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A IDEOLOGIA DA ANTIPOLÍTICA E O BRASIL1.

Prof. Dr. João Ignácio Pires Lucas


Doutor em Ciência Política
Professor da Universidade de Caxias do Sul, BR.
Web da Universidade: www.ucs.br

RESUMO

O objetivo deste artigo é discutir a formação de uma determinada ideologia (a antipolítica) e de como
ela pode ser útil para a compreensão da formação política no Brasil. Como uma determinada forma
ideológica, a antipolítica tem estado presente na cultura política brasileira, ainda que nos últimos anos haja
um processo formal de democratização. Nossa hipótese central é de que a melhor maneira de compreender a
cultura política no Brasil é a partir do conceito de antipolítica, e de que no Brasil a principal causa disso é a
própria formação cultural e política desde o século XVI. O artigo está dividido em duas grandes partes: a
primeira sobre a ideologia da antipolítica, e a segunda, sobre a sua formação no Brasil.

Palavras:chave: ideologia; antipolítica; Brasil; democracia; cultura política.

A IDEOLOGIA DA ANTIPOLÍTICA

A antipolítica é uma determinada forma ideológica. Por forma ideológica, entende-


se um conjunto articulado de crenças, opiniões, comportamento, idéias, valores, práticas,
que se baseiam, em última instância, numa mesma visão de mundo e com existência
orgânica. Como uma determinada forma ideológica, a antipolítica contempla as três
dimensões necessárias para um conjunto de idéias transformar-se em ideologia2:
(a) Uma existência em nível científico e filosófico, na qual são constituídas as bases
das visões de mundo, especialmente dos seus princípios integradores sobre a natureza
humana, a natureza das relações sociais, das instituições, além de serem constituídas,
também, as identificações do eu, nós e outros, isto é, para os embates interideológicos.
Nessa dimensão entram em cena a figura dos intelectuais orgânicos, sejam eles
profissionais da ciência ou filosofia ou não, para a elaboração dessas teses. Uma boa parte
das teses antipolíticas é oriunda das reflexões e pesquisas científicas e filosóficas, a
despeito dos seus autores nem terem tido tal intenção original. Pelo lado dos modelos
de política e democracia a questão é a mesma, pois os procedimentos
materializados nas instituições políticas ocidentais foram, em grande parte, produzidos a
partir das obras de certos intelectuais que, direta ou indiretamente, participaram da
construção daquilo que se pode chamar de política liberal ocidental. Sendo
1
Parte dessas reflexões estão presentes na tese de doutorado do autor: JUVENTUDE E ANTIPOLÍTICA NO
BRASIL: um estudo de cultura política e ideologia, 2003. Defendida junto ao programa de pós-graduação em
Ciência Política da UFRGS, Porto Alegre.
2
Essa metodologia é parcialmente baseada na proposta de Gramsci (1974, 1978). A visão de Gramsci sobre a
ideologia é discutida em: Konder (2002), Portelli (1990), Gruppi (1978), Eagleton (1997). Outras referências
são Zizek (1996), Cerqueira Filho (1982).
2

que os efeitos internacionais das propostas filosóficas e científicas dos intelectuais


burgueses-liberais nem sempre eram controladas por eles, apesar do seu papel de
organizador da cultura3. O exemplo brasileiro, quando da proclamação da república, marca
bem os efeitos teóricos centrais dos pensamentos fundacionais da ideologia dominante pois
os nossos intelectuais (muito mais para tradicionais do que orgânicos) copiam a
constituição dos Estados Unidos, não tendo qualquer originalidade e criatividade para a
engenharia institucional de um “novo” país.
A figura dos intelectuais e o papel das suas obras, reflexões é um ponto crucial para
a formação de uma determinada ideologia. Por mais que a ideologia precise percorrer um
longo caminho até chegar a ser um elemento do senso comum, ela emerge a partir da
interação social entre intelectuais e a sociedade, sendo que por sociedade está se
caracterizando grupos específicos, empresas, centros de pesquisa e outras instituições e
associações. Tanto Boron (2003) quanto Chilcote (1997) comentam sobre as ligações do
governo dos Estados Unidos com intelectuais através de pesquisas e contatos entre os
pesquisadores e agências do governo como a CIA e o FBI. Nos anos recentes, a relação é
ainda mais próxima, desses intelectuais: “que com tanto êxito procuraram fundar sobre
novas bases a hegemonia do capitalismo monopolista, atualizando, em consonância com o
desenvolvimento recente da sociedade-americana, os mecanismos burgueses de ‘direção
intelectual e moral . . .’ (Boron, 2003, 158).
A ideologia ser de uma determinada forma, significa que ela, assim com o
fetichismo da mercadoria, representa não uma substância real (concreto real) mas uma
determinada representação construída no pensamento, o que não invalida a tese de que ela
tenha, ou deveria possuir, uma existência material, na medida em que é materializada pelas
ações, discursos, expressões e trejeitos das pessoas4. Toda a crítica marxista a mercadoria
não foi desenvolvida em relação à substância mercadoria (que seria o ser valor de uso) mas
a sua forma (valor de troca). No caso da ideologia da antipolítica, um dos seus principais
elementos é a retórica de mercado, a antipolítica como sendo um determinado tipo de
colonização da esfera política (pública) a partir de uma lógica fundamentada em
preceitos (formas) de mercado.
Por visão de mundo, entende-se uma ideologia ligada, em última instância, ao modo
de produção e a reprodução das relações de produção. Isso implica que ela deve estar ligada
a alguma perspectiva de classe social, pois o efeito sociológico e político das interações no
modo de produção é a criação de classes sociais, por mais que elas precisem completar a
sua formação na dimensão política e ideológica, isto é, subjetiva. Uma formação social e
política numa determinada conjuntura histórica não terão que ter, obrigatoriamente, classes

3
Esse o título de uma organização de cartas do cárcere de Gramsci feita por Togliatti e Plantone, isso pela
visão dos organizadores de que a figura do intelectual dentro do pensamento gramsciano seria a de um
organizador da cultura ainda que ele (intelectual) fosse, em última instância, um funcionário de classe, isto é,
não agisse em seu próprio e único interesse pessoal mas como orgânico de uma determinada classe social.
Para uma discussão do papel dos intelectuais na organização da cultura ver: Coutinho (2000), Cerqueira Filho
(1982).
4
A tese da existência material da ideologia foi mais sistematicamente defendida por Althusser (1990). “Um
indivíduo crê em Deus, ou no Dever, ou na Justiça, etc. Esta crença provém (para todo mundo, isto é, para
todos que vivem na representação ideológica da ideologia, que reduz a ideologia, por definição, às idéias
dotadas de existência espiritual) das idéias do dito indivíduo enquanto sujeito possuidor de uma consciência
na qual estão as idéias de sua crença. A partir disso, isto é, a partir do dispositivo ‘conceitual’ perfeitamente
ideológico assim estabelecido, (um sujeito dotado de uma consciência aonde livremente ele formula as idéias
em que crê), o comportamento material do dito indivíduo decorre naturalmente.” (Althusser, 1985, 90).
3

sociais constituídas integralmente e funcionando em todas as suas dimensões. De certa


