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CIENTÍFICA
Professora:
Me. Lilian Chirnev
DIREÇÃO
03 13| NEO-INSTITUCIONALISMO
POLÍTICA E A ABORDAGEM CIENTÍFICA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
•• Conhecer os conceitos de política.
•• Apropriar-se da política enquanto Ciência.
•• Assimilar os avanços nas análises sobre o fenômeno político.
PLANO DE ESTUDO
Caro (a) aluno (a), seja bem-vindo (a) ao início dos nossos estudos sobre
Instituições Políticas no Brasil Contemporâneo. Neste encontro, vamos começar
nosso aprendizado a partir da gênese da discussão de nossa disciplina, a políti-
ca. A opção por essa análise é para fundamentar todas as demais contribuições
a serem apresentadas pelas diversas disciplinas que compõem nossas análises,
como história, filosofia, antropologia, sociologia, entre outras.
Com a delimitação da política, vamos avançar e resgatar a questão histórica
do desenvolvimento metodológico e teórico dos estudos sobre o fenômeno
político, apresentando como a institucionalização da política foi ela própria
capaz de tornar-se central na análise sobre o comportamento político. Em outras
palavras, definir como a evolução da política e a sua institucionalização desen-
cadearam a indução dos resultados políticos, ou seja, a instituição tornou-se
central enquanto objeto desencadeador de restrição e/ou de influência direta
das ações dos indivíduos.
E, por fim, concluímos nosso encontro com a perspectiva teórica sobre o
conceito de instituições políticas na Ciência Política. A contribuição apresentada
é do pensamento dos autores Peter Hall e Rosemary Taylor (2003), destacando
a essa corrente do pensamento pelo menos três métodos de análise diferentes:
o institucionalismo histórico, o institucionalismo da escolha racional e o insti-
tucionalismo sociológico.
Ao final deste encontro, nós estaremos aptos a definir como a política surge,
como a política é institucionalizada e a importância do fenômeno da institucio-
nalização no direcionamento de todo o processo decisório dos atores políticos,
bem como as análises sobre tais formas de influência. Essa é a base inicial que
nos qualifica para buscarmos novos conhecimentos e ampliarmos as nossas
análises científicas nos estudos subsequentes.
Boa Aula!!
introdução
6 Pós-Universo
Política
Iniciar nossos estudos sobre política não é tarefa fácil, mas com toda certeza é fas-
cinante. A política e suas atribuições de significados, seja nas acepções eruditas,
modernas, históricas, econômicas, sociológicas ou mesmo etimológicas, nos instiga
no mínimo a descobrirmos a razão pela qual uma mesma palavra pode ter tantas
atribuições. Mas, na nossa disciplina, vamos nos ater, a princípio, à interpretação his-
tórica, antropológica e filosófica da origem e do sentido essencial da política.
Marilena Chauí (2000) evidencia que foram os gregos que iniciaram a prática de
tomada de decisões coletivas. A partir de debates públicos em assembleias públi-
cas, o voto constituía a vontade da maioria. A política, nesse sentido, deriva do grego
polis, que designa cidade organizada por instituições e leis. Essas instituições políticas
eram as próprias assembleias e tribunais, que por sua vez criaram a ideia de regras e
leis como pensamentos sistemáticos de valores universais.
A polis marca o surgimento do espaço comum, público. É a cidade política em
que a palavra constitui o direito de cada indivíduo de emitir sua opinião e debatê-
-la, compartilhando suas razões. A política surge como um sinônimo de valorização
do pensamento humano, de pensamento racional e, dessa forma, estruturou con-
dições favoráveis ao discurso ou, como define Chauí (2000), a palavra filosófica. Nas
demais sociedades não gregas e orientais da época, a única forma de governo e
poder existente era exercido por meio de um pequeno grupo de homens, impondo
suas vontades à maioria.
Mas o homem, assim como definiu Aristóteles, é um animal político por natureza.
Por isso, dotado de razão e discurso, o homem convive com seu semelhante em seu
ambiente natural, a cidade, a polis, onde todas as comunidades se tornam uma, a co-
munidade política. Essa é a razão pela qual a política é a essência para a criação dos
sistemas sociais, ou seja, a política é o alicerce da criação de modelos institucionais e
estes, portanto, são as estruturas responsáveis por gerir uma determinada sociedade.
