Você está na página 1de 12

NOVO TESTAMENTO 

 
CARTAS PAULINAS- PARTE II 
 
l I​ ntrodução 
 
  Agora  iremos  nos  aprofundar  mais  nos  conteúdos  das  Cartas  Paulinas.  Vamos 
falar  um  pouco  sobre  a  primeira  e  segunda  epístolas  de  Coríntios.  Conforme 
vimos  anteriormente,  a  carta  sempre vai trazer um problema, e a argumentação 
de  Paulo  é  uma  solução  que  ele  está  encontrando para o problema que ele está 
enxergando naquela na comunidade.  
 
  Sendo  assim,  qual  é  o  problema  que  Paulo  começa  a  identificar  na  igreja  de 
Coríntios?  Quando  falamos  em  Coríntios,  imediatamente  nos  vêm  à  mente 
aquela quantidade de textos que nos fazem pensar sobre os dons. Essas citações 
são  maravilhosas,  mas  quando  Paulo  olha  para  Corinto,  ele  está  identificando 
um  problema  que  quer  resolver,  e  esse  problema  tem  a  ver  com  moralidade 
(porneia). 
 
A seguir, alguns pontos que Paulo está querendo conversar com essa igreja: 
 
l​ Porneia (I Cor 5:1-13) 
 
  O  primeiro  problema  da  imoralidade  podemos  encontrar  em  I  Coríntios  5:  1-13, 
um  problema  de  litígio,  uma  disputa.  Essa  mesma  igreja,  que  é  cheia  de  dons, 
também possui uma questão mal resolvida, de querer fazer o que não se deve.  
 
  Aparentemente  parece  ser  uma  igreja  tão  espiritual,  mas  que,  ao  mesmo 
tempo,  de  uma  forma  tão  incoerente,  acaba  aceitando  certos  tipos  de 
relacionamento que são absolutamente imorais e indignos. Essa igreja, portanto, 
é  marcada  por  uma  profunda  divisão: de um lado, extremamente cheia de dons; 
de  outro  lado,  extremamente  infantil  em  relação  ao  discernimento  e  à 
percepção  quanto  à  ética  cristã,  de  como  que  a  igreja  deve  viver,  de  como 
devem se basear os nossos relacionamentos.  
 
l​ Litígio (I Cor 6:1-11) 
 
  Temos  o  problema  da  imoralidade,  e  no  problema  dessas  disputas  de 
relacionamentos  -  que  não  são  bem  resolvidas  –  podemos  ver  esse  litígio 
acontecendo.  

1
  No  capítulo  6:1-11  encontramos  essa  confusão,  porque  toda  vez  pensamos  em 
relacionamentos,  percebemos  que  eles  são  a  base  do  cristianismo  (nossa 
santidade se manifesta em relacionamentos).  
 
  Ou  seja,  nossa  santidade  não  é  algo  que  está  parado  em  um  altar  para  que 
alguém  contemple.  Nossa  santidade  se  manifesta  e  se  expressa  na  forma como 
lidamos  com  quem  está  ao  nosso  lado.  Portanto,  nossa  santidade  se  revela  na 
forma como enxergamos tudo à nossa volta.  
 
l​ Corpo (I Cor 6:12-20) 
 
  Então  Paulo  continua  tratando  algumas  questões,  agora,  especificamente,  a 
questão  da  nossa  relação  com  o  corpo:  nós  somos  corpo  de  Cristo,  mas  nós 
também  temos  um  corpo.  Qual  é  a  forma  adequada  de  pensarmos  nessa 
relação? 
 
l​ Família (I Cor 7:1-40) 
 
Aqui  nós  temos  uma  discussão  do que Paulo está querendo conversar com essa 
igreja, que é a relação familiar, as relações entre homem e mulher.  
 
l​ Coisas Sacrificadas- Relações (I Cor 8:1-13) 
 
  O  quinto  ponto  seriam  as  coisas  sacrificadas:  podemos  comer  coisas 
sacrificadas  ou  não?  E  Paulo  chama  a  atenção,  pois,  mais  importante  do  que 
comer  ou  não  as  coisas  sacrificadas,  existe  um  problema  ainda  maior,  que  é  a 
relação de quem está comendo com quem não está comendo.  
 