foram, também, as classes sociais não nascem e se formam como substâncias necessárias às
relações sociais, mas precisam que ações ideológicas e políticas entrem em atuação via
aparelhos (ideológicos) ou práticas de classe, para que seja complementada a constituição
de um segmento social e econômico em classe social, como por exemplo, o proletariado,
que é um grupo constituído no processo produtivo mas que precisa de ideologia(s) para
existir enquanto classe social. Isto é, as principais ideologias de uma determinada formação
social passam, necessariamente, pela luta de classes.
A ideologia da antipolítica é, nesse sentido, uma determinada versão da ideologia
dominante. Por ideologia dominante, entende-se a ideologia ligada à classe dominante, que
no modo de produção capitalista é, em última instância, a classe que domina o processo
produtivo. Antes de serem aprofundadas as orientações teóricas sobre essa noção, é preciso
que se observem algumas idéias úteis para a compreensão da formação e papel da ideologia
e da classe dominante, justamente pelas muitas críticas que essa teoria recebeu nos últimos
tempos. Em primeiro lugar, a formação das classes sociais e a distinção da(s) classe(s)
dominante(s) é um processo flexível e mutante de região para região, de país para pais. O
modelo teórico que baseia essa metodologia tem alguns princípios gerais, mas o principal é
os aspectos conjunturais, relacionais, históricos. Isso implica em uma regra que é a da
efetividade histórica, pois no caso do Brasil e da América Latina, a formação das classes
sociais não correspondeu ao processo europeu e americano. Um dos aspectos locais,
segundo os estudiosos defensores da teoria da dependência é que as classes sociais no
Brasil e América Latina já se formaram de maneira internacionalizada, especialmente para
o caso da burguesia. O que irá afetar, sem dúvida, a constituição da ideologia dominante na
medida em que a burguesia brasileira (dependente da burguesia internacional e apenas
umas das sócias do processo de modernização dessa região) não desenvolveu uma
“ideologia própria” pois copiou boa parte das máximas, interpretações (visões de mundo)
da burguesia internacional, desenvolvendo localmente apenas alguns traços mais fortes de
racismo, elitismo, autoritarismo, patrimonialismo. Com isso, a classe dominante brasileira
além de ser frágil e com dificuldades teóricas é, também, hoje em dia, muito mais
internacionalizada do que local. Ou seja, a burguesia brasileira não existe, pois quem
controla o processo produtivo aqui é a burguesia internacional.
Em segundo lugar, a classe dominante não é um bloco homogêneo que vai dos
empresários do campo aos da cidade, do comércio aos da indústria. Existem muitas
divisões, rachas, conflitos entre as categorias da classe dominante. E, a ideologia dominante
serve para que os próprios burgueses sejam interpelados e submetidos à lógica proposta por
tal ideologia, particularmente os grupos burgueses alternativos ou descontentes.
A última ressalva sobre a ideologia dominante, é que não existe uma única ideologia
oriunda da classe dominante, mas várias formas de interpretação do mundo, e a ideologia
que chega ao posto de dominante é aquela que consegue se transformar em hegemônica, ou
seja, na forma hegemônica de organização da sociedade civil (Gruppi, 1978).
(b) Para a ideologia da antipolítica ser uma ideologia é preciso que ela também
exista em nível de movimentos organizados, práticas políticas. E isso já foi verificado para
a ideologia da antipolítica. Alguns estudiosos perceberam que existiam indícios de
antipolítica em movimentos sócio-políticos como o neoliberalismo, neonazismo,
populismo, marxismo, militarismo, dentre outros. De outro lado, mas com efeitos no
mesmo sentido, os meios de comunicação de massa também foram alvo de estudos pelo
ângulo da antipolítica. Nesse sentido, quando uma ideologia transita entre dimensões como
4

a filosofia e meios de comunicação, é porque ela conseguiu uma existência em nível de sua
difusão social. Quando uma ideologia é transmitida socialmente via os aparelhos
ideológicos, ela completa um ciclo que iniciou no ambiente filosófico e de formação teórica
(pela ação dos intelectuais orgânicos), e que depois passou para a dimensão da sua difusão
(como os meios de comunicação, os movimentos sócio-políticos). Nesse ponto, entram em
cena também os intelectuais tradicionais, aqueles que decodificam as mensagens e idéias da
ideologia para amplas massas, camadas sociais mais numerosas. Gramsci usava a expressão
de que uma ideologia também existia em nível do folclore, senso comum, o que é a mesma
coisa. Com a difusão dos meios de comunicação de massa, eles implodiram as antigas
distinções entre folclore e senso comum (ou até de cultura popular). Uma ideologia
orgânica precisa penetrar nesses campos todos.
A existência material não ocorre apenas em idéias difundidas, mas em práticas
também. Uma prática no seu ritual, concatenação de gestos e formas, é a manifestação de
uma ideologia. E a prática de movimentos sócio-políticos e de aparelhos ideológicos é uma
necessidade para uma ideologia como a antipolítica.
Por movimentos sócio-político, entende-se um movimento com base social e não
puramente intelectual, com relações diretas e indiretas com a luta de classe5, que consiga
transmitirem as suas idéias e práticas via os aparelhos ideológicos a ponto de ou se
transformar em ideologia dominante e, portanto, elemento cimentador da hegemonia de um
determinado bloco histórico, ou disputar tal condição com as outras ideologias. O
neoliberalismo é um exemplo de movimentos sócio-político, pois partia de uma base social
e atingiu uma condição de disputa em nível da ideologia dominante.
(c) A última condição para um conjunto de idéias e práticas ser uma ideologia
orgânica é que ele precisa configurar-se como cultura política (ou um tipo de). Não é
segredo de ninguém que a abordagem da cultura política foi por outros caminhos que os do
marxismo. Mas, também não é impossível que um dia eles se aproximem. Algumas
tentativas já foram esboçadas. Então, revisando algumas posições teóricas a respeito
(Gramsci, 1974; Zizek, 1996), pode-se considerar que aquela dimensão que Zizek apresenta
como sendo a da ideologia “espontânea”, nos moldes do fetichismo da mercadoria ou da
alienação (algo que brota de baixo para cima e não de cima para baixo como a outra
dimensão da ideologia vista anteriormente), ou naquela que Gramsci fala de folclore e
senso comum, na verdade podem ser relidas como sendo a dimensão da cultura política.
Buscando-se as reflexões e delimitações dos teóricos clássicos da cultura política, eles
pensam a cultura política como uma dimensão marcada pela articulação de crenças, valores,
opiniões, atitudes e comportamentos de uma determinada população, isto é, numa
perspectiva geral para toda uma população.
Os tipos de cultura política seriam os efeitos produzidos por movimentos de
socialização política (através de agências tais como a família, escola, meios de
comunicação, amigos, vizinhos, partidos políticos, Estado, e tantas redes mais de convício

