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POLÍTICA E A ABORDAGEM

CIENTÍFICA
Professora:
Me. Lilian Chirnev
DIREÇÃO

Reitor Wilson de Matos Silva


Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva
Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi

NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

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Editoração Produção de Materiais
Qualidade Textual Alisson Pepato

C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação


a Distância; CHIRNEV, Lilian;

Instituições Políticas no Brasil Contemporâneo. Lilian
Chirnev;
Maringá-Pr.: UniCesumar, 2017.
23 p.
“Pós-graduação Universo - EaD”.
1. Instituições Políticas. 2. Brasil Contemporâneo. 3. EaD. I.
Título.

CDD - 22 ed. 306


CIP - NBR 12899 - AACR/2

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obtidas a partir do site shutterstock.com

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sumário
01 06| POLÍTICA

02 10| NOVA ABORDAGEM DO FENÔMENO POLÍTICO

03 13| NEO-INSTITUCIONALISMO
POLÍTICA E A ABORDAGEM CIENTÍFICA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
•• Conhecer os conceitos de política.
•• Apropriar-se da política enquanto Ciência.
•• Assimilar os avanços nas análises sobre o fenômeno político.

PLANO DE ESTUDO

A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:


•• Política
•• Nova abordagem do fenômeno político
•• Neo-institucionalismo
INTRODUÇÃO

Caro (a) aluno (a), seja bem-vindo (a) ao início dos nossos estudos sobre
Instituições Políticas no Brasil Contemporâneo. Neste encontro, vamos começar
nosso aprendizado a partir da gênese da discussão de nossa disciplina, a políti-
ca. A opção por essa análise é para fundamentar todas as demais contribuições
a serem apresentadas pelas diversas disciplinas que compõem nossas análises,
como história, filosofia, antropologia, sociologia, entre outras.
Com a delimitação da política, vamos avançar e resgatar a questão histórica
do desenvolvimento metodológico e teórico dos estudos sobre o fenômeno
político, apresentando como a institucionalização da política foi ela própria
capaz de tornar-se central na análise sobre o comportamento político. Em outras
palavras, definir como a evolução da política e a sua institucionalização desen-
cadearam a indução dos resultados políticos, ou seja, a instituição tornou-se
central enquanto objeto desencadeador de restrição e/ou de influência direta
das ações dos indivíduos.
E, por fim, concluímos nosso encontro com a perspectiva teórica sobre o
conceito de instituições políticas na Ciência Política. A contribuição apresentada
é do pensamento dos autores Peter Hall e Rosemary Taylor (2003), destacando
a essa corrente do pensamento pelo menos três métodos de análise diferentes:
o institucionalismo histórico, o institucionalismo da escolha racional e o insti-
tucionalismo sociológico.
Ao final deste encontro, nós estaremos aptos a definir como a política surge,
como a política é institucionalizada e a importância do fenômeno da institucio-
nalização no direcionamento de todo o processo decisório dos atores políticos,
bem como as análises sobre tais formas de influência. Essa é a base inicial que
nos qualifica para buscarmos novos conhecimentos e ampliarmos as nossas
análises científicas nos estudos subsequentes.
Boa Aula!!

introdução
6 Pós-Universo

Política

Figura 1: Política é o meio para garantir o bem comum.


