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Nascida do ócio, como especulação desinteressada e sem outro fim que não
fosse o de alimentar a infinita curiosidade humana, desde a sua origem que à filosofia
ficou ligada a ideia de uma certa inutilidade, bem retratada no episódio narrado por
Platão e Aristóteles a respeito de Tales de Mileto, o primeiro filósofo grego que,
inadvertidamente, terá caído a um poço, quando, “despreocupado” com o que se
passava em seu redor, olhava os céus, sondando os seus mistérios. Este comportamento
do filósofo foi objeto de troça por parte de uma sua escrava que se riu a bom rir da
queda que observou. Na verdade, para ela, preocupada com a urgência do viver, só
eram importantes e só faziam sentido as preocupações de ordem prática e utilitária.
Ainda no século XIX, o filósofo alemão Karl Marx censurava aqueles filósofos
que, idealistas, pela filosofia se evadem do mundo e dos problemas reais com que os
homens se defrontam, apelando à necessidade de uma filosofia da ação e da praxis,
considerando que não basta interpretar o mundo de diversas maneiras, mas que
aquilo que é preciso é transformá-lo.
É certo que se se entender que só é útil aquilo que se traduz em bens materiais
e de consumo, então a filosofia é inútil, porquanto, com o seu estudo nem aprendemos
a fazer coisas, nem produzimos coisas. Mas se, por outro lado, considerarmos que
nem sempre o valor das coisas se mede pela sua utilidade prática imediata e se, para
além disso, pensarmos que o conhecimento, independentemente da sua utilidade
prática, é um valor em si mesmo – se assim não fosse, conhecimentos científicos
referentes, por exemplo, à origem do universo, à formação da Terra, à alimentação dos
dinossauros ou às civilizações antigas, seriam puras inutilidades, desperdícios, perdas de
tempo, uma vez que não servem para nada de útil –, então sim, devemos reconhecer que
a filosofia, pelas perguntas que faz, pelos problemas que levanta, pelas respostas que
vai produzindo e pelas discussões que gera, se reveste de um grande valor, uma vez
que não só melhora e alarga a nossa compreensão da realidade, fazendo de nós
pessoas mais cultas, lúcidas e críticas, como, por essa via, torna a nossa vida mais
interessante e preenchida.
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realizados, não se sentem felizes, sentem que aquilo que fazem, que a sua vida não
tem sentido e, por isso, muitas vezes, põem voluntariamente fim a ela pelo recurso
ao suicídio.
Para além desta utilidade, por assim dizer, existencial, da filosofia (ligada à
necessidade de um sentido para a vida e ao alargamento da nossa capacidade de
conhecer e pensar sobre a realidade, o mundo, os outros e nós próprios), há outras
razões que aconselham o seu estudo:
Para além destas razões, a filosofia é ainda importante pelo facto de que:
Fernando Saldanha