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História

Contemporânea
Professora Me. Maria Helena Azevedo Ferreira
2021 by Editora Edufatecie
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP

F383h Ferreira, Maria Helena Azevedo


História contemporânea/ Maria Helena Azevedo Ferreira.
Paranavaí: EduFatecie, 2022.
99 p. : il. Color.

1. História moderna. 2. Imperialismo. 3. Capitalismo. 4.


Neoliberalismo. 5. Berlim, Muro de (1961-1969 ) I. Centro
Universitário UniFatecie. II. Núcleo de Educação a
Distância. III. Título.

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Carlos Eduardo Firmino de Oliveira
AUTOR

Professora Me. Maria Helena Azevedo Ferreira

Mestra em História pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), especialista


em Tecnologias Aplicadas ao Ensino Superior, pelo Centro Universitário Cidade Verde
(UniFCV), graduada em História pela Universidade Estadual de Maringá. Já atuou como
tutora pedagógica no curso a distância de História (UEM), tutora operacional na Unicesumar
e professora orientadora dos cursos de pós-graduação lato sensu na mesma instituição.
Atualmente é supervisora de pós-graduação no Centro Universitário Cidade Verde.

CURRÍCULO LATES http://lattes.cnpq.br/5335993798322851


APRESENTAÇÃO DO MATERIAL

Caro(a) estudante, em nossa disciplina veremos os principais aspectos que


marcaram a História Contemporânea. Foi um momento que se desenrola até os dias atuais,
de interação entre as nações do mundo. Seja uma relação de troca, de dominação e, por
vezes, conflituosa. Esperamos que a discussão iniciada aqui possa abrir caminhos para
que você se aprofunde ainda mais em seus estudos.
Na primeira unidade, você verá o conceito de imperialismo e como este foi usado como
ferramenta de política externa, especialmente em países da europa, bem como dos Estados
Unidos. O mundo, neste contexto, foi repartido e subjugado, principalmente na África e na Ásia.
Veremos como se deu a partilha da África e ocupação da Ásia, que só foi possível pela ideia
que os europeus tinham que se tratavam de povos inferiores. Você vai entender como essa
perspectiva se mostra presente até os dias atuais. Bem como verá que é no século XIX que se
desenvolvem os nacionalismos, cujo teor irá se desenvolver no início do século XX.
Na próxima unidade, você entenderá como o crescente nacionalismo, a corrida
armamentista e a disputa por território ocasionaram a Primeira Guerra Mundial, também
chamada de a Grande Guerra. Veremos também como a Revolução Russa de 1917 se
desenvolveu, no começo do século, gerando uma ordem política, econômica e social nunca
antes vista. Veremos também, sobre a ascensão dos Fascismos, focando no caso italiano
e, também, no movimento correlato na Alemanha, denominado nazismo. Inerente a isso
está a Segunda Guerra Mundial, a qual mudou o rumo das potências e fez emergir os EUA
como líderes mundiais. Os EUA tiveram como adversário a URSS, que no contexto da
Guerra Fria, se envolveram mutuamente na disputa por zonas de influência.
Na unidade que se segue, veremos com mais detalhes a Guerra Fria e o embate
entre socialismo e capitalismo. Nesta unidade, você verá também o que foram os “trinta
gloriosos”, que representaram o crescimento e fortalecimento dos países desenvolvidos.
Após a queda do muro de Berlim e a desintegração da URSS, o mundo passou por outra
mudança drástica, já que o mundo bipolar havia deixado de existir, pelo menos em tese.
O fim do mundo dividido entre os interesses da URSS e dos EUA, possibilitou a
emergência do neoliberalismo. Veremos, portanto, na última unidade do que se trata esse
conceito e a sua aplicação. Aliado a isso, temos o fortalecimento dos ideais neoliberais na
Inglaterra de Thatcher, bem como nos Estados Unidos. Concluiremos a unidade, abordando
a globalização e seus impactos. Por fim, esperamos que este material forneça as bases,
para que você possa conhecer melhor os eventos que marcaram a História Contemporânea.
SUMÁRIO

UNIDADE I....................................................................................................... 3
Imperialismo e Nacionalismo

UNIDADE II.................................................................................................... 29
A Crise do Capitalismo

UNIDADE III................................................................................................... 69
Da Guerra Fria à Queda do Muro de Berlim

UNIDADE IV................................................................................................... 83
O Neoliberalismo e a Globalização
UNIDADE I
Imperialismo e
Nacionalismo
Professora Me. Maria Helena Azevedo Ferreira

Plano de Estudo:
● Conceituando Imperialismos;
● A partilha da África;
● Imperialismo na Ásia e no Pacífico;
● Nacionalismo.
.

Objetivos da Aprendizagem:
● Conceituar e contextualizar imperialismo;
● Compreender o processo de partilha da África
e colonização na Ásia;
● Investigar o nascimento do nacionalismo.

3
INTRODUÇÃO

Prezado(a) aluno(a), nesta unidade, vamos adentrar no período que a historiografia


convencionou chamar de história contemporânea. Nestes quatro primeiros tópicos, vamos
discutir assuntos como imperialismos e suas consequências e nacionalismos. Você
perceberá que foi um momento que o mundo como conhecemos hoje foi desenhado,
repartido, subjugado. O globo ficou dividido entre dominadores e dominados, essa divisão
marca até hoje as nações.
No nosso primeiro capítulo, exploraremos o imperialismo. Ainda hoje usamos o
conceito de imperialismo como um adjetivo para nos referir às nações cuja política externa
tem como um dos escopos intervir na soberania de outros países. Você vai entender que
esse conceito está ligado ao contexto do último quartel do século XIX e início do século
XX. A ideia de dominação esteve ancorada em aspectos econômicos, políticos e culturais
e foi sujeita a algumas análises teóricas.
A concepção de que deva existir um grupo dominante e outro dominado implica
necessariamente em reconhecer o outro como inferior, como passível de posse. No segundo
tópico entenderemos como essa ideia se deu na prática por meio da partilha da África. Nunca
na história no mundo um grupo de países se sentiu tão livre para repartir um continente
inteiro. Isso se deu, como você verá, de acordo com interesses econômicos e políticos
na região. A partilha da África, feita com base em acordo, muitas vezes fraudulentos, que
modificaram radicalmente o mapa do continente. De uma maneira semelhante, mas com
formas de administração diferenciadas, se deu a colonização na Ásia e no Pacífico, tema
do terceiro tópico. Você perceberá que várias nações, que já tinham possessões na África,
também se empenharam em fazer esferas de influência também nesta região.
Por fim, no último tópico discutiremos um tema importante, que até os dias atuais
continua em voga: o nacionalismo. Vamos entender que o sentimento de pertencimento a
um Estado-Nação não é um dado natural, apesar de ser tido como se fosse. Na Europa,
estar sobre o mesmo território não era critério único para o desenvolvimento de um
sentimento nacionalista. Veremos que a criação desse sentimento foi algo paulatino e foi
um dos estopins para algo muito maior no século seguinte.

UNIDADE I Imperialismo e Nacionalismo 4


1. CONCEITUANDO IMPERIALISMOS

1.1 Imperialismo: contexto histórico


Provavelmente você já deve ter ouvido falar em imperialismo, que determinados
países agem de forma imperialista, mas você sabe o que significa esse conceito? É preciso
compreendê-lo enquanto condição histórica que anda lado a lado com o capitalismo, que
diz respeito ao período específico, mas que possui múltiplas expressões ao redor do
globo até os dias atuais.
Muitas sociedades se definiram como impérios, como o Império Romano, Império
Britânico, Império Português, Império Espanhol, dentre tantos outros. De uma forma geral,
independente do contexto histórico a que cada um pertença, eles possuem compartilham uma
definição básica e usual acerca de suas práticas, sobre o modus operandi imperialista, que em
síntese podemos entender que é a “expansão violenta por parte dos Estados, ou de sistemas
políticos análogos, da área territorial da sua influência ou poder direto, e formas de exploração
econômica em prejuízo dos Estados ou povos subjugados.” (PISTONE, 1998, p.15).
Apesar da humanidade sempre ter convivido com Impérios, Eric Hobsbawm (2008)
afirma que entre 1875 e 1914 nunca tantos governantes se declararam imperadores.
Esse foi o caso da Alemanha, Áustria, Turquia, Rússia, Grã-Bretanha e outros países fora
da Europa, tais como China, Japão, Pérsia, dentre outros. Por isso, para Hobsbawm “Os
imperadores e impérios eram antigos, mas o imperialismo era novíssimo.” (HOBSBAWM,
2008, p. 92).

UNIDADE I Imperialismo e Nacionalismo 5


Esse período é conhecido por um imperialismo colonial, com exceção da Europa
e das Américas, o mundo inteiro foi dividido e colocado sob governo direto ou dominação
indireta, sobretudo, por parte de países como a Grã-Bretanha, a Alemanha, a França, a
Itália, a Holanda, os Estados Unidos, a Bélgica e o Japão. De uma maneira geral, a África
e o Pacífico foram tomadas:
Não restou qualquer Estado independente no Pacífico, então totalmente
distribuído entre britânicos, franceses, alemães, holandeses, norte-
americanos e – ainda em escala modesta – japoneses. Por volta de 1914, a
África pertencia inteiramente aos impérios britânico, francês, alemão, belga,
português e, marginalmente, espanhol. (HOBSBAWM, 2008, p. 89)

Além da conquista formal desses territórios, os países imperialistas também


exerciam pressão política e econômica sobre a América Latina, mas nenhuma potência
ousava desafiar os Estados Unidos, que desde a Doutrina Monroe de 1823, mostrava
hostilidade a qualquer tipo de colonização em seu país (HOBSBAWM, 2008).
Assim, observamos uma expansão sem medidas, na qual o capitalismo cumpre
papel central. O empresário britânico, Cecil Rhodes, expressou bem a mentalidade da
época; olhou o céu, deprimiu-se e disse “essas estrelas (...) esses vastos mundos que nunca
poderemos atingir. Se eu pudesse anexaria os planetas” (RHODES apud ARENDT, 1989,
p. 154). Hobsbawm (2008) considera o imperialismo como uma nova etapa do capitalismo,
que preconizava a divisão do mundo entre as grandes potências capitalistas, assim não há
como negar o aspecto econômico do imperialismo.
Então, o fato maior do século XIX é a criação de uma economia global
única, que atinge progressivamente as mais remotas paragens do mundo,
uma rede cada vez mais densa de transações econômicas, comunicações
e movimentos de bem, dinheiro e pessoas ligando os países desenvolvidos
entre si e ao mundo não desenvolvido. (HOBSBAWM, 2008, p. 95)

Na visão de Hobsbawm, o imperialismo inaugurou um novo capítulo no cenário


mundial. O volume de exportações dos países imperialistas dobrou neste período,
quilômetros e mais quilômetros de vias férreas foram construídas, colocando em jogo
também a economia dos países periféricos. Havia, portanto, uma exploração dos nativos
em função dos insumos vindos desses países, é o caso da borracha, exclusiva de clima
tropicais, retirada no Congo e na Amazônia, do estanho da Ásia e da América do Sul, dos
campos de petróleo do Oriente Médio, das jazidas de ouro e diamante da África do Sul –
que é o maior produtor de ouro do mundo.

UNIDADE I Imperialismo e Nacionalismo 6


Insumos alimentícios também eram expropriados dos países dominados, deixando
um legado para vários países, hoje subdesenvolvidos, em exportar na grande maioria
produtos primários, dando origem ao termo “República das bananas”. (HOBSBAWM, 2008).
O Brasil é um exemplo de país, o qual grande parte das exportações são de commodities1,
passando por pouco ou nenhum processo industrial e que sempre foram baseados nas
plantation2 . Modelos como o do Brasil sustentaram a economia imperialista.
[...] transformaram o resto do mundo, na medida em que o tornara um complexo
de territórios coloniais e semicoloniais que crescentemente evoluíram em
produtores especializados de um ou dois produtos primários de exportação
para o mercado mundial, de cujo os caprichos eram totalmente dependentes.
(HOBSBAWM, 2008, p. 98)

Hobsbawm (2008) justifica a expansão imperialista dizendo que as economias


globais sentiram, ao mesmo tempo, a necessidade de expansão de seus mercados. Já
Arendt (1989) considera que o principal evento do imperialismo foi a emancipação da
burguesia, que cresceu junto e dentro do Estado, delegando a este último as suas decisões
políticas. Com isso, podemos compreender que a burguesia instrumentalizou o Estado para
fazer valer os seus interesses por novos mercados. A expansão continuada, característica
central do imperialismo, voltava-se, para o crescimento da produção industrial, tanto dos
bens a serem produzidos, quanto consumidos.
O imperialismo surgiu quando a classe detentora da produção capitalista
rejeitou as fronteiras nacionais como barreira à expansão econômica: como
não desejava abandonar o sistema capitalista, cuja a lei básica é o
constante crescimento econômico, a burguesia tinha de impor essa
lei aos governo, para que a expansão se tornasse o objetivo final da
política externa. (ARENDT, 1989, p. 156, grifo nosso)

Além do aspecto econômico do imperialismo, também gostaríamos de chamar


a atenção para a questão política. O período mencionado, também é conhecido pela
ascensão do nacionalismo, como veremos mais adiante, por isso, Arendt (1989) argumenta
que diferentemente do fator econômico, que pode ser levado e multiplicado em outros
territórios, o Estado-nação não pode ser replicado indefinidamente. Em consequência disso,
a conquista de povos estrangeiros não comporta a ideia de integração, mas, quando muito,
de mera assimilação. O Estado-nação deve ter a convicção de que está a impor uma lei
superior a dos povos conquistados. (ARENDT, 2012) Cabe aqui, esclarecer que a noção de
que os países imperialistas, considerados “avançados” estariam conquistando povos ditos
inferiores. Entretanto, essa intervenção do país imperialista, criava na nação conquistada o
desejo de soberania, criando obstáculos para a criação do Império de fato.

1
Produtos que são essencialmente matéria-prima
2
Grandes Extensões de terra com apenas um insumo. A história do Brasil viu a era da cana-de-açucar, do
café, da soja, dentre outros.

UNIDADE I Imperialismo e Nacionalismo 7


A ideia da existência de povos “inferiores” e “superiores”, encontrada como
uma justificativa moral para o imperialismo, estava fortemente ancorada nos ideários de
progresso econômico, moral, científico, bem como na concepção de darwinismo social.
Mayer (1987), aponta que o darwinismo social se transformou na acepção aceita entre as
classes dominantes e os governantes. Mas, afinal, do que trata tal ideologia?
Em primeiro lugar, é importante dizer que entre o final do século XIX e início
do século XX as ciências naturais se legitimavam como campo de conhecimento e
passavam a gozar de grande prestígio. Charles Darwin com a publicação da Origem
das espécies, abalou o mundo ao descobrir o mecanismo de seleção natural, que
selecionava os indivíduos mais aptos, explicando a variabilidade das espécies e sua
evolução não-linear e aleatória. De acordo com Mayer (1987), as descobertas de Darwin
acerca da evolução natural, influenciaram pensadores a elaborar o darwinismo social e
também do evolucionismo social3 . Acredita-se que nas sociedades em geral vigorava
a ideia de competição, da qual sairiam vencedores os mais fortes. Já no que concerne
ao evolucionismo social, admitia-se que as sociedades estariam em diferentes estágios
de evolução, em que, de grosso modo, países europeus estariam em um estágio mais
avançado e os povos dominados em um estágio anterior ou, até mesmo, primitivo.
O que vimos até agora é o imperialismo em seu estado clássico, focado principal-
mente nas apropriações europeias, que, para Hobsbawm (2008) e outros historiadores de
renome, vai até a eclosão da Primeira Guerra Mundial em 1914. Mas é salutar que os EUA
também tenham vigorado como nação imperialista a partir do final do século XIX, já que até
então eram um país dedicado à agricultura, à pecuária, ao extrativismo e ao comércio e em
pouco tempo se tornaram uma potência militar e industrial.
Os EUA vêm expandindo seu território desde a fundação da república em 1776,
em constantes guerras com o México – anexando 40% do território vizinho até 1848 – e
também com os nativos a oeste. Acreditava-se que ocupar as terras indígenas ou dos
católicos hispânicos era parte de um desígnio divino para com a nação estadunidense, que
acreditava ser “dotada de ética e moral”. (MUNHOZ, 2009, p. 246). Assistiu-se também
a anexação do Alasca, comprado da Rússia por 7,2 milhões de dólares, em 1867, bem
como a derrubada das lideranças locais do Havaí em vista da posse daquelas terras, que
aconteceu em 1900. Esses territórios eram considerados estratégicos do ponto de vista
comercial e militar na Ásia. A expansão estadunidense foi para além do seu entorno ainda
em 1899, quando, em conjunto com a Alemanha, o país assumiu o controle das ilhas Samoa,
localizadas no centro-sul do oceano Pacífico. (MUNHOZ, 2009)
3
Diferentemente do Darwinismo social, o evolucionismo social tomou partido das concepções de outros
pensadores, tais como Herbert Spencer, Edward B. Tylor, dentre outros

UNIDADE I Imperialismo e Nacionalismo 8


A intenção era não apenas militar, mas também comercial. Assim como os
imperialistas europeus, os EUA viram na conquista de novos mercados uma saída para a
crise econômica que viviam no final do século XIX. Os EUA procuraram liderar o continente
como um todo, influenciando largamente questões que lhe eram de interesse próprio,
exemplo disso foi a construção do canal do Panamá, após o fracasso do projeto francês, os
Estados Unidos decidiu levar a construção adiante, mas em meio a desentendimentos com
a Colômbia – na época, a região do Panamá pertencia ao país latino – os EUA apoiaram
rebeldes locais, provendo militarmente a revolta, para a declaração da independência
panamenha. Mais tarde, os EUA assumiram o controle da região mediante pagamento e
finalizaram a obra do canal do Panamá em 1914.
No envolto de suas práticas imperialistas, com frequência os EUA intervinham em
questões dos países vizinhos, como foi o caso da República Dominicana, que vivia uma
crise para com os seus credores. Os EUA ocuparam o país, justificando que era necessário
restaurar a ordem e garantir o direito dos credos, com isso eles conseguiram afastar a
interferência de potências europeias na região. Era isso que pregava a política do presi-
dente Roosevelt (1858-1919), o big stick, que procurava afastar a influência europeia do
continente e acabou por violar a soberania de diversos países.
De fato, os Estados Unidos empregavam o peso da sua economia para
subordinar países da América Latina. Isso acontecia, sobretudo, pela
concessão de empréstimos que levavam ao endividamento, em especial,
dos países da América Central. Quando os débitos não podiam ser honrados
ou se vislumbrava alguma instabilidade regional, os Estados Unidos
justificavam a intervenção como medida de proteção aos seus direitos e
dos seus capitalistas. (MUNHOZ, 2009, p.250)

Diferente do que o imaginário popular legítima, não foi a livre iniciativa que
fizeram dos EUA uma grande potência, mas sim a sistemática intervenção do Estado na
economia. Poderíamos citar vários exemplos de corporações, como Carnegie Steel, que
tiveram altos lucros, pois seus produtos estavam protegidos da concorrência de produtos
de outros países, como a Inglaterra a qual eram impostas tarifas elevadas de importação.
Nesse sentido, o imperialismo estadunidense mostra-se como compromisso entre a elite
capitalista e o Estado. (MUNHOZ, 2009).
O imperialismo como fenômeno histórico deixou as suas marcas até os dias
atuais. Enquanto elemento multifatorial, que envolve economia, política, cultura e
sociedade, subjugou inúmeros povos entendidos como inferiores e modelou a sociedade
contemporânea a que assistimos hoje. Esse fenômeno, também tomado como conceito – já
que sua aplicabilidade é viável em diferentes contextos – foi objeto de estudo de alguns
teóricos, como veremos a seguir.

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1.2 Abordagens teóricas: os imperialismos
Hoje vemos se disseminar uma postura condenatória do imperialismo, mesmo por
parte de países que o praticam de forma velada. As diferentes formas que o imperialismo
assumiu e assume, desde a compreensão mais geral que abrange todas as formas de
Império, como as mais pontuais, referentes à fase histórica e classicamente denominada
imperialista; são tributárias de teóricos que dissertam sobre este conceito.
Dentre as interpretações sobre o conceito, temos as acepções marxistas, ainda
que Marx em si não tenha discorrido sobre imperialismo em suas obras, mas sim tateava
o colonialismo, que são conceitos correlatos. Os seguidores de Marx, chamando atenção
para as contradições do capitalismo, concordam em dizer que estas contradições estruturais
provocaram o uso de violência, que não se faria possível se não houvesse a mão do Estado,
assim a política foi usada como instrumento pela burguesia capitalista. (PISTONE, 1998).
Por outro lado, o Imperialismo surge também como um instrumento essencial
para fazer face às contradições do capitalismo e para prolongar a sua
sobrevivência, estendendo-as ao âmbito internacional com a exploração de
outros povos e permitindo com isso fazer concessões à classe operária das
metrópoles capitalistas. (PISTONE, 1998, p. 612)

Nesse sentido, para os marxistas, a superação do Imperialismo, só seria possível


mediante a superação do próprio capitalismo. Isso teria ficado evidente mediante as sucessivas
crises do capitalismo após o imperialismo, que seriam potencialmente revolucionárias, que
é uma das contradições do capitalismo. (PISTONE, 1998). Para entender essa reflexão,
basta pensar que a Revolução Russa, de 1917, foi subsequente ao imperialismo.
Alguns pensadores endossam a concepção marxista sobre o imperialismo, como
Rosa Luxemburgo e Lenin que escreveu um pequeno livro intitulado um pequeno livro
chamado Imperialismo em 1916, que abordou a divisão do mundo brevemente. (PISTONE,
1998), (HOBSBAWM, 2008). Pensadores estadunidenses como Baran e Swezzy, nasceu
desta corrente análises como o neocolonialismo e subdesenvolvimento, bem como
explicações acerca do imperialismo soviético. (PISTONE, 1998).
Pistone (1998) segue apresentando a visão Rosa Luxemburgo sobre o imperialismo.
O autor coloca que a pensadora via que a classe trabalhadora europeia, com baixo poder
aquisitivo, não poderia participar do consumo preconizado pela expansão ilimitada do
capitalismo, sendo assim, teria de haver um mundo extrínseco de consumo, para não refrear
o capitalismo. Assim, os mercados internos se mostrariam insuficientes, sendo necessária
a conquista de colônias.

