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INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA CIÊNCIA

POLÍTICA E TEORIA GERAL DO ESTADO

Prof. Rodrigo R. Del Papa

“O maior castigo para aqueles que não


se interessam por política é que serão
governados pelos que se interessam”

(Platão)

1.0 - NOÇÕES PRELIMINARES

1.1 - CIÊNCIA POLÍTICA OU TEORIA GERAL DO ESTADO

A precisa distinção entre os conceitos de ciência e filosofia é tema que ocupou e ocupa
a mente de muitos estudiosos do classicismo grego aos pensadores contemporâneos
não se pode afirmar que exista um consenso sobre as delimitações precisas desses
conceitos.

Imannuel Kant descreve ciência como sendo uma toda série de conhecimentos que
podem ser organizados mediante princípios.

Herbert Spencer, cita três variantes do conhecimento:

➔ Conhecimento não unificado - empírico ou popular

➔ Conhecimento parcialmente unificado - científico

➔ Conhecimento totalmente generalizado - filosófico

Com o advento da teoria positivista, encabeçada por Auguste Comte, a ciência


assumiria um papel de destaque em relação à filosofia uma vez que esta se refere a um
conhecimento metafísico, já a ciência provém de observação concreta.

Para Comte a sociologia faz parte das ciências fundamentais:

➔ Matemática

➔ Astronomia,

➔ Física,

1
➔ Química,

➔ Biologia

➔ Sociologia.

➔ Moral (acrescentada posteriormente)

Tal classificação das ciências, contudo, não é um terreno pacífico, pois, para os
idealistas em alguns ramos da ciência o entrelaçamento do mudo natural com o mundo
da consciência interna pode desmantelar a precisão matemática necessária para a
caracterização de uma ciência como ciência natural.

Todavia, para não alongar mais esse profundo debate filosófico, para o momento resta
concluir, na precisa lição do professor Paulo Bonavides, que tal diferenciação levada
tão distante pelos pensadores do passado recente e mesmo do presente demonstra
claramente a distinção de dois mundos, o da natureza e o da sociedade.

No mundo da natureza há leis naturais, fixas, permanentes, eternas, imutáveis com toda
a inviolabilidade do determinismo físico-mecânico.

Já no mundo da sociedade a mutação constante da evolução social opera numa


constante de mudanças, diferenciações e desenvolvimento.

A ciência política, por sua vez, figura com protagonismo no que acima se chamou de
mundo da sociedade ou mundo social, uma vez que tal ciência tem seu campo de estudo
na sociedade humana.

Assim, essa ciência sofre com a efemeridade e a enorme variação do significado dos
conceitos que envolvem o objeto de pesquisa do cientista social, a exemplo o termo
"democracia" que assume contornos diferentes em cada país ou época em que se
apresenta.

Além disso, o caráter mutante das relações humanas confere um contorno inédito a
cada fenômeno social estudado.

Sobretudo, o cientista político enfrenta ainda a enorme dificuldade de neutralizar seus


preconceitos pessoais nas análises dos fenômenos sociais estudados, por mais que se
esforce, nunca será capaz de captar um fato que esteja sob sua análise de forma
totalmente imparcial e divorciado de seus conceitos pré formados constantes de seu
patrimônio cultural anterior.

Desta feita pode-se dizer que a ciência política assume três faces, ou prismas, conforme
lição do professor Paulo Bonavides, a saber:

➔ Prisma Filosófico

➔ Prisma sociológico

➔ Prisma Jurídico

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Na dimensão filosófica busca a ciência política a análise da origem, da essência, da
justificação e finalidade do Estado, bem como dos demais institutos sociais que
gerenciam o fenômeno do poder na sociedade.

Tem, portanto, um ponto de vista sobre a essência do “ser” em torno do controle social
exercido pelo titular do poder político na sociedade, qual seja na sociedade atual o
Estado.

Sob o viés Sociológico, a ciência política assume um papel de política científica,


tentando buscar a racionalização do poder político, e legitimação das bases que
fundamentam a organização da sociedade no Estado, perquirindo sobre a influência e
a natureza do aparelho burocrático estatal, o regime político.

Por fim, no prisma Jurídico, a ciência política tem como objeto de estudo o Direito
Político, ou seja, o conjunto normativo que sistematiza o Estado.

Sob o ponto de vista exclusivamente jurídico, Kelsen esculpe uma Teoria Geral do
Estado fundamentando seu estudo na lei como sendo a fonte dos fenômenos políticos,
assimila o Estado ao Direito, inspirado no formalismo de Kant afirma que o Estado
pertence ao universo do “dever ser”.

Foi de Kelsen o mérito de se afastar de vez da organização estatal conceitos morais,


éticos, históricos e sociológicos, criando um conceito de Estado como expressão de
formalismo jurídico constitutivo do direito puro, sendo, portanto, o Estado mero fruto da
constituição como sendo o conjunto de normas que sistematizam o Estado.