  E  assim  Paulo  gasta  mais  tempo  para  falar  do  que  ele  vai  chamar  de  fortes  e 
fracos,  porque  tem  a  ver  com  a  consciência  que  cada  um  tem  de  fé  e  a  sua 
percepção.  E  então  Paulo  tira  a  ênfase  da  comida  e  a  coloca  nas  relações.  Ele 
está  dizendo  que  o  mais  importante  é  como  estamos  tratando nosso irmão que 
não come, ou como ele come.  
 
  Então  Paulo  fala  das  questões  sacrificadas,  o  que  a  igreja  deveria  fazer, e então 
ele  se  preocupa  com  essas  relações.  Essa  problemática  entre  as  coisas 
sacrificadas será abordada em Coríntios 8:1-13. 
 
l​ Idolatria (I Cor 10:1-33) 
 
  Ele  continua  falando  sobre  idolatria.  Aqui  no  Brasil,  por  exemplo,  nós  vemos 
muita  relação  de  Cosme  e  Damião,  na  questão  de  poder  ou  não  comer. Então a 
ideia  que  Paulo  está  dizendo  é:  imagine  que  um  grupo  de  criança  da  sua  igreja 
comeu porque os seus pais autorizaram, e outro grupo de criança não comeu.  

2
  E então Paulo chama a atenção que é por causa dessas duas posturas que esses 
dois  grupos  estão se transformando em inimigos. O primeiro ponto que Ele quer 
resolver,  então,  é  desfazer  a  inimizade  entre  os  grupos,  tratar  da  questão 
sacrificada,  e  recuperar  a unidade, trazendo a compreensão de quem nós somos 
como corpo de Cristo.  
 
  Embora  tenhamos  conhecimento  de  muitos  assuntos  polêmicos,  sabemos que 
não  se  constrói  uma  unidade  destruindo,  ou  melhor,  não  se  constrói  santidade 
destruindo  a  unidade.  Esse,  sim,  é  um  caminho  muito  difícil.  John  Stott  nos fala 
que  muitos,  para  manter  a  unidade,  abrem  mão  da  santidade;  e  muitos,  para 
manter a santidade, abrem mão da unidade.  
 
  O  que  Paulo,  então, está dizendo é que não se pode abrir mão nem de um, nem 
de  outro.  Nosso  caminho  é  um  caminho  mais  difícil,  mais  consistente,  porém, 
que  não  abre  mão  da  unidade  tampouco  da  santidade.  Historicamente  nós 
vamos  ver  diversos  grupos  que  se  empenham  em  resolver  esse  problema  que 
consiste em abrir mão de um em detrimento de outro.  
 
l​ Véu (I Cor 11:1-16) 
 
Depois temos a discussão sobre o uso ou não do véu.  
 
l​ Ceia (I Cor 11) 
 
  Aqui  ele  termina  a  última  discussão  falando  sobre  a  ceia  do  Senhor,  ainda  no 
capítulo 11. 
 
  De  forma  resumida,  temos  no  primeiro  bloco  (1 e 2) Paulo falando da relação da 
Igreja  com  a  sociedade,  bem  como  o  cuidado  que  devemos  ter.  O  segundo 
bloco  (3  e  4)  ele  está  falando  da  família,  o  terceiro  (5  e  6)  ele  fala  de  idolatria,  e 
este último bloco (7 e 8) Paulo fala de coisas relacionadas ao culto. 
 
  Assim  sendo,  podemos  tentar  sistematizar  o  livro  de  Coríntios  nessa  narrativa, 
de  Paulo  tentando  instruir  a  sua  Igreja  coerente  em  relação  à  sociedade  em 
como  tratamos  nossa  família,  no  cuidado  para  não  cair  no  pecado  da idolatria e 
da  pureza  do  nosso  culto,  a  fim  de  que  este  não  seja  confundido  com  os  cultos 
pagãos. 
 