UNIDADE I Imperialismo e Nacionalismo 10


Já Lenin vê o imperialismo sob outros moldes:
A hipótese fundamental da teoria de Lenin não se apóia[sic] no empobrecimento
do proletariado e na sua falta de poder de consumo, mas na tendência à queda
das taxas de lucro. Os monopólios financeiros dos Estados mais avançados do
capitalismo são obrigados a explorar o mercado mundial, entrando em conflito
com outros grupos financeiros que tentam fazer o mesmo, pois os lucros
obtidos no mercado interno tendem a desaparecer. (PISTONE, 1998, p.614)

A visão de Lenin ocupa lugar central entre os marxistas ortodoxos, é considerada


a mais próxima da realidade histórica. A teoria de Lenin obteve mais aceitação do que a de
Luxemburgo por ser mais elástica, pois apesar de ser formulada na época do colonialismo,
serve também para abranger outros contextos. (PISTONE, 1998)
Os economistas estadunidenses Baran e Swezzy olham para o imperialismo
considerando um contexto de pós-guerra e sobrevivência do capitalismo. Eles entendem
que “a exploração dos países atrasados continuou, apesar da independência, porque eles
continuaram inseridos no sistema mundial capitalista, dominado pelos países mais fortes e
pelas grandes empresas multinacionais”. (PISTONE, 1998, p. 614).
Outra tese acerca do imperialismo advém da corrente social-democrata. Essa
abordagem nega a relação entre capitalismo e imperialismo, bem como a crença de que
qualquer tendência imperialista que o capitalismo possa ter e possa ser eliminada através
reformas democráticas e econômico-sociais. Um dos principais representante desses
pensadores foi Karl Kautsky, que:
[...] sustenta, contra a tese dos marxistas revolucionários sobre a inevita-
bilidade das guerras imperialistas entre os países capitalistas, que o Impe-
rialismo agressivo constitui, não uma fase necessária do capitalismo, mas
uma das suas políticas, que pode ser substituída por outra, por uma política
“ultra-imperialista”, que implique uma pacífica colaboração entre as potên-
cias capitalistas (mais conveniente entre outras coisas porque o Imperialismo
agressivo apresenta custos muito maiores do que vantagens), na organiza-
ção do mercado mundial e na admissão nele dos países ainda não incluídos.
(PISTONE, 1998, p. 615)

Kautsky difere os socialistas revolucionários, segundo Pistone (1998) ao não pregar


o fim iminente do capitalismo, mas sim a sua transformação tendo em vista um modelo
socioeconômico colaborativo entre os países “avançados” e os “atrasados”.
A terceira corrente, que também se encontra afastada do marxismo ortodoxo, é a
liberal. Um dos seus principais nomes foi Joseph Alois Schumpeter, o economista analisou
a história da antiguidade até a Primeira Guerra Mundial e discorda dos marxistas que dizem
que o imperialismo é uma fase ou um desdobramento do capitalismo.

UNIDADE I Imperialismo e Nacionalismo 11


Para ele, existiriam, desde período Antigo, disposições culturais, políticas, sociais,
econômicas, psicológicas, dentre outras, as quais o capitalismo não conseguiu superar e
que deram origem ao Imperialismo moderno. Para ele,
[...] o capitalismo [...] é, por sua natureza, essencialmente pacífico, na medida
em que lhe é intrínseca uma forte tendência à racionalização — no sentido do
cálculo racional dos custos e dos lucros —, que estende progressivamente a
sua influência a todos os aspectos da vida social. Ele tende particularmente a
neutralizar as atitudes agressivo-irracionais que se revelam na praxe política
interna e internacional, em variadas formas de violência, entre elas a guerra
e a expansão imperialista, canalizando-as e orientando-as para a racional
e, portanto, pacífica competição econômica no mercado, e fomentando com
isso a instituição de procedimentos democráticos. Dada esta tendência
do capitalismo, o fato de que haja fenômenos importantíssimos de
política imperialista que se manifestam no âmbito da civilização
capitalista não se pode explicar senão em virtude de nele persistirem
atitudes psicológicas e culturais e interesses concretos de origem e
natureza pré-capitalistas, que manifestam sua influência através do poder
político, orientando-o para uma política imperialista que contradiz a lógica do
capitalismo. (PISTONE, 1998, p. 616, grifo nosso)

Isso quer dizer que para Schumpeter o imperialismo é resultado de fatores pré-
capitalistas. Não haveria, portanto, um interesse econômico direto na expansão imperialista,
mas sim um fator político de manutenção de poder e prestígios. Essa concepção teve
bastante êxito, sobretudo, entre os liberais-conservadores estadunidenses, que tendiam a
ver inclinações imperialistas clássicas apenas na União Soviética.
Ao apresentarmos algumas das concepções teóricas acerca do imperialismo,
podemos ver que não apenas a historiografia, mas também outros campos do conhecimento
tendiam a ver a complexidade do fenômeno. Este capítulo na história contemporânea
inaugura uma nova configuração no globo, no qual mercadorias, pessoas e ideias foram
trocadas. Esse processo também evidenciou a visão de mundo européia e estadunidense
e a submissão que impuseram a outros povos.

UNIDADE I Imperialismo e Nacionalismo 12


2. A PARTILHA DA ÁFRICA

A África foi palco de bruscas mudanças entre os anos de 1880 e 1910, que coincide
com as investidas imperialistas de países europeus sobre o vasto continente. Até 1880
algumas poucas áreas estavam sob o regime colonial europeu, e havia uma imensa área
cujo o governo estava nas mãos de seus próprios reis, rainhas, impérios, chefes de clã, e
toda sorte de governos.
Em toda a África ocidental, essa dominação limitava-se às zonas costeiras e
ilhas do Senegal, à cidade de Freetown e seus arredores (que hoje fazem parte
de Serra Leoa), às regiões meridionais da Costa do Ouro (atual Gana), ao litoral
de Abidjan, na Costa do Marfim, e de Porto Novo, no Daomé (atual Benin), e à
ilha de Lagos (no que consiste atualmente a Nigéria). Na África setentrional, em
1880, os franceses tinham colonizado apenas a Argélia. Da África oriental, nem
um só palmo de terra havia tombado em mãos de qualquer potência europeia,
enquanto, na África central, o poder exercido pelos portugueses restringia -se
a algumas faixas costeiras de Moçambique e Angola. Só na África meridional
é que a dominação estrangeira se achava firmemente implantada, estendendo
-se largamente pelo interior da região. (BOAHEN, 2010, p. 1)

UNIDADE I Imperialismo e Nacionalismo 13


Observe o mapa abaixo:

FIGURA 1: COLONIZAÇÃO EUROPÉIA NA ÁFRICA ATÉ 1880

Fonte: Boahen (2010).

A colonização européia no continente africano não veio sem hostilidades e resistências


por parte das lideranças locais, que em sua grande maioria defenderam a soberania de seus
povos ante as investidas dos europeus. Alguns tinham exércitos já formados ou tentavam
resolver a questão com base na diplomacia. Entretanto, é importante pontuar que muitos viam
com bons olhos a chegada de novas tecnologias e não viam a presença de europeus como
ameaça a sua soberania, exemplo disso foi a criação de escolas primárias e secundárias
na Costa do Ouro e na Nigéria. Além disso, muitos africanos ricos enviavam os filhos para a
Europa, a fim de receberem educação superior. (BOAHEN, 2010).

UNIDADE I Imperialismo e Nacionalismo 14


Até 1880 os africanos possuíam relações de livre comércio com a Europa e outras
localidades, bem como julgavam-se militarmente e religiosamente – a religião foi uma
importante arma contra colonialismo – caso os europeus ou qualquer outro povo ousasse
ameaçar sua independência:
No entanto um fato escapava aos africanos: em 1880, graças ao
desenvolvimento da revolução industrial na Europa e ao progresso
tecnológico que ela acarretara – invenção do navio a vapor, das estradas
de ferro, do telégrafo e sobretudo da primeira metralhadora, a Maxim –, os
europeus que eles iam enfrentar tinham novas ambições políticas, novas
necessidades econômicas e tecnologia relativamente avançada. Por outras
palavras, os africanos não sabiam que o tempo do livre‑cambismo e do
controle político oficioso cedera lugar, conforme diz Basil Davidson, à “era do
novo imperialismo e dos monopólios capitalistas rivais” (BOAHEN, 2010, p.7)

Isso quer dizer que os europeus já não queriam apenas trocar produtos, mas sim
exercer um controle político sobre o continente, assim naquela altura, o armamento europeu
superava tecnologicamente as armas na África. Mas como explicar o porquê de naquele
dado momento histórico a África ter sido tomada de assalto, repartida, dominada e ocupada?
Por que os africanos não foram capazes de proteger sua soberania e afastar o colonialismo
europeu? São questões amplas e multifatoriais, as quais iremos explorar a seguir.
Alguns acontecimentos importantes estimularam a corrida pela partilha da África.
O primeiro deles foi o interesse, até então inaudito, de Leopoldo I, rei dos belgas, em 1876.
Neste ano na Conferência de Geográfica de Bruxelas, a realeza, fundamentou a exploração
do Congo e a criação do Estado Livre do Congo. No mesmo ano, outro aspecto salutar,
Portugal deu início a uma série de expedições, que levaram o país a anexar propriedades
rurais moçambicanas. Um terceiro aspecto, que impulsionou a corrida, foi a política
expansionista francesa entre 1879 e 1880, dividindo o controle do Egito com o Reino Unido,
bem como “pelo envio de Savorgnan de Brazza ao Congo, pela ratificação de tratados com
Makoko, chefe dos Bateke, [e] pelo restabelecimento da iniciativa colonial francesa tanto na
Tunísia como em Madagáscar.” (UZOIGWE, 2010, p. 32).

UNIDADE I Imperialismo e Nacionalismo 15


Os Estados europeus passaram a efetivar a ocupação de vários territórios, o que
gerava conflito entre as nações. Foi então que Portugal sugeriu uma conferência internacional
para resolver questões referentes à ocupação da África, apesar da ideia, foi Bismarck, da
Alemanha, que levou a cabo esta sugestão. Inicialmente, a ideia da Conferência de Berlim
– que foi de 15 de novembro de 1884 a 26 de novembro de 1885 – era discutir a abolição do
tráfico de pessoas escravizadas e ao bem-estar africano, mas não foi isso o que aconteceu:
A conferência, que, inicialmente, não tinha por objetivo a partilha da África,
terminou por distribuir territórios e aprovar resoluções sobre a livre navega-
ção no Níger, no Benue e seus afluentes, e ainda por estabelecer as “regras
a serem observadas no futuro em matéria de ocupação de territórios nas cos-
tas africanas. Por força do artigo 34 do Ato de Berlim, documento assinado
pelos participantes da conferência, toda nação europeia que, daí em diante,
tomasse posse de um território nas costas africanas ou assumisse aí um “pro-
tetorado”, deveria informá‑lo aos membros signatários do Ato, para que suas
pretensões fossem ratificadas. (UZOIGWE, 2010, p. 33)

A partir daí se estabeleceram regras que tornaram “legal” a apropriação do


território africano. O que revela a prepotência dos Estados europeus da época, já que
nunca um grupo de países se entendeu no direito de repartir um outro continente como
lhe bem conviesse. Antes da Conferência de Berlim, os Estados tinham suas formas de
dominação dos povos africanos, seja por meio da colonização, do envio de missionários,
da manutenção de dirigentes africanos, ainda sob o regime de protetorado. Mas com a
conferência esse domínio pôde ser expresso no papel. Poderiam ser tratados entre os
africanos e os europeus ou entre os europeus.
Os tratados afro‑europeus dividiam‑se em duas categorias. Primeiramente
houve aqueles sobre o tráfico de escravos e o comércio, que foram fonte
de conflitos e provocaram a intervenção política europeia nos assuntos
africanos. Depois, vieram os tratados políticos, mediante os quais os
dirigentes africanos ou eram levados a renunciar a sua soberania em troca
de proteção, ou se comprometiam a não assinar nenhum tratado com outras
nações europeias. (UZOIGWE, 2010, p. 34)

Muitos africanos concordavam com esses tratados na esperança de obterem


vantagens para seu povo. Muitas vezes um Estado africano fraco, que estava sob o domínio
de outro Estado africano, assinava o tratado com uma potência, esperando ver-se livre do
domínio de seu vizinho, por exemplo. Não se tratava, entretanto, de entregar a soberania de
seu povo de bom grado, mas muitos governantes entendiam que podiam resolver conflitos
internos com a ajuda de empresas ou governos estrangeiros. Foi mais tarde, que alguns reis e
governantes africanos, perceberam que estes ameaçavam a independência dos seus países.

UNIDADE I Imperialismo e Nacionalismo 16


As consequências da Conferência de Berlim se mostraram na legitimação do que se
designou zonas de influência. “Uma zona de influência, portanto, nascia de uma declaração
unilateral, mas ela só se tornava realidade uma vez aceita, ou pelo menos não contestada
por outras potências europeias.” (UZOIGWE, 2010, p. 37-38). Ou seja, se não houvesse
nenhuma outra potência europeia que reivindicava direitos sobre aquela região, pouco a
pouco, o país reclamava por direitos de soberania em determinada região. Mas havia casos
em que dois ou mais países tomavam uma região como objeto de disputa, assim existiam
acordos que determinavam com exatidão as fronteiras, sejam elas naturais ou políticas, de
forma ocasional se levava em consideração as fronteiras originais dos povos.
Considera‑ se que o tratado anglo‑ alemão de 29 de abril (e de 7 de maio) de
1885, que definia as “zonas de intervenção” da Inglaterra e da Alemanha em
certas regiões da África, talvez seja a primeira aplicação a sério da teoria das
esferas de influência nos tempos modernos. Mediante uma série de tratados,
acordos e convenções análogos, a partilha da África nos mapas estava
praticamente terminada em fins do século XIX. (UZOIGWE, 2010, p. 38).

A partir daí a África foi recortada de acordo com os interesses dos países euro-
peus, seja através de tratados unilaterais ou bilaterais, o que fez com que o mapa do
continente ficasse dividido não conforme a divisão étnica do continente. Segue abaixo um
mapa, meramente ilustrativo, da divisão étnica do continente africano, que evidencia como
provavelmente seria a divisão da África se não houvesse a repartição europeia.

FIGURA 2: DIVISÃO ÉTNICA DO CONTINENTE AFRICANO

Fonte: História e Cultura, 2016. Disponível em: https://historiaecultura.ciar.ufg.br/modulo2/capitulo4/cnt/1-


14.html. Acesso em: 09 dez. 2021.

UNIDADE I Imperialismo e Nacionalismo 17


Com a partilha da África, o mapa do continente foi completamente alterado.

FIGURA 3 - PARTILHA DA ÁFRICA ATÉ 1914

Fonte:https://overdosedeteorias.files.wordpress.com/2017/03/partilha.jpg

Você pode observar que cerca de 30% das fronteiras são linhas retas, cortando ao
meio, muitas vezes, fronteiras étnicas e linguísticas. Antes dessa partilha, como pudemos
contemplar na imagem 2, a África era subdivida em etnias, porém essas fronteiras, segundo
Uzoigwe (2010) eram móveis, por conta de relações internas. A partilha da África fixou
fronteiras, seja de maneira imposta ou seguindo alguns contornos pré-definidos.
Vimos que a partilha da África se deu por meio de tratados unilaterais ou bilaterais
por parte dos europeus, mas em que medida esses tratados eram válidos? Como e porque
os africanos os “aceitaram”?
Seu estudo leva à conclusão de que alguns deles são juridicamente
indefensáveis, outros moralmente condenáveis, enquanto outros ainda foram
obtidos de forma legal. No entanto, trata‑ se aí de atos essencialmente políticos,
defensáveis somente no contexto do direito positivo europeu, segundo o qual
a força é a fonte de todo o direito. Mesmo quando os africanos procuravam
abertamente celebrar tratados com os europeus, a decisão era sempre ditada
pela força que eles sentiam no lado europeu. Em certos casos, os africanos,
por suspeitarem das razões apresentadas pelos europeus para a conclusão
desses tratados, recusavam‑se a participar deles, mas, submetidos a pressões
intoleráveis, acabavam por aceitá‑las. Muitas vezes, africanos e europeus
divergiam sobre o verdadeiro sentido do acordo a que haviam chegado. Fosse
como fosse, os governantes africanos consideravam, por sua parte, que esses
tratados políticos não os despojavam de sua soberania. Viam neles, antes,
acordos de cooperação, impostos ou não, que deveriam ser vantajosos para
as partes interessadas. (UZOIGWE, 2010, p. 39, grifo nosso).

UNIDADE I Imperialismo e Nacionalismo 18


Assim, no contexto do Imperialismo, os povos africanos sofreram duramente com
a partilha. Em um primeiro momento, os soberanos em África acreditavam estar fazendo
acordos com os países europeus ou mesmo acabaram por sucumbir frente às novas
tecnologias armamentistas da Europa. De qualquer forma, essa dominação provocou
feridas econômicas, sociais e políticas, que custam a sarar até os dias atuais.

UNIDADE I Imperialismo e Nacionalismo 19


3. IMPERIALISMO NA ÁSIA E NO PACÍFICO

Assim como as nações africanas viram o exercício das esferas de influência,


praticada por conta do imperialismo europeu, a Ásia e a região do Pacífico, que corresponde
hoje a parte da Oceania, também sofreu com a intervenção dos países da Europa. Mas não
apenas a Europa se mostrou interessada na região, os EUA e o Japão também entraram
na corrida na busca de matérias-primas e mercado consumidor.
Um dos mais poderosos Impérios no final do XIX e início do século XX, era o
britânico, que por sua extensão era conhecido, de acordo com Mason (2017, p. 111) como
“o império no qual o sol nunca se punha”. Na Ásia foi um dos países com várias possessões:
As colônias britânicas lá consistiam no que agora são sete países: Índia,
Paquistão, Bangladesh, Sri Lanka, Birmânia, Malásia e Singapura. Havia
outros pequenas assentamentos, como Hong Kong, e também esferas de
influência em países nominalmente independentes, mas preparados a aceitar
a orientação britânica. (MASON, 2017, p. 111)

Já a França dominava o que hoje se conhece por Vietnã, Camboja e o Laos.


Enquanto que a Holanda dominava a metade ocidental do arquipélago do Sudeste asiático.
As mais de 400 ilhas da região do pacífico, primeiro ficaram nas mãos dos espanhóis, mais
tarde passaram para os Estados Unidos. A China era e é uma região de grande extensão
territorial e os imperialistas tinham dificuldade para penetrar na região ou temiam que
os demais o fizessem, por isso, ela foi dividida em esferas de influências. Entretanto, na
costa chinesa foram feitas importantes concessões de portos, que se industrializaram e se
transformaram em grandes cidades, a custo da exaustão de recursos, exploração da mão
de obra barata, gerando intenso sofrimento, pobreza e doenças. (MASON, 2017).

UNIDADE I Imperialismo e Nacionalismo 20


O Japão é um caso à parte, já que:
[...] manteve sua independência somente porque “ocidentalizou” sua
economia e indústria com velocidade e energia notáveis e ganhou respeito dos
dominadores ao se tornar uma potência colonial, anexando a Coreia, Taiwan
e a Manchúria. A Tailândia, sob controle sagaz de seus reis chakri, escapou
ao status colonial a se curvar aos ventos – abrindo mão de território onde
isso parecia vantajoso – e aceitando orientação europeia – especialmente
britânica. (MASON, 2017, p. 112).

