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Gênero, Sexualidade e

Educação
Professor Esp. Jose Valdeci Grigoleto Netto

EduFatecie
E D I T O R A
20 by Editora EduFatecie
Copyright do Texto © 20 Os autores
Copyright © Edição 20 Editora EduFatecie

o download da obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos autores, mas sem a

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP

G857g Grigoleto Netto, José Valdeci


Gênero, sexualidade e educação / José Valdeci Grigoleto
Netto. Paranavaí: EduFatecie, 2021.
81 p. : il. Color.

ISBN 978-65-87911-70-0

1. Identidade de gênero na educação. 2. Educação sexual.


I. Centro Universitário UniFatecie. II. Núcleo de Educação a
Distância. III. Título.

CDD : 23 ed. 306.7


Catalogação na publicação: Zineide Pereira dos Santos – CRB 9/1577

UNIFATECIE Unidade 1
Reitor EQUIPE EXECUTIVA
Prof Ms.
Editora-Chefe
Diretor de Ensino Prof
Prof Ms. Sbardeloto
Diretor Financeiro UNIFATECIE Unidade 2
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Diretor Administrativo (

Secretário Acadêmico
UNIFATECIE Unidade 3
Tatiane Viturino de
Oliveira
Prof

Coordenação Adjunta de Ensino


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Coordenação Adjunta de
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Revisão Textual www.unifatecie.edu.br/
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e Diagramação edufatecie@fatecie.edu.br
AUTOR

Professor Jose Valdeci Grigoleto Netto

● Mestrando em Psicologia (Universidade Estadual de Maringá, Maringá - PR);


● Graduado em Psicologia (Centro Universitário Ingá - UNINGÁ, Maringá - PR);
● Especialista em Educação Especial e Inclusiva (Faculdade de Tecnologia e
Ciências do Norte do Paraná - UNIFATECIE, Paranavaí - PR);
● Especialista em Saúde Mental, Psicopatologia e Atenção Psicossocial (Centro
Universitário de Maringá - UNICESUMAR, Maringá - PR);
● Membro do Grupo de Pesquisa DeVerso - Sexualidade, Saúde e Política
(Universidade Estadual de Maringá, Maringá - PR).
● Professor orientador de Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC) da Pós-
Graduação Lato Sensu (EAD) do Centro Universitário de Maringá - UNICESUMAR.

Possui experiência na área da política pública de Assistência Social, estudos de


gênero, diversidade sexual, e educação especial e inclusiva. Atualmente, no mestrado, pes-
quisa acerca da subjetividade e das práticas sociais na contemporaneidade, com ênfase
nas relações de gênero.

Link para acesso ao currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/2661321527310427


APRESENTAÇÃO DO MATERIAL

Olá, aluno(a)!

Seja bem-vindo(a) à disciplina: Gênero, Sexualidade e Educação. Neste momento,


você terá a oportunidade de conhecer a interface entre estes três temas que, muitas vezes,
quando trabalhamos em conjunto, despertam receio e desconfiança por parte dos profissio-
nais da educação e, também, da sociedade.
Para desenvolvermos um trabalho interessante e agradável, a disciplina foi dividida
em quatro unidades e, em cada uma delas, iremos trabalhar alguns temas que se relacio-
nem entre si. Vamos conhecer cada um deles detalhadamente?
Para iniciar, na Unidade I iremos realizar um apanhado histórico acerca da cons-
trução histórica dos temas envolvidos na disciplina e, a partir disso, correlacionar suas
perspectivas com a educação sexual. Para tanto, será destacada a contextualização his-
tórica sobre os estudos de gênero e educação. Na sequência, iremos nos atentar para a
sexualidade enquanto uma construção histórica, social, cultural, política e discursiva. Dando
continuidade, iremos conhecer alguns paradigmas subjacentes às várias abordagens de
educação sexual através da história e seus reflexos nos cotidianos das sociedades, com
destaque para a escolarização brasileira, a educação para sexualidade e para a equidade
de gênero. Ao final da unidade, daremos atenção à importante prevenção do preconceito e
discriminação, no respeito à alteridade e às identidades culturais.
Concluído este momento, iremos avançar para a Unidade II em que iremos traba-
lhar a educação de gênero e sexualidade nos espaços escolares. Nesta perspectiva, será
dada atenção especial para as abordagens pedagógicas da educação sexual no Brasil.
Ainda, compreenderemos os conceitos e as interfaces entre gênero e orientação sexual.
Para finalizar, iremos nos debruçar no conhecimento dos recursos didático-metodológicos
para um trabalho de Educação Sexual na Educação Infantil e Ensino Fundamental.
Seguindo adiante, na Unidade III iremos voltar nossa atenção para a questão da
sexualidade na infância e adolescência. Desta maneira, realizaremos um diálogo sobre
crianças e adolescentes, gênero e sexualidade na interface entre tais temas. Após isso,
estudaremos a questão da violência sexual infantil e seus desdobramentos. Para finalizar,
como tema extremamente importante, dar-se-á um destaque especial para a integração
entre escola e família.
Ao fim da disciplina, na Unidade IV, trabalharemos as práticas pedagógicas com
base em uma educação sexual emancipatória. Para tanto, conheceremos os processos de
educação sexual que existem nos espaços educativos. A seguir, conheceremos a construção
de educação sexual com base em uma proposta emancipatória. Neste caminho, para finalizar
nossos estudos, vamos conhecer o ensino dos Direitos Humanos no contexto escolar.
A partir da organização, esperamos que os conteúdos que escolhemos para serem
apresentados nesta disciplina sejam norteadores para seus estudos e, inclusive, sua futura
prática docente. Aproveite ao máximo a disciplina, extraia o possível de informações e
conhecimento destas páginas.

Ótimo estudo!
SUMÁRIO

UNIDADE I....................................................................................................... 6
Construção Histórica e Perspectivas da Educação Sexual

UNIDADE II.................................................................................................... 27
Educação de Gênero e Sexualidade nos Espaços Educativos

UNIDADE III................................................................................................... 44
Sexualidade na Infância e Adolescência

UNIDADE IV................................................................................................... 59
Práticas Pedagógicas com Base em uma Educação Sexual
Emancipatória
UNIDADE I
Construção Histórica e Perspectivas da
Educação Sexual
Professor Esp. Jose Valdeci Grigoleto Netto

Plano de Estudo:
● Contextualização histórica sobre os estudos de gênero e educação;
● Sexualidade como construção histórica, social, cultural, política e discursiva;
● Paradigmas subjacentes às várias abordagens de educação sexual através
da história e seus reflexos nos cotidianos das sociedades, com destaque para
a escolarização brasileira, a educação para sexualidade e para a equidade de gênero;
● Prevenção do preconceito e discriminação, no respeito a alteridade e às
identidades culturais.

Objetivos da Aprendizagem:
● Conhecer a história acerca dos estudos
de gênero e suas interfaces com a educação;
● Compreender os aspectos relacionados à sexualidade
enquanto uma construção histórica, social e cultural;
● Conhecer recursos para o trabalho educativo, com o objetivo de prevenir
situações de preconceitos e discriminações no âmbito escolar.

4
INTRODUÇÃO

Olá, aluno(a)!

Seja bem-vindo(a) à primeira unidade da disciplina Gênero, Sexualidade e Educa-


ção. Neste momento, iremos nos debruçar em aspectos introdutórios acerca da temática.
Para isso, faremos um amplo estudo acerca de conceitos e ideias, culminando em impor-
tantes reflexões e análises.
No Tópico I iremos trilhar através da contextualização histórica sobre os estudos de
gênero e educação, principalmente no Brasil, iniciando com a conceituação do que vem ser
a palavra gênero e de como podemos empregá-la em nosso vocabulário e no dia a dia. Na
sequência iremos estudar as construções históricas acerca do masculino e feminino, com os
papéis sociais que são pré-determinados em relação aos sexos. Ainda, iremos refletir acerca
do papel da escola na construção dos estudos de gênero e na manutenção destes papéis.
Avançando, no Tópico II trataremos mais especificamente da sexualidade como
construção histórica, social, cultural, política e discursiva. Para isso, nos debruçaremos
nos estudos de Michel Foucault e outros(as) autores(as) importantes, compreendendo a
importância e relevância dos discursos, bem como a noção de poder e seus efeitos.
No Tópico III iremos discutir acerca das abordagens de educação sexual através
da história e seus reflexos no cotidiano para a escolarização brasileira frente à equidade
de gênero. Para isso, iremos conhecer um pouco do papel dos estudos feministas para a
compreensão dos estudos de gênero, bem como a importância da temática da sexualidade
dentro das escolas e, principalmente, o papel desta instituição para o fomento de discus-
sões e diálogos que envolvam a temática da sexualidade, a fim de proporcionar equidade
no acesso aos direitos.
Por fim, no Tópico IV iremos estudar aspectos relacionados à prevenção do pre-
conceito e discriminação frente às diferenças, contando com estudos que embasam e
problematizem aspectos relacionados ao preconceito no ambiente escolar.
A partir da exposição apresentada, espero que os temas aqui elencados sejam
pertinentes e úteis para embasar seus estudos e sua futura prática docente.

Bons estudos!

UNIDADE I Construção Histórica e Perspectivas da Educação Sexual 5


1. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA SOBRE OS ESTUDOS DE GÊNERO E
EDUCAÇÃO

Olá, aluno(a), vamos dar início ao primeiro tópico de nossos estudos. Para tanto,
é preciso que realizemos um resgate histórico acerca dos estudos sobre gênero e suas
interfaces com a educação, para que possamos compreender como, nos dias de hoje, a
relação educação e sexualidade é compreendida. Vamos lá?
Primeiro, é importante destacar que definir e conceituar a palavra gênero não é uma
tarefa fácil e simplista. Pela sua amplidão de compreensões, pela vasta gama de autores e
autoras que trabalham com este conceito, gênero pode ser compreendido de maneira plural.
Além disso, Connell e Pearse (2015) destacam que o gênero é um espaço que
ocupa uma posição central e de grande importância na vida das pessoas, refletindo,
inclusive, em questões de acesso à justiça, à identidade e à sobrevivência. Não obstante,
como nós podemos perceber atualmente, e as autoras também destacam, gênero é um
assunto alvo de constantes preconceitos, mitos e rodeados por falsas ideias. Portanto, é
preciso que nós saibamos que
[...] Acima de tudo, o gênero é uma questão de relações sociais dentro das
quais indivíduos e grupos atuam. [...] o gênero deve ser entendido como uma
estrutura social. Não é uma expressão da biologia, nem uma dicotomia fixa
na vida ou no caráter humano. É um padrão em nossos arranjos sociais, e as
atividades do cotidiano são formadas por esse padrão (CONNELL; PEARSE,
2015, p. 47).

UNIDADE I Construção Histórica e Perspectivas da Educação Sexual 6


A partir desta definição, podemos pensar no gênero enquanto uma questão das
relações, compreendendo-o enquanto algo que faz parte da maneira na qual as sociedades
lidam com os corpos das pessoas e com suas vidas. Ainda, gênero diz respeito à nossa
identidade e nossa sexualidade (CONNELL; PEARSE, 2015).
Desta maneira, podemos compreender que o gênero não está relacionado à biolo-
gia, aos aspectos orgânicos que diferem o “macho” da “fêmea”. Pensar em gênero é pensar
exatamente em uma pluralidade de possibilidades, que vão além de uma dicotomia, isto é,
algo com apenas duas possibilidades, mas sim que assuma uma imensidão de expressões
de vida e, consequentemente, de sexualidade.
Importante pontuar, como afirma Louro (2003), que, ao falarmos da importância
dos aspectos sociais na construção de gênero, não estamos negando a importância do
papel dos aspectos biológicos, mas estamos retirando certa ênfase, exageradamente
focada em tais pontos.
O objetivo, com isso, é trazer para o espaço social os debates relacionados ao
gênero e às sexualidades, visto que é exatamente no campo do social que as relações são
construídas e, como fator consequente, as exclusões e discriminações também se produ-
zem. “As justificativas para as desigualdades precisariam ser buscadas não nas diferenças
biológicas [...] mas sim nos arranjos sociais, na história, nas condições de acesso aos
recursos da sociedade, nas formas de representação” (LOURO, 2003, p. 22).
Agora que já possuímos uma compreensão do que é o gênero, pergunto à você,
aluno(a): Quantas vezes você já ouviu alguma dessas expressões: “isso é coisa de me-
nino; isso é coisa de menina”, ou ainda “azul é cor de menino e rosa é cor de menina”,
relacionando cores, objetos, profissões com o sexo biológico das pessoas. Acredito que
inúmeras vezes, não é mesmo?! Proponho, então, que você se questione e reflita: será
que essa construção (do que é pertencente ao menino e à menina) é algo natural? Será
que “sempre foi assim”?
Revisitando a história, podemos constatar que, ao longo dos tempos, as diversas
sociedades criaram ideias de como deveria ser utilizado o tempo e o espaço, isto é, o tempo
de casa, o tempo do ócio, o tempo da rua. Ainda houve a determinação e estabelecimento
de lugares que eram permitidos ou não para determinados grupos de pessoas. A escola,
neste aspecto, exerceu importante papel no que diz respeito ao acesso, separação e per-
manência de diferentes alunos neste ambiente (LOURO, 2003).
Curioso apontar que, segundo a autora, havia antigos manuais que determinavam,
de maneira explícita, como deveria ser o trato que os professores deveriam ter com seus

UNIDADE I Construção Histórica e Perspectivas da Educação Sexual 7


alunos, ou seja, a maneira na qual eles iriam lidar com a forma de segurar o lápis, de se
posicionar nas carteiras, dentre outros aspectos, o que acabava por construir uma distinção
entre meninos e meninas. Para cada um destes havia regras a serem seguidas, distintas e
muito bem demarcadas umas das outras.
Havia, inclusive, nas chamadas “escolas femininas”, a produção de meninas vol-
tadas aos trabalhos manuais, à delicadeza, ao treino de habilidades unicamente de ordem
manual, o que resultava em jovens ditas “prendadas”, em que seus trabalhos giravam em
torno, quase que exclusivamente, de agulhas e pincéis. Vê-se, então, que “As marcas da
escolarização se inscreviam, assim, nos corpos dos sujeitos” (LOURO, 2003, p. 62).
FIGURA 1 - CRIANÇA EM ATIVIDADE ESCOLAR

Aluno(a), a partir dessas afirmações, pensem comigo: podemos, então, falar em


um “processo de fabricação de sujeitos”? Podemos pensar que sim, visto que, como aponta
Louro (2003), essa fabricação se dá de maneira sutil, quase imperceptível nos dias de
hoje. Tomemos como exemplos: a separação, nas escolas, de filas de meninos e meninas;
a separação de meninos e meninas em atividades escolares; a escolha de determinados
brinquedos para meninas e outros para meninos (como já pontuamos anteriormente). Tudo
isso, aluno(a), faz parte de um processo que precisamos questionar, problematizar e, acima
de tudo, desconfiar.
Os questionamentos em torno desses campos, no entanto, precisam ir além
das perguntas ingênuas e dicotomizadas. Dispostas/os a implodir a idéia
de um binarismo rígido nas relações de gênero, teremos de ser capazes de
um olhar mais aberto, de uma problematização mais ampla (e também mais
complexa), uma problematização que terá de lidar, necessariamente, com as
múltiplas combinações de gênero, sexualidade, classe, raça, etnia (LOURO,
2003, p. 65).

UNIDADE I Construção Histórica e Perspectivas da Educação Sexual 8


Assim, pensarmos na relação e na importância da discussão de temas relacio-
nados ao gênero e à sexualidade dentro do ambiente escolar, é pensar no respeito à
diversidade humana, sua multiplicidade e diversidade, o que, infelizmente, tem gerado
nos últimos tempos debates negativos que colocam em jogo a questão do efetivo acesso
democrático ao ensino. Todavia, quanto mais dialogarmos acerca da importância do re-
conhecimento das diferenças de gênero, raça, orientação sexual, idade, dentre outros,
mais iremos nos aproximar de uma efetiva democracia, realocando nossos debates às
questões relacionadas à criação e aperfeiçoamento de políticas públicas que visem a
qualidade do ensino que é ofertado, bem como a permanência destes estudantes nos
espaços de ensino (OLIVEIRA; MOCHI, 2020).
No tópico a seguir iremos conhecer um pouco acerca dos aspectos que envolvem
a sexualidade, especificamente os pontos que demarcaram sua construção histórica, a ma-
neira na qual as sociedades a compreendiam e compreendem no dia de hoje, perpassando
pelo olhar da cultura, da política e do discurso. Vamos lá!