  No  livro de Coríntios, portanto, Paulo está sempre tentando pensar e reconstruir 
a  identidade  das  pessoas  a  quem  essa  carta  está  chegando.  E  ela  está  falando 
primeiramente com quem? Vamos entender.  
 
  A  principal  religião  dessa  cidade  de  Coríntios  era  a  adoração  à  Afrodite  -  a 
mesma  deusa  Astarote  da  Fenícia  –  que  tem  essa  ideia  da  sensualidade,  da 

3
fertilidade.  Dessa  forma,  o  principal  culto  que  existia  nessa  cidade  era  em 
adoração  à  Afrodite.  Nesse  contexto,  iremos  encontrar  cerca  de  1000  mulheres 
sacerdotisas, uma espécie de prostitutas sagradas.  
 
  Essas  sacerdotisas  dedicadas  à  glória  da  deusa Afrodite. As mulheres que ficam 
responsáveis  nesse  serviço  vão  ter  a  obrigação  de  duas  vezes  por  ano  servir  no 
templo  de  Afrodite.  Inclusive,  Paulo  também  demonstra  essa  mesma 
preocupação como vimos em Colossenses e Tessalonicenses.  
 
  O  que  acontece,  então,  é  que  a  marca  que  essas  mulheres  tinham  que 
demonstrava  que  estavam  em  serviço, é a forma como elas cortavam os cabelos 
e  raspavam  a  cabeça.  Portanto,  quando  vemos  essa  discussão  sobre  como  a 
mulher  mantém  o  seu  cabelo,  percebemos  que  essa  questão  foi  trazida à nossa 
sociedade uma maneira muito equivocada.   
 
  A  questão  que  Paulo  aborda  em  Coríntios  é  que a mulher que estava de cabelo 
cortado  o  raspado  era  aquela  que  estava  em  serviço.  Essa  era  a  forma  como 
eram  reconhecidas  as  mulheres  sacerdotisas  que  iam  para  o  templo  como 
prostitutas  sagradas  em  memória  à  deusa  Afrodite.  Dessa  forma,  era  possível 
olhar  na  rua  e  identificar  uma  mulher  de  cabelo  curto: se fosse cortado curto ou 
raspado,  já  se  sabia  que  ela  estava  em  serviço.  Portanto,  essa  era  uma 
identificação de uma prostituta sagrada.  
 
  Dessa  maneira,  fica  claro  que  a  preocupação  de  Paulo  não  é  uma  questão 
estética,  mas  que  as  mulheres  da  igreja  não  fossem  confundidas  com 
prostitutas.  Sua  preocupação,  na  verdade,  era  que  essas  mulheres,  servas  de 
Deus,  não  fossem  comparadas,  na  rua,  com  mulheres  que  estão  totalmente 
envolvidas com imoralidade e idolatria.  
 
  Da  mesma  forma  quando  se  fala  para  que  elas  fiquem  em  silêncio,  também 
existe  essa  preocupação  cultural,  uma  vez  que  eram  justamente  essas 
sacerdotisas  que  assumiram  todo  o  culto.  A  preocupação  pastoral  de  Paulo, 
então,  é  simplesmente  de  distinção:  as  mulheres  cristãs  são  diferentes  das 
prostitutas de Afrodite. 
 
➔ Nota  Pastoral:  ​Testemunhe  isso  e  tome  cuidado  para  que  não  confundam 
essas  realidades  na  sua  igreja.  Leve  isso  a  sério,  tome  cuidado  com  essas 
aparências, a fim de que isso não se torne um embaraço na vida da igreja. 
 
l​ Relação de Atos com Coríntios 
 
  Podemos  ver  uma  relação  muito  forte  entre  Coríntios  e  Atos  18.  Fazendo  essa 
relação,  podemos  identificar  em  Atos  esse  mesmo  ambiente  que temos no livro 
de Coríntios.  

4
  Para  melhor  entendimento,  podemos  relacionar  algumas  leituras  de  texto  em 
conjunto,  a  fim  de  ajudar  a  identificar  esses  dois  livros e o paralelismo que pode 
existir entre os dois livros.  
 
