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Por que o cristão deve congregar

Hoje iremos falar a respeito do porquê um cristão deve congregar. Ou seja, participar
frequentemente dos cultos e das atividades de sua comunidade.

Antes, porém, gostaria de falar de alguns fenômenos que têm acontecido e que estão
relacionados, na verdade às pessoas decepcionadas, ou que simplesmente deixam de
frequentar uma igreja, uma comunidade:

Primeiro, alguns dados estatísticos sobre este assunto:

Católicos diminuíram 21,3%

Evangélicos aumentaram 13%

Outras religiões não aumentaram e nem diminuíram

Sem religião aumentou 7,2%

O aumento dos sem religiões está vinculado com o aumento dos evangélicos, ou seja,
provavelmente as pessoas que se tornaram sem religião alguma, em um dado momento
passaram pela religião evangélica.

Segundo, o aumento de livros em relação as decepções com líderes, com as instituições ou


mesmo com Deus. Nós temos aí no mercado livros que batem recorde de vendas por causa
desta temática. Temos o Feridos em nome de Deus, Decepcionado com Deus, Por que Você
Não Quer Mais Ir À Igreja. Todos nessa mesma linha.

Por que temos livros assim? Porque a demanda existe. Pessoas que enfrentam ou enfrentaram
estas situações em suas vidas e não conseguiram mais permanecer congregando. Pessoas que
de fato foram abusadas espiritualmente por líderes e sucumbiram. Pessoas que foram mal
instruídas em sua relação com Deus e abandonaram a fé em um Deus que nunca conheceram.
Tudo isso tem acontecido hoje e tenho certeza que você que está aqui, e que pode inclusive
ter passado por alguma experiência assim, também conhece alguém que não pisa aqui por
estar em um estado que nós chamamos de cinismo. Cinismo nesse sentido não é aquela
pessoa falsa, mau-caráter.

O cínico é na verdade aquele que sofreu alguma espécie de desilusão e que agora se encontra
em um estado de desconfiança. Sabe um cachorro que apanhou muito e que passou a ter
medo de tudo por isso? Bom esse é o estado do cínico. Mas falaremos mais sobre isso logo a
frente.

Para finalizar esta introdução, há também hoje movimentos de igrejas emergentes, ou seja,
pessoas que se reúnem geralmente em casas, sem um CNPJ, e que até mesmo nem se
chamam mais de evangélicos. São decepcionados até mesmo com a tradição reformada.
Muitos até pensam que podem voltar à época da igreja primitiva para restaurar a originalidade
da fé. Parece até algo piedoso, mas na verdade é uma manifestação de pura arrogância.

Primeiro, porque é impossível voltarmos aos moldes dos apóstolos simplesmente porque o
tempo e a cultura na qual estamos imersos é completamente diferente. Segundo, porque
estaríamos jogando 2000 anos de história, ensinamentos e construções teológicas fora,
desconsiderando inclusive que foi Deus quem sustentou e capacitou sua igreja a sobreviver até
hoje. Seria como se falássemos que Deus fez um péssimo trabalho até aqui e que precisamos
concertar as coisas.
Então gostaria de apresentar alguns pontos sobre este assunto, primeiramente definindo o
que é a igreja e como ela foi constituída. Para isso vamos começar lendo Mt. 16.13-18:

“Chegando Jesus à região de Cesaréia de Filipe, perguntou aos seus discípulos: "Quem os
homens dizem que o Filho do homem é? "

Eles responderam: "Alguns dizem que é João Batista; outros, Elias; e, ainda outros, Jeremias ou
um dos profetas".

"E vocês? ", perguntou ele. "Quem vocês dizem que eu sou? "

Simão Pedro respondeu: "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo".

Respondeu Jesus: "Feliz é você, Simão, filho de Jonas! Porque isto não lhe foi revelado por carne
ou sangue, mas por meu Pai que está nos céus. E eu lhe digo que você é Pedro, e sobre esta
pedra edificarei a minha igreja, e as portas do Hades não poderão vencê-la“.

Jesus está no auge do seu ministério. Sua fama, especialmente a respeito dos seus milagres, se
espalhou. Ao mesmo tempo, seus inimigos já arquitetavam uma forma de o calar, mesmo que
precisassem matá-lo para isso.

Seus discípulos também estavam há bastante tempo com ele, presenciando e aprendendo
seus ensinos e seu caminho. E agora era hora de direcionar o seu ministério para o clímax. Para
tanto algo era necessário: uma conversa, uma revelação de quem Ele era.