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2. SEXUALIDADE COMO CONSTRUÇÃO HISTÓRICA, SOCIAL, CULTURAL,
POLÍTICA E DISCURSIVA

Louro (2004) afirma que a sexualidade, tendo sido tornada (não por acaso) uma
“questão” nos últimos dois séculos, vem sendo assunto de grande interesse de diversas
áreas, por exemplo: cientistas, educadores, religiosos e psiquiatras. Pautadas em diferentes
visões, as compreensões acerca da sexualidade buscam descrever, compreender, explicar,
regular, educar e normatizar suas práticas e expressões.
Neste caminho, para discutirmos acerca do tema da sexualidade e, principalmente,
para compreendermos a construção histórica e cultural de seus desdobramentos, faz-se
pertinente recorrermos aos estudos do filósofo Michel Foucault que se debruçou na cons-
trução da História da Sexualidade, tendo publicado, em vida, sua obra em três tomos. O
Primeiro livro, intitulado A Vontade de Saber, foi originalmente publicado em 1976; o segun-
do, O Uso dos Prazeres e o terceiro, O Cuidado de Si foram ambos publicados em 1984.
Em 2018, sob a edição de Fréderic Gross, anos após a morte de Foucault, foi publicado o
quarto volume, intitulado As Confissões da Carne.
Para Foucault (1976/2020), no início do século XVII a sexualidade não era com-
preendida enquanto um assunto tabu, ao contrário: não havia segredo, as palavras eram
ditas sem delongas, havia certa familiaridade com o dito “ilícito”. A ideia de obsceno não
era a mesma que nossa sociedade, hoje, compreende a sexualidade; era a época dos
corpos expostos, gestos e atitudes que não portavam vergonha. Era a sexualidade em
sua forma crua e livre.

UNIDADE I Construção Histórica e Perspectivas da Educação Sexual 10


No entanto, a partir do século XIX, a sexualidade toma outra forma, se encerra en-
quanto atributo e prática livre, torna-se indecente. Ela deixa de ser assunto público, visível
e adentra o quarto dos pais, isto é, o quarto do casal, local para a procriação. A sexualidade
é confiscada para o seio familiar; seu objetivo agora é a reprodução. O prazer não é mais o
alvo, o objetivo final (FOUCAULT, 1976/2020).
Surge, então, a repressão da sexualidade. É o silenciamento das práticas até
então permitidas, é como se surgisse a “[...] constatação de que, em tudo isso, não há
nada para dizer, nem para ver, nem para saber” (FOUCAULT, 1976/2020, p. 8). Fazendo
um balanço com os dias atuais, Maio (2011, p. 38) ressalta que, ainda hoje, no século
XXI, “É inegável que vivemos numa tradição cultural na qual nosso corpo sofreu e ainda
sofre uma série de repressões por meio de preconceitos, normas sociais, interditos [...]
sofrendo com isso uma rigidez postural”.
Foucault (1976/2020) nos mostra como os discursos médicos passaram a exercer um
papel central na patologização de determinadas práticas sexuais, denominadas de “perver-
sões”, exercendo o papel de poder frente à uma verdade que detinha todo o conhecimento. Os
discursos médicos, então, eram tomados como a norma, o correto e o que, por consequência,
deveria ser seguido; tudo o que fugia à tal norma deveria ser corrigido, revertido.
Na psiquiatrização das perversões, o sexo foi referido a funções biológicas
e a um aparelho anátomo-fisiológico que lhe dá “sentido”, isto é, finalidade;
também a um instinto que, através do seu próprio desenvolvimento e de acor-
do com os objetos a que pode se vincular, torna possível o aparecimento das
condutas perversas e sua gênese, inteligivél (FOUCAULT, 1976/2020, p. 167).

É o que Louro (2004) aponta, ao elucidar que, a partir do século XIX, homens vito-
rianos, que detinham o poder, começaram a fazer “descobertas” (entre aspas para enfatizar
certa ironia) a respeito da sexualidade, definindo e classificando as práticas que recaiam
nos corpos de homens e mulheres. Tais discursos passaram, como Foucault elucidou, a
deter certa ideia de verdade e, por isso, não poderiam ser questionados. Com isso,
Busca-se, tenazmente, conhecer, explicar, identificar e também classificar,
dividir, regrar e disciplinar a sexualidade. Produzem-se discursos carregados
da autoridade da ciência. Discursos que se confrontam ou se combinam com
os da igreja, da moral e da lei (LOURO, 2004, p. 79).

Hoje, nós presenciamos discursos que colocam a sexualidade enquanto heteronor-


mativa, isto é, apenas a expressão/relação afetivo-sexual entre um homem e uma mulher
heterossexual podem ser consideradas normais. Essa maneira de viver e experienciar as
manifestações da sexualidade em uma compreensão heterocentrada possui como objetivo
a construção de uma forma tida como “normal” de família, excluindo todas as outras possibi-
lidades de vivência e expressão de relações (LOURO, 2004). Esquece-se, no entanto, que

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“[...] a sexualidade se forma com base em um constructo histórico, que vai se integrando
às construções física e psíquica de cada pessoa, determinando a sua expressão sexual;
portanto, corporal” (MAIO, 2011, p. 39), sendo um fator subjetivo, único e multideterminado.
Vê-se ainda que
Se, nos dias de hoje, ela [a sexualidade] continua alvo da vigilância e do
controle, agora se ampliaram e diversificaram suas formas de regulação, mul-
tiplicaram-se as instâncias e as instituições que se autorizam a ditar-lhe as
normas, a definir-lhe os padrões de pureza, sanidade ou insanidade, a delimi-
tar-lhe os saberes e as práticas pertinentes, adequadas ou infames (LOURO,
2004, p. 27).

Desta forma, percebe-se, aluno(a), que falar em sexualidade é, ao mesmo tempo,


falar em relações de poder. Foucault (1976/2020) nos apresenta dois conceitos extrema-
mente importantes em sua obra, para compreendermos a ideia de biopoder, isto é, o poder
sobre a vida. O conceito de biopoder pode ser subdividido em: disciplina e biopolítica. A
primeira se refere ao governo dos corpos, dos indivíduos e a segunda está relacionada ao
governo da população. Ambos os conceitos estão relacionados, claramente, com a ideia de
controle. O poder, na obra de Foucault, ilustra as diferenças entre quem detém o poder de
superioridade para falar e ser ouvido e quem é silenciado, excluído, relegado à margem.
Logo, nota-se que os interesses políticos possuem forte espaço no controle da
sexualidade. Como Louro (2004) assinalou, os estados passaram a se preocupar com o
controle populacional e, nesta lógica, com o controle da família e da reprodução.
Aluno(a), neste ponto iremos adentrar em um outro conceito de extrema rele-
vância na vasta obra de Foucault: o discurso. Para aprofundarmos nossa compreensão
acerca da sexualidade, é de extrema relevância compreendermos como os discursos
sobre a sexualidade nos atravessam, isto é, como os discursos são produzidos, (re)
produzidos, e transformados.
Para Foucault (1970/2014), o discurso pode ser compreendido como o ato de falar,
transmitir determinadas ideias e possuir a capacidade de articulá-las em qualquer campo
de comunicação. No entanto, o discurso exerce um controle quando se limita quem, onde,
como e quando falar, isto é, o poder entra em cena, como sendo a capacidade e a pos-
sibilidade de exercer a fala. Com isso, vê-se que não são todas as pessoas, em todos os
espaços, que podem falar; ao contrário, o silenciamento e a exclusão são fatores presentes
quando se estabelece uma ordem do discurso.
[...] ninguém entrará na ordem do discurso se não satisfizer a certas exigên-
cias ou se não for, de início, qualificado para fazê-lo. Mais precisamente: nem
todas as regiões do discurso são igualmente abertas e penetráveis; algumas
são altamente proibidas [...], enquanto outras parecem quase abertas a todos
os ventos e postas, sem restrição prévia, à disposição de cada sujeito que
fala (FOUCAULT, 1970/2014, p. 35).

UNIDADE I Construção Histórica e Perspectivas da Educação Sexual 12


Ainda para o autor, podemos compreender o discurso através de duas partes: a
primeira diz respeito aos processos externos ao sujeito, sendo eles:
● A interdição, que se refere à criação de certos silenciamentos, interditos, em
relação ao que pode ou não ser dito;
● A separação/rejeição, que define quem possui o direito privilegiado de falar;
● A oposição entre verdadeiro x falso, que serve como uma forma de organiza-
ção dos discursos, com o reconhecimento de certas posições como verdadeiras
e legítimas, e outras, ao contrário, tidas como falsas.

Na segunda parte, temos os procedimentos internos ao sujeito, sendo eles:


● O comentário, em que quem fala possui a capacidade de repetir e reafirmar
determinado discurso, expandindo-o;
● O autor, que detém a capacidade de colocar uma origem e identidade
frente ao saber;
● A organização das disciplinas, que serve como uma categorização dos discur-
sos, enquadrando-os em uma maneira de “encaixotar”, digamos, assim, o conhe-
cimento, a fim de ele que caiba em determinados espaços e círculos sociais.

Desta forma, aluno(a), podemos compreender como o discurso possui um papel de


extrema importância no que tange o tema da sexualidade. A partir dos pressupostos elen-
cados, se realizarmos uma breve e rápida reflexão, poderemos perceber que as instituições
que possuem o poder de determinar a norma sempre possuem um interesse velado que
serve apenas para uma parcela específica da população.

UNIDADE I Construção Histórica e Perspectivas da Educação Sexual 13


3. AS ABORDAGENS DE EDUCAÇÃO SEXUAL ATRAVÉS DA HISTÓRIA E SEUS
REFLEXOS NO COTIDIANO PARA A ESCOLARIZAÇÃO BRASILEIRA FRENTE
À EQUIDADE DE GÊNERO

No Brasil, os estudos e pesquisas sobre gênero tiveram início com o movimento


feminista. É a partir da década de 1970 que mulheres, principalmente ligadas às universida-
des, ganham visibilidade e espaço para a discussão de questões ligadas à temática. O foco
inicial eram as pesquisas sociais, dando-se início à realização de eventos, produção de
livros e artigos que traziam a ideia de “estudos sobre mulher” como marca para demarcar
esta nova área de estudos (HEILBORN; SORJ, 1999).
A defesa do uso do conceito de gênero, acompanhando o debate internacio-
nal, passou a adquirir caráter relacional e a abarcar a definição e a estrutu-
ração das relações sociais, englobando as dimensões de classe, raça, etnia
e geração na procura de apreensão das distintas formas de desigualdade
(VIANNA, 2017, p. 53).

Uma observação importante e que não podemos deixar de mencionar, refere-se ao


trabalho importante de Scott (1995) que, com o artigo intitulado Gênero: uma categoria útil
de análise histórica, trouxe importantes reflexões para que possamos compreender gênero
enquanto uma categoria de poder. Neste trabalho, a autora traz o pioneirismo do termo
gênero e seu surgimento com as feministas americanas. É no seu trabalho, também, que
encontramos o gênero de maneira ampla, em que ela o compreende como sendo

UNIDADE I Construção Histórica e Perspectivas da Educação Sexual 14


[...] utilizado para designar as relações sociais entre os sexos. [...] o termo
“gênero” torna-se uma forma de indicar “construções culturais” - a criação
inteiramente social de idéias sobre os papéis adequados aos homens e às
mulheres. Trata-se de uma forma de se referir às origens exclusivamente
sociais das identidades subjetivas de homens e de mulheres. “Gênero” é, se-
gundo esta definição, uma categoria social imposta sobre um corpo sexuado
(SCOTT, 1995, p. 75).

Voltando ao cenário nacional, Heilborn e Sorj (1999) pontuam que é a partir da


década de 1980 que há, nos espaços acadêmicos, uma significativa e gradativa alteração
do termo “mulher”, passando a ser substituído pelo termo “gênero”, em que
Em termos cognitivos esta mudança favoreceu a rejeição do determinismo
biológico implícito no uso dos termos sexo ou diferença sexual e enfatizou os
aspectos relacionais e culturais da construção social do feminino e masculi-
no. Os homens passaram a ser incluídos como uma categoria empírica a ser
investigada nesses estudos e uma abordagem que focaliza a estrutura social
mais do que os indivíduos e seus papéis sociais foi favorecida (HEILBORN;
SORJ, 1999, p. 4).

Nesta época, segundo Heilborn e Sorj (1999), a alteração dos termos supracita-
dos proporcionou maior visibilidade e aceitação de pesquisas relacionadas ao gênero no
âmbito acadêmico, ganhando maior espaço e reconhecimento, além de financiamentos
para pesquisas.
Aluno(a), é muito importante que você conheça esses fatos pontuados. Essa
alteração do termo, como vimos, proporcionou um maior espaço para abarcar outras
temáticas de estudo, o que reflete nas pesquisas até os dias de hoje. Desta maneira,
podemos compreender como o movimento feminista, no Brasil, possui papel de destaque
no que tange às questões de gênero. Agora, vamos conhecer um pouco sobre a inserção
deste tema nas escolas.
Em relação às discussões do gênero e da sexualidade dentro dos espaços es-
colares, Martin (2017) pontua que ainda hoje há uma compreensão equivocada, em que
muitos, erroneamente, compreendem sexualidade enquanto ligada às genitálias, isto é,
pensamento que remete aos órgãos sexuais e, consequentemente, na relação sexual.
Como consequência, ao ignorarmos as discussões acerca da sexualidade, embasados em
tais pensamentos, estamos ignorando aspectos extremamente importantes e relevantes,
como a cultura, valores e cidadania.
Ainda, nas escolas tende a ter um silenciamento desta temática e, por isso,
[...] a preocupação com a sexualidade geralmente não é apresentada de for-
ma aberta. Indagados/as sobre essa questão, é possível que dirigentes ou
professores/as façam afirmações do tipo: “em nossa escola nós não precisa-
mos nos preocupar com isso, nós não temos nenhum problema nesta área”,
ou então, “nós acreditamos que cabe à família tratar desses assuntos”. [...]
É indispensável que reconheçamos que a escola não apenas reproduz ou
reflete as concepções de gênero e sexualidade que circulam na sociedade,
mas que ela própria as produz (LOURO, 2003, p. 80).

UNIDADE I Construção Histórica e Perspectivas da Educação Sexual 15


Desta maneira, quando há o silenciamento dessas discussões dentro do espaço
escolar, há um interdito, uma perda na possibilidade em realizar construções históricas e
debates extremamente importantes, visto que a escola, na maioria das vezes, ignora discu-
tir tais questões, deslegitimando as diferenças dos sujeitos que estão inseridos, inclusive,
dentro do próprio ambiente escolar. Não raro, destaca-se, há imensa dificuldade e falta de
preparo da própria escola para lidar com essas questões (MARTIN, 2017).
Por tanto, é preciso compreender que a escola possui um papel ativo na constru-
ção dos conhecimentos acerca da sexualidade e, por consequência, na educação sexual.
Segundo Louro (2003), o projeto de uma educação sexual, tema de grande preocupação
e polêmica, cria discussões que vão desde as instituições que deveriam se responsabilizar
por ela e como seria sua execução e manejo. Não obstante, questões como essa surgem
por parte da própria escola:
[...] como educamos para as questões de gênero? De que maneira a organi-
zação dos grupos/turmas de alunos e alunas, bem como a escolha dos livros,
dos jogos e outros materiais didáticos, proporcionam às crianças espaços es-
colares que integram a diversidade de forma positiva? Como é que os profes-
sores e as professoras se situam nestas questões e orientam suas práticas
educativas ? (CARDONA; PISCALHO; UVA, 2015, p. 49).

Desta forma, é preciso que nosso olhar esteja atento para os impactos sociais do
fato de não abordarmos questões relacionadas à sexualidade dentro dos espaços escola-
res. Situações de violências, por exemplo, é um fator importante e que merece atenção.
Precisamos, ainda, olhar para o currículo docente do ensino superior, a fim de compreen-
dermos como os professores(as) vêm sendo preparados(as) para essas discussões, pois,
como aponta Maio (2012):
A escola pode deixar de ser um espaço de opressão e repressão na questão
da sexualidade, para se tornar um ambiente efetivamente seguro, livre e edu-
cativo para todas as pessoas. E, hoje, não é mais possível que as questões
relativas à sexualidade passem despercebidas ou que sejam tratadas com
deboche ou indignação moral (MAIO, 2012, p. 72).

Sendo assim, ao trabalharmos questões relacionadas à sexualidade, é possível


e emergente o trabalho pautado em uma equidade de gênero. Aluno(a), você sabe o que
significa a palavra equidade?
Segundo o Dicionário Michaelis (on-line), equidade pode ser compreendida como
a “consideração em relação ao direito de cada um, levando em conta o que se considera
justo”. O que isso significa? Significa que a equidade está relacionada à justiça, em que
são levadas em consideração as necessidades individuais e específicas de determinadas
pessoas ou grupos, não da totalidade.

UNIDADE I Construção Histórica e Perspectivas da Educação Sexual 16


Para ilustrar, trago a imagem a seguir, em que a primeira se refere à IGUALDADE.
Veja que os três sujeitos possuem o mesmo recurso para conseguir enxergar o outro lado
da cerca, mas um deles não alcança; a figura ao lado, no entanto, representa a EQUIDADE,
em que, devido à sua necessidade, o sujeito menor passa a receber recursos suficientes
para que consiga enxergar o outro lado da cerca. Interessante, não é?!

