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TEORIA E PRÁTICA EM CIÊNCIA POLÍTICA

Tópico 1: Introdução

A Ciência política é uma ciência discutida há anos, embora, assim como a democracia, não é nada que se
torne obsoleto, ou ultrapassado, até porque a política existe desde que foi necessária a formação da
sociedade.

Política sempre será um tema atual e constante, o que demonstra de forma inequívoca a importância do seu
estudo, e do conhecimento dos seus conceitos e fundamentos históricos.

A partir de agora, serão abordados alguns conceitos para se puder compreender o objeto de estudo da melhor
maneira.

Tópico 2: Infográfico

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Tópico 3: Desafio
Figura 2 – Liberdade

Do ponto de vista empírico, cada vez mais instituições e pesquisadores tentam classificar e medir os regimes
políticos. Para o projeto da V-Dem (COPPEDGE et al., 2021), os regimes políticos atuais oscilam entre a
autocracia (uma forma atual da oligarquia) e a democracia liberal.

Ou seja, o principal eixo dá-se pela presença ou ausência da democracia, vista como forma ideal de regime e
forma de Estado e governo. Pelo lado da Freedom House, instituição dos EUA, os regimes políticos
oscilariam entre os não livres, os parcialmente livres e os livres, tendo como parâmetro principal os direitos
civis e políticos. (LUCAS, 2021, p. 41)

TÓPICO 4: CONCEITOS GERAIS

Conceito de Ciência:
É de suma importância antes de entender o conceito de ciência política, entender o conceito de ciência.
Abaixo, o significado de ciência trazido pelo dicionário para se poder extrair sua definição no caso proposto.

1 — Conhecimento profundo sobre algo.

2 — Utilização desse conhecimento como fonte de informação; noção: não tive ciência dos acontecimentos.

3 — Conhecimento ou saber excessivo conseguido pela prática, raciocínio ou reflexão.

4 — Reunião dos saberes organizados obtidos por observação, pesquisa ou pela demonstração de certos
acontecimentos, fatos, fenômenos, sistematizados por métodos ou de maneira racional: as normas da ciência.

5 — [Por Extensão] Análise, matéria ou atividade que se baseia numa área do conhecimento: a ciência da
matemática.

6 — [Por Extensão] Saber adquirido através da leitura; erudição.


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Diante dos conceitos acima expostos, pode-se concluir que o conceito de ciência, é o conhecimento
aprofundado de determinada área do conhecimento, obtido com pesquisas e outras formas de
aprofundamento do objeto pretendido, utilizando-se métodos, sejam racionais ou experimentais, para que se
conheça determinado objeto.

Além da definição trazida pelo dicionário, que é uma definição mais atual de ciência, há outras definições
que são historicamente importantes e merecem destaque. Em razão dessas outras conceituações de ciência é
que hoje é possível se extrair o conceito de democracia contemporâneo.

Desde a Antiguidade, com o pensamento aristotélico, até a idade moderna, com Kant, os conceitos de
filosofia e de ciência se confundiam. Os pensadores não distinguiam o método filosófico do método
científico, é pertinente anotar que os grandes cientistas eram, também, filósofos.

Immanuel Kant foi um importante filósofo prussiano que viveu de 1724 a 1804. Aristóteles também foi um
importante e conhecido filósofo e embora tenha vivido nos anos 385 a.C. a 323 a.C., suas ideias são
conhecidas e estudadas até os dias atuais. Ambos observavam a ciência sob a mesma ótica, ainda com a
enorme diferença do período em que viveram.

Tomás de Aquino (1215 a 1274) diferente de Aristóteles e Kant, entendia a ciência como “a assimilação da
mente dirigida ao conhecimento da coisa”. Nota-se que Tomás de Aquino, a exemplo de Santo Agostinho,
procurou adequar a filosofia grega com o pensamento cristão.

Desta forma, os conceitos de ciência e de filosofia continuaram de tal forma interligados, que não se fazia
nenhuma distinção entre eles. Ao longo dos anos surgiram inúmeras teorias do conceito de ciência até
chegar ao conceito trazido pelo dicionário anteriormente.

A partir da definição atual de ciência, será trazido o conceito de política:

"A palavra “política” vem do grego “politéia”. Tal palavra era usada para se referir a tudo relacionado a
(cidade/estado) e a vida em coletividade. Portanto, podemos chegar a um ponto em comum ao afirmar que
a política está relacionada diretamente com a vida em sociedade no sentido de fazer com que cada
indivíduo expresse suas diferenças e conflitos sem isso ser transformado em um caos social."

A conceituação trazida acima, mostra a política como decorrente da cidade e da vida em coletividade com o
intuito de mediar, minimizar a ocorrência de conflitos gravosos aos que vivem em uma coletividade,
garantindo uma estabilidade.

Partindo desses pressupostos, pode se extrair o conceito de ciência política como o estudo aprofundados das
relações e estruturas, dos processos e do modo de organização, da cidade, estado, ou de uma forma geral, da
sua coletividade, cujo objetivo seja trazer estabilidade, justiça e garantir os direitos da sociedade envolvida.

Segundo Paulo Bonavides:

"A Ciência Política, em sentido lato, tem por objeto o estudo dos acontecimentos, das instituições e das
ideias políticas, tanto em sentido teórico (doutrina) como em sentido prático (arte), referido ao passado, ao
presente e às possibilidades futuras."

Nessa mesma e larga acepção, cabe o exame das instituições, dos fatos e das ideias referidas aos
ordenamentos políticos da sociedade debaixo do tríplice aspecto: filosófico, jurídico ou político
propriamente dito e sociológico.

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Dessa forma percebe-se que a ciência política possui vários aspectos que não são políticos propriamente
ditos. Esses aspectos podem ser sociológicos, jurídico-filosóficos (o que para Kant e Aristóteles eram
sinônimos de ciência política e depois foi superada essa ideia), e também políticos como citado.

Desde o surgimento da vida em sociedade, necessitou-se de regras para facilitar o convívio entre as pessoas
que viviam em comunidade. Nem sempre essas regras foram consideradas justas ou atentas aos direitos
humanos, dignidade da pessoa humana e outros termos que se dedicam ao ser humano como detentor de
direitos.

No entanto, com o passar do tempo, essas regras, conceitos filosóficos, e sociológicos começaram a
despertar o interesse pelo seu estudo. O estudo da ciência política não é novo, e mudou ao longo do tempo.
Conforme as convicções morais, políticas e até mesmo filosóficas de cada tempo, bem como dos costumes
de cada localidade.

Fato é que houve aumento gradativo no estudo da ciência política ao passo que a sociedade evoluiu para se
poder entender o processo em que se estava inserido. Saber o contexto em que se estava inserido, como se
davam os processos políticos foram os fatores primordiais no despertar de interesse da sociedade no estudo
da ciência política.

A Filosofia como Aspecto da Ciência Política


Aristóteles como dito anteriormente não diferia ciência política de filosofia. Essa ideia se propagou em
decorrência da grande importância que a filosofia tinha nessa época.

Platão, por exemplo, defendia que a sociedade deveria ser governada pelos filósofos que eram, no seu
entender, os mais preparados para exercer o poder. Ele entendia que a aristocracia seria a melhor forma de
governo, pois seria o governo dos melhores, e os melhores seriam os filósofos, até por uma questão de
menor propensão à corrupção.

Na idade antiga, a filosofia era entendida como uma ciência, assim na concepção de Bonavides:

"Desde a mais alta antiguidade clássica, principalmente desde Sócrates, Platão e Aristóteles, os assuntos
políticos impressionam o gênero humano, sequioso de conhecê-los e aprofundá-los."

Na Europa medieval, como afirma Paulo Bonavides, a Filosofia se funde com a teologia ao se ocupar de
temas políticos.

"E quando estes se definem, moderna e contemporaneamente, numa ciência já organizada e autônoma,
conservam alguns de seus cultores a posição tradicional de prestígio de análise filosófica, dando nos
manuais, tratados e compêndios de ciência política lugar sempre honroso e destacado, senão por vezes
predominante, ao aspecto estritamente filosófico dos problemas."

Alguns pensadores de língua inglesa e francesa impulsionaram a ciência política sob a óptica da filosofia.
Entretanto, não se pode estagnar nas concepções filosóficas, embora seja de extrema importância e o fato
que impulsionou o estudo da ciência política, outros aspectos também são de suma importância nesse
estudo.

A Sociologia como Aspecto da Ciência Política:


A sociologia é um dos aspectos relevantes para esse estudo. Para tanto, é necessário observar a historicidade
da evolução política no âmbito sociológico. Assim afirma Paulo Bonavides:
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"Com efeito, na sociologia política de Max Weber, abre-se o capítulo de fecundos estudos pertinentes à
política científica, à racionalização do poder, à legitimação das bases sociais em que o poder repousa:
inquire-se ali da influência e da natureza do aparelho burocrático; investiga-se o regime político, a
essência dos partidos, sua organização, sua técnica de combate e proselitismo, sua liderança, seus
programas; interrogam-se as formas legítimas de autoridade, como autoridade legal, tradicional e
carismática; indaga-se da administração pública, como nela influem os atos legislativos, ou como a força
dos parlamentos, sob a égide de grupos socioeconômicos poderosíssimos, empresta à democracia algumas
de suas peculiaridades mais flagrantes."

A sociologia, assim como a filosofia, faz parte do estudo da ciência política. O estudo da sociedade, da sua
forma de organização, das relações sociais, da cultura, etc., é extremamente importante para compreender os
processos sociais que impulsionaram o desenvolvimento da ciência política através dos anos.

Esse estudo é de suma importância, pois não é possível falar de ciência política, sem falar da sociedade, da
sua forma de organização, cultura e os demais aspectos trazidos pela sociologia à ciência política. Não há o
que se falar em ciências sociais sem falar no povo que a compõe, em sua cultura ou seu conceito de justiça.
E é exatamente esse o objeto de estudo da sociologia.

Juridicidade como Aspecto da Ciência Política:


Segundo os que defendiam a ideia de ciência política em seu aspecto jurídico, nesse contexto, o seu estudo
era considerado “simples corpo de normas”.

"Tendência de cunho exclusivamente jurídico vem representada por Kelsen, que constrói uma Teoria Geral
do Estado, onde leva às últimas consequências, no estudo da principal instituição geradora de fenômenos
políticos, o seu formalismo de inspiração kantista e funda em bases estritamente monistas, de feição
jurídica, a nova teoria que assimilou o Estado ao Direito e tantos protestos arrancou de filósofos e
pensadores durante as últimas décadas."

Hans Kelsen, foi um importante filósofo e jurista austríaco autor de vários livros e conhecido principalmente
por desenvolver a pirâmide escalonada que leva seu nome, e retrata a subsidiariedade das normas de um
Estado.

"A doutrina de Kelsen tem sua originalidade em banir do Estado todas as implicações de ordem moral,
ética, histórica, sociológica, criando o Estado como puro conceito, agigantando-lhe o aspecto formal,
retintamente jurídico, escurecendo a realidade estatal com seus elementos constitutivos, materiais,
conforme vimos. Chega à hipertrofia, já descomunal, do elemento formal — o poder, posto que dissimulado
está na santidade inviolável de normas concebidas como direito puro."

Nas concepções de Kelsen, conforme aponta Paulo Bonavides, o Estado deve ser visto de forma a não
considerar os aspectos filosóficos e sociológicos, e sim como direito puro. Dessa forma deveria afastar
também as concepções éticas, morais e históricas, restringindo-se aos aspectos jurídicos formais.

Essa teoria, criada por Kelsen, foi amplamente criticada por parte da doutrina. Essa crítica se deu, em razão
de tornar os juristas sem preceitos éticos e morais e de apagar as raízes históricas que se deram no estudo da
filosofia e sociologia, se aplicasse somente o aspecto jurídico da ciência política.

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Para estes era de suma importância preservar as origens da ciência política, bem como um estado com
princípios éticos e morais, pois sem estes considerava-se impossível um estado justo e voltado ao bem
comum. Entendiam que um estado que não observava os demais aspectos da ciência política, não seria um
governo para o povo e haveria grandes chances de ser inescrupuloso e se atentar somente a sua vontade e o
bem pessoal.