Pós-Universo 7

Iniciar nossos estudos sobre política não é tarefa fácil, mas com toda certeza é fas-
cinante. A política e suas atribuições de significados, seja nas acepções eruditas,
modernas, históricas, econômicas, sociológicas ou mesmo etimológicas, nos instiga
no mínimo a descobrirmos a razão pela qual uma mesma palavra pode ter tantas
atribuições. Mas, na nossa disciplina, vamos nos ater, a princípio, à interpretação his-
tórica, antropológica e filosófica da origem e do sentido essencial da política.
Marilena Chauí (2000) evidencia que foram os gregos que iniciaram a prática de
tomada de decisões coletivas. A partir de debates públicos em assembleias públi-
cas, o voto constituía a vontade da maioria. A política, nesse sentido, deriva do grego
polis, que designa cidade organizada por instituições e leis. Essas instituições políticas
eram as próprias assembleias e tribunais, que por sua vez criaram a ideia de regras e
leis como pensamentos sistemáticos de valores universais.
A polis marca o surgimento do espaço comum, público. É a cidade política em
que a palavra constitui o direito de cada indivíduo de emitir sua opinião e debatê-
-la, compartilhando suas razões. A política surge como um sinônimo de valorização
do pensamento humano, de pensamento racional e, dessa forma, estruturou con-
dições favoráveis ao discurso ou, como define Chauí (2000), a palavra filosófica. Nas
demais sociedades não gregas e orientais da época, a única forma de governo e
poder existente era exercido por meio de um pequeno grupo de homens, impondo
suas vontades à maioria.
Mas o homem, assim como definiu Aristóteles, é um animal político por natureza.
Por isso, dotado de razão e discurso, o homem convive com seu semelhante em seu
ambiente natural, a cidade, a polis, onde todas as comunidades se tornam uma, a co-
munidade política. Essa é a razão pela qual a política é a essência para a criação dos
sistemas sociais, ou seja, a política é o alicerce da criação de modelos institucionais e
estes, portanto, são as estruturas responsáveis por gerir uma determinada sociedade.
A política “consiste no conjunto de procedimentos formais e informais que expres-
sam relações de poder e que se destinam à resolução pacífica dos conflitos quanto
a bens públicos” (RUA, p.1, 1997). A política é a relação estabelecida entre as pessoas,
independentemente de suas opiniões e interesses, para debater ideias sobre determi-
nada questão, mesmo com potencial conflito, para chegar a um possível consenso,
garantir e atender a uma finalidade estabelecida, sem comprometer a manutenção
do desenvolvimento social.
8 Pós-Universo

Rua (1997) destaca ainda a distinção social ser considerada uma das principais
características das sociedades modernas. Essa diferenciação implica em uma con-
vivência complexa, envolvendo competição e cooperação nas diversas áreas de
interação entre os grupos. A política é o meio pacífico de regular as relações e limitar
os embates. Assim, quando relacionamos política às instituições políticas, precisa-
mos compreender que grupos, representados pelos seus atores sociais, elaboraram
modelos institucionais para atender seus interesses.
As instituições e suas regras formais e informais, portanto, influenciam e alteram
as alternativas políticas em questão. Nas relações entre os indivíduos e grupos, a ins-
tância institucional política representa a formalização de determinado regulamento,
para estabelecer a forma como o jogo político será organizado em determinada so-
ciedade, seja para gerir as relações sociais, políticas, econômicas ou mesmo de poder.
O que descrevemos no decorrer do início dessa aula sobre a origem da política
foi inspirado na Filosofia Política. No entanto, quando a referência sobre política é a
sua institucionalização e seus fenômenos, o nosso enfoque de análise avança sob
o viés da Ciência Política, foco principal da nossa disciplina. Segundo Peres (2008),
alguns questionamentos se inserem nesse contexto, principalmente em relação à
razão pela qual as decisões políticas são determinadas. O especialista coloca a se-
guinte pergunta, também muito efetiva para esta nossa fase de estudos: “As decisões
políticas são o resultado direto das preferências de indivíduos que agem isoladamen-
te e de forma egoísta ou são processos induzidos por instituições políticas e sociais
que regulam as escolhas coletivas?” (PERES, 2008).
Essas duas possibilidades de questionamento foram centrais durante o desenvol-
vimento da Ciência Política no início do século XX. Essas duas distintas abordagens
teóricas foram denominadas de institucionalismo e comportamentalismo. O institu-
cionalismo atrelava as decisões políticas a um processo induzido pelas instituições
políticas e sociais, e o comportamentalismo justificava as decisões políticas a partir
de preferências individuais, como ações isoladas e egoístas.
Após anos de embate, uma nova abordagem surgiu na análise do fenômeno po-
lítico. Essa 1‘nova’ versão tem sido quase consenso entre os especialistas nos últimos
quarenta anos, o neo-institucionalismo (PERES, 2008), tema das nossas próximas aulas.