FIGURA 2 - EQUIDADE

Neste caminho, ao pensarmos acerca da equidade e dos estudos relacionados ao


gênero e sexualidade, com ênfase na questão do gênero feminino,
[...] a educação se revela como política pública para romper com os padrões
de gênero, a fim de alcançar a equidade. A educação não é apenas um impor-
tante instrumento de prevenção contra a violência doméstica e familiar contra
a mulher, mas também um direito humano fundamental a que todos, sem
qualquer tipo de distinção, devem ter acesso (KNIPPEL; AESCHLIMANN,
2017, p. 61).

Aluno(a), com estes apontamentos, podemos compreender a importância de um


olhar para a equidade nas relações, seja no âmbito escolar ou fora dele. Neste cenário,
a educação é uma política pública de grande importância para o desenvolvimento de um
olhar que seja humano e, acima de tudo, respeite as diferenças.

UNIDADE I Construção Histórica e Perspectivas da Educação Sexual 17


4. PREVENÇÃO DO PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO, NO RESPEITO A
ALTERIDADE E ÀS IDENTIDADES CULTURAIS

Aluno(a), neste momento iremos estudar sobre a importância do trabalho preventivo


frente às situações de preconceito e discriminação, com ênfase para o ambiente escolar, e
a importância do respeito às diferenças sociais, raciais, culturais e de gênero.
Passador (2017) aponta que gênero, sexualidade e classe são vistos como mar-
cadores sociais que excluem, separam e segregam as pessoas, definindo identidades e
delimitando fronteiras de acessos a determinados recursos e espaços. Neste caminho, são
estabelecidas determinadas características aceitáveis, isto é, tidos como “normalidade”,
enquanto outras passam a ser excluídas, em que “O processo de marcar e significar valo-
rativa e hierarquicamente as diferenças sociais é o que dá princípio ao que chamamos de
discriminação” (PASSADOR, 2017, p. 18). Mas o que isso significa?
Nas próprias palavras do autor, isso significa que é por meio deste processo de
classificar e hierarquizar as pessoas que nós vamos demarcando e assinalando àquelas
consideradas mais importantes, construindo identidades de acordo com os marcadores que
são construídos socialmente.
Neste sentido,
Vamos, portanto, produzindo e classificando não apenas diferenças, mas
também desigualdades. E, ao produzirmos desigualdades, legitimamos for-
mas de tratamento discriminatório e excludente, o que inclui formas de recri-
minação e repressão – e até mesmo de patologização e/ou de criminalização
(PASSADOR, 2017, p. 19).

UNIDADE I Construção Histórica e Perspectivas da Educação Sexual 18


Ainda, faz-se necessário destacar que, segundo Vianna (2017), o próprio espaço
escolar passa a reproduzir, muitas vezes, uma visão discriminatória e excludente, sendo
necessário um olhar aguçado para as interações conflituosas que são mantidas dentro da
instituição escolar e para os poderes que ali são exercidos. No Brasil, foi apenas a partir da
década de 1990 que, de maneira tímida e cautelosa, os primeiros aparecimentos relacio-
nados ao gênero passaram a adentrar o currículo escolar, tendo respaldo de documentos
nacionais e internacionais.
No entanto, o processo de discriminação é inaceitável, pois, como pontua Passador
(2017), nossa sociedade é composta por uma ampla gama de diferenças, ou seja, somos
um povo marcado pela pluralidade e diversidade de características. Neste aspecto, a escola
possui um papel de extrema relevância e importância, pois ela passa a ser um espaço de
promoção de mudança no que tange à construção da aceitação das diferenças e promoção
da inclusão dos múltiplos modos de ser. Logo, temos um desafio pela frente, visto que
O reconhecimento da diversidade como fato humano vivido por todas/os nós,
e a garantia do direito a ela como fato histórico, social, político, econômico e
cultural que nós mesmas/os construímos cotidianamente com nossos valores
e práticas, é um desafio e um compromisso que precisamos assumir quando
nos propomos a construir uma sociedade mais igualitária e na qual os direitos
sejam efetivos para todas/os. Portanto, um desafio e um compromisso que
devem ser assumidos em nossas escolas (PASSADOR, 2017, p. 22).

No entanto, infelizmente, o que podemos ver ao longo do tempo é que o conserva-


dorismo invadiu os assuntos relacionados à questão de gênero e sexualidade nos currículos
escolares, em que se criou um pânico exagerado em relação aos assuntos abordados no
âmbito educacional. Desta forma, retrocessos passaram a serem vistos cotidianamente,
em que o silenciamento de determinados temas passou a vigorar no contexto escolar
(VIANNA, 2017). Como consequência, o que se vê ainda são muitos(as) “[...] professoras
e professores dedicados ao tema [...] sozinhos/as, sem parcerias e sem força política para
sustentar um trabalho denegrido pela maior parte da escola” (p. 65).
Não obstante, Passador (2017, p. 28) destaca ainda que a diversidade cultural deve
ser compreendida enquanto um fenômeno que está presente em todas as partes do mundo
e que “[...] a diversidade de culturas que a humanidade produziu e produz é uma conse-
quência lógica dessa nossa condição e capacidade de produzirmos diferenças”. Sendo
assim, “A diversidade é, portanto, uma realidade incontornável, que exige reconhecimento
e garantia de direitos, na direção da superação da discriminação e exclusão social” (p. 30).
Em conjunto com a discriminação, evidencia-se os processos de preconceitos.
Segundo Passador (2017), o preconceito está enraizado em nossa cultura e, consequen-
temente, em nós mesmos, e muitas vezes reproduzimos determinadas falas, comporta-

UNIDADE I Construção Histórica e Perspectivas da Educação Sexual 19


mentos, gestos imbuídos de preconceitos, sem nos darmos conta; a isto chamamos de
naturalização dos preconceitos.
Neste caminho, a escola possui um papel chave, sendo o de “[...] estabelecer bases
inclusivas que garantam não apenas a convivência entre os diversos, mas o reconhecimento
deles como iguais em direitos, sem que eles precisem para tanto se descaracterizar como
diferentes entre si” (PASSADOR, 2017, p. 40).
Uma educação cidadã deve estar baseada na promoção da igualdade de di-
reitos e no reconhecimento e valorização da diversidade. Isso exige que su-
peremos um modelo de educação pensado como um processo de produção
de homogeneidades padronizadas e normalizadas (PASSADOR, 2017, p. 41).

Sendo assim, a escola possui um papel extremamente empoderador relacionado à


quebra de preconceitos relacionados à diversas categorias, como vimos anteriormente. No
que se refere ao gênero e sexualidade, a escola, por meio de inúmeras alternativas, pode
assumir uma posição de criadora de espaços para novos pontos de vista, novas formas de
pensar e, consequentemente, novas maneiras de agir sobre o mundo.

SAIBA MAIS

Aluno(a), pensando na relação entre gênero e feminismo, você sabia que existem al-
gumas datas importantes que marcam a luta pelo fim da violência contra as mulheres?
Essas datas são importantes, pois trazem visibilidade para a causa. O dia 25 de novem-
bro é considerado o Dia Internacional da Não-Violência contra as mulheres. Também, o
dia 06 de dezembro é tido como o Dia Nacional de Mobilização dos Homens pelo Fim
da Violência contra as Mulheres.

Fonte: Mello (2020).

REFLITA

“Aqueles e aquelas que transgridem as fronteiras de gênero ou de sexualidade, que as


atravessam ou que, de algum modo, embaralham e confundem os sinais considerados
próprios de cada um desses territórios são marcados como sujeitos diferentes e des-
viantes”.
Aluno(a), você já parou para pensar nisso? Como você enxerga o que é “normal” e
“anormal” frente às outras pessoas?

Fonte: Louro (2004, p.132).

UNIDADE I Construção Histórica e Perspectivas da Educação Sexual 20


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Caro(a) aluno (a),

Chegamos ao fim da nossa primeira unidade. Você percebeu quantos assuntos e


conceitos importantes estudamos até aqui? Como vimos na primeira unidade, é preciso
compreender o conceito de gênero para que possamos expandir nossa compreensão das
diferenças e, consequentemente, absorver novas maneiras de compreender o papel da
sexualidade no currículo escolar.
Ainda, realizamos uma importante contextualização histórica sobre os estudos
de gênero e educação, principalmente no Brasil, estudando as construções históricas
acerca do masculino e feminino, com os papéis sociais que são pré-determinados em
relação aos sexos.
Também estudamos a sexualidade como sendo uma construção de ordem histórica,
social, cultural, política e discursiva. Para tal estudo, nos ancoramos nos estudos basilares
de Michel Foucault, compreendendo a importância e relevância dos discursos, bem como
a noção de poder e seus efeitos.
Na sequência, partimos para discussões relacionadas às abordagens da educação
sexual através da história e seus reflexos no cotidiano para a escolarização brasileira frente
à equidade de gênero. Para isso, conhecemos o papel dos estudos feministas, bem como
a importância da temática da sexualidade dentro das escolas.
Por fim, estudamos aspectos cruciais relacionados à prevenção do preconceito e
da discriminação frente às diferenças no contexto escolar.
Espero que você tenha aproveitado ao máximo os conteúdos que foram discutidos
aqui. Nos encontramos na Unidade II para darmos continuidade nas discussões relaciona-
das à sexualidade, gênero e educação.

Até logo!

UNIDADE I Construção Histórica e Perspectivas da Educação Sexual 21


LEITURA COMPLEMENTAR

Artigo: Formação em gênero e educação para a sexualidade: considerações acer-


ca do papel da escola

Resumo: Este artigo, por meio de uma pesquisa bibliográfica, propõe uma dis-
cussão acerca da formação em gênero e da educação para a sexualidade, na tentativa
de compreender como a igreja, a família e a escola têm, historicamente, contribuído para
a Educação, principalmente de crianças e jovens em idade escolar, de acordo com seus
preceitos. Assim, defendemos que a família e a igreja podem contribuir na formação dos
indivíduos – com afeto, carinho, costumes –, porém, à escola cabe disseminar conhecimen-
tos científicos, de modo a mostrar as várias formas de vivenciar e construir as identidades
pessoais, sempre com caráter emancipatório, para a convivência e o reconhecimento das
diferenças, além do respeito entre os sujeitos.

Palavras-chave: Gênero, educação, sexualidade, respeito.

Texto completo disponível em:


MAIO, E. R.; OLIVEIRA, M. de; PEIXOTO, R. Formação em gênero e educação
para a sexualidade: considerações acerca do papel da escola. Revista NUPEM, Campo
Mourão, v. 10, n. 20, 2018. Disponível em: http://revistanupem.unespar.edu.br/index.php/
nupem/article/view/353/332. Acesso em: 01 mar. 2021.

UNIDADE I Construção Histórica e Perspectivas da Educação Sexual 22


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Educação, Gênero e Feminismos: resistências bordadas
com fios de luta.
Autora: Eliane Rose Maio (Organizadora)
Editora: Editora CRV
Sinopse: O livro apresenta as lutas do movimento feminista e que
ainda se mostram constantes, pela igualdade e equidade de direi-
tos, entre as mulheres e os homens. As discussões sobre os fe-
minismos fazem parte desta obra literária, em que se apresentam,
em várias instâncias, como as mulheres (e aqui pontuamos todas
as mulheres, de quaisquer etnias e raça), buscaram (e buscam) os
seus direitos de equidade e igualdades, diferenciando-se daquelas
que ainda são somente vistas como a “rainha do lar, da musa ido-
latrada pelos poetas e cantores, da mulher frágil, etc.” O livro traz
discussões e provocações em uma luta para que possamos ter um
mundo mais justo e digno para todas as pessoas.

FILME/VÍDEO
Título: Hoje eu quero voltar sozinho
Ano: 2014
Sinopse: O filme mostra o preconceito e a discriminação no am-
biente escolar, tanto pela deficiência visual (o personagem principal
é cego) quanto pela sua orientação sexual. O filme também traba-
lha com questões relacionadas à adolescência e à descoberta da
sexualidade, os conflitos e a busca pela independência.

UNIDADE I Construção Histórica e Perspectivas da Educação Sexual 23


WEB

No site Vivendo a Adolescência (link a seguir) é possível encontrar uma gama am-
pla de materiais que apresentam e trabalham com a proposta de uma Educação Integral em
Sexualidade. Ainda, o site oferece informações, esclarece dúvidas e propõem atividades no
que se refere à educação sexual.

Link do site: http://www.adolescencia.org.br/site-pt-br/educacao-integral-em-sexualidade

UNIDADE I Construção Histórica e Perspectivas da Educação Sexual 24


UNIDADE II
Educação de Gênero e Sexualidade nos
Espaços Educativos
Professor Esp. Jose Valdeci Grigoleto Netto

Plano de Estudo:
● Abordagens pedagógicas da educação sexual no Brasil;
● Compreendendo os conceitos e as interfaces entre gênero e orientação sexual;
● Recursos didático-metodológicos para um trabalho de Educação Sexual na Educação
Infantil e Ensino Fundamental.

Objetivos da Aprendizagem:
● Contextualizar as abordagens pedagógicas que dialogam com
a educação sexual no Brasil;
● Compreender a relação e a diferença entre os conceitos de gênero e
orientação sexual, destacando suas especificidades;
● Estabelecer a importância e os tipos de recursos que podem ser empregados na
sala de aula para trabalhar a Educação Sexual.

25
INTRODUÇÃO

Olá, aluno(a)! Que bom reencontrar você.

Seja bem-vindo(a) à segunda unidade da disciplina Gênero, Sexualidade e


Educação. Agora, iremos conhecer os aspectos relacionados à prática do ensino da
educação sexual dentro dos espaços educativos. Para isso, inicialmente faremos uma
leitura acerca das abordagens educativas relacionadas à educação sexual, perpassan-
do por alguns conceitos importantes e, por fim, iremos explorar os recursos que podem
ser adotados para esta prática.
No Tópico I iremos conhecer as abordagens pedagógicas da educação sexual
no Brasil. Para isso, iremos realizar algumas reflexões acerca da inserção da educação
sexual nos espaços educacionais e resgatar na história da educação do Brasil aspectos
relacionados à temática.
Avançando, no Tópico II iremos conhecer os conceitos de gênero e orientação
sexual e suas interfaces, buscando diferenciá-los e, a partir disso, elencar suas especifici-
dades, a fim de não reproduzir equívocos.
Por fim, no Tópico III, iremos nos aproximar de alguns recursos didático-metodoló-
gicos que podem ser utilizados para o trabalho de educação sexual na educação Infantil e,
também, no ensino fundamental.
A partir dos conteúdos elencados, espero que os textos e discussões aqui propos-
tos sejam úteis e interessantes para embasar seus estudos e sua futura prática docente.

Bons estudos!

UNIDADE II Educação de Gênero e Sexualidade nos Espaços Educativos 26


1. ABORDAGENS PEDAGÓGICAS DA EDUCAÇÃO SEXUAL NO BRASIL

Olá, aluno(a). Vamos dar início ao primeiro tópico desta unidade. Iniciaremos apre-
sentando as abordagens pedagógicas da educação sexual no Brasil. Vamos lá?
De acordo com Pelegrini e Maio (2016), a sexualidade, ao longo do tempo, tem sido
alvo de construções nas mais diversas esferas, principalmente no que tange à constituição
subjetiva das pessoas. Ainda, é notável que ela está presente nos discursos, sejam eles
ditos ou escritos, além de estar presente, também, na ausência dos discursos, em situações
em que a sexualidade é rodeada por silêncios e proibições.
Quando pensamos na inserção do tema da sexualidade nos currículos escolares,
é importante destacarmos que sua inserção, desde o início, foi alvo de polêmicas que,
mesmo ocasionando alguns avanços, também originaram inúmeros retrocessos no cenário
educacional brasileiro. Para ilustrar, podemos citar as incansáveis discussões, desde o ano
de 2010, instauradas nos espaços sociais quando se deu início à construção dos Planos
Nacionais, Estaduais e Municipais de Educação (PELEGRINI; MAIO, 2016).
Não obstante, faz-se oportuno citar os próprios autores quando pontuam que
Um exemplo desses embates foi a supressão dos termos “gênero e orienta-
ção sexual” do texto original do Plano Nacional de Educação (2010). Essa
disputa envolveu diferentes movimentos sociais e instituições, ganhou visibi-
lidade e gerou repercussão, alcançando os Planos dos Estados e Municípios
em uma reação em cadeia. Muitas Manifestações ocorreram para que fos-
sem retirados também desses planos as dimensões da diversidade sexual e
de gênero (PELEGRINI; MAIO, 2016, p. 129).

