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TRABALHO

DE
FILOSOFIA

- João Vitor, 1 A
Democracia

A filosofia é compreendida como uma das mais importantes contribuições


oferecidas pela civilização grega. O tão afamado “gosto” que os gregos
possuíam pela sabedoria pode ser considerado como um item que influiu na
construção de outros diferentes aspectos desta sociedade. Nesse sentido,
podemos destacar como a constituição do regime democrático dentro dessa
civilização também pode ser visto como um dado importante no
desenvolvimento da filosofia.
Antes do surgimento da democracia, o regime político grego era controlado
pelos grandes proprietários de terra. O privilégio e o nascimento eram os
critérios para que as instituições políticas fossem organizadas nas mãos de uma
minoria. Com o aparecimento do ideal democrático, essa minoria perdeu lugar
para a figura de um cidadão capaz de argumentar, fazer escolhas, criticar
concepções e defender perspectivas.
Toda essa capacidade exigida desse novo cidadão abriu espaço para que os
jovens fossem preparados para o exercício da cidadania. Foi nesse período em
que surgiram os sofistas que criticaram sistematicamente os pensadores
cosmologistas. Esses filósofos tinham a pesada preocupação de explicar
racionalmente as origens do mundo, a personalidade do homem e a ordenação
da natureza. Em contrapartida, os sofistas ignoravam essas questões dizendo
que o convencimento das idéias era o que importava.
Essa concepção oferecida pelos sofistas ganhou grande espaço no regime
democrático, já que as assembléias eram dotadas por discussões onde os
cidadãos decidiam a aprovação das leis. Entre os principais mestres do sofismo
destacava-se Isócrates de Atenas, Protágoras de Abdera e Górgias de Leontini.
Mesmo conseguindo arrebanhar diferentes seguidores, os sofistas sofreram a
crítica sistemática de outros filósofos como Sócrates.

Segundo esse filósofo grego, as idéias deveriam contar com um profundo


processo reflexivo para que pudessem alcançar um critério de verdade. Por isso,
Sócrates convocava os cidadãos de Atenas a conhecerem a si mesmos. O poder
de convencer por meio das idéias demonstrava um distanciamento entre os
convincentes discursos sofistas e a reflexão do pensamento socrático.
De fato, esse tipo de situação desenvolvida na Grécia Antiga nos demonstra
como a instalação do regime democrático e a discussão das idéias promoveu
uma interessante etapa no desenvolvimento da filosofia. Mais importante do que
saber quais destes pensadores tinham razão, devemos ver que a filosofia não
nasce por meio de idéias puras, mas se desenvolve com o auxílio de outras
instâncias que promovem o debate filosófico.