1
O uso das aspas simples (‘’) nesse livro é para referenciar expressões, termos, metáforas e ideias. O uso
das aspas duplas (“”) é somente para citações de outros autores.
Pós-Universo 9

atenção
Sobre o homem, assim como definiu Aristóteles, ser um animal político
por natureza, é importante evidenciar essa afirmação para especificar qual
seja a natureza por ele apresentada. No artigo “O paradoxo da sociabilida-
de na reflexão de Rousseau”, o professor do departamento de filosofia da
Universidade Estadual de Londrina (UEL), Arlei de Espíndola, para justificar
que o ser humano é sociável por natureza cita Platão, que considera, em A
república, que a mola propulsora para o homem fazer-se inclinado à vida
em sociedade reside basicamente na “necessidade”.
Espíndola destaca que Aristóteles vale-se desse mesmo entendimento de
que o homem é pressionado pela “necessidade”, na medida em que seria
impotente sozinho, para pensar o início da vida política. O ser humano não
nasce, para Aristóteles, exatamente pronto. O caso é que o autor contem-
pla a ideia de “natureza” conectando-a à noção de “finalidade” e, assim, pode
pensar tanto a existência da sociedade como a presença do homem en-
quanto um ser político estabelecido desde o princípio da História.
ESPÍNDOLA, A. O paradoxo da sociabilidade na reflexão de Rousseau.
Cadernos de Ética e Filosofia Política da Universidade de São Paulo (USP), n.
16, 2010. São Paulo.
10 Pós-Universo

Nova Abordagem do
Fenômeno Político

Figura 2: A força das instituições no processo de decisão política.


Pós-Universo 11

O paradigma neo-institucional é atualmente preponderante na Ciência Política (PERES,


2008). Mas, antes de delimitar o que seja o neo-institucionalismo, vamos resgatar de
maneira sucinta a questão histórica do seu desenvolvimento metodológico e teórico,
demonstrado por Peres (2008), como uma revolução desencadeada por dois proces-
sos consecutivos, sendo um de plena oposição à abordagem comportamentalista
e outro, de reunir elementos diferentes do próprio comportamentalismo e, depois,
torná-los uma só corrente de pensamento, o chamado antigo institucionalismo.
Até os idos da década de 1940, a abordagem política tradicional era predomi-
nantemente inspirada pela Filosofia Política e pelo Direito, baseada em análises
descritivas, especulativas e formalistas. Esse antigo institucionalismo sofria fortes crí-
ticas em razão da ausência de maior rigor científico para basear suas análises. Um dos
exemplos refere-se ao fato dos teóricos institucionalistas não conseguirem explicar
fenômenos a partir de sua metodologia, como o socialismo, o nazismo e o fascismo,
o que favoreceu o surgimento e a propagação de estudos comparativos da escola
comportamentalista, cuja análise recaía sobre as ações psicológicas dos atores sociais
e a cultura política (PERES, 2008).
Além disso, logo depois da Segunda Guerra Mundial, pesquisadores e teóricos
europeus exilados se instalaram nas universidades dos Estados Unidos, exigindo na
formação de novos cientistas políticos e na orientação de pesquisas sociais, novas
perspectivas analíticas, maior rigor teórico, habilidades em estatística e uma visão
multidisciplinar. De acordo com Peres (2008), esses fatores contribuíram para tornar
a Ciência Política, do ponto de vista metodológico, uma ciência mais eclética e plura-
lista (abordagens das ciências correlatas como Antropologia, Sociologia e Psicologia).
O comportamentalismo atingiu seu ápice durante a década de 1950 e se manteve
hegemônico até a década seguinte. A oposição ao comportamentalismo foi se sus-
tentando à medida que as análises não produziram explicações científicas sobre
dimensões do fenômeno político. Além disso, a multidisciplinaridade eclodiu em di-
versas teorias sem foco analítico na própria Ciência Política.
A pesquisa comportamentalista não se mantinha quando submetida a contes-
tações de ordem factual e lógica. Por isso, a partir do final dos anos de 1960 e início
da década de 1970, o paradigma institucional foi retomado nas investigações cien-
tíficas. As instituições passaram a ter papel central em relação ao fenômeno político,
seja moldando, condicionando, constrangendo ou restringindo o comportamento
dos indivíduos, sendo estas as responsáveis pelos resultados políticos.
12 Pós-Universo

No entanto, seguindo o exemplo do comportamentalismo, nesta formatação


do paradigma institucional foram mantidos em suas abordagens os critérios cientí-
ficos de rigor teórico, “com a precisão conceitual matemática/ geométrica e com a
orientação empírica da pesquisa aplicação de testes quantitativos” (PERES, 2008, p.8).
É dessa forma que se molda o ‘novo institucionalismo’, o neo-institucionalismo. Não
apenas como uma rejeição ao comportamentalismo, mas como uma composição
entre este e o antigo institucionalismo, mantendo a centralidade das instituições na
explicação do fenômeno político e preservando o rigor teórico, em especial, a orien-
tação dedutiva, entre outros aspectos que estudaremos no nosso próximo encontro.