Assim  sendo,  procure  fazer  um  paralelismo,  harmonizando  os  seguintes  textos 
abaixo. Compare: 

● Atos Versículo 4 x I Coríntios 7:18. 


● Romanos 16:23 x I Coríntios 1: 26, 27  

  Na  primeira  comparação,  temos  Paulo  em  Atenas  por  um  período  curto,  mas 
também  podemos  ver  uma  relação  entre  Atos  x  Coríntios.  Em  Romanos,  na 
segunda  comparação,  podemos  atestar  a  estada  de  Paulo  em  Atenas.  Paulo  vai 
dar  essa  bronca  na  igreja,  falar  sobre  a  postura  que  está  equivocada  e  vai  me 
relembrar o conceito de santidade. 
 
l​ Gálatas Paulinas 
 
  O  livro  de  Gálatas  é  uma  carta  destinada  às  igrejas  da  Galácia.  Logo  na 
introdução,  nos  versículos  1  a  3,  Paulo  se  refere  aos  que  “estão  comigo".  O  que 
quer  dizer  que  Paulo  não  estava  sozinho  quando  escreveu  isso.  Esse  texto, 
portanto, expressa o pensamento de uma liderança, não apenas de uma pessoa.  
 
  Então,  quando  o  Paulo  menciona  “esses  que  estão  comigo”  isso  significa  que o 
que  o  que  ele  está  escrevendo  é  um  reflexo.  Depois  ele  continua  com  uma 
saudação  judaica, falando com judeus convertidos. Logo após essa saudação, ele 
dá uma explicação Cristã, seguindo depois para as ações de graças. 
 
Para melhor compreensão, observe o texto a seguir: 
 
  "Paulo,  apóstolo,  não  da  parte  dos  homens,  nem  por  intermédio  de  homem 
algum,  mas  sim  por  Jesus  Cristo,  e  por  Deus  Pai,  que  o  ressuscitou  dentre  os 
mortos,  e  todos  os  irmãos  que  estão  comigo,  às  igrejas  da  Galácia:  Graça  a 
vós,  e  paz  da  parte  de  Deus nosso Pai, de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual se 
deu  a  si  mesmo  por  nossos  pecados,  para  nos  livrar  do  presente  século  mau, 
segundo  a  vontade  Deus,  nosso  Pai,  a  quem  seja  a glória para todo o sempre. 
Amém." Gálatas 1:1-,5 
 
Nesse texto, podemos identificar os seguintes elementos: 

● Quem está escrevendo? Paulo e os irmãos que estão com ele. 


● Saudação judaica: Graça a vós, e paz da parte de Deus nosso Pai  
● Explicação cristã: de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual se deu a si mesmo por 
nossos pecados. 

5
  Assim  sendo,  qual  é  a  crítica, qual é o problema que está acontecendo na igreja 
de  Gálatas?  A  crítica  que  os  judaizantes  estão  dizendo  é  que  Paulo  está 
transformando  o  Evangelho  da  graça,  tornando-o  fácil  demais.  Segundo  eles, 
Paulo  está  inventando  um  monte  de  coisas,  e  esses  judaizantes  que  estão 
sempre  tentando  puxar  o  cristianismo  para  trás,  porque  não  entendem  que  o 
cristianismo  é  uma  nova  aliança,  estão  acusando  o  apóstolo  Paulo  de  ter 
transformado o Evangelho em alguma muito fácil. 
 
  Existe  uma  citação do pastor americano Tim Keller que fala que o cristianismo é 
diferente  de  todas  as  religiões  do  mundo.  As  demais  religiões  nos  dizem  para 
sermos  “bonzinhos”  para  irmos  para  o  céu.  Já  o  cristianismo  diz  que, 
primeiramente,  é  preciso  que  o  homem  seja  encontrado  pela  graça  e 
misericórdia, para então ir ao céu.  
 