Dessa forma pode-se observar a relevância encontrada em estudar a ciência política nos seus mais diversos
aspectos. Isto porque a ciência política engloba aspectos filosóficos, sociológicos como acima estudado, e
não somente o aspecto jurídico como apontado por Hans Kelsen.

Não há, portanto, um conceito único, ou ao menos que aborde os três aspectos envolvidos em seu estudo, ou
voltam para o lado jurídico ou para o lado da filosofia. Esse posicionamento varia de um país ou região para
a outra, bem como no posicionamento do escritor. Fato é que não há consenso entre os escritores sobre a
abordagem dos três aspectos: filosófico, jurídico e sociológico.

"Nem sequer a respeito do nome pelo qual possamos todos reconhecê-la. No mundo anglo-americano, a
Ciência Política ou versa a experiência política vivida e acumulada nas instituições (onde as forças
políticas competitivas impõem os interesses em jogo), com feição de estudo pragmático, ou despreza
fortemente o lado teórico."

A Ciência Política e Direito Constitucional


Cabe ressaltar, que embora a ciência política e o direito constitucional sejam coisas diferentes, em muitos
aspectos se encontram e por vezes até se confundem, mostrando-se a necessidade de trazer apontamentos
sobre seu conteúdo, bem como fazer diferenciações. A ciência política e o direito constitucional tiveram
sucessivas aproximações e afastamento ao longo dos anos.

Segundo Bonavides pode se deduzir que as instituições políticas são mais instáveis e oscilantes conforme o
seu atraso ou evolução econômica, e de forma direta atinge o Direito Constitucional, como se explica no
trecho a seguir:

"Daqui se pode extrair também a fecunda dedução de que, quanto menos desenvolvida a sociedade, quanto
mais grave seu atraso econômico, mais instáveis e oscilantes as instituições políticas. Do mesmo passo,
menos amplo e eficaz será então o Direito Constitucional em sua capacidade de organizar instituições que
abranjam de modo efetivo toda a esfera de comportamento e decisão do grupo político."

No Brasil, com a volta da democracia, logo após o período ditatorial, foi o ponto crucial, pois foi saindo do
período ditatorial que o direito constitucional começou a caminhar para se tornar autônomo. Antes desse
período o direito constitucional era visto e ensinado como parte da ciência política.

Após essa enorme mudança no Brasil, não houve espaço para se questionar as suas raízes históricas ou
discussões filosóficas do controle de constitucionalidade. O mesmo aconteceu com outros países.

Logo após a separação entre a ciência política e o direito constitucional, o neoconstitucionalismo e a teoria
dos direitos fundamentais se agregaram à constituição e surgiram dúvidas sobre o procedimento e a
organização, principalmente com essas novas integrações.

Não foi colocada em debate a legitimidade do controle de constitucionalidade, mas sim a sua metodologia
de uso e suas aplicações, dentro do que é chamado constitucionalismo democrático.
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Essa e outras implicações fizeram com que o direito constitucional se tornasse ainda mais independente em
razão de suas peculiaridades e da necessidade de uma maior atenção, principalmente ao que diz respeito à
metodologia e aplicação do controle de constitucionalidade.

A separação que pode se dizer que até o momento se deu de forma bem teórica trouxe a afirmação da
constituição como norma, e a importância do Supremo Tribunal Federal na democracia e como guardião da
Constituição e de suas competências e minimizando as dúvidas sobre a metodologia do controle de
constitucionalidade e suas implicações.

Assim ergueu-se um muro entre política e direito, retirando a juridicidade como aspecto da ciência política.

Atualmente o direito constitucional se encontra mais consolidado, portanto, não está mais ameaçado, pois
está agora com a sua base rígida e formada, capaz de se comunicar com a ciência política, mas não para se
misturar ou confundir.

Entretanto, é possível se extrair a partir das informações expostas até o momento que a ciência política e o
direito constitucional, após suas idas e vindas se encontram hoje mais coerentes.

O direito constitucional ganhou seu espaço e, em contrapartida, a ciência política se tornou uma ciência
autônoma.

A separação dessas duas ciências não impediu que estas caminhassem juntas, portanto, embora hoje sejam
duas ciências distintas, não é comum que estas sejam estudadas de forma isolada, sem mencionar e estudar a
outra, bem como seus conceitos históricos, suas raízes e a ligação entre as duas desde o nascimento.

Ainda há divergências sobre a separação dessas duas ciências. Para alguns as duas ciências devem caminhar
de maneira independente, enquanto para outros as ciências sociais e o direito constitucional, embora
reconheça as suas peculiaridades e que não são, portanto a mesma ciência, devem caminhar juntas por
fazerem parte do mesmo objeto de estudo.

TÓPICO 5:

A Formação do Estado e seus Elementos

Teorias de Formação

Várias teorias surgiram com o passar dos anos para tentar explicar o surgimento do Estado. Numa primeira
perspectiva, sustenta-se que o Estado e a Sociedade, muito embora sejam entidades distintas, teriam
aparecido já nos primórdios das civilizações, pois o homem, ser social que é, desde que reuniu-se com
outros homens, organizou-se socialmente onde deveria haver um poder central, que controlaria as relações
entre os componentes da sociedade.

A ideia é a de que o homem precisou organizar-se em sociedade como um instinto de sobrevivência, esta
ideia foi muito difundida na Grécia Antiga. Aristóteles, inclusive, sustentava que o homem, para viver fora
da sociedade, deveria ser ou um deus, ou um bruto.

Para outros pensadores, o homem teria uma vocação inata para viver em sociedade. O ser humano,
normalmente, seria um ser frágil, que precisava da proteção da Sociedade para poder sobreviver.

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Em sentido contrário, existiu outra corrente que sustentou a tese de que Estado e Sociedade surgiram em
momentos distintos. Esta corrente afirmava que o surgimento do Estado não se deu propriamente pela
necessidade de convivência dos homens entre si, mas, sim, pela crescente complexidade das relações sociais,
o que levou ao surgimento de conflitos no seio social, conflitos estes que deveriam ser resolvidos para que
não houvesse ameaça à paz da comunidade.

Desta forma, separando-se o momento de surgimento do Estado e da Sociedade, obviamente quebra-se a


ideia de um surgimento linear do Estado.

Dado que o surgimento do Estado se daria em razão da necessidade de pacificação dos conflitos sociais, com
o consequente regramento das relações humanas, cada Estado teria seu próprio tempo, por assim dizer, de
surgimento.

A formação dos Estados, portanto, obedeceu a uma gradativa e natural necessidade humana, pois percebeu-
se que não seria mais possível a convivência em sociedade sem a existência de uma autoridade central, uma
estrutura de poder que pudesse resolver os litígios existentes entre os componentes da sociedade,
preservando-se, desta forma, a paz social e o bem comum.

É preciso mencionar, ainda, que uma terceira corrente de pensamento entende que somente se pode falar no
surgimento do Estado quando as sociedades adquiriram forma política, com características bem estruturadas
e diferenciadas.

Segundo os pensadores desta corrente, encabeçada por Karl Schmidt, somente é possível falar em
surgimento do Estado quando surge a ideia de soberania aliada a seu efetivo exercício.

A discussão sobre o momento em que se pode dizer que houve o surgimento do Estado permanece. Quanto à
forma de surgimento do Estado, podemos destacar dois tipos:

 Originária, onde o Estado surge a partir de agrupamentos humanos que até então ainda não foram
organizados; e
 Derivada, onde o Estado surge a partir da fragmentação ou fusão de outros Estados já anteriormente
existentes.

A corrente da formação originária do Estado subdivide-se, ainda, em dois grupos:

a) Teoria da Formação Natural:

Os adeptos dessa teoria sustentam que a formação do Estado se dá de forma natural, prescindindo, portanto,
de qualquer ato humano neste sentido. Não haveria, portanto, um “contrato social” para a formação do
Estado. Justamente pela negação do contrato social, esta corrente é também chamada “não contratualista”.

Visto que não teria tido um ato volitivo direcionado especificamente para a formação do Estado, os adeptos
desta teoria passaram a descrever possíveis formas de surgimento do mesmo.

Para alguns, a origem se deu de forma familiar ou patriarcal. Sustentam os defensores desta corrente que,
com o passar dos anos, houve uma expansão das famílias, as quais formaram verdadeiros complexos
organizacionais, onde existia uma verdadeira estrutura social e funcional, com a repartição de atividades e
funções observando-se as aptidões de cada membro. Destarte, aqui, o núcleo formador do Estado se encontra
na família.

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Para outros, a formação do Estado se deu em razão de relações de força e de dominação. Portanto, para os
defensores desta teoria, o Estado teve sua gênese devido a atos de força, de violência ou de conquista.
Defende-se que os grupos mais fortes, por meio da guerra e do poderio militar, conquistavam e subjugavam
os grupos mais fracos, para conquista de território e, consequentemente, de terras e de riquezas naturais.
Neste cenário, o Estado surge para monitorar de forma mais eficiente o grupo social subjugado, para ser
possível uma melhor exploração econômica por parte do grupo explorador.

Para outros, ainda, a formação do Estado teve origem em um viés econômico. Quando houve o aumento das
necessidades materiais tendentes a propiciar a sobrevivência humana, e, ainda, face à complexidade das
relações sociais que criaram litígios no seio da sociedade, foi necessário que os homens se organizassem de
modo que fosse possível otimizar o aproveitamento e o uso dos bens retirados da natureza, e, ainda, com o
desiderato de melhor repartir esses produtos entre os membros do corpo social. Aliás, costuma-se afirmar
que o precursor desta teoria foi o filósofo grego Platão, que, em sua obra ‘A República’, disse que “um
Estado nasce das necessidades dos homens; ninguém basta a si mesmo, mas todos nós precisamos de muitas
coisas”.

Marx e Engels também foram pensadores que defenderam a origem do Estado sob o viés econômico. A
propósito, este último afirma, em sua obra ‘A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado’ que
“o Estado é antes um produto da sociedade, quando ela chega a determinado grau de desenvolvimento”.

Ainda na teoria não contratualista do Estado, alguns pensadores defendem que a gênese do Estado se deu
pelo próprio desenvolvimento interno da sociedade. Afirmam estes que apenas em sociedades que possuem
um grau maior de desenvolvimento é que haveria de fato a necessidade de criação do Estado. Este atuaria
para controle das condutas sociais e ainda como guardião da paz social.

A propósito das teorias não contratualistas, cite-se: várias teorias tentam explicar e justificar a origem do
Estado. Com efeito, além da perspectiva contratualista — mais em voga — poderiam ser mencionadas
outras vertentes de explicação da origem do Estado e do poder político que não esse “consenso
contratualista”, tais como a de Augusto Comte (a origem estaria na força do número ou da riqueza), a de
algumas correntes psicanalíticas (a origem do Estado estaria na morte, por homicídio, do irmão ou no
complexo de Édipo), a de Gumplowicz (o Estado teria surgido do domínio de hordas nômades violentas
sobre populações orientadas para a agricultura).

b) Teoria da Formação Contratual:

Para os defensores desta teoria, a formação do Estado se deu pela vontade dos indivíduos, dado que
cresciam os litígios entre os integrantes, e visto que as relações sociais tornavam-se cada vez mais
complexas.

De forma resumida, estas são as correntes de pensamento que procuram explicar como foi que surgiram os
Estados, de forma originária. Como visto, para além da formação originária do Estado, temos também a
formação derivada. Nesta categoria de formação estatal, um novo Estado é criado a partir de outro ou outros
Estados já existentes.

A formação derivada pode se dar por meio da fragmentação, onde há uma separação de grupos sociais do
Estado originário, criando Estados independentes. Podemos citar como exemplos de tal forma, a
independência das colônias americanas dos Estados europeus, quando as colônias adquiriram independência
econômica e financeira das metrópoles, novos Estados foram se formando.

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A formação derivada do Estado também pode se dar por união, onde Estados que já existiam unem-se entre
eles e formam uma nova figura política, observando-se que, neste caso, há a supressão de diferenças étnicas,
econômicas e culturais dos Estados incorporados a outros.