A Ásia tomou uma nova composição geográfica e por onde quer que se olhasse
via-se povos divididos, isolados de sua maioria, isso por conta dos interesses econômicos
na região. Uma das práticas econômicas típicas do imperialismo na Ásia era a imposição de
monopólios, como era o caso dos monopólios de sal e ópio, no qual os países produtores
só poderiam vender para o país que o dominava. Esses monopólios eram tão lucrativos
que dobraram a receita vinda das colônias na primeira década de vigência.
A prática econômica imperialista representou um duro golpe para o desenvolvimento
de vários países asiáticos. Os imperialistas consumiam as matérias-primas e desestimulavam a
industrialização, para não competir com seus próprios mercados. Um exemplo disso foi a Índia,
A Índia, antes da era colonial a maior fornecedora de tecidos de algodão do
mundo, perdeu essa posição no século XIX para a massiva indústria têxtil
que se desenvolveu nas Midlands inglesas. Efetivamente, a porção asiática
do PIB mundial caiu de mais de 60% em 1800 para menos de 20% em 1940.
Esse enorme declínio não foi acidental. Enquanto a indústria e as economias
dos dominadores prosperavam, as das colônias estavam deliberadamente
restritas. (MASON, 2017, p. 113)

Outro aspecto econômico era a transformação de grandes extensões de terras


em produtoras de grãos – sistema conhecido como plantation. A logística em torno da
exportação desses insumos fez com que surgissem algumas estradas, ferrovias e portos,
voltadas ao escoamento dos produtos e que beneficiavam em grande parte o dominador.
O caso da Índia se mostrou particularmente importante, já que após muita
resistência, o país se tornou uma colônia britânica durante um período de aproximadamente
noventa anos, de 1858 até 1947. Durante a primeira parte desse período, entre 1858 e
1914, a Índia, como qualquer outra colônia, estava sob a supervisão e tutela do parlamento
britânico. A administração do país estava subdividida em províncias, as quais eram geridas
por representantes do governo, ainda que algumas vezes fossem escolhidos indianos para
ocupar esses cargos, mas subordinados sempre a uma autoridade britânica.
Os interesses do monopólio britânico na Índia não se baseavam principalmente
em plantações. Eles se baseavam no transporte marítimo, bancário, seguro e
no controle de comércio dentro do país através do maquinário de distribuição,
porque Capitalistas indianos, percebendo que tinham poucas chances de
independência, ajustaram-se à posição de agências de firmas britânicas.
Nas primeiras décadas do nosso período, os interesses britânicos não era de
estabelecer indústrias na Índia. (PANIKKAR, 1961, p. 117, tradução nossa).

UNIDADE I Imperialismo e Nacionalismo 21


A colonização britânica na Índia, apoiava-se na ideia de uma suposta superioridade
racial. Acreditava-se que o mais simples colonizador até um homem que ocupasse o mais
alto escalão administrativo, era superior e estava sob a proteção e desígnio divino de
governar e dominar aquele povo. (PANIKKAR, 1961). Na verdade, a ideia de superioridade
pairava sobre o imaginário dos europeus, cada país acreditava em um suposto destino em
explorar, ocupar, governar os povos da Ásia e do Pacífico.

UNIDADE I Imperialismo e Nacionalismo 22


4. NACIONALISMO

Como pudemos ver, o período que compreende o último quartel do século XIX
até 1914 foi marcado pela expansão dos países da Europa sobre quase todo o globo. Um
sentimento comum que os unia era o sentimento de nacionalidade. A historiografia tem
poucas dúvidas que no final do século XIX se formava caldo do nacionalismo, que vinha se
formando desde a “primavera dos povos” de 1948.
Para Hobsbawm (1979) a Primavera dos Povos de 1848 – série de manifestações
populares em toda a Europa – foi uma afirmação de nacionalidade. Por toda parte via-se
a construção de Estado-Nações, não apenas na Europa, mas nos Estados Unidos, onde a
Guerra Civil expressou a tentativa de manter a unidade dos EUA , bem como no Japão com
a Restauração Meiji.
Mas do que se tratava esse nacionalismo? Certamente era algo difícil de definir, já
que a “nação” era um dado natural.
Certamente os ingleses sabiam o que era ser inglês, os franceses, alemães
ou russos certamente não tinham dúvidas do que fosse sua identidade
coletiva. Talvez não, mas na era da construção de nações acreditava-se que
isso implicava a lógica necessária assim como a desejada transformação de
“nações” em Estados-Nações soberanos, com um território coerente, definido
pela área ocupada pelos membros da “nação”, que por sua vez era definida
por sua história, cultura em comum, composição étnica e, com crescente
importância, língua. (HOBSBAWM, 1979, p. 127-128)

UNIDADE I Imperialismo e Nacionalismo 23


Mas o nacionalismo não é tão lógico e racional como explicitado pela citação. O
que parece estar por trás da constituição desses grupos humanos enquanto Estados-
-Nações estava assentado na recuperação das culturas orais, na herança folclórica do
povo comum. Entretanto, aqueles que iniciaram, cada qual em sua nação, eram membros
cultos da classe dirigente.
Acreditava-se que as maiores nações, aquelas mais estabelecidas iriam engolir as
pequenas e frágeis, assim, estas nações estariam destinadas a prevalecer ou a vencer a luta
pela existência, em uma perspectiva darwinista. Esse tipo de pensamento, de cada ideólogo
de uma nação, não era destinado apenas a pequenas minorias linguísticas que vivem em
seus territórios, mas também a estrangeiros. Contudo, a aspiração em fazer um Estado-
Nação sob uma mesma língua, pertencente a uma classe letrada, só se fez possível como
reação a movimentos de pequenos povos que aspiravam à própria nacionalidade. Estava
posto o problema. Diante da questão, os ideólogos de cada nação tinham algumas escolhas.
Primeiramente poderiam negar a legitimidade de tais movimentos nacionalistas, poderiam
reduzi-los a movimento de autonomia regional ou mesmo aceitá-los como fatos inegáveis e
incontroláveis. Qualquer que fosse a alternativa, nenhum outro país considerava os problemas
internos de um outro país como um problema de cunho internacional. (HOBSBAWM, 1979)
É importante pontuar uma diferença básica entre Estado-Nação e nacionalismo. O
primeiro era um subterfúgio político de unificação que buscava se apoiar no nacionalismo.
Muitos países, como foi o caso da Itália e da Alemanha possuíam dentro de seus territórios
variedades culturais e linguísticas tão diversas, que dificilmente se poderia enxergar um
povo único com aspirações únicas. Tal era esse disparate que Massimo d’ Azeglio – esta-
dista piemontês-italiano – exclamou em 1860: “Fizemos a Itália; agora precisamos fazer os
italianos” (AZEGLIO apud HOBSBAWM, 1979, p.134).
É difícil mensurar ou mesmo ratificar o nacionalismo de cidadãos ingleses, france-
ses, italianos, alemães, estadunidenses etc. em meados do século XIX. Hobsbawm (ano)
aponta que em casos de nações emergentes, como era o caso dos EUA, o nacionalismo
começava a tomar forma graças ao mito e a propaganda.

UNIDADE I Imperialismo e Nacionalismo 24


SAIBA MAIS

A Doutrina do Destino Manifesto

Nos EUA do século XIX se expandia para oeste, essa expansão estava apoiada na
crença de que o país tinha uma missão, designada por Deus, de conquistar o continente.
Sendo assim, a doutrina do Destino Manifesto estava ancorada em preceitos calvinistas,
no qual acreditava-se que Deus escolhia os seus eleitos, tendo como missão principal
levar valores morais e iluminar povos considerados inferiores. Este quadro, ainda que
contestável pelos próprios contemporâneos, foi importante elemento para a criação de
um sentimento nacional.

Fonte: Costa, 2011.

No entanto, seja nas nações emergentes, como nas nações consideradas


“históricas”, a construção do nacionalismo fica circunscrita a camadas intermediárias
como professores, estudantes, membros dos baixo clero e pequenos comerciantes.
As classes mais tradicionais ou pobres foram as últimas a se comprometerem com um
sentimento nacional, que começou a se concretizar apenas atrelada ao desenvolvimento
econômico e político. O nacionalismo de massa era algo novo, diferente do nacionalismo
de elite ou das classes médias.
A ideia de nação era um artefato produzido, ainda que não fosse necessariamente
novo, “embora incorporasse características que membros de grupos humanos muito
antigos tinham ou pensavam ter em comum, ou aquilo que os unia contra estrangeiros.”
(HOBSBAWM, 1979, p.142). Ou seja, o país precisava construir um sentimento de nação,
seja por meio da educação ou do serviço militar obrigatório. Houve um crescimento
considerável de universidades e escolas secundárias dentro e fora da Europa, que cresceram
sob influência nacionalista. No entanto, o maior avanço estava nas escolas primárias, onde
eram impostos valores morais, patriotismo, dentre outros.
Outro aspecto importante para a criação de Estados-Nações eram os meios de
comunicação. Esses só podiam ser viáveis na medida que a população fosse alfabetizada,
já que estamos falando de uma era dominada pela imprensa escrita.

UNIDADE I Imperialismo e Nacionalismo 25


Assim, o ensino da língua nacional e oficial para a diversidade de etnias que
viviam em um determinado país, era aspecto fundamental na constituição do ideário de
nacionalidade.
Dessa forma, o nacionalismo começa a ter como característica a incorporação
de imigrantes ou minorias étnicas em seu escopo, para formação de um Estado-Nação.
O sentimento de ser inglês, alemão, francês, dentre outros, foi construído e construído
para expressar unicidade e oposição ao outro. Com isso colocava em rivalidade diferentes
povos, o que foi fermento para a primeira grande guerra, conforme veremos mais adiante.

REFLITA

“O poder nunca é propriedade de um indivíduo; pertence a um grupo e permanece em


existência apenas na medida em que o grupo conserva-se unido.” (ARENDT, 1989, p. 289)

UNIDADE I Imperialismo e Nacionalismo 26


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Caro(a) aluno (a),

Nesta unidade que inaugura nossos estudos em História Contemporânea, você


viu alguns elementos que marcaram as últimas décadas do século XIX e as primeiras do
século XX. Temas como imperialismo e nacionalismo, continuam em pauta, ainda que com
roupagens diferentes.
No primeiro tópico discutimos sobre o imperialismo e suas consequências. A ideia
de um grupo considerar-se como superior e, portanto, autorizado a dominar outros povos
nasceu há muito tempo, mas foi só nos séculos XIX e XX que pudemos ver enquanto
prática estabelecida de vários países da Europa e mais tarde dos EUA e do Japão. Essa
política, que também é econômica e cultural, deixou marcas na organização do globo e até
os dias atuais está sujeita a análises teóricas.
Os europeus, os estadunidenses e outras nações à época viam legitimidade no
domínio do que se considerava o “outro”. Este outro viu seu território ser invadido, suas
riquezas exploradas e sua soberania expropriada. Conforme discutimos, isso foi presente
no que reconhecemos hoje como a partilha da África. Um continente inteiro foi dividido
conforme os interesses das grandes potências. Isso não se deveu a uma inocência dos
africanos, mas sim a diversos fatores que foram explorados ao longo do tópico. A ideia de
dominação também pairou sobre a Ásia e o Pacífico, nestes locais foram estabelecidas
formas de administração política e econômica, mais uma vez de acordo com interesses de
outros países. Esse foi o tema no terceiro tópico.
No quarto e último tema falamos sobre a questão do nacionalismo. O nacionalismo,
que começa a se formar a partir da noção da existência de um Estado-Nação, foi
responsável por mudanças importantes no decorrer do século XX. Por isso, foi importante
explorar suas bases, entendendo que é um artefato.

UNIDADE I Imperialismo e Nacionalismo 27


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: A Era dos Impérios: 1875 -1914
Autor: Eric Hobsbawm.
Editora: Paz e Terra.
Sinopse: Este livro faz parte da trilogia das “Eras” do importante
historiador Eric Hobsbawm. As obras de Hobsbawm são leituras
quase que obrigatórias para estudantes e pesquisadores de
História Contemporânea. No livro em questão, o autor traz uma
análise sobre os acontecimentos desde a crise de 1875, a expansão
europeia, o imperialismo até os acontecimentos que deram origem
à Primeira Guerra Mundial.

FILME/VÍDEO
Título: O Homem que Queria ser Rei
Ano: 1975.
Sinopse: Enquanto a Índia era dominada pelos colonizadores
ingleses, dois ex-soldados britânicos decidem explorar os países
ao redor. Os destemidos Peachy Carnahan (Michael Caine) e
Daniel Dravot (Sean Connery) viajam para o Kafiristão, onde
pretendem conquistar o sucesso e viver como reis.

UNIDADE I Imperialismo e Nacionalismo 28


UNIDADE II
A Crise do
Capitalismo
Professora Me. Maria Helena Azevedo Ferreira

Plano de Estudo:
● Primeira Guerra e Revolução Russa;
● A tentação totalitária: a ascensão dos Fascismos;
● O Nazismo na Alemanha;
● Segunda Guerra Mundial;
● A Guerra Fria.

Objetivos da Aprendizagem:
● Compreender as causas e consequências da
Grande Guerra e da Revolução Russa;
● Analisar o surgimento e a anatomia do Fascismo;
● Entender a ascensão do Nazismo na Alemanha;
● Refletir sobre as causas da Segunda Guerra Mundial;
● Analisar os principais eventos da Guerra Fria.

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INTRODUÇÃO

Prezado (a) estudante, ao longo desta unidade veremos o desenrolar do breve século
XX. Nas palavras de Hobsbawm este foi um momento de profunda crise do capitalismo,
correlacionado com a derrocada dos sistemas democráticos; liberais e a ascensão de regimes
totalitários. Com isso, esperamos que nesta unidade você possa ter domínio dos fatos e
interpretações históricas que marcaram o mundo, especialmente a Europa e os EUA.
O primeiro tópico traz dois assuntos, a Primeira Guerra Mundial e a Revolução
Russa, que são fenômenos contemporâneos. Veremos que a Grande Guerra, como também
é chamada, foi fruto de um crescente nacionalismo e imperialismo dos países beligerantes
logo no início do século. Abordaremos também a queda do czar na Rússia e a subsequente
implantação de um sistema político e econômico inspirado nas acepções socialista.
O próximo tópico traz uma discussão importante sobre a ascensão do Fascismo.
Nos debruçaremos, em especial, no caso italiano, que inspirou outras formas de fascismo
em outros lugares do mundo. Procuraremos situar o fenômeno como consequência do
conflito para as nações derrotadas, que viram o crescimento vertiginoso de movimentos
ultranacionalistas, de extrema direita e de teor totalitário.
Inerente ao fascismo temos o Nazismo na Alemanha que, como é de conhecimento
geral, promoveu o holocausto gerando a morte de milhões de pessoas. É fundamental
compreender que esse movimento na Alemanha também foi um desdobramento da Grande
Guerra, da Grande Depressão de 1929, bem como de ideias eugenistas, racistas e do
darwinismo social. Tais elementos, conforme veremos, vêm acompanhados da ideia de
superioridade racial dos germânicos em detrimento de outros povos, como os judeus. Você
verá com mais detalhes como aconteceu a escalada ao poder de Hitler.
Além disso, a Alemanha de Hitler apregoava a necessidade de um “espaço vital”,
justificando a política expansionista da Alemanha. Conforme abordaremos mais adiante,
essa foi uma das causas do estopim da Segunda Guerra Mundial. Esse conflito teve como
característica central o conceito de guerra total, quando todas as forças produtivas do país
estão a serviço da guerra e também mobiliza não apenas militares, mas também civis.
Por fim, discutiremos os principais eventos da Guerra Fria e seus desdobramentos. Dessa
forma, procuraremos explorar os principais acontecimentos do século XX.

Bons estudos!

UNIDADE III A
Imperialismo
Crise do Capitalismo
e Nacionalismo 30
1. PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL E REVOLUÇÃO RUSSA

1.1 A Primeira Guerra


Vimos na unidade anterior que a virada do século XIX para o século XX foi para
as nações um momento de intensa rivalidade, seja na partilha dos continentes asiático
e africano, como também da construção do Estado-Nação, instrumentalizado pelo
nacionalismo. Sem dúvida, esses foram alguns dos elementos que possibilitaram que
eclodisse um conflito sem precedentes até então.
A Primeira Guerra Mundial foi a primeira que envolveu as massas, diferentemente
de guerras anteriores com maior duração e número de pessoas equivalentes, como foi o
caso da Revolução Francesa e das guerras napoleônicas, ela foi para além dos campos
de batalha. Nunca também as nações foram capazes de canalizar praticamente toda sua
indústria pesada para fins bélicos, bem como nunca haviam voltado ao setor tecnológico
exclusivamente para descobrir novos modos de destruição. Perdeu-se o controle da
guerra. Houve uma disparidade entre as intenções e as consequências, que foram muito
além do que qualquer um poderia imaginar.
Dito isso, Thomson nos alerta:
Por esta razão, é necessário manter perfeitamente separadas as questões
declaradamente envolvidas na guerra, quando ela começou, e aquelas que
vieram a sê-lo, antes do seu término; devem ser consideradas igualmente
distintas de ambas as coisas as consequências que, agora o sabemos, deri-
varam da guerra. (THOMSON, 1976, p. 55)

UNIDADE III A
Imperialismo
Crise do Capitalismo
e Nacionalismo 31
Desta citação, podemos retirar três perspectivas: 1) As razões primárias que
fizeram com que o conflito se deflagrasse 2) Os motivos que se sustentaram durante o
conflito e 3) As consequências inesperadas da guerra. A primeira perspectiva diz respeito
às razões pelas quais a Guerra se iniciou, portanto, comecemos por elas.
Uma guerra generalizada na Europa já era prevista desde o último quartel do século
XIX, pelo menos em nível intelectual. Enquanto Friedrich Engels em 1880 examinava as
possibilidades de um conflito em nível mundial, Nietzsche observou a crescente militarização
dos países da Europa. A preocupação foi suficiente para que fosse realizado o Congresso
Mundial da Paz em 1890, o primeiro Nobel da Paz em 1897 e a primeira das Conferências
de Paz de Haia em 1899. Apesar disso, “nos anos 1900, a guerra ficou visivelmente mais
próxima e nos anos 1910 podia ser considerada iminente.” (HOBSBAWM, 1995, p. 419).
Antes de tudo é preciso entender a corrida armamentista que precedeu a
guerra. Os exércitos, cada vez maiores e mais militarizados, serviam, sobretudo, para as
guerras nas colônias, que eram extremamente inóspitas pelo alto índice de mortalidade,
contudo, raramente os soldados atuavam no próprio continente. Tendo isso em vista que os
governantes passaram a investir em tecnologia bélica, que cresceu notavelmente a partir
de 1880. Essa “tecnologia da morte” cresceu não apenas no âmbito militar, mas também no
campo civil com a invenção das cadeiras elétricas, por exemplo. Essa corrida armamentista
foi extremamente cara, pois os países competiam um com outro em termos de poder bélico,
movimentando a indústria da morte. Um exemplo de capitalista que enriqueceu no ramo de
explosivos, foi Alfred Nobel, que tentando compensar sua atividade, destinou parte de sua
riqueza à causa da Paz. Assim, foi criada uma economia da morte:
Os bens que essa indústria produzia eram determinados não pelo mercado, mas
pela interminável concorrência dos governos, que os fazia procurar garantir para
si um fornecimento satisfatório das armas mais avançadas e, portanto, mais
eficientes. E mais, o que os governos precisavam não era tanto da produção real
de armas, mas sim da capacidade de produzi-las numa escala compatível com
uma época de guerra, se fosse o caso; isso quer dizer que ele tinham que zelar
para que suas indústrias mantivessem uma capacidade de produção altamente
excedente para tempos de paz. (HOBSBAWM, 1995, p. 425)

A partir disso, fica claro que os governos para além de uma concorrência com outros
Estados-Nação, tinham que manter a indústria nacional funcionando, ou seja, adotaram
medidas protecionistas contra o livre-mercado e a imprevisível livre concorrência, por
isso, os governos preferiram se aliar aos capitalistas nacionais. Ainda que os fabricantes
de armas tenham feito acordo com os governos, não é possível explicar a guerra nesses
termos. (HOBSBAWM, 1995).