  A  ideia  central  do  cristianismo  é  que  nossa  salvação  é  sustentada em Cristo, na 
graça,  e  que  não  chegamos  à  salvação  por  mérito  próprio.  Então,  porque  os 
judeus  ainda  não  entenderam  a  pregação  do  apóstolo  Paulo,  começam  a  dizer 
que  esse  Evangelho  está  ficando  muito  fácil,  misturado,  que  a  mensagem 
judaica  é  mais  consistente.  Em  outras  palavras,  é  como  se  eles  dissessem:  “nós 
até acreditamos em Jesus Cristo, mas esse negócio não é assim como Paulo está 
ensinando”. 
 
  Então  Paulo  vem  para  explicar  o  papel  da  lei e para que ela serve. Ele começa a 
desenvolver  a  ideia  de  que  a  lei  serve  para  desmascarar,  revelar  que  eu  sou  um 
pecador,  e  que  a  lei  não  veio  para  trazer  a  salvação.  E  a  ideia  que  Paulo  vem 
trazer no livro de Gálatas é o conceito de aio – uma espécie de babá ou tutor.  
 
  Mas  o  aio,  ou  tutor,  cuida  do  filho  de  uma  maneira  severa e rígida, até que esse 
filho  atinja  a  maturidade  de  18  anos,  que  é  quando  ele  está  apto  para  receber 
sua  herança.  Dessa  forma,  Paulo  está comparando a lei a um aio, que traz o filho 
da Promessa com braços rígidos até que ele possa enfim alcançar a promessa.  
 
  A  lei  nos  traz  a  graça,  evidencia  nossos  pecados,  desmascara  as  nossas 
pretensões.  E  então,  uma  vez  perdidos,  tomados  pela  consciência  da  nossa 
limitação,  só  nos  resta  nos  render  e  suplicar  pela  misericórdia.  E  então,  nesse 
momento,  rendidos  e  quebrantados,  é  que  o  cristianismo  começa  a  crescer 
dentro  de  nós.  Quando  vemos  o  livro  de  Gálatas,  percebemos  os  contornos  da 
liberdade cristã, porque não somos regidos pela lei, embora nós a respeitamos. A 
lei  evidencia  o  que  fizemos  e  o  que  somos,  porém,  somos  regidos  pela  graça, 
pelo Evangelho e pelo Espírito Santo. 
 
  Alguns  chegam  a  dizer  que  o  livro  de  Gálatas  é  a  Carta  Magna  da  liberdade 
cristã.  Se  quisermos  pensar  em  liberdade,  o  livro  de  Gálatas  seguramente  é  o 
livro que vai nos ajudar a entender esse conceito.  
 

6
  A  região  da  Galácia  é onde hoje se encontra a Turquia. Boa parte desses lugares 
que  hoje  vive  grandes  conflitos,  como  Síria  e  Turquia,  já  foi  palco  de  eventos 
tremendamente  importantes  na  história  do  Cristianismo.  A  Turquia,  por 
exemplo, foi palco de uma das igrejas mais importantes da nossa história. 
 
  Muitos  vão  achar  que  esse  texto  foi  escrito  antes  do  capítulo  15  de  Atos,  pois  é 
no  capítulo  15  que temos o concílio, a disputa entre judeus e gentios, levantando 
questões  do  tipo:  Tem  que  batizar  para  ser  crente?  Tem  que  batizar  e 
circuncidar?  Qual  a  relação  entre  Judaísmo  e  cristianismo?  Não  estava  muito 
claro  na  cabeça  de  gentios  e  judeus  qual  era  o  papel  do  judaísmo  no 
cristianismo.  
 
  Então  o  Concílio  vem  para  reafirmar,  mais  uma  vez,  que  salvação  é  obra  de 
graça.  E  que  não  podemos  forçar  o  gentil  a  entrar  nessa  nova  fé  mediante  a 
observância  da  lei.  Ou  seja,  não  é  observando  a  lei  que  ele irá se fazer uma nova 
criatura. 
 
  Então  muitos  acreditam  então  que  o  capítulo  15  de  Atos,  que  é  onde  acontece 
esse  discurso,  isso  seja  um  tema  anterior.  Esse  é  um  dos  motivos  pelos  quais 
essa  reunião  tem  que  acontecer:  para  resolver  problemas  em  Gálatas,  que 
também  foram  resolvidos  no  capítulo  15  de  Atos.  Basicamente  temos  a  ideia  de 
Evangelho  verso  legalismo;  Graça  versos  lei.  E  esse  é  o  ponto  central  do  livro de 
Gálatas. 
 