UNIDADE II Educação de Gênero e Sexualidade nos Espaços Educativos 27


Bem como, Furlaneto et al. (2018) realizaram um estudo em que pesquisaram,
em alguns bancos de dados on-line de produções científicas, com o recorte de período
2010-2016, a questão da educação sexual em escolas brasileiras, com o objetivo de
conhecer suas principais características, quais são os temas abordados e, ainda, quais
os profissionais responsáveis por tal tarefa. Após a obtenção dos dados e enquanto re-
sultado, percebeu-se que o que foi realizado nos espaços educativos não corresponde
ao que está inserido nos Parâmetros Curriculares Nacionais, em relação à importância de
que o tema seja abordado de maneira transversal, isto é, que atravesse e abarque todo
o currículo escolar.
Lima e Almeida (2010), na mesma vertente, assinalam que a inserção do tema
da sexualidade nas práticas pedagógicas curriculares apresenta grandes dificuldades e
barreiras, em que a oferta é superficial e rasa, não sendo proporcionado aos alunos e
alunas um espaço para aprofundamento das questões necessárias, visto que
[...] as políticas públicas são incipientes no que se refere ao preparo de profis-
sionais de ensino para lidar com temas, tais como a sexofobia ou heterofobia,
homofobia, heteronormatividade e outros preconceitos que estão presentes
na sala de aula, incorporados desde muitos séculos atrás e antes da própria
escola existir como instituição (LIMA; ALMEIDA, 2010, p. 726).

Neste caminho, é extremamente urgente que professores e professoras trabalhem


com questões relacionadas à sexualidade e, ainda mais, ofereçam um conteúdo coeso e
trabalhe com a verdade, no sentido de possibilitar o acesso à informação e que as trans-
formem, em conhecimentos que agreguem aos estudantes, traduzindo-as em informações
imbuídas de uma linguagem acessível e clara. Ademais, é preciso englobar as mais diversas
questões relacionadas à sexualidade, a saber: gravidez, aborto, Infecções Sexualmente
Transmissíveis (IST), dentre outros (LIMA; ALMEIDA, 2010).
Louro (2013) diz que há tempos alguns movimentos, tais como o movimento fe-
minista, o movimento negro e o movimento das chamadas minorias sexuais, denunciam a
ausência de suas histórias nos currículos escolares. O que muitas vezes podemos ver, é a
realização simbólica de datas “comemorativas” que, em cada nível de ensino, apresentam
atividades e eventos específicos. Com isso, as instituições escolares detêm determinado
controle e poder em relação ao que é dito e apresentado, logo, os sujeitos pertencentes a
tais categorias passam a assumir o papel de excêntricos e excepcional.
A discussão da educação em sexualidade não é algo novo e provoca muitas
controvérsias, pois é um tema pouco debatido e, quando discutido é percep-
tível o desconhecimento e a visão estereotipada por grande parte da popu-
lação leiga. No que concerne ao tema, docentes, técnicos e teóricos da área
têm dedicado anos de estudos para oferecer uma educação que promova a
justiça social a partir da equidade de gênero para meninas e meninos (FREI-
TAS, 2017, p. 134).

UNIDADE II Educação de Gênero e Sexualidade nos Espaços Educativos 28


É inegável que a escola deve refletir a realidade social na qual está inserida, isto
é, ela possui, dentre outros, o papel de preparar os alunos e alunas para os processos
sociais. Ainda, ela deve refletir aspectos relacionados à sexualidade e ao gênero. Um
equívoco muito comum é a associação de sexualidade com relação sexual. Essa confusão
é presente no imaginário social, o que acaba deixando o tema de lado, transformando-o
em tabu. Como consequência, o silenciamento da sexualidade tende a deixar os alunos e
alunas vulneráveis ao não receberem as informações de maneira adequada e pedagógica
(MARTINI, 2016).
É na escola que os adolescentes passam boa parte do seu tempo, e é nesse
espaço que se complementa a educação dada no ambiente familiar. Na esco-
la são abordados temas mais complexos que no dia-a-dia não são ensinados
e aprendidos, tendo esta uma imensa responsabilidade na formação afetiva
e emocional de seus alunos (OLIVEIRA; URBAN, 2016, p. 2).

A sexualidade, neste caminho, pode ser compreendida enquanto fazendo parte


de todas as fases do desenvolvimento humano, estando relacionada com os campos das
emoções e dos afetos, sendo de extrema importância e ocupando um papel que, como
vimos, vai além do prazer físico (MARTINI, 2016).
Aluno(a), neste momento, você deve estar se perguntando: mas será que as coisas
sempre foram assim, no que diz respeito à sexualidade nos espaços educativos? Aqui, ire-
mos destacar três momentos sociais que são de grande importância para compreendermos
alguns avanços e retrocessos em relação à educação sexual.
Segundo Oliveira e Urban (2016), tal tema já se configurava enquanto uma preo-
cupação nos espaços escolares, no Brasil, desde o início do século XX em que, nas
décadas de 1920 e 1930, médicos, professores e professoras e intelectuais da época se
debruçaram no tema.
Em 1922, Fernando de Azevedo, reformador educacional, foi responsável por
responder a um questionário em relação à educação sexual. Tal questionário foi solicitado
pelo Instituto de Higiene da Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo. A partir deste
feito, deu-se origem a um movimento brasileiro que passou a se interessar pelo tema da
sexualidade no âmbito educacional (OLIVEIRA; URBAN, 2016).
Pouco mais de uma década depois, em 1933, no estado do Rio de Janeiro, foi
fundado o Circuito Brasileiro de Educação Sexual (CBES), sob responsabilidade do médico
José de Oliveira Pereira de Albuquerque. O CEBS visava a produção de materiais relacio-
nados à educação sexual, além de realizar eventos, reuniões e a produção de filmes. Ainda,
o circuito possuía como objetivo “[...] prestar um serviço de instrução e esclarecimento no

UNIDADE II Educação de Gênero e Sexualidade nos Espaços Educativos 29


que tange aos assuntos de educação e higiene sexual, abordando questões biológicas,
psicológicas e morais para a população brasileira” (OLIVEIRA; URBAN, 2016, p. 3).
Ainda segundo os autores, na década de 1960, um pouco antes do início da di-
tadura militar brasileira, a educação sexual passa a vigorar nos contextos educacionais,
sendo inserida nos currículos. No entanto, com a ditadura militar em vigor, a sexualidade foi
retirada e suprimida do contexto educacional.
Como a ditadura impôs um regime de controle e moralização dos costumes,
especialmente decorrente da aliança entre militares e o majoritário grupo
conservador da igreja católica, a educação sexual foi definitivamente banida
de qualquer discussão pedagógica por parte do Estado e toda e qualquer
iniciativa escolar suprimida com rigor (OLIVEIRA; URBAN, 2016, p. 04).

Aluno(a), com essas afirmativas, de recortes sociais, podemos perceber que, hoje,
incluir nos currículos escolares tal temática foi (e ainda é) tarefa desafiadora. No entanto,
é necessário que continuemos na luta para que o ensino da sexualidade faça parte dos
espaços educativos, pois
a sexualidade humana figura como um dos temas mais inquietantes e, quase
sempre, mais recusados no universo prático do educador. Entretanto, cada
vez mais a escola tem sido convocada a enfrentar as transformações das
práticas sexuais contemporâneas, principalmente na adolescência, uma vez
que seus efeitos se fazem alardear no cotidiano escolar (OLIVEIRA; URBAN,
2016, p. 02).

Sendo assim, como aponta Louro (2013), é necessário que os profissionais da


educação se atentem à uma prática que seja desestabilizadora e que desconstrua a ideia
de naturalidade da sexualidade e que, em vez disso, busque dar espaço ao caráter móvel,
plural e o papel do social na construção da sexualidade.

UNIDADE II Educação de Gênero e Sexualidade nos Espaços Educativos 30


2. COMPREENDENDO OS CONCEITOS E AS INTERFACES ENTRE GÊNERO E
ORIENTAÇÃO SEXUAL

Aluno(o), na primeira unidade nós conhecemos o conceito de gênero, contando


com algumas importantes referências para embasar nossos estudos. Neste momento,
iremos conhecer outro conceito de extrema relevância: orientação sexual e, a partir disso,
iremos tecer algumas reflexões acerca de ambos os conceitos e suas interfaces com o
espaço educacional.
Em síntese, para Jesus (2012, p. 12), orientação sexual pode ser compreendida
enquanto a “[...] atração afetivossexual por alguém de algum/ns gênero/s”. Isto posto, po-
demos pensar que a
Sexualidade, portanto, está ligada a fatores internos e externos ao ser huma-
no, que num processo de interação mútua cooperam para a sua constituição.
Frente a esta constatação, urge pensar a sexualidade como um processo
dialético, no qual o ser humano influencia a construção de valores e normas
sexuais e, simultaneamente, é influenciado pelas múltiplas e sucessivas ex-
periências vividas e vivenciadas em contato com o meio social em que se
insere (BISPO DE JESUS, 2014, p. 55).

Nesta perspectiva, trago uma imagem interessante, que pode nos auxiliar na com-
preensão do conceito de orientação sexual. A imagem também traz o conceito de identidade
de gênero e de sexo biológico. Veja:

UNIDADE II Educação de Gênero e Sexualidade nos Espaços Educativos 31


FIGURA 1 - CONCEITOS IMPORTANTES

Fonte: https://miro.medium.com/max/2026/1*fdQkEf7yXhQ_OaIyFNLuPA.png

Aluno(a), viu como é interessante conhecermos esses aspectos? Ainda hoje,


percebemos uma grande confusão nas pessoas quando se referem à orientação sexual.
Como a imagem ilustra, a orientação sexual refere-se ao aspecto da atração, do desejo;
já a identidade de gênero, ao lado do conceito de gênero, refere-se à maneira na qual nos
enxergamos e nos identificamos.
Conhecer tais diferenças é um passo de extrema importância para que os profes-
sores e professoras possam conhecer as múltiplas formas de ser e estar no mundo que
existem e, a partir disso, se aperfeiçoarem e sentirem-se seguros para levar para o espaço
escolar as questões relacionadas à sexualidade.
A simples conscientização tem o poder de modificar nosso posicionamento e
ações diante do desafio das questões de gênero e sexualidade presentes nas
salas de aula fazendo com que as expressões presenciadas e descritas no
início desse texto muito corriqueiras em sala de aula deixem de existir. Como
professoras/res não podemos ficar impassíveis, nem tomar atitudes discrimi-
natórias, porque este assunto reflete diretamente na felicidade ou infelicidade
de alunas/os sendo o mesmo importantíssimo para que essa pessoa consiga
atingir uma vida eficaz e plena como indivíduo produtivo da sociedade sendo
isso o principal objetivo da escola (SIQUEIRA; CALDAS, 2020, p. 130).

UNIDADE II Educação de Gênero e Sexualidade nos Espaços Educativos 32


É pertinente citar, neste momento, a Base Nacional Curricular Comum (BNCC).
Este documento, de ordem normativa, abrange conhecimentos contemporâneos que dia-
logam com as necessidades de alunos e alunas de todo o país, visando a efetivação de
direitos. O documento traz que, para o ensino de ciências, é ofertado o tema da sexualidade
em conjunto com a reprodução humana, isto é, ligado aos aspectos biológicos dos sujeitos
(BRASIL, 2018). Aluno(a), se faz importante, depois dos conteúdos que vimos na unidade
anterior, problematizar: e as outras esferas? E a transversalidade da temática? Compete
apenas à biologia lidar com o tema da sexualidade? Precisamos desenvolver um olhar
atento para o tema, ao lembrarmos que a sexualidade se manifesta de maneira plural e, por
isso, reflete em vários âmbitos de nossas vidas, e não apenas no campo biológico.
Agora, aluno(a), quando pensamos nas interfaces entre a escola e as questões de
gênero, você pode observar que a própria instituição escolar tende a gravar e a produzir
alguns marcadores de gênero, é o que pontua Bispo de Jesus (2014), quando sinaliza que
Em conformidade com as normatizações sociais tradicionalmente concebi-
das, acerca do comportamento masculino e feminino, a docilidade, a obe-
diência às regras e o temperamento menos agitado, por exemplo, são expec-
tativas, vulgarmente, direcionadas ao mundo feminino; já a desobediência
aos regulamentos, a contestação às ordens e a agitação são atitudes aguar-
dadas do mundo masculino (p. 60, grifo da autora).

É válido mencionarmos, a partir disso, que essas questões não são de ordem na-
tural. Ao contrário, são produzidas e reproduzidas diariamente no contexto escolar, social
e familiar. Importante mencionarmos e produzirmos questões e debates acerca da ideia
de “naturalização” dos acontecimentos sociais. Isso, inclusive, fica evidente no próprio
contexto escolar, quando
[...] Diante de comportamentos que costumam fugir às regras de gênero e
sexualidade, a tendência de docentes, homens e mulheres, é recriminar tais
condutas, sinalizando para a forma como sujeitos masculinos e femininos
devem agir para serem reconhecidos como tais.
[...]
Dessa maneira, muitas vezes, docentes homens e mulheres estimulam mais
a participação de meninas nas aulas, face à representação do mundo femi-
nino como sendo, naturalmente, comunicativo, enquanto os meninos pouco
são convocados a participarem. Isto implica considerar que, consciente ou
inconscientemente, a escola é capaz de erigir, junto aos sujeitos participantes
do contexto escolarizado, conceitos de masculinidade e feminilidade a partir
de afirmativas que lhes são apresentadas e que lhes esclarecem o significa-
do social do que venha a ser homem e do que venha a ser mulher (BISPO
DE JESUS, 2014, p. 61-62).

Desta forma, é de extrema importância que pensemos na escola enquanto forma-


dora, inclusive, de caráter e da personalidade das pessoas, mesmo que de maneira discreta
(BISPO DE JESUS, 2014). A escola precisa, urgentemente, contribuir para a efetivação de
espaços de expressão da sexualidade que não sejam excludentes e discriminatórios, mas
sim que abarquem a diversidade existente.

UNIDADE II Educação de Gênero e Sexualidade nos Espaços Educativos 33


3. RECURSOS DIDÁTICO-METODOLÓGICOS PARA UM TRABALHO DE
EDUCAÇÃO SEXUAL NA EDUCAÇÃO INFANTIL E ENSINO FUNDAMENTAL

Ainda hoje, realizar a organização de conteúdos relacionados à sexualidade para


se trabalhar no contexto educativo é uma ação que tende a gerar desconforto e incômodo,
tanto nos próprios professores e professoras quanto na população em geral (SACHI, 2018).
Isso porque a escola, inclusive, é um espaço que ainda produz a inserção de mar-
cadores de gênero em seus espaços, tais como: cartazes, filas, linguagem, brincadeiras,
músicas, dentre outros. Curioso que, mesmo produzindo questões relacionadas ao gênero,
a escola possui resistência para discutir sobre a temática (LEITE; ROMERO, 2017, p. 145),
ficando tal fato evidente quando notamos que
Na Educação Infantil, por exemplo, notamos que os estereótipos de gênero
se efetivam de diversas maneiras como o uso do diminutivo para referir-se ao
corpo feminino e o aumentativo para falar do masculino ou a separação de
filas de meninas e meninos para a locomoção das crianças. É o mesmo com
as cores dos materiais, a decoração dos cadernos, a divisão dos brinquedos,
das brincadeiras.

Neste caminho, é importante questionarmos acerca do preparo e da formação dos


professores e professoras para abordar questões relacionadas à sexualidade. Sabendo
que estes profissionais são formadores de opinião (SACHI, 2018), é possível perguntar:
será que há um adequado preparo para tal empreitada?
Pensando nisto, é relevante que nos atentemos para aspectos relacionados ao
processo de ensino-aprendizagem, em que

UNIDADE II Educação de Gênero e Sexualidade nos Espaços Educativos 34


Não se pode ver o mundo pronto. Para isso é preciso pensar no processo ensi-
no-aprendizagem, pois é por meio dele que educadores(as), formam opiniões
nos(as) seus(suas) discentes. É necessário, antes de tudo, impelir em nós
mesmos(as) perguntas e respostas que certamente nos levarão a esquadri-
nhar, perscrutar, observar e pensar sobre como nos foi ensinada essa questão
da sexualidade. É evidente que, se não aprendemos, também não temos
subsídios consideráveis para ensinar (SACHI, 2018, p. 28, grifo nosso).