saiba mais
Marilena Chauí nos esclarece sobre ser possível conceder à política três sig-
nificados principais inter-relacionados:
1. o significado de governo, entendido como direção e administração do
poder público, sob a forma do Estado. “A política, portanto, é à ação dos
governantes que detêm a autoridade para dirigir a coletividade organi-
zada sob a forma de Estado”.
2. o significado de atividade realizada por especialistas, “como adminis-
tradores e profissionais (os políticos), pertencentes a um certo tipo de
organização sociopolítica (os partidos), que disputam o direito de go-
vernar, ocupando cargos e postos no Estado”.
3. o significado, derivado do segundo sentido, “usado como expressão de
conduta duvidosa, cheia de interesses particulares dissimulados e fre-
quentemente contrários aos interesses gerais da sociedade e obtidos
por meios ilícitos ou ilegítimos”. Este terceiro significado é considerado
o mais frequente para o senso comum social e resulta na depreciação
da política.
Fonte: CHAUI, M. (2000).
Pós-Universo 13

Neo-Institucionalismo

Figura 3: Identidade impregnada de valores institucionais.


14 Pós-Universo

Na Ciência Política, a perspectiva teórica sobre o conceito de instituições – desde o


seu surgimento até as mudanças das práticas institucionais - é denominada neo-ins-
titucionalismo. Hall e Taylor (2003) destacam ao termo o fato de não constituir apenas
uma corrente de pensamento unificado, sendo identificados na mesma pelo menos
três métodos de análise diferentes: o institucionalismo histórico, o institucionalismo
da escolha racional e o institucionalismo sociológico.
A escola do institucionalismo histórico é definida pelos especialistas como uma
versão reacionária contra as análises políticas dominantes na ciência política entre as
décadas de 1960 e 1970, focadas na época em definições de instituição em termos de
grupos ou de estruturo-funcionalismo. Mesmo essa versão comungando de algumas
mesmas premissas dos seus alvos de contestação, como a comunidade política ser
composta por estruturas que se relacionam entre si e compõem um sistema global,
criticavam a explicação do estruturo-funcionalismo quanto a atribuir uma ampla parte
do funcionamento do sistema, ao caráter psicológico, social ou cultural dos indivíduos.
Os teóricos do institucionalismo histórico também não se contentavam apenas
com a justificativa da apropriação de recursos ser o foco da vida política e, portanto,
ser a base do conflito entre grupos. O questionamento constante fundamentava-se na
necessidade de aprimorar as explicações relacionadas às políticas nacionais, incluindo
a forma desigual de distribuição de poder e renda. Esses teóricos conceituam a orga-
nização institucional de determinada comunidade política, ou a economia política,
como sendo “o principal fator a estruturar o comportamento coletivo e a estruturar
resultados distintos”, ou seja, “consideravam as situações políticas como respostas às
exigências funcionais do sistema” (HALL e TAYLOR, 2003, p.195). Nesse sentido, o Estado
perde a identificação de neutralidade na mediação de interesses contrários e passa a
ser encarado como uma organização formada por diversas instituições, sendo o res-
ponsável por estruturar a essência e o resultado das batalhas entre os grupos.
Ainda para essa escola, a relação entre instituições e as ações dos indivíduos pode
ser analisada sob dois enfoques, o calculador e o culturalista. O primeiro dá ênfase às
características do comportamento humano estar orientado a partir de um cálculo
estratégico, examinando todas as escolhas possíveis para selecionar as com maior
benefício ao mesmo. Nessa mesma perspectiva, quando se trata de instituições, a
relação é de influenciar o comportamento do ator, ao sustentarem informações sobre
o comportamento dos demais atores, estrategicamente indicando um consenso para
atender sua finalidade (HALL e TAYLOR, 2003).
Pós-Universo 15