Vamos  traçar  mais  um paralelo com o livro de Atos para que possamos perceber 
as relações. Compare:  

● Atos 9:26-30 x Gálatas 1:18-24 


● Atos 11:29-30 x Gálatas 2:1-10 

  Ao  traçar  esses  paralelos,  podemos  contrastar  que  é  o  mesmo  ambiente.  No 
segundo  paralelo  podemos  ver  essa  disputa  dos  judaizantes  que  estão  sempre 
puxando  para  um  lado  e  os  gregos  que  estão  ficando  confusos.  É  esse  cabo  de 
guerra  entre  judaísmo  porque  o  judaísmo  vai  tentando  puxar  esse  novo 
cristianismo  em  direção  à  lei.  E  lenta  ou  gradativamente  o  cristianismo  vai  se 
emancipando, criando Independência em relação ao judaísmo.  
 
  Percebemos  que  eles  estão  andando  lado  a  lado,  existe  uma  tendência  de 
fusão.  Os  judeus  querem  fazer  uma  fusão,  e  então  temos  Atos  15  e  Gálatas, cuja 
proposta  cristã  não  é  fusão.  Ou seja, entende-se a origem do cristianismo, mas o 
cristianismo  ganha  liberdade  para  seguir  sua  própria  essência.  Então  vemos 
tratados  sobre  a  liberdade  cristã,  nossa  autonomia  como  fé,  como  um  sistema 
dos  nossos  princípios,  e  o  cristianismo  se  emancipando  em  relação  a  todas  as 
demais possibilidades de religião. 
 

7
l​ Cartas da Prisão 
 
  Temos  as  cartas  da prisão, que são escritas a Colossenses, Filemom, Filipenses e 
Efésios.  Para  melhor  compreensão  do  contexto  histórico,  vejamos  a  carta  aos 
Colossenses.  
 
● Colossenses 
 
  Em  Colossos  nós  vamos  ver  o  culto  à  deusa  Cibele.  É  um  culto  cuja 
característica  é  o  êxtase,  que  agrega  a  filosofia  Pagã,  com  judaísmo,  mais 
cristianismo,  enfim,  tudo  o  que  era  novidade,  cabia  nesse  culto.  Era  como  uma 
espécie  de  caldeirão  de  várias  tendências,  onde  cabia  um  pouquinho  de  cada 
coisa,  cada  ideia,  mesmo  o  intelectualismo,  tudo  se  encaixava  dentro  desse 
culto.  
 
  Paulo  está  dizendo  que  esse  caldeirão  de  influências,  que  tem  de  tudo  para 
todos  os  gostos,  não  é  igual  ao  culto  a  Cristo.  E  mais  uma  vez  nós  o  vemos 
preocupado em fazer a distinção entre o culto a Cibele e o culto a Cristo.  
 
  Esse  é  o  pano  de  fundo  de  Colossenses,  e  é  uma  carta  escrita  da  prisão,  onde 
Paulo,  mesmo  preso,  está  preocupado  com  o  andamento  da  igreja.  Sua  prisão 
não  faz  com  que  ele  perca  o  foco  da  igreja,  mas  ele  continua  interessado  em 
cuidar.  Percebemos  então  que,  mesmo  preso,  Paulo  ainda  é  pastor  dessas 
igrejas, e ele ainda se preocupa com a realidade das mesmas.  
 
  Ao  longo  dessas  cartas  da  prisão  podemos  observar  um  tema  recorrente  que é 
uma  discussão  cristológica:  Qual  o  papel  de  Cristo  e  qual  é  a  Sua  função  na 
igreja?  Por  conta  disso,  essas  cartas  que  partem  da  prisão  apresentam  a  Cristo 
como  cabeça  do  cosmos, como cabeça da igreja e como cabeça do homem. Isso 
é muito claro em todas as cartas da prisão.  
 