Portanto, é urgente pensarmos (e repensarmos quantas vezes forem necessárias)


acerca da formação destes profissionais. Percebe-se, pois, que nas universidades ainda é
tímida a inserção de tais temas nos currículos. Nesta perspectiva, um caminho interessante
é que os profissionais busquem outras formas de agregarem em sua formação o tema da
sexualidade (SACHI, 2018).
Hoje, existe uma vasta literatura que pode servir como base para os estudos e
para a inserção do tema da sexualidade dentro dos espaços educativos. Entretanto, o que
se percebe é que a sociedade ainda possui forte resistência para aceitar que se discuta
a sexualidade no campo da educação, em que muitas vezes pais e mães e, inclusive, os
próprios profissionais, por não possuírem conhecimentos e informações adequadas e sufi-
cientes, não aceitam que as crianças recebam estes conteúdos (SACHI, 2018). No entanto,
não podemos aceitar isso e precisamos problematizar e colocar esse silenciamento em
pauta, pois “cabe à sociedade desmistificar esse paradigma, mas cabe, principalmente,
ao(à) educador(a) a incumbência de desnudar esse arquétipo que foi imposto na sociedade
por meio de uma educação tradicionalista, engessada e arcaica” (SACHI, 2018, p. 29).
Outro ponto que merece destaque neste momento, por estar relacionado com o
processo ensino-aprendizagem, é o brincar. Aluno(a), você sabia que diversas pesquisas
apontam que o brincar na escola, em especial na Educação Infantil, possui um papel de
extrema importância?
É o que apontam Leite e Romero (2017, p. 146), sinalizando que o brincar tende a
ser “[...] responsável por contribuir com o desenvolvimento físico, psíquico, cognitivo, motor,
afetivo, entre outras competências dos alunos”. Neste caminho, proponho uma reflexão:
quantas vezes ouvimos falar, ou até mesmo já reproduzimos tal discurso, que meninos
brincam de carrinho e meninas brincam de bonecas?
Se consideramos apenas o dualismo limitado, reforçado nos ambientes esco-
lares, a brincadeira de boneca, acaba por ser entendida exclusivamente como
“coisa de menina”. Esta concepção está fortemente ligada à representação
de mulher como quem deve cuidar do lar e o homem com quem o provê.
Entretanto, eis nesta ideia além de um hiato explícito de gênero (mulher dó-
cil, homem viril), uma contradição com a própria “realidade” contemporânea,
visto que as mulheres exercem outros papéis, como estudante, trabalhadora,
motorista, entre outros (LEITE; ROMERO, 2017, p. 147).

UNIDADE II Educação de Gênero e Sexualidade nos Espaços Educativos 35


Nos espaços escolares, infelizmente, esse discurso, muitas vezes, se faz presente.
Está em ação o que chamamos de binarismo, isto é, a ideia de que só existem duas formas
de brincadeiras: de meninos e de meninas. A existência deste pensamento, faz com que
limitemos o brincar e coloquemos em ação questões de gênero que tendem a reproduzir
um pensamento de que exista “brincadeiras de meninos e brincadeiras de meninas”.
E a escola nisto tudo? O que a escola produz e fala sobre sexualidade? Sachi
(2018) aponta que, não raro, os discursos dos responsáveis familiares estão carregados
de falas em que se encontra a afirmação de que a escola não é o espaço para se aprender
sobre sexualidade. No entanto, a autora sinaliza que não é apenas na escola que esse
conteúdo chega até as crianças, a diferença é que neste espaço o conteúdo é transmitido
de maneira pedagógica e, logo, responsável.
Ao levarmos em conta que a criança, a partir do seu nascimento, já entra em
contato com o mundo por meio de diversas situações, a escola certamente
não será seu primeiro ambiente de aprendizagem. Devemos levar em conta
que as relações que essa mesma criança desenvolve com o meio em que
está inserida fazem com que ela aprenda, de modo pedagógico ou não. O
contato com outros seres humanos, os meios de comunicação e a mídia são
fontes ricas de informação e de aprendizado. Entretanto, salientamos que,
nos dias atuais, as crianças entram em contato com essas mídias cada vez
mais cedo e sem a orientação de adultos (SACHI, 2018, p. 31).

A partir disso, aluno(a), podemos perceber, conforme pontua Sachi (2018), o quão
importante é que haja pessoas comprometidas e capacitadas para orientar as crianças
acerca dessa temática. Também, é preciso que compreendamos que vivemos em uma so-
ciedade atravessada e marcada pelas diferenças e pela multiplicidade de modos de viver,
ou seja, precisamos desconstruir a ideia de que ser diferente é ser anormal e/ou errado.
Não obstante, ainda nas palavras da autora,
Levar em consideração que cada sujeito faz parte de um todo, e por conta
disso ele se constitui de raça, classe, religião, etc., permite que façamos com
que ele se incomode com a realidade exposta e busque respostas até então
não encontradas de forma satisfatória, bem como faz com que facilitemos
essa desconstrução, possibilitando de forma mais esclarecedora um novo
aprendizado composto de questionamentos e possíveis respostas (SACHI,
2018, p. 32).

Um exemplo de prática para se trabalhar nas salas de aula é a utilização de livros


infantis que trazem consigo questões que possam nortear discussões e, consequente-
mente, o trabalho educativo. Neste caminho, Leite e Romero (2017) apresentam o livro
O menino que ganhou uma boneca, da autoria de Majô Baptistoni, enquanto instrumento
para trabalhar, dentro dos espaços educativos, questões relacionadas à sexualidade. As
autoras sugerem que a obra seja lida em conjunto com as crianças, a fim de que todas
possam participar das discussões oriundas; os professores e professoras, neste momen-

UNIDADE II Educação de Gênero e Sexualidade nos Espaços Educativos 36


to, possuem grande importância, pois serão responsáveis pela mediação das discussões
e problematizações.
Claro que esta atividade não precisa se limitar com o livro proposto, mas sim que
os(as) docentes possam explorar novos materiais e recursos para o trabalho dentro da
sala de aula, contando com o objetivo de desconstruir ideias preestabelecidas e social-
mente construídas.
Outro recurso importante e útil é a utilização de filmes que abordam, de maneira
responsável, a questão da sexualidade. A partir da exibição dos filmes, é possível que os
professores elaborem questões disparadoras, a fim de produzir discussões e debates rela-
cionados à temática. Ainda, é possível utilizar pinturas, charges e vídeos (RIBEIRO, 2013).
A metodologia utilizada pelo professor pode ser a mais variada possível obser-
vando e avaliando qual melhor didática sobre sexualidade lidar em cada sala
de aula. Diálogo, seminário, pesquisas, debates, mesas redondas, palestras e
formas lúdico-culturais que estimulem os alunos no entendimento de dificulda-
des sexuais presentes na adolescência (LIMA; ALMEIDA, 2010, p. 729).

Ademais, é importante sabermos, como pontua Ribeiro (2013, p. 61), que


Nesse redemoinho de possibilidades, [é necessário] criar estratégias para
ouvir as crianças, escutá-las, desde a mais tenra, saber que trazem consigo
construções de gênero desiguais, sexistas, pois foram anos e anos de ades-
tramento em que, não só a sexualidade vem sendo vigiada e normatizada,
mas a identidade de gênero é construída diferentemente para homens e mu-
lheres, meninos e meninas.

Também, é importante que cada professor(a) busque desenvolver seus próprios


recursos, de maneira criativa e que reflita a necessidade de seus alunos e alunas, a fim
de que a experiência de obter conhecimentos acerca da sexualidade seja uma tarefa que
proporcione a efetiva participação e interesse dos discentes.

UNIDADE II Educação de Gênero e Sexualidade nos Espaços Educativos 37


SAIBA MAIS

Aluno(a), é muito importante que você conheça as diferentes nomenclaturas relaciona-


das à sexualidade, a fim de evitar a repetição e produção de informações incorretas. Um
exemplo: Orientação Sexual é o termo correto para expressar a maneira na qual uma
pessoa se sente atraída física e/ou emocionalmente por outra. O termo Opção Sexual
está incorreto, pois ninguém escolhe sua orientação sexual, visto que ela faz parte do
desenvolvimento individual de cada pessoa.
Para aprofundar a leitura nessa temática, acesse o material a seguir:
JÚNIOR, I. B. de O.; MAIO, E. R. Opção ou orientação sexual: onde reside a homosse-
xualidade? Anais do III Simpósio Internacional de Educação Sexual “Corpos, Identidade
de Gênero e Heteronormatividade no espaço escolar”, Maringá, 2013.

Disponível em: http://www.sies.uem.br/anais/pdf/diversidade_sexual/3-02.pdf.

REFLITA

“Trabalhar com a sexualidade no ambiente escolar ainda sinaliza um longo caminho.


Talvez com mais clareza, desejos, discernimentos, mas ainda é preciso muito para que
a educação sexual escolar se faça presente enquanto um projeto pedagógico coerente
e adequado”.

Fonte: Maio (2011, p. 205).

UNIDADE II Educação de Gênero e Sexualidade nos Espaços Educativos 38


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Caro(a) aluno(a),

Chegamos ao fim da segunda unidade de estudos. Até aqui, já avançamos nos


estudos relacionados ao gênero, sexualidade e educação. Como vimos na nesta unidade,
as abordagens pedagógicas da educação sexual no Brasil passaram por grandes transfor-
mações através do último século, refletindo, inclusive, na maneira que a educação sexual
é trabalhada atualmente no contexto escolar.
Também compreendendo os conceitos e as interfaces entre gênero e orientação
sexual, refletindo acerca de como tais conceitos, de vasta importância, são abordados e,
além disso, vividos no contexto escolar, seja por alunos e alunas ou pelo corpo docente.
Por fim, no último tópico, encerramos com a apresentação de alguns recur-
sos didático-metodológicos para a execução de um trabalho de Educação Sexual na
Educação Infantil e Ensino Fundamental, que contemple e dê conta das necessidades
contemporâneas.
Com os conteúdos apresentados, espero que você tenha aproveitado ao máximo
cada informação exposta. Nos encontramos na Unidade III para darmos continuidade nas
discussões relacionadas à temática da sexualidade.

Até logo!

UNIDADE II Educação de Gênero e Sexualidade nos Espaços Educativos 39


LEITURA COMPLEMENTAR

Artigo: Gênero e sexualidade: pedagogias contemporâneas

Resumo: Gênero e sexualidade são construídos através de inúmeras aprendiza-


gens e práticas, empreendidas por um conjunto inesgotável de instâncias sociais e culturais,
de modo explícito ou dissimulado, num processo sempre inacabado. Na contemporaneida-
de, essas instâncias multiplicaram-se e seus ditames são, muitas vezes, distintos. Nesse
embate cultural, torna-se necessário observar os modos como se constrói e se reconstrói a
posição da normalidade e a posição da diferença, e os significados que lhes são atribuídos.

Palavras-chave: gênero; sexualidade; pedagogias culturais; norma; diferença.

Texto completo disponível em: https://www.scielo.br/pdf/pp/v19n2/a03v19n2.pdf

UNIDADE II Educação de Gênero e Sexualidade nos Espaços Educativos 40


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Problemas de gênero: feminismo e subversão de identidade
Autora: Judith Butler
Editora: Civilização Brasileira
Sinopse: Nesta obra, Judith Butler tece algumas reflexões acerca
do feminismo e traz algumas críticas à noção de identidade, concei-
to fortemente presente no movimento feminista. No livro, a autora
apresenta a noção plural de identidade, afirmando que é preciso
pensar a identidade enquanto vasta, múltipla e não singular. Ainda,
a autora problematiza a oposição binária entre sexo e gênero.

FILME
Título: Transamérica
Ano: 2005
Sinopse: Bree, uma mulher transgênero, pouco tempo antes de
fazer a cirurgia de readequação sexual, descobre ter um filho, de
quando ainda possuía uma identidade masculina. De volta a Los
Angeles, Bree e o filho passam a se conhecer e buscam entender
as particularidades e o mundo um do outro, com suas diferenças.

UNIDADE II Educação de Gênero e Sexualidade nos Espaços Educativos 41


UNIDADE III
Sexualidade na Infância e Adolescência
Professor Esp. Jose Valdeci Grigoleto Netto

Plano de Estudo:
● Diálogos sobre crianças e adolescentes, gênero e sexualidade;
● Violência: exploração e abuso sexual;
● Integração entre escola e família.

Objetivos da Aprendizagem:
● Conhecer a evolução da contabilidade e seus fundamentos históricos;
● Conceituar a contabilidade, seu objetivo e suas áreas de aplicação;
● Identificar os aspectos legais da contabilidade;
● Compreender as características da informação e quem as utiliza

42
INTRODUÇÃO

Olá, aluno(a)!

Seja bem-vindo(a) à terceira unidade da disciplina Gênero, Sexualidade e Edu-


cação. Neste momento, iremos conhecer alguns pontos muito importantes relacionados
à intersecção entre infância, adolescência, gênero e sexualidade, além de estudarmos os
tipos de violências sexuais comumente praticadas contra essas pessoas e, por fim, iremos
conhecer a importância da interação entre escola e a família.
Assim, no Tópico I iremos conhecer alguns diálogos possíveis que podem ser
realizados com crianças e adolescentes relacionados ao tema do gênero e da sexualidade,
conhecendo o papel da escola neste quesito.
Avançando, no Tópico II vamos conhecer alguns conceitos importantes que dizem
respeito à violência sexual, elencando os dois tipos de violências existentes e, também,
apresentando algumas leis que asseguram a garantia de direitos para estes sujeitos, a fim
de protegê-los e, muito importante, impedir que as vítimas sejam revitimizadas.
Chegando ao Tópico III, para finalizar a unidade, iremos estudar acerca da interação
entre a escola e a família para que possamos compreender a importância de um trabalho
que leve em consideração o papel da família na educação de crianças e adolescentes e a
importância da efetiva participação de pais e responsáveis no processo de escolarização.
Desta maneira, a partir dos estudos selecionados, espero que os textos e discus-
sões aqui contidos sejam úteis para seus estudos e sua futura prática docente.

Bons estudos!

UNIDADE III Sexualidade na Infância e Adolescência 43


1. DIÁLOGOS SOBRE CRIANÇAS E ADOLESCENTES, GÊNERO E
SEXUALIDADE

Aluno(a), vamos iniciar o primeiro tópico desta unidade refletindo acerca dos diá-
logos possíveis entre crianças e adolescentes e a questão do gênero e da sexualidade.
Como vimos na unidade anterior, discutir educação sexual não é discutir relação sexual,
mas sim a imensa gama de elementos que compõem a sexualidade humana. Vamos lá?
Carvalho et al. (2012) pontuam que a sexualidade infanto-juvenil foi silenciada por
“verdades científicas”, que a colocaram enquanto pertencente unicamente aos sujeitos que
já possuem os órgãos genitais plenamente desenvolvidos para a prática sexual. Infelizmen-
te, essa ideia, tão aceita socialmente nos dias de hoje, impede que crianças e adolescentes
tenham contato com a dimensão sexual de suas vidas.
Assim, o que podemos constatar é que, nos últimos séculos, a sexualidade passou
a ser vista
Como mal a ser expurgado da vida das crianças, a sexualidade passa a ser
perseguida e proibida por moralistas e confessores em nome da preservação
da inocência infantil, atributo que institui a infância na modernidade. Nessa
lógica, a criança só é inocente porque está afastada do sexo, experiência
possível e permitida apenas para a vida adulta.Por meio das penitências re-
ligiosas, dos tratados de boas maneiras e da literatura infantil, a moral bur-
guesa ensina as crianças a sentirem culpa por seus desejos, ideias e práticas
sexuais, traduzindo-se em valor inabalável, que constitui os sujeitos, crianças
e adultos, e demarca suas relações com o próprio corpo e com o mundo
(CARVALHO et al., 2012, p. 71).

UNIDADE III Sexualidade na Infância e Adolescência 44


Destaca-se que falar em sexualidade na infância refere-se ao conhecimento do
próprio corpo e, também, às experiências de afeto. A escola, neste cenário, através de seus
elementos curriculares, também traz representações acerca do corpo do outro. Segundo
Miranda (2014, p. 189), “A representação do corpo do outro constitui positivamente ou
negativamente, de forma visceral, a identidade social do sujeito. E a escola [...] é lugar de
representação das diferenças de gênero, sexualidade, etnia/raça e classe”. Desta forma,
A sexualidade refere-se a um dos âmbitos que compõe a subjetividade e que
se conecta não apenas ao prazer, mas a outros elementos, como a afetivida-
de, a autonomia, a liberdade (e que não se restringe aos fins reprodutivos).
Ora, se partirmos desta ótica, a sexualidade passa a ser considerada como
uma instância da vida humana que é construída culturalmente, respondendo
aos anseios sociais que são desenhados de acordo com as expectativas en-
dereçadas aos indivíduos (CARVALHO et al., 2012, p. 72).

Aluno(a), agora podemos pensar que, ao refletirmos acerca da infância e adoles-


cência e suas interfaces com gênero e sexualidade, é válido pensarmos no papel da escola
na construção da identidade destes alunos.
Como vimos, a escola é um local importante de construção de representações que
darão sentido aos alunos acerca de seus corpos e dos corpos dos outros. Logo, através
de seus inúmeros instrumentos, a instituição escolar é central na formação de sujeitos que
convivam com as diferenças. Podemos, então, compreender identidade como sendo
[...] um processo de construção que não realizamos de forma totalmente au-
tônoma, sozinhos. Identidade sempre é relacional, depende do diferente, do
Outro, da diferença para que saibamos quem não somos. É importante de-
marcar também que as identidades adquirem sentido através da linguagem
(MIRANDA, 2014, p. 193).