Para Lenio Streck (2014), analisando-se as teorias explicativas e justificadoras, “é possível afirmar que o
Estado é um fenômeno original e histórico de dominação. Cada momento histórico e o correspondente modo
de produção (prevalecente) engendram um determinado tipo de Estado.” O Estado moderno para ele,
portanto, tem a sua gênese em razão das necessidades do capitalismo ascendente, ainda nos tempos
medievais.

Destarte, o Estado não seguiria uma evolução linear, que o conduziria ao aperfeiçoamento. Seriam as
condições econômico-sociais que ditariam a forma de dominação eficiente para serem atendidos os
interesses das classes hegemônicas.

Neste viés, o Estado surgiria como uma forma de dominação. As classes hegemônicas é que ditariam as
regras do Estado, para serem mantidos os seus interesses, em detrimento dos demais.

O Estado, na teoria contratualista, teria um sentido instrumental, ou seja, seria fruto da criação racional dos
homens, visando servir de instrumento para o atingimento de fins determinados já desde o momento
condicionante de sua criação.

Por outro lado, a corrente não contratualista, também conhecida como orgânica, sustenta que o estado social
seria natural ao homem. Esta posição é conhecida como Estado Natural, ou seja, o Estado seria fruto natural
do agrupamento do homem em sociedade, não existindo nenhum ato volitivo direcionado especificamente
para este fim.

Passa-se, portanto, do Estado Natural para com o surgimento das teorias contratualistas, o início do Estado
Social e Político.

Os teóricos contratualistas, em verdade, colocaram como fruto de um acordo de vontades, seja ele tácito ou
expresso, tanto a origem do Estado como também o fundamento do poder político. Essa tomada de posição
coloca termo ao estágio pré-político (estado de natureza) e deflagra o início da sociedade política (estado
civil).

Para os autores dessa escola de pensamento, o estado de natureza, ou estado pré-político, possui deficiências
por ser encarado apenas como um fato histórico, uma ocorrência natural para suprir estas deficiências, a
razão humana pressupõe o estado civil, ou estado contratual.

O Estado Civil, portanto, surge como uma forma de legitimar o poder político porque, anote-se, quando se
encara o Estado como um acordo de vontades, tácito ou expresso, dos membros da comunidade, todos
devem submeter-se ao seu poder, pois não há como retroceder de algo que se acordou.

Concluindo este raciocínio, na mesma esteira de pensamento, Lenio Streck leciona:

Pode-se dizer, então, que:

A — O estado de natureza, como hipótese lógica negativa, reflete como seria o homem e seu convívio fora
do contexto social;

B — O contrato representa o instrumento de emancipação em face do estado de natureza e de legitimação do


poder político; e

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C — O estado civil, portanto, surge como uma criação racional, sustentado com consenso dos indivíduos.

Passemos, então, a analisar o Estado de Natureza. O Estado de Natureza, segundo o pensamento dos seus
defensores, seria uma hipótese lógica negativa. Com isto quer dizer-se que ele não existe por si mesmo, mas
como oposição ao estado civil. Se um indivíduo está fora do Estado Civil, ele estaria, logicamente, no
Estado de Natureza.

O Estado de Natureza tem o objetivo primordial de justificar ou de legitimar a existência de uma sociedade
organizada politicamente, pois tem o objetivo de demonstrar o que seria o homem fora do contexto político,
ou seja, fora de uma sociedade politicamente organizada para a consecução da paz social.É importante
anotar que a ideia de como seria este estado de natureza não é consensual. Com isto quer-se dizer que a
forma como os pensadores contratualistas enxergam o tal estado não é a mesma.

Alguns contratualistas, a exemplo de Thomas Hobbes e Spinoza, entendem que o estado de natureza nada
mais é do que o caos, um estado de guerra, onde predominam as paixões e não há nenhum impedimento para
ocorrer a vitória do mais forte, numa guerra de todos contra todos. Aliás, é bom ressaltar que Hobbes, em
sua obra ‘O Leviatã’ descreve que, em seu estado de natureza, “o homem é o lobo do homem”.

Nesta perspectiva, o estado civil seria uma necessidade, para conter o ego dos homens e propiciar, desta
forma, a paz social. O Leviatã seria um monstro que deveria ser responsável por amedrontar os homens, de
forma que estes não desrespeitassem as regras impostas para uma convivência harmônica tanto quanto
possível, evitando assim, a guerra de todos contra todos.

Para Hobbes, o homem é egoísta, de modo que a tendência é que um tente impor ao outro a sua vontade.
Para evitar-se o extermínio dos indivíduos, estes realizam um acordo de paz, ou o contrato social, e, para que
este contrato social seja respeitado, Hobbes defende a existência de um soberano (ou Leviatã), que puna
aqueles que transgredirem as regras instituídas para o convívio social.

Não há nenhuma dificuldade em se concluir que este autor, destarte, utiliza a ideia (ou ficção) do estado de
natureza para justificar ou legitimar a existência de um poder central absoluto.

Esta visão do homem selvagem em seu estado de natureza foi muito utilizada para justificar a existência de
um soberano absoluto, pois, somente havendo um poder central absoluto é que seria evitada a guerra civil.

A teoria contratualista hobbesiana tomou corpo no início da sociedade politicamente organizada, com o
surgimento dos Estados absolutos. O rei absoluto não conhecia nenhum impedimento para externar a sua
vontade, que era imposta aos súditos. Note-se que o absolutismo aparece no início da idade moderna,
estando atrelado, portanto, ao final da idade medieval, que tinha por característica vários poderes
descentralizados.

Como bem ressaltado por Lenio Streck, o estado medieval tinha por características:

A — Permanente instabilidade política, econômica e social;

B — Distinção e choque entre poder espiritual e poder temporal;

C — Fragmentação do poder, mediante a infinita multiplicação de centros internos de poder político,


distribuídos aos nobres, bispos, universidades, reinos, corporações, etc.;

D — Sistema jurídico consuetudinário embasado em regalias nobiliárquicas;


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E — Relações de dependência pessoal, hierarquia de privilégios.

Neste contexto, o estado civil se apresenta como uma forma de organizar politicamente uma sociedade sob
um poder central. A crescente instabilidade política presente no estado medieval levou à necessidade de uma
teoria para justificar a reunião dos indivíduos sob um poder soberano e único, unificando, assim, a
sociedade.

Por outro lado, em sentido diametralmente oposto, Jean-Jacques Rousseau defende que o homem, em seu
estado de natureza é puro, é bom. O estado de natureza, na visão de Rousseau, é um estado de felicidade,
plena e comum, sendo que esta felicidade seria o estado primitivo da humanidade. A partir do momento que
o ser humano reúne-se em uma sociedade, ele encontra-se preso a ferros, onde o estabelecimento da
propriedade privada atua no sentido de desvirtuá-lo. A propriedade privada, portanto, corrompe o homem de
seu estado natural, e o torna mau.

O mito do bom selvagem é utilizado para denotar a existência de um ser humano puro, inocente em seu
estado natural. A partir do momento em que ele é corrompido pela propriedade privada, ele torna-se mau,
exsurgindo-se daí a necessidade do Estado para regular a propriedade privada, para evitar a guerra civil.

Podemos estabelecer, portanto, três estágios no pensamento de Rousseau: um estado de natureza, onde os
seres humanos são inocentes, puros e bons; o surgimento da sociedade civil como algo negativo, pois retira
do homem a pureza e a bondade, tendo a propriedade privada como o centro da corrupção humana; e um
terceiro estágio, o do estado civil, que surgem para regular a propriedade privada.

Enquanto Hobbes defendia que a monarquia absolutista seria o sistema político ideal, pois a existência de
concorrência do poder poderia causar a guerra civil, Rousseau defendia que a República seria a forma ideal
de se governar.

Para Rousseau, sendo a propriedade privada o principal fator de corrupção humana, o estado deveria
preservar a "res pública", ou a coisa pública, destruindo, de certa forma, a noção de propriedade privada
absoluta. Esta ideia de propriedade privada servindo a fim social deitou raízes na ideia que hoje temos de
função social da propriedade.

Enquanto o liberalismo pregava a propriedade privada absoluta, com o advento do estado social, passou-se a
defender a ideia de que a propriedade privada deveria cumprir uma função social. O poder do proprietário
não poderia ser exercido em confronto com o bem comum.

Percebe-se que entre o contratualismo de Hobbes e Rousseau existe um abismo, estando cada um em um
extremo do pensamento.

Assumindo uma posição intermediária, fazendo uma espécie de síntese entre o pensamento de Hobbes e
Rousseau, surge a teoria contratualista de John Locke. Para este pensador, o estado de natureza nem é a
guerra de todos contra todos e nem é um estado de felicidade plena. O estado de natureza seria um estado
em que haveria uma certa paz relativa. Nele os homens possuiriam um domínio racional das paixões e dos
interesses, até um certo ponto, pois a razão permitiria que os homens tivessem uma percepção acerca de
limites à ação humana, e estes limites seriam os direitos naturais.

Contudo, muito embora os homens possuam esta paz relativa, não haveria ninguém que pudesse servir para
colocar termo aos litígios que viessem porventura a existir no seio social. E é neste contexto que surge o

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contrato social segundo pensamento de Locke. O estado civil, nesta perspectiva, surge para haver um ente
que possa impor o cumprimento de decisões, colocar fim aos litígios, e evitar a guerra civil.

Muito embora haja essa divergência exposta entre o pensamento desses três autores, há um ponto em
comum: o estado surgiria para um acordo de vontades entre seus indivíduos, para regular o bem-estar social.

O contrato social seria, portanto, o que permitiu a passagem do estado de natureza para o estado civil: antes
do contrato social, existia o estado de natureza; após, passou a existir o estado civil. A teoria contratualista
serve, portanto, para legitimar e para justificar a existência do Estado. Mas qual seria o conteúdo deste
pacto, desse acordo ou contrato?

Para Hobbes, os indivíduos transferem, a partir do contrato social, todos os seus poderes enquanto sociedade
para outrem (o soberano) em troca de segurança e visando preservação da espécie. Isto é: para haver o fim
da guerra de todos contra todos, existe uma renúncia pelos indivíduos do exercício direto do poder, para
haver a proteção dos mesmos pelo Leviatã, ou soberano.

Segundo a concepção de Hobbes, expressa em sua obra ‘O Leviatã’, o Estado é colocado na figura de um
“deus mortal” (soberano), que se encontra abaixo do “deus imortal”, o receptor dos poderes a ele
transferidos pelos indivíduos, sendo, portanto, o responsável por resguardar a segurança da sociedade, e a
preservação da espécie, evitando a guerra civil.

É interessante trazer à colação a letra do pacto estabelecida por Hobbes, que cada um dos integrantes da
sociedade deve dizer:

"Cedo e transfiro meu direito de governar-me a mim mesmo a este homem, ou a esta assembleia de homens,
com a condição de transferir-lhe o seu direito, autorizando de maneira semelhante todas as suas ações.
Feito isso, a multidão assim unida numa só pessoa se chama Estado, em latim civitas. É esta a geração
daquele grande Leviatã (...). É nele que consiste a essência do Estado, a qual pode ser assim definida: uma
pessoa de cujos atos uma grande multidão, mediante pactos recíprocos uns com os outros, foi instituída por
cada um como autora, de modo a ela poder usar a força e os recursos de todos, de maneira que considerar
conveniente, para assegurar a paz e a defesa comum. Àquele que é portador dessa pessoa se chama
soberano e dele se diz que possui poder soberano. Os restantes são súditos."

Por outro lado, segundo a teoria contratualista de John Locke, os poderes não seriam transferidos de forma
total para o poder soberano. Este estaria limitado e circunscrito à proteção dos direitos já existentes no
estado de natureza. Os direitos naturais do homem seriam o limite do poder do Estado, e a preservação dos
mesmos seria a finalidade deste.

Portanto, o Estado surgiria como uma forma de preservar e consolidar os direitos naturais já existentes, e
para evitar a generalização dos conflitos que por ventura surgissem no seio da sociedade. Aqui, a vontade do
soberano não é a vontade do Estado. Passa-se a privilegiar a vontade da maioria.

Não é difícil anotar que a teoria contratualista de Hobbes serviu para justificar o poder autoritário, enquanto
a teoria contratualista de Locke privilegiava a vontade do povo, da maioria, como vontade política.

