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Para a autora o maior erro de Sócrates ocorre quando ele tenta convencer os
juízes por meio da dialética, método que ele usava constantemente, mas que não foi
o suficiente para convencê-los de sua verdade. Ele queria discutir com os juízes da
forma com a qual era acostumado, mas, parafraseando Arendt: “...a persuasão não
provém da verdade, provém das opiniões, e somente a persuasão considera e sabe
como lidar com a multidão.”. De certa forma, isso significa que a credulidade de
determinada fala de nada importa para persuasão, pois o real valor está em como
essa opinião é transpassada, principalmente quando se fala de um efeito manada.
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A grande revolta de Platão para com a polis foi o grande gatilho para a criação
de seus conceitos de mundo das ideias, onde Platão afirma que as ideias são
eternas e imutáveis, logo, não é possível que uma ideia seja criada ou destruída.
Dessa maneira, a existência de uma verdade absoluta platônica é diametralmente
oposta ao conceito de doxa – a qual não se limita apenas a semântica de opinião,
mas também se estende, significando aparecer ou brilhar, nesse caso diante dos
outros, por meio de seu discurso, forma de se expressar e, claro, opinião.
Em seu texto Arendt critica a ideocracia imposta por Platão e sua busca por
parâmetros absolutos. Ela defende a opinião como parte importante da vida em
sociedade, uma vez que estabelece uma relação com o outro, sendo indispensável
para a comunicação. Acreditava que o cidadão deveria poder expressar sua doxa e
a verdade de sua doxa, como se faz possível analisar no trecho a seguir retirado de
seu livro: “A verdade absoluta não pode existir para os mortais. Para os mortais o
importante é tornar verdadeiro a doxa, que não se revela de nenhum outro modo a
não ser lhe perguntando e assim aprendendo a sua doxa”. Ou seja, a opinião é parte
do que diferencia uma pessoa de outra e é formada por meio de diversos fatores,
alem de se relacionar diretamente com o diálogo, porquanto coisas humanas não
devem assumir padrões absolutos e, quando o fazem, o risco de levar à violência
não é ínfimo.
Um dos conceitos que o “Pensar Sócrates” trouxe para Hannah Arendt foi o
dois-em-um, que se realiza no pensamento e no diálogo, tratando da importância de
dialogar consigo mesmo. Dessa forma, ao expressar minha opinião não apareço
apenas para os outros, mas também para mim mesmo. Esse entendimento
proporcionar um melhor conhecimento de si e, para convivermos com os outros,
precisamos saber conviver conosco primeiro. Por conseguinte, é preferível ter
desavenças com todo mundo do que, sendo um, estar em desavença consigo
mesmo, pois possuímos alguma espécie de consciência e conviver suportando a si
mesmo sabendo de uma ação deplorável que realizamos dificulta não só a relação
dois-em-um, como também a relação interpessoal. Essa ideia acaba agregando um
novo sentido para a pluralidade, onde os homens não só existem no plural, como
possuem dentro de si mesmos a indicação da pluralidade, pois mesmo na solidão
fisiológica é possível permanecer ligado a essa pluralidade, visto que há uma
permanência consigo próprio., em reflexão e pensamento.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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ARENDT, Hannah. A Promessa da Política: Sócrates. 3.ed. São Paulo: DIFEL, 2008.
QUINTAS, Jorge. O Sócrates de Hannah Arendt. Youtube, 2021. Disponível em: <
https://www.youtube.com/watch?v=2ZnREI8hSRA>. Acesso em: 27 de março de
2023.