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POR QUE, PARA QUE E PARA QUEM FILOSOFIA


1. INTRODUÇÃO........................................................................................................... 4
2. POR QUE FILOSOFIA? ............................................................................................. 4
3. PARA QUE FILOSOFIA? ........................................................................................... 7
4. PARA QUEM FILOSOFIA? ........................................................................................ 9
5. REVISÃO DA AULA ................................................................................................ 10
6. REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 11
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AULA 2

POR QUE, PARA QUE E PARA


QUEM FILOSOFIA?

Desvelar a importância do estudo da Filosofia em todas as áreas


do conhecimento;

Esclarecer o sentido filosófico (por que) dos nossos


questionamentos e o sentido existencial (para que) das nossas
indagações;

Auxiliar no processo de transmudação do senso comum em:


atitude filosófica, a reflexão filosófica, conhecimento filosófico e
avaliação crítica.

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1. INTRODUÇÃO

Esta aula pretende esclarecer o sentido filosófico (por que) dos nossos
questionamentos, o sentido existencial (para que) das nossas indagações e a quem é
permitido o acesso à filosofia ou dela se beneficiar (para quem), considerando as perguntas
mais frequentes dos estudantes da disciplina filosofia, e que pode ter lhe ocorrido.

“Por que filosofia”. É explicada de forma simples e direta por intermédio do


pensamento dos filósofos brasileiros Luiz Felipe Pondé e Marilena Chauí sobre o significado
de filosofar e a diferença atitudinal entre: o pensamento filosófico e o senso comum; e,
sobretudo, pensar por você mesmo e ser um mero agente de reprodução da alienação a que
você é submetido pela inculcação das ideias dominantes. Para isso, são elencados, de forma
sistematizada, as definições de atitude filosófica, reflexão filosófica, conhecimento filosófico
e a crítica fundamentada para melhor fixação dessas fundamentais significações.

“Para que filosofia?”. A resposta busca esclarecer o real valor da filosofia, resgatando
a verdade sobre o critério de sua utilidade.

“Para quem filosofia?”. A resposta a esta indagação é dada por intermédio do


pensamento dos filósofos García Morente (1886-1942), Epicuro (341-270 a.C.) e Merleau-
Ponty (1908-1961); e certamente será surpreendente!

Desvelar a importância do estudo da filosofia em todas as áreas do conhecimento e


auxiliar você no processo de transmudação do senso comum em: atitude filosófica, a reflexão
filosófica, conhecimento filosófico e avaliação crítica é o desafio.

Boa leitura!

2. POR QUE FILOSOFIA?

Ainda que você não tenha tido nenhum contato com a filosofia, não saiba o que ela é,
o que ela não é e nem para que serve, é natural que, em algum momento da vida, você tenha
se questionado sobre questões fundamentais: o que somos? O que é a vida? Somos bons ou
maus? Por que filosofia? E, por que não, filosofia?

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Após o primeiro contato com a matéria, apresentado na Aula 1, é natural que a
indagação “por que filosofia?” tenha ampliado sua abrangência, gerado ainda mais dúvidas e
outras tantas mais indagações.

Não importa o nível de conhecimento que você tenha sobre a filosofia. Se você
questiona sobre o modo de ser das pessoas, das sociedades e do mundo, isto já é atitude
filosófica! Você já está filosofando e não sabe!

Veja o que diz Pondé (2016:14):

[...] filosofar é algo que se aprende com facilidade. E por que é fácil? Porque
a filosofia é uma arte enraizada na experiência concreta da vida das pessoas
e não num mundo abstrato do sexo dos anjos. Aprender a filosofar é aprender
a sobreviver num mundo em que, em parte, só o Homo sapiens habita o
mundo das ideias, da imaginação, da linguagem, enfim, um mundo do
sentido. Qual outro animal se indaga acerca de seu destino? Da vida e da
morte? Do bem e do mal? Existe algum lugar em que essas respostas existam
esperando por nós? Platão achava que sim. Nietzsche achava que não.
Alguém acima de nós detém essas respostas? Os religiosos acham que sim,
os ateus acham que não. Não há certezas. Então, alguns filósofos acham que
sim, outros acham que não.