Percebe-se bem que, no caso da teoria hobbesiana, o contrato social transfere ao soberano um poder
ilimitado, sem qualquer limitação ou vínculo com direitos naturais. O soberano tudo pode. Não existe
nenhum parâmetro para a ação estatal, exceto com relação à vida, os indivíduos transferem os demais
direitos ao alvedrio do governante.

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Nas palavras pontuais de Lenio Streck:

"O Estado e o Direito constroem- se pela demarcação de limites pelo soberano que, por não ser partícipe
na convenção instituidora e, recebendo por todo desvinculado o poder dos indivíduos, tem aberto o
caminho para o arraigamento de sua soberania."

Em contrapartida, no pensamento de Locke, a preservação dos direitos naturais é a tônica da passagem do


estado de natureza para o estado civil. Locke afirma que somente com a criação do Estado é que os direitos
naturais serão garantidos de forma eficaz. Portanto, o contrato social na visão de Locke é traçado pelos
direitos naturais, e o poder político é por eles delimitado. O pensamento de Locke foi a base do pensamento
liberal, dado que o poder do estado encontraria limites nos direitos que os indivíduos já possuíam.

Nas próprias palavras do pensador:

"A única maneira pela qual uma pessoa qualquer pode abdicar de sua liberdade natural e revestir-se dos
elos da sociedade civil é concordando com outros homens em juntar-se e unir-se em uma comunidade, para
viverem confortável, segura e pacificamente uns com os outros, num gozo seguro de suas propriedades e
com maior segurança contra aqueles que dela não fazem parte."

O pensamento liberal, da mesma forma que Locke, entende que a intervenção estatal deve se dar de forma
mínima, e que o poder do estado encontra limites nos direitos privados das pessoas.

O contrato social, na percepção de Locke engendra duas faces: a de associação, quando se forma a sociedade
civil, agregando-se os indivíduos; e a de submissão, que é quando aparece o poder político, poder este que já
nasce limitado pelos direitos naturais. Destarte, o ser humano não entraria no estado civil de mãos vazias,
mas sim, trazendo consigo todos os direitos que já possuía no estado de natureza.

Pode-se concluir a partir daí, que os direitos naturais exercem uma dupla função no estado civil: por um
lado, atuam como inibidores do poder estatal, que não pode desrespeitá-los. Por outro lado, obrigam o
Estado a propiciar a máxima condição de fruição de tais direitos por parte dos indivíduos. Não há alienação
de direitos no contratualismo pensado por Locke, ao contrário do contratualismo Hobbesiano. Existe, sim, a
abdicação do “fazer justiça com as próprias mãos”.

A ideia de poder estatal pregada por Locke, é a de um poder limitado e circunscrito. Enquanto que para
Hobbes o erro do governante estaria na fraqueza, para Locke o erro do governante estaria no excesso, no
agigantamento do Estado invadindo a esfera de direitos naturais dos indivíduos, sendo que, no caso de
excesso, Locke admitia o direito de resistência contra a tirania.

Estamos, repita-se, diante de dois extremos quando comparamos as teorias contratualistas de Hobbes e de
Locke. O primeiro é o pai do autoritarismo, enquanto o segundo é o pai do liberalismo. Um defende o
Estado sem qualquer limite, enquanto o outro defende um Estado limitado nos direitos naturais e individuais
dos indivíduos.

Ainda podemos encontrar na obra de Locke a defesa de um controle do Executivo pelo Legislativo, e o
controle social do governo. Nas palavras dele, “porque o consenso é dado aos governantes somente sob a
condição de que exerçam o poder nos limites estabelecidos”.

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Norberto Bobbio ainda leciona, de forma precisa, que:

"(...) através dos princípios de um direito natural preexistente ao Estado, de um Estado baseado no
consenso, de subordinação do poder executivo ao poder legislativo, de poder limitado, de direito de
resistência, Locke expôs as diretrizes fundamentais do estado liberal [...]."

Locke, portanto, defende o que podemos chamar jusnaturalismo contratualista, sendo que o Estado, portanto,
seria um exercício racional que encontraria sua razão de ser e seu fundamento na necessidade de proteção
dos direitos naturais e da liberdade dos indivíduos.

Para bem fixar o exposto acima, ressalte-se a precisa lição de Lenio Streck:

"Resumidamente, pode-se retomar este debate para dizer que, para Hobbes, o contrato social, à maneira de
um pacto em favor de terceiro, é firmado entre os indivíduos que, visando preservarem suas vidas,
transferem a outrem não partícipe (homem ou assembleia de homens) todos os seus poderes — não há,
ainda, que se falar em direitos, pois estes só aparecem com o Estado. Ou seja: para pôr fim à guerra,
despojam-se do que possuem em troca da segurança do Leviatã. Contrapondo Hobbes, para Locke, o poder
estatal é essencialmente um poder delimitado. O erro do soberano não será a fraqueza, mas o excesso. E,
em consequência, para isso, admite o direito de resistência. A soberania absoluta, incontrastável, do
primeiro cede passo à teoria do pai do individualismo liberal, onde ainda consta o controle do Executivo
pelo Legislativo e o controle do governo pela sociedade (cernes do pensamento liberal). Altera-se o
conteúdo do contrato, se comparado com Hobbes. Em Locke, a existência e permanência dos direitos
naturais circunscreve os limites da convenção e do poder dele derivado. O pacto de consentimento que se
estabelece serve para preservar e consolidar os direitos preexistentes no estado natural. A convenção é
firmada no intuito de resguardar a emersão e a generalização do conflito. Através dela, os indivíduos dão o
seu consentimento para a entrada no estado civil e, posteriormente, para a formação do governo quando,
então, se assume o princípio da maioria."

Feitas essas colocações acerca do contratualismo pregado por Hobbes e por Locke, resta ainda analisar o
contratualismo de Rousseau.

Antes de qualquer coisa, é importante anotar que Rousseau entendia que a pessoa que verdadeiramente
fundou a sociedade civil foi o primeiro que delimitou um terreno e disse ‘isto aqui é meu’. Ou seja, a
sociedade civil nasceu com a propriedade privada, e esta última foi a causadora da desigualdade social. A
desigualdade, no que lhe concerne, é a causa primária da hostilidade entre os homens.

Enquanto Hobbes afirmava que o homem é o lobo do homem, Rousseau defendia que, na verdade, era a
sociedade que transformava o homem em lobo do homem. O homem seria, portanto, corrompido pela
sociedade. E, para reparar este mal que a sociedade fazia ao homem, foi necessário que este se organizasse
politicamente para que o Estado garantisse a sua liberdade.

A sociedade criava no homem, instintos e ‘apetites’ que este não possuía no estado natural. O Estado seria a
correção para este mal, pois, uma vez vivendo em uma sociedade civil, o homem teria que deixar de lado
seus instintos e seus apetites para pensar coletivamente. O individualismo deveria ser deixado de lado para
haver a paz social e a busca do bem comum.

Constatemos as palavras de Rousseau:

"No entanto, ainda que esse novo estado acarrete privações de muitas das vantagens que lhe concede a
natureza, obtém compensações muito grandes, suas faculdades se exercitam e se ampliam, suas ideias se

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desenvolvem, seus sentimentos se enobrecem e sua alma se eleva até um grau tal que — se o mau uso da
nova condição com frequência não lhe aviltasse, fazendo que se situe mais abaixo de seu estado originário
— teria que agradecer sem parar o feliz instante em que foi arrancado para sempre daquele lugar,
convertendo o animal estúpido e limitado que era, em um ser inteligente, em um homem."

Percebe-se o que se expôs anteriormente: o Estado surgiria para reparar o mal que a propriedade privada
causou ao homem. Este Estado, segundo a sua concepção, seria regido pela vontade geral. Em seu entender,
a vontade particular encontra-se eivada de vícios e de egoísmos, pois estaria voltada unicamente para a
proteção dos interesses particulares. Já a vontade geral, ao contrário, estaria voltada para a consecução do
bem comum, este sim, objetivo do Estado.

É bom que se diga que o Estado, na concepção de Rousseau, não tem como característica a submissão dos
governados, mas, sim, a união entre eles. Todos seriam iguais, e não haveria que se falar em propriedade
privada, mas em res pública. Tudo seria público em sua concepção. Neste ponto difere-se de Locke por
querer a abolição da propriedade privada. Contudo, da mesma forma que o teórico britânico, Rousseau
entendia que o poder do Estado encontraria limites no próprio pacto. A vontade geral é expressa pela lei. A
razão de ser dessa legalidade é impor limites ao poder político.

Podemos sintetizar o pensamento de Rousseau dizendo que a vontade geral é o todo, a abolição do privado.
Visto que exista a proteção do bem comum, não haveria mais espaço para a propriedade privada, e para
interesses privados.

Pode-se dizer que a grande contribuição do pensamento de Rousseau para a ciência política é que a vontade
geral, assim defendida como a vontade direcionada para a proteção do bem comum, lançou as bases do
pensamento democrático.

Feitas essas considerações acerca das teorias sobre a origem do Estado, passa-se a analisar os seus
elementos.

Voltando um pouco ao que já foi exposto, foi visto que as sociedades medievais caracterizavam-se pela
descentralização do poder político. Não havia um poder centralizado, mas sim a existência do poder difuso,
dividido em feudos.

As deficiências deste modelo medieval levaram à necessidade de organização política da sociedade sob a
autoridade de um poder central. Assim, pode-se falar que os elementos materiais do Estado são o povo e o
território. Os elementos formais seriam o governo, o poder e a autoridade ou soberano. Há quem defenda,
modernamente, a existência da finalidade como elemento do Estado. Tal concepção passou a ter espaço a
partir da ultrapassagem do Estado Liberal para o Estado Social.

TÓPICO 6

A Política e o Estado
Estado:

O conceito de Estado é um conceito amplo que permite várias interpretações. Após as devidas considerações
sobre sua formação, será trazido ao estudo seus conceitos, bem como suas características e termos
relacionados para melhor compreensão do termo.

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A seguir pode-se ver os conceitos de Estado segundo o dicionário, para se poder entender e ainda diferenciar
os principais tipos de Estado, visto que dos conceitos trazidos pelo mesmo, vários serão objeto de estudo da
ciência política. Nos conceitos a seguir expostos, será trazido como objeto de estudo alguns conceitos que
podem ser vistos como evolução de outros.

O Estado vai se dar em diferentes significados, principalmente pela época ao qual se refere, pois, ao longo
dos anos o conceito de Estado sofreu transformações significativas.

A seguir, será estudado alguns conceitos de Estado de forma aprofundada, pois são de suma importância ao
objeto do estudo e poderá a partir destes se observar as transformações históricas.

O dicionário, conforme mencionado traz como conceito de Estado:

1. Conjunto de qualidades ou características com que as coisas se apresentam; conjunto de condições em que
se encontram em determinado momento.

2. Condição física de uma pessoa ou animal, ou de alguma parte de seu corpo.

3. Cada um dos grupos sociais existentes na Idade Média, em particular na monarquia francesa (clero,
nobreza e povo).

4. País soberano, com estrutura própria e politicamente organizado.

5. Conjunto das instituições (governo, forças armadas, funcionalismo público, etc.) que controlam e
administram uma nação.

6. Forma de governo, regime político.

7. Divisão territorial de determinados países.

8. Luxo, pompa, fausto.

9. Rol, inventário.

10. Condição em que se encontra um sistema, caracterizado pelo conjunto de todas as suas propriedades
físicas.

Após a exposição dos significados de Estado, será abordado então a sua forma de surgimento e
consequentemente os conceitos destacados.

O ser humano possui a necessidade de se relacionar uns com os outros, desde que começou a vida em
sociedade. Pode-se trazer como marco da vida em sociedade os anos 800 a.C., com surgimento da “πόλις”,
que eram as cidades-estados gregas.

Com o surgimento da sociedade e das relações, houve a necessidade de organização dessa coletividade e da
tomada de decisões a partir da vontade individual combinada com a vontade do grupo e manter a ordem, ou
seja, fazer política. Cada membro dessa sociedade, possui interesses diferentes, concepções diferentes de
aspectos éticos, morais, diferentes entendimentos de certo e errado, justo e injusto. Onde há um aglomerado
de indivíduos pertencentes a uma coletividade, surgem também os conflitos e a necessidade de solucioná-
los.

