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SEMINÁRIO TEOLÓGICO PRESBITERIANO

REV. JOSÉ MANOEL DA CONCEIÇÃO

DÊNIS MONTEIRO

Pecadores arrependidos
Lucas 15.1-32

Sermão apresentado ao Seminário


Teológico Presbiteriano Rev. José Manoel
da Conceição. Matéria: Prática de
Pregação 2. Professor: Rev. Cláudio
Marra

São Paulo, 05 de setembro de 2019


Pecadores arrependidos

Lucas 15.1-32

Introdução

“Vou me entregar à polícia e quando sair serei mais um pastor...” trecho da música do
falecido cantor e compositor José Bezerra da Silva, mais conhecido como Bezerra da Silva.
Dentre as mais de 240 músicas produzidas pelo cantor, ele sempre tratou a fé evangélica
com chacota, até mesmo por ele ter sido adepto da Umbanda. Mas em 2001 em um culto
de uma igreja pentecostal ele aceitou Jesus e em 2005, no mesmo ano de sua morte, ele
produziu um CD evangélico, independente, chamado Caminho de Luz.
Assim como o próprio cantor zombava dizendo que um presidiário se tornaria evangélico (e
isso vira às vezes um bordão para muitos), Bezerra experimentou daquilo que ele mesmo
criticava.
Mas isso é o evangelho, abrange todas as camadas da sociedade e é isso que Lucas vem
mostrar nesta passagem, que a salvação e o arrependimento são motivos de alegria no
Reino dos céus.
I. As coisas achadas trazem alegria

A) Perdida, encontrada e houve alegria


Como bem sabemos, assim como está registrado no capítulo 1.1-4, Lucas escreveu esse
Evangelho para um homem chamado Teófilo com o propósito de relatar em ordem, a certeza
do que aprendeu. E assim, Lucas apresenta Jesus como o Filho do Homem, que foi rejeitado
por Israel e oferecido aos gentios e é assim que o capítulo 15 começa.
Jesus aparece nesta cena assentado com pecadores e publicanos e isso faz com que os
Fariseus murmurem sobre o que eles estavam vendo e após isso, Jesus lhes propõem
quatro parábolas.

Para responder os fariseus, Jesus conta quatro histórias e não três, sendo que as três
histórias iniciais possuem a mesma temática: algo estava perdido, foi achado e houve
alegria.
A primeira história fala sobre a ovelha perdida e sobre um pastor que deixa as noventa e
nove no deserto e vai atrás dela. O texto não diz como perdeu, mas podemos ver o empenho
do pastor em achá-la. Achando-a o pastor a coloca sobre os ombros levando-a para casa e
faz uma grande festa porque a encontrou.
E Jesus explica que da mesma maneira que houve festa por terem achado a ovelha perdida,
assim há festa no céu quando um pecador se arrepende (v.7).
A segunda história é parecida com a primeira, uma mulher procura por uma moeda perdida
dentro de casa e novamente não temos informações de onde estava o que se perdera, mas
o que vemos é a mulher limpando e procurando em todos os cantos pela moeda. Ao achá-
la a mulher chama as amigas e vizinhas para que se alegrem com ela. E assim Jesus explica
dizendo que, do mesmo modo, há alegria no céu quando um pecador se arrepende (V.10)
A terceira história é sobre um filho mais novo que pede ao pai a parte dos bens que lhe cabe
(v.12). Após alguns dias esse filho junta tudo e vai embora, para uma terra distante, gastando
todo o seu dinheiro e vivendo de maneira dissoluta. Vindo uma grande fome, esse jovem
começou passar necessidade ao ponto de desejar comer a comida dos porcos. Quando cai
em si, monta um discurso, prevendo o encontro com o pai, pedindo-lhe para voltar para
casa.
Quando chega em casa, mesmo não dizendo ao pai o discurso que montou, mas sabendo
que não era digno de ser chamado de filho; o pai o recebe, dando-lhe roupa, anel e fazendo
uma grande festa.
Mesmo não havendo a nota explicativa de Jesus, como ocorreu nas anteriores, o pai explica
que o seu filho estava perdido, mas foi achado e houve alegria.