5
Um movimento sócio-político não participa desde o seu início vinculado a uma determinada posição na luta
de classes, pois o processo é de disputas, fluxos, refluxos, porém, um movimento sócio-político alcança uma
situação privilegiada socialmente quando estabelece um nexo entre as suas teorias, práticas, teses, crenças,
rituais, interpretações, com os objetivos já pré-estabelecidos em nível de alguma organização de classe social
(tipo partido político, sindicato, associação profissional). Isso aconteceu com o marxismo, que de uma teoria
filosófica foi incorporado ao movimento político, sindical e partidário de um determinado grupo social que, a
partir dele, pôde (ou não) se constituir enquanto um grupo com a sua ideologia.
5

social das pessoas). Mas a cultura política seria, então esse efeito, quantificável para saber-
se quais os tipos de cultura e quais as suas repercussões sociais.
De certa forma, ainda que o marxismo estruturalista e a abordagem oficial da cultura
política tenham aproveitado releituras da psicanálise (o primeiro via Lacan e o segundo via
o behaviorismo), as bases foram diferentes em termos da pressuposição do papel de quem
faria a socialização/interpelação, se as agências de socialização ou os aparelhos
ideológicos, se o núcleo eram os indivíduos e a sua racionalidade (ou falta dela) ou as
classes sociais e os sujeitos individuais, dentre outras questões. Porém, ainda que sejam
diferenças importantes, podem existir aproximações no sentido de que a terceira dimensão
de uma ideologia orgânica seja aquela dos efeitos culturais (cultura política) gerados pelos
movimentos sócio-políticos (decodificadores das filosofias) em nível da sociedade e não de
um determinado grupo.
Quando uma ideologia chega até o nível da cultura política é porque já atingiu uma
condição de estar preparada para ser parte da ideologia dominante e, dependendo da sua
lógica interna e aceitação social, constituir-se como núcleo da ideologia dominante. A
presente discussão está direcionada para esta última dimensão, isto é, verificar as
condições, tamanho, da ideologia da antipolítica em nível da cultura política brasileira. Por
isso, parte-se do pressuposto que a antipolítica já passou pelas fases anteriores (que até já
foram estudadas na literatura internacional) e que está a espera de um estudo em nível da
cultura política.

COMO CHEGAR À ANTIPOLÍTICA

A ideologia da antipolítica mobiliza símbolos que servem para a estruturação de


uma representação antipoder em três situações: (a) contra às instituições políticas: é a
antipolítica contra os representantes, contra aqueles que decidem as grandes questões,
principalmente pela falta de identificação com eles, pela falta de uma processo de
representação ideal que permita a identificação e aceitação dessa forma de poder: via a
possibilidade (de ser o soberano, de escolher o representante) mais do que a efetividade
(ação direta na decisão, participação integral).
(b) Contra a lógica da representação, isto é, contra os processos de afastamento do
representante, a questão da diversidade (outros podem ser representados, e terem os seus
direitos afirmados). Isso pode levar a uma situação ainda mais antipolítica já que a
articulação da primeira manifestação com a segunda pode marcar uma visão que vê, no
processo de representação, somente a representação ideal (possível e efetiva) do outro,
deles, dos ricos, da elite, dos poderosos, dos baderneiros e dos corruptos. Assim, a lógica da
política tanto pelo lado da representatividade quanto da diversidade pode levar, e leva na
prática, há uma subrepresentação de alguns e superepresentação de outros. A negação do
outro, a negação do inimigo, não é só pela sua própria existência, mas quando a visão do
processo de representação, ou até de atuação direta, sendo que é mais difícil nessa última
versão, mas não impossível, leva a uma vantagem para os outros em detrimento dos meus
interesses e direitos.
(c) E contra o poder individual e social, isto é, do nosso e do meu poder. A
antipolítica não se manifesta só contra o poder dos outros, não só contra a lógica que leva à
essa disparidade de poder (mais para eles e menos para nós, eu) mas também contra o
próprio poder pessoal e grupal/social, do nós (pobres, trabalhadores, estudantes e colegas).
6

A antipolítica como antipoder pessoal não é nenhuma novidade já que muitas pessoas
concordam que as máquinas, os mais inteligentes, os técnicos, muitas vezes, ocupem os
seus poderes de decisão, de produção, de participação. Além, é claro, dos que acham que
como eles ou ele não deve influenciar nas decisões do governo, da escola, da empresa, dos
meios de comunicação.

DEFINIÇÃO DE ANTIPOLÍTICA

Algumas pistas sobre como é a ação crítica da antipolítica são dadas na obra de
Schedler (1997). Este autor comenta sobre as diferentes manifestações da moderna
antipolítica no discurso ocidental, sem tratar especificamente da antipolítica como uma
ideologia. A antipolítica resume-se, em linhas gerais e metafóricas, na visão de Schedler, a
um tipo de pensamento que: (a) pretende destronar e banir a política da esfera pública,
deixando essa desabitada, desocupada; (b) colonizar a política, fazendo com que a esfera
pública seja controlada por outros tipos de lógicas a partir de uma alienação da política. Em
parte, essa visão se aproxima da exposta acima no que concerne às manifestações da
política, já que aqui, na visão de Schedler, a antipolítica está associada a posições de
negação da política no sentido da sua lógica (que deve ser ou colonizada, ou removida).
A novidade no argumento está mais para a localização da política na esfera pública,
posição que discordamos parcialmente. A política “habita” a esfera pública, seja essa numa
acepção colada ao Estado, como na versão contratualista, seja numa acepção proposta por
Habermas (esfera pública como local de comunicação entre as esferas civis, Estado/poder,
mercado/dinheiro). Mas, a política também “habita” a esfera privada, as relações sociais
mais íntimas, face-a-face entre os pais e filhos, professores e alunos, patrões e empregados,
etc. Até, se pode aceitar que a esfera pública representa a dimensão da política se esta for
encarada como a interação entre os indivíduos nas suas relações sociais, ou seja, a parte da
interação propriamente dita, o que seria alargar demais o sentido da esfera pública. Nesse
sentido, concordamos com Gramsci quando este critica a divisão entre a esfera pública e a
privada, ao sugerir uma outra forma dicotômica marcada pela relação entre sociedade
política e sociedade civil. A primeira como momento da relação social política, de relação
de poder, decisão, e os seus desdobramentos em termos da dominação, hegemonia, mas
momento difundido em toda a sociedade, em todas as esferas: família, Estado e partidos
políticos6. Para a segunda dimensão temporal, podem-se arrolar as múltiplas ideologias, as
visões de mundo, que dão sentido às relações sociais entre os indivíduos e classes sociais,
as propostas de sociedade, isto é, a tal superestrutura.
Portanto, concordamos em parte com Schedler quando este observa que a
antipolítica se manifesta por um tipo de pensamento que procura banir ou colonizar à
política, esta associada à lógica de representação, diferenciação e decisão existente nas
instituições políticas (Estado, basicamente). O que acrescentamos é a noção de que a
dimensão pessoal e dos movimentos sociais, políticos, por exemplo, que lutam pela sua
representação mais geral, também fazem parte da política, pelo menos da sua parte coletiva,
geral, já que este tipo de relação social, como já afirmamos anteriormente, é bastante
generalizado socialmente.

6
Além da obra do Cárcere de Gramsci, uma boa visão sobre o conceito de sociedade civil, e política, ver:
SEMERARO, Giovanni. Gramsci e a sociedade civil: cultura e educação para a democracia. Petrópolis:
Vozes, 1999.
7