A política “consiste no conjunto de procedimentos formais e informais que expres-
sam relações de poder e que se destinam à resolução pacífica dos conflitos quanto
a bens públicos” (RUA, p.1, 1997). A política é a relação estabelecida entre as pessoas,
independentemente de suas opiniões e interesses, para debater ideias sobre determi-
nada questão, mesmo com potencial conflito, para chegar a um possível consenso,
garantir e atender a uma finalidade estabelecida, sem comprometer a manutenção
do desenvolvimento social.
8 Pós-Universo
Rua (1997) destaca ainda a distinção social ser considerada uma das principais
características das sociedades modernas. Essa diferenciação implica em uma con-
vivência complexa, envolvendo competição e cooperação nas diversas áreas de
interação entre os grupos. A política é o meio pacífico de regular as relações e limitar
os embates. Assim, quando relacionamos política às instituições políticas, precisa-
mos compreender que grupos, representados pelos seus atores sociais, elaboraram
modelos institucionais para atender seus interesses.
As instituições e suas regras formais e informais, portanto, influenciam e alteram
as alternativas políticas em questão. Nas relações entre os indivíduos e grupos, a ins-
tância institucional política representa a formalização de determinado regulamento,
para estabelecer a forma como o jogo político será organizado em determinada so-
ciedade, seja para gerir as relações sociais, políticas, econômicas ou mesmo de poder.
O que descrevemos no decorrer do início dessa aula sobre a origem da política
foi inspirado na Filosofia Política. No entanto, quando a referência sobre política é a
sua institucionalização e seus fenômenos, o nosso enfoque de análise avança sob
o viés da Ciência Política, foco principal da nossa disciplina. Segundo Peres (2008),
alguns questionamentos se inserem nesse contexto, principalmente em relação à
razão pela qual as decisões políticas são determinadas. O especialista coloca a se-
guinte pergunta, também muito efetiva para esta nossa fase de estudos: “As decisões
políticas são o resultado direto das preferências de indivíduos que agem isoladamen-
te e de forma egoísta ou são processos induzidos por instituições políticas e sociais
que regulam as escolhas coletivas?” (PERES, 2008).
Essas duas possibilidades de questionamento foram centrais durante o desenvol-
vimento da Ciência Política no início do século XX. Essas duas distintas abordagens
teóricas foram denominadas de institucionalismo e comportamentalismo. O institu-
cionalismo atrelava as decisões políticas a um processo induzido pelas instituições
políticas e sociais, e o comportamentalismo justificava as decisões políticas a partir
de preferências individuais, como ações isoladas e egoístas.
Após anos de embate, uma nova abordagem surgiu na análise do fenômeno po-
lítico. Essa 1‘nova’ versão tem sido quase consenso entre os especialistas nos últimos
quarenta anos, o neo-institucionalismo (PERES, 2008), tema das nossas próximas aulas.
1
O uso das aspas simples (‘’) nesse livro é para referenciar expressões, termos, metáforas e ideias. O uso
das aspas duplas (“”) é somente para citações de outros autores.
Pós-Universo 9
atenção
Sobre o homem, assim como definiu Aristóteles, ser um animal político
por natureza, é importante evidenciar essa afirmação para especificar qual
seja a natureza por ele apresentada. No artigo “O paradoxo da sociabilida-
de na reflexão de Rousseau”, o professor do departamento de filosofia da
Universidade Estadual de Londrina (UEL), Arlei de Espíndola, para justificar
que o ser humano é sociável por natureza cita Platão, que considera, em A
república, que a mola propulsora para o homem fazer-se inclinado à vida
em sociedade reside basicamente na “necessidade”.
Espíndola destaca que Aristóteles vale-se desse mesmo entendimento de
que o homem é pressionado pela “necessidade”, na medida em que seria
impotente sozinho, para pensar o início da vida política. O ser humano não
nasce, para Aristóteles, exatamente pronto. O caso é que o autor contem-
pla a ideia de “natureza” conectando-a à noção de “finalidade” e, assim, pode
pensar tanto a existência da sociedade como a presença do homem en-
quanto um ser político estabelecido desde o princípio da História.
ESPÍNDOLA, A. O paradoxo da sociabilidade na reflexão de Rousseau.
Cadernos de Ética e Filosofia Política da Universidade de São Paulo (USP), n.
16, 2010. São Paulo.
