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UFAL – CAMPUS SERTÃO


Curso: Engenharia de Produção.
Disciplina: Filosofia e Ética
Aluna: Evellin Caroline Oliveira de Siqueira
Tema: Ética e Pluralidade Segundo Hannah Arendt

Sócrates, pai da filosofia e da ética, fora discutido por diversos autores ao


longo do tempo e de diversas maneiras. Na obra “A Promessa da Política”, a qual
contém diversos textos escritos por Hannah Arendt, mais especificamente no
capítulo nomeado “Sócrates”, ela faz uma reinterpretação do filosofo, abordando
novos conceitos, alguns de seus ideais e criticando não só a ele, como, e
principalmente, a seu discípulo mais famoso, Platão, ao mesmo tempo em que
discorre sobre a decadência da filosofia grega e da Grécia antiga como um todo.

A maiêutica socrática propõe ajudar e conduzir os cidadãos a produzir seu


próprio pensamento, encontrando a verdade em sua opinião através de
questionamentos e da dialética. Devido a seu estilo de vida, Sócrates foi visto como
uma ameaça, sendo acusado de corromper a juventude ateniense. É nesse contexto
que ocorre o que seria a primeira catástrofe da filosofia ocidental segundo Hannah
Arendt, a condenação de Sócrates por meio da polis, onde não somente o filosofo foi
condenado e assassinado, mas também, de forma mais abstrata, suas ideias, que
estariam fadadas ao esquecimento, mediante a pólis e a cidade. Dessa forma,
torna-se evidente o marco da separação entre a filosofia e a política, já que, nesse
contexto, o filosofo percebe que tanto a sua vida, quanto seu legado é ameaçado
por interferência da polis e sua maneira de pensar. Presenciamos o assassinato do
filosofo e de sua filosofia.

Para a autora o maior erro de Sócrates ocorre quando ele tenta convencer os
juízes por meio da dialética, método que ele usava constantemente, mas que não foi
o suficiente para convencê-los de sua verdade. Ele queria discutir com os juízes da
forma com a qual era acostumado, mas, parafraseando Arendt: “...a persuasão não
provém da verdade, provém das opiniões, e somente a persuasão considera e sabe
como lidar com a multidão.”. De certa forma, isso significa que a credulidade de
determinada fala de nada importa para persuasão, pois o real valor está em como
essa opinião é transpassada, principalmente quando se fala de um efeito manada.
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Cabe-se a reflexão de que, na realidade, persuadir não é o contrário de governar


pela violência, mas uma forma mais branda de fazê-lo e, se voltarmos à atenção
para regimes totalitários, principalmente no último século, pode-se observar, na
maioria do casos, estratégias de marketing dotadas de persuasão para fazer com
que a população os adore.

Independente das acusações, o pai da filosofia não se escondeu ou fugiu,


porém não foi capaz de persuadir os juízes de sua inocência e utilidade. Diante da
morte de seu tutor, Platão questiona os ensinamentos de Sócrates e sua forma de
fazer filosofia, preferindo migrar das praças para academias, separando a filosofia
da cidade, criticando e desprezando piamente a doxa/opinião, dado que a opinião da
maior parte dos cidadãos que integravam a polis levou à ruína Sócrates.

A grande revolta de Platão para com a polis foi o grande gatilho para a criação
de seus conceitos de mundo das ideias, onde Platão afirma que as ideias são
eternas e imutáveis, logo, não é possível que uma ideia seja criada ou destruída.
Dessa maneira, a existência de uma verdade absoluta platônica é diametralmente
oposta ao conceito de doxa – a qual não se limita apenas a semântica de opinião,
mas também se estende, significando aparecer ou brilhar, nesse caso diante dos
outros, por meio de seu discurso, forma de se expressar e, claro, opinião.

Em seu texto Arendt critica a ideocracia imposta por Platão e sua busca por
parâmetros absolutos. Ela defende a opinião como parte importante da vida em
sociedade, uma vez que estabelece uma relação com o outro, sendo indispensável
para a comunicação. Acreditava que o cidadão deveria poder expressar sua doxa e
a verdade de sua doxa, como se faz possível analisar no trecho a seguir retirado de
seu livro: “A verdade absoluta não pode existir para os mortais. Para os mortais o
importante é tornar verdadeiro a doxa, que não se revela de nenhum outro modo a
não ser lhe perguntando e assim aprendendo a sua doxa”. Ou seja, a opinião é parte
do que diferencia uma pessoa de outra e é formada por meio de diversos fatores,
alem de se relacionar diretamente com o diálogo, porquanto coisas humanas não
devem assumir padrões absolutos e, quando o fazem, o risco de levar à violência
não é ínfimo.

Tendo em vista a complexidade das relações humanas, é válido ressaltar que


a condição humana é a pluralidade; cada um tem sua doxa, as pessoas possuem
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experiências diferentes e estão inseridas em ambientes distintos, o que faz delas


singulares entre si, nesse caso a doxa poderia se empregar como a compreensão
do mundo. Ademais, um filósofo não pode escapar da esfera da pluralidade, como
Platão tentou fazer ao buscar uma verdade imutável e inerente a todos, verdade
essa que jamais poderia ser aplicada. Diante disso, é de extrema importância
destacar que o Estado em si deve procurar compreender a maior quantidade de
variedades possíveis de realidades e opiniões, buscando conhecer a pluralidade do
povo, para assim agir em prol do bem comum.

Um dos conceitos que o “Pensar Sócrates” trouxe para Hannah Arendt foi o
dois-em-um, que se realiza no pensamento e no diálogo, tratando da importância de
dialogar consigo mesmo. Dessa forma, ao expressar minha opinião não apareço
apenas para os outros, mas também para mim mesmo. Esse entendimento
proporcionar um melhor conhecimento de si e, para convivermos com os outros,
precisamos saber conviver conosco primeiro. Por conseguinte, é preferível ter
desavenças com todo mundo do que, sendo um, estar em desavença consigo
mesmo, pois possuímos alguma espécie de consciência e conviver suportando a si
mesmo sabendo de uma ação deplorável que realizamos dificulta não só a relação
dois-em-um, como também a relação interpessoal. Essa ideia acaba agregando um
novo sentido para a pluralidade, onde os homens não só existem no plural, como
possuem dentro de si mesmos a indicação da pluralidade, pois mesmo na solidão
fisiológica é possível permanecer ligado a essa pluralidade, visto que há uma
permanência consigo próprio., em reflexão e pensamento.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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ARENDT, Hannah. A Promessa da Política: Sócrates. 3.ed. São Paulo: DIFEL, 2008.

QUINTAS, Jorge. O Sócrates de Hannah Arendt. Youtube, 2021. Disponível em: <
https://www.youtube.com/watch?v=2ZnREI8hSRA>. Acesso em: 27 de março de
2023.

PORFIRIO, Francisco. Dialética. Mundo Educação, [s.d]. Disponível em:


<https://mundoeducacao.uol.com.br/filosofia/dialetica.htm#:~:text=O%20m%C3%A9t
odo%20filos%C3%B3fico%20socr%C3%A1tico%20pode,um%20conceito%20sobre
%20determinado%20assunto.>. Acesso em: 29 de março de 2023.

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