Schedler (1997) possui outras questões interessantes para a nossa discussão no que
concerne à antipolítica. Quanto a questão da remoção da política, as ideologias antipolíticas
rejeitam alguma(s) ou todas destas premissas (política): (a) elas vem uma ordem auto-
reguladora em vez da necessidade da ação pública; (b) em vez da pluralidade elas vem
uniformidade; (c) em vez da contingência elas determinam a necessidade; (d) em vez do
poder político elas proclamam a liberdade individual.
No item da ação pública versus autoregulação, a oposição proposta pela ideologia
antipolítica apresenta-se como a defensora de uma política vazia e sem conteúdo pois
apresenta problemas que não precisavam de solução, além de serem, quase sempre,
perigosos (Schedler, 1997). Várias propostas neoliberais podem ser destacadas como
exemplos, justamente por proporem o afastamento do Estado dos negócios privados porque
percebem que este ator costuma intrometer-se em situações de desigualdade social, fazendo
com que certos problemas, como a forme, miséria, desemprego, devessem ser tratados por
política sociais quando, na verdade, para esses pensadores, é o mercado que deveria
resolver direta e naturalmente a questão. Se a política deve permanecer, comenta Schedler,
fazendo alusão ao pensamento de certos neoliberais menos radicais, que ela seja restringida
a uma unidade básica de mínima expressão.
A pluralidade também é condenada, especialmente em nome de uma uniformização.
A política é marcada pela pluralidade e as diferenças, como já afirmamos anteriormente,
podem gerar visões contrárias à política na medida em que as partes julgarem que as suas
idéias, os seus direitos ou não estão sendo contemplados ou o direito dos outros não deve
ser contemplado (o que são, quase, a mesma coisa). Pensar numa proposta de uniformidade
que consiga ultrapassar as diferenças não deixa de ser uma velha tese antipolítica. E para a
reprodução dessa tese não só pensadores conservadores mobilizaram tais significados, mas
alguns oriundos da esquerda (como o Stalinismo) também contribuíram para o relativo
sucesso desses argumentos.
Uma das questões mais sérias no pensamento antipolítico está nessa dicotomia
apresentada por Schedler (1997), entre a contingência e a necessidade. A política repousa
na visão de que as coisas podem ser diferentes, não destino imutável. Política pressupõe
contingência, liberdade de escolha, controle do futuro, opções alternativas e mínimos graus
de soberania (Schedler, 1997), o que concordamos para a política moderna. Nesse sentido,
mais uma vez a estratégia política neoliberal de transformar os destinos da globalização e
do próprio neoliberalismo como inevitáveis, traduz bem a noção antipolítica de
impossibilidade do controle do futuro, este como arte do possível. Essa perece uma questão
das mais importantes no pensamento antipolítico, pois como pode ser visto, está bastante
ligado ao pensamento neoliberal.
Num outro sentido, mas próximo desse, pode-se verificar a aceitação quase que
natural da maior qualidade das máquinas e dos planos científicos de gestão e organização
da produção/distribuição. Na onda neoliberal e da globalização, também estão presentes
alguns postulados que afirmam a vantagem da máquina e da racionalidade (dos
procedimentos) em relação às mulheres e homens (de carne e osso). O pensamento que
concorda com a substituição dos seres humanos pelas máquinas sem planos efetivos de
incorporação social em outras atividades7 produz efeitos antipolíticos (exclusão política,
7
Na visão de Marx, as máquinas fazendo o trabalho de hoje, na produção dos bens necessários a
sobrevivência, sem terem donos, as máquinas poderiam permitir que as pessoas pudessem escolher livremente
as suas atividades já que elas não estariam ligadas diretamente a sua sobrevivência, como ser humano. Mas, o
desenvolvimento tecnológico, da forma como está sendo conduzido, e em meio ao meio social e político
8

perda de poder social e individual) tão sérios como outras propostas políticas. Isso é mais
grave no que concerne à juventude, pois esta tem dado sérios sinais de corrupção
tecnológica, a partir do seu gozo com a parafernália tecnológica dos jogos eletrônicos,
filmes de violência explícita, mas produzidos com uma sofisticação para mostrar as
mutilações humanas (como nos filmes de Guerra ou policiais). Tecnologias que naturalizam
e espetacularizam a morte e a violência, com contornos de exclusão, racismo,
autoritarismo.
Do ponto de vista anárquico, mas também liberal, a autoridade do poder público e o
processo de representação são também fortemente negados pela ideologia da antipolítica.
Política é igual a decisões encadeadas, definidas através de regras, restrições; regras nem
sempre consensuais, porém marcadas por algum processo de representatividade, disputa,
possibilidade dos dominados serem dominantes em outro momento. A autoridade do
Estado, com certeza, como observa Schedler (1997) é o coração institucional, numa alusão
mais ao pensamento de Weber do que de Arendt.
O individualismo antipolítico celebra a subjetividade irrestrita, tribalismo irrestrito,
na visão de Schedler. A obra de Hobbes, aludida pelos analistas americanos, como já foi
comentado acima, traz claramente uma visão que contrasta o poder todo-poderoso do
Estado e o poder (ilimitado) do indivíduo. Na visão anarquista ou liberal racional, quanto
mais o indivíduo puder fazer o que quiser, mais a política estará limitada ou destronada pois
a liberdade individual de fazer o que lhe der na “telha” é a marca do espaço não-político,
porque antiestatal.
Essas observações de Schedler permitem que a antipolítica seja vista em toda a sua
variedade. Uma das questões mais importantes para a realidade no Brasil é a articulação da
antipolítica com o neoliberalismo, bem como com as pós-modernas interpretações sobre o
papel das máquinas e dos seres humanos. Entre as diferentes gerações, os jovens são
aqueles que estão mais submetidos a essas teses, postulados, representações da política e da
sua própria vida, não sendo nenhuma novidade a crescente atração pela tecnologia (da
violência), das drogas, de movimentos sociais antisociais e antipolíticos (neonazistas,
racistas, etc). A violência da tecnologia está sendo uma forma de sublimação da impotência
política pois as oportunidades políticas e sociais, emprego e educação, estão cada vez mais
distantes tanto pelo grau cada vez maior de domínio tecnológico (bem como o seu acesso),
quanto pela existências de propostas de mercantilização dos recursos como educação,
saúde, conhecimento8.
Quanto a questão da colonização da política, Schedler (1997) comenta que a
ideologia da antipolítica acredita em alguma funcionalidade da política, mas esta não deve
ser conduzida com as suas próprias leis e linguagem, como a lógica da representação,
relação amigo/inimigo, etc. A política, ao contrário, deve ser transformada numa outra
neoliberal e da globalização, exclui muito mais do que liberta.
8
Duas citações traduzem o que queremos dizer: “Assim, é infinita a distância no meio urbano moderno entre
uma pessoa alfabetizada e uma não alfabetizada, no sentido de que instrução afeta todas as possibilidades de
orientação e a qualidade de vida e não é economicamente quantificável. E o Brasil ainda tem quase um terço
da sua população com primário incompleto (boa parte analfabeta ou quase).” (Sorj, 2000, 21).
“No novo modo informacional de desenvolvimento, fonte de produtividade acha-se na tecnologia de geração
de conhecimentos, de processamento da informação e de comunicação de símbolos. Na verdade,
conhecimentos e informação são elementos cruciais em todos os modos de desenvolvimento, visto que o
processo produtivo sempre se baseia em algum grau de conhecimento e no processamento da informação.”
(Castells, 1999, 35).
9