O segundo enfoque, o cultural, enfatiza o indivíduo como um ser limitado à sua


própria visão de mundo. Desse modo, mesmo o comportamento humano sendo
descrito como racional e orientado para determinados objetivos, a decisão recor-
rente do indivíduo está relacionada à sua experiência de vida, ou seja, uma ação
dependente de sua interpretação frente a uma situação ou a modelos de conduta já
conhecidos. A relação entre instituições e indivíduos se estabelece justamente com
o fornecimento, pelas instituições, de modelos morais e cognitivos para embasar a
interpretação e decisão de ação dos indivíduos (HALL e TAYLOR, 2003).
O institucionalismo histórico agrega ainda à visão política o desenvolvimento
histórico. Essa interpretação inclui a questão das experiências herdadas influenciar
nas ações da vida política. Nesse contexto, as instituições compõem o cenário per-
manente da evolução histórica, sendo um dos responsáveis pela manutenção do
seu desenvolvimento. A noção do processo decisório político envolver negociação
somente entre interesses pessoais é contestada. A essa mobilização também estão
incluídos outros componentes como “[...] processos institucionais de socialização, [...]
novas ideias e [...] processos gerados pela história de cada país. Os decisores agem
[...] com regras e práticas socialmente construídas, conhecidas antecipadamente e
aceitas (March e Olsen, 1995: 28-29)” (SOUZA, 2006, p.38).
Em outra versão do neo-institucionalismo, o institucionalismo da escolha racio-
nal, os teóricos não inserem fatores como o desenvolvimento econômico, histórico
ou social para definir o conceito de institucionalização. Nessa abordagem, os atores
políticos são referenciados com preferências afins e, sendo assim, se comportam de
maneira a satisfazer ao máximo suas prioridades, calculando previamente as estraté-
gias necessárias para alcançarem seus objetivos. Para manter a coerência de atender
ao interesse coletivo, a instituição, de maneira estratégica, induz o comportamento
individual ao fornecer dados sobre o comportamento dos demais indivíduos, eviden-
ciando ao máximo os benefícios a serem conquistados, para direcionar as decisões
dos atores a um consenso. Essa expectativa é gerada por causa das informações
concedidas, no sentido de favorecer com ‘ganhos’ as trocas de posicionamento in-
dividuais para optarem pelo posicionamento institucional (HALL E TAYLOR, 2003).
Para Tsebelis (1998), essa é a principal contribuição das instituições, porque ao
facilitarem aos atores os cálculos relacionados às decisões, ampliam a possibilidade
de estabilidade do jogo político. Essa versão enfatiza que mesmo definições indivi-
duais e descentralizadas precisam de uma força centralizadora para poder avançar.
16 Pós-Universo

Na terceira versão do neo-institucionalismo, o institucionalismo sociológico, ini-


ciado no final da década de 1970, foca sua interpretação de instituições na teoria
das organizações. Nessa perspectiva, a racionalidade e a cultura não são característi-
cas díspares para explicar a institucionalização, ao contrário, ambas compõem a rede
de fenômenos relacionados à gênese a às transformações ocorridas nas instituições.
Sob esse ponto de vista, o indivíduo para agir consideraria, além das regras e pro-
cedimentos formais (racionalidade), também as suas referências morais e aos seus
princípios tão necessários à ‘significação’[1] para orientar sua decisão. A relação entre
o ator e a instituição é dinâmica e constante porque os valores compartilhados for-
jaram a criação da instituição e esta, por sua vez, representa o conjunto de normas
criadas também com base nessas relações culturais. A construção e o reconhecimento
de identidade está impregnado pelos valores institucionais presentes na vida social.
Hall e Taylor (2003) defendem que, independentemente das variações entre as
análises, as três escolas do neo-institucionalismo deveriam integrar-se em razão de
cada versão revelar aspectos importantes da conduta humana e a influência e/ou
interferência gerada na criação e estabilidade das instituições.
Se a ação política institucional é regida pelas incertezas e, em vez do colapso
geram estabilidade, se as relações de poder e suas variantes contam com interações
estratégicas, cálculos dotados de experiências e a indução e confluência de informa-
ções, as instituições políticas podem ser consideradas como uma ’extensão’ formal
da complexidade do comportamento humano. As regras são elaboradas dentro de
determinados sistemas para estabelecer diretrizes comuns de governabilidade. As
instituições políticas são apenas uma parte do sistema político, que é dotado de re-
gulações específicas e mutáveis ao longo da trajetória social.