10 Pós-Universo
Nova Abordagem do
Fenômeno Político
saiba mais
Marilena Chauí nos esclarece sobre ser possível conceder à política três sig-
nificados principais inter-relacionados:
1. o significado de governo, entendido como direção e administração do
poder público, sob a forma do Estado. “A política, portanto, é à ação dos
governantes que detêm a autoridade para dirigir a coletividade organi-
zada sob a forma de Estado”.
2. o significado de atividade realizada por especialistas, “como adminis-
tradores e profissionais (os políticos), pertencentes a um certo tipo de
organização sociopolítica (os partidos), que disputam o direito de go-
vernar, ocupando cargos e postos no Estado”.
3. o significado, derivado do segundo sentido, “usado como expressão de
conduta duvidosa, cheia de interesses particulares dissimulados e fre-
quentemente contrários aos interesses gerais da sociedade e obtidos
por meios ilícitos ou ilegítimos”. Este terceiro significado é considerado
o mais frequente para o senso comum social e resulta na depreciação
da política.
Fonte: CHAUI, M. (2000).
Pós-Universo 13
Neo-Institucionalismo
reflita
“É a família, portanto, o primeiro modelo das sociedades políticas; o chefe
é a imagem do pai, o povo a imagem dos filhos, e havendo nascido todos
livres e iguais, não alienam a liberdade a não ser em troca da sua utilida-
de. Toda a diferença consiste em que, na família, o amor do pai pelos filhos
o compensa dos cuidados que estes lhe dão, ao passo que, no Estado, o
prazer de comandar substitui o amor que o chefe não sente por seus povos”.
(Jean Jacques Rousseau).
atividades de estudo
a) Sociológico.
b) Calculista.
c) Refratário.
d) Escolha racional.
e) Histórico.
Neste encontro, iniciamos nossos estudos com a política e sua relação institucional. A ênfase
inicial foi a gênese da política, como sendo o direito de cada indivíduo de emitir sua opinião
e debatê-la, compartilhando suas razões. Podemos compreender, nesse sentido, a políti-
ca como um sinônimo de valorização do pensamento humano, das relações estabelecida
entre as pessoas, mesmo com opiniões e interesses distintos, para debater ideias e chegar
a um possível consenso, sem comprometer a manutenção do desenvolvimento social.
Outras duas questões foram acrescidas nos nossos estudos iniciais para questionar como
são tomadas as decisões políticas, ou seja, as decisões políticas são o resultado direto de
preferências individuais ou são processos de escolhas induzidas por instituições políticas e
sociais. Essas duas perguntas desencadearam distintas abordagens teóricas para explicar
o fenômeno político, sendo para a primeira questão a abordagem chamada de comporta-
mentalismo e, para a segunda questão, o institucionalismo.
Após anos de embate entre os pesquisadores sobre qual abordagem seria mais adequada,
um novo paradigma foi construído com os ‘pontos positivos’ de cada uma dessas teorias,
culminando no neo-institucionalismo. Uma composição entre o comportamentalismo e
o antigo institucionalismo, mantendo a centralidade das instituições na explicação do fe-
nômeno político, preservando o rigor teórico científico.
Por isso, a nossa proposta na unidade a seguir é utilizar essas abordagens teóricas já apre-
sentadas como uma base para nos conectar à trajetória histórica das instituições políticas
brasileiras até culminar na sua contemporaneidade. Portanto, mesmo não sendo objeto de
nossa análise, vamos acrescentar às nossas reflexões e estudos a questão da historicidade
do sistema político nacional, em especial os sistemas eleitoral e partidário, a partir de alguns
fatores selecionados para descrever os processos de desenvolvimento político no Brasil.
material complementar
HALL, P.; TAYLOR, R. As três versões do neo-institucionalismo. Lua Nova. 2003, n.58, pp.
193-223. ISSN 0102-6445.
RUA, M. Análise de Políticas Públicas: Conceitos Básicos. Texto elaborado para o curso
de formação para carreira de especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental.
Brasília: ENAP/Ministério do Planejamento, 1997.
SOUZA, C. Políticas Públicas: Uma revisão de literatura. Sociologias, Porto Alegre, ano
8, n. 16, jul./dez. 2006, p.20-45.
1. e) Histórico.
(Hall e Taylor (2003) destacam três métodos diferentes para explicar e analisar o ins-
titucionalismo: o institucionalismo histórico, o institucionalismo da escolha racional
e o institucionalismo sociológico).