UNIDADE III A
Imperialismo
Crise do Capitalismo
e Nacionalismo 32
De maneira gradual, formaram-se dois blocos de países e essa divisão foi
originária da unificação da Alemanha, ocorrida entre 1864 e 1871, que buscava aliados
para se defender do principal perdedor, a França, que perdeu a região da Alsácia-Lorena.
Fruto, em partes, deste episódio foi a aliança entre Alemanha e a Áustria-Hungria para
assegurar a integridade do frágil Império Alemão. Desse modo, juntou-se a aliança à
Itália1 para formar a Tríplice Aliança. (HOBSBAWM, 1995)
A Áustria-Hungria enfrentava problemas na região dos Bálcãs – região disputada
por vários países –, que se aprofundaram com a conquista da Bósnia-Herzegovina, gerando
oposição da Rússia. Ficou claro que a Alemanha, apesar de Bismarck ter tentado ter boas
relações com a Rússia, teria que ficar ao lado da Áustria-Hungria. Dada à oposição entre
Alemanha e França, era óbvio que a França buscasse como aliada à Rússia, que foi deixada
de lado pelos alemães. (HOBSBAWM, 1995).
Veja, são duas zonas de tensão, a primeira, entre a França e a Alemanha, devido
à anexação da Alsácia-Lorena e, a segunda, entre Áustria e Rússia, devido à região dos
Bálcãs. Mas como o conflito se generalizou a ponto de se tornar um conflito de grandes
proporções? Os problemas entre França e Alemanha não eram de interesse da Áustria,
bem como a questão dos Bálcãs não era relevante para a França. Sobre a nossa questão,
Hobsbawm explica:
Três problemas transformaram o sistema de aliança numa bomba-relógio:
a situação do fluxo internacional, desestabilizado por novos problemas e
ambições mútuas entre as nações, a lógica do planejamento militar conjunto
que congelou os blocos que se confrontavam, ornando-os permanentes, e a
integração de uma quinta grande nação, a Grã-Bretanha, a um dos blocos.
(HOBSBAWM, 1995, p. 433)

Entre 1903 e 1907, a Grã-Bretanha se uniu ao lado anti alemão, mas quais foram os
motivos dessa oposição? Em um primeiro momento a Grã-Bretanha não tinha atritos com
a Alemanha, nem mesmo antes da unificação e construção do Império Alemão, tampouco
tinha razões para estar ao lado da França, já que foram antagonistas em inúmeras guerras
desde o século XVII, bem como concorrentes imperialistas. No que se refere à Rússia,
o Império Britânico também foi seu oponente na conquista de territórios do oriente e em
terras mal definidas que ficavam entre a Índia e as terras czaristas. As alianças entre Grã-
Bretanha, França e Rússia aconteceram desafiando todas as probabilidades.
Aconteceu porque até então o mapa de rivalidades estava restrito à Europa e agora
tinha ficado bem maior com a entrada dos EUA e do Japão, bem como fatores inerentes à
nova configuração econômica mundial que mudaram a posição da Grã-Bretanha.
1
A Italia se afastou em 1915 para se unir ao campo anti alemão

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Imperialismo
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e Nacionalismo 33
Diferentemente de meados do século XIX, a Grã-Bretanha já não era a “oficina do
mundo”, nem o principal mercado importar, pelo contrário a centralidade britânica agora era
posta em questão. Com isso, o poderio econômico, ligado ao contexto de concorrência,
esteve também ligada ao poder militar e a sua demonstração. (HOBSBAWM, 1995)
No contexto imperialista, a penetração da Alemanha no Império Otomano gerou
preocupação nos britânicos, que tinham claras intenções de continuar e expandir sua
influência ao redor do globo. Cada vez mais ser um grande Estado passou a ser sinônimo
de ser uma grande economia e capitalismo, cujo núcleo é a busca por lucro, não possui
limites. Sendo assim, um conflito de grandes proporções entre Alemanha e Grã-Bretanha
por territórios coloniais parecia impensável, mas não era igualmente imprevisto que os
britânicos se unissem ao lado anti-alemão. Assim foi formado o bloco anglo-franco-russo,
ou mais conhecido por Tríplice Entente.
A Alemanha, pós-unificação, adotava um tom cada vez mais expansionista e
nacionalista, expressa pela frase: “Heute Deutschland, margen die ganze” (Hoje a Alemanha,
amanhã o mundo inteiro).
O perigo residia antes que um poder global exigia uma marinha global, e a
Alemanha empreendeu (1897), portanto, a construção de uma grande es-
quadra de guerra, que tinha a vantagem incidental de representar não os
velhos estados alemães, mas exclusivamente a nova Alemanha unificada [...]
(HOBSBAWM, 1995, p. 440)

Isso era um sinal de alerta para a Grã-Bretanha, a senhora dos mares, que entendeu
essa posição da Alemanha como extremamente preocupante, já que ameaça seus domínios.
Por isso, os britânicos se aliaram aos EUA, um país amigo, para proteger as águas america-
nas, e as águas do extremo oriente ficaram a cargo dos EUA e Japão, que na época estavam
envolvidos em conflitos regionais e não pareciam representar uma ameaça ao Império Bri-
tânico. Diante do perigo que se avizinhava, na visão dos britânicos, era lógico que estes se
aproximassem dos franceses e dos russos contra a Alemanha. (HOBSBAWM, 1995).
Essa divisão em blocos, entre Tríplice Aliança e Tríplice Entente levou um pouco
mais de duas décadas, demonstrando o atrito internacional que foi instalado. Foram várias
as tentativas de reaproximar os países de cada bloco, mas falharam tornando-os ainda
mais inflexíveis. Houve algumas questões internacionais como 1) a revolução da Rússia
de 1905 (que antecedeu a revolução de 1917), que deixou o poder czarista enfraquecido
e abriu espaço para a Alemanha em suas investidas no Marrocos. 2) em 1907 houve a
Revolução Turca que destruiu acordos pré-firmados e permitiu que a Áustria se apoderasse
de uma vez por todas da Bósnia-Herzegovina, 3) A Alemanha enviou um canhão para o
porto de Agadir no Marrocos – à época estava sob o protetorado dos franceses – a fim de
obter alguma compensação, mas desistiu porque a Grã-Bretanha estava ao lado da França.

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e Nacionalismo 34
Diante da desintegração do Império Otomano por revolucionários turcos, as
potências europeias assistiram desesperadas a região ficar fora do controle da Europa:
O máximo que as potências europeias conseguiram foi criar um Estado inde-
pendente na Albânia (1913) [...] A crise balcânica seguinte foi precipitada em 28
de junho de 1914, quando o herdeiro do trono austríaco, arquiduque Francisco
Fernando, visitou a capital da Bósnia, Sarajevo. (HOBSBAWM, 1995, p.444)

Quando um jovem terrorista, o ativista sérvio Gavrilo Princip, decidiu pelo assassinato
do arquiduque não se esperava que tal ato deflagrasse a primeira grande guerra. Foi então
que a Áustria entrou em guerra com a Sérvia em 1914, a Alemanha ficou ao lado dos
austríacos e não tentou acalmar a situação, enquanto que a Rússia e a França ficaram ao
lado dos Sérvios. (THOMSON, 1976; HOBSBAWM, 1995).

FIGURA 1 - REGIÃO DOS BÁLCÃS EM 1914

Fonte: O Espaço da História, 2017. Disponível em: http://www.oespacodahistoria.com/index.php/ct-menu-


item-1/201-os-balcas-em-1914. Acesso em: 09 dez. 2021.

UNIDADE III A
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e Nacionalismo 35
Para entender a configuração dos motivos que levaram o Império Austro-húngaro
a declarar guerra à Sérvia, é preciso entender a região dos bálcãs como um caldeirão
multicultural, cujo o crescimento da Sérvia era vista como ameaça aos austríacos, no
sentido de desintegrar os seus tão frágeis componentes nacionais. Já a Rússia, de
acordo com Thomson (1976, p. 55) “não podia tolerar a Expansão Austríaca nos Bálcãs
sem perder a simpatia dos povos eslavos da Europa Oriental”. No momento a Alemanha
ficou ao lado da Áustria e a França ao lado da Rússia e da Sérvia era porque temiam
perder suas alianças. A partir daí o jogo de alianças passará a ser perigoso. Depois
disso, a Alemanha invadiu a Bélgica – que fica ao norte da Europa e faz divisa com a
França – para atentar contra Paris “antes que os russos pudessem a atacar e antes que
um possível apoio britânico pudesse se tornar efetivo” (THOMSON, 1976, p.55).
Logo em seguida, a Grã-Bretanha declarou guerra à Alemanha, temendo o poder
naval do país. O Japão também declarou guerra à Alemanha com intenção de se apoderar
de concessões na China e de ilhas no Pacífico. Depois de um certo tempo, o Império Turco
Otomano e a Bulgária se aliaram à Alemanha, porque um era inimigo da Rússia e outro nutria
desavenças com a Sérvia. A Itália se uniu à Tríplice Entente porque lhe foram prometidos ganhos
territoriais, por meio do Tratado de Londres. De todo modo, a entrada de cada uma das nações
foi guiada por avaliações acerca da segurança e poder nacional. (THOMSON, 1976).
Thomson (1976) entende que uma vez começada a guerra, no final de junho de
1914, os motivos que levaram à eclosão se modificaram. A França continuava lutando por
uma questão de sobrevivência, porque havia sido invadida, na mesma situação estavam
a Sérvia e a Rússia. A Alemanha lutava em duas frentes, a leste e a oeste, e tentava não
sucumbir à invasão dos inimigos. Os Impérios Austro-húngaro e Turco viam a guerra como
alternativa única ao colapso interno. Apenas Grã-Bretanha e mais tarde os EUA tinham
alternativa, pois ainda não corriam o risco de serem invadidas.
Até 1917 não podemos definir uma posição ideológica dos blocos. Os britânicos,
russos e franceses, diziam lutar contra o imperialismo e militarização da Alemanha, mas eles
próprios eram imperialistas e altamente militarizados. O ponto central de 1917, consistiu na
saída da Rússia da guerra, que enfrentava os próprios conflitos internos – como veremos
mais adiante – e na entrada definitiva dos EUA.
A partir daí, tornou-se principalmente uma guerra entre as potências
marítimas ocidentais, que também eram coloniais, e de idéias democráticas,
e as potências dinásticas centrais e orientais, que eram impérios continentais
hostis aos ideais da democracia. (THOMSON, 1976, p. 58)

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Imperialismo
Crise do Capitalismo
e Nacionalismo 36
Houve uma transformação da natureza do conflito em seu terceiro ano, que
influenciou o resultado, uma vez que a participação dos EUA foi fundamental para a vitória
da Tríplice Entente. A entrada dos EUA e a saída da Rússia fez com que fosse desenhado
um conflito de ideologias entre nações “democráticas” e não-democráticas. Esse modelo
tendeu a se fortalecer em outros conflitos, como foi o caso da Segunda Guerra.
De uma maneira geral, a guerra não foi longa, se comparada a outros embates
europeus. A Grande Guerra durou cinquenta e dois meses e ficou mais conhecida pela sua
intensidade, pela capacidade veloz de mobilização de exércitos e suprimentos e também
pela capacidade de autodestruição. Cada potência passou a requerer maiores esforços
de sua população, como o alistamento obrigatório e o aumento/inserção de impostos. Os
apelos pela ajuda dos civis tinham uma pauta nacionalista e defendiam a justiça social após
a guerra e “cada vez mais se ouvia o argumento de que, se a organização e a determinação
humanas podiam produzir tais maravilhas na guerra, um esforço comparável na paz podia
remover todos os males sociais.” (THOMSON, 1976, p. 60)
Os discursos produzidos no contexto da guerra, essencialmente pelo bloco Entente,
versavam sobre como seria a Europa pós-guerra. O presidente W. Wilson dos EUA esboçou
14 pontos para as negociações do pós-guerra e dentre estes pontos vemos: 1) liberdade
nos mares em tempos de paz e guerra 2) retiradas das barreiras comerciais 3) reajuste
das reivindicações coloniais e novo desenho do mapa da Europa, especialmente a região
oriental 4) Criação de uma organização internacional para impedir a guerra. (THOMSON,
1976). Estava formada uma ideologia de cunho liberal, que também tocava no ponto
nevrálgico das diversas nacionalidades que estavam sob a guarida dos Impérios Alemão e
Austro-húngaro, em uma espécie de guerra psicológica, desestabilizando a unidade destes
Estados. Aos poucos a guerra foi tomada como uma cruzada moral, pela democracia e
pelos ideais liberais. Mas, é importante lembrar que esse idealismo estava sobreposto aos
velhos ideais nacionalistas que haviam guiado as nações ao conflito.
A Grande Guerra ficou conhecida como a guerra das trincheiras, compostas por
um emaranhado de arames farpados e homens munidos com metralhadoras. Isso quer
dizer que a vantagem ficou entre aqueles que escolheram um plano militar estratégico
mais defensivo, já que a ofensiva era extremamente dispendiosa. Thomson (1976, p.64)
ressalta, porém, que “Somente duas armas podiam arrebatar a vantagem de que gozava a
defensiva. Um era o tanque e a coluna motorizada.”

UNIDADE III A
Imperialismo
Crise do Capitalismo
e Nacionalismo 37
Depois que a Rússia se retirou da guerra, através de um tratado de paz com os
alemães em 1917, a Alemanha estava disponível para lutar em apenas uma frente, a
ocidental. Por outro lado, todos os aliados dos alemães estavam entrando em colapso,
pois viam as nacionalidades dentro de seus territórios se inflamarem, o que as fez ruir em
um momento posterior. Com o reforço estadunidense na frente oeste, a Alemanha não
encontrou outra saída:
Agora, no outono de 1918, com a Alemanha extenuada ao máximo, seus
aliados rendendo-se e as tropas americanas desembarcando na Europa
a uma média de 250.000 por mês, o Alto Comando Alemão notificou seu
governo de que não poderia vencer a guerra, e recomendou que a Alemanha
solicitasse armistício. (THOMSON, 1976, p.67)

Os adversários da Alemanha insistiram que um acordo armistício só poderia ocorrer


com uma Alemanha democrática. Diante da pressão exercida, de um motim e uma greve
geral, o Kaiser Guilherme II renunciou ao trono alemão, com isso, a Alemanha tornou-se
uma república e dois dias mais tarde o armistício foi assinado, no dia 11 de novembro.
A guerra terminou com o exército alemão em território francês e nenhuma força inimiga
nas terras alemãs, reforçando a ideia que o exército alemão não havia sido derrotado.
“Ficou para a nova república democrática a responsabilidade pela assinatura do armistício
e aceitação dos termos de paz” (THOMSON, 1976, p.68)
O mapa da Europa se modificou e nasceram novas nações. Depois da guerra o
Império Austro-húngaro se desintegrou e a Áustria e a Hungria se transformaram em re-
públicas diferentes. “Apareceram no mapa os novos Estados da Tcheco-Eslováquia, sob a
liderança do tchecos, a Iugoslávia, sob a liderança dos sérvios, uma Polônia ressuscitada
e uma Romênia aumentada” (THOMSON, 1976, p.68)
O resultado do pós-guerra foi uma Europa dividida , graças à fragmentação dos
Impérios Austro-húngaro e Turco. As novas nacionalidades buscaram auxílio de uma ou
outra potência para conseguirem se estabelecer, que depois da derrota da Alemanha e
Rússia – bem como outros impérios – sentiram o vácuo no poder.
Em 1919 os beligerantes se reuniram em Paris para estabelecer as condições pós-
guerra. As decisões foram encabeçadas pelo presidente Wilson dos EUA, pelo presidente
da França Georges Clemenceau e pelo primeiro-ministro britânico David Lloyd George. As
principais decisões versaram acerca do Tratado de Versalhes firmado com a Alemanha, da
independência da Bélgica e da restituição da Alsácia e da Lorena à França. Além disso, a
Alemanha foi pressionada a assinar uma cláusula de culpabilidade, bem como forçada a
pagar valores de restituição. Não apenas isso, a Alemanha perdeu todas as suas possessões
coloniais e cidadãos perderam suas propriedades no exterior. Quanto ao exército, os alemães
tiveram-no restrito a 100 mil homens e tiveram proibidas as artilharias pesadas.

UNIDADE III A
Imperialismo
Crise do Capitalismo
e Nacionalismo 38
Uma das consequências mais visíveis da guerra foi o fortalecimento das paixões
nacionais:
As mobilizações das massas e as perdas, as violentas paixões levantadas
pelo massacre de dez milhões de homens, a prolongada tensão de um
esforço de guerra demorado, a partilha das mágoas na adversidade, e do
triunfo na vitória, tudo conspirou para atormentar os espíritos dos homens
com orgulho nacionalista e fervor patriótico. Em cada país, o inimigo era
apresentado como bestial, inescrupuloso e completamente dominado pelo
ódio. (THOMSON, 1976, p. 76-77)

No pós-guerra os países europeus se encontraram em dificuldades financeiras.


Procurando pagar seus débitos de guerra, o padrão de vida dos europeus sofreu mudanças
bruscas. Isso fez com que fosse deslocado o centro da economia mundial, esse cenário
veio ao encontro da rápida expansão industrial dos EUA. A Europa nunca mais se recuperou
em comparação aos áureos tempos antes de 1914. A guerra deixou baixas não apenas
demográficas e econômicas, mas mudou integralmente a forma de fazer guerra e mostrou
ao mundo que conflitos dessa dimensão eram extremamente perigosos. Não apenas isso,
a primeira guerra colocou em evidência as economias liberais e ditas democratas, mas não
sem concorrência, como veremos a seguir.

1.2 A Revolução Russa


Como vimos, a Rússia saiu da Grande Guerra após conflitos internos. A realidade
é que a Rússia via apenas perdas e doze anos antes já havia eclodido uma revolta
contra o czar, após a derrota do país contra o Japão. O movimento foi dissolvido, mas
algumas concessões foram feitas, como a constituição de uma assembleia representativa.
Entretanto, o governo do czar permanecia despótico e corrupto, gerando desconfiança de
todas as classes sociais. Foi quando em 12 de março de 1917 o governo do czar Nicolau II
foi deposto e, então, discutia-se qual tipo de governo deveria ser estabelecido. Mas antes
precisamos falar sobre as condições que levaram à eclosão da Revolução.
Diferentemente da Europa ocidental, a Rússia permanecia praticamente agrária,
baseando-se em um regime feudal. A classe média russa não havia se desenvolvido e ido
para o espectro político. Em suma, o país vivia uma estagnação econômica e autonomia
política e econômica de uma burguesia era praticamente nula. Com isso, não houve chances
para que as ideias liberais penetrassem, como havia acontecido na Europa. (HILL, 1977)
A pequena industrialização russa foi motivada pela entrada de capital estrangeiro,
o que gerou também uma relativa massa operária.

UNIDADE III A
Imperialismo
Crise do Capitalismo
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Rapidamente, a classe operária mal paga e em horríveis condições de vida e de
trabalho, tomou consciência de si, da importância da coletividade, da organização e da
possibilidade e da necessidade de uma convulsão social que desembocaram na Revolução:
Ao contrário da classe média, o proletariado russo assimilava do Ocidente
uma ideologia que ainda não esgotara a própria vitalidade. A revolução de
1848 e a Comuna de Paris de 1871, juntamente com os escritos de Marx e
Engels, mais a experiência política dos partidos da Segunda Internacional,
criaram um corpo de doutrina socialista trabalhadora. (HILL, 1977, p. 18)

Por que ideias socialistas encontraram terreno fértil em um país que sequer havia
passado pela industrialização de fato? Diferente da Inglaterra ou da França onde as demandas
dos trabalhadores eram absorvidas pelas ideias reformistas dos liberais, na Rússia não
vigorava essa tradição e muito menos havia esperança que houvesse mudanças por meio
constitucionais. Desde o início, os líderes do movimento proletário acreditavam que era
necessária uma ruptura violenta com o regime vigente e o que dizia o Manifesto Comunista,
de Marx e Engels representava uma verdade para os trabalhadores. (HILL, 1977)
Um governo como o do czar, por um período de tempo, quando a extensão
do país não permitia a comunicação pelo extenso território, serviu como elemento
centralizador. Mas, com a invenção do telégrafo e do trem a vapor, a existência desse
poder centralizador representado pelo czar começou a se mostrar obsoleto. Apesar disso,
Nicolau II continuava insistindo em seu direito divino para governar e em recusar qualquer
interferência em seu governo absolutista.
Portanto, segundo Hill (1977, p. 21), a razão fundamental para a Revolução foi
a “incompatibilidade entre o regime czarista e as exigências da civilização moderna”. A
Grande Guerra veio acelerar a crise, pois os conflitos anteriores que acabaram deflagrando
a Grande Guerra, como o embate com o Japão em 1905, trouxeram não apenas a
derrota, mas também geraram insatisfação com um governo ineficiente e corrupto. O que
se desenrolou na Revolução de 1905, que instituiu a Duma, uma espécie de assembleia
legislativa, com representantes eleitos pelo povo.
O ano de 1906 foi decisivo, na medida em que o czar prometera que nenhuma
decisão seria tomada sem antes passar pela Duma de Estado. Contudo, Nicolau II recebeu
um empréstimo voluptuoso de banqueiros franceses e a partir disso, acreditou que poderia
ignorar a Duma. (HILL, 1977).

UNIDADE III A
Imperialismo
Crise do Capitalismo
e Nacionalismo 40
A guerra criou uma situação delicada para a Rússia e para o czar, na medida
que as tropas avançavam elas ficavam sem os suprimentos básicos. O que colocava em
cheque a eficiência do imperador em prosseguir no conflito e fazia com que os aliados,
como a Inglaterra e a França apoiassem a Duma para pressionar o czar a liberar as
forças improdutivas do país. Além disso, “em 1916 os juros e reservas da dívida do
Estado ascendiam a muito mais que toda a receita, metade devia-se a bancos e governos
estrangeiros, e a dívida externa aumentava rapidamente. (HILL, 1977, p. 24).
O jovem Vladimir I. Lenin, aos vinte cinco anos, no programa do Partido Social-
Democrático, até então inexistente, advogava pela união dos trabalhadores frente ao
capitalismo. Como já dissemos, boa parte da industrialização do país era devida ao capital
estrangeiro. Para Lênin os capitalistas encontraram na Rússia um governo solicito, uma
massa de trabalhadores desorganizados e um padrão de vida reduzido, gerando ainda
mais lucros. Mas isso estava prestes a mudar, já que o investimento estrangeiro e o
desenvolvimento do capitalismo tardio, criava condições para uma revolução contra o czar.
Por outro lado, o czar e as demais potências estavam prontos para uma revolução
burguesa em território russo, de caráter parlamentarista, no entanto, não foi isso o que
aconteceu:
Mas os interesses dos capitalistas nativos e dos investidores estrangeiros coin-
cidiram tarde. Por esse tempo o movimento proletário já evoluíra a um
ponto em que estava apto a pôr de lado o frágil governo liberal, de tão
pouca base social na Rússia quanto o governo czarista em seus dias derra-
deiros; e com o advento dos bolcheviques, em novembro de 1917, saíram da
cena juntos o capitalismo russo e o estrangeiro. (HILL, 1977, p. 25, grifo nosso)

Para Lenin, a lei fundamental da revolução para a Revolução não era apenas que
as classes oprimidas tomassem consciência de sua exploração e exigissem mudanças,
mas também que os opressores não tivessem meios para viver como antes. Daí por diante
era preciso criar uma classe trabalhadora consciente e capaz de dar a própria vida pela
Revolução. (HILL, 1977)
Neste contexto, havia uma forte aliança entre o Estado e a Igreja Ortodoxa. O
governo de Nicolau II lutava para que qualquer pensamento dissidente fosse calado. A
Igreja, por sua vez, convocava confissões de clérigos e fiéis para colher informações para
o Estado, além de promover conversões forçadas, perseguições às pessoas, chegando a
afastar filhos de pais. Isso fazia com que aqueles que sofreram tais tipos de perseguições,
logo enfileiram-se pela revolução e pela liberdade de crença. (HILL, 1977).