Neste viés, crianças e adolescentes que não se identificam com o modelo hege-
mônico da heterossexualidade e que não possuem suas diferenças reconhecidas e valida-
das no campo escolar são sujeitos que estão tendo suas diferenças ignoradas e, com isso,
sofre-se o que conhecemos como heterossexualização compulsória (MIRANDA, 2014).
A escola, na grande maioria das vezes, não abarca as diferenças, trabalhando em
seu currículo exclusivamente com as expressões da heterossexualidade enquanto norma.
Seja com o binarismo/separação de atividades para meninos e outras atividades para
meninas, filas separadas para o sexo masculino e o sexo feminino, dentre outros tantos
exemplos possíveis.
Com isto, ao falarmos da heterossexualização compulsória, estamos nos referindo
a um processo que:
[...] implica no direcionamento da conduta, das expressões corporais, da in-
dumentária, do modo de falar e de andar para uma perspectiva heteronor-
mativa, regressando ao lugar “normal” de comportamento. O masculino e o
feminino devem corresponder às designações do sexo de cada um para a
“boa convivência” em sociedade. A perspectiva heteronormativa termina por
instituir a diferença sexual que propõe uma organização social onde é possí-
vel identificar os sujeitos em relação ao sexo/gênero/sexualidade (MIRANDA,
2014, p.194).

UNIDADE III Sexualidade na Infância e Adolescência 45


Ao contrário disso, a escola precisa ser um espaço que enxergue crianças e
adolescentes enquanto sujeitos ativos no mundo, isto é, enquanto pessoas que possuam
sexualidade e, com isso, precisam compreender as transformações que os acompanham
durante seu desenvolvimento.
A escola pode ser um espaço protetivo para os adolescentes, mesmo em
contextos sociais de maior vulnerabilidade. Assim, o contexto escolar pode
ser um local potente para pensar em intervenções que busquem diminuir
as desigualdades em saúde, pois, além de ser um espaço de convivência,
acaba por ser parte constituinte de subjetividade. A escola pode possibilitar
aos jovens construir conceitos sobre o mundo, formalizando conhecimentos e
critérios para o processo decisório das inúmeras questões referentes ao seu
cotidiano (EW et al., 2017, p. 51).

Por isso, proporcionar diálogos e espaços para englobar gênero e sexualidade com
crianças e adolescentes é, antes de tudo, respeitar o direito destes sujeitos a debaterem
sobre este tema, a sanarem suas dúvidas, curiosidades e, com isso, obterem conhecimento
de maneira pedagógica. Ainda, quando trabalhamos a questão da sexualidade, estamos
atuando, inclusive, na prevenção de violências.
Neste viés, Gagliotto e Vagliati (2014) destacam que a escola possui papel de
protagonista no rompimento do pacto de silêncio em torno das violências sexuais e, com
isso, pode auxiliar pais e alunos a compreenderem e lidarem de maneira adequada com o
tema da sexualidade. Ainda, conforme Correa (2013), a violência possui diversas variantes
que se alteram com o tempo e, com isso, se faz necessário que olhemos para o conceito de
violência enquanto algo que vá além da ideia de machucar e agredir.
Seguindo esta ideia, no próximo tópico iremos compreender um pouco mais acerca
do tema da violência sexual praticada contra crianças e adolescentes. Vamos lá?

UNIDADE III Sexualidade na Infância e Adolescência 46


2. VIOLÊNCIA: EXPLORAÇÃO E ABUSO SEXUAL

Aluno(a), neste tópico iremos conhecer um pouco acerca da violência sexual prati-
cada contra crianças e adolescentes. Ao discutirmos sexualidade, se faz de extrema impor-
tância conhecermos acerca deste tipo de violência. Neste sentido, iremos compreender os
dois tipos que compõem a violência sexual: o abuso e a exploração.
Segundo Cunha (2020), os números relacionados à violência sexual contra crian-
ças e adolescentes atingiram uma marca exponencial e, por isso, alarmante no período que
compreende os anos de 2011 a 2019. Através de dados obtidos pela Ouvidoria Nacional
dos Direitos Humanos (Disque 100), foram registradas mais de 200 mil denúncias neste
período. Ainda, se faz relevante pensarmos que nem todos os casos são notificados, o que
acaba por elucidar que os números podem ser muito maiores.
A Organização Mundial de Saúde estima que apenas 01 em cada 20 casos
de abuso chega ao conhecimento dos órgãos de proteção à infância. Logo,
das 640.000 (seiscentas e quarenta mil) crianças e adolescentes violentados
sexualmente em 2018 no Brasil, apenas 32.000 (trinta e dois mil) casos foram
apurados. Isso significa que os outros 608.000 (seiscentos e oito mil) abu-
sadores permanecem livres de qualquer punição e, o que é pior, livres para
continuarem destruindo a infância de milhões de crianças e adolescentes ao
longo de muitos e muitos anos (MPCE, 2020, p. 8).

Logo, podemos perceber que precisamos ficar atentos com este tema. Como po-
demos constatar, os números são alarmantes. A violência sexual contra crianças e adoles-
centes deve ser sempre denunciada. No entanto, para que isso ocorra de maneira efetiva, é

UNIDADE III Sexualidade na Infância e Adolescência 47


preciso que o assunto seja discutido, que pautas sejam levantadas, que campanhas sejam
realizadas e, ainda, que toda a sociedade se mobilize. Ainda em relação aos números, se
faz necessário destacar que
A violência sexual infantil ocorre com frequência bem maior do que pode-
mos imaginar. Em média, a cada hora, quatro crianças e adolescentes são
abusados no Brasil. Essa prática não é recente, muito menos vinculada a
uma faixa etária, condição social, localização geográfica ou sexo da vítima
(MPCE, 2020, p. 3).

Neste caminho, é importante que conheçamos alguns conceitos relacionados à


violência sexual. Para começar, trago a definição de Brasil (2020), que pontua o fenômeno
do abuso sexual como todo ato de natureza erótica, permeado pela presença ou não de
contato físico e força, em que haja um adulto e uma criança e/ou adolescente, ou um
adolescente mais velho e uma criança. Neste caminho, existem dois tipos de abuso sexual:
o de ordem intrafamiliar, isto é, em que o agressor faz parte da família da vítima, ligado
por laços de consanguinidade (pais, irmãos, avós, tios, dentre outros), legalidade (guarda,
tutela ou adoção) ou afinidade (padrasto, madrasta, cunhados etc.) e o abuso de ordem
extrafamiliar, praticado por pessoas conhecidas ou desconhecidas da vítima.
Já a exploração sexual está relacionada com o ato de usar a criança enquanto
meio para a obtenção de lucro ou algum outro tipo de vantagem por parte do adulto. A vio-
lência, neste caso, é de duas ordens: a primeira que refere à violação de seu próprio corpo
enquanto meio para obtenção de vantagens (na maioria das vezes de ordem financeira) e
sendo abusada por outro indivíduo (MPCE, 2020).
Se faz extremamente importante destacar que crianças e adolescentes que so-
frem abuso sexual nunca devem ser encarados como culpados. Ao contrário, crianças e
adolescentes são vítimas, pois, enquanto sujeitos peculiares em fase de desenvolvimento,
acabam por estarem em posição de inferioridade frente ao poder do adulto, em que este
leva vantagens sobre a vítima (BRASIL, 2020).
A exploração sexual de crianças e adolescentes é considerada crime hedion-
do, sem prejuízo da responsabilização criminal de todas as pessoas envol-
vidas nos abusos cometidos. A exploração pode ocorrer de quatro formas:
prostituição, pornografia, redes de tráfico de pessoas e turismo com motiva-
ção sexual (MPCE, 2020, p. 6).

É preciso destacar que crianças e adolescentes possuem direitos legalmente as-


segurados, estando amparadas por legislações específicas. A constituição de 1988, por
exemplo, em especial o Art. 227, já demarca isso, assinalando que
É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao ado-
lescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignida-
de, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de
colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração,
violência, crueldade e opressão (BRASIL, 1988, s.p.).

UNIDADE III Sexualidade na Infância e Adolescência 48


Avançando, em 1990, com o Estatuto da Criança e do Adolescente - Lei nº
8.069/1990, crianças e os adolescentes passaram a ter um documento norteador que
assegura seus direitos e, com isso, o documento foi um marco na efetivação de crianças
e adolescentes enquanto sujeitos de direitos (BRASIL, 1990). Entre os pontos importantes
que a lei traz, se faz pertinente destacar o artigo 5º, que elucida que:
Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligên-
cia, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na
forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fun-
damentais (BRASIL, 1990, s.p., grifo nosso).

Neste sentido, a fim de um correto manejo dos casos de violência e visando a não
revitimização destes sujeitos, ou seja, com o objetivo de evitar que crianças e adolescentes
tenham que reviver e narrar os eventos repetidas vezes, recentemente houve um marco
para a garantia e manutenção dos direitos destes sujeitos, com a promulgação da Lei nº
13.431/2017, que estabelece o sistema de garantia de direitos da criança e do adolescente
vítima ou testemunha de violência. Esta legislação visa assegurar o correto atendimento às
crianças e adolescentes, ao conceituar e diferenciar a escuta especializada e o depoimento
especial. A lei, ainda, traz várias especificidades de como este público será acolhido e,
também, apresenta alguns conceitos importantes.
Nesta lei, a escuta especializada passa a ser configurada enquanto “[...] o pro-
cedimento de entrevista sobre situação de violência com criança ou adolescente perante
órgão da rede de proteção, limitado o relato estritamente ao necessário para o cumprimento
de sua finalidade” (BRASIL, 2017, s.p.), ou seja, oferecer acolhimento às vítimas e ofe-
recendo-lhe respeito, a fim de evitar a repetição do relato da violência. Já o depoimento
especial é conceituado como “[...] o procedimento de oitiva de criança ou adolescente
vítima ou testemunha de violência perante autoridade policial ou judiciária” (BRASIL, 2017,
s.p.) que objetiva a produção de provas para a utilização nos processos judiciais.

FIGURA 1 - VIOLÊNCIA SEXUAL INFANTIL

UNIDADE III Sexualidade na Infância e Adolescência 49


É muito importante que todas as pessoas envolvidas no atendimento a crianças e
adolescentes, seja em qualquer política que estejam inserida (educação, saúde, assistência
social etc.), conheçam estas legislações. A violência, infelizmente, é um fenômeno presente
em nossa realidade e, como vimos, independe de condição econômica, faixa etária ou
localização geográfica, se faz presente em todos os espaços e contextos.
Neste caminho, Alencar et al. (2009) elucidam alguns mitos comumente presentes
quando se fala acerca da violência sexual contra crianças e adolescentes. O primeiro mito
refere-se à ideia de que tais casos ocorrem apenas em famílias pobres. Outro mito é que
apenas meninas sofrem violência sexual; ao contrário, meninos também são vítimas, mes-
mo que os dados apresentem uma predominância de meninas serem violentadas.
Seguindo, um outro mito que, infelizmente, ainda cerca o pensamento de muitas
pessoas é a noção de que os homossexuais são potenciais violentadores por conta de sua
orientação sexual. Neste caso, percebe-se que os setores conservadores da sociedade, to-
mando carona em uma situação trágica e cruel, como é o caso da violência sexual, buscam
manchar a imagem de uma parcela da sociedade que já sofre inúmeras situações de pre-
conceito e discriminação, estando pautados, é claro, em noções moralistas e homofóbicas.
Desta maneira, podemos perceber como é importante que estejamos sempre pau-
tados em ideias corretas e que fujam do senso comum, isto é, de informações erroneamente
compartilhadas e que, muitas vezes, nós reproduzimos sem termos certeza dos fatos. Por
isso, é importante que seja discutido, desde o contexto escolar, maneiras de prevenir a
violência sexual contra crianças e adolescentes. Essa discussão não pode ser deixada de
lado, pois, como vimos, a violência está presente, infelizmente, em todos os espaços de
nossas sociedades.

UNIDADE III Sexualidade na Infância e Adolescência 50


3. INTEGRAÇÃO ENTRE ESCOLA E FAMÍLIA

Aluno(a), você já pensou na importância da família assumir um papel ativo na es-


colarização de crianças e adolescentes? Assim, se faz necessário que haja uma interação,
isto é, uma comunicação presente entre a família e a instituição escolar, a fim de que o
processo possa ser o mais positivo e funcional possível. Porém, o que se percebe é que
No campo da educação brasileira, temos observado a dificuldade encontrada
pelos(as) gestores(as) de escolas [em] estabelecerem parceria entre o espa-
ço escolar e a família dos(as) alunos(as). Frequentemente, podemos obser-
var que a maioria dos(as) educadores(as) reclamam da pouca ou nenhuma
demonstração de interesse da família em participar do cotidiano escolar do(a)
filhos(as) (CREPALDI, 2017, p. 1173).

Neste caminho, Crepaldi (2017) sinaliza também que a participação dos pais/res-
ponsáveis na vida da criança é um fator de extrema importância para garantir um efetivo
desenvolvimento e, ao se relacionar com o espaço escolar, quando há a participação destes
adultos no processo de escolarização das crianças, a “[...] criança fica mais confiante, uma
vez que percebe que todos se interessam por ela, e também porque passam a conhecer
quais são as dificuldades e quais os conhecimentos que ela tem” (p. 11737).
A família representa o alicerce para que o indivíduo construa uma boa es-
trutura social, pois é dentro do espaço familiar que a criança determina os
primeiros relacionamentos, que depois abrangerá a escola e por fim a socie-
dade. Por isso, a participação da família na vida da criança é de suma impor-
tância, é ela que servirá de modelo de relacionamentos para que, mais tarde,
ela se relacione com outras pessoas (CREPALDI, 2017, p. 11737).

UNIDADE III Sexualidade na Infância e Adolescência 51


Ademais, de acordo com Lima et al. (2010), a família é a primeira instância na qual
a criança recebe informações acerca do que seja a sexualidade. No entanto, por diversos
motivos, como receio e vergonha, muitas famílias não abordam esta temática com as crian-
ças, o que acaba relegando à sexualidade um local de tabu e interdito.
No entanto, mesmo que pareça difícil e até mesmo impossível, é necessário
abordar esse tema com crianças e adolescentes. Falar acerca deste assunto é auxiliar
no pleno desenvolvimento sadio destes sujeitos que, por mais que muitas vezes os pais
e/ou responsáveis pensem que as crianças não estão preparadas para lidarem com este
assunto, necessitam que a sexualidade seja abordada (LIMA et al., 2010).
Ao chegar a esse momento, é necessário que a família dê respostas claras
e precisas de acordo com a idade e, se por acaso não puderem responder
no momento para esclarecer as dúvidas, não se deve repassar qualquer res-
posta. É muito importante a atitude ao responder às perguntas, saber o tom
de voz a ser utilizado, a segurança nas informações, o fato de estar ou não à
vontade, tudo isto é captado pela criança também sob a forma de informação
(LIMA et al., 2010, p. 85).

Neste caminho, a escola possui um papel que vai de encontro com o desenvolvi-
mento pelas instituições familiares. Ao abordar o tema da sexualidade,
É necessário que a escola como instituição educacional esteja bem prepara-
da para lidar com esse assunto, sendo assim posicionando-se de forma clara
e consciente sobre as referências e limites com os quais deve trabalhar as
expressões da sexualidade da criança (LIMA et al., 2010, p. 86).

Vê-se, então, que a família, a escola e também a sociedade podem propor, juntas,
uma educação sexual infantil que seja pautada em conceitos e ideias éticas e, principalmen-
te, na noção de diversidade entre as pessoas, respeitando as diferenças e particularidades
dos sujeitos (LIMA et al., 2010).
A integração da escola com a família e de toda a comunidade, por meio de
diálogos, é fundamental, uma vez que a escola é compreendida como um
elemento de mediação entre o(a) aluno(a) e a família. Alguns(as) professo-
res(as) conhecem mais sobre o(a) aluno(a) que a própria família que, em
muitos casos, surpreende-se ao ser chamada na escola para ouvir certos
comentários em relação ao(à) filho(a) (CREPALDI, 2017, p. 11737).

Por fim, com estes pressupostos básicos, como destaca Correa (2013), pode-se
afirmar que a escola possui grande capacidade de deixar de assumir uma posição caracte-
rizada pela opressão e repressão, tornando-se um local que seja seguro e livre para todas
as pessoas sentirem-se incluídas e pertencentes.

UNIDADE III Sexualidade na Infância e Adolescência 52


SAIBA MAIS

Aluno(a), você sabia que o dia 18 de março é considerado o Dia Nacional de Combate
ao Abuso e à Exploração Sexual Infantil? Essa data foi instituída a partir da aprovação
da Lei Federal n° 9.970/00.
A data, no entanto, não foi escolhida de maneira aleatória. No dia 18 de maio de 1973,
Araceli, uma menina de apenas 8 anos de idade, foi brutalmente abusada e assassina-
da. A intenção, com esta data, é mobilizar e convocar toda a sociedade para participar
dessa luta e proteger todas as crianças e adolescentes. A data, ainda, busca reafirmar
a importância de se denunciar e responsabilizar os autores de violência sexual contra
a população infanto-juvenil. No caso de Araceli, os criminosos, infelizmente, ficaram
impunes.