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Há sempre alguém responsável pela tomada de decisão em nome da coletividade com o aval dos mesmos
para facilitar a vida dentro dessa coletividade. A partir dessa ideia do ser humano como um ser que vive em
coletividade representado por alguém que toma decisões em seu nome, é que surgiram os primeiros
resquícios de Estado.

A política é uma ciência que surgiu anterior ao Estado, ainda quando nem mesmo havia definição do mesmo
com este nome, em outras palavras, a política já existia, antes mesmo de se chamar política.

A política é uma ciência que surgiu anterior ao Estado, ainda quando nem mesmo havia definição do mesmo
com este nome, em outras palavras, a política já existia, antes mesmo de se chamar política. Com essa
concepção de que a política é anterior ao Estado, e de que o Estado surgiu para mediar os interesses comuns
e individuais, pode-se entender que o Estado surgiu exatamente em razão da política. Sem a existência da
política, não existiria também o Estado.

Para que o Estado consiga exercer seu papel de forma eficaz é necessário que ele seja soberano, ou seja,
aquele que tem o poder supremo. Só dessa forma, com o poder soberano, pode o Estado conseguir combinar
e mediar os interesses individuais e coletivos, garantindo a ordem e assim a segurança e o bem-estar
coletivo.

Para Thomas Hobbes, importante teórico político, o Estado é poder soberano:

"O soberano de um Estado, quer seja uma assembleia ou um homem, não se encontra sujeito às leis civis.
Dado que pode fazer e revogar as leis, pode quando lhe aprouver libertar-se dessa sujeição, revogando as
leis que o estorvam e fazendo outras novas; por consequência já antes era livre. Porque é livre quem pode
ser livre quando quiser. E a ninguém é possível estar obrigado perante si mesmo, pois quem pode obrigar
pode libertar, portanto, quem está obrigado apenas perante si mesmo não está obrigado."

Estado:

Unidade de comando;

Territorialidade;

Grupo de pessoas comprometidas com as leis.

Ainda a partir da concepção de Thomas Hobbes, conforme destaque acima se pode notar que para haver um
Estado é necessário alguns requisitos: unidade de comando, onde ele é soberano, territorialidade, grupo de
pessoas comprometidas.

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Para Hobbes, o Estado é detentor de todo o poder, e não sujeito às regras por ele impostas, em outras
palavras, as regras eram impostas pelo Estado, porém somente os civis eram os que deveriam cumpri-las,
pois na sua concepção, o Estado como soberano poderia ter qualquer ato, independente das leis, pois seriam
para um bem maior, o bem da coletividade. Nesta seara, o estado independente de suas atitudes, não poderia
ser considerado injusto, devendo ser respeitado por todos os integrantes da coletividade.

Thomas Hobbes foi um grande defensor do absolutismo, para ele o poder do Estado era soberano e
indivisível, essa concepção embora de grande valia para o presente estudo e para evolução do conceito de
Estado, já foi superada.

Escritor da obra “O Leviatã”, Hobbes tenta nessa obra justificar a soberania, de explicar a sobreposição da
soberania do Estado, inclusive sobre a carta maior: a Constituição, desde que em nome da coletividade, em
outras palavras, para manter a ordem e controlar o povo, pois somente com um governo soberano isso seria
possível.

Hobbes deu uma enorme contribuição social com suas obras. Neste momento foi citado “O Leviatã” por seu
conteúdo direto na construção do Estado como poder soberano. Sendo assim é impossível falar de Estado
sem mencioná-lo com a devida atenção, bem como a sua obra ora citada.

Muitos filósofos criaram conceitos de Estado ao longo dos séculos, pois como visto anteriormente esses
conceitos passaram por enormes mudanças, algumas mais relevantes e outras pouco mencionadas na
atualidade. Antes que houvesse o primeiro conceito definido de Estado, embora com outros nomes ou ainda
sem um estudo mais aprofundado, estes já existiam.

Nas comunidades mais antigas que eram criadas pelos laços familiares não havia no que se falar em Estado,
mas foi após a mudança na forma de viver dos grupos com a transição de uma vida baseada na convivência
em grupo familiar para uma vida com grupo com diversas famílias unidas numa mesma sociedade, que se
pode dizer que se iniciou o estado, mas não ainda seu conceito.

Após essa mudança na forma de se viver, a comunidade precisava se organizar, pois esta necessitava se
sustentar, proteger de outros grupos, assim surgindo as “” como já explicado acima.

As cidades-estados, ou pólis como também é conhecida, é um conceito utilizado na contemporaneidade para


assim ilustrar e melhor entender as comunidades que viviam de uma forma meramente didática. Dessa forma
não eram denominadas cidades-estados pelos povos que a habitavam.

A palavra Estado como será visto através da sua origem trazida pelo dicionário é de origem latina que
remete a ideia de Status:

"es·ta·do - (Latim status, -us, posição de pé, postura, posição, estado, situação, condição, forma de governo,
regime)."

As pessoas nessa época eram vistas por seu Status, por sua condição social, função exercida na coletividade,
bem como a localidade onde vivia. A partir daí iniciou-se um longo processo de transição até chegar ao
conceito de estado que se pode ver hoje.

Outro filósofo que merece ser mencionado devido a sua enorme contribuição ao conceito de Estado foi
Maquiavel, por suas concepções consideradas imorais e/ou desprovido de limites e valores. O emprego da
palavra maquiavélico surgiu exatamente em decorrência de suas teorias, pois, para Maquiavel os fins
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justificavam os meios, em outras palavras, tudo era válido para chegar ao objetivo pretendido, independente
de valores, princípios morais, ética, da necessidade de trapaça ou crueldade, etc. Para ele essa deveria ser a
postura de um príncipe de modo a garantir o bem-estar da comunidade.

Maquiavel defendia a ideia de que um Estado hereditário seria mais eficaz, como traz em seu livro “o
príncipe”:

"Digo, pois, que, nos Estados hereditários e acostumados à linhagem de seus príncipes, são bem menores as
dificuldades para conservá-los do que nos novos."

Foi Maquiavel quem trouxe o primeiro conceito de Estado mais próximo do que se pode observar hoje.
Hobbes e Maquiavel possuíam visões diferentes sobre o Estado, uma dessas razões é serem de épocas
diferentes.

Abaixo a concepção de Maquiavel sobre o Estado:

"O príncipe não precisa ser piedoso, fiel, humano, íntegro e religioso, bastando que aparente possuir tais
qualidades (...). O príncipe não deve se desviar do bem, mas deve estar sempre pronto a fazer o mal, se
necessário."

A seguir a concepção de Hobbes:

"(...) ao introduzir aquela restrição sobre si mesmos sob a qual os vemos viver nos Estados, é o cuidado
com sua própria conservação e com uma vida mais satisfeita. (...) quando não há um poder visível capaz de
os manter em respeito, forçando-os, por medo do castigo, ao cumprimento de seus pactos e ao respeito
àquelas leis de natureza."

Após mencioná-los e trazer conceituações, distinções em suas concepções de Estado, é necessário trazer ao
estudo algumas distinções entre: Povo, Nação, Governo, País, Sociedade e Estado.

Estes, embora convivam harmoniosamente e por vezes sejam confundidos entre si, possuem suas
peculiaridades, logo, são coisas distintas, portanto, merecem ser abordadas ainda que de forma breve e
sucinta garantindo um panorama não somente do Estado, mas de sua organização e características conforme
a atualidade no Brasil, já que por hora a historicidade foi tratada anteriormente.

 Governo:

Ocupado pelas pessoas por tempo determinado as posições e os cargos do Estado. Independente do regime
político adotado, se pode dizer haver os cargos do Estado, reis, presidentes e governadores, por exemplo.
Em outras palavras, é aquele que administra o Estado.

 Estado:

O Estado existe para além dos governos, em outras palavras, enquanto os governantes entram e saem do
Estado, ele permanece, independente de quem está no governo. Os governantes, ou seja, aqueles que
ocupam cargos no Estado passaram a ser conhecidos como políticos em decorrência de exercer atividades
políticas.

 Nação:

O conceito de nação remete ao nacionalismo e a união de um mesmo povo, em outras palavras o


compartilhamento de aspectos culturais, idioma, entre outros.
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 País:

Traz um conceito mais genérico, que define tudo aquilo que se encontra no território dominado pelo Estado.

 Comunidade:

São menos complexas que a sociedade e mais antiga forma de se viver em grupo, compartilhando suas ideias
e culturas em um mesmo espaço.

Na comunidade não há muita institucionalização, em outras palavras se pode resumir a comunidade somente
como um agrupamento de pessoas, diferente da sociedade como será visto a seguir a sua definição.

 Sociedade::

Agrupamento de pessoas que se relacionam e vivem de forma organizada de modo a obter objetivos comuns
por meio do grupo, que possuem culturas, costumes e hábitos comuns, são mais institucionalizadas, e
organizadas com melhor ordenamento e divisão das tarefas. Embora existam outras definições para
sociedade, como a união de não humanos, esta é a que melhor ilustra o objetivo pretendido.

 Política:

A política está em todos os lugares, segundo Aristóteles os seres humanos são seres políticos e não nasceram
para viverem isolados, mas sim em grupos. E é exatamente dessa relação de convivência em comunidade
que nasce a política.

Com a criação das cidades, chamada pólis, as pessoas começaram a viver coletivamente, ou seja, em
comunidade e a partir dessa convivência em grupo que era uma inovação imensa para as pessoas que
surgiram também os conflitos.

Com essa convivência e o surgimento dos conflitos, viver em uma sociedade demandou de uma
organização, divisão de trabalhos, normas impôs e até mesmo a forma de se comportar era objeto importante
para a sociedade.

Assim o termo política começou a adquirir o sentido de arte do governo, ainda segundo Aristóteles.

Por causa dessa evolução e da necessidade de organizar essa sociedade que começara a viver mais próximas
umas das outras, que se começou a questionar como seria tratado as questões da cidade, em outras palavras,
começou a existir conflitos e demandas a serem resolvidas, dentro daquele espaço comum.

Existem várias formas de resolução de conflitos, uma delas é por emprego de força, onde o mais forte vence.
Quem nunca ouviu a expressão “olho por olho, dente por dente”? Essa expressão é muito utilizada para se
referir a lei de Talião, que se baseava exatamente nesse ideal, que se tratava de punições desproporcionais.
Para melhor ilustrar, será utilizado um exemplo:

Um homem mata o filho de outrem, assim sua punição será a morte do seu em circunstâncias idênticas ou
ainda de forma mais cruel, por aquele que perdeu o seu filho.

Por isso a frase é associada à lei de Talião, pois a pena estava diretamente ligada ao fato ocorrido e em
proporções maiores. Não se ouvia falar em direitos humanos, dignidade da pessoa humana, menos ainda em
direitos sociais e princípios. Estes só puderam ser observados séculos depois com a promulgação das
Constituições. Mas não se engane em pensar que as concepções de Talião não são mais utilizadas
atualmente. Muito embora promulgada as constituições, ainda há pessoas que possuem esse pensamento.
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Com o passar dos anos a lei de Talião passou a perder a sua força e as pessoas começaram a procurar novas
soluções para os seus conflitos. Uma dessas formas de solução de conflitos encontrada foi a tomada de
decisão a partir da vontade unânime do grupo. Esta foi por um período muito utilizada por muitos grupos.
Outra forma foi a consulta dos Deuses, mas nem sempre era possível a sua interpretação, por vezes não era
clara, e em outras o entendimento diferia para cada integrante do grupo.

Sendo assim surgiram outros métodos, enquanto este já não era mais em alguns casos considerado
satisfatório. A decisão por maioria, por exemplo, foi uma das medidas adotadas para solução de conflitos na
comunidade. Essas formas de organização da sociedade na tomada de decisões que afetam o grupo é um dos
objetos de atenção da política.

Com o passar dos séculos e diante da imensa quantidade de pessoas que conviviam no mesmo grupo, ficou
cada vez mais difícil e complexo a tomada de decisões. Assim se fez necessário que os povos tivessem seus
representantes para melhor organizar, pois, manter o grupo reunido durante todo o tempo inviabilizaria a
tomada de decisões e outros aspectos, como o sustento da comunidade e de suas famílias. Mas com essa
necessidade de representação, criou-se a indagação quanto a quem seria o representante e a forma dessa
escolha. Essa foi a grande questão enfrentada pelo grupo, afinal era muito recente e ainda não sabiam como
lidar com essa questão.