UNIDADE III A
Imperialismo
Crise do Capitalismo
e Nacionalismo 41
Depois do estopim da guerra em 1914, em São Petersburgo, inflamou-se um
movimento grevista, que clamava por maiores salários em vista da alta de preços. O salário
subiu nos quatro anos que se seguiram, mas não acompanhou o aumento vertiginoso de
preços. A guerra começou a ser vista como mero capricho do czar em face das milhares de
vidas perdidas e da situação econômica delicada, enquanto que a Rússia somava derrotas
nos campos de batalha.
O cenário já estava crítico quando Rasputin – místico influente na família de Nicolau
II – foi assassinado por um membro da Duma. Três meses depois, o governo autocrático
foi derrubado “por um movimento de massa quase espontâneo, de operários e soldados,
Petrogrado, movimento que ninguém jamais reivindicou o mérito de tê-lo organizado.”
(HILL, 1977, p. 33). A partir daí, foi organizado um Governo Provisório, com integrantes dos
partidos liberais, que eram maioria na Duma, que prometeu:
[...] liberdade de opinião, de imprensa, de reunião e de associação; direito
de greve; extinção de todos os privilégios nacionais e de classe; organização
de uma milícia popular com oficiais eleitos; eleição para a criação de órgãos
regionais de governo e uma Assembléia Constituinte, por sufrágio universal,
igualitário, direto e secreto. (HILL, 1977, p. 33)

Isso foi em março de 1917 e obteve a simpatia dos aliados da Rússia, que temiam
que o pior acontecesse depois da saída do país da guerra. As massas clamavam por
revolução e liberdade e para Hobsbawm (2005, p. 67) “o feito extraordinário de Lenin foi
transformar essa incontrolável anárquica popular em poder bolchevique”.
Com a notícia da abdicação do czar, os exilados que viviam na Suíça puderam
voltar, dentre eles Lenin. Mas quem foi Lenin? Lenin nasceu em 1870 em Simbirsk e era
filho de professores de classe média, intelectualmente esclarecidos. Teve uma educação
normal primária, mas ao chegar na faculdade foi expulso por participar e encabeçar motins.
Dali por diante, esteve na mira policial e teve negado diversos pedidos de ingressar em
universidades. Só conseguiu fazê-lo em anos mais tarde e em 1891 se formou como o
primeiro da classe de Direito. Depois disso, Lenin exerceu a advocacia como assistente
de um advogado liberal. (HILL, 1977)
Mais tarde, em 1887, esboçou a vontade de se tornar um revolucionário profissional
a amigos. Já realizava leituras como O Capital de Marx e fazia parte de grupos de estudos
marxistas. Em 1893 uniu-se a um grupo de marxistas que fazia contato com trabalhadores
em fábricas. A esta altura, Lenin havia construído uma reputação com teórico, ele escrevia
panfletos, que eram distribuídos aos operários. Em seguida, Lenin e seus companheiros
foram presos, o líder bolchevique ficou um ano na cadeia e foi mandado para o exílio.
Quando voltou à Rússia em 1917 foi aclamado chefe do Partido Bolchevique.

UNIDADE III A
Imperialismo
Crise do Capitalismo
e Nacionalismo 42
Quando o governo do czar caiu, além do governo provisório, surgiu uma série de
conselhos das mais variadas vertentes, os social-democratas bolcheviques e os social-
revolucionários, os mencheviques. Contudo, as massas não sabiam muito bem o que
significavam todos estes rótulos e não pretendiam estar sob o controle de qualquer tipo de
autoridade. A reivindicação das massas pobres era o pão, dos operários melhores condições
de salário e trabalho e da maioria da Rússia – 80% agrária – era a terra, assim como
desejava-se o fim da guerra. Logo o slogan “Pão, paz e terra”, dos bolcheviques, ganhou
popularidade. Vemos, portanto, que os bolcheviques se apropriaram de insatisfações
populares e as incorporaram em seu programa.
O Governo Provisório, por outro lado, não soube reconhecer o que levava a Rússia
a não obedecer as leis e os decretos. As suas pautas como tentar estabelecer uma disciplina
de trabalho, radicalizou os trabalhadores ainda mais; a sua tentativa de retornar a guerra
deu lugar a deserção dos soldados. Enquanto isso, os bolchevistas cresciam em número e
em dimensão, penetrando não apenas nas fábricas, mas também no exército, com isso, de
acordo com Hobsbawm (1995, p. 68) “o Governo Provisório tornou-se cada vez mais irreal”.
Os bolcheviques tomaram o poder, através daquela que ficou conhecida como
Revolução de Outubro em 1917. A pergunta era se o bolchevismo era capaz de governar
um país em face da anarquia, o próprio Lenin debruçou-se sobre o problema. Com a ideia
central de “Todo poder aos sovietes”, que eram conselhos operários deliberativos, os
bolcheviques continuaram no poder. (HOBSBAWM, 1995)
Hobsbawm (1995) argumenta que existem três motivos centrais, pelos quais a
Rússia Soviética teria sobrevivido: 1) A existência de um partido único, o Partido Comunista,
em caráter centralizado e organizado. 2) Se mostrou a única opção de governo viável, já
que a Rússia não tinha uma longa tradição liberal. 3) Por fim, este governo permitiu ao
campesinato tomar a terra.
Com isso, a Revolução Russa pôs em xeque as aspirações de um globo uniformemente
liberal. Representando para o mundo, um perigo e uma esperança, na medida em que
governos liberais ocidentais temem revoltas similares em seus territórios e uma esperança
para os socialistas de todo mundo. Seja por um socialismo de caráter mundial, como queria
Lenin, que morreu cedo em 1922, ou por uma URSS centralizada e forte como apregoou
Stálin, o seu sucessor, a Revolução marcou para sempre o mundo contemporâneo.

UNIDADE III A
Imperialismo
Crise do Capitalismo
e Nacionalismo 43
2. A TENTAÇÃO TOTALITÁRIA: A ASCENSÃO DOS FASCISMOS

O Fascismo foi produto típico do século XX, um movimento de massas antiesquerdista,


antidemocrático e ultranacionalista tomou conta de partes da Europa e, até mesmo, influenciou
outras regiões do mundo. A palavra fascismo remete a um feixe ou maço em termos italianos
ou, até mesmo, de forma mais remota, ao termo latino fasces, que era um machado “cercado
por um feixe de varas que era levado diante dos magistrados, nas procissões públicas romanas,
para significar a autoridade e a unidade do Estado”. (PAXTON, 2007, p. 14)
Oficialmente, o fascismo nasceu em Milão, em um domingo, 23 de março de
1919. Naquela manhã, pouco mais de cem pessoas, entre elas veteranos de
guerra, sindicalistas que haviam apoiado a guerra e intelectuais futuristas,
além de alguns repórteres e um certo número de curiosos, encontram-se na
sala de reuniões da Aliança Industrial e Comercial de Milão, cujas janelas se
abriam para a Piazza San Sepolcro, para “declarar guerra ao socialismo (...)
em razão deste ter-se oposto ao nacionalismo”. Nessa ocasião, Mussolini
chamou o seu movimento de Fasci di Combattimento, o que significa,
aproximadamente, “fraternidades de combate”. (PAXTON, 2007, p. 16)

Meses mais tarde, após este episódio, surgiu o programa fascista. Uma curiosa
mistura entre nacionalismo e experimentos radicais, numa espécie de “nacional-socialismo”.
Do lado nacionalista, o programa visava a expansão da Itália sobre a região dos Bálcãs,
mas também pregava o sufrágio feminino, o voto aos dezoito anos de idade, uma nova
constituição para a Itália, jornada de oito horas diárias, participação dos trabalhadores
na administração das fábricas, confisco de determinados bens da Igreja e a expropriação
parcial de todos os tipos de riqueza. (PAXTON, 2007)

UNIDADE III A
Imperialismo
Crise do Capitalismo
e Nacionalismo 44
O movimento comandado por Mussolini também se caracterizava pela violência e
pelo caráter anti-intelectual. Enfim, estavam articulados veteranos de guerra, sindicalistas
pró-guerra e os chamados “intelectuais futuristas”. Mas quem eram esses grupos, por que
estavam ao lado de Mussolini na agenda fascista? Primeiro, os sindicalistas estiveram
lado a lado a Mussolini para levar a Itália à Primeira Guerra em 1915, estes eram rivais
do socialistas parlamentares, pois enquanto estes últimos lutavam por reformas pontuais
que levariam a obsolescência do capitalismo, seguindo a linha marxista. Os sindicalistas,
ao contrário, acreditavam que poderiam derrubar o capitalismo pela sua força de vontade,
derrubando o capitalismo num só golpe. No contexto da entrada na Primeira Guerra
Mundial, alguns sindicalistas acreditaram, junto com Mussolini, que o ingresso da Itália
na Guerra faria com que essa se aproximasse a uma revolução social. Assim, nasceram
os chamados “sindicalistas nacionais”.
Os intelectuais futuristas, por sua vez, eram uma associação de jovens escritores
e artistas que apoiavam os “Manifestos Futuristas” de Marinetti. Os seguidores de Marinetti
se opunham ao legado histórico dos museus e bibliotecas e se voltavam para a exaltação
da velocidade e da violência, enquanto elementos libertários. Outra corrente que apoiou
Mussolini se manifestou sobre aqueles que acreditavam no segundo ressurgimento italiano e
faziam duras críticas ao parlamentarismo, que deixara a Itália numa posição subalterna. Estes
sonhavam com uma “Grande Itália” e um novo Estado, com “líderes enérgicos, cidadãos
motivados e a comunidade nacional unida como a Itália merecia”. (PAXTON, 2007, p. 19)
O fascismo irrompe na Itália não apenas com atos de violências para com jornais
socialistas, mas também contra a “legalidade burguesa”, em nome de um suposto bem
maior. Foi na Itália que o fascismo começou e recebeu o seu nome, mas ao mesmo tempo,
em outras partes do mundo, nasciam movimentos nacionalistas, anti capitalistas, anti
socialistas, que usavam de violência ativa contra os inimigos. (PAXTON, 2007).
A retórica anticapitalista, porém, não durou muito, diferentemente da perseguição
aos comunistas, que seguiu firme. Chegando ao poder, o governo fascista proibiu as
greves, acabaram com os sindicatos independentes, reduziram o poder de compra do
trabalhador e inflaram a indústria armamentista, para deleite dos patrões. A crítica do
fascismo acerca do capitalismo em nada tinha a ver com a exploração, como faziam os
comunistas. Eles criticavam a indiferença com a nação e a incapacidade de mobilizar
indivíduos em volta dela.

UNIDADE III A
Imperialismo
Crise do Capitalismo
e Nacionalismo 45
É importante salientar que no regime fascista a relação entre Estado e indivíduo
foi redemolada. Há uma tentativa de fazer com que o interesse individual inexista e este só
pode ganhar corpo à medida que corrobora com a coletividade, representada pelo Estado
e seus símbolos.
Em seu desenvolvimento máximo [o fascismo] redesenhou as fronteiras
entre o público e o privado, reduzindo aquilo que antes era intocavelmente
privado. Transformou a prática da cidadania, do gozo dos direitos e deveres
constitucionais à participação em cerimônias de massa de afirmação e
conformidade. Reformulou as relações entre indivíduo e coletividade, de
forma a que um indivíduo não tivesse qualquer direito externo ao interesse
comunitário. (PAXTON, 2007, p. 28)

Nesta busca pelo controle total, há a ampliação dos poderes do executivo. Há de


se considerar que o fascismo requer a figura de um grande líder, porém, é necessário,
segundo Paxton (2007) desmistificar a noção de que este agia sozinho. Mussolini, assim
como outros líderes fascistas, contavam com o suporte do judiciário, da polícia, do exército,
bem como das elites conservadores para poder governar. Desse modo, atribuir a culpa
essencialmente ao líder é errôneo, já que a ascensão do fascismo contou com apoio de
parte da população e das instituições.
Antes de se tornar um regime, que vigorou no período entre guerras, o Fascismo
foi um movimento, depois transformou-se em partido, para logo em seguida se firmar
enquanto regime. É importante dizer que, após a Primeira Guerra, vários países viram
nascer movimentos de caráter totalitário, nem todos foram para frente. Nesse sentido,
Mussolini foi pioneiro em conseguir êxito na implantação do fascismo. Colocava-se de início
quase como um anti-partido, rejeitando o socialismo, o liberalismo, era também a soma de
várias queixas heterogêneas de vários grupos sociais. No entanto, ao chegarem ao poder
tiveram que abrir do espectro “anti”, tornando claras as suas prioridades. (PAXTON, 2007).
Para alcançar êxito na arena política era necessário mais do que esclarecer prio-
ridades e tecer alianças. Era preciso também um novo estilo político que atraísse
eleitores que haviam chegado à conclusão que a política havia-se tornado suja
e fútil. Posar de “antipolítico” muitas vezes funcionava com pessoas cuja grande
motivação política era o desprezo pela política. (PAXTON, 2007, p.106)

Mas como os fascistas chegaram ao poder? Ao longo de 1922, os squadristi


- grupo armado paramilitar absorvido pelos fascistas e conhecidos como Camisas Negras -
passaram de saques e ataques às sedes socialistas jornais, para ações em cidades inteiras,
tomando o poder local.Tomando várias cidades, a meta não poderia deixar Roma. Os
Camisas negras tomaram pontos estratégicos de Roma como prédios públicos, estações
ferroviárias e agências dos correios.

UNIDADE III A
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Crise do Capitalismo
e Nacionalismo 46
O governo italiano não estava preparado para lidar com essa ofensiva, na verdade
este era quase que sumariamente inexistente devido à um parlamento extremamente
heterogêneo. Anteriormente, em 1921, o primeiro-ministro italiano não viu outra saída a
não ser incluir os fascistas nas eleições de maio daquele ano. (PAXTON, 2007)
Os camisas negras, apesar das tentativas em os interceptar do governo italiano,
chegaram a Roma, estavam maltrapilhos, com pouca água e comida. Nesse ínterim, Mussolini
se apresenta ao monarca Vittorio Emmanuel III com uma proposta difícil: ou o governo italiano
fazia frente aos camisas negras ao custo de considerável derramamento de sangue ou fazia
de Mussolini o Chefe de Estado. O Rei escolhe a segunda opção. Os motivos para tal são
de ordem especulativa. Dizia-se que o monarca fora aconselhado por um Marechal que caso
ordenasse que as tropas incidissem sobre os fascistas corria-se o risco de que estes se
juntassem aos camisas negras. Assim, Mussolini foi direcionado ao poder após este episódio
que ficou conhecido como Marcha sobre Roma. (PAXTON, 2007).
Diante de uma sociedade fragmentada, bipolarizada, com problemas econômicos
e políticos, os fascistas chegaram ao poder oferecendo um novo programa político, ainda
que em sua prática continuassem com o apoio dos conservadores. De acordo com Paxton
(2007), podemos destacar alguns pontos centrais acerca da retórica fascista:
1. Noção de crise catastrófica, a qual as soluções tradicionais não podem resolver.
2. Entendimento de que há uma primazia do grupo, na qual os deveres são
superiores a qualquer direito, universais ou individuais.
3. Crença de que o próprio grupo é sempre vítima, legitimando ações ilimitadas
contra os supostos inimigos.
4. Medo da decadência do grupo frente à concepções liberais individualistas, de
influências estrangeiras ou mesmo de conflitos de classe, ou seja, qualquer agente
que possa desintegrar o grupo.
5. Necessidade da figura de um líder, sempre homem, capaz de sumarizar o destino
histórico do grupo.
6. Concepção de que os instintos do líder se sobrepõem a qualquer razão abstrata
ou universal.
7. Exaltação da violência como forma de êxito do grupo
8. Visão de que o povo eleito deve dominar os demais, independente do que diga a
lei humana, entendendo que o mais “forte” deve se sobressair aos demais.

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Imperialismo
Crise do Capitalismo
e Nacionalismo 47
Tais características são próprias do fascismo, que se estendeu a outros países,
como foi o caso da Alemanha de Hitler. É importante pontuar que o Nazismo alemão,
conforme compreende Paxton (2007), faz parte do espectro Fascista, ainda que em seu
seio possua características próprias, conforme veremos mais adiante.

SAIBA MAIS

Fascismo de esquerda?

Recentemente emergiu no debate público um suposto fato de que o Fascismo seria


um movimento ideológico de esquerda. Alguns autores como Paxton (2007) preferem
dizer que não é possível situar o Fascismo sob espectros políticos de esquerda ou
de direita. O autor defende que, ao mesmo tempo, que havia uma forte perseguição
contra os socialistas e comunistas, os fascistas se declaravam antiliberais e contrários
aos valores da burguesia. Entretanto, os historiadores, como Bertonha (2013), tendem
a concordar que Mussolini e seus seguidores se desvencilharam de ideais socialistas –
que guiavam o chefe de Estado fascista no início da carreira – e abraçaram o capitalismo.
Ainda segundo Bertonha (2013), baseado nas definições conceituais de Bobbio,
existem algumas diferenças fundamentais entre esquerda e direita. A primeira delas é
que enquanto a esquerda busca desconstruir o status quo, a direita tende a mantê-lo.
Além disso, nas acepções do campo da direita, há a manutenção da desigualdade, da
hierarquia e da ordem. Considerando essas características, e também pelo fato que
o regime Fascista nunca concretizou suas promessas anticapitalistas – muito pelo
contrário – pode-se dizer que o movimento fascista aproximou-se de fato mais da
direita do que da esquerda propriamente dita.

Fonte: BERTONHA, 2013; PAXTON, 2007.

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e Nacionalismo 48
3. O NAZISMO DA ALEMANHA

Como já pontuamos, alguns pesquisadores do Fascismo compreendem o caso


italiano e a questão alemã como fenômenos próximos. Entretanto, outros autores como
Vincent (1995), contribuem para a discussão ao pontuar diferenças centrais entre os
regimes. Para ele, a diferença mais óbvia é a questão racial e a noção de espaço vital -
Lebensraum - apregoada pela Alemanha nazista, enquanto que na Itália de Mussolini isso
não chegou a ser uma questão relevante de fato.
É de conhecimento geral que o Nazismo foi o responsável por um dos maiores
massacres e perseguição ao povo judeu. Após o fim da Segunda Guerra, o mundo assistia
estupefato aos julgamentos dos líderes nazistas, se perguntando como e porquê aqueles
homens relativamente comuns se envolveram ativamente no extermínio de pessoas.
Um caso em particular, estudado por Arendt (2012) e Elias (1997), foi o julgamento de
Eichmann, um burocrata do regime, responsável por deportar judeus para os campos de
concentração. A simplicidade do homem, sua vida comum cotidiana, levam a Arendt (2012)
analisar que sobre o governo hitlerista, a sociedade estava calcada em uma “banalidade
do mal”, conceito filosófico, situado na compreensão de que o pior mal é aquele que se
reverbera no cotidiano. Esse conceito é fundamental para entender como o nazismo pôde
se manter no poder e serve como ponto de inflexão para entender como um país referência
na filosofia, industrializado e com pessoas “civilizadas” se entregou a tais níveis de barbárie.

UNIDADE III A
Imperialismo
Crise do Capitalismo
e Nacionalismo 49
Antes de compreender como Hitler chegou ao poder, precisamos nos debruçar
sobre os antecedentes históricos da Alemanha. No contexto de unificação do Estado
alemão na segunda metade do século XIX, temos a figura de Bismarck, líder considerado
forte e responsável por instaurar o Segundo Reich. Bismarck procurou germanizar as
minorias, que estavam em território alemão, seja impondo a língua alemã nas escolas ou
mesmo incentivando a ocupação destes territórios por alemães. Entretanto, os sucessores
de Bismarck viram que vários problemas não haviam sido sanados. além da persistências
de povos não-germânicos - o que era mal visto pela maioria da população germânica -
os alemães se sentiam como país de segunda classe em comparação com os ingleses
e franceses, donos das melhores tropas e melhores possessões ao redor do globo. Às
vésperas da Primeira Guerra, a Alemanha já havia se militarizado e o sentimento nacionalista
estava mais exacerbado do que nunca. (EVANS, 2010).
Outro ponto que merece atenção é a questão racial. Por que o sentimento an-
tissemita se instalou no seio da sociedade alemã? Certamente, Hitler e seus apoiadores
encontraram elementos históricos que permitiram que essa minoria - correspondente a
quase 1% da população - fosse perseguida e o sentimento de ódio fosse legitimado. Evans
(2010) explica que muitos judeus conseguiram certo êxito econômico ao se dedicarem a
atividades que exigiam qualificação, ligadas à modernidade e à intelectualidade. Tal êxito
fez com que muitos alemães ficassem ressentidos, já que dentre todas as minorias étnicas,
os judeus foram os únicos que alcançaram um melhor status econômico. Em 1873 houve
uma profunda crise econômica mundial que afetou muitos trabalhadores alemães que,
em sua incompreensão sobre a estrutura que os afetava e inflados por jornais católicos e
conservadores, logo culparam os judeus pela sua derrocada.
O antissemitismo tradicional enfocava a religião não cristã dos judeus e
obtinha seu poder política da sanção bíblica. O Novo Testamento culpava
os judeus pela morte de Cristo, condenando-os à desaprovação eterna ao
declarar que de bom grado haviam concordado em deixar o sangue de
Cristo ser derramado sobre eles e seus descendentes. Como uma minoria
não cristã em uma sociedade governada por crenças cristãs e instituições
cristãs, os judeus eram alvos óbvios e fáceis de ódio popular em tempos de
crise [...] (EVANS, 2010, p. 36)

É, portanto, de suma importância entender que mesmo antes de Hitler alançar


o poder, já havia na sociedade alemã um discurso, alimentado desde o século XIX,
antissemita estruturado. O antissemitismo levou a criação de associações, foi tópico de
agendas políticas e procurou se legitimar na esfera pública. Ainda no século XIX uma parte
dos judeus foram para os EUA, fugindo da perseguição, no entanto uma boa parte ficou
residindo em guetos. Alguns agitadores políticos, diante do contexto da crise econômica,
culparam os banqueiros judeus pela situação, movimentando massas ao eleger um
culpado pelos problemas do país.