  Além disso, também temos a ideia musical. Um bom exemplo disso é o episódio 
de  Paulo  e  Silas  na  prisão  em  uma  atitude  de  louvar  e  engrandecer  a  Jesus 
Cristo  e  a  Deus,  apesar  das  dificuldades.  Dessa  forma,  nas  cartas  da  prisão  nós 
podemos  ver  esse  mesmo  movimento  de  adoração.  Podemos  encontrar 
verdadeiros  hinos  cristológicos,  verdadeiras  canções,  que  são  canções  que  você 
canta,  com  melodias  certamente  baseadas  nesses  textos.  Seguramente  os mais 
conhecidos  desses  hinos  cristológicos  nós  vemos  no  livro  de  Filipenses  2:6-11:  a 
narrativa  de  Paulo  (canção)  de  que  Jesus  se  esvazia  e  abre  mão  da  Sua  glória, 
assumindo forma de homem, obedecendo até a morte de Cruz. 
 
  Podemos  ver  isso  em  diversas  canções,  com  a  estrutura  de  um  hino,  de  um  de 
um  louvor.  Da  mesma  forma  também  temos  esse  hino  cristológico  em 

8
Colossenses  1:15-20.  Portanto,  mesmo  sendo  cartas  da  prisão,  o  louvor  é  uma 
questão muito significativa.  
 
  Temos  ainda  a  tensão  entre  alegria  da  expansão  do  Evangelho  e  a  tristeza  de 
um  sofrimento  pessoal.  Todas  as  cartas  da  prisão  vão  transmitir  essa  mesma 
ideia:  a  felicidade  de  Paulo  por  perceber  que  o Evangelho está florescendo, mas 
ao  mesmo  tempo,  de  estar  passando  por  circunstâncias  difíceis  estando  preso, 
vivendo  limitações  -  que  é,  inclusive,  quando  ele  chega  a  falar  sobre  as  marcas 
que ele carrega. 
 
● Efésios 
 
  Embora  existam  teorias  de  que essas cartas tenham sido escritas em Roma, em 
Cesaréia  ou  em  Jerusalém,  a  maior  probabilidade  é  que  elas  tenham  sido 
escritas em Éfeso. 
 
● Filipenses 
 
  Temos  no  livro  de  Filipenses  mais  uma  carta  da  prisão.  Talvez  uma  das  mais 
conhecidas,  onde  que  ele  repete  várias  vezes  a  expressão:  regozijai-vos.  A  ideia 
da  alegria  é  interessante,  porque  ele está encontrando alegria atrás das grades - 
às  vezes  queremos  encontrar  alegria  nos  lugares  que  não são exatamente onde 
a palavra de Deus nos demonstra.  
 
  Podemos  ver  então  que  Paulo  pôde  encontrar  alegria  depois  de  surras,  de 
prisões,  de  apedrejamento.  E  agora,  mesmo  atrás  das  grades,  apesar  da 
dificuldade,  do cansaço e de algumas angústias, ele encontra a felicidade. O livro 
de  Filipenses  traz  uma  descoberta  da  felicidade:  posso  todas  as  coisas  naquele 
que  me  fortalece.  Podemos  identificar  essa  frase  como  um  sorriso  de um preso, 
não  a  presunção  de  um  falastrão,  mas  de  alguém  que passou por todos os tipos 
de  circunstâncias  e  que,  mesmo  na  prisão,  consegue  se  alegrar  no  Deus  da  sua 
salvação. 
 
  Filipenses  é  uma  cidade  importante,  havia  várias  minas  de  ouro  e  prata,  era 
uma  cidade  estrategicamente  importante  para  questões  militares,  um  ponto 
comercial importante. Então nós vamos ver um paralelismo entre a carta aos  
 
Filipenses e o Capítulo 16 de Atos. Compare:  

● Filipenses x Atos 16 

  Como  já  vimos,  a  igreja  de  Filipenses  começa  com  Paulo  e  Timóteo  orando, 
depois  encontram  Lídia,  uma  senhora  comerciante.  Depois  encontram  uma 
serva  que  está  possuída  por  espírito  de  adivinhação,  e  depois  têm  um  encontro 
com um carcereiro romano.  