lógica que esteja, por exemplo, voltada aos padrões tecnocráticos ou lucrativos. A questão
central é da criação de uma nova racionalidade política, já que a lógica tradicional do
processo de tomada de decisão baseado no processo de representação e diferenciação é
lento, burocratizado e não considera, necessariamente, o lucro.
Schedler (1997), por fim, apresenta quatro tendências propostas para a colonização
da política, sendo que elas podem ser vistas como o cerne da retórica de mercado de tal
forma ideológica. A retórica de mercado para fins da ideologia da antipolítica não significa
a relação entre significado e significante tradicional para a teoria da semiótica, porque a
retórica não pretende ser uma referência a qualquer tipo de materialização de uma
sociedade de mercado, ou uma política de mercado no sentido da distribuição,
descentralização, competição entre agentes que, isoladamente, não detenham uma
quantidade de poder a ponto de terem situações de privilégio como as de oligopólio,
monopólio, e outras.
1- Antipolítica instrumental: visão que traduz o elitismo da versão antipolítica, pois a
política fica sob responsabilidade dos tecnocratas. A lógica da política é transformada
numa versão tecnocrática, a partir do cálculo adequado em relação a fórmula
custo/benefício: sendo o lucro o maior benefício e os custos como a política tradicional
(sinônima de desrazão).
2- Antipolítica amoral: compreende a nova política como estratágia de mercado (13). O
mercado, o marketing, a imagem transformam a política num mega festival
mercadológico, onde a esfera pública é engolida pela esfera privada. Se pensarmos no
caso do Brasil e o padrão patrimonialista de dominação, em que a esfera pública foi
comumente privatizada, a nova configuração neoliberal da política faz a mesma coisa a
partir das privatizações da esfera pública pelo mercado, o que produz o mesmo
resultado: exclusão política, elitismo, marginalização social, etc., além do
despoderamento social.
3- Antipolítica moral: a nova política moral deve descartar o debate na arena política,
invocando os dados normativos morais. A diferenciação e a falta de consenso são vistas
como amorais por essa nova moral política. Como vimos anteriormente, os inimigos
são vistos como entes a serem excluídos do processo político, que deve ser totalmente
ritmado num mesmo tom ideológico e político.
4- Antipolítica do espetáculo: o teatro e o drama devem ocultar a política. Beleza, poder
da imagem deve substituir o poder da maioria da população. A fachada da nova
política deve cair sobre a sua verdadeira face para que somente uns poucos possam
perceber as implicações elitistas e excludentes da prática política.

Em linhas gerais, a literatura que trata da antipolítica trás todos esses elementos. A
questão é aproveitar esse debate no sentido da formulação de uma proposta para o estudo
da antipolítica para o caso do Brasil. Algumas questões serão aproveitadas, o que resta
mesmo é a definição do modelo de análise. Mas, para resumirmos, a antipolítica é
antipoder, como antipoder se manifesta em visões que se opõe às instituições políticas
(Estado, partidos políticos), à lógica política (representatividade, diferença, discussão,
especialmente contra o outro), bem como ao próprio poder pessoal e grupal (do eu e do
nós).
10

A ANTIPOLÍTICA NO BRASIL

“À medida que entramos no novo milênio, que futuro aguarda as sociedades latino-americanas?
Níveis sem precedentes de violência, pobreza, discriminação e exclusão parecem indicar que o
desempenho e o próprio projeto das novas democracias da América Latina estão longe de
satisfatórios”.
(Alvarez, Dagnino, Escobar, 2000: 15)

Se a democracia virou a temática por excelência nas últimas décadas, abaixo dela
estão sendo escondidas questões relevantes, algumas que até precedem à democracia, tal
como a política. A questão democrática é realmente importante, ainda mais nesses dias de
crise de alternativas ao capitalismo neomonopolista e, no caso do Brasil, ainda marcado
pela forma autocrática-burguesa9 de dominação. Entretanto, e pela própria importância da
política, pois o nosso tipo de capitalismo é mais político que econômico (tese tanto de
Florestan Fernades quanto de Raymundo Faoro10), a questão das bases subjetivas de apoio
ou não à política, especialmente no sentido da sua ampliação, diversificação,
democratização e incorporação, trazem importantes elementos independentes a análise da
sociedade brasileira contemporânea.
O Brasil viveu nas duas últimas décadas do século XX num terreno fértil para a
Ciência Política, especialmente para aqueles cientistas que estudam a cultura política. Uma
revisão bibliográfica revela, com certeza, um direcionamento nas preocupações para o
processo de consolidação e ampliação da democracia; estudos que pretenderam discutir não
só a lógica e saúde das instituições políticas (re)criadas a partir da reforma democrática –
que também não foi lá muito profunda – mas, principalmente, as bases subjetivas
(valorativas, ideológicas, atitudinais, cognitivas) em torno do que se poderia chamar de
cultura política nacional.
No caso do Brasil, desde a metade do século XX começaram a ser desenvolvidas
pesquisas empíricas em torno da cultura política, mas o novo contexto de democratização,
bem como o surgimento de procedimentos tecnológicos mais sofisticados permitiu que nas
últimas décadas fossem realizadas muitas sondagens de opinião, até para verificar os ritmos
culturais em relação aos ritmos institucionais e internacionais da nova onda democrática. O
paradoxo desse processo todo, quando os dados começam a ser coletados e analisados,
aponta para um crescimento da organização da sociedade civil, uma liberalização partidária
e institucional, afirmação de direitos das mulheres, afro-brasileiros, homossexuais,
trabalhadores rurais, sem-terras, sem-teto, etc., ao mesmo tempo em que há um importante
contingente de indivíduos que não acreditam na democracia, nas instituições políticas, nos
políticos.
Aí reside um significativo paradoxo: nem o Brasil está mais em uma ditadura militar
– apesar da tutela militar -, há a afirmação de movimentos sociais e políticos que têm
procurado outras formas mais democráticas e descentralizadas de fazer política; mas, ao
mesmo tempo, e em vista ainda do peso fundamental que a “velha” política tem, assiste-se
a um crescente e repetido processo de erosão das bases culturais e ideológicas da
democracia, bem como de todo o processo político institucional e partidário em geral.

9
FERNANDES, Florestan. A Revolução Burguesa no Brasil: ensaio de interpretação sociológica. 3 ed. Rio
de Janeiro: Guanabara, 1987.
10
FAORO, Raymundo. Os donos do poder: formação do patronato político brasileiro. 8 ed. São Paulo:
Globo, 1989.
11

Pode-se dizer que o problema começa com o próprio processo de democratização.


Lento, elitista, sob o peso da tradição autocrática-burguesa de dominação, fazendo com que
a ampliação do acesso à política (sufrágio universal, liberdade de organização partidária,
sindical, etc., eleições gerais e livres) ainda seja muito mais formal, virtual, do que efetivo e
marcado pela organização autônoma da sociedade civil. Nesse sentido, alguns cientistas
políticos, têm afirmado a importância de uma cultura política democrática e participativa
para a consolidação e ampliação da democracia. Esta, em vista das suas múltiplas
definições e sentidos, sendo definida como um processo mais participativo, que garanta,
além do acesso e regras justas e transparentes, direitos sociais, econômicos e culturais que
possam permitir um livre desenvolvimento dos indivíduos e não uma simples soma de
direitos formais.
Nesses estudos constata-se que a política volta e meia é citada, comentada, como
um certo suporte ou até contingência da democracia. Nesses estudos também, e de acordo
com algumas visões mais restritas de democracia, entende-se que o número de indivíduos
que se manifestam de forma apática, descrente, ou até autoritários, não são,
necessariamente problemas à democracia, porque, além disso, ser tradicional e sistêmico no
processo democrático, eles não participarem mesmo das arenas políticas, deixando aos mais
interessados a tarefa de manutenção e consolidação da democracia. É justamente aí que
reside o interesse da nossa discussão.
Em primeiro lugar, não se pode visualizar esse importante contingente como algo
simplesmente apático, que pode até ser integrado (mas não necessariamente) com uma
melhoria gradual do sistema; melhorias econômicas, culturais, educacionais. Isso não é
nenhuma novidade não só para o Brasil, mas para os próprios países desenvolvidos, ou seja,
a questão do desinteresse, da apatia, ainda que exista lá uma maior aceitação “difusa” da
democracia. Essa questão deve ser encarada de forma mais sistemática, subjetiva, isto é,
ideológica, pois pode ser um forte indício de que a política no Brasil seja até melhor
interpretada por esse contingente, por esse sentimento. Como se a melhor forma de se
conhecer a política (a sua dimensão ideológica, de cultura política) fosse através da apatia,
apolítica, antipolítica.
Em segundo lugar, e já pensando na questão da antipolítica, na ideologia da
antipolítica, parece que os efeitos em termos da cultura política de todos esses processos
políticos e sociais marcados pelo clientelismo, autocracia-burguesa, patrimonialismo, não
se limitaram somente a sentimentos de apatia e descrédito, mas a visões ativas de oposição
à política, ou seja, de antipolítica. É claro que a fronteira pode ser tênue, entre uma simples
apatia, descrédito, desinteresse, e uma visão mais de oposição, de negação, destruição. Mas,
essa discussão parte para uma análise mais detalhada dessa questão específica, da
antipolítica e dos seus efeitos prováveis e visíveis nos processos políticos mais gerais.
Em terceiro lugar, e tendo em vista a forma da antipolítica, se uma atitude,
comportamento, ideologia, crença, sentimento, etc., está se partindo do pressuposto que a
melhor forma de se estudar a antipolítica, é a partir de um estudo crítico sobre a ideologia,
na medida em que a antipolítica está sendo vista, portanto, como uma determinada forma
ideológica. O que não invalida, muito pelo contrário, a sua relação com a cultura política
brasileira. Mas, a extensão ou todos os efeitos produzidos e sentidos pela ideologia da
antipolítica no contexto do Brasil também não são objetos dessa tese, pelo menos
diretamente.
Uma questão que julgamos pendente, ainda não discutida com a devida atenção,
trata da relação entre ideologia e cultura política. Para não ficarmos num nível mais geral,
12