reflita
“É a família, portanto, o primeiro modelo das sociedades políticas; o chefe
é a imagem do pai, o povo a imagem dos filhos, e havendo nascido todos
livres e iguais, não alienam a liberdade a não ser em troca da sua utilida-
de. Toda a diferença consiste em que, na família, o amor do pai pelos filhos
o compensa dos cuidados que estes lhe dão, ao passo que, no Estado, o
prazer de comandar substitui o amor que o chefe não sente por seus povos”.
(Jean Jacques Rousseau).
atividades de estudo

1. Na perspectiva do neo-institucionalismo, uma determinada corrente de teóricos


conceitua a organização institucional de determinada comunidade política ou a eco-
nomia política, como sendo a relação entre instituições e as ações dos indivíduos,
podendo ser analisada sob dois enfoques, o calculador e o culturalista. Esse método
de análise se refere ao enfoque do institucionalismo:

a) Sociológico.
b) Calculista.
c) Refratário.
d) Escolha racional.
e) Histórico.

2. Quando se relaciona política às instituições políticas, precisamos compreender que


grupos, representados pelos seus atores sociais, elaboraram modelos institucionais
para atender seus interesses. Nas relações entre os indivíduos e grupos, portan-
to, o que representa a instância institucional política é:

a) A formalização de determinado regulamento, para estabelecer a forma como o


jogo político será organizado na sociedade, seja para gerir as relações sociais, po-
líticas, econômicas ou mesmo de poder.
b) A formalização de determinado regulamento, não para estabelecer a forma como
o jogo político será organizado na sociedade, mas, para gerir as relações sociais,
políticas, econômicas ou mesmo de poder.
c) A formalização de determinado regulamento, para estabelecer a forma como o
jogo político será organizado na sociedade, independente das relações sociais,
políticas, econômicas ou mesmo de poder.
d) A informalização de determinado regulamento, para estabelecer a forma como
o jogo político será organizado na sociedade, seja para gerir as relações sociais,
políticas, econômicas ou mesmo de poder.
e) A formalização de determinado regulamento, apesar de não estabelecer a forma
como o jogo político será organizado na sociedade, nem mesmo para gerir as re-
lações sociais, políticas, econômicas ou mesmo de poder.
atividades de estudo

3. Na ciência política, a perspectiva teórica sobre o conceito de instituições – desde


o seu surgimento até as mudanças das práticas institucionais - é denominada neo-
-institucionalismo. Hall e Taylor (2003) destacam ao termo o fato de não constituir
apenas uma corrente de pensamento unificado, sendo identificados na mesma pelo
menos três métodos de análise diferentes. São eles:

a) Institucionalismo histórico, institucionalismo da escolha racional e instituciona-


lismo sociológico.
b) Institucionalismo pré-histórico, institucionalismo da escolha racional e institucio-
nalismo sociológico.
c) Institucionalismo histórico, institucionalismo da escolha irracional e instituciona-
lismo sociológico.
d) Institucionalismo histórico, institucionalismo da escolha racional e instituciona-
lismo psicológico.
e) Institucionalismo histórico, institucionalismo da escolha racional e instituciona-
lismo socioeconômico.
resumo

Neste encontro, iniciamos nossos estudos com a política e sua relação institucional. A ênfase
inicial foi a gênese da política, como sendo o direito de cada indivíduo de emitir sua opinião
e debatê-la, compartilhando suas razões. Podemos compreender, nesse sentido, a políti-
ca como um sinônimo de valorização do pensamento humano, das relações estabelecida
entre as pessoas, mesmo com opiniões e interesses distintos, para debater ideias e chegar
a um possível consenso, sem comprometer a manutenção do desenvolvimento social.

Outras duas questões foram acrescidas nos nossos estudos iniciais para questionar como
são tomadas as decisões políticas, ou seja, as decisões políticas são o resultado direto de
preferências individuais ou são processos de escolhas induzidas por instituições políticas e
sociais. Essas duas perguntas desencadearam distintas abordagens teóricas para explicar
o fenômeno político, sendo para a primeira questão a abordagem chamada de comporta-
mentalismo e, para a segunda questão, o institucionalismo.