Fonte: CDHPF (2017).

REFLITA

“A discriminação homofóbica e de gênero causou, e ainda causa, taxas altíssimas de


evasão escolar, que, em última análise, significam que centenas de pessoas desistem
de sonhos e projetos pessoais, porque as instituições ainda são ineptas para discutir
e garantir a convivência com a diversidade. Não raro, o bullying contra homossexuais,
dentro da família, da escola e da sociedade, tem levado pessoas a desistirem da vida,
numa consequência extrema da falta de políticas educativas, de esclarecimento da so-
ciedade em geral, e da contenção da violência contra o/a “diferente”.

Fonte: Maio e Correa (2013, p. 17).

UNIDADE III Sexualidade na Infância e Adolescência 53


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Caro(a) aluno(a),

Chegamos ao fim da terceira unidade da disciplina Gênero, Sexualidade e Educa-


ção. Agora, a partir dos estudos que realizamos neste material, você já aprofundou seus
conhecimentos relacionados à essa temática. No momento, você já conheceu alguns
pontos muito importantes relacionados à intersecção entre infância, adolescência, gênero
e sexualidade, além de ter entrado em contato com os tipos de violências sexuais que são
praticadas contra crianças e adolescentes. Ainda, você teve a oportunidade de estudar
sobre a importância da interação entre escola e a família.
Recapitulando, no Tópico I contamos com alguns diálogos possíveis que podem ser
realizados com crianças e adolescentes relacionados ao tema do gênero e da sexualidade,
conhecendo o papel da escola neste quesito.
Já no Tópico II, foi possível conhecer alguns conceitos importantes que dizem
respeito à violência sexual, em que foram apresentados os dois tipos de violências sexuais
que são existentes. Neste momento, apresentamos algumas leis que asseguram a garantia
de direitos para esses sujeitos, como o Estatuto da Criança e do Adolescente, por exemplo.
Ao fim da unidade, Tópico III, estudamos acerca da interação entre a escola e a
família e a importância da realização de um trabalho que leve em consideração o papel
da família na educação de crianças e adolescentes e também a importância da efetiva
participação de pais e responsáveis no processo de escolarização.
Nos encontramos na próxima e última unidade desta disciplina para darmos conti-
nuidade nas discussões relacionadas à sexualidade, gênero e educação.

Até logo!

UNIDADE III Sexualidade na Infância e Adolescência 54


LEITURA COMPLEMENTAR

Artigo: Violência sexual contra crianças e adolescentes: identificação, consequên-


cias e indicações de manejo

Resumo: A Violência Sexual (VS) contra crianças e adolescentes é um problema


de saúde pública que costuma produzir consequências na vida das vítimas. Embora a VS
afete milhões de crianças e adolescentes no Brasil e no mundo, ela ainda é subnotificada.
Neste cenário, os profissionais que possuem contato com essa população têm papel fun-
damental na identificação e na escuta das revelações de VS. No entanto, nem sempre os
profissionais possuem informações suficientes para agir diante destes casos. Desta forma,
este artigo tem o intuito de descrever o(s) conceito(s) de VS, suas consequências e indica-
ções de manejo. Ressalta-se a importância dos profissionais terem uma escuta empática
em situações de revelação da VS, bem como a necessidade de notificação dos casos de
suspeita de VS aos serviços competentes.

Palavras-chave: Violência sexual; Criança; Adolescente; Revelação; Defesa da


criança e do adolescente.

Texto completo disponível em:


HOHENDORFF, J. V.; PATIAS, N. D. Violência sexual contra crianças e adoles-
centes: identificação, consequências e indicações de manejo. Revista Barbarói, Santa
Cruz do Sul, n. 49, p. 239-257, 2017. Disponível em: https://online.unisc.br/seer/index.php/
barbaroi/article/view/9474/6913.

UNIDADE III Sexualidade na Infância e Adolescência 55


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Pipo e Fifi - Ensinando Proteção contra violência sexual
Autora: Caroline Arcari
Editora: Caqui
Sinopse: O livro ensina, para crianças, conceitos básicos relacio-
nados ao corpo, emoções e sentimentos. Ainda, é uma ferramenta
de grande importância para ensinar às crianças a diferença entre
carinho e abuso. O livro apresenta atividades para que as crianças
aprendam a refletir e a conhecer conceitos importantes sobre
abuso sexual.

FILME/VÍDEO
Título: O quarto de Jack
Ano: 2015
Sinopse: O filme retrata o drama da adolescente Joy e seu filho
Jack enquanto vivem isolados em um quarto, após o sequestro e
estupro de Joy. O velho Nick, o violentador, os mantêm em cati-
veiro. Ao longo do filme, Joy faz o possível para tornar suportável
a vida no local, mas busca a todo tempo uma maneira de sair
do cativeiro. Ela elabora um plano em que, com a ajuda do filho,
poderá enganar Nick e retornar à realidade.

UNIDADE III Sexualidade na Infância e Adolescência 56


UNIDADE IV
Práticas Pedagógicas com Base em
uma Educação Sexual Emancipatória
Professor Esp. Jose Valdeci Grigoleto Netto

Plano de Estudo:
● Processo de educação sexual existente nos espaços educativos;
● Construção de educação sexual com base em uma proposta emancipatória;
● O ensino dos Direitos Humanos no contexto escolar.

Objetivos da Aprendizagem:
● Contextualizar os processos de educação sexual atualmente presentes
nos espaços escolares;
● Compreender a relevância da educação sexual enquanto uma
proposta emancipatória;
● Estabelecer a importância dos Direitos Humanos e suas
interfaces com o contexto escolar.

57
INTRODUÇÃO

Olá, aluno(a). Seja bem-vindo(a) à última unidade da disciplina Gênero, Sexuali-


dade e Educação. Agora, após todo o conteúdo que trabalhamos no decorrer das aulas
anteriores, iremos conhecer um pouco mais acerca dos processos de educação sexual
atualmente presentes nos espaços educativos. Neste caminho, iremos conhecer, na
sequência, a proposta de uma educação sexual emancipatória e, por fim, iremos debater
acerca da importância e urgência de discutirmos os direitos humanos e suas interfaces
com a educação.
Assim, no Tópico I iremos conhecer as principais práticas adotadas no contexto
educacional para o trabalho com a educação sexual, em especial o enfoque que se é dado
para a questão da biologia e aos aspectos reprodutivos.
Na sequência, no Tópico II vamos conhecer a educação emancipadora e sua
importância para a formação de alunos e alunas que consigam desenvolver um senso
crítico frente às informações. Ainda neste tópico iremos nos debruçar, rapidamente, na
compreensão do educador Paulo Freire acerca do que venha ser uma educação voltada
para a emancipação.
Para finalizar, no Tópico III iremos estudar o conceito de direitos humanos, seu
surgimento e trajetória e conhecer suas interfaces e aplicações nos espaços escolares, a
fim de garantir a efetivação dos direitos básicos dos seres humanos.
Desta maneira, a partir dos estudos selecionados, espero que os temas e reflexões
aqui contidos sejam úteis para seus estudos.

Bons estudos!

UNIDADE IV Práticas Pedagógicas com Base em uma Educação Sexual Emancipatória 58


1. PROCESSO DE EDUCAÇÃO SEXUAL EXISTENTE NOS ESPAÇOS
EDUCATIVOS

Aluno(a), vamos iniciar a discussão do nosso primeiro tópico em que iremos traba-
lhar a questão dos processos de educação sexual que se fazem inseridos, atualmente, nos
contextos educacionais. Vamos lá?
Santos (2016) sinaliza que desde 1997 o Ministério da Educação (MEC) propõe,
através dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), os temas que devem atravessar de
maneira transversal, isto é, serem abordados por diferentes áreas. A questão da orientação
sexual e os aspectos relacionados à sexualidade caracteriza-se enquanto um destes temas.
No entanto, de acordo com Gagliotto e Lembeck (2011), ainda existe, nos dias
de hoje, um foco totalmente biológico nas escolas quando vamos nos referir à educação
sexual. A transmissão dos conteúdos e informações se dá de maneira técnica, sem o envol-
vimento efetivo dos alunos e alunas. Na maioria das vezes, o tema é deixado apenas para
ser apresentado nas disciplinas de ciências e/ou biologia. Sendo assim,
Se a escola não trata da questão sexual ou se esta trabalha apenas a ques-
tão biológica da sexualidade, ela está transmitindo aos alunos que o assunto
é mesmo um tabu, do qual não se pode falar. A omissão da escola e da famí-
lia faz com que as crianças e os adolescentes busquem informações sobre
o assunto em fontes bem menos seguras, como em revistas, internet, na
rua com “amigos”, tão despreparados quanto eles (GAGLIOTTO; LEMBECK,
2011, p. 4).

UNIDADE IV Práticas Pedagógicas com Base em uma Educação Sexual Emancipatória 59


Ainda de acordo com as autoras anteriormente pontuadas, mesmo com todo o
silenciamento, a educação sexual tem se apresentado enquanto um tema de extrema
necessidade de ser abordado nos espaços educativos, visto a relevância e importância de
se trabalhar os campos do amor, do afeto e das relações sociais e sexuais dos sujeitos.
A educação sexual proporciona, neste sentido, o desenvolvimento de uma sexualidade
responsável e, ao mesmo tempo, prazerosa, em que os indivíduos possam vivenciar essas
experiências que fazem parte do desenvolvimento humano.
No cotidiano da sala de aula surgem frequentemente questões relacionadas
sobre sexualidade, nesse sentido, cabe à escola ofertar um espaço em que
possam ser esclarecidas suas dúvidas e desmistificar os tabus que envolvem
o tema da sexualidade. [...] A escola deve informar e discutir os diferentes
tabus e preconceitos, desconstruindo as crenças e atitudes existentes na so-
ciedade, buscando levar o aprimoramento das concepções de sexualidade
(SANTOS, 2016, p. 29).

Em um estudo realizado por Vieira e Matsukura (2017), as autoras identificaram a


existência de dois tipos de modelos que professores e professoras utilizam para a aborda-
gem da sexualidade: o modelo biológico-centrado e preventivo e o modelo biopsicossocial.
Dos professores que foram entrevistados, de um total de dez, seis relataram utilizar o pri-
meiro modelo e apenas quatro utilizam o segundo. O primeiro modelo foca seu trabalho em
medidas preventivas de gravidez na adolescência e DST/AIDS. Já o modelo biopsicosso-
cial se preocupa, também, com outros aspectos, de maneira mais abrangente, abarcando
as questões afetivas e socioculturais. Com a pesquisa, as autoras concluíram que muitos
avanços se fazem necessários, como o desenvolvimento da autonomia dos sujeitos, por
exemplo. A sexualidade, neste sentido, precisa ser compreendida enquanto algo que vai
além do campo biológico, que proporcione um espaço emancipatório para os sujeitos.
Educação sexual é muito mais do que meramente falar do sistema reprodutor
e de doenças sexualmente transmissíveis. Uma verdadeira educação sexual
precisa abranger a sexualidade humana como um todo, superando o senso
comum e possibilitando o esclarecimento das dúvidas de forma compreensi-
va e amigável; minimizando assim a repressão que faz do sexo um ato sujo
e pecaminoso; abrindo caminho para uma transformação social, sendo que,
para alcançarmos uma educação sexual verdadeiramente emancipatória, é
preciso superar toda a cultura velha e decadente que ainda vem sendo arras-
tada e trabalhar sob um conceito novo e que tenha capacidade de superar
todos os preconceitos que assombram a sexualidade do ser humano (GA-
GLIOTTO; LEMBECK, 2011, p. 4).

É preciso, então, que a atuação docente não se limite aos aspectos biológicos.
Como destaca Furlani (2003), é preciso que seja ampliada a visão de sexualidade atrelada
à reprodução. Essa ideia ligada ao aparelho ou sistema reprodutor, inclusive, está presente
nos livros didáticos das escolas.

UNIDADE IV Práticas Pedagógicas com Base em uma Educação Sexual Emancipatória 60


Realizar orientação sexual na escola era proibido oficialmente. Atualmente o
momento é outro. A escola não pode mais fugir ao seu papel de educadora e
ignorar a questão sexual do aluno e tampouco acreditar que, dando apenas
informações biológicas, como palestras uma vez ao ano, já está fazendo edu-
cação sexual (GAGLIOTTO; LEMBECK, 2011, p. 3).

Neste momento, podemos pensar acerca da formação de professores e professoras


para o efetivo trabalho e discussão desta temática. Como pontuam Finco, Souza e Oliveira
(2017), é notório que nas instituições de ensino superior o tema do gênero não atravessa os
currículos de formação docente. Logo, torna-se tarefa complicada que esses profissionais
consigam trabalhar a questão da diversidade junto com seus alunos e alunas.
O processo de orientação sexual deve estar inserido na escola, e realizada
por docentes, esses profissionais devem ser dinâmicos, multiculturais e refle-
xivos. É necessária sua constante busca pelo saber, para o desenvolvimento
de suas práticas pedagógicas e a aquisição de novos conceitos, não é permi-
tido ao professor emitir opiniões pessoais (SANTOS, 2016, p. 33).

Assim, se o trabalho relacionado ao gênero e à diversidade já se constituiu enquanto


tarefa sensível e delicada, podemos concluir que mais delicado ainda se torna o ensino da
sexualidade, em sua totalidade. Para tanto, como veremos no tópico a seguir, é preciso que
seja desenvolvida, nas salas de aulas, uma proposta de educação sexual emancipatória.

UNIDADE IV Práticas Pedagógicas com Base em uma Educação Sexual Emancipatória 61


2. CONSTRUÇÃO DE EDUCAÇÃO SEXUAL COM BASE EM UMA PROPOSTA
EMANCIPATÓRIA

Para iniciar, vamos aprender o que significa a palavra emancipatória? Segundo o


Dicionário Online de Português, emancipatório é tudo aquilo que possui a capacidade de
se tornar livre e independente. Emancipar é tornar suficiente, autônomo. Logo, você pode
estar se perguntando: mas o que a educação tem a ver com isso? Adiante vamos responder
a essa questão.
De acordo com Gagliotto e Lembeck (2011), a educação sexual tem se apre-
sentado enquanto um tema de extrema necessidade de ser abordado nos espaços
educativos, visto a relevância e importância de se trabalhar os campos do amor, do
afeto e das relações sociais e sexuais dos sujeitos. A educação sexual proporciona,
neste sentido, o desenvolvimento de uma sexualidade responsável e, ao mesmo tempo
prazerosa, em que os indivíduos possam vivenciar essas experiências que fazem parte
do desenvolvimento humano.
Neste caminho, os autores nos propõem a pensar algumas questões interessantes
quanto ao papel da escola na educação sexual pontuando, ainda, que

UNIDADE IV Práticas Pedagógicas com Base em uma Educação Sexual Emancipatória 62


A escola é um espaço que preenche lacunas, erradica preconceitos, tem o
poder de aprofundar informações e por que não afirmar que esta pode, sim,
propiciar uma visão ampla e diversa das opiniões sobre os temas da sexua-
lidade. Mas, qual é o papel que a escola deve deter a respeito do tema se-
xualidade? Cabe à escola e ao professor orientar seus alunos a respeito da
sexualidade? Os professores têm condições de trabalhar o assunto com os
alunos? (GAGLIOTTO; LEMBECK, 2011, p. 2).

É importante destacarmos que as relações de poder presentes nos espaços edu-


cativos desempenham um papel determinante no processo de ensino e aprendizagem.
As ideologias dominantes, compostas pela burguesia, interferem diretamente nos espaços
educacionais, em que há uma busca pela manutenção de interesses que vão de encontro
com suas ideologias. Neste caminho, os professores, muitas vezes desmotivados por
inúmeros motivos, como a questão da desvalorização de suas funções, acabam apenas
reproduzindo os conteúdos, desanimados com a prática docente. Assim, os professores,
muitas vezes, ao reproduzirem os conteúdos, não proporcionam espaços para o desenvol-
vimento crítico dos sujeitos, ao transmitirem conteúdos acabados, prontos (GAGLIOTTO;
LEMBECK, 2011).
Para educar sexualmente, numa perspectiva emancipatória, o professor pre-
cisa estar pré-disposto a rever velhos conceitos e preconceitos, a questionar
antigos tabus, compreendendo a sexualidade sempre articulada à dinâmica
de sua construção e procurando perceber o quanto ela está atrelada às rela-
ções de poder, identificando as armadilhas que se espalham pela sociedade
(GAGLIOTTO; LEMBECK, 2011, p. 16).