A política está diretamente ligada à convivência em grupo. Como dito, há necessidade de tomada de
decisões constantes, pois é necessário resolver conflitos, diferenças de opinião, e na forma de lidar com as
decisões para o coletivo e os métodos necessários para tanto, e quem serão as pessoas responsáveis para
cada função.

As formas com que cada grupo resolveu essas questões foram bem distintas umas das outras, pois variam de
uma coletividade para outra, sendo que muitas sofreram mudanças e evoluções ao longo do tempo. Cada
coletividade optou por um regime político, bem como a forma de representação de escolha de seus
representantes e de organização dos representantes.

No Brasil, a forma de governo adotada no presente momento é o presidencialismo, este será estudado mais
adiante de forma aprofundada, para o momento é necessário mencionar que sua divisão e organização se dá
em três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário.

TÓPICO 7

Formação Política no Brasil


Os Três Poderes

O sistema de governo vigente no Brasil é o presidencialismo. Como o próprio nome já sugere, nesta forma
de governo há o presidente como autoridade máxima do poder executivo, como figura principal no governo.
Entretanto, este não é soberano, ou seja, o presidente não detém o poder de forma absoluta. A separação dos
poderes visa evitar a concentração de poderes absolutos na mão de uma só pessoa.

Houve um tempo em que todo o poder concentrava-se nas mãos do governante absolutista, que o exercia
sem qualquer limite ou freio. Obviamente tal fórmula de governo fazia com que os abusos se perpetrassem,
dado que, inexistindo qualquer controle externo, o governo seria regido pela vontade do soberano.

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Com o final do período absolutista, especialmente após a revolução francesa, os teóricos procuraram uma
forma de governo em que o poder não ficasse concentrado nas mãos de uma única pessoa, mas que fosse
dividido, de forma que um exercesse controle sobre o outro. Tal sistema de governo é conhecido como
sistema de “freios e contrapesos”, pois um poder controlaria o outro, e teria a finalidade de coibir abusos. E
para cumprir tal desiderato, o sistema de freios e contrapesos expressa a independência e harmonia entre os
poderes.

Ora, não faria nenhum sentido estabelecer a competência do legislativo de julgar o Presidente da República
nos casos de crimes de responsabilidade, se houvesse a submissão do primeiro ao segundo. Ou seja, não
haveria nenhuma isenção em um julgamento onde o órgão julgado fosse hierarquicamente submisso à
pessoa que deveria ser julgada. O sistema de freios e contrapesos é atribuído a Montesquieu, em sua obra
“Do espírito das leis”.

A República Federativa Presidencialista é formada pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios, cada
um com suas atribuições para melhor garantir o cumprimento da Constituição. A Constituição atribui a cada
um desses, competências na criação de leis e na administração dentro de sua competência. Dessa forma,
pode-se dizer haver competências comuns, ou seja, sendo de responsabilidade da União, Estados, Distrito
Federal e dos Municípios e também competências que são privativas de cada ente.

Abaixo, o artigo 23 da Constituição Federal, traz o rol de competências comuns:

Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:

I — Zelar pela guarda da Constituição, das leis e das instituições democráticas e conservar o patrimônio
público;

II — Cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras de deficiência;

III — Proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos,
as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos;

IV — Impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte e de outros bens de valor


histórico, artístico ou cultural;

V — Proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação e à ciência;

VI — Proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas;

VII — Preservar as florestas, a fauna e a flora;

VIII — Fomentar a produção agropecuária e organizar o abastecimento alimentar;

IX — Promover programas de construção de moradias e a melhoria das condições habitacionais e de


saneamento básico;

X — Combater as causas da pobreza e os fatores de marginalização, promovendo a integração social dos


setores desfavorecidos;

XI — Registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa e exploração de recursos


hídricos e minerais em seus territórios;

XII — Estabelecer e implantar política de educação para a segurança do trânsito.

23
Parágrafo único. Leis complementares fixarão normas para a cooperação entre a União e os Estados, o
Distrito Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em âmbito
nacional.

O Estado Brasileiro, na contemporaneidade, se divide em três poderes, como foi mencionado no capítulo
anterior de forma breve. A própria constituição em seu artigo segundo traz a divisão entre os poderes: “São
Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário”.

A partir de agora, será abordado com mais propriedade e a devida atenção esses três poderes bem como suas
características e formação.

Poder Executivo

O poder executivo tem como chefe o presidente da República. O poder executivo é composto pelos
ministérios formados por ministros indicados pelo chefe do poder executivo, o Presidente da República.

Esse órgão é responsável pela administração do Brasil, como o próprio nome já diz, além de representar o
Brasil no exterior e cuidar da economia do país. Quem exerce função no poder executivo além do Presidente
da República são os Governadores de Estado e Prefeitos.

Cabe ressaltar que, muito embora a criação e votação das leis seja papel do legislativo e cabe ao Presidente
da República sancionar a lei como será visto a seguir, o presidente pode fazer Medida Provisória que como o
próprio nome diz possui caráter provisório. Apesar de provisório, essa medida pode se converter em lei caso
seja aprovada no congresso posteriormente.

24
Poder Legislativo

O poder legislativo consiste no congresso nacional que é o órgão responsável pela criação das leis e das
normas vigentes em todo território nacional. É ainda competência do poder legislativo fiscalizar os atos do
poder executivo.

O congresso possui um sistema bicameral, ou seja, é composto por suas casas: A Câmara dos Deputados e o
Senado Federal. Onde são representantes do povo e dos Estados respectivamente. A Câmara é composta por
513 deputados e o Senado por 81 senadores, ambos eleitos pelo povo através do voto direto, diferente dos
ministros que conforme mencionado acima é indicado pelo presidente da república.

As propostas de lei elaboradas, ainda que aprovadas pelas duas casas, podem ser vetadas pelo Presidente da
República, mesmo fazendo parte do poder executivo, pois sancionar as leis é papel do Presidente. Sancionar
neste contexto significa afirmar, ou seja, validar a lei que por ora foi aprovada pelas duas casas do poder
legislativo, trazendo efetivação à aprovação.

A arquitetura do Congresso Nacional tem toda uma simbologia, extraída da Constituição Federal. A seguir a
descrição do Congresso Nacional, concebido por um dos grandes nomes da arquitetura Oscar Niemeyer.
Este é representado por suas duas casas - Câmara dos Deputados e Senado Federal:

"A simbologia do projeto de Niemeyer colocou o Congresso como o prédio mais alto da Praça dos Três
Poderes, ou seja, a preponderância do poder do povo, através de sua representação. As duas conchas
simbolizam o poder e a relação de contrapesos implícita no sistema bicameral. A cúpula convexa da
Câmara, maior e chapada no alto, sugeriria que aquele plenário está aberto ao impacto direto de
ideologias, tendências, anseios e paixões do povo.”

Já a cúpula côncava do Senado, menor, retrataria um local propício para reflexão, serenidade, ponderação,
equilíbrio, onde são valorizados o peso da experiência e o ônus da maturidade (ZERBINI, 2019)."

Em outras palavras, a concha da câmara é virada para cima em decorrência da constituição estabelecer que
todo poder emana do povo, dessa forma os deputados representam a vontade do povo tomando, já o senado é
voltado para baixo representando a vontade do Estado.

O Poder Legislativo é em âmbito Nacional representado pelo Congresso, ou seja, é exercido pelos
Deputados Federais e Senadores; nos Estados, os Deputados Estaduais e nos municípios os vereadores.

25
Poder Judiciário

O poder judiciário é o órgão responsável pela resolução das lides e dos conflitos sejam eles causados pelos
cidadãos e também entre os cidadãos e o Estado. Este é composto pelos juízes das instâncias e das mais
diversas áreas do direito.

Abaixo uma ilustração da forma de organização do poder judiciário na esfera Federal, Estadual e Municipal
seguindo respectivamente sua hierarquia:

Esses órgãos possuem competências diferentes consoante a sua matéria e revisão recursal. O tema “poder
judiciário” possui enorme amplitude, mas para o momento, as informações ora trazidas são suficientes para
o estudo, tendo em vista objeto de Estudo: Ciências Políticas.

Historicidade
Essa forma de separação dos poderes e da organização nem sempre foi dessa forma.

O princípio da separação dos três poderes, bem como o princípio de soberania precisa ser observado por dois
ângulos distintos, pois vem de épocas distintas. Na Grécia Antiga, no século IV a.C., Aristóteles foi o
primeiro a propor a separação do poder em três, para poder garantir justiça, igualdade e democracia.

O princípio da separação dos três poderes foi elaborado por Aristóteles em sua obra “A Política”, que
defendia a separação do Estado em: Poder Deliberativo, Executivo e Judiciário.
26
Nessa época não se pode dar seguimento a essa teoria de forma aplicada devido aos governadores, mesmo
após o fim do império romano, e somente na idade moderna voltou-se a discutir as ideias de separação dos
poderes, democracia e Estado moderno discutido por John Locke.

A partir das ideias de Aristóteles surge John Locke, defendendo a teoria dos três poderes, porém traz o poder
legislativo com superioridade quanto aos demais como se pode ver em sua obra “Segundo tratado sobre o
governo civil”.

John Locke foi um filósofo contratualista, que ficou conhecido como “pai do liberalismo” e também por
defender a liberdade e tolerância religiosa. Suas ideias no século XVII foram de grande influência em vários
países, mas principalmente na Inglaterra onde contribuiu para o fim da monarquia absolutista. Quanto à
divisão de poderes embora fosse muito influente as ideias de Locke não foi muito aceita, pelo fato de
defender que o poder legislativo deveria ter poderes superiores aos demais.

Charles de Montesquieu no que lhe concerne traz a concepção de separação dos três poderes com poderes
igualitários, como se observa na atualidade. Ainda que já se falasse desde Aristóteles e possuísse extrema
relevância somente foi inserida na Constituição atual e ainda foi inserido como cláusula pétrea, ou seja, não
poderá ser modificada. Em seu livro The spirit of the Laws concretizou a teoria definitiva dos três poderes,
sua teoria é base de todos os países democráticos. Em sua obra dividiu os três poderes em: Executivo,
Legislativo e Judiciário. Gerando no Brasil o tão conhecido “sistema de freios e contrapesos”, onde um
serve para limitar o poder do outro impedindo abuso de poder. Segundo Montesquieu, todo homem que
detém o poder, tende a abusar dele.

O Brasil, por sua dimensão territorial, precisou se dividir em Estados e os Estados se dividirem em
Municípios, os países menores não possuem a mesma divisão.

O poder executivo, com a função de administração escolhe secretários ou ministros (dependendo do órgão)
para cada área para melhor atender a interesses específicos, em outras palavras, cria o ministério da saúde
elegendo pessoas aptas para resolver questões relacionadas à saúde, ministério da educação com ministros
para resolver questões ligadas à educação, etc.

A Constituição Federal traz o executivo, legislativo e judiciário como Poderes harmônicos e independentes
entre si. Entretanto, vale trazer ao momento que o poder é uno, indivisível, e indelegável. Como pode unir a
ideia de separação dos três poderes e a ideia de que o poder é indivisível?

Poder, Função e Orgão


Montesquieu trouxe em seu estudo a combinação entre Estado, Poder e função.

Ainda na atualidade existem alguns doutrinadores que trazem a divisão do poder em três poderes, apesar
dessa teoria estar por parte ultrapassada em termos didáticos, isso porque se entende que o poder é uno, que
o termo correto a ser utilizado seria órgão que lhes seria atribuído funções ao invés de poder.

Pedro Lenza, é um dos apoiadores de erro na utilização errônea do termo “poder”:

"Isso porque o poder é uno e indivisível. O poder não se triparte. O poder é um só, manifestando-se por
órgãos que exercem funções. Assim, todos os atos praticados pelo Estado decorrem de um só Poder, uno e
indivisível. Esses atos adquirem diversas formas, através do exercício das diversas funções pelos diferentes
órgãos. Assim o órgão legislativo exerce uma função típica, inerente à sua natureza, além de funções
atípicas."