UNIDADE III A
Imperialismo
Crise do Capitalismo
e Nacionalismo 50
A perseguição aos judeus passou de uma interpretação bíblica, que os considerava
assassinos de Cristo e se transformou em em uma questão racial. Via-se o povo germânico
racialmente superior ao povo judaico.
Tomando emprestadas as teorias da moda do racista francês conde Joseph
Arthur de Gobineau, Marr contrastou os judeus não com os cristãos, mas com
os alemães, insistindo que eram duas raças distintas. Os judeus, declarou ele,
haviam adquirido o controle na luta racial e estavam virtualmente comandando
o país; não era de espantar, pois, que os honestos artesãos e pequenos
empresários alemães estivessem sofrendo. Marr foi adiante, inventando a
palavra “antissemitismo” e, em 1879, fundando a Liga de Antissemitas, a
primeira organização do mundo a ter essa palavra em seu nome. Dedicava-
se, como dizia ele, a reduzir a influência judaica na vida alemã. Seu texto
desferia uma nota apocalíptica pessimista. Em seu “Testamento”, ele
proclamou: “A questão judaica é o eixo em torno do qual gira a roda da história
do mundo”, indo adiante para registrar sombriamente sua visão: “Todo nosso
desenvolvimento social, comercial e industrial é construído em cima de uma
visão de mundo judaica.” (EVANS, 2010, p. 37).

Pequenos comerciantes, artesãos, lojistas e fazendeiros camponeses davam apoio à


causa antissemita. Ainda que o partido antissemita tenha perdido boa parte de seu influência,
alguns seus ideais foram incorporados em partidos maiores, tais como o Partido Conservador
e o Partido de Centro. Entretanto, o ódio aos judeus não era exclusividade alemã, mas países
como a França possuía movimentos antissemitas, bem como a Rússia. Para os contemporâ-
neos, a Alemanha era o último lugar onde seria possível um massacre em massa dos judeus.
Isso porque o antissemitismo era uma movimento marginal. (EVANS, 2010).
Na virada para o século XX uma obra que ficou bastante conhecida no país,
intitulada “As fundações do século XIX”, publicada em 1900, sistematizou o antissemitismo:
Nessa obra etérea e mística, Chamberlain retratou a história em termos de
uma luta pela supremacia entre as raças germânica e judaica, os dois únicos
grupos raciais que conservavam a pureza original em um mundo de miscigena-
ção. Contra os germânicos heróicos e cultos eram lançados os judeus cruéis e
mecanicistas, que, desse modo, Chamberlain elevou a uma ameaça cósmica
à sociedade humana, em vez de simplesmente desprezá-los como um grupo
marginal ou inferior. Ligada à luta racial havia uma luta religiosa, e Chamberlain
devotou um bocado de esforços a tentar provar que a cristandade era essen-
cialmente germânica e que Jesus, a despeito de toda evidência, não havia
sido judeu coisa nenhuma. A obra de Chamberlain impressionou muitos
de seus leitores com o apelo à ciência para apoiar seus argumentos; sua
contribuição mais importante a esse respeito foi fundir antissemitismo e
racismo com darwinismo social. (EVANS, 2010, p. 40, grifo nosso).

As ideias de Darwin acerca da seleção natural e a sobrevivência dos mais


aptos, influenciaram uma interpretação social dos modelos biológicos do cientista. Essa
interpretação ficou conhecida como darwinismo social e via a luta pela sobrevivência
como chave de explicação. Em 1900 antropólogo Ludwig Woltmann, sustentou que a raça
germânica estava no ápice da evolução e que por isso estava apta a dominar o mundo.

UNIDADE III A
Imperialismo
Crise do Capitalismo
e Nacionalismo 51
Entretanto, na visão dele, existiam outras raças que estavam impedindo o
crescimento dos alemães. Outro pensador que discorreu sobre a questão racial, baseado no
darwinismo social, foi Ploetz, este argumentou favoravelmente com relação à eugenia, ou
seja, à eliminação dos considerados maculados e um estímulo aos considerados “fortes”,
defendendo inclusive que uma equipe médica deveria assistir aos partos e definir se aquele
ser humano estaria apto para viver ou se seria deixado para morrer. A ideia por trás disso
era a eliminação dos mais fracos e o incentivo, até mesmo a força, para que os “fortes”
procriassem mais, a fim de garantir a eficiência do Estado. Em pouco tempo, estas ideias
foram difundidas na medicina, na assistência social e no direito (EVANS, 2010).
Evans (2010) explica que o antissemitismo e a higiene racial foram os pilares do
nazismo. Em um contexto pós Primeira Guerra, a Alemanha, derrotada, assinou o Tratado
de Versalhes, que lhe impôs perda do poderio e extensão de suas forças militares, além
dos embargos econômicos colocados pelos Aliados, perda de parte dos territórios coloniais
e a aceitação da culpa exclusiva pelo conflito. O sentimento de humilhação após estas
condições era visível em toda a Alemanha.
Tudo isso foi recebido com horror incrédulo pela maioria dos alemães. O
senso de ultraje e incredulidade que varreu as classes média e alta alemãs
como uma onda de choque foi quase geral e teve impacto maciço também
sobre muitos operários apoiadores dos social-democratas moderados. A
força e o prestígio internacionais da Alemanha vinham em curso ascendente
desde a unificação em 1871, de modo que a maioria dos alemães sentiu
de repente que a Alemanha havia sido brutalmente expulsa da categoria
das grandes potências e coberta com o que consideravam uma vergonha
indevida. O Tratado de Versalhes foi condenado como uma paz ditada,
imposta de forma unilateral sem possibilidade de negociação. O entusiasmo
que muitos alemães de classe média haviam demonstrado pela guerra em
1914 virou um ardente ressentimento quanto aos termos da paz quatro
anos depois. (EVANS, 2010, p.60)

Evans (2010) aponta que se não fosse o cenário caótico do pós-Guerra e após
assinatura do Tratado de Versalhes, a figura de Hitler jamais teria relevância política. Hitler,
que era austríaco, foi um artista frustrado, que não conseguiu ingressar na Academia
Vienense de Artes, com a justificativa de que este ficaria melhor como arquiteto. Hitler
mudou-se para a capital e passou a viver uma vida boêmia, vivendo da venda de pequenos
quadros, na maior parte réplicas, e alojado em um abrigo para homens. Envolto no espírito
de sua época, Hitler passou a ter contato com jornais antissemitas. Até esse ponto seu
antissemitismo era abastrado, contudo, ganhou formas após o fim da Primeira Guerra.
Em sua autobiografia, Minha Luta de 1925, fica claro que o seu ódio não era
direcionado apenas aos judeus, mas também aos marxistas.

UNIDADE III A
Imperialismo
Crise do Capitalismo
e Nacionalismo 52
Por vezes, Hitler associa a figura do judeu com o marxismo, colocando a
responsabilidade do caos da nação nestes indivíduos. Além disso, Hitler conservava um
desprezo pelo Estado e pela Lei, dirigindo suas críticas ao parlamentarismo, entendendo
que apenas um líder forte poderia salvar o povo germânico.
Depois de partir para a Alemanha, onde se sentia em casa, pois estava distante
da cosmopolita cidade de Viena, Hitler ficou entusiasmado com a declaração da guerra em
1914. Ainda que não fosse alemão, foi recrutado para o conflito e sentiu-se alegre com a
oportunidade de lutar pelo o que se acreditava. Atuou como mensageiro e foi promovido
a cabo até sofrer um ferimento de guerra e precisar se afastar do fronte. Enquanto se
recuperava ficou sabendo da derrota alemã e do armistício. (EVANS, 2010).
Cabe lembrar que após a derrota na guerra foi instaurada a República Weimar,
de caráter democrático e com uma nova constituição. No entanto, estes tinham que lidar
com as consequências da guerra. Já que o número de mortes por habitante ultrapassou
a marca de qualquer outro país beligerante, deixando viúvas e filhos órfãos. Além disso,
mais de dois milhões de soldados voltaram com ferimento permanentes e faziam pressão
num Estado que já estava em uma complicada situação econômica. Assim, o pagamento
de pensões, seguro-desempregos e outros custos previdenciários aumentou muito. Para
tentar sair desta situação, o Estado passou a imprimir mais dinheiro, o que fez com que a
inflação aumentasse vertiginosamente. (EVANS, 2010).
Sob a República Weimar, os judeus gozaram de certa estabilidade, podiam ocupar
cargos públicos e os jornais mais vendidos pertenciam a judeus. De fato, estes apoiavam
a República, garantindo os votos aos democratas, ainda que vissem o antissemitismo
crescer. Depois da guerra, os judeus passaram a ser responsabilizados pelas imposições
do Tratado de Versalhes, bem como acusados de se envolverem com o Partido Comunista,
implantando a República. (EVANS, 2010).
Hiperinflação, desemprego, violência urbana assolavam a Alemanha pós- guerra.
Além disso, havia a questão política, grande parte dos alemães estavam engajados
politicamente, o que pode ser verificado na alta de participações nas eleições. Havia
também a crença de que a sociedade alemã estava corrompida moralmente, isso tanto
na direita como na esquerda, os quais ficavam chocados com o hedonismo dos jovens na
capital e também com a luta das mulheres pelo sufrágio feminino - o qual foi conquistado
depois de 1918. (EVANS, 2010).

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Imperialismo
Crise do Capitalismo
e Nacionalismo 53
Considerando o contexto alemão do período pós guerra, nos debruçamos a pensar
em algumas questões, dentre elas: como Hitler e o partido nazista chegaram ao poder?
Evans (2010) aponta que Hitler foi produto das circunstâncias, entrou em contato com as
ideias de Schonerer, que considerava que o crescimento do povo germânico tinha como
obstáculo a mistura das raças. Ainda assim, Hitler não se considerava com o potencial
de liderança, pelo menos até 1914, mas um ano após a derrota em 1919, lançou-se, pela
influência do exército, em cursos de instrução política: “Os cursos que Hitler frequentou
destinavam-se a arrancar quaisquer sentimentos socialistas remanescentes nas tropas
regulares da Bavária e doutriná-las com as crenças de extrema direita.” (EVANS, 2010,
p.119). Hitler assimilou de tal forma o que era ensinado, que logo em seguida foi chamado
para ser instrutor, foi ali que descobriu sua habilidade com oratória, destacando-se por
conseguir se comunicar com homens comuns, bem como destacava-se pelo veemente
antissemitismo.
Nesta altura, Hitler era considerado agente político do exército. Assim, foi
convocado para averiguar do pequeno, até este momento, Partido dos Trabalhadores
Alemães. Seu fundador Anton Drexler era contrário ao capital indevido, atribuía os males
dos trabalhadores alemães aos judeus e se voltava contra o bolchevismo. Pouco depois,
Hitler pediu para se filiar ao partido:
Hitler, ainda encorajado pelos oficiais superiores do Exército, rapidamente
tornou-se o orador de destaque do partido. Ele usou seu sucesso como base
para instigar o partido a realizar reuniões públicas cada vez maiores, grande
parte delas em cervejarias, anunciadas com antecedência por campanhas
com cartazetes e frequentemente acompanhadas por cenas de desordem.
No final de março de 1920, agora indispensável para o partido, decidiu com
convicção que aquela seria sua futura atividade. A demagogia havia lhe
restituído a identidade perdida com a derrota alemã. Deixou o Exército e se
tornou um agitador político em turno integral. (EVANS, 2010, p.120)

Com isso, as reuniões do partido foram ficando cada vez maiores, com Hitler dizendo
às massas exatamente o que queriam ouvir e também com uma linguagem simples e direta.
O agitador político conquistava cada vez mais adeptos, reduzia os complexos problemas
econômicos da Alemanha, as maquinações dos judeus. Considerava que os comerciantes
judeus estavam jogando os preços para cima e, muito provavelmente, para enfatizar tal
posição anticapitalista, o partido mudou de nome para Partido Nacional-Socialista dos
Trabalhadores Alemães, abreviado para “Nazi”.

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e Nacionalismo 54
Contudo, Evans (2010) alerta que seria errôneo classificar, partindo do nome do
partido, como uma forma de socialismo:
É verdade, conforme alguns ressaltaram, que sua retórica frequentemente
era igualitária, sublinhava a necessidade de colocar as necessidades comuns
acima das necessidades do indivíduo, e muitas vezes declarava-se contrária
aos grandes negócios e ao capital financeiro internacional. Também é famoso
o fato de que o nazismo certa vez foi tachado de “socialismo dos tolos”. Mas,
já de saída, Hitler declarou-se implacavelmente contrário à social-democracia
e, de início em muito menor extensão, ao comunismo; afinal de contas, os
“traidores de novembro”, que assinaram o armistício e mais tarde o Tratado
de Versalhes, não foram absolutamente os comunistas, mas os social-demo-
cratas e seus aliados. Os “nacional-socialistas” queriam unir os dois campos
políticos de esquerda e direita pelo fato de que, argumentavam eles, os ju-
deus haviam manipulado a nação alemã. A base para tal seria a ideia de raça.
Isso estava a anos-luz de distância da ideologia do socialismo, baseada nas
classes. Em certos aspectos, o nazismo era uma contraideologia extrema ao
socialismo, tomando emprestada muito de sua retórica no processo, desde
a autoimagem como movimento em vez de partido, até o muito alardeado
desprezo pela convenção burguesa e pela timidez conservadora. (EVANS,
2010, p.121)

Ao trocar a classe, defendida pelos socialistas, por raça, assim como trocar a
ditadura do proletariado pela ditadura do líder, o Partido Nacinal-socialista afastava-se da
ideologia socialista. Ainda sim, usavam elementos do socialismo para atrair seguidores,
um exemplo disso é a bandeira escolhida por Hitler, com um vermelho vibrante, cor do
socialismo, a suástica em preto, que era o símbolo do nacionalismo racista, no centro um
círculo branco. Essas cores fazem menção à bandeira oficial do império de Bismarck.
No final de 1920 a retórica de Hitler contra o capitalismo judaico havia mudado
de figura, colocando no lugar o ódio contra o marxismo. Ainda assim, Evans (2010, p.
122) aponta que “o antibolchevismo de Hitler era produto de seu antissemitismo”. Já nesta
época, Hitler pregava que os judeus jogavam a raça germânica uns contra os outros, dessa
forma deveriam ser exterminados.
Naquele ponto, o Partido Nazista havia conquistado vários adeptos e membros que
foram peça-chave para a elaboração do programa nazista. Dentre os vinte e cinco pontos
do programa estava o desejo de tornar a Alemanha maior, a revogação do Tratado de paz e
pena de morte para especuladores, criminosos comuns e agiotas. Os judeus ficariam sem
nenhum direito político e seriam considerados estrangeiros. Por fim, o programa previa a
criação de um poder centralizado e a substituição do parlamento. (EVANS, 2010).

UNIDADE III A
Imperialismo
Crise do Capitalismo
e Nacionalismo 55
Com um programa de extrema direita e com domínio completo sobre o partido, Hitler
começou sua campanha de propaganda, que deslanchou e logo partiu para a violência.
Sob a anuência de Hitler, jovens nazistas atacavam adversários. Esses episódios eram
recorrentes e o líder nazista foi ameaçado de extradição, no entanto, Hitler acabou preso por
um mês e quando retornou estava novamente envolvido em outras brigas. Tais episódios só
foram possíveis porque a área paramilitar estava cada vez mais forte no Partido.
Com as notícias vindas da Itália acerca da Marcha sobre Roma em 1922, o Partido
Nazista teve suas esperanças renovadas:
O exemplo de Mussolini influenciou o Partido Nazista de várias maneiras,
notadamente na adoção do título de “Líder” – Duce em italiano, Führer
em alemão –, no final de 1922 e início de 1923, para denotar a autoridade
inquestionável do homem à frente do movimento. O crescente culto da
personalidade de Hitler no Partido Nazista, alimentado pelo precedente
italiano, também ajudou a convencer o próprio Hitler de que era ele, e não
algum personagem por vir, que estava destinado a liderar a Alemanha para um
futuro renascimento nacional, uma convicção confirmada de modo indelével
pelos eventos do outono de 1923. A essa altura, os nazistas também haviam
começado a tomar emprestada dos fascistas italianos a saudação com o
braço direito teso e estendido, com a qual cumprimentavam ritualmente seu
líder em uma imitação das cerimônias da Roma imperial; o líder respondia
erguendo a mão direita, com o cotovelo flexionando e a palma para cima, em
um gesto de aceitação. (EVANS, 2010, p.127-128)

Hitler passou a pensar que poderia fazer na Alemanha o mesmo que Mussolini
fez na Itália. Com uma tentativa frustada de golpe em novembro de 1923, que acabou
com cinco anos de prisão para Hitler e um pouco menos para seus companheiros, o líder
nazista aproveitou o tempo em que esteve encarcerado para ler e também para escrever
sua autobiografia, Mein Kampf ou Minha Luta. Neste livro ficou evidente que o conflito racial
era central para Hitler, bem como a conquista do espaço vital, deixando claro que este
desejava a revisão do Tratado de Versalhes. (EVANS, 2010)
Após a tentativa de golpe, tanto os nazistas como seus grupos paramilitares, foram
colocados na clandestinidade, além disso, com o seu líder na cadeia, a tendência do
partido foi se fragmentar. Mais tarde, solto graças a uma liminar, em 1925, Hitler refunda o
Partido Nazista com uma faceta mais autoritária e centralizadora em torno de sua figura.
Quando o adversário político de extrema direita saiu do jogo, Hitler ficou como um forte
proponente deste espectro político.

UNIDADE III A
Imperialismo
Crise do Capitalismo
e Nacionalismo 56
Foi neste período que Joseph Goebbels conheceu o partido nazista:
Em breve, Goebbels tornou-se um organizador do Partido na Renânia. Aprimorou-
se como orador eficiente, talvez o mais eficiente dos locutores nazistas com
exceção de Hitler, lúcido, popular e rápido nas respostas aos apartes importunos.
Começou a voltar seus talentos literários para o uso político em artigos para a
imprensa nazista, dando um efeito pseudossocialista ao credo nazista. Goebbels
enfim havia encontrado seu métier. Dentro de poucos meses, era um dos
oradores nazistas mais populares da Renânia, atraindo a atenção de lideranças
da regional do Partido e começando a desempenhar um papel significativo na
decisão de sua política. Tanto quanto Gregor Strasser, Joseph Goebbels estava
por trás do desafio do norte alemão à liderança do partido de Munique em 1925.
Mas ele também logo começou a cair sob o fascínio de Hitler, entusiasmado por
uma leitura de Minha luta. (EVANS, 2010, p. 139-140)

O Partido Nazista cresceu vertiginosamente, especialmente entre os mais jovens,


conquistando também espaço entre os agricultores do norte da Alemanha, extremamente
insatisfeitos com a República Weimar. Com o apoio de eleitores da zona rural, os nazistas
viram subir o número de cadeiras no parlamento. O Partido passava a se estruturar com
organizações para mulheres, jovens e estudantes, bem como criava, com Himmler, a
SS nazista como um grupo militar de elite dentro do partido. Além disso, cada vez mais
crescia o culto ao líder. (EVANS, 2010)
No contexto da Grande Depressão de 1929, o país sofria ainda mais com a alta do
desemprego, fazendo com que a população desacreditasse nas instituições democráticas.
Perto de 1930 a Alemanha beirava uma guerra civil, o que fazia com que os alemães
procurassem um governo forte, capaz de fazer o país submergir da crise. Na época,
Hindenburg, presidente da República, desejava instalar um governo estável, encabeçado
por conservadores nacionalistas de direita, mas rejeitava a ideia de Hitler como chefe
de governo. Entretanto, influenciado por apoiadores, Hindenburg muda de ideia, ao ser
assegurado de que manteriam Hitler sob controle. Assim, em janeiro de 1933 Hitler é levado
ao cargo de chanceler. Logo mostrou que não poderia ser controlado, quando colocou
suas tropas de elite para perseguir social-democratas e sindicalistas. Pouco tempo depois
estavam instaurados os campos de concentração, onde seus inimigos eram torturados.
Levaram poucos meses para que a República se transformasse em uma ditadura. As
promessas e aspirações de Hitler para Alemanha também foram levadas a cabo. Em breve
Hitler iria encabeçar um conflito que tomou proporções mundiais.