Como você pode perceber, ao longo de 26 séculos, os filósofos concordaram,


discordaram, deram continuidade às ideias conhecidas de filósofos que os antecederam ou
romperam inteiramente com elas (e eles), criando um escopo da Filosofia a partir de seus
próprios pensamentos na busca pela verdade filosófica, por que até os dias de hoje “os
filósofos filosofam até mesmo sobre a Filosofia!” (BonJour & Baker, 2010:23).

Em algum momento você deve ter observado que, embora o contexto atual, com a
utilização das tecnologias da informação e comunicação no cotidiano, tenha favorecido novas
formas de sociabilidade, esta tem se mostrado particularmente superficial e inconsistente,
vez que a expressão das noções comumente admitidas pelos indivíduos, de forma
reducionista, tem conferido o pressuposto da utilidade em detrimento da verdade.

Afirma Chauí (2010:29): “O senso comum de nossa sociedade considera útil o que dá
prestígio, poder, fama e riqueza. Julga o útil pelos resultados visíveis das coisas e das ações,
identificando sua possível utilidade, como na famosa expressão “levar vantagem em tudo”.

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FIQUE ATENTO

A ausência de critério em discernir e identificar a verdade sobre quaisquer


assuntos impede você de alcançar os meios para se tornar consciente da
realidade em que vive, e reunir recursos para modifica-la se assim desejar,
tornando-o mero agente de reprodução da alienação a que você é submetido
pela inculcação das ideias dominantes dos poderes estabelecidos.

Se você deseja fazer a diferença em sua vida pessoal, social, acadêmica e profissional,
é essencial que você reflita sobre o caminho a ser percorrido em sua forma de pensar e manter
sempre em mente que:

1. A atitude filosófica difere das crenças costumeiras por que revela um


comportamento ditado por uma disposição interior que estimula a busca
constante pela verdade, isto é, o desejo de comprovar a veracidade das ideias e
dos fatos, distinguindo o verdadeiro do falso a fim de desvelar a realidade – o que
frequentemente coloca dúvidas sobre o que nos foi ensinado formal e
tradicionalmente desde a infância.
2. A reflexão filosófica não se refere a qualquer reflexão por que tem seus próprios
propósitos:

· A busca por superar limites do conhecimento a partir de seus fundamentos, suas


origens e suas raízes;
· A necessidade de sistematização, isto é, que as ideias tenham relações entre si,
que não sejam incoerentes ou contraditórias e que sejam fundamentadas
racionalmente;
· A extensão, a profundidade e a totalidade do pensamento, isto é, a abrangência
das ideias e dos fatos pensados.

3. O conhecimento filosófico (constituído de realidades mediatas) se distingue do


conhecimento tradicional (transmitido de geração em geração) e do
conhecimento científico (imediato, suscetível de experimentação) pelo objeto de
investigação e pelo método, por que possui ao menos quatro características
básicas:

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· É sistemático, por que sua base é a reflexão que busca ser a melhor tentativa de
solução para os problemas;
· É elucidativo, por que a missão da Filosofia não é explicar o mundo, mas
esclarecer e delimitar com precisão os pensamentos, conceitos e problemas que
de outro modo ficariam confusos;
· É crítico, por que rege-se pela disposição metódica pela qual não se deve aceitar
nada sem exame prévio;
· É especulativo, por que tem atitude teórica, abstrata e totalizante, admitindo
hipóteses e possibilidades para compreender ideias e fatos questionados sob
vários aspectos.

4. A crítica fundamentada se faz necessária a fim de substituir as formas de


expressão acrítica, por que irrefletida, isto é, não traz em seu bojo a realidade
objetivamente investigada.

Porque refletir sobre os princípios que modelaram até então suas atitudes e a sua
visão de mundo é uma das atividades mais importantes que você pode adquirir, pois se você
a realiza com exatidão, não importam as vicissitudes da vida, você terá à sua disposição as
mais essenciais ferramentas para enfrentá-las.

Porque ao estudar filosofia seu pensamento criativo será estimulado. Você estará apto
a criticar fundamentadamente quaisquer argumentos e reunirá condições para propor
alternativas na solução de quaisquer problemas, pois a criatividade é uma capacidade
humana de grande valor universal por que nela existe a chave da capacidade de evolução da
humanidade (Sanchez, Martínez e García, 2003).