Cidadania

Melhor do que apenas não aceitar doutrinas que neguem a liberdade de


outrem, injuriando a dignidade humana e engendrando a barbárie, é, além disso,
promover uma reflexão filosófica que afirme a liberdade eticamente exercida de
outrem, que suporte conceitualmente o ético exercício da liberdade humana,
contribuindo com a afirmação da cidadania. Assim, ao lado da crítica que
desvenda mecanismos alienadores e opressivos afirmam-se elementos
filosóficos que permitem considerar a construção de novas relações humanas
que ampliem as liberdades de todos.
Como nenhum preconceito deve servir de referência para decidir sobre quais
temas algum filósofo possa trabalhar, nada impede que um filósofo tome, como
tema de sua investigação, questões éticas, estéticas, políticas, semióticas,
gnosiológicas, entre tantas outras que emerjam da práxis social, com vistas à
construção da cidadania. Como é de consenso na comunidade filosófica, não
cabe à filosofia tornar-se baluarte na defesa de sistemas ideológicos e
políticos.Pelo contrário uma de suas possíveis tarefas é criticar tais sistemas,
como objetivo de produzir conceitos que permitam às pessoas viverem com
sabedoria, ampliando e fortalecendo o exercício das liberdades públicas e
privadas, considerando criticamente os elementos éticos, estéticos, políticos,
semiológicos, gnosiológicos e tantos outros que perpassam as relações sociais.
Esta idéia basilar é um dos fundamentos da assim chamada filosofia da
libertação que destaca a necessidade de refletir-se filosoficamente a práxis
social, considerando em particular as situações que caracterizam fenômenos de
injustiça e opressão, a fim de promover a ampliação das liberdades públicas e
privadas em sua máxima extensão possível, tendo a consciência de que, sendo a
liberdade um exercício historicamente condicionado, não haverá jamais uma
libertação total nem tampouco uma dominação absoluta, havendo sempre a
possibilidade de os seres humanos decidirem libertar-se não apenas daquilo que
os oprime, como também dos limitados horizontes de conhecimento nos quais
se movem, a fim de poderem realizar aquilo que os humanize cada vez mais.
Esta perspectiva filosófica, foi coletivamente assumida no Brasil em
setembro de 1988 no III Encontro Nacional de Filosofia, em Gramado-RS, por
um conjunto de filósofos que subscreveu o que ficou conhecida como Carta de
Gramado(12). Destacando que a filosofia, desde o seu surgimento na Grécia
antiga, "manifestou-se como atividade intelectual que busca pensar o homem e
sua realidade", o documento esclarecia que "a Filosofia da Libertação, no
contexto da Filosofia Latino-Americana, constitui uma corrente de pensamento
filosófico que busca a reflexão crítica sobre a opressão do homem, a partir de
uma perspectiva latino-americana", tomando como questões para reflexão e
ação os seguintes elementos: "a) a situação de exploração e dependência do
terceiro mundo; b) a democracia; c) a educação; d) a justiça social; e) as
situações de discriminação étnico, racial e sexual; f) a ecologia."(13)
Esse conjunto de elementos, que não pretende ser exaustivo mas apenas
indicador do perfil das questões às quais prioritariamente se volta esta reflexão,
possibilita considerar que os temas a serem refletidos advenham da práxis social
que busca construir espaços mais amplos de exercícios de liberdade.
A argumentação que articula filosofia e cidadania também está presente em
um dos movimentos pela reintrodução da filosofia no ensino médio brasileiro,
que, considerando a educação pública, gratuita e de qualidade como condição
do exercício da cidadania, destacará a necessidade do ensino de filosofia no
segundo grau como elemento da formação humanística necessário ao
fortalecimento da democracia.
A Moção em Defesa da Filosofia no Segundo Grau, elaborada neste
movimento em 1996, analisava que o ensino de segundo grau, voltado cada vez
mais para o aspecto tecnológico - conforme a LDB então defendida pelo
Governo e que foi aprovada pelo Congresso -, negligenciava conteúdos
humanísticos fundamentais para a cidadania. Particularmente enfatizava o
documento:
"entre as disciplinas humanísticas necessárias à educação para a cidadania
ressaltamos a importância da Filosofia que deve constar nos currículos
escolares. O seu papel é formar pessoas com pensamento crítico, solidário,
criativo, que saibam distinguir argumentos, fundamentar posições e tomar
decisões, habilidades necessárias ao mundo prático. Não se trata somente de
apreender conteúdos tecnológicos já elaborados, mas desenvolver a capacidade
de compreendê-los, criticá-los e de produzir ciência. Trata-se de manejar
estruturas de pensamento e resolver problemas, formando as condições básicas
para o pensar em todos os campos, inclusive o tecnológico."(14)
Assim, compreende-se a educação filosófica como capaz - entre outros
aspectos - de formar pessoas que exercitem um pensamento criterioso, que