Então Jesus procura se afastar das multidões para ficar a sós com seus discípulos. Estamos aqui
em um momento no ministério de Jesus em que a identidade do Rei será revelada para que ele
busque então sua cruz. É exatamente a partir daqui que Jesus vai na direção da cruz.

E então ele pergunta o que o povo pensava a respeito dele. Seus discípulos respondem que o
povo pensava que Jesus era um dos grandes profetas, citando inclusive três deles: João Batista,
Elias e Jeremias. De alguma forma o povo via em Jesus a imagem de um grande profeta, de
alguém de fato movido por Deus.

Mas, por mais piedoso e até que isso pareça carregar alguma espiritualidade, esse pensamento
não passa de um grande equívoco. Por várias vezes já, Jesus deu indícios de que ele era muito
mais que um profeta, muito mais que um grande mestre, muito mais que um grande homem
de Deus. Inclusive ele arriscou sua vida com suas afirmações, quer subtendidas, quer explícitas,
de que ele era o Filho de Deus, se fazendo igual a Deus.

Assim, afirmar que Jesus era apenas um profeta ou um grande mestre se torna impossível pois,
se ele afirma sobre sim mesmo ser Deus não o sendo, ou ele é louco, por querer ser Deus, ou é
um charlatão. Logo não poderia ser um grande mestre. Portanto, se não o consideramos nem
louco e nem charlatão, ele só pode ser Deus. E se ele é Deus, nossa relação com ele deve
mudar, pois Deus é digno de adoração e de que nos submetamos a ele completamente.

E é essa revelação que era necessária aos seus discípulos. Quando Jesus pergunta a eles quem
eles dizem que ele é e Pedro faz a afirmação de que Jesus é o Cristo, o Filho do Deus Vivo,
aquilo que era necessário para formar a igreja estava colocado.

Não dá para considerar Jesus apenas como salvador. Ele também tem que ser senhor. E só ele
pode ser o único senhor e salvador porque só ele é Deus.
Esse é o fundamento para a igreja. Há um jogo de palavras que Jesus faz em relação a Pedro:
tu és Petros (pedra) e sobre esta Petra (rocha) fundarei minha igreja. A Rocha não é o próprio
Pedro pois petros era uma pedra pequena. Petra é um rochedo, igual aquele que aparece no
final do Sermão do Monte: quem ouve minhas palavras e as pratica é igual ao homem
prudente que construiu sua casa em cima de um rochedo.

Então podemos entender que a igreja é fundamentada no reconhecimento de que Jesus é o


único e suficiente Senhor e Salvador. A palavra igreja, que no grego é ekklesía, significa
literalmente “chamados para fora”. Mas não é no sentido de que temos que sair deste lugar de
reunião para fora. Na verdade, a ideia é da convocação das pessoas para as assembleias nas
cidades.

Jesus usa o termo apontando exatamente para o movimento que fazemos quando nos
reunimos: somos chamados para sairmos de nossas casas e nos reunir na assembleia do povo
de Deus. Então a igreja é a reunião das pessoas que creem em Jesus como seu único e
suficiente salvador.

E Jesus diz mais a respeito desta igreja. Ele diz que as portas do inferno não prevalecerão
contra ela. Mas, precisamos entender uma coisa aqui. Primeiro, até na tradução que apareceu
aqui na tela, falou de as portas do hades. O hades para o povo da época era o mundo dos
mortos. Não é o inferno que a maioria acredita, que tem o diabo lá espetando as pessoas com
o grafo. E nem aquele inferno descrito nos livros que o povo fala que teve revelação e que foi
no inferno e etc.

A ideia aqui é outra. Estávamos todos aprisionados no inferno, mortos em nosso delitos e
pecados. Quando Jesus ressuscita e vence a morte, ele nos deu a mesma vitória. Isso significa
que a morte não tem mais poder sobre nós, ainda que a gente morra, pois ressuscitaremos. A
igreja de Deus não pode ser destruída nem pela morte e nem pelo diabo.

Jesus vai sustentar esta igreja como ele já tem sustentado por 2000 anos e nada poderá
destruir a igreja, pois Cristo é seu fundamento. E mais; o próprio Pedro fala na sua epístola que
Cristo é também a pedra angular. Então Jesus é a rocha como fundamento, e a pedra de topo,
a pedra angular que segura o arco que era construído na construção romana.

Então, a igreja é esta reunião do povo de Deus em torno de Cristo. E é aí que começam os
problemas. Pois a igreja é um ajuntamento de pecadores.