27
E continua o autor com seu entendimento:

"Os “Poderes” (órgãos) independentes entre si, cada qual atuando dentro de sua parcela de competência
constitucionalmente estabelecida e assegurada quando da manifestação do poder constituinte originário.
Nesse sentido, as atribuições asseguradas não poderão ser delegadas de um Poder (órgão) a outro. Trata-
se do princípio da indelegabilidade de atribuições. Um órgão só poderá exercer atribuições de outro, ou da
natureza típica de outro, quando houver expressa previsão (e surge as funções atípicas) e, diretamente,
quando houver delegação por parte do poder constituinte originário."

A partir das concepções de Pedro Lenza trazidas acima, pode se extrair que existem dois tipos de funções a
serem desempenhadas: Funções típicas e Funções atípicas.

Funções Típicas: São as funções que são próprias do órgão por atribuição constitucional. As funções típicas
são também chamadas PREDOMINANTE ou SUBSTANCIAL.

Funções Atípicas: As funções atípicas são aquelas exercidas por um poder que não possui competência para
tal, sendo esta competência típica de outro poder que exerce por excepcionalidade e com previsão
normativa.

Exemplo:

Poder executivo

Prática de atos de chefia e atos de administração — Função Típica.

Presidente sancionando ou vetando, além de expedir Medidas Provisórias — Função atípica.

Tópico 8
Capitalismo x Socialismo

Sistemas Econômicos
Para finalizar o estudo sobre ciência política, é necessário fazer uma breve análise acerca dos sistemas
econômicos, que são, basicamente, dois: capitalismo e socialismo (comunismo). É preciso ressaltar que os
sistemas econômicos que se conhece hoje estão diretamente ligados ao sistema político que se adota
atualmente. A União Soviética tinha ideologia do Socialismo, por outro lado, os Estados Unidos possuíam
ideologia Capitalista, os demais países se apoiavam em um País ou outro, na medida de suas ideologias.

O capitalismo, basicamente, é um sistema econômico que privilegia a propriedade privada dos meios de
produção, e a busca do lucro. O capitalismo trabalha com a ideia de mercado competitivo, lucro, e utilização
de trabalhadores assalariados. Neste sistema econômico, o lucro do mercado fica nas mãos dos donos dos
meios de produção, que contratam trabalhadores, mediante o pagamento de salários previamente
determinados.

Em seu sentido etimológico, a palavra ‘capitalismo’ vem do latim ‘capitale’, que significa ‘principal, chefe’.
Daí pode-se concluir que o capitalismo centra-se na figura do capitalista, do empresário, do chefe da
empresa, conforme cita Rodrigo (2007):

28
A palavra capital vem do latim capitalis, que vem do protoindo-europeu kaput, que quer dizer "cabeça", em
referência às cabeças de gado, como era medida a riqueza nos tempos antigos. A conexão léxica entre o
comércio de gado e a economia pode ser vista em nomes de várias moedas e palavras que dizem respeito ao
dinheiro:

O primeiro uso da palavra Kapitalist foi em 1848 no Manifesto Comunista de Marx e Engels; porém, a
palavra Kapitalismus, que é "capitalismo" em alemão, não foi usada. O primeiro uso da palavra capitalismo
é dedicado ao romancista Thackeray, em 1854, com o qual quis dizer "posse de grandes quantidades de
capital", e não a um sistema de produção.

Em 1867, Proudhon usou o termo capitalista para referir-se a possuidores de capital, Marx e Engels
referiam-se à "forma de produção baseada em capital" ("kapitalistische Produktionsform") e, no Das Kapital,
"Kapitalist" (um possuidor privado de capital). Nenhum deles, porém, usou os termos em alusão ao
significado atual das palavras. A primeira pessoa que assim o fez, porém, de uma forma impactante foi
Werner Sombart em seu Capitalismo Moderno, de 1902. Max Weber, um amigo próximo e colega de
Sombart, usou o termo em sua obra A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, de 1904.

Essa característica revela outra que surgiu após: a luta entre classes. De um lado, temos o capitalista, o
burguês, o proprietário dos meios de produção. Por outro lado, temos a classe trabalhadora, a maioria da
população. Estes vivem da sua força de trabalho, do seu salário. Esta classe é conhecida também como
proletariado.

O capitalismo, como já dito, visa à acumulação de capital. Tem profunda ligação com a ideia do feudalismo,
onde o dono da terra “explorava” aqueles que ali viviam. Neste sistema, quem é o dono ou proprietário dos
meios de produção (que podem ser máquinas, terras, etc.), é quem realmente fica com o lucro da atividade.
Este sistema sofreu grandes críticas na história da humanidade, em razão de promover a desigualdade e o
acúmulo de riquezas nas mãos de uma minoria. Os críticos deste sistema afirmam que uma sociedade que
produz tanta riqueza não pode ser tão desigual.

O capitalismo liga-se à ideia de livre-mercado, de liberalismo econômico, de estado mínimo. Ou seja, está
diretamente ligado à liberdade econômica, liberdade nas contratações, prevalência dos pactos, etc. Os
defensores deste sistema defendem que o Estado não deve interferir nas relações econômicas, pois os
homens são livres para contratar, para comprar, para vender, etc. O capitalismo está diretamente ligado à
ideia de liberdade. O Estado deve se abster de intervir nas relações privadas.

Como oposição à ideia capitalista, surge o sistema do socialismo. Aqui, a ideia é o Estado Social,
preocupado em assegurar direitos mínimos para que todos possam viver com dignidade, e sem exploração
econômica demasiada. Busca-se diminuir as desigualdades, de forma que uns fiquem com todas as riquezas,
e outros fiquem miseráveis.

O socialismo funda-se, basicamente, na ideia de propriedade pública dos meios de produção. Ou seja,
abomina-se a ideia de que os meios de produção estejam unicamente nas mãos de poucos. O Estado seria o
detentor dos meios de produção, e distribuiria os lucros de forma isonômica. O socialismo seria, segundo
seus defensores, uma reação aos efeitos do capitalismo na sociedade, como a desigualdade.

O proletariado, cansado de ser explorado, passa a exigir que o Estado intervenha nas relações privadas, e
distribua os lucros de forma isonômica, de modo a diminuir o abismo social entre a burguesia e o
proletariado.

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Os teóricos do socialismo dizem haver uma injusta concentração de riqueza e poder nas mãos de um
pequeno segmento da sociedade, sendo a burguesia, a qual possui o controle do capital e tira a sua riqueza
da exploração de outras classes sociais, como o proletariado, promovendo a desigualdade social e o
engessamento das classes.

O socialismo defende, ainda, uma condição melhor para os trabalhadores, que, à época do surgimento de
suas ideias, eram extremamente maltratados nos locais de trabalho, sendo submetidos a jornadas de trabalho
desgastantes e ilimitadas.

Por outro lado, o comunismo seria a face mais radical do socialismo, e, segundo Karl Marx, seria o desfecho
natural de uma revolução do proletariado. Esta ideia sustenta o desaparecimento das classes sociais, bem
como da noção de patriotismo. Ou seja, não haveria Estado e nem opressão. Visto que não haveria Estado,
os meios de produção seriam de propriedade de todos, e a riqueza seria distribuída de forma igualitária a
todos. Lembre-se que no socialismo defende-se a ideia de distribuição isonômica, onde cada um receberia
uma parte consoante a atividade que desenvolvia.

As críticas às ideias do socialismo e do comunismo estão diretamente ligadas à profunda acumulação de


riquezas por parte do Estado e generalização da miséria.

Obviamente que nenhum sistema econômico está imune a críticas, mas é bom lembrar que aqui foram
estudadas as formas puras das ideias. Estes sistemas deram lugar a derivações, como o capitalismo liberal, o
neoliberalismo, o socialismo utópico, etc., mas aqui não é o local adequado para o aprofundamento dessas
questões.

A base do socialismo era a socialização dos meios de produção e o fim da divisão da sociedade em classes.
Por outro lado, o capitalismo tem ideologia inversa, ou seja, tem como ideologia o acúmulo do capital.

Foram citadas aqui apenas as características essenciais para o que se reputa uma noção da ciência política, e
nas relações da economia e do Estado. Abaixo um quadro comparativo elencando as principais distinções
entre o capitalismo e o socialismo de forma objetiva, para melhor concluir o estudo da Ciência Política.

30
FAZER ATIVIDADES PARA FIXAÇÃO

Tópico 10

Na Prática

Artigos e comentários especulativos sobre o político que deverá ocupar a vice-presidência nas eleições
presidenciais deste ano sugerem que o interesse da opinião pública pelo cargo tem impulsionado a
esfera política desde a fundação da república.

Em 1891, dois anos após o início da chamada República Velha, o marechal Deodoro da Fonseca
renunciou à presidência devido a uma revolta armada. Nesse momento, o vice-presidente Floriano
Peixoto foi promovido ao mais alto cargo da República e tornou-se o segundo presidente da história
do Brasil.

No período que se seguiu, os vices às vezes assumiram a liderança no poder executivo quando o
presidente morreu, foi destituído do cargo por causa de sua saúde ou renunciou em tempos de crise
política.

SUGESTÃO DE LEITURA:

O cargo do vice na política brasileira tem destaque em grande parte da história recente

Desde os primeiros anos da República, a figura do vice passa de coadjuvante a protagonista

As matérias e comentários especulativos sobre os políticos que devem ocupar o cargo de vice nas chapas à
presidência da República nas eleições deste ano demonstram o interesse da opinião pública no cargo, que
vem protagonizando reviravoltas no campo político desde o início da República. Em 1891, apenas dois anos
após o início da chamada República Velha, o marechal Deodoro da Fonseca renunciou à presidência como
consequência da Revolta da Armada. Assim, Floriano Peixoto, o vice-presidente, foi promovido ao cargo
máximo da República, o que fez dele o segundo presidente da história do Brasil. Nos períodos seguintes,
outras vezes os vices assumiram a chefia do Poder Executivo, seja devido ao falecimento de um presidente,
afastamento em razão de saúde ou renúncia em tempos de crise política.

No Pará, em 1994, com a saída do poder do então governador Jader Barbalho para a disputa ao Senado,
assumiu o poder o vice-governador Carlos Santos. Nas prévias de 1990, Carlos Santos aparecia com 14,8 %
com intenções de votos, quando recebeu e aceitou o convite do então candidato ao governo, Jader Barbalho.
Após a saída de Jader, Carlos Santos fez uma gestão em que defendia o plano de fixar o trabalhador na terra,
evitando o êxodo rural, política intitulada Pará-Rural.

O segundo capítulo da Constituição Federal, entre os artigos 76 e 91, define o vice como aquele que deve
cumprir todas as funções do presidente caso este precise deixar o cargo. "O vice-presidente tem poderes
plenos no comando do País diante de eventual vacância da Presidência ou quando é solicitado pelo
presidente da República para representá-lo em missões internacionais, assinatura de medidas e projetos,
elaboração de políticas públicas. Para ser um vice-presidente, o candidato precisa ser brasileiro nato, ter ao
menos 35 anos de idade, ser filiado a um partido político e possuir o pleno exercício de seus direitos
políticos. Ele é eleito junto do presidente da República, por voto direto e secreto", explica o governo federal.

31
A socióloga e mestre em Ciência Política Karen Santos afirma que a primeira característica a ser destacada
sobre o vice é o fato de liderar a linha sucessória da presidência. “Ao mesmo tempo, o vice-presidente, por
exemplo, quando convocado poderá auxiliar o presidente na alocação de recursos, orientações sobre política
pública e missões especiais. A constituição federal confere, claramente, apenas o atributo de substituto,
entretanto essa figura não deve ser vista como meramente ilustrativa ou um adorno decorativo”, destaca a
pesquisadora.

O cargo do vice na política brasileira tem destaque em grande parte da história recente

Desde os primeiros anos da República, a figura do vice passa de coadjuvante a protagonista

As matérias e comentários especulativos sobre os políticos que devem ocupar o cargo de vice nas chapas à
presidência da República nas eleições deste ano demonstram o interesse da opinião pública no cargo, que
vem protagonizando reviravoltas no campo político desde o início da República. Em 1891, apenas dois anos
após o início da chamada República Velha, o marechal Deodoro da Fonseca renunciou à presidência como
consequência da Revolta da Armada. Assim, Floriano Peixoto, o vice-presidente, foi promovido ao cargo
máximo da República, o que fez dele o segundo presidente da história do Brasil. Nos períodos seguintes,
outras vezes os vices assumiram a chefia do Poder Executivo, seja devido ao falecimento de um presidente,
afastamento em razão de saúde ou renúncia em tempos de crise política.