UNIDADE III A
Imperialismo
Crise do Capitalismo
e Nacionalismo 57
4. SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

A Segunda Guerra foi um conflito militar de caráter mundial, que durou de 1939 a
1945. A Guerra envolveu todas as principais potências divididas em duas alianças: o Eixo
e os Aliados. A seguir veremos como o conflito teve início e suas principais características,
bem como descobriremos como a guerra chegou a seu fim.
Conforme vimos na unidade anterior, a Alemanha de Hitler tinha claras pretensões
de expandir seu território, com base na teoria de espaço vital, e também procurava
fortalecer o seu poderio militar. Além disso, outros países tais como a Itália e Japão
estavam dispostos a conquistar territórios. Em 1935 a Alemanha rompeu com os tratados
de paz e começou a ressurgir como potência militar e naval, também saiu da Liga das
Nações. Nesse mesmo ano, Mussolini invadiu a Etiópia, enquanto a Alemanha anexava
a Renânia, com forte apoio da Itália. (HOBSBAWM, 1995).
Alemanha e Itália firmaram um acordo formal, ademais a Alemanha também fazia
aliança com o Japão. Este último já havia invadido parte da China, em uma frente de batalha
que durou até 1945.
Em 1938, a Alemanha também achou que chegara a hora da conquista. A
Áustria foi invadida e anexada em março, sem resistência militar, e, após várias
ameaças, o acordo de Munique em outubro despedaçou a Tchecoslováquia e
transferiu grandes partes dela para Hitler, mais uma vez pacificamente. O resto
foi ocupado em março de 1939, encorajando a Itália, que não tinha demonstrado
ambições imperiais por alguns meses, a ocupar a Albânia. Quase imediatamente
uma crise polonesa, mais uma vez resultante de mais exigências territoriais
alemãs, paralisou a Europa. Disso veio a guerra européia de 1939-41, que se
tornou a Segunda Guerra Mundial. (HOBSBAWM, 1995, p.119).

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Imperialismo
Crise do Capitalismo
e Nacionalismo 58
O que antes era um conflito Europeu transformou-se em um conflito em escala global.
Eventos de caráter regional como a invasão da Itália à Etiópia (1935), a Guerra Civil Espanhola
(1936-1939), a intervenção militar da China pelo Japão (1937) e a invasão japonesa à URSS
(1938-1939), foram essenciais para entender como a guerra escalou internacionalmente.
Neste contexto, os países pautados pela democracia liberal sofreram com a crise ideológica,
fazendo pouca ou nenhuma frente aos países fascistas, enquanto estes emergiam.
No início de setembro de 1939 a Alemanha, com o apoio da Eslováquia, invadiu
a Polônia. Enquanto que França e Reino Unido, com os seus respectivos domínios,
declararam guerra à Alemanha, bem como impuseram um bloqueio naval, que tinha como
objetivo enfraquecer a Alemanha economicamente. Este pode ser considerado o estopim
da guerra. Havia também o desejo de fazer uma frente ampla contra o fascismo, tratando
de unir todos os países que ambicionavam o fim das investidas de Alemanha, Itália e Japão.
Nesse sentido, a Liga das nações oferecia um bom suporte para que as alianças contra o
Eixo se materializassem. (HOBSBAWM, 1995)
A organização de uma frente contra o fascismo foi objeto de discussão, já que os
países liberais e democráticos tinham várias reticências em se aliar ao regime comunista
da URSS. Por um lado, entendia-se como fundamental a participação da URSS na guerra,
por outro lado os soviéticos tinham ciência que não conseguiriam lidar com o Eixo sozinhos.
Por isso, Stálin foi favorável, posteriormente, à aliança com as potências ocidentais. Além
de que, conforme o nazismo avançava, tornou-se urgente o pacto dos demais países.
(HOBSBAWM, 1995)
As democracias ocidentais não desejavam ingressar na Guerra, visto que para
muitos, como a Grã-Bretanha, manter os status quo vigente desde o conflito de 1914 era
virtualmente impossível. A Grã-Bretanha não tinha mais a força naval de outrora e também
ficava claro que a Segunda Guerra destruiria a economia e seu império.
Contudo, acordo e negociação eram impossíveis com a Alemanha de Hitler,
porque os objetivos políticos do nacional-socialismo eram irracionais e ilimi-
tados. Expansão e agressão faziam parte do sistema, e, a menos que se
aceitasse de antemão a dominação alemã, ou seja se preferisse não resistir
ao avanço nazista, a guerra era inevitável, provavelmente mais cedo do que
mais tarde. (HOBSBAWM, 1995, p.125)

Ainda, nesta época, alguns países ocidentais prezavam por uma política de
apaziguamento. Porém, ela se mostrou ineficaz, pois o nazi-fascismo não estava disposto a
ceder ou fazer qualquer tipo de acordo. A partir disso, podemos entender o desenvolvimento
da guerra em três fases distintas.

UNIDADE III A
Imperialismo
Crise do Capitalismo
e Nacionalismo 59
A primeira é o poderio alemão, juntamente com as forças do Eixo, conquistaram
partes da Tchecoslováquia - logo em seguida todo o território. Mais tarde, em maio de 1940
a Alemanha invadiu a França, Luxemburgo, os Países Baixos e a Bélgica. Logo depois, em
junho, a Itália também invadiu a França, dessa maneira o país Aliado não teve outra escolha
se não se render, logo o país foi dividido em zonas de influência pelos alemães e italianos.
Paralelamente, contingentes britânicos no país foram cercados pelas forças
alemãs no porto de Dunquerque. Estes seriam em grande parte socorridos por
um bem-sucedido programa de resgate capitaneado por Winston Churchill, o
qual assumira o poder alguns dias antes, vindo a se tornar símbolo da última
resistência liberal em luta aberta contra os nazistas após a débacle francesa.
(SCHUSTER, 2015, p. 263)

A segunda fase, marcada pela contenção do Eixo, se iniciou em 1941, quando


Hitler rompeu o acordo firmado com a URSS de 1939 e invadiu a URSS. Nesse ponto,
a Alemanha dominava quase três quartos da Europa, o que viabilizou sua política de
extermínio, chamada “solução final”, contra judeus e grupos considerados inferiores. No
entanto, no eixo do pacífico, as tensões começaram a se multiplicar entre os EUA e o
Japão. Cabe lembrar que até 1941 os EUA tinham declarado neutralidade, ainda que
abastecessem os países da base Aliada. Já o Japão, que fez uma aliança com o Eixo, tinha
pretensões expansionistas, sobretudo no sudoeste asiático, explorando todos os recursos
que a região poderia oferecer. (SCHUSTER, 2015)
Para que sua política de expansão fosse concretizada, o Japão deveria debilitar a
marinha estadunidense, dessa forma, lançou-se contra Pearl Harbor, no Havaí, enviando
kamikazes para destruir a região. Depois desse episódio, os EUA lançaram-se na guerra ao
lado dos aliados. Além disso, havia outros interesses em jogo, os EUA já haviam assinado
com a Inglaterra um pacto contrário aos nazistas e fascistas. Estes fatores precipitaram a
entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra. (SCHUSTER, 2015)
Com a ajuda dos EUA, o Japão foi derrotado pelas forças aéreas e navais.
Concomitantemente, a Inglaterra derrotou os nazistas na batalha de El Alamein. Em 1943,
os nazistas tiveram outra derrota significativa, contra os soviéticos, na conhecida batalha de
Stalingrado. Logo as forças Aliadas desembarcaram na Itália, o que contribuiu decisivamente
para a queda de Mussolini.(SCHUSTER, 2015).
A esta altura, em toda a Europa, os movimentos de resistência em territórios
ocupados, municiados por equipamentos infiltrados pelos Aliados, avançam
no sentido de desestruturar o domínio totalitário, principalmente a partir de
atos de sabotagem. Desde 1943, a Alemanha já havia sido submetida a
bombardeios maciços, causando um colapso moral que contribuía para este
tipo de ação. No front soviético, o Exército Vermelho avançou decisivamente
sobre as posições alemãs, enquanto no Pacífico a reconquista americana
de ilhas sob o domínio japonês impôs os limites materiais do esforço de
guerra nipônico. (SCHUSTER, 2015, p. 264).

UNIDADE III A
Imperialismo
Crise do Capitalismo
e Nacionalismo 60
Na terceira fase do conflito, a derrocada do Eixo começa a ficar evidente e o fim
da guerra avizinhava-se. O dia D, como ficou conhecido, se caracterizou pela Operação
Fortitude, a qual pegou os nazistas de surpresa na Normandia. Esse episódio debilitou
muito as forças armadas hitleristas, no entanto, Hitler fez mais uma ofensiva, porém as
tropas anglo-americanas já estavam em território parisiense.
Reunidos em Potsdam (julho de 1945), os Aliados confirmaram as diretrizes
em torno da vitória total. Logo em seguida, a execução de Mussolini (28 de
abril), seguida do suicídio de Hitler, dois dias mais tarde, colocou um termo em
qualquer possibilidade de reação nazifascista. Em 8 de maio, a capitulação
alemã encerrou definitivamente a campanha do Oeste. Enquanto a guerra
continuava no Pacífico sem sinais de encerramento breve, tal o ímpeto da
resistência japonesa, o Presidente Harry Truman decidiu utilizar a bomba
atômica em Hiroshima (6 de agosto) e Nagasaki (9 de agosto). No dia 2
de setembro, o General MacArthur recebeu a capitulação incondicional dos
japoneses, encerrando seis anos de conflito. (SCHUSTER, 2015, p. 265)

Com um desfecho trágico, com as bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki,


ainda não havia se dimensionado as consequências da Guerra. Esse não foi um conflito
comum, mas sim uma guerra de âmbito internacional e também de caráter total, ou seja,
não estava em jogo apenas a disputa militar. Civis e militares estiveram envolvidos na
dinâmica da guerra. Logo, as consequências da guerra seriam vistas e um novo capítulo
para novas disputas se abriram.

UNIDADE III A
Imperialismo
Crise do Capitalismo
e Nacionalismo 61
5. GUERRA FRIA

Conforme vimos no tópico anterior, a URSS lutou ao lado dos Aliados, ainda que
nesta aliança, as posições ideológicas fossem diametralmente opostas. Após o fim do
conflito, a Europa, em especial, estava em frangalhos. A Grã-Bretanha, a senhora dos
mares, já não tinha capacidade de organizar e liderar as nações democráticas e liberais.
Logo, o foco seguiria para os EUA, que já implementavam políticas imperialistas e saiu da
Guerra quase ileso. Assim, começaria um embate ideológico entre as potências ocidentais
e o socialismo da União Soviética.
Logo após a Segunda Guerra, o globo se dividiu em duas zonas de influência, uma
sobre o controle dos EUA na parte ocidental e a URSS com uma parte oriental. Ainda assim
os países não estavam dispostos a entrar num embate direto pelas possessões ao redor
globo, mas sim incitavam e financiavam conflitos regionais. O fato de que as duas potências
não estavam dispostas a se enfrentar diretamente constituiu-se em uma característica
peculiar da chamada Guerra Fria. (HOBSBAWM, 1995).
O mundo vivia sob a tensão de uma nova guerra eclodir. Mesmo após a Segunda
Guerra, o ocidental considerava que não estava assegurado capitalismo mundial e o
liberalismo. Isso porque a Europa estava destruída e o perigo de uma revolução social
se aproximava. Os países, não apenas da Europa, como do chamado terceiro mundo,
obstinavam pelo apoio econômico das duas grandes potências.

UNIDADE III A
Imperialismo
Crise do Capitalismo
e Nacionalismo 62
Ainda que a URSS também estivesse destruída economicamente, além de
enfrentar convulsões sociais nas suas zonas de influência, o país se via na defensiva frente
aos EUA que prosperavam e estavam dispostos a ter sob seu domínio regiões que até
então estavam nas mãos da URSS. Na maioria dos casos, o país que buscava ajuda nas
grandes potências, não eram necessariamente fiéis ao programa ideológico da URSS ou
dos EUA, fazendo com que estes ora estavam sob a influência soviética, ora sob o domínio
estadunidense. (HOBSBAWM, 1995).
Contudo, dessa situação surgiu uma política de confronto dos dois lados.
A URSS, consciente da precariedade e insegurança de sua posição, via-
se diante do poder mundial dos EUA, conscientes da precariedade e
insegurança da Europa Central e Ocidental e do futuro incerto de grande
parte da Ásia. O confronto provavelmente teria surgido mesmo sem
ideologia. (HOBSBAWM, 1995, p. 183)

De todo modo, os EUA temiam para o futuro uma escalada soviética e a URSS
receava a hegemonia dos estadunidenses. O conflito ideológico, a criação de um inimigo
comum - comunismo - eram de certa forma muito úteis para os EUA no que diz respeito a
sua política eleitoral, pois fomentava as massas, já que “o anticomunismo era genuína e
visceralmente popular num país construído sobre o individualismo e a empresa privada”
(HOBSBAWM, 1995, p.185)
Ademais, construiu-se uma visão de que os EUA, dito defensor da liberdade, se
defendia de uma URSS agressiva. Essa visão é ortodoxa, construída logo no início do
conflito, que entendia que era uma luta do bem contra o mal, na qual o propósito dos EUA
seria garantir a vitalidade da sociedade livre, enquanto a URSS pretendia abraçar o mundo
todo, ao difundir o comunismo.
Uma das características mais marcantes da Guerra Fria foi a corrida armamentista
de ambos os lados, mesmo em tempos de paz. Ainda que os EUA saíssem na frente neste
quesito, já que a URSS estava dizimada no pós- guerra. Noam Chomsky (2003) esclarece
que a política de armamento dos EUA, cujo orçamento era o dobro da URSS, tinha como
objetivo também defender-se de uma série de inimigos criados após a segunda guerra
mundial. Os altos gastos com orçamento militar deveria encontrar na opinião pública uma
justificativa, assim o instrumento da propaganda foi extremamente útil para os Estados
Unidos, para assim mobilizar as massas em torno do propósito do país.
Depois da Grande Depressão de 1929, o sistema capitalista foi colocado à prova,
de modo que depois da Guerra ficava claro que o braço do Estado era extremamente
importante. Além disso, no pós-segunda guerra, ficava claro para os EUA, que eles deveriam
liderar o mundo e dominar as partes mais remotas do globo.

UNIDADE III A
Imperialismo
Crise do Capitalismo
e Nacionalismo 63
A dominação política e militar no chamado Terceiro Mundo foi manifestada tanto por
URSS como por parte dos EUA:
O apoio soviético a alvos da subversão norte-americana e de seus ataques
granjeou um certo grau de influência para a URSS em boa parte do Terceiro
Mundo, ainda que sua natureza fosse tênue. Quanto aos Estados Unidos,
sua intervenção no Terceiro Mundo, sobretudo nos primeiros anos, foi im-
pulsionada, em parte, pela meta de assegurar uma região atrasada para as
economias capitalistas de Estado que o país esperava reconstruir na Europa
Ocidental e no Japão. Ao mesmo tempo, o conflito da Guerra Fria ajudou a
manter a influência dos EUA sobre seus aliados industrializados e a refrear a
política independente, os movimentos trabalhistas e outras formas de ativis-
mo popular nessas nações. (CHOMSKY, 2003, p. 39)

A partir da citação acima conseguimos entender como funcionava a dinâmica da


Guerra Fria. Dois polos disputavam zonas de influência ao redor do mundo, ao mesmo
tempo que tentavam legitimar sua posição política, econômica e ideológica frente aos
aliados. A criação da OTAN, em 1949 pelos EUA, (Organização do Tratado do Atlântico
Norte), aliança intergovernamental militar, foi uma inciativa para “encurralar seus aliados e
afastar o neutralismo, além de refrear o russos.” (CHOMSKY, 2003, p.39). Em resposta os
soviéticos criaram a frente oriental, o Pacto de Varsóvia, iniciativa que unia a URSS e os
países do leste europeu, criando um acordo de ajuda mútua.
A Guerra Fria foi marcada por diferentes fases, a primeira delas ocorreu entre 1947
e 1953. Foi um período de estabelecimento dos blocos e de tensão máxima, marcado pela
Crise de Berlim e pela Guerra na Coréia. Após o fim da Segunda Guerra, a Alemanha foi
dividida em Alemanha Oriental e Alemanha Ocidental, assim como a sua capital, Berlim,
ficou dividida em duas regiões, uma sob influência do bloco capitalista e a outra sob a
tutela do bloco comunistas. As tensões começaram a escalar quando o bloco capitalista,
encabeçado pelos EUA, Inglaterra e França criaram a República Federal Alemã, em resposta
a URSS fechou as saídas ferroviárias e rodoviárias para Berlim Ocidental. Mais tarde seria
construído o Muro de Berlim que circundava toda a Berlim Ocidental.

UNIDADE III A
Imperialismo
Crise do Capitalismo
e Nacionalismo 64
FIGURA 2 - DIVISÃO DA ALEMANHA

Fonte: Toda Matéria. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/alemanha-oriental/. Acesso em: 09 dez. 2021.

Já a Guerra da Coréia foi resultado da derrota do Japão na Segunda Guerra, já que


o Japão dominava militarmente essa região. Depois da guerra, esse território foi dividido
entre comunistas ao norte e capitalistas ao sul. Em 1950 os soviéticos se lançaram contra
o sul e então os EUA intervieram, prolongando o conflito até 1953, quando a paz foi firmada
e as fronteiras foram mantidas.
Os principais eventos que marcaram a segunda fase da Guerra Fria, entre 1953 e
1977 foram a construção do Muro de Berlim, a crise dos mísseis em Cuba e a Guerra do
Vietnã. Em 1961 a URSS construiu um muro que circundava Berlim Ocidental, no mapa
acima é possível ver que a capital ficava na parte oriental do país, esse muro tinha como
objetivo evitar que houvesse acesso ao lado ocidental, por isso, era fortemente vigiado. A
crise dos mísseis, por vez, foi um evento, iniciado em 1962, no qual os EUA descobriram que
a URSS estava sendo instalados mísseis soviéticos em Cuba apontados para os Estados
Unidos. De imediato os EUA decretou o bloqueio aeronaval do país. A situação se agravou
e o risco de um conflito nuclear era grande, foi quando os soviéticos decidiram por um
acordo e desmanchar a base nuclear. Após a Segunda Guerra, o Vietnã ficou dividido em
duas esferas de influência: norte comunista e o sul capitalista, por volta de 1956, o país fez
um plebiscito no qual se decidia reunificar o país e o norte comunista saia na frente.

UNIDADE III A
Imperialismo
Crise do Capitalismo
e Nacionalismo 65
Temendo a vitória dos socialistas, os EUA interferiram no pleito e decidiram apoiar
o golpe direitista. Isso causou uma série de conflitos entre o sul e o norte, foi quando os
EUA entrou definitivamente na guerra, mas retirou-se em 1973 por conta da pressão da
opinião pública.
Na terceira e última fase da Guerra Fria, vemos uma disputa por zonas de influência
na Ásia e na África. Tanto Estados Unidos como a União Soviética aproveitavam de
instabilidades políticas nestas regiões para poder exercer seu domínio em tais regiões. É
importante dizer que, já na década de 1980 o regime soviético, apesar dos avanços militares
e espaciais, sofriam de um desgaste junto à população, ou seja, já não tinham a legitimidade
de outrora. Foi quando Mikhail Gorbatchev assumiu o poder em 1985 e deu entrada em
dois planos: glasnost e a perestroika. A glasnost significava transparência e instituiu a
liberdade de imprensa, implementação do voto secreto e autonomia dos países sob a sua
influência. Já a perestroika, também chamada de reestruturação, visava a modernização da
economia, estabelecendo relações internacionais, de abertura da economia.
Outro evento importante foi a queda do muro de Berlim, que dividiu a cidade por
décadas. Enquanto o lado ocidental de Berlim deslanchou, graças ao Plano Marshall
e o ao apoio da Otan, o lado oriental permaneceu obsoleto e atrasado, logo surgiram
manifestações que clamavam por liberdade de ir e vir, gerando pressão no governo local,
que a pouco tinha decidido por liberar as restrições de viagem. Foi quando, em 1989,
um grande número de pessoas decidiu derrubar o muro, sendo um marco para o fim
da divisão do país. Logo depois, em 1991, eclodiram protestos na URSS pedindo o fim
do monopólio do Partido Comunista, assim como países do leste europeu pediam por
autonomia, assim o inevitável aconteceu e a URSS foi desintegrada.

REFLITA

“A essência dos Direitos Humanos é o direito de ter direitos” (ARENDT, 2012)

UNIDADE III A
Imperialismo
Crise do Capitalismo
e Nacionalismo 66
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Durante esta unidade, vimos que o século XX foi marcado por eventos notáveis
e que refletem em nossa realidade contemporânea. O capitalismo foi colocado à prova
enquanto sistema econômico e social. Esperamos que você possa ter compreendido as
principais chaves de explicação para este período.
No primeiro tópico vimos a Primeira Guerra e a Revolução Russa e suas principais
características. Vimos que a Primeira Guerra foi fruto de um crescente nacionalismo e
imperialismo por parte dos países que ingressaram no conflito. Já na Rússia, contemporânea
à Guerra, observamos como se deu a queda do czar e a implantação de um sistema socialista.
Em seguida, no contexto Pós-Primeira Guerra, veremos a ascensão do Fascismo,
em especial no caso italiano. Situamos o fenômeno como resultado da derrota de países
como a Itália e Alemanha no conflito. Assim, vemos o crescimento vertiginoso da extrema
direita e de movimentos nacionalistas, que deram origem ao fascismo italiano e o nazismo
alemão. O caso alemão, conforme analisamos, também foi fruto de uma crise econômica,
que posteriormente gerou uma crise social, de perseguição aos judeus e posteriormente
levou ao holocausto. Desse modo, vimos como se deu a escalada de Hitler ao poder.
Inerente a isso, no nosso quarto tópico, observamos como a doutrina hitlerista de
“espaço vital”, dentre outros aspectos, foram o estopim para a Segunda Guerra Mundial.
Essa guerra teve como característica a guerra total, na qual forças civis e militares são
dispostas para o propósito de guerra. Por fim, no último tópico discutimos acerca da Guerra
Fria e seus desdobramentos que até hoje interferem na geopolítica do globo.