3. PARA QUE FILOSOFIA?

De forma satírica, Chauí (2010:22) leva a pensar sobre a razão desta pergunta e não
sobre o “para que de outras disciplinas” que você vem aprendendo desde a infância. Veja o
que ela diz:

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Em geral essa pergunta costuma receber uma resposta irônica, conhecida
dos estudantes de filosofia: “A filosofia é uma ciência com a qual e sem a
qual o mundo permanece tal e qual”. Ou seja, a filosofia não serve para nada.
Por isso, costuma-se chamar de “filósofo” alguém sempre distraído, com a
cabeça no mundo da lua, pensando e dizendo coisas que ninguém entende e
que são completamente inúteis.

No momento seguinte, a autora faz sua crítica expressando sua reflexão filosófica:

Em nossa cultura e em nossa sociedade, costumamos considerar que


alguma coisa só tem o direito de existir se tiver alguma finalidade prática
muito visível e de utilidade imediata, de modo que, quando se pergunta “Para
que?” o que se quer saber é “Qual a utilidade?”, “Para que serve isso?”, “Que
uso proveitoso ou vantajoso posso fazer disso?”
[…] todo mundo imagina ver a utilidade das ciências nos produtos da técnica,
isto é, na aplicação dos conhecimentos científicos para criar instrumentos de
uso […]
[…] Verdade, pensamento racional, procedimentos especiais para conhecer
fatos, aplicação prática de conhecimentos teóricos, correção e acúmulo de
saberes: esses objetivos e propósitos das ciências não são científicos, são
filosóficos e dependem de questões filosóficas. O cientista parte delas como
questões já respondidas, mas é a filosofia quem as formula e busca
respostas para elas.
Assim, o trabalho das ciências pressupõe, como condição, o trabalho da
filosofia, mesmo que o cientista não seja filósofo. No entanto, como apenas
os cientistas e filósofos sabem disso, a maioria das pessoas, envolvidas pelo
senso comum, continua afirmando que a filosofia não serve para nada (Chauí,
2010:23, grifo nosso).

A filosofia não serve para nada quando se pensa que é preciso determinar claramente
a possibilidade de fazer uso técnico de seus produtos ou ainda de dar a estes produtos algum
valor econômico, lucrando com eles; considerando, inclusive, que a parte principal, ou mais
importante, da filosofia nada tem a ver com as ciências e as técnicas.

Para quem pensa assim, o interesse da filosofia não estaria nos


conhecimentos (que ficam por conta da ciência) nem nas aplicações práticas
de teorias (que ficam por conta da tecnologia), mas nos ensinamentos morais
e éticos. A filosofia seria a arte do bem-viver ou da vida correta e virtuosa.
Estudando as paixões e os vícios humanos, a liberdade e a vontade,
analisando a capacidade de nossa razão para impor limites aos nossos
desejos e paixões, ensinando-nos a viver de modo honesto e justo na
companhia dos outros seres humanos, a filosofia teria como finalidade
ensinar-nos a virtude, que é o princípio do bem-viver (Chauí, 2010:23)

Afirma a autora que, ainda que esta definição fosse capaz de definir o escopo da
filosofia como uma arte moral ou ética, ou uma arte do bem-viver, a filosofia continua fazendo
suas perguntas desconcertantes e embaraçosas (Chauí, 2010:23).

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EXEMPLIFICANDO

O que é o homem, a vontade, a paixão?


O que é a razão, o vício, a virtude?
O que é a liberdade?
Como nos tornamos livres, racionais e virtuosos?
Por que avaliamos os sentimentos e as ações humanas?

Ensina, a autora, que ainda que o objeto da filosofia não seja o conhecimento da
realidade, nem da capacidade para conhecer; e que seja, apenas, a vida moral ou ética, ainda
assim “o estilo filosófico e a atitude filosófica permaneceriam os mesmos, pois as perguntas
filosóficas: o quê, por que e como – permanecem” (Chauí, 2010:23).