Mas isso só é problema para quem tem ilusões a respeito da igreja. Isso só é problema para
quem acha que só vai encontrar gente bacana na igreja, só gente abençoada, só gente fofa.
Você encontra gordinho como eu, mas gente fofa.... hummm... ilusão.

O que acontece com as pessoas que elas se iludem desta forma? Acontece algo que a gente
chama de sentimentalismo. E por causa do sentimentalismo a gente romantiza a relação com a
igreja e idealiza a relação com as pessoas.

Então a gente acabou de chegar, tem uma pregação bacana, louvor nota 10, a turma de
recepção com um sorrisão, você ganha balinha e abraço. Cara que top esse lugar, nunca estive
em uma igreja assim. E aí a gente começa a achar que todo mundo aqui é santo, mas não no
sentido bíblico, no sentido divino mesmo. Ou seja, que ninguém aqui peca, que todo mundo
tem o caráter já complemente amadurecido e tratado.
Aí você topa com um dos líderes da igreja, e ele te responde mal ou não te responde e pronto.
Ou aquele irmão que parecia gente boa, mas na verdade era um picareta. Ou algum escândalo
acontece. O fato é que por causa desta ilusão, deste romantismo e deste idealismo, a gente se
decepciona.

Não é que as pessoas não tenham que ter responsabilidades e se comportarem de modo que
honrem ao Senhor. Mas nós estamos entre pecadores mesmo, e por causa disso, a igreja não é
legal.

Judas trata esta questão de forma tão séria que ele até mudou o que queria escrever para os
irmãos. Na sua carta ele diz que queria escrever sobre a salvação, mas se sentiu impelido a
escrever para que os irmãos se defendessem de pessoas que estão na igreja fazendo os outros
tropeçarem e pecarem.

Olhe o que ele diz no verso 12:

“Esses homens são rochas submersas nas festas de fraternidade que vocês fazem, comendo
com vocês de maneira desonrosa. São pastores que só cuidam de si mesmos. São nuvens sem
água, impelidas pelo vento; árvores de outono, sem frutos, duas vezes mortas, arrancadas pela
raiz”.

Ele está falando aqui até mesmo de falsos mestres, falsos pastores. Quanto mais irmãos que
não tenham nenhum cargo eclesiástico. Ele fala que na igreja temos que ter cuidado ao
navegar para não toparmos com uma rocha submersa. Ou seja, para não toparmos com
pessoas que nos afundem, que nos joguem para baixo. A ideia é que devemos tomar cuidado e
não ficarmos nos iludindo achando que todo mundo é bem crente, bem convertido e maduro
na fé.

Precisamos, neste sentido nos desiludirmos, de uma boa desilusão, e entendermos que as
pessoas erram e vão errar mesmo e pior, que nos encontraremos com estes que são mau-
caráter mesmo dentro da igreja. A cultura da igreja é a cultura da graça, portanto, precisamos
nos resolvermos nisso ao invés de ficarmos fazendo exigências e beicinho quando as coisas
não saem de acordo com nosso ideal.

Quando alguém que trata a igreja de forma romantizada e topa com uma rocha submersa, a
tendência dela é se tornar cínica. E é por isso que as pessoas saem. Porque seus próprios ideais
fracassaram e não foram correspondidos.

O texto fala também que estas pessoas são pastores que pastoreiam a si mesmos. Mais atrás
Judas fala que estas pessoas não respeitam autoridade. Ou seja, é a típica pessoa que coloca
toda sua arrogância para fora quando diz: eu sigo Jesus e não sigo pastor nenhum.

É claro que aqui há um contraponto: existem pastores que são mercenários e por isso abusam
das ovelhas. Mas os dois lados são igualmente errados. A sensação, assim como estes grupos
que muitas vezes criam suas igrejas, ainda que, por não terem um CNPJ, é que estas pessoas
pensam que estão mais próximos da verdade bíblica do que aquelas que estão em uma
instituição formalizada. É claro que temos exemplos de igrejas que se tornaram empresa ou
outra coisa. Mas tanto uma quanto a outra igualmente estão no equívoco.

O fato é que as pessoas muitas vezes não querem é prestar contas. Querem elas mesmos se
pastorearem. Igual uma vez, muitos anos depois, encontrei um rapaz que era evangélico
quando era mais novo. Aí eu me converti e o encontrei vários anos após. Ele me disse que
parou de ir na igreja, mas que tinha a sua fé. Tipo uma fé personalizada, que ele cria de acordo
com sua própria conveniência.

