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De qualquer forma, porém, marcou sua presença nas ruas de Atenas pelo
conteúdo de suas lições, flagrantemente opostas à ordem prevalecente de
ideias nos meios intelectuais de seu tempo.
De fato, é o que afirma Xenócrates (Grécia, 396 a.C até 314 a.C ): “ao
aceitar a morte demonstrou todo o vigor de sua alma, cobrindo-se de glória
tanto pela verdade, desprendimento e justiça de sua defesa, quanto pela
serenidade e coragem com que recebeu a sentença de morte” (Xenócrates,
Ditos e feitos memoráveis de Sócrates.
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Sócrates, de fato, dedicou-se a um valor absoluto, e por ele lutou até o
ponto de renunciar à própria vida. E isso porque a Ética socrática não se
aferra somente à lei e ao respeito dos deveres humanos em si e por si.
Transcende a isso tudo: inscreve-se como uma Ética que se atrela ao porvir
(post-mortem).
É o se preparar para o bem viver após a morte. Isso significa dizer que
nem toda virtude proclamada como tal perante os homens há de ser
considerada virtude perante os deuses.
Isso ainda significa dizer que a verdade, a virtude e a justiça devem ser
buscadas com vista em um fim maior, o bem viver post-mortem. E não há
outra razão pela qual se deseje filosofar senão a de preparar-se para a
morte. Para Sócrates, a morte representa apenas uma passagem, uma
emigração, e a continuidade há de ensinar quais valores são acertados,
quais são errôneos.
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Se a vida é uma passagem, é porque a morte não interrompe o fluxo das
almas, que preexistem e subsistem ao corpo. Não é a efêmera vida o começo
e o fim de tudo, mas apenas parte de um trajeto. Ao homem é lícito
especular a respeito, porém a certeza do que será somente os deuses
possuem.
A lei interna que encontra guarida no interior de cada ser, lei moral por
excelência, poderia julgar acerca da justiça ou da injustiça de uma lei
positiva, e a respeito disso opinar, mas esse juízo não poderia ultrapassar os
limites da crítica, a ponto de lesar a legislação política pelo descumprimento.
Com base num juízo moral, não se podem derrogar leis positivas. O foro
interior e individual deveria submeter-se ao exterior e geral em benefício da
coletividade. Sua submissão à sentença condenatória representou não só a
confirmação de seus ensinamentos, mas, também, a revitalização dos valores
sócio-religiosos acordantes com os que foram a base da construção da
própria cidade-estado grega.