desenvolvam semioticamente interpretantes afetivos solidários, que aprimorem
a criatividade na inteligibilidade e intervenção sobre os eventos dos quais
tomam parte, que saibam distinguir argumentos ponderando os diversos
elementos neles envolvidos e sua articulação orgânica, fundamentar posições
em bases conceituais mais sólidas e tomar decisões por conta própria nas
diversas esferas do mundo da vida. Considerada deste modo, a filosofia
possibilita desenvolver a capacidade geral de compreender os conhecimentos
em suas complexidades, permitindo inteligir de maneira mais precisa tanto as
elaborações humanísticas quanto tecnológicas e de criticá-las, formando certas
bases valiosas à própria elaboração científica, uma vez que desenvolve a
habilidade em manejar estruturas de pensamento, em realizar análises e sínteses,
reimplantando os conhecimentos produzidos em horizontes mais amplos e
orgânicos, possibilitando ordenar logicamente problemas complexos e de
organizar a sua resolução.
Esta concepção de filosofia, como prática de cidadania, entretanto, enfrenta
pesadas críticas formuladas a partir de uma falsa dicotomia subjacente a muitos
cursos de graduação em filosofia no Brasil, a saber, de que não se pode ensinar
alguém a ser filósofo, isto é, a criar novos conceitos e a ensaiar novas
estratégias teóricas em que estes se articulem, mas que somente é possível
formar bons professores de filosofia, isto é, pessoas que saibam ensinar
filosofia, explicando adequadamente o que os filósofos escreveram ou
ensinaram. Para estes, o fundamental não está em desenvolver a habilidade de
refletir filosoficamente os desafios contemporâneos lançados à elaboração
crítica a partir da realidade de cada qual, não está em criar novos conceitos
possibilitando a cada um pensar por si mesmos a sua existência, mas
basicamente em levar os alunos a apropriarem-se de reflexões e conteúdos
reconhecidos como filosóficos pela comunidade acadêmica internacional. Em
parte, em razão desta concepção, gerou-se mesmo um certo cuidado, no Brasil,
no uso dos adjetivos filósofo e professor de filosofia. Nos jogos de linguagem
habituais sobre o tema, quem se forma em sociologia é sociólogo, quem se
forma em psicologia é psicólogo, mas quem se forma em filosofia é professor
de filosofia. O fato de que possa existir bons professores de filosofia, que a
cultivem sem se preocupar em criar novos conceitos ou estratégias teóricas
inovadoras na resolução de problemáticas atuais, não significa que não sejam
estas as principais tarefas para as quais os graduandos em filosofia devam
progressivamente se voltar. Assim, os cursos de graduação em filosofia não
podem ser reduzidos a excelentes cursos de história da filosofia européia e
norte-americana, nos quais pouco se reflete a própria realidade em que vivemos.
Pelo contrário, cursos que enfatizam a história da filosofia européia, norte-
americana, latino-americana, africana e asiática devem contribuir também para
aprimorar o exercício da crítica filosófica sobre problemáticas urgentes da
realidade contemporânea na qual o pensador está inserido como cidadão. Tão
imprescindível como não tergiversar acerca de uma compreensão rigorosa dos
fundamentais textos clássicos de toda a história da filosofia, é não deixar de
pensar a própria realidade em que se está, julgando por si mesmo as questões
éticas, estéticas, políticas e científicas, entre tantas outras, que condicionam o
exercício da liberdade que a reflexão filosófica visa ampliar.
Trata-se, pois, de uma falsa dicotomia porque é possível aprender a filosofar
exercitando o pensamento a partir de qualquer área de investigação e,
particularmente, estudando a própria filosofia. Com efeito, qualquer teórico de
uma ciência específica, aprofundando os conhecimentos de sua área poderá
atingir um patamar de reflexão reconhecida academicamente com o título de
Philosophiae Doctor (Ph. D.) naquele assunto, isto é, alguém que se tornou um
doutor filosófico naquela matéria. Embora esta expressão advenha do período
medieval e seja comumente utilizada em universidades européias e norte-
americanas como título conferido a quem conclui seu doutorado em qualquer
área do conhecimento, cabe destacar que vários filósofos nunca se graduaram
formalmente em filosofia, mas em matemática, direito, física, biologia, etc. Se é
possível um pensador filosofar sem ter feito um curso acadêmico de graduação
em filosofia, por outro lado também é possível aprender a filosofar
participando-se de processos pedagogicamente organizados com vistas a
exercitar a própria reflexão filosófica. A dupla fonte de elementos, neste caso,
são os textos filosóficos e a própria realidade. Trata-se de problematizar a
realidade, recuperando os elementos que a tradição filosófica - em seus textos -
nos dispõe para considerá-la e avançar dialogicamente em uma reflexão que
gere novos conceitos que permitam uma posição mais consciente e livre sobre
os reais condicionantes da existência humana
Direitos