Já a última história, que se inicia no verso 25, mostra uma estrutura diferente. Se nas outras
histórias o término é com alegria por aquele que estava perdido e foi achado, nesta última
história não vemos nenhuma alegria. É sobre o irmão mais velho que se mostra indignado
pela forma que o pai tratou o irmão que estava perdido, pois este gastou todos os bens com
meretrizes, e ainda indignado, o filho questiona o pai por que nunca houve uma festa para
ele. O pai diz ao filho que sempre estiveram juntos, e tudo que tinha era dele, e era preciso
se alegrar porque o irmão estava perdido e fora achado.
O fato da última história terminar desta maneira, sem arrependimento e sem alegria,
provavelmente, Cristo esteja olhando para os fariseus e pergunta se a atitude deles em
questionar o porquê Cristo se assenta com pecadores seja a mesma que o irmão mais velho.
B) A salvação pertence ao Senhor
Sabemos que não devemos alegorizar as parábolas, mas uma coisa podemos observar
nessas três histórias: a salvação vem do Senhor. O filho decide voltar para casa do pai, mas
essa decisão só pode ser tomada, como o próprio pai explica, porque ele estava morto e
reviveu, estava perdido e foi achado. Mesmo que seja o pecador que venha se arrepender,
a ação de achar o perdido vem do Pai.

C) Ingratidão
As vezes nós agimos como o irmão mais velho, sendo ingratos com aquilo que o Pai nos
fez. Quantos de nós desejamos mais os bens que Deus pode nos dar ao invés da comunhão
com Ele? E, não contente com isso, agimos levianamente com Deus e para com nossos
irmãos.
II. O valor das coisas perdidas

A) 1%, 10%, 50% e 100%


No ponto anterior vimos que a nota explicativa de Jesus se repete nas três das quatro
histórias. E outra coisa que podemos ver é o valor das coisas perdidas.
Na primeira história Jesus conta sobre um pastor que tem 100 ovelhas, mas 1 está perdida,
isso equivale a 1%. Klyne explica, dizendo que “o pastor da parábola aparece como o dono
do rebanho e o tamanho do rebanho seria indicativo de alguém que estivesse em situação
econômica confortável1”
Mesmo sendo alguém que vivia de forma confortável, provavelmente, uma ovelha não faria
falta, o texto é claro em mostrar que ele se preocupa com essa única ovelha perdida.
A segunda história é sobre a dracma perdida.
Uma mulher que tem 10 dracmas e perde uma. Perder uma de dez é perder 10% do que
tinha. Dez dracmas equivalem a um mês de trabalho e essa moeda juntamente com as
outras nove deveria ser importante para ela, porque quando a acha ela se alegra com suas
amigas.

1
SNODGRASS, Klyne. Compreendendo todas as parábolas de Jesus. Rio de Janeiro: CPAD, 2017, p.161
A terceira história é sobre o pai que tem dois filhos, um é mais velho e o outro é mais novo.
Vale notar que agora não se trata de um animal ou de algum objeto, mas de pessoas. Dos
dois filhos que esse homem tem um se perde, isso são 50%. Mas isso não seria tudo se não
fosse a quarta história, porque além do mais novo estar perdido o mais velho também está.
Nesse caso não são mais 50%, mas são 100% perdido.
B) Veio buscar o que se havia perdido
Cristo é aquele que veio buscar o que se havia perdido, independente de quem seja ou em
qual situação esteja. Vale notar que o evangelho de Lucas faz menção a isso diversas vezes,
como Cristo sendo o Salvador que nasceu (2.11), a atenção que Jesus dá as mulheres, a
atenção que Jesus dá aos marginalizados e até mesmo, o evangelho é o único que faz
menção que Cristo diz na cruz: pai perdoa-lhes porque não sabem o que fazem (23.34).
C) Ame o perdido
Assim como Jesus mostrou nas histórias contadas e como podemos ver de como Lucas
escreveu seu evangelho, nós devemos amar o perdido. Isso faz todo sentido quando
juntamos isso com a frase que foi atribuída a Spurgeon: um mendigo contando a outro onde
encontrar pão. Quando amamos o perdido, nós nos lembramos de quem nós erámos e o
que Cristo fez por nós e isso nos incentiva ir ao perdido e dizer a ele onde encontrar vida.