De acordo com Gagliotto e Lembeck (2011), a educação sexual emancipatória


possui, em seu bojo, o foco na construção de um trabalho pedagógico que busca promover
a autonomia dos sujeitos, bem como o desenvolvimento de um senso crítico que problema-
tize comportamentos estereotipados. Logo, com a desconstrução destes comportamentos,
é possível pensarmos na possibilidade de construirmos novos padrões que culminem em
uma sexualidade plena, livre de padrões.
O corpo é outro aspecto a ser considerado numa proposta de desenvolver
uma educação sexual emancipatória; este precisa ser visto como o lugar
onde se manifestam todas as nossas necessidades, sentimentos, os nossos
valores. Enfim, tudo o que socialmente e culturalmente fomos aprendendo ao
longo de nossa vida precisa ser valorizado, respeitado, bem cuidado. A orien-
tação sexual, além de assegurar o conhecimento das informações biológicas
deste corpo, deve possibilitar, sobretudo, a conversa sobre sexo num sentido
mais amplo, abrigando as emoções e o amadurecimento que sua vivência
traz (GAGLIOTTO; LEMBECK, 2011, p. 16).

UNIDADE IV Práticas Pedagógicas com Base em uma Educação Sexual Emancipatória 63


FIGURA 1 - EMANCIPAÇÃO E LIBERDADE

Ainda, um ponto interessante para ser considerado quando falamos acerca de uma
proposta emancipatória na educação, é realizarmos um resgate ao trabalho e às contri-
buições do educador Paulo Freire (1921-1997), autor respeitado no mundo todo com suas
contribuições à educação.
Para Oliveira e Santos (2018), Paulo Freire apresentava uma proposta de escola
que ia ao contrário do modelo tradicional. Para ele, a escola deveria ser um espaço de
liberdade, pautada no desenvolvimento crítico dos sujeitos e, ainda, proporcionar aos
educandos a possibilidade de serem protagonistas em seu processo de aprendizagem,
possuindo autonomia em suas escolhas.
A escola na visão de Paulo Freire, então, envolve a participação e a criativida-
de dos educandos, na vida cotidiana escolar, como sujeitos de conhecimento.
O educando é visto como sujeito do seu processo pedagógico e, por conse-
guinte, construtor de conhecimento (OLIVEIRA; SANTOS, 2018, p. 129).

Neste sentido, percebe-se o papel emancipatório dos alunos, que não estão in-
seridos no ambiente educacional apenas como receptores de conteúdos e informações.
Também é importante pensarmos acerca do papel do diálogo neste processo, pois
Uma relação de diálogo, na perspectiva freireana, é aquela em que os sujei-
tos do ato de conhecer se encontram mediatizados pelo objeto do conheci-
mento, por isso, o diálogo tem um caráter existencial e histórico, relacionado
ao progresso dos sujeitos no contexto histórico. Nesta dimensão dialógica os
processos de aprendizagem se concretizam pela via da interação social e da
cooperação, ou seja, na aprendizagem é preciso estar junto, sendo uma ação
coletiva e colaborativa (OLIVEIRA; SANTOS, 2018, p. 130).

UNIDADE IV Práticas Pedagógicas com Base em uma Educação Sexual Emancipatória 64


Vê-se, então, que a comunicação entre os pares, isto é, o diálogo, o relacionamento
interpessoal, caracteriza-se enquanto pilar fundamental em um processo de educação que
dialoga com o caráter emancipatório. Para uma educação que rompa com as barreiras do
comum, da repetição dos saberes, é necessário propor espaços para autonomia dos alunos,
em uma relação não hierarquizada de saberes. Desta forma, alunos e alunas assumem um
papel de ativos no processo.

UNIDADE IV Práticas Pedagógicas com Base em uma Educação Sexual Emancipatória 65


3. O ENSINO DOS DIREITOS HUMANOS NO CONTEXTO ESCOLAR

Aluno(a), tenho certeza de que você já ouviu falar sobre direitos humanos. Mui-
tas vezes, no entanto, as pessoas possuem informações equivocadas acerca do real
significado dessas duas palavras e reproduzem equívocos. Não raro, alguns discursos
reproduzem a fala de que “direitos humanos são para humanos direitos” ou, ainda, “direi-
tos humanos defendem apenas os bandidos”. Ambas as frases soam comuns para você?
Você já ouviu alguma delas?
Pois é. Por isso, precisamos aprender o real significado destas palavras e, para
tanto, a escola se faz um local de extrema importância para que possamos proporcionar
o correto conhecimento aos alunos e alunas, desenvolvendo um senso crítico e comparti-
lhando informações corretas.
[...] a Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada pela ONU em 10
de dezembro de 1948. É formada por um conjunto de trinta artigos nos quais
estão indicados os Direitos Fundamentais e suas exigências. Esta Declara-
ção é considerada universal porque se dirige a toda a humanidade, devendo
ser respeitada e aplicada por todos os países e por todas as pessoas, em
benefício de todos os seres humanos, sem qualquer exceção (LOVATO; DU-
TRA, 2015, p. 3).

Importante sinalizar que a preocupação com os direitos humanos se iniciou, se-


gundo Schütz e Fuchs (2017), após o período da Segunda Guerra Mundial (1939-1945),
em que o terrível genocídio executado pelo regime nazista matou milhões de pessoas. Até
hoje, os direitos humanos são pautas de importantes discussões em todo o mundo, pois

UNIDADE IV Práticas Pedagógicas com Base em uma Educação Sexual Emancipatória 66


envolve direitos básicos presentes em nosso cotidiano, como o direito de acesso à saúde,
educação, a diversidade, o acesso ao trabalho, dentre outros.
Desta forma, aqui faremos um recorte e daremos destaque à questão dos direitos
humanos no espaço educacional. Quando pensamos sobre o direito à diversidade, esta-
mos nos referindo às diferentes maneiras de ser e existir no mundo. Logo, no espaço da
sexualidade, isto se refere às formas não hegemônicas de expressão sexual, isto é, as
sexualidades que fujam à heterossexualidade. Portanto, nos espaços educacionais se faz
importante a existência de abordagens múltiplas que proporcionem espaço para expres-
sões diversas, que não se limitem à norma social imposta.
Por isso, a educação é, antes de qualquer coisa, um compromisso com o
outro, com a pessoa, com o ser humano, logo, ninguém dela escapa. Não
obstante, sendo ela um compromisso com o Outro, ela não só pode como
precisa desempenhar um papel fundamental na construção e no desenvolvi-
mento de uma consciência cidadã, alicerçada na preocupação e na defesa
dos DH (SCHÜTZ; FUCHS, 2017, p. 44).

Defender os direitos humanos nos espaços educativos é, neste caminho, proporcio-


nar momentos de discussão que acolham as diferenças. Também é permitir que crianças e
adolescentes tenham pleno acesso ao seu direito de se desenvolver de maneira inteira, ou
seja, abarcando os aspectos relacionados à sexualidade. O espaço escolar, nesta lógica,
ocupa um papel de destaque, pois proporciona recursos pedagógicos para o fomento do
desenvolvimento do pensamento crítico. Logo,
Garantir o direito à educação é importantíssimo para o Brasil, pois, ao lon-
go dos anos, percebe-se que os países que galgaram até o topo da escala
mundial fundearam-se no avanço e aprimoramento do perfil educacional dos
seus cidadãos. Através da educação, um cidadão torna-se um profissional
qualificado, apto para exercer a sua função perante a sociedade (LOVATO;
DUTRA, 2015, p. 15).

Aluno(a), agora você pode estar se questionando e refletindo acerca da real neces-
sidade de trabalharmos os direitos humanos no espaço escolar. Ora, a escola é um lugar
importante para realizar, por exemplo, o resgate histórico acerca dos avanços e retrocessos
relacionados aos direitos humanos. Se olharmos para as guerras podemos ter um panora-
ma interessante acerca destes fatos. Nesta lógica,
Comprova-se a necessidade de se educar em e para os DH, uma vez que
tal movimento deve possuir como objetivo a discussão dos conhecimentos
historicamente construídos pela humanidade sobre os DH, além de reafirmar
valores e práticas que possam consolidar a cultura dos direitos e o exercí-
cio do respeito, bem como promover a valorização das diversidades – de
cunho étnico-racial, religioso, cultural, gênero, orientação sexual, entre outros
(SCHÜTZ; FUCHS, 2017, p. 45).

Ademais, precisamos reafirmar a importância que discussões relacionadas aos


direitos humanos não fiquem limitadas apenas aos espaços educativos. Como já vimos

UNIDADE IV Práticas Pedagógicas com Base em uma Educação Sexual Emancipatória 67


anteriormente, é importante que haja uma interação entre escola e família, por exemplo,
a fim de que seja realizada e dada continuidade à uma linha de raciocínio que promova
similaridades.
Por isso, consideramos que uma Educação que se diz preocupada com os
DH, deve ser promovida tanto nas escolas como também fora delas, com
estrita preservação da verdade e da memória, através da formação proble-
matizadora em DH de educadores e educandos, baseando-se, fundamen-
talmente, na diversidade de formas, seja em publicações, teatros, vídeos,
danças, seminários, internet, palestras, pesquisas etc., dando-se sempre a
ênfase à cultura institucional e ao fomento de práticas em consonância com
os princípios éticos (SCHÜTZ; FUCHS, 2017, p. 47).

Na lógica dos direitos humanos, a escola não assume o lugar de apenas transmitir
conteúdos técnicos e teóricos. Ao contrário, ela possui o papel de proporcionar vivências,
trocas de experiências, pois o ser humano é um ser social, ou seja, que vive em relações.
Desta maneira, é preciso que seja proporcionado um espaço para que os sujeitos possam
viver com dignidade (ZLUHAN; RAITZ, 2014).
Por fim, podemos pensar em uma proposta de direitos humanos na escola que
acolha as diferenças e respeite a multiplicidade das pessoas. Ainda, educar em direitos
humanos é garantir o efetivo acesso aos direitos básicos. Na escola, tais direitos se fazem
presentes e precisam ser assegurados.

SAIBA MAIS

Aluno(a), você sabia que os direitos humanos não possuem ligação política no sentido
partidário? Ao contrário, ela visa assegurar direitos a todas as pessoas, independente
de seus posicionamentos. Interessante, não é?!

Fonte: o autor.

UNIDADE IV Práticas Pedagógicas com Base em uma Educação Sexual Emancipatória 68


REFLITA

“Artigo 2:
1. Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabele-
cidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo,
língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza,
nascimento, ou qualquer outra condição”.

Aluno(a), você acha que em nosso atual cenário todos os direitos citados são respeita-
dos na vida de uma pessoa?

Fonte: Organização das Nações Unidas (1948).

UNIDADE IV Práticas Pedagógicas com Base em uma Educação Sexual Emancipatória 69


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Caro(a) aluno(a),

Chegamos ao fim da última unidade da disciplina Gênero, Sexualidade e Educa-


ção. Como vimos nesta unidade, no tópico I conhecemos as principais práticas adotadas no
contexto educacional para o trabalho com a educação sexual, destacando o enfoque que
se é dado para a questão da biologia e, por conta disso, aos aspectos reprodutivos.
Também, no Tópico II pudemos conhecer a educação emancipadora e sua impor-
tância para a formação de alunos e alunas para o desenvolvimento de um senso crítico
frente às informações. Neste tópico também nos debruçamos na compreensão do educador
Paulo Freire acerca do que vem ser uma educação voltada para a emancipação.
Por fim, no Tópico III estudamos o conceito de direitos humanos e seu surgimento,
conhecendo suas interfaces e aplicações nos espaços escolares, com o objetivo de garantir
a efetivação dos direitos básicos dos seres humanos.
Com os conteúdos que foram aqui elencados, espero que você tenha aproveitado
ao máximo cada informação e conhecimento trazido. Destaco, para finalizar, a importância
de continuarmos sempre nos estudos e na capacitação relacionada aos temas que trabalha-
mos no decorrer das unidades. A escola, como vimos, é um campo que envolve as relações
sociais e, por isso, sempre se altera, necessita de atualizações e de novos arranjos.
Espero encontrar você em outra oportunidade.

Um abraço!

UNIDADE IV Práticas Pedagógicas com Base em uma Educação Sexual Emancipatória 70


LEITURA COMPLEMENTAR

Artigo: Educação Sexual em escolas brasileiras: Revisão Sistemática de Literatura.

Resumo: No presente estudo, realizou-se uma revisão sistemática da literatura


sobre educação sexual em escolas brasileiras, a fim de identificar suas principais carac-
terísticas, temas abordados e profissionais responsáveis pelas ações. A pesquisa resultou
em 24 artigos empíricos publicados entre 2010-2016, obtidos nas bases Educ@, Science
Direct, MEDLINE, LILACS e SciELO. Constatou-se que as ações revisadas não atendem ao
preconizado nos Parâmetros Curriculares Nacionais quanto à transversalização do tema.
Destaca-se a necessidade de avançar no seu debate e investir em capacitação docente
com vistas a transformar padrões sexuais discriminatórios e promover uma cultura de pre-
venção em saúde no ambiente escolar.

Palavras-chave: Revisão de Literatura; Educação Sexual; Escola; Sexualidade.

Acesse: FURLANETTO, M. F.; LAUERMANN, F.; COSTA, C. B. da.; MARIN, A.


H. Educação sexual em escolas brasileiras: revisão sistemática de literatura. Cadernos de
Pesquisa, v. 48, n. 168, p.550-571, 2018.
Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/cp/v48n168/1980-5314-cp-48-168-550.
pdf. Acesso em: 10 mar. 2021.

UNIDADE IV Práticas Pedagógicas com Base em uma Educação Sexual Emancipatória 71


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Corpo, gênero e sexualidade: um debate contemporâneo
na educação.
Autor: Guacira Lopes Louro, Jane Felipe, Silvana Vilodre Goellner
(Organizadores)
Editora: Editora Vozes
Sinopse: O livro apresenta os modelos postos em ação nos diver-
sos espaços pedagógicos para a constituição do que se compreen-
de enquanto um corpo “educado”. Neste caminho, os estudos que
compõem este livro nos falam das posições sociais que os sujeitos
acabam por ocupar em nossa sociedade e, além disso, permitem
examinar as relações de poder que sustentam essas posições.

FILME/VÍDEO
Título: Malala
Ano: 2015
Sinopse: O filme apresenta a jovem Malala Yousafzai, ativista fe-
minista que luta pelos direitos das garotas, especialmente o direito
de acesso à educação. O filme conta como Malala sobreviveu ao
ataque de um atirador talibã pertencente à violenta oposição da
organização à educação das garotas no Paquistão. Malala sobre-
viveu após um tiro na cabeça. Ela é ganhadora de um Prêmio
Nobel da Paz.

UNIDADE IV Práticas Pedagógicas com Base em uma Educação Sexual Emancipatória 72


WEB

Documentário: Direitos Humanos para Humanos.

O documentário Direitos Humanos para Humanos é de iniciativa do cineasta


Gabriel Filipe. O filme tem a finalidade de romper com o véu de desinformação que en-
volve o tema direitos humanos na sociedade brasileira. A obra conta com a participação
de autoridades, professores e pesquisadores engajados na luta dos direitos humanos
(descrição que consta no link).

Link do site: https://www.youtube.com/watch?v=lfHpq8qkk5Y

UNIDADE IV Práticas Pedagógicas com Base em uma Educação Sexual Emancipatória 73


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80
CONCLUSÃO GERAL

Prezado(a) aluno(a),

Neste material, busquei trazer para você os principais conceitos relacionados ao


gênero, à sexualidade e à educação. Para tanto, abordamos os principais conceitos e o
desenvolvimento da questão da sexualidade através dos tempos e, neste aspecto, acredita-
mos que tenha ficado claro para você o quanto é importante que a questão da sexualidade,
através da educação sexual, faça parte do currículo escolar desde a educação infantil até o
ensino superior, no que tange à formação de professores e professoras.
Destacamos também a importância de conhecermos as abordagens pedagógicas
que são utilizadas nos contextos educacionais para o trabalho com a educação sexual.
Além dos aspectos teóricos que contribuíram profundamente para o entendimento dos
assuntos aqui abordados, trouxemos vários exemplos e recursos para um efetivo trabalho
desta temática em sala de aula.
Levantamos também aspectos relacionados à violência sexual praticada contra crian-
ças e adolescentes. Esse olhar para esta questão é importante para sabermos e tomarmos
conhecimento acerca desta triste situação que, infelizmente, circunda nossa realidade.
Por fim, também conhecemos a educação com uma proposta emancipatória que
propõe o desenvolvimento de sujeitos críticos e livres para desempenharem sua sexuali-
dade. Importante destacarmos, como vimos, que sexualidade não é sinônimo de relação
sexual – a sexualidade abrange os níveis afetivos, emocionais e sociais.
A partir de agora acreditamos que você já está preparado(a) para seguir em frente,
desenvolvendo ainda mais suas habilidades e estudos para o trabalho com as questões de
gênero e sexualidade. Sem dúvidas, o(a) profissional que se aproxima desta temática já
na graduação possui recursos e ferramentas para uma atuação inclusiva e voltada para o
respeito e autonomia de alunos e alunas.

Até uma próxima oportunidade. Muito Obrigado!

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