Após anos de embate entre os pesquisadores sobre qual abordagem seria mais adequada,
um novo paradigma foi construído com os ‘pontos positivos’ de cada uma dessas teorias,
culminando no neo-institucionalismo. Uma composição entre o comportamentalismo e
o antigo institucionalismo, mantendo a centralidade das instituições na explicação do fe-
nômeno político, preservando o rigor teórico científico.

Por isso, a nossa proposta na unidade a seguir é utilizar essas abordagens teóricas já apre-
sentadas como uma base para nos conectar à trajetória histórica das instituições políticas
brasileiras até culminar na sua contemporaneidade. Portanto, mesmo não sendo objeto de
nossa análise, vamos acrescentar às nossas reflexões e estudos a questão da historicidade
do sistema político nacional, em especial os sistemas eleitoral e partidário, a partir de alguns
fatores selecionados para descrever os processos de desenvolvimento político no Brasil.
material complementar

Política: para não ser idiota


Autor: Mario Sergio Cortella (Autor), Renato Janine Ribeiro (Autor)
Editora: Papirus

Sinopse: Devemos conclamar as pessoas a se interessarem pela polí-


tica do cotidiano ou estaríamos diante de algo novo, um momento de
saturação do que já conhecemos e maturação de novas formas de orga-
nização social e política? Este livro apresenta um debate inspirador sobre
os rumos da política na sociedade contemporânea. São abordados temas como a participa-
ção na vida pública, o embate entre liberdade pessoal e bem comum, os vieses de escolhas
e constrangimentos, o descaso dos mais jovens em relação à democracia, a importância
da ecocidadania, entre tantos outros pontos que dizem respeito a todos nós. Além dessas
questões, claro, esses pensadores de nossa realidade apontam também algumas ações in-
dispensáveis, como o trabalho com política na escola, o papel da educação nesse campo,
como desenvolver habilidades de solução de conflitos e de construção de consensos. Enfim,
um livro indispensável ao exercício diário da cidadania.
referências

CHAUI, M. Convite à Filosofia. São Paulo: Editora Ática, 2000.

HALL, P.; TAYLOR, R. As três versões do neo-institucionalismo. Lua Nova. 2003, n.58, pp.
193-223. ISSN 0102-6445.

PERES, P. S. Comportamento ou instituições? A evolução histórica do neo-institucionalismo


da ciência política. Revista Brasileira de Ciências Sociais. Ci. Soc. v.23, n.68, São Paulo,
Out. 2008. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S010269092008000300005>. Acesso
em: jun. 2017.

RUA, M. Análise de Políticas Públicas: Conceitos Básicos. Texto elaborado para o curso
de formação para carreira de especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental.
Brasília: ENAP/Ministério do Planejamento, 1997.

SOUZA, C. Políticas Públicas: Uma revisão de literatura. Sociologias, Porto Alegre, ano
8, n. 16, jul./dez. 2006, p.20-45.

TSEBELIS, G. Jogos Ocultos: Escolha Racional no Campo da Política Comparada; tra-


dução: Luiz Paulo Rouanet. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo (EDUSP), 1998.
resolução de exercícios

1. e) Histórico.

(O enfoque calculador dá ênfase às características do comportamento humano estar


orientado a partir de um cálculo estratégico, examinando todas as escolhas possíveis
para selecionar as com maior benefício ao mesmo. O segundo enfoque, o cultu-
ral, enfatiza o indivíduo como um ser limitado a sua própria visão de mundo. Desse
modo, a decisão recorrente do indivíduo está relacionada a sua experiência de vida,
ou seja, uma ação racional mas que dependente de sua interpretação frente a uma
situação ou a modelos de conduta já conhecidos historicamente).

2. a) A formalização de determinado regulamento, para estabelecer a forma como o


jogo político será organizado na sociedade, seja para gerir as relações sociais, políti-
cas, econômicas ou mesmo de poder.

(A instância institucional política é a representação da formalização de determinado


regulamento, ou seja, são as regras institucionais estabelecidas para organizar a socie-
dade, seja para gerir as relações sociais, políticas, econômicas ou mesmo de poder).

3. a) Institucionalismo histórico, institucionalismo da escolha racional e institucionalis-


mo sociológico.

(Hall e Taylor (2003) destacam três métodos diferentes para explicar e analisar o ins-
titucionalismo: o institucionalismo histórico, o institucionalismo da escolha racional
e o institucionalismo sociológico).

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