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O Legado Filosófico de Sócrates

Trabalho elaborado por Madalena Lopes Albano, cujo número de aluna é 68028,
da subturma 19.

A heterogeneidade do pensamento político helénico tornou a Grécia Antiga uma


referência primordial da cultura ocidental, sendo esta a base sem a qual não se
compreende toda a estruturação da consciência europeia e o conhecimento filosófico e
político que posteriormente se desenvolveu.

Sócrates (469 – 399 a.C.) foi um dos diversos filósofos gregos que se destacou
no designado “século de ouro do Ocidente”, o século V a.C. O ateniense de origens
humildes, filho de parteira Fenareta e de canteiro Sofronisco, presenciou um período de
prosperidade intelectual em que confluíram diversas correntes de pensamento político.

Admirável e sábio filósofo, inspirador de diversas reflexões filosóficas, Sócrates


não escreveu nenhum livro, ao contrário dos seus discípulos aristocratas, nem criou uma
escola de pensamento, por isso, tudo o que sabemos sobre ele advém, essencialmente,
das obras de Platão e Xenofonte. Ensinava perante qualquer auditório, preferindo fazê-
lo onde todos o pudessem escutar e questionar, abdicando do ensino remunerado num
espaço confinado. Desenvolveu um método de ensino, ainda hoje utilizado por diversas
academias, que conhecemos como método socrático. Este baseia-se num debate que
promove o pensamento crítico e permite a formulação de argumentos contra ou a favor
das teses discutidas. Procurava dogmas enraizados na sociedade e no próprio Homem
para, em seguida, escrutinar argumentos que os sustentam, utilizando como técnica
principal o elenchus, argumento que visa a refutação da tese contrária. Deste modo,
pretende que sejam analisadas as verdades antes inquestionáveis, de forma a alcançar a
Verdade e normas de conduta de validade absoluta.

O objeto da filosofia socrática era, sobretudo, os problemas do Homem enquanto


membro da polis, isto é, parte de uma unidade cívica formada por um conjuto de
indivíduos que se agrupam voluntariamente e comungam de um conjuto de valores e
crenças, formando uma comunidade que se baseava num pacto tácito entre cidade e
cidadão. A cidade deveria conceder proteção ao cidadão, ao passo que este tem o dever
de obediência às suas leis, visto que, escolheu conscientemente fazer parte desta. A
supremacia da cidade em relação ao cidadão é consequência necessária de apenas esta
permitir a sua existência.

Sócrates recusa a resignação e submissão cega e absoluta ao nomos, conjunto de


convenções e leis unicamente dependentes do arbítrio humano. Todavia, afirma que as
leis são uma exigência da vida humana em comunidade e da natureza do Homem. A
cidade, sendo uma realidade moral e ética, exige que as leis positivadas consagrem os
princípios das leis não escritas recebidas de uma vontade divina e superior. No entanto,
podemos questionar-nos acerca da conciliação entre o Direito e a Justiça, pois estes
podem entrar em confronto. Sendo as leis da cidade fundadas numa vontade divina, esta
legitimidade não é afetada quando, por vezes, não conduz necessariamente à Justiça.
Sendo as leis essenciais para a cidade e, consequentemente, para a vida humana, é
imperativo que as respeitemos, pois, a desobediência abala a sociedade e pode
inviabilizar a existência de uma convivência social digna.

Consideramos essencial contrapor a filosofia de Sócrates à dos Sofistas, uma vez


que surgiram no mesmo período e são frequentemente comparados pelas suas doutrinas
opostas. Os Sofistas constituíram um grupo de professores da periferia helénica que
ensinavam os indivíduos com maior capacidade financeira a persuadir e impressionar os
membros das assembleias gregas, recorrendo a técnicas da retórica, de modo a obter a
concordância do público. Frequentemente, pela razão exposta, são criticados pelos seus
opositores e vistos como desonestos, subornáveis e desprovidos de qualquer sentimento
patriótico, uma vez que não permaneciam durante muito tempo no mesmo local. Ao
contrário deste método de ensino proposto pela Sofística, como já referimos, Sócrates
incentivava o diálogo como modo de alcançar o conhecimento verdadeiro, questionando
exaustivamente proposições consideradas absolutas.

O objetivismo socrático levava-o a defender a existência de uma ordem moral


absoluta e concreta, composta por normas de validade inquestionável, sendo esta
alcançada através do seu método de reflexão e de busca de conceitos inequívocos. Este
constitui a antítese do relativismo e subjetivismo sofista, que, não ensinando uma
doutrina específica e comum, propõe o uso da retórica e explicita como cativar uma
audiência, independentemente do que está a ser defendido. Assim, os Sofistas
pretendem construir uma aparência sábia, na qual o conhecimento é meramente
superficial (doxa), para que os seus alunos conquistem e persuadam o auditório.
Sócrates prefere afirmar o seu desconhecimento para, em seguida, procurar a Verdade
(epistema).

A suprema virtude, para Sócrates, era o conhecimento, sendo que conhecer o


bem preencheria toda a ideia de moralidade. Os Sofistas, por outro lado,
caracterizavam-se pelo seu individualismo e pensamento utilitário, defendendo que os
alicerces da ordem social eram a convivência entre os Homens e o interesse. A procura
utilitária do prazer e satisfação não pode ser confundida com o conhecimento do bem
desejado por Sócrates e que levaria à sua ruína.

A sua doutrina fundava-se no conhecimento e na defesa de que apenas o sábio e


conhecedor do bem poderia governar, prosseguindo a finalidade última da cidade ao
criar cidadãos dotados da máxima virtude. Revelou-se, por este motivo, um feroz crítico
da democracia ateniense, censurando os magistrados por considerar que, como são
escolhidos ao acaso ou por eleição, não poderiam possuir o conhecimento necessário
para assumir tal cargo. Afirma o desconhecimento dos magistrados e a inabilidade das
assembleias de Atenas, pilares do regime democrático, o que conduziu ao surgimento de
diversas hostilidades contra si. Foi, então, condenado democraticamente à morte, em
399 a.C., no âmbito de um processo por impiedade (asebeia), crime de Estado, sendo
igualmente acusado de corromper os jovens por introduzir novos deuses, diferentes dos
que eram reconhecidos pela República. A obediência às leis da cidade, baseadas numa
consciência da vontade divina, não no puro arbítrio dos atenienses, levou Sócrates à
aceitação do seu destino, não fugindo à sentença que lhe foi aplicada. Acreditava que a
justiça seria concretizada pela Divindade, não devendo cometer injustiças por ter sido
injustiçado.

Verificamos, assim, que Sócrates foi um dos filósofos mais importantes da


história da filosofia ocidental. O método socrático que desenvolveu permanece como
um dos métodos de ensino mais respeitados e utilizados, o que comprova a sua
sabedoria e vontade da procura do conhecimento verdadeiro. As suas teses continuam a
incentivar estudos, sendo a base fundamental de todo o pensamento político, e, apesar
da controvérsia que promoveram no mundo helénico, Sócrates nunca abdicou da sua
autenticidade e das suas crenças, embora consciente do perigo. Considerava que tinha
uma missão a cumprir, incentivar a procura e a prática do Bem, sendo fiel àquilo que
professou durante a sua vida.

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