4. PARA QUEM FILOSOFIA?

Segundo Santos (S/D), o filósofo García Morente associa o exercício da filosofia à


infância, por sua investigação ininterrupta. Como na infância tudo causa admiração e, a partir
daí é possível construir os primeiros conhecimentos, o filósofo é uma pessoa que capaz de
manter essa disposição infantil para ir em busca do conhecimento daquilo que se apresenta,
para não se satisfazer com respostas simplistas, para não se cansar de fazer perguntas até
que sua necessidade de conhecer seja satisfeita.

Para abordar a filosofia, para entrar no território da filosofia, é absolutamente


indispensável uma primeira disposição de ânimo. É absolutamente
indispensável que o aspirante a filósofo sinta a necessidade de levar seu
estudo com uma disposição infantil. […] Aquele para quem tudo resulta muito
natural, para quem tudo resulta muito fácil de entender, para quem tudo
resulta muito óbvio, nunca poderá ser filósofo (García Morente, 1980:33-34,
In Santos, S/D).

Esclarece, ainda o autor, que Epicuro diz que nem a juventude nem a velhice pode servir
de empecilho para a atividade filosófica; pois tendo associado a filosofia à felicidade, o
filósofo afirma que, ninguém se diz muito jovem ou muito velho para ser feliz:

Nunca se protele o filosofar quando se é jovem, nem o canse fazê-lo quando


se é velho, pois que ninguém é jamais pouco maduro nem demasiado maduro
para conquistar a saúde da alma. E quem diz que a hora de filosofar ainda

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não chegou ou já passou assemelha-se ao que diz que ainda não chegou ou
já passou a hora de ser feliz (Epicuro, In Santos S/D).

Conclui o autor, com a afirmação de Merleau-Ponty, de que “a verdadeira filosofia é


reaprender a ver o mundo". Sugerindo que: “se aprendemos sobre o mundo desde tenra idade,
a filosofia instrumentalizará você para que coloque em xeque todo esse aprendizado e, na
dúvida gestada, possa ir além do conhecimento tradicional. Pois, com o exercício do
pensamento, é possível conseguir reaprender o mundo, agora visto pelos seus próprios olhos”
(Santos, S/D, adaptado).

Como você pode depreender, a atitude filosófica, a reflexão filosófica, a aquisição do


conhecimento filosófico e a expressão da crítica fundamentada não depende de um momento
específico da vida, nem de condições propícias, mas de uma mudança da consciência de cada
um e, para o bem-viver, de todos.

5. REVISÃO DA AULA

Na Introdução desta leitura prévia foram apresentados os objetivos em esclarecer os


questionamentos mais comuns aos estudantes da disciplina filosofia.

Para que você seja capaz de iniciar a construção de sua crítica fundamentada tópico
2 esclarece o “Por que filosofia” por intermédio do pensamento de dois renomados filósofos
brasileiros.

O tópico 3 busca esclarecer o real valor da filosofia, resgatando a verdade sobre o


critério de sua utilidade.

No tópico 4 a resposta a esta indagação é dada por intermédio do pensamento de


filósofos de diferentes épocas e contextos sociais: um espanhol que viveu entre o final do
século XIX e início do século XX; um grego que viveu há mais de 24 séculos e um francês do
século XX; a fim de demonstrar que filosofar não depende de um momento específico da vida,
nem de condições propícias, mas de uma mudança da consciência de cada um e, para o bem-
viver, de todos.

Bons estudos e até a próxima aula!

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6. REFERÊNCIAS

BonJour, Lawrence e Baker, Ann. Filosofia: textos fundamentais comentados. Porto Alegre:
Artmed, 2010.

Chauí, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2010.

Morente, Garcia. Fundamentos da filosofia – Lições Preliminares. São Paulo: Mestre Jou,
1980.

Pondé, Luiz Felipe. Filosofia para corajosos. São Paulo: Planeta, 2016.

Sanchez, M P, Martínez, O L & García, C F. La creatividad en el contexto escolar: Estrategias


para favorecerla. Madrid: Pirámide, 2003.

Santos, Wigvan Junior Pereira. Filosofia. (S/D). Disponível em


https://alunosonline.uol.com.br/filosofia/. Último acesso em 10/04/2018.

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