No Pará, em 1994, com a saída do poder do então governador Jader Barbalho para a disputa ao Senado,
assumiu o poder o vice-governador Carlos Santos. Nas prévias de 1990, Carlos Santos aparecia com 14,8 %
com intenções de votos, quando recebeu e aceitou o convite do então candidato ao governo, Jader Barbalho.
Após a saída de Jader, Carlos Santos fez uma gestão em que defendia o plano de fixar o trabalhador na terra,
evitando o êxodo rural, política intitulada Pará-Rural.

O segundo capítulo da Constituição Federal, entre os artigos 76 e 91, define o vice como aquele que deve
cumprir todas as funções do presidente caso este precise deixar o cargo. "O vice-presidente tem poderes
plenos no comando do País diante de eventual vacância da Presidência ou quando é solicitado pelo
presidente da República para representá-lo em missões internacionais, assinatura de medidas e projetos,
elaboração de políticas públicas. Para ser um vice-presidente, o candidato precisa ser brasileiro nato, ter ao
menos 35 anos de idade, ser filiado a um partido político e possuir o pleno exercício de seus direitos
políticos. Ele é eleito junto do presidente da República, por voto direto e secreto", explica o governo federal.

A socióloga e mestre em Ciência Política Karen Santos afirma que a primeira característica a ser destacada
sobre o vice é o fato de liderar a linha sucessória da presidência. “Ao mesmo tempo, o vice-presidente, por
exemplo, quando convocado poderá auxiliar o presidente na alocação de recursos, orientações sobre política
pública e missões especiais. A constituição federal confere, claramente, apenas o atributo de substituto,
entretanto essa figura não deve ser vista como meramente ilustrativa ou um adorno decorativo”, destaca a
pesquisadora.

De acordo com Karen Santos, a literatura em Ciência Política demonstra que a seleção do candidato ao
cargo é a oportunidade de expansão e adesão do eleitorado, “já que estamos falando sobre uma chapa que
concorre coletivamente em nome de um determinado projeto político”. “Da mesma forma que um vice, seja
no âmbito federal ou estadual poderá assumir permanente ou provisoriamente o cargo de maior importância,
o detalhe está no caráter público e de maior repercussão presente na conjuntura política em que cada caso se
apresenta. Nos bastidores, há uma forte influência de indicação, distribuição de cargos, interferência em
pautas decisórias. Assim como o vice tem especial ligação com o legislativo na formação de coalizão com o
colégio de líderes e partidos de maior destaque”, explica.
32
A professora observa que o cargo de vice geralmente é ocupado por pessoas diplomáticas e apaziguadoras.
Em cidades do interior, a presença do político é mais nítida em função do número de habitantes e das
conexões típicas do município. “De certo que, compor uma chapa não exclui a possibilidade de atritos
futuros entre o titular e o suplente do executivo. A ‘lua de mel’ no campo político pode ser encerrada antes
mesmo do fim do mandato. As variações de contexto socioeconômico também influenciam as tensões
futuras”, demarca.

“O sistema presidencialista de caráter federativo é o pano de fundo a ser analisado, já que a figura do
substituto não está presente no modelo parlamentarista. Nos últimos anos houve um protagonismo do cargo
na América Latina em função de um alto número de vices que assumiram o cargo. No Brasil, recentemente,
um projeto de lei busca ampliar suas atribuições compartilhando decisões na mesma medida que o
presidente. O assunto está presente nos estudos acadêmicos e mostra uma tendência de ampliação cada vez
maior”, conclui Karen Santos.

Em 2016, Michel Temer assumiu a presidência da República após Dilma Rousseff ser alvo de impeachment
por parte do Congresso Federal, tendo como motivo as “pedaladas fiscais”. Assim, Temer foi o caso mais
recente de vice que assumiu o poder. No entanto, outros casos célebres foram o do presidente Café Filho,
que assumiu o cargo após o suicídio de Getúlio Vargas, em 1954; João Goulart, que era vice de Jânio
Quadros, assumiu em 1961, após renúncia do último; José Sarney chegou à presidência após a morte de
Tancredo Neves, em 1985; e Itamar Franco assumiu após o impeachment de Fernando Collor, em 1992.

Casos de vices :

- Em 2017, uma Emenda Constitucional na Câmara Federal foi apresentada para extinção da figura do vice,
mas acabou sendo rejeitada.

- Em 2016, Dilma Roussef sofreu processo de impeachment. O vice-presidente Michel Temer assumiu.

- No Pará, em 1994, com a saída do poder do então governador Jader Barbalho para a disputa ao Senado,
assumiu o vice-governador Carlos Santos.

- Itamar Franco, José Sarney e João Goulart foram vices que também viraram presidente.

De acordo com Karen Santos, a literatura em Ciência Política demonstra que a seleção do candidato ao
cargo é a oportunidade de expansão e adesão do eleitorado, “já que estamos falando sobre uma chapa que
concorre coletivamente em nome de um determinado projeto político”. “Da mesma forma que um vice, seja
no âmbito federal ou estadual poderá assumir permanente ou provisoriamente o cargo de maior importância,
o detalhe está no caráter público e de maior repercussão presente na conjuntura política em que cada caso se
apresenta. Nos bastidores, há uma forte influência de indicação, distribuição de cargos, interferência em
pautas decisórias. Assim como o vice tem especial ligação com o legislativo na formação de coalizão com o
colégio de líderes e partidos de maior destaque”, explica.

A professora observa que o cargo de vice geralmente é ocupado por pessoas diplomáticas e apaziguadoras.
Em cidades do interior, a presença do político é mais nítida em função do número de habitantes e das
conexões típicas do município. “De certo que, compor uma chapa não exclui a possibilidade de atritos
futuros entre o titular e o suplente do executivo. A ‘lua de mel’ no campo político pode ser encerrada antes
mesmo do fim do mandato. As variações de contexto socioeconômico também influenciam as tensões
futuras”, demarca.

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“O sistema presidencialista de caráter federativo é o pano de fundo a ser analisado, já que a figura do
substituto não está presente no modelo parlamentarista. Nos últimos anos houve um protagonismo do cargo
na América Latina em função de um alto número de vices que assumiram o cargo. No Brasil, recentemente,
um projeto de lei busca ampliar suas atribuições compartilhando decisões na mesma medida que o
presidente. O assunto está presente nos estudos acadêmicos e mostra uma tendência de ampliação cada vez
maior”, conclui Karen Santos.

O cargo do vice na política brasileira tem destaque em grande parte da história recente

Desde os primeiros anos da República, a figura do vice passa de coadjuvante a protagonista

As matérias e comentários especulativos sobre os políticos que devem ocupar o cargo de vice nas chapas à
presidência da República nas eleições deste ano demonstram o interesse da opinião pública no cargo, que
vem protagonizando reviravoltas no campo político desde o início da República. Em 1891, apenas dois anos
após o início da chamada República Velha, o marechal Deodoro da Fonseca renunciou à presidência como
consequência da Revolta da Armada. Assim, Floriano Peixoto, o vice-presidente, foi promovido ao cargo
máximo da República, o que fez dele o segundo presidente da história do Brasil. Nos períodos seguintes,
outras vezes os vices assumiram a chefia do Poder Executivo, seja devido ao falecimento de um presidente,
afastamento em razão de saúde ou renúncia em tempos de crise política.

No Pará, em 1994, com a saída do poder do então governador Jader Barbalho para a disputa ao Senado,
assumiu o poder o vice-governador Carlos Santos. Nas prévias de 1990, Carlos Santos aparecia com 14,8 %
com intenções de votos, quando recebeu e aceitou o convite do então candidato ao governo, Jader Barbalho.
Após a saída de Jader, Carlos Santos fez uma gestão em que defendia o plano de fixar o trabalhador na terra,
evitando o êxodo rural, política intitulada Pará-Rural.

O segundo capítulo da Constituição Federal, entre os artigos 76 e 91, define o vice como aquele que deve
cumprir todas as funções do presidente caso este precise deixar o cargo. "O vice-presidente tem poderes
plenos no comando do País diante de eventual vacância da Presidência ou quando é solicitado pelo
presidente da República para representá-lo em missões internacionais, assinatura de medidas e projetos,
elaboração de políticas públicas. Para ser um vice-presidente, o candidato precisa ser brasileiro nato, ter ao
menos 35 anos de idade, ser filiado a um partido político e possuir o pleno exercício de seus direitos
políticos. Ele é eleito junto do presidente da República, por voto direto e secreto", explica o governo federal.

A socióloga e mestre em Ciência Política Karen Santos afirma que a primeira característica a ser destacada
sobre o vice é o fato de liderar a linha sucessória da presidência. “Ao mesmo tempo, o vice-presidente, por
exemplo, quando convocado poderá auxiliar o presidente na alocação de recursos, orientações sobre política
pública e missões especiais. A constituição federal confere, claramente, apenas o atributo de substituto,
entretanto essa figura não deve ser vista como meramente ilustrativa ou um adorno decorativo”, destaca a
pesquisadora.

De acordo com Karen Santos, a literatura em Ciência Política demonstra que a seleção do candidato ao
cargo é a oportunidade de expansão e adesão do eleitorado, “já que estamos falando sobre uma chapa que
concorre coletivamente em nome de um determinado projeto político”. “Da mesma forma que um vice, seja
no âmbito federal ou estadual poderá assumir permanente ou provisoriamente o cargo de maior importância,
o detalhe está no caráter público e de maior repercussão presente na conjuntura política em que cada caso se
apresenta. Nos bastidores, há uma forte influência de indicação, distribuição de cargos, interferência em
pautas decisórias. Assim como o vice tem especial ligação com o legislativo na formação de coalizão com o
colégio de líderes e partidos de maior destaque”, explica.
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A professora observa que o cargo de vice geralmente é ocupado por pessoas diplomáticas e apaziguadoras.
Em cidades do interior, a presença do político é mais nítida em função do número de habitantes e das
conexões típicas do município. “De certo que, compor uma chapa não exclui a possibilidade de atritos
futuros entre o titular e o suplente do executivo. A ‘lua de mel’ no campo político pode ser encerrada antes
mesmo do fim do mandato. As variações de contexto socioeconômico também influenciam as tensões
futuras”, demarca.

“O sistema presidencialista de caráter federativo é o pano de fundo a ser analisado, já que a figura do
substituto não está presente no modelo parlamentarista. Nos últimos anos houve um protagonismo do cargo
na América Latina em função de um alto número de vices que assumiram o cargo. No Brasil, recentemente,
um projeto de lei busca ampliar suas atribuições compartilhando decisões na mesma medida que o
presidente. O assunto está presente nos estudos acadêmicos e mostra uma tendência de ampliação cada vez
maior”, conclui Karen Santos.

Em 2016, Michel Temer assumiu a presidência da República após Dilma Rousseff ser alvo de impeachment
por parte do Congresso Federal, tendo como motivo as “pedaladas fiscais”. Assim, Temer foi o caso mais
recente de vice que assumiu o poder. No entanto, outros casos célebres foram o do presidente Café Filho,
que assumiu o cargo após o suicídio de Getúlio Vargas, em 1954; João Goulart, que era vice de Jânio
Quadros, assumiu em 1961, após renúncia do último; José Sarney chegou à presidência após a morte de
Tancredo Neves, em 1985; e Itamar Franco assumiu após o impeachment de Fernando Collor, em 1992.

Casos de vices :

- Em 2017, uma Emenda Constitucional na Câmara Federal foi apresentada para extinção da figura do vice,
mas acabou sendo rejeitada.

- Em 2016, Dilma Roussef sofreu processo de impeachment. O vice-presidente Michel Temer assumiu.

- No Pará, em 1994, com a saída do poder do então governador Jader Barbalho para a disputa ao Senado,
assumiu o vice-governador Carlos Santos.

- Itamar Franco, José Sarney e João Goulart foram vices que também viraram presidente.

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