Para o Direito, a filosofia se apresenta como importante instrumento na


apreensão do sentido das normas jurídicas, tal importância se constrói a partir
de conceitos filosóficos que permitem ao jurista compreender sua própria
atividade. Ela funciona como um processo, através do qual sem negar ou
contestar a validade da postura anterior, ressalta outro ângulo. Aparece como
um aprender a pensar, ou seja, como um desenvolvimento da capacidade de
questionar, de rejeitar como dado inequívoco a evidência imediata, pois o mais
importante não é conhecer as respostas outrora apresentadas, mas tentar
alcançar, através da reflexão e questionamento já proposto, uma nova resposta,
submetê-las a novas indagações e, consequentemente inserir-se no caminho de
novas questões, inserindo-se no exercício analítico-crítico do filosofar.
Collingwood, filósofo britânico, defende que o papel da filosofia não é fazer
pensar, mas fazer pensar melhor; pois fortalece as habilidades de pensamento
que ele já possui; desafia-o a pensar sobre conceitos significantes da tradição
filosófica, incitando a fazer uso de habilidades do pensamento que precisam ser
aprendidas para pensar criticamente outras áreas do conhecimento, inclusive o
direito.
A filosofia toma como ponto de partida para suas indagações jurídicas as
últimas novidades estabelecidas pela ciência do direito, sobre o sentido e os fins
do direito; questionando-as e criticando-as, contribuindo dessa forma para dar
sentido e dinamismo; por conseguinte, os valores fazem parte do mundo social
e, por isso, não podem ser ignorados nem pelo Direito nem pela Filosofia, que
aborda dentro dos enfoques e preocupações peculiares. Assim, é sobre a base
das verdades aceitas e postuladas pela ciência que a Filosofia se constitui,
questionando os princípios mesmos da ciência jurídica e contribuindo de modo
efetivo para que se renove, escapando, através de uma crítica permanente de
estagnar-se num dogmatismo estéril e alienado.
Explicada a especificidade da filosofia, resta ainda entender sua importância
para o estudo e a prática do direito. Sabe-se que o termo “direito" envolve
vários significados podendo ser considerado como um fato social e um ramo do
conhecimento, ou seja, o termo pode tanto significar a produção e aplicação das
normas jurídicas quanto a disciplina voltada à investigação do sentido das
normas jurídicas.
Na medida em que o Direito é uma realidade produzida pela razão humana,
na medida em que ele é um ser cultural ele também é objeto especialmente
pensado pela Filosofia, o que leva à percepção de que pode e deve existir uma
Filosofia do Direito.
Pode-se dizer que uma das relações da Filosofia com o Direito passará pela
tentativa de avaliar, de sopesar a atuação do Direito frente à sociedade a fim de
contribuir para que ele, o Direito, busque os aprimoramentos possíveis e
necessários ao alcance de sua primordial meta: organizar, de forma razoável, a
sociedade administrando de modo equânime as divergências de interesses dos
indivíduos que compõem a sociedade.
O direito é fundamental para a convivência do homem em sociedade desta
forma o direito se coloca como algo complexo e que precisa ser explicado.
Assim se propõe a Filosofia a estudar o Direito como algo que existe
objetivamente e aplicável a todos. Desta forma assevera Reale (1999, p. 40)
que:
(...) Filosofia do Direito, esclareça-se desde logo, não é disciplina jurídica, mas
é a própria Filosofia enquanto voltada para uma ordem de realidade, que é a
"realidade jurídica". Nem mesmo se pode afirmar que seja Filosofia especial,
porque é a Filosofia, na sua totalidade, na medida em que se preocupa com algo