A Alemanha nazista mostrou ao mundo as piores consequências de um positivismo


normativista, à maneira kelseniana.

Atualmente a ciência política abarca de forma global todas essas faces apresentadas
segundo a teoria do professor Bonavides, sendo que o campo de atuação incluiria uma
análise de forma tridimensional considerando pontos de vista sociológico, filosófico e
jurídico do fenômeno social a ser estudado.

Dessa forma, considerando o Estado sob o ponto de vista da tridimensionalidade


(aspectos filosóficos, sociológicos e jurídicos) poderia assim considerar que a Teoria
Geral do Estado seria um sinônimo de ciência política.

No Brasil a disciplina Teoria Geral do Estado surge por imposição da ditadura visando
romper a resistência das escolas à implementação da constituição de 1937.

Na atualidade, os termos Ciência Política e Teoria Geral do Estado designam disciplinas


que atuam na mesma área e que possuem o mesmo objeto de estudo, assim, seria a
mesma matéria, apenas com nomes distintos, sendo que no meio jurídico ainda é mais
popular o termo “Teoria Geral do Estado”.

Considerando-se a “Lei” como a expressão material da vontade do Estado e sendo a


mesma o objeto de trabalho do bacharel em direito é de suma importância portanto,
que este profissional tenha uma sólida formação sobre os princípios e fundamentos da
sociedade, por consequência do Estado, e particularmente do Direito e da relação
destes institutos.

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1.2 - TEORIA GERAL DO ESTADO OBJETO E MÉTODO

Segundo Edgar Bodenheimer, os juristas precisam conhecer bem as instituições e os


problemas da sociedade, assim a formação jurídica deve transcender o conhecimento
das leis e sua aplicação para entranhar os meandros da sociedade humana.1

O Direito não é um compartimento fechado e autossuficiente da ciência social, não


existe isolado ou sequer pode ser imaginado separado dos demais aspectos complexos
da sociedade humana.

Assim, para a formação jurídica universitária, ou universal, se faz necessário a


compreensão de matérias jurídicas e também de disciplinas que ultrapassem a barreira
da mera interpretação legislativa, como é o caso da Teoria Geral do Estado que
ultrapassa a análise dos limites dos aspectos jurídicos do Estado e cuida de estudar
também aspectos não-jurídicos dessa entidade, transcendendo assim o campo da
Ciência do direito e adentrando em diversos outros campos das ciências que cuidam de
estudar o fenômeno da sociedade humana.

Pode por assim dizer, como bem afirma o professor Dalari, que a Teoria Geral do Estado
é uma disciplina que sintetiza conhecimentos jurídicos, sociológicos, políticos,
antropológicos, históricos, econômicos e até psicológicos, buscando aperfeiçoar o
estudo, a compreensão e funcionamento do Estado para que este possa atingir as suas
finalidades de forma justa e eficaz.

A disciplina Teoria Geral do Estado, apesar de estar presentes em escritos quase pré
históricos, uma vez que a base de sustentação do conceito de Estado nos remonta aos
clássicos gregos e flexibilizando um pouco certos conceitos a tempos anteriores aos
egípcios, somente no Século XIX com o jurista alemão Georg Jellinek, fundador do
Direito Público alemão, é que a Teoria Geral do Estado se tornou uma disciplina
independente.

Antes, porém trilhou caminhos tortuosos desde os primeiros escritos dos clássicos
gregos, como Platão e Aristóteles, e depois na idade média com os grandes santos
filósofos, como Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino. Já no século XIV, com
escritos de Marsílio de Pádua precursor da moderna ideologia totalitária (Defensor Pacis
- 1324) e depois com o pequeno grande texto histórico de Nicolau Maquiavel “O
Príncipe”, seguido do Leviatã de Thomas Hobbes, Tratado sobre o Governo Civil de
John Locke, O Espírito das Leis de Montesquieu e por fim o Contrato Social de Jean-
Jacques Rousseau.

A Teoria Geral do Estado é uma disciplina eminentemente teórica e especulativa, seu


objeto de pesquisa não é a análise de um Estado concreto, específico, mas trata-se do
estudo do Estado em abstrato, como instituição universal, sob os mais variados pontos
de vista, como origem, evolução, organização e ideologias políticas.

1
(BODENHEIMER, 1966)

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Com base na precisa descrição do professor Paulo Jorge de Lima, pode-se dizer que a
Teoria Geral do Estado é uma disciplina de caráter teórico e geral, que tem por objeto
de estudo o Estado como fenômeno social e histórico, sob o aspecto econômico-social
bem como no tocante às suas formas jurídicas e, inclusive, levando em consideração
todas suas manifestações político-ideológicas.

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