9
  Então,  dessas  três  famílias  nasce  uma  igreja  com  um  perfil  simples:  uma 
senhora,  uma  escrava  e  um  carcereiro  romano.  Essa  é  a  identidade  da  igreja  de 
Filipenses,  uma  igreja  que  precisa  ser  ministrada  por  uma  alegria,  sendo 
impactadas  pela  profunda  obra  que  o  Espírito  Santo,  que  irá  trazer  uma 
felicidade  sobrenatural  incomparável  na  vida  do  apóstolo  Paulo.  Podemos  ver 
humildade  e  gratidão,  e  então  vemos  que  lágrimas  podem  andar  juntas,  de 
mãos  dadas  com  alegria;  lágrimas não são empecilhos para alegria ou felicidade 
cristã. 
 
 E então nós vemos o desenvolvimento desse tema de alegria e unidade que não 
são destruídas por nenhum elemento humano. 
 
  Retomando,  o  objetivo  de  Paulo  em  Colossenses  é  combater  as  heresias. 
Porque  na  cabeça  de  Colossenses  eles pensam num Cristo ou um fantasma que 
não  tinha  corpo  ou  numa  outra  versão  de  um  Cristo  que  só  realmente  habitou 
depois  do  batismo.  Essas  são  duas  heresias  sobre  quem  é  Cristo.  Portanto, 
podemos  dizer  que  essas  cartas  da  prisão  reforçam  a  identidade  de  Jesus,  para 
que  a  igreja  não  caia  nesses  mitos  e  nessas  falsas  doutrinas  sobre  a  pessoa  de 
Jesus Cristo.  
 
l​ Cartas Pastorais 
 
  Depois  então  temos  as  cartas  pastorais:  I  e  II  Timóteo  e  Tito.  Nas  cartas  a 
Timóteo,  Paulo  tem  essa  preocupação  mais  pessoal,  a  ênfase  eclesiológica  de 
cuidar,  e  de  como  Timóteo  vai  estabelecer  uma  nova  liderança.  Paulo  exorta 
Timóteo  a  cuidar  mais  de  si  mesmo.  A  grande  questão  de  Timóteo  é  que  todo 
esse  sofrimento  que  o  seu  discipulador  que  Paulo  sofre,  isso  funciona como um 
grande  dilema,  como  um  desafio  para  o  próprio  Timóteo,  uma vez que a pessoa 
que  o  está  ensinando  está  passando  por  diversas  dificuldades.  Então  Paulo  vai 
desenvolver  logo  no  início  do  livro  de  Timóteo,  que  o plano da Redenção, a obra 
Redentora era propósito para trazer consolação nos corações. 
 
  Paulo  se  sentia  privilegiado  por  ser  alguém  que  pregava  o  Evangelho.  E  ele 
então  estimula  a  Timóteo  a  sofrer  com  ele  como  soldado  de  Jesus,  para  que 
esses  sofrimentos  e  essas  dificuldades  não  começassem  a  tomar  o  coração  de 
Timóteo,  a  fim  de  esmorece-lo  e  causar  fraqueza  na  fé.  Ao  contrário,  a  intenção 
de  Paulo  era  que  Timóteo  pudesse  se  sentir  fortalecido,  uma  vez  que  seu 
sofrimento  não  é  vão.  A  preocupação de Paulo com Timóteo, portanto, é que ele 
entenda  o  que  existe  por  trás  de  toda  a  luta  que está sendo travada em nome e 
do Evangelho.  
 
  A  mesma  relação  de  encorajamento  nós  podemos  ver  em  Tito,  quando  Paulo 
está  colocando  as  coisas  em  seu  lugar  a  fim  de  que  a  igreja  possa  crescer  de 
uma forma equilibrada, conhecendo os verdadeiros ensinamentos do Senhor.  

10
  Encerramos aqui as cartas Paulinas - as cartas missionárias, as cartas da prisão e 
as  cartas  pastorais.  Espero  que  elas  possam  te  inspirar  mais  uma  vez  a  se 
dedicar a esse Evangelho maravilhosos de Jesus Cristo. 
 

11
12

Você também pode gostar