que possui valor universal, a experiência histórica e social do direito.
A expressão filosofia do direito surgiu somente, no início do século XIX,
ainda que a temática deite as suas raízes nas origens da cultura jurídica e
política do Ocidente. Pode-se mesmo datar o uso do termo, quando da
publicação dos Princípios da Filosofia do Direito, de autoria de Hegel, em 1821.
Hegel inicia o seu texto, destinado a servir para o curso por ele dado de filosofia
do direito, referindo-se à “ciência filosófica do direito”, que teria por objeto a
Ideia do direito, que compreenderia o conceito de direito e sua realização. Kant,
por sua vez, tratou da temática da filosofia do direito, mas usou outros termos
para a ela referir-se: “doutrina do direito” ou “metafísica do direito”. Antes de
Kant, outros filósofos, como Puffendorf, Burlamaqui ou Wolf utilizaram outros
termos, como “teoria do direito natural”, “princípios de direito natural”, ou
ainda, “ciência do direito natural” para tratarem dos temas próprios da filosofia
do direito.
A filosofia do direito é um ramo da Filosofia Geral que apresenta uma visão
panorâmica do fenômeno jurídico no contexto social, objetivando analisar, não
somente os fins visados pela complexa ordem jurídica, mas sim compreendê-
los. É o setor dos jusfilosóficos, estes buscam compreender o verdadeiro sentido
do direito, procuram desvelar qual a razão da existência da norma. É o ramo da
Ciência Jurídica que se preocupa com a aplicação ética da norma. Filosofia
Jurídica é a constante indagação que os juristas filósofos fazem aos diversos
fenômenos do campo jurídico. “A Filosofia do Direito é, assim, o campo dos
juristas com interesses filosóficos, instigados, na sua reflexão, pelos problemas
para os quais não encontram solução no âmbito do Direito Positivo. (LAFER,
2004, p. 21)”.
A filosofia do direito deve servir para identificar os diferentes parâmetros
culturais ou filosóficos que justificam o Direito e a Lei. É através da filosofia do
direito que iremos analisar as diferentes concepções sobre as relações entre o
direito e a moral, entre a sociedade e a indivíduo, a responsabilidade dos
indivíduos, como agentes morais e jurídicos, as diferentes concepções de justiça
e outros topos do mesmo gênero. A filosofia do direito não analisa as qualidades
formais do direito, domínio próprio das ciências jurídicas, mas simplesmente
acompanha o sentido e o horizonte do projeto jurídico moderno.
No entendimento de Chaui (2000, p. 69) é: o “conhecimento racional da
realidade natural e cultural, das coisas e dos seres humanos.” A Filosofia busca
conhecer a realidade por meio da razão humana, procurando e questionando o
verdadeiro sentido do conhecimento humano.
Para Galves (2002, p. 1) “Filosofia do Direito é o estudo das questões
fundamentais do Direito como um todo. Fundamentais, por que se trata, ao pé
da letra, do alicerce, das questões básicas, sobre cujas soluções se ergue todo o
edifício do Direito. Como um todo, porque se trata de questões cujas soluções
empenham todo o corpo do Direito, e, por isso, interessam todos os ramos em
que se divide a ciência jurídica”.
Eduardo Bittar conceitua a Filosofia do Direito como “um saber crítico a
respeito das construções jurídicas erigidas pela Ciência do Direito e pela própria
práxis do Direito. Mais que isso, é sua tarefa buscar os fundamentos do Direito,
seja para cientificar-se de sua natureza, seja para criticar o assento sobre o qual
se fundam as estruturas do raciocínio jurídico, provocando, por vezes, fissuras
no edifício que por sobre as mesmas se ergue”.