A mesma coisa também é o cara que vai pulando de igreja em igreja. Vai aqui, vai ali, mas não
se estabelece, não cria vínculos. E por não criar vínculos, não precisa prestar contas a ninguém.
E a mesma petulância: eu preciso prestar contas só a Deus. Claro que não! Você deve a todos.
Quando eu falo de prestar contas, não é a mim aqui não. É ao seu irmão aí do lado mesmo. É
aos irmãos próximos a você mesmo. A mim, só se você se achegar a mim. E eu também devo
prestar contas a vocês também. Nós, pastores, somos irmão entre irmãos. Nossa função que é
diferente da sua.

Irmãos, não existe igreja sozinho. Só somos igreja quando somos corpo! Igreja é uma reunião,
uma assembleia solene, uma comunidade onde as pessoas têm o propósito de adorar a Deus
por tão grande salvação. Isso é que é igreja.

Para finalizar, um último texto bíblico. Em Hebreus 10.19-25 “Portanto, irmãos, temos plena
confiança para entrar no Santo dos Santos pelo sangue de Jesus, por um novo e vivo caminho
que ele nos abriu por meio do véu, isto é, do seu corpo. Temos, pois, um grande sacerdote
sobre a casa de Deus.

Sendo assim, aproximemo-nos de Deus com um coração sincero e com plena convicção de fé,
tendo os corações aspergidos para nos purificar de uma consciência culpada e tendo os nossos
corpos lavados com água pura. Apeguemo-nos com firmeza à esperança que professamos, pois
aquele que prometeu é fiel. E consideremo-nos uns aos outros para incentivar-nos ao amor e às
boas obras.

Não deixemos de reunir-nos como igreja, segundo o costume de alguns, mas encorajemo-nos
uns aos outros, ainda mais quando vocês veem que se aproxima o Dia”.

O sacrifício de Jesus na cruz nos permitiu o acesso àquilo que era restrito anteriormente.
Antigamente, apenas o sumo-sacerdote podia entrar no Santo dos Santos, que era o local
onde a arca da aliança estava simbolizando a presença de Deus. E isto uma vez por ano
somente. Havia um véu separando este local do restante do templo.

Ali, o sumo-sacerdote oferecia um sacrifício que se fosse aceito, significava que Deus estava
com o povo. Se Deus rejeitasse o sacrifício, o sumo-sacerdote era fulminado, ou seja, sofria um
infarto e morria. Quando ele saia vivo, o povo vibrava mais que gol em final de copa.

Jesus foi o sacrifício ofertado e ele mesmo também é nosso sumo-sacerdote. E sabemos que
Deus aceitou o sacrifício pois Deus o ressuscitou, ele saiu da sepultura. Quando Jesus morre, o
véu do templo se rasga, indicando que aquilo que era restrito, agora estava aberto.

Um novo e vivo caminho se abriu. Novo porque a velha ordem cerimonial passou. Vivo porque
este caminho está aberto eternamente, onde eu e você podemos entrar e termos comunhão
com Deus.

Então, nos aproximemos, não mais com a incerteza de que Deus nos aceitará, nem com medo
por sermos pecadores, mas com fé na obra redentora de Jesus e no poder do seu sangue que
nos purifica de todo pecado.

Confiemos também na promessa de Deus de que ressuscitaremos como Jesus ressuscitou, pois
Deus é fiel para cumprir o que prometeu e esta é a nossa esperança. E estejamos sempre
juntos, nos estimulando uns aos outros a sermos mais parecidos com Jesus e a expressá-lo e
nossas vidas através do amor mútuo.

Não é possível ser igreja sozinho pois não tem como amar sozinho. Esta carta aos Hebreus foi
escrita em um momento em que a perseguição à igreja se tornava mais feroz. De qualquer
forma, um judeu que se convertesse perdia toda sua credibilidade com os demais. Negócios
eram desfeitos, sociedades diluídas; o marido ou a esposa abandonava.

Então, se numa época como essa, o autor da carta diz que mesmo assim não era para deixar
de congregar, de estar junto com os irmãos, hoje em uma sociedade mais tranquila e
cristianizada muito menos.

Se antes, sob pena de ser preso e executado por causa do Evangelho não era motivo de deixar
de reunir, muito menos hoje em que nosso maior problema são uns irmãos imaturos na fé.
Família é isso mesmo, é assim mesmo. Tem aquele primo chato mesmo. Mas não deixa de ser
família.

Que o Senhor nos ilumine para que sejamos igreja e estejamos juntos na reunião dos santos.

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