pode-se dizer que em relação aos jovens existem alguns aspectos ainda não muito
discutidos, aspectos que se concentram na dimensão mais ampla da ideologia e que fazem a
ligação entre a dominação de classe e as atitudes, valores, graus de confiança e interesse,
presentes nos diferentes níveis da cultura política. Sentimos falta tanto de estudos que
consigam ir além da questão dos intelectuais, imprensa, movimentos de elite, isso nos
estudos críticos sobre as ideologias, bem como sentimos falta de reflexões e pesquisas que
possam ir além do levantamento desses graus em nível da cultura política (interesse,
participação, confiança).
Uma outra pergunta que ainda não teve uma resposta adequada é a questão da
apolítica e política. Entendemos que não existe apenas uma dicotomia: política/apolítica,
nem em escala geral, nem em nível da cultura política. A outra dimensão é a da antipolítica.
Dimensão marcada realmente por uma síntese da apolítica (negação da política) como da
política (negação da apolítica). A antipolítica surge como uma temática nesta discussão, a
ser estudada entre os jovens, porque a apolítica não dá conta do sentimento de aversão e da
ação (política) de banimento e colonização da política – patrocinada pela antipolítica.
Reconhecemos, dentre outras coisas, que a antipolítica tem uma existência mais visível em
termos dos movimentos sociais e políticos, mas, em nível da cultura política e da ideologia
(esta em termos da sua difusão social) podemos perceber importantes movimentações da
antipolítica, sendo os jovens uma categoria especial para esse tipo de estudo.
Portanto, algum tipo de reconstrução histórica da formação política brasileira é
importante porque traz à tona certas características que marcaram a formação daquilo que
estamos interessados em discutir, as instituições políticas, os processos políticos e a própria
configuração da estrutura de poder, tanto em nível individual quanto social.
O pensamento social e político brasileiro terão, com certeza, muitas dúvidas,
polêmicas, patrocinadas, especialmente, pelas gerações de intelectuais que se formaram a
partir das primeiras décadas do século XX. Mas, também, encontra-se alguns pontos
convergentes como a questão da importância da dimensão política no tipo de capitalismo
dependente existente no Brasil (e América Latina). Para Fernandes e Faoro, dois dos mais
destacados cientistas sociais brasileiros, o capitalismo brasileiro é mais político do que
econômico. É mais político tanto pela ação do patrimonialismo quanto do tipo de revolução
burguesa, isto é, o consenso de antes não esconde significativos pontos divergentes. Porém,
para efeitos do nosso argumento, e para reforçarmos a tese de que por ser tão importante a
dimensão político foi comumente elitizada na mesma proporção da exclusão política da
maioria da população e conforme processos de clientelismo e autoritarismo para afastar a
população das principais decisões de Estado e de outras questões sociais e econômicas
importantes.
Seguindo mais a linha de Fernandes, podemos dizer que o desenvolvimento do
capitalismo no Brasil não se articulou com a democracia, nem com a versão mais social e
participativa, nem com a mais formal e política ( no sentido apenas do voto, de partidos e
sindicatos livres e competitivos e representativos). Isso, no nosso entender, já se configura
como importantes sintomas da política, isto é, da forma como a política foi estruturada no
Brasil, para ser coisa da elite, afastada da maioria da população, não só nas questões
públicas (especialmente nessas), mas também em relação à estrutura das relações sociais
mais do cotidiano (relação entre professor-aluno, médico-paciente, etc). Nossa visão vai ao
sentido de que a política (relação de poder, disputa de poder, possibilidade e efetividade de
uns influenciarem os outros) foi um recurso restrito à uma minoria da população, em
13

épocas remotas os coronéis, em épocas mais recentes os tecnocratas, além da burguesia


nacional e internacional.
Como pano-de-fundo, identificamos o tipo de desenvolvimento dependente11,
mesclado com padrões políticos tradicionais (patrimonialismo) e temperados pelos próprios
limites existentes entre a articulação entre democracia e capitalismo12. Isso patrocinou a
formação de instituições políticas, ora fortes e toda-poderosas, ora frágeis e incapazes de
incorporarem soberanamente a população, particularmente os trabalhadores urbanos, do
campo, os marginalizados em geral.
Instituições fortes não tanto pelo poder físico e da violência (exército, polícia) mas
por serem impermeáveis à sociedade civil. Fortes no apoio e incentivo às corporações
multinacionais, empresas nacionais, bancos, etc., bem como na tutela dos partidos políticos
e sindicatos. Mas, por outro lado, essas e outras instituições comumente se mostraram
frágeis no processo de difusão de recursos sociais, educacionais, culturais, de saúde, etc.,
fazendo com que a população brasileira quando conseguiu acesso ao ensino e à saúde em
caráter público, não teve sorte de usufruir qualidade e bom atendimento. Instituições frágeis
em relação às suas vinculações com a sociedade civil, especialmente em termos de
identificação, representação e organização, o que não impede e impediu que a sociedade
brasileira não tenha se organizado. Mas, isso não impediu que a população não se
organizasse nas agências políticas tradicionais: sindicatos, partidos políticos e associações
de moradores.
A antipolítica, por mais que seja analisada como uma determinada ideologia que
permeia não só a elite, mas também a cultura política do Brasil, e esteja fortemente
(hipótese) associada a percepção dos jovens sobre a política, mesmo que essa discussão seja
tratada na época atual, início do século XXI, podemos identificar muitos sintomas e
indícios na formação política brasileira dessa ideologia tanto nos setores da elite e nas
práticas dos aparelhos ideológicos, quanto na percepção da sociedade civil.
O problema atual é que as profundas transformações promovidas pela sociedade
informacional13 não estão resolvendo esse problema, da exclusão política e da cultura da
antipolítica. Se houve um processo de incorporação nas últimas décadas do século XX,
incorporação associada ao fim da ditadura, crescimento dos movimentos sociais, afirmação
de outros direitos e movimentos políticos, reforma constitucional, diversidade, e o fim das
visões mais autoritárias do socialismo, há uma reversão da tal terceira onda democrática a
partir da ação técnica e ideológica das corporações multinacionais e das principais agências
multilaterais. Ideológica no sentido do neomonopolismo, na defesa do mercado (leia-se
corporações multinacionais) e da qualidade excludente. Tecnológica, tanto pela ação da
substituição dos homens e mulheres do processo produtivo quanto pela superexploração e
precarização das condições de trabalho, escondidas nas teses da qualidade total,
polivalência, etc.
A dominação autocrática-burguesa ocorreu:

