 2 de alguém e a gente,
nada bobo, pega duas moedas de 10 centavos, novinhas, douradinhas, e oferecemos uma troca
com elas. As crianças, atraídas pela quantidade e beleza do objeto, não percebe que está
perdendo ao trocar os dois reais por duas moedas de dez centavos novinhas.

Foi isso que Israel fez, eles compararam a glória de Deus vista no deserto e no monte e
entenderem que o boi seria mais glorioso do que Ele. Nós fazemos iguais.
Nós trocamos a Deus por coisas que nos seduzem, por exemplo, as drogas. Elas não estão
ligadas, simplesmente, a questão de saúde, mas sim de idolatrias. Por que uma pessoa se droga?
Por causa da sensação que ela proporciona, e quando passa ela busca mais.

Nós trocamos a Deus por coisas que nós confiamos. Nesses últimos 10 anos nunca vimos
um debate tão ferrenho relacionado a política. E quando isso está dentro dos assuntos da igreja
não tratamos à luz da Escritura, tratamos no que achamos melhor e mais seguro para a
população e se esquecemos que Senhor Jesus é o nosso Rei e que controla todas as coisas.

Nós trocamos a Deus por coisas que nos fazem felizes. O que você faz para ser feliz?
Vivemos em um mundo onde que a felicidade está acima de qualquer princípio básico
fundamental. Quantos de nós não quebramos a Lei de Deus para tentar um pouco de felicidade?
Namoro com descrente, participar de festa pagã (festa junina, casamento em igreja católica),
dentre outras coisas. Nós somos iguaizinhos ao povo de Israel, trocamos a Deus por qualquer
coisa para nos satisfazer sem perceber que estamos provocando a Ele dizendo que somos mais
fortes do que Ele.

Conclusão

Fomos chamados para ter união, comunhão com Cristo e participar dele e de seus
benefícios. Quando nos associamos a qualquer outra coisa que não é de Cristo ou Cristo,
estamos nos rebelando contra Deus sendo participantes da mesa dos demônios.

Aplicação

O que fazer? Entender que fomos chamados para servir a Cristo e qualquer
relacionamento fora dele é idolatria;

Por que fazer? Porque o Deus que nos chamou a essa comunhão é o Deus que criou todas
as coisas e governa todas as coisas. É aquele que por quem nós vivemos, nos movemos e
existimos. Nenhum outro deus, pessoa ou coisa pode fazer ou nos dar isso;

Como fazer? Se dedicando a Cristo inteiramente. Quanto tempo você gasta com Cristo e
sua Palavra. Em um estudo diz que, em média, com redes sociais e televisão, gastamos por anos
1642 horas. E esse tempo poderia nos levar a ler, em média, 200 livros por ano. Daria para você
ler a Bíblia e ler livros que te auxiliaria em sua caminhada cristã.

Quanto mais nos afastamos de Deus, de sua comunhão, da comunhão com nossos irmãos,
mais nos tornaremos mais propícios a sermos parecidos com qualquer outra coisa que não seja
Deus.

“Diz-me com quem andas e dir-te-ei quem és. Saiba eu com que te ocupas e saberei
também no que te poderás tornar.” Johann von Goethe, escritor do século 17

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