III. O lugar onde as coisas se perdem

A) Fora, dentro, fora e dentro


Se as histórias trabalham com a mesma temática (perdida, encontrada e alegria), e também
trabalham com valores diferentes daquilo que se perde. Jesus mostra o local de onde elas
estão perdidas.
A primeira história, como bem sabemos, fala da ovelha perdida. Essa ovelha está perdida
no deserto longe do rebanho. Ou seja, ela está perdida fora do rebanho. A segunda história
fala da moeda perdida, ela está perdida dentro de casa. A terceira história fala do filho mais
novo que, mesmo estando dentro de casa quando pede a sua parte na herança, o texto o
apresenta vivendo de maneira dissoluta fora de casa. E o filho mais velho, que não se alegra
com o retorno do mais novo, está perdido dentro de casa.

B) Salvação exclusiva
Os judeus, como é bem sabido, sempre achavam que a salvação era exclusivamente deles.
Por isso a indignação dos fariseus em ver Jesus sentado com publicanos e pecadores, além
de ser um escândalo para eles, pois Jesus se mostrava Filho de Deus, era escândalo
também por Jesus mostrar que o Pai também amava aqueles que não eram de Israel.
E é isso que Lucas está mostrando em colocar a estrutura desta forma (dentro, fora, dentro
e fora). É mostrar que assim como há perdidos fora de Israel, também há perdidos dentro
de Israel. Assim como há perdidos fora, também há perdidos dentro.
C) Estar na casa de Deus sem ter comunhão com ele

Assim como os fariseus achavam ser detentores do conhecimento acerca da Lei de Deus,
mas estavam perdidos dentro da casa de Deus; nós podemos cair no mesmo erro. Estar na
casa de Deus, estudando sobre Deus, falando sobre Deus sem ter comunhão com Deus.
Conclusão

A maneira que o texto começa é como ele termina. Assim como os fariseus não se
alegraram com a salvação dos pecadores, do mesmo modo o irmão mais velho não se
alegrou com a salvação do irmão que estava perdido. Mas como vimos, Cristo veio
buscar o pecador, independentemente de quem seja e onde esteja, Cristo o salvará.
Mostrando a nós que devemos nos alegrar com a salvação dos pecadores.
Aplicação
Cristo se alegra com a salvação dos pecadores. Assim como a Escritura é clara em mostrar
que Deus não tem prazer na morte do ímpio, ela também declara que Deus se alegra com
a salvação dos pecadores. Assim como o pastor foi atrás da ovelha, a mulher atrás da
dracma e o amor e alegria do pai pelo filho que retornou, Deus faz assim com os pecadores.
Se Deus se alegra com a salvação dos perdidos, nós também devemos nos alegrar quando
alguém se converte. As vezes vivemos em uma mornidão dentro da igreja que não nos
preocupamos mais com a salvação dos pecadores, não nos alegramos com as profissões
de fé ou até mesmo os batismo que ocorrem durante o ano em nossa igreja. Quando foi a
última vez que você se preocupou com a salvação dos vizinhos de sua igreja ou da sua
casa?
Sabendo disso, da alegria que o Senhor tem ao ver um pecador arrependido e de nossa
alegria ao ver um pecador se render a Cristo, nós não devemos negligenciar a mensagem
de salvação. Pois, assim como diz o Hino 367, devemos convidar os pecadores, pois Cristo
conquistou bênçãos na cruz, ele chama os pecadores pois quer o bem deles, vai recebê-los
no bom país e não há no mundo quem vos ame assim. Porque que alegria, sem pecado ou
mal, reunir-nos todos, afinal, na Santa Pátria celestial, com Cristo, o Salvador.

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