11
Para a discussão sobre a questão da dependência, ver: MARINI, Rui Mauro. Dialética da dependência.
Petrópolis: Vozes, 2000.
12
BORON, Atílio. Os novos ‘leviatãs’ e a polis democrática: neoliberalismo, decomposição estatal e
decadência da democracia na América Latina. In: BORON, Atílio (org) Pós-Neoliberalismo II: Que Estado
para que democracia? Petrópolis: Vozes, 1999. BORON, Atílo. Estado, capitalismo e democracia na
América Latina. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1994.
13
CASTELLS, Manuel. (1999). A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999. (A era da informação:
economia, sociedade e cultura, vol. 1)
14

1) Pelas relações de dependência, ou seja, por causa dos vínculos dependentes existentes no
desenvolvimento capitalista no Brasil, principalmente pela ação das corporações
multinacionais.
2) Pela ação autocrática da burguesia brasileira que tinha medo da perda do seu poder
burguês via a perda do controle do Estado. Este devia ficar restrito ou aos coronéis (período
do Império e República Velha) ou aos tecnocratas das ditaduras de Vargas e Militar.
3) Pela relativa fragilidade dos movimentos antiburgueses que muitas vezes, utilizaram-se
de palavras e noções burguesas na sua luta contra a dominação autocrática.

“. . . que a transformação capitalista não se determina, de maneira exclusiva, em função dos


requisitos intrínsecos do desenvolvimento capitalista.
“. . . esses requisitos (. . . ) entram em interação com os vários elementos econômicos (. . . ) e extra-
econômicos da situação histórico-social, característicos dos casos concretos que se delimitam. . .”
(Fernandes, 1987: 289)

Nesse caso é conhecida a fórmula de Moore Jr. para os casos clássicos da


Revolução Burguesa, nas quais as condições sociais e econômicas são fundamentais para se
saber quais as possibilidades de uma democracia vir a lograr êxito (Santos e Avritzer,
2002). O Brasil é um país capitalista, possui as uniformidades necessárias para ser
identificado dessa maneira (mais valia, comércio competitivo, trabalho assalariado). Por
outro lado, as características próprias para a explicação do caso brasileiro são os elementos
principais para a compreensão do caso específico do Brasil: a manutenção de uma forma
patromonialista de interação política, dependência econômica e política do centro
capitalista, fragilidade na organização das classes sociais.
Essas características próprias para o caso brasileiros, dentre outras questões, terão
no campo político uma particularidade - mesmo que os casos do fascismo e nazismo
tenham apontado para padrões semelhantes - que é a combinação de capitalismo e
autocracia14. Isso fará com que a discussão sobre o processo da construção da dominação
via a hegemonia no Brasil não seja consensual entre os próprios seguidores de Gramsci.
Como o Brasil não desenvolveu duas condições básicas para a existência de uma
hegemonia capitalista (classe social com ideologia de classe, consciência do seu papel; e
aparelhos ideológicos que pudessem substituir os aparelhos repressivos no processo de
reprodução das relações sociais de produção). O que não invalida a idéia de que a política
muito mais do que a economia foi o elemento definidor do capitalismo no Brasil, ou seja, a
concentração de riqueza, própria dessa forma autocrática de desenvolvimento do
capitalismo, somente irá sobreviver às custas de uma hiperpolitização da esfera política,
especialmente do Estado15. Isso pela falta de uma base material para a distribuição do
excedente, que vai em grande parte para o exterior. O acúmulo conferido no processo

14
“Ao revés, o que se concretiza, embora com intensidade variável, é uma forte dissociação pragmática entre
desenvolvimento capitalista e democracia; ou, usando-se uma notação sociológica positiva: uma associação
racional entre desenvolvimento capitalista e autocracia.” (Fernandes, 1987: 292).
15
“Sob esse aspecto, o capitalismo dependente e subdesenvolvido é um capitalismo selvagem e difícil, cuja
viabilidade se decide, com frequência, por meios políticos e no terreno político.
“O que sugere que a Revolução Burguesa na periferia é, por excelência, um fenômeno essencialmente
político, de criação, consolidação e preservação de estruturas de poder predominantemente políticas,
submetidas ao controle da burguesia ou por ela controláveis em quaisquer circunstâncias.” (Fernandes, 1987:
293/294).
15

capitalista internacionalizado do Brasil privilegia às corporações multinacionais que ficam


com a maior parte do excedente.
Por um lado, alguns irão ver a burguesia brasileira muito frágil, especialmente pela
perda dos recursos da acumulação, além da ação clientelista e patrimonialista do Estado.
Mas, segundo Fernandes, de frágil a burguesia brasileira não tem nada. Ela exerce um
poder ditatorial e excludente no que concerne ao controle do Estado brasileiro. Essa
burguesia é uma solução de continuidade dos estamentos dominantes do antigo regime. O
problema é o ethos patrimonialista. Quatro séculos de mandos e desmandos clientelares.
Isso faz com que o conflito (lógica da política) fosse tratado com caso de polícia, exclusão,
antagonismo social muito forte. O medo da perda do poder burguês, pelo seu elitismo, e
pela relativa fragilidade da burguesia em controlá-lo, fez uma estrutura política autoritária.
Ao longo das décadas de oitenta e noventa do século XX o Brasil parece ter dois
movimentos paralelos de modernização e democratização. O “de cima”, congrega aquilo
que pode ser chamado de conciliação conservadora, ou seja, o processo que vai do
esgotamento da contra-revolução burguesa em assegurar uma modernização capitalista
autoritária nos moldes do propostos até então: uma estratégia anti-democrática de
organização política e sindical (e porque não dizer, antipolítica), passando por uma
perspectiva (ainda) cripto-nacionalista para o modelo de desenvolvimento econômico, à
(manutenção de) uma versão tradicional de fazer política (patrimonialismo) apesar do
discurso tecnocrático e liberal; até a incorporação no bloco político dominante de setores
moderados da oposição que aceitam a ilusão de uma transição lenta, via o processo
eleitoral.
Esse esgotamento, parte é de responsabilidade da perda de controle das elites no
manejo dos graus de aceitação e concordância popular com a ditadura, parte é gerado pelas
dificuldades econômicas do início dos anos oitenta em escala mundial e, parte é motivado
pela própria relação de dependência na qual o Brasil estava e ainda está.
Os sócios majoritários do capitalismo brasileiro, via a hegemonia mundial do
sistema capitalista, já estavam ensaiando uma reformulação mundial que permitisse uma
nova onda de concentração e centralização de poder e capital nas mãos das grandes
corporações multinacionais, no sentido de que as dificuldades políticas, sociais e
econômicas da ditadura militar eram sintomas de uma reformulação mundial pela qual
passou o capitalismo no final do século XX e que, dentre outras consequências, vitimou das
experiências do chamado socialismo real às ditaduras militares do Cone-Sul da América do
Sul e do sul da Europa16.
Os primeiros embates ideológicos em nível internacional promovidos pela burguesia
internacional contra o Estado e a esfera pública, começam, mais ou menos, pelo final dos
anos setenta e inícios dos oitenta. Nesse período começa aquilo que Sormam, um liberal
francês não neoliberal, chama de revolução conservadora em escala internacional mas
sediada também nos principais países do capitalismo ocidental, Estados Unidos, Inglaterra,
e hoje isso já é possível de se dizer, também na URSS com a política de Glasnost e
Perestroika de Gorbachev.