Por sua vez, Celso Lafer, apresenta a Filosofia do Direito como “o campo
dos juristas com interesses filosóficos, instigados, na sua reflexão, pelos
problemas para os quais não encontram solução no âmbito do Direito Positivo”.
Outro conceito é apresentado por Reale (2002, p. 9), para quem a Filosofia
do Direito “é a própria Filosofia enquanto voltada para uma ordem de realidade,
que é a ‘Realidade Jurídica’”. Para esse autor, a Filosofia do Direito não é uma
disciplina específica, mas o que se chama de Filosofia do Direito é o exercício
completo da Filosofia voltado para o objeto Direito.
Decorre desse conceito que a atividade Filosófica, quando voltada para o
Direito, leva consigo toda a tradição e força que vem da Filosofia Geral. Reale
(2002, p. 9) conclui sobre a filosofia do Direito que “nem mesmo se pode
afirmar que seja Filosofia especial, porque é a Filosofia, na sua totalidade [...]”.
De alguma forma, para esse autor não há como falar de independência absoluta
da Filosofia do Direito, o que se pode falar é de Filosofia voltada para o Direito,
ou seja, a Filosofia do Direito, mesmo vista com certa autonomia tem vínculos
com a Filosofia Geral.
Com estas explicações buscamos demonstrar para os ingressantes na seara
jurídica a importância da filosofia do direito para os seus operadores
possibilitando a obtenção de conhecimento crítico, que desperte nos alunos o
verdadeiro sentido do saber.
É mais que oportuno o estudo do direito tomando como norte os princípios
do conhecimento filosófico. Faz-se necessário que os bacharelandos na seara
jurídica entendam o verdadeiro sentido da filosofia na construção do
conhecimento e na formação do profissional, pois é pressuposto indispensável
para a sua formação, por possibilitar ao estudante e ao profissional uma leitura
crítica do direito. Não deve ter o profissional apenas o conhecimento tecnicista
de sua profissão, mas ele precisa e deve ter a capacidade de interpretar o que é
jurídico e o que é moral. Deve reconhecer os fatos sociais que suscitam as
normas e se estas traduzem com objetividade aqueles.
A Filosofia do Direito instiga o acadêmico a proceder a uma análise crítica
dos dogmas presentes no ordenamento jurídico, transcendendo aquilo que está
positivado. Desta forma, é possível ter uma visão panorâmica do fenômeno
jurídico no contexto social, superando assim, a visão excessivamente técnica do
Direito.
Nesse sentido, Fabio Konder Comparato ao justificar a disciplina de
Filosofia do Direito nos cursos jurídicos, aduz que esta tem ligação com
carências graves nestes cursos, dentre elas, a apresentação atomista do
fenômeno jurídico e a prevalência da técnica sobre a ética.
Aqui se destaca a importância da filosofia do direito, qual seja, questionar o
tecnicismo do direito e as verdades jurídicas que são impostas pelo
ordenamento, despertar o interesse pelo debate e a crítica de dogmas e pré-
compreensões, criar a consciência de que a lei, muitas vezes é imperfeita, é obra
inacabada.
Nesse contexto, oportuna são as lições de Eduardo Bittar, que em sua obra
elenca alguns dos objetivos da Filosofia do Direito, dentre eles:

““1. Proceder à crítica das práticas, das atitudes e atividades dos operadores do
direito;
2. Avaliar e questionar a atividade legiferante, bem como oferecer suporte
reflexivo ao legislador;
3. Proceder à avaliação do papel desempenhado pela ciência jurídica e o próprio
comportamento do jurista ante ela;
4. Por meio da crítica conceitual institucional, valorativa, política e
procedimental, auxiliar o juiz no processo decisório.”

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