16
“O que temos é uma incapacidade crônica, que não é intrínseca à burguesia, mas que nasce das relações da
burguesia com a forma dependente do desenvolvimento do capitalista, com a prepotência e a insensibilidade
do imperialismo diante dos sócios menores da periferia e com as forças sociais secretadas pelo modo de
produção capitalista e pela organização social, cultural e política correspondente, quaisquer que sejam as
circunstâncias históricas envolvidas. (Fernandes, 1986, 10).
16

Boron (2003) faz uma radiografia da intelectualidade americana no primeiro


governo de Reagan. O endeusamento de intelectuais com Friedmann e Hayek, a discussão
do mercado, a crise dos estados desenvolvimentistas, tudo isso já foi diagnosticado nas
ciências sociais. O que ainda está se vendo são os efeitos disso no campo da cultura e
socialização política, dessa onda histórica chamada de neoliberalismo, mas com
desdobramentos de oligopolização econômica e centralização de poder como nunca se tinha
visto antes.
Pelos movimentos “de baixo”, não apenas no caso do Brasil mas de vários países há
um processo muito significativo que foi chamado posteriormente de ressurgimento da
sociedade civil. Nos países periféricos a luta era contra as ditaduras, miséria, desemprego,
marginalização; nos países mais desenvolvidos a luta era conta a burocratização, exclusão
de minorias (que socialmente falando eram maiorias), preconceitos de gênero, idade,
origem étnica, e tantas outras questões. No caso específico do Brasil, tanto para a política
oficial (modelo clássico de política), quanto para a nova política (modelo alternativo de
política), há um (re)florescimento social e organizacional que trouxe a esfera do poder
político novos e antigos atores que estavam excluídos, ou porque nunca haviam tido a
oportunidade ou a organização (marginalizados do campo e da cidade), ou estavam sob
forte repressão e precarização das condições de trabalho, moradia17.
Pelo lado dos partidos políticos e movimento sindical e estudantil, também
acontecem mobilizações e (re)fundações: a UNE é reconstruída em 1979, em 1983 é criada
da CUT, mas desde as greves do ABC paulista e a mobilização das oposições sindicais o
processo já vinha em grande efervescência; em 1979 há a reforma partidária que acabou
com o bipartidarismo e permitiu a criação de vários partidos, como o PT, e em 1985 há uma
outra reforma partidária que permitiu a legalização dos partidos comunistas (PCB e PCdoB)
e do PSB (Partido Socialista Brasileiro). Na carona da reforma partidária de 1985 houve
uma grande pulverização de siglas partidárias no Brasil, o que não significa que os partidos
efetivos no sistema partidário sejam tantos quantos registrados. De qualquer maneira, o
modelo político cresce e incorpora muitos segmentos sociais excluídos do processo de
decisão estatal, a ponto de que no final da década de oitenta, em Porto Alegre, inicia um
movimento de ampliação da participação popular no chamado Orçamento Participativo.
Nas discussões teóricas das ciências sociais, esse processo social é acompanhado de
certos debates sobre o foco das pesquisas: alguns gostariam que as ciências sociais deixasse
de lado as macro análises do Estado e do capitalismo e entrasse em contato com o
surgimento de novos atores e movimentos sociais (Sader, 1989), já que as abordagens mais
genéricas somente viam mais e mais dominação, apatia, subdesenvolvimento. Por outro
lado, alguns ainda entendiam ser importante os enfoques gerais pois o processo de
desenvolvimento do capitalismo estava apresentando alterações muito importantes para os
países periféricos.
No segundo grupo, pode-se encontrar o ex-Presidente do Brasil, Cardoso, que a
época já era um político promissor. Cardoso (1988), num artigo escrito em 1983, ainda em

17
“Os anos 80 trarão um panorama novo na prática e na teoria sobre os movimentos sociais populares
urbanos. Na prática, surgem novas lutas como pelo acesso à terra e por sua posse, pela moradia, expressas nas
invasões, ocupações de casas e prédios abandonados; articulação do movimento dos transportes; surgimento
de organizações macro entre associações de moradores; movimentos de favelados ou novos movimentos de
luta pela moradia; movimento de desempregados; movimentos pela saúde.” (Gohn, 1997, 278)
17

plena ditadura, reconhece a aparência de dualidade do Brasil: desenvolvimento e


autoritarismo, democratização e elitismo18.
Também, diga-se de passagem, apesar do desenvolvimento político subjacente à
modernização industrial, sempre foi muito precário pela dificuldade da extensão da
democracia para os locais de trabalho. Se já era difícil a construção de um padrão
democrático liberal na esfera pública e de representatividade do Estado, nem se pode
comparar com o autoritarismo do mundo do trabalho. Alguns estudos sobre o surgimento
de comissões de fábricas nos anos setenta e oitenta mostram as pressões que os
trabalhadores sentiam por parte do capital, afora as pressões dos pelegos sindicais.
Mas, será nos anos noventa que o Brasil verá crescer um fenômeno de dominação e
reprodução via a construção de uma hegemonia burguesa. De certa forma, pelo
reconhecimento dos dois movimentos citados acima, isto é, de democratização via a própria
organização da sociedade civil e de concentração econômica e política no bloco de poder,
processo articulado com as ondas ideológicas de desconstrução da política (neopopulismo,
antipolítica, neonazismo). Processos sócio-ideológicos que vem para cimentar uma nova
ordem cultural de democratização (política, participativa, social) e de oligopolização
(econômica destruição de burguesias locais e fortalecimento da burguesia internacional). A
construção da hegemonia dos anos noventa, e que dura até os primeiros anos do século
XXI, veio justamente preencher a lacuna aberta pela polarização, não social mas política e
ideológica. Hegemonia que veio para produzir efeitos antipolíticos na população em geral,
mas com claros sinais de priorização em relação aos efeitos na juventude.
Essa nova hegemonia precisava articular um apelo maior à participação com o
aumento do descrédito com a política e com as instituições, de maneira que as instituições
da esfera econômica, por mais letais que sejam para a maioria da população fossem
representadas (essa é a lógica de uma ideologia) de forma positiva, enquanto que as
instituições políticas fossem vistas cada vez mais como impedimento para a resolução dos
problemas e para o desenvolvimento humano, social e econômico.

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ANTUNES, Ricardo. 1995. Adeus ao trabalho?: Ensaio sobre as metamorfoses e a
centralidade do mundo do trabalho. São Paulo: Cortez/Unicamp.

18
“Noutras palavras, o processo de dominação entre Estados-nações – por intermédio de canais econômicos
renovados – continua a ocorrer no sistema capitalista internacional, a despeito da internacionalização do
processo produtivo, embora ocorra significativa transformação na estrutura social dos países dependentes e
apesar de que aumente consideravelmente a capacidade produtiva interna de alguns destes países.” (Cardoso,
1988, 445).
18

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