UNIDADE III A
Imperialismo
Crise do Capitalismo
e Nacionalismo 67
MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: O Terceiro Reich no poder
Autor: Richard J. Evans.
Editora Planeta.
Sinopse: Como foi que os nazistas conquistaram o coração e a
mente dos cidadãos alemães, distorceram a ciência e a cultura
e colocaram o país no caminho de outra terrível guerra? Neste
segundo volume da trilogia que conta a história do Terceiro Reich,
o renomado historiador Richard J. Evans traz o relato definitivo do
desenvolvimento da ditadura de Hitler entre 1933 e 1939, e mostra
a impressionante nuvem de terror que se aproximou da Alemanha
depois de os nazistas tomarem o poder.

FILME/VÍDEO
Título: Adeus Lênin
Ano: 2003.
Sinopse: Esse filme retrata os momentos finais da Guerra Fria
na Alemanha. O desmantelamento da União Soviética, a queda
do muro de Berlim e a reintegração das Alemanhas Oriental e
Ocidental. O filme ganha pontos ao retratar esse período de tensão
de uma maneira mais leve e ao focar no cotidiano das pessoas
que viveram nesse período.

UNIDADE III A
Imperialismo
Crise do Capitalismo
e Nacionalismo 68
UNIDADE III
Da Guerra Fria à Queda
do Muro de Berlim
Professora Me. Maria Helena Azevedo Ferreira

Plano de Estudo:
● Capitalismo x socialismo: A Guerra fria e a ameaça nuclear;
● Os trintas gloriosos;
● A queda do Muro e além;
● O mundo pós 1990.

Objetivos da Aprendizagem:
● Conceituar e contextualizar acerca da Guerra Fria;
● Compreender os conceitos de capitalismo e socialismo;
● Entender como a Guerra Fria transformou o mundo.

69
INTRODUÇÃO

Prezado(a) aluno(a), nesta unidade, vamos continuar com a história contemporânea.


Nos tópicos a seguir, entenderemos como as ideias de capitalismo e socialismo fizeram o
mundo entrar em uma Guerra que durou 45 anos e quais foram as suas consequências.
No primeiro capítulo, compreenderemos como surgiu a Guerra Fria e quais eram
as superpotências que estavam nessa guerra. Desse modo, entenderemos suas ideologias
e o que eles procuravam para aumentar a sua influência no mundo. Com isso, teremos
o contexto sobre a corrida armamentista e conseguiremos compreender a tensão que o
mundo viveu com o medo de uma guerra utilizando armas nucleares.
Seguiremos desenvolvendo a ideia de como a economia afetou cada ideologia
participante da guerra e como a indústria de armas ajudou os países a evoluírem. Desse
modo, entenderemos o que significa os trinta anos gloriosos que ocorreram durante um
período onde o mundo vivia em tensão. Você perceberá que cada fato que ocorria neste
período poderia ser um estopim para surgir uma guerra ainda pior que a própria Guerra Fria.
Então, vamos entender e conhecer o evento que mudou o mundo e como um muro
em Berlim ficou anos sendo um ponto chave para o fim da guerra fria. Iremos refletir sobre
como cada momento foi decisivo para a derrubada deste muro e, por fim, veremos quais
rumos as superpotências tomaram após o fim da Guerra Fria.

UNIDADE III Da Guerra Fria à Queda do Muro de Berlim 70


1. CAPITALISMO X SOCIALISMO: A GUERRA FRIA E A AMEAÇA NUCLEAR

1.1 Capitalismo X Socialismo na Guerra Fria: Contexto Histórico


Com o fim da segunda guerra mundial, tendo como conclusão lançamentos de
bombas atômicas, o mundo entrou em um período conhecido como Guerra Fria, em que
ficamos divididos entre duas superpotências econômicas, sendo elas: os EUA (capitalismo)
e a URSS (socialismo). O que fez com que a humanidade tivesse medo de entrar em mais
uma guerra mundial, que poderia vir a ser ainda pior do que as até então vividas.
Na visão das superpotências não teria risco de ter uma nova guerra mundial, mas
o risco iminente era sempre uma preocupação, pois a diferença cultural entre elas poderia
ocasionar em uma nova ameaça.
A URSS controlava uma parte do globo, ou sobre ela exercia predominante
influência – a zona ocupada pelo Exército e/ou outras Forças armadas
comunistas no término da guerra (...). Os EUA exerciam controle e
predominância sobre o resto do mundo capitalista, além do hemisfério norte
e os oceanos, assumindo o que restava da velha hegemonia imperial das
antigas potências coloniais.” (HOBSBAWM, 1994, p. 179).

As superpotências entendiam que a divisão do mundo estava desigual e para


conquistar mais território ou ter mais igualdade no poder evitava-se ao máximo o uso
de forças armadas, para que não houvesse uma futura guerra. “Na verdade, na hora da
decisão, ambas confiavam na moderação uma da outra para, mesmo nos momentos que
se achavam oficialmente à beira da guerra, ou mesmo já nela” (HOBSBAWN, 1995).

UNIDADE III Da Guerra Fria à Queda do Muro de Berlim 71


Como os EUA desconfiava da URSS e vice-versa havia a utilização de espiões e
sistemas de serviços secretos, sendo a KGB o serviço secreto da URSS e a CIA dos EUA. Esses
serviços afetaram a cultura mundial e, principalmente, nos locais onde estavam instaurados,
influenciando na produção cinematográfica, quadrinhos, livros e, até mesmo, na criação de
personagens que vieram a tornar-se muito populares, como James Bond de Ian Fleming.
A Guerra fria que de fato tentou corresponder a sua retórica de luta pela
supremacia ou aniquilação não era aquela em que decisões fundamentais
eram tomadas pelos governos, mas a nebulosa disputa entre seus vários
serviços secretos reconhecidos ou não reconhecidos, que o ocidente produziu
esses tão característicos subprodutos da tensão internacional, a ficção de
espionagem e assassinato clandestino (HOBSBAWM, 1995, p. 179).

Entretanto, o medo de ataques nucleares foi uma realidade durante o período da


guerra fria, pois a qualquer momento as superpotências poderiam entrar em conflito. Porém,
mesmo com o risco, a população abraçava as ideologias de ambas as nações.

1.2 Guerra Nuclear Durante a Guerra Fria


Os EUA e a União Soviética estavam em uma corrida armamentista e cada vez mais
buscavam inovar seus arsenais de armas buscando novas tecnologias para armas, aviões,
carros, tanques e mísseis convencionais ou nucleares. Como afirma McMahon (2012,88)
“Tanto os Estados Unidos quanto a União Soviética inauguraram grandes arsenais de
armas – convencionais e nucleares”.
A mostra de poderio militar era um fator muito importante na época, pois era a
forma como as nações mostravam que estavam prontas para entrar em uma guerra a
qualquer momento. Os EUA chegaram a ter em suas forças armadas mais de um milhão
de soldados, expandindo a sua produção de aviões, navios de guerra e veículos blindados.
Mas, o que deixou marcado o avanço militar dos EUA aconteceu em outubro de 1952, onde
testaram um dispositivo termonuclear, ou, como ficou conhecido, bomba H, que era mais
potente que as bombas nucleares de Hiroshima e Nagasaki.
Porém, ao fim da década, os Estados unidos tinham aumentado o seu poder
de ataque nuclear com o posicionamento de alguns bombardeiros intercon-
tinentais 538 B-52, cada um capaz e atingir os alvos soviéticos a partir das
nos Estados Unidos (...) em 1955, Eisenhower ordenou também o desen-
volvimento de mísseis balísticos intercontinentais (ICBMs) que permitiam o
lançamento de ogivas nucleares contra a União Soviética a partir do solo
americano. (MCMAHON, 2012, p. 89).

A URSS se equiparava aos EUA na corrida armamentista, produzindo mísseis


nucleares e armamento militar do Exército Vermelho, que passaram de três milhões
de soldados para quase 5,8 milhões. Também criaram dispositivos termonucleares em
agosto de 1953 e outro ainda mais potente em novembro de 53, mas os mísseis da União

UNIDADE III Da Guerra Fria à Queda do Muro de Berlim 72


Soviética não tinham forças de lançamento igual aos americanos, sendo assim um pouco
limitados. “Antes de 1995, os soviéticos continuavam incapazes de realizar um ataque
nuclear contra os Estados Unidos e consequentemente dependiam, dependiam, para fins
dissuasivos.” (MCMAHON, 2012, p. 90).
Segundo McMahon (2012, p.91) “os anos de 1958 a 1962 apresentaram precedentes
de confrontos Leste-Oeste, vários dos quais envolviam estratégia nuclear arriscada”, sendo
alguns exemplos a intervenção americana na Indonésia, o golpe Estado Sangrento para
derrubar o governo pró-ocidental no Iraque e o envio de fuzileiros americanos ao Líbano.
A Guerra Fria tem a visão de uma corrida militar para um futuro confronto. A corrida
armamentista no Ocidente teve pouco impacto, chegando a ter armas nucleares nunca
usadas, mas era de se esperar que os dois lados militarizados usassem essa capacidade
para atrair aliados e clientes para conquistas de territórios e também lucrativas.
Os dois complexos industrial-militares eram estimulados por seus governos
a usar sua capacidade excedente para atrair e armar aliados e clientes, e,
ao mesmo tempo, conquistar lucrativos mercados de exportação, enquanto
reservavam apenas para si os armamentos mais atualizados e, claro, suas
armas nucleares. (HOBSBAWM, 1994, p. 185).

Havia algo que preocupava muito os EUA, e que os preocupou por muitos anos.
Foi o país de Cuba, que em sua época tinha um revolucionário que possuía muito carisma,
Fidel Castro. Ele lutou até chegar ao poder de Havana, derrubando a histórica dependência
de Cuba da economia americana.
Em parte para se opuser à hostilidade americana, e em parte por causa de suas
próprias afinidades ideológicas, Fidel Castro voltou-se para a União Soviética,
acolhendo o seu apoio diplomático e econômico. (MCMAHON, 2012, p. 104).

Cuba tornou-se, então, o maior problema para os Estados Unidos. Na década de


60 o presidente Kennedy persistia em dizer que Cuba era um problema e que Fidel Castro,
seu principal opositor, principalmente por este permitir “satélites comunistas”.
Robert J, McMahon (2012, p.105) diz que “a crise de outubro ou a crise dos mísseis,
como é conhecida, constitui o confronto soviético-americano mais perigoso de toda a
Guerra Fria”. Os EUA tinham acesso a imagens de sítios de lançamentos de mísseis de
alcance intermediário de Cuba, e, com estas, tinham a visão de que Cuba era uma aliada
da União Soviética e que já teria recebidos mísseis que poderiam fazer com que a Guerra
Fria avançasse cada vez mais na corrida armamentista e nuclear.

UNIDADE III Da Guerra Fria à Queda do Muro de Berlim 73


2. OS TRINTA GLORIOSOS

Os trinta anos gloriosos, também conhecidos como “os anos dourados” na


concepção de Hobsbawm (1995), duraram de 1946 até 1975. Nesse período, houve um
crescimento vertiginoso econômico e social nos países desenvolvidos, sendo considerado
pelos observadores como a era de ouro do capitalismo. Os EUA, que haviam saído
fortalecidos da Segunda Guerra, continuaram avançando e outros países da Europa viram
uma recuperação vertiginosa.
Observamos um aumento da produção de alimentos, mais rápido do que o
crescimento da população, isso não significa, entretanto que a pobreza foi extirpada e a
desigualdades entre os países ricos e os do chamado Terceiro Mundo desapareceram.
Hobsbawm (1995) aponta que na década de 1960 era evidente o crescimento singular da
economia, como nunca se havia visto antes. O crescimento da produção de manufaturados
também quase quadruplicou, mas isso teve um custo ecológico grande, apesar disso não
ser pauta recorrente na época, onde se colocava em voga o domínio da natureza pelo ser
humano e o progresso ilimitado.
Contudo, não há como negar que o impacto das atividades humanas sobre
a natureza, sobretudo as urbanas e industriais, mas também, como se
acabou compreendendo, as agrícolas, aumentou acentuadamente a partir de
meados do século. Isso se deveu em grande parte ao enorme aumento no
uso de combustíveis fósseis (carvão, petróleo, gás natural etc.), cujo possível
esgotamento vinha preocupando os que pensavam no futuro desde meados
do século XIX. (HOBSBAWM, 1995, p. 206)

UNIDADE III Da Guerra Fria à Queda do Muro de Berlim 74


Segundo Hobsbawm (1995), o que permitiu esse crescimento também foi o
preço baixo do petróleo saudita, cujo barril custava menos de dois dólares. Isso também
fomentou a indústria automobilística, levando a popularização do automóvel na Europa e
também entre as classes médias latino-americanas. Com base no modelo de Henry Ford
de produção, outras indústrias também conseguiram aumentar sua produtividade, o caso
do McDonald’s foi um exemplo de sucesso de aplicação do modelo fordista. Outros bens
e serviços, especialmente nos EUA, que antes eram restritos a uma pequena parcela,
foram popularizados. Itens como geladeiras, telefones, eletrodomésticos, entre outros,
foram largamente disseminados.
O boom tecnológico não se restringiu à produção de bens de consumo, mas
também à produção de novos materiais sintéticos, como o plástico, que de acordo com
Hobsbawm (1995) foi uma invenção sem precedentes. Os materiais sintéticos, bem como
outros produtos, foram resultados de pesquisas no período da Segunda Guerra Mundial:
A guerra, com suas demandas de alta tecnologia, preparou vários processos
revolucionários para posterior uso civil, embora um pouco mais do lado
britânico (depois assumido pelos EUA) que entre os alemães com seu espírito
científico: radar, motor a jato e várias idéias e técnicas que prepararam o
terreno para a eletrônica e a tecnologia de informação do pós-guerra.
(HOBSBAWM, 1995, p. 207).

O computador foi exemplo de tecnologia construída para a Guerra, mas se mostrou


bastante útil entre os civis. Bem como a tecnologia nuclear, que mais tarde foi usada no
setor de eletricidade. Ainda sim, Hobsbawm (1995) analisa que três elementos podem
ser observados: 1) A era de ouro transformou radicalmente o cotidiano nos países ricos
e em menor medida nos países pobres, com a disseminação do rádio, a chegada da
“revolução verde”, entre outros aspectos que interferiram no dia a dia das pessoas. 2)
Com a complexidade cada vez maior dos produtos, foi necessário um investimento mais
abrangente em pesquisas e a inovação passou a ser regra nos países desenvolvidos.
3) Os produtos que surgiam durante a era de ouro exigiam pouca mão-de-obra e mais
consumidores, no entanto, isso não significou uma baixa no número de trabalhadores, já
que a produção estava em constante crescimento.

UNIDADE III Da Guerra Fria à Queda do Muro de Berlim 75


3. A QUEDA DO MURO E MAIS ALÉM

Um dos maiores marco histórico durante a Guerra Fria foi o Muro de Berlim,
sendo o mais importante de toda a história entre o capitalismo e o socialismo. O muro foi
construído em 13 de agosto de 1961, pela Alemanha Oriental (soviética) e derrubado em 9
de novembro de 1989, depois de 28 anos. Ele dividia a cidade de Berlim em duas, sendo a
parte Ocidental e a Oriental, fazendo com que as pessoas tivessem suas vidas totalmente
modificadas. Seu objetivo era impedir que as pessoas da parte capitalista (ocidental) se
mudassem para o lado comunista (oriental). Desse modo, com a proibição da passagem
de um lado para o outro, muitas famílias ficaram divididas. Ramirez (2021) diz que “em
um momento embaraçoso, o primeiro-ministro soviético Khrushchev ordenou que o infame
Muro de Berlim fosse construído entre Berlim Oriental e Ocidental”.
A Alemanha após o rendimento na segunda guerra mundial se tornou o maior
símbolo de polarização na Guerra Fria, isso quer dizer que as duas superpotências tinham
um objetivo em comum de dominá-la para mostrar como exemplo para o resto do mundo.
Como a derrota do nazismo foi feita com a união da URSS e os EUA, houve um entendimento
para dividir a Alemanha para as duas superpotências na época, mas o estopim para a
construção do muro pelo lado Oriental estava ligado ao Plano Marshall que consistia na
ajuda dos EUA para aqueles que se aliassem com eles.
Isolando o enclave ocidental nessa cidade dividida localizada 201
quilômetros dentro da Alemanha oriental ocupados pelos soviéticos, Stalin
visava a expor a vulnerabilidade de seus adversários, desarranjando com
isso a criação do Estado separado da Alemanha Ocidental que ele tanto
temia. (MCMAHON, 2012, p. 43).

UNIDADE III Da Guerra Fria à Queda do Muro de Berlim 76


FIGURA 1: DIVISÃO DE BERLIM

Com a construção do muro de Berlim muitos moradores tiveram medo de ficar de


um lado, isso fazia que eles tentasse pular o muro, arriscando se machucar com arames
farpados, altura ou até mesmo ser alvejado por tiros dos soldados soviéticos, como afirma
MITCHELL (2017) “poucos dias depois da construção da cerca de concreto e arame,
os alemães orientais estavam pulando janelas de construções adjacentes à fronteira ao
longo de vários quarteirões da Bernauer Strasse no distrito de Mitte (ou “meio”), para
calçada de Berlim Ocidental”.
Com a população da Berlim oriental querendo passar para o outro lado, alguns
bombeiros ficavam perto do muro com redes para pegar as pessoas que pulavam o muro
de Berlim que tinha 3,6 metros. Apesar de ser um tamanho não muito alto, muitos desses
saltos tinham que ser por prédios perto do muro, “isso só era possível em partes da cidade
onde as fachadas dos prédios marcavam a fronteiras, em alguns casos bombeiros de Berlim
Ocidental usavam redes para pegar pessoas que pulavam” (MITCHELL, 2017, p. 17).
Além das tentativas de fugas por salto pelo muro, as pessoas também usavam os
sistemas de túneis e esgotos que ligavam as cidades da Alemanha oriental e ocidental,
ficando esses sistemas tão conhecidos que foram utilizados em filmes sobre espionagem
e também na cultura pop.
Os alemães orientais que procuravam passar para o outro lado estavam apenas
procurando uma maneira de reconstruir suas vidas e ter melhores condições na Alemanha
ocidental. Algumas vezes a Alemanha Ocidental enviou suprimentos alimentares para a
Alemanha oriental através de aviões, entretanto, querendo impedir qualquer contato com
a Alemanha Ocidental, a parte oriental proibiu a circulação de aviões no espaço aéreo da
Alemanha oriental. “Em resposta, os Estados Unidos e outros países ocidentais voaram
sobre a cidade e lançaram suprimentos de comida e outras necessidades (bem como
materiais de propaganda) pelo ar.” (RAMIREZ, 2021, p.17).

UNIDADE III Da Guerra Fria à Queda do Muro de Berlim 77


A tensão durante esses 28 anos e crescia cada vez mais entre os lados, chegando
a momentos de tensão como no dia 27 de outubro de 1961, em que o mundo inteiro voltou
os olhos para Berlim, quando os tanques de ambos os lados tiveram um encontro no ponto
conhecido como Checkpoint Charlie, ficando uma tensão de início de uma guerra que
poderia ser o início da terceira guerra mundial.

3.1 A queda do muro de Berlim


O dia 9 de novembro de 1989 ficou marcado na história. Foi o dia em que o muro de
Berlim finalmente caiu após 28 anos de sua construção. O muro que dividiu a Alemanha em
duas superpotências que lutavam entre si para ter um domínio maior no mundo foi abaixo e
esse dia ficou marcado como um rompimento da tensão que existia na Guerra Fria.
Uma das coisas que ajudaram a sua derrubada foi que o lado soviético passava por
uma crise econômica. A população de ambos os lados sempre realizavam manifestações
pedindo mais liberdade.
Em muitos aspectos, a demolição do Muro de Berlim e a implosão concomitante,
mas todo o sistema de aliança do Pacto de Varsóvia significou o fim da Guerra
Fria. O conflito ideológico estava terminado. (MCMAHON, 2012, p.188).

Desse modo, nem o comunismo e nem o estado soviético eram uma ameaça para
o governo dos Estados Unidos. A maior ameaça que eles tinham era a Alemanha oriental,
para muitos historiadores marca o ano de 1989 como o fim da Guerra Fria, pois a grande
tensão que havia entre essas superpotências havia se quebrado.
A Alemanha ocidental, durante o governo do chanceler Helmut Kohl, para que
houvesse uma reunificação do país o mais rápido possível assim a Alemanha deixaria de
oriental ou ocidental e viraria apenas uma como é atualmente, mesmo com o muro derru-
bado demorou algum tempo para que a Alemanha se reunificasse devidos a problemas do
passado com as Guerras Mundiais que o país passou.
No livro Guerra Fria de McMahon (2012, p.189), o autor fala que o maior medo da
Alemanha reunificada era se tornar uma ameaça para segurança russa “O maior temor de
Gorbachev era uma Alemanha incontrolada e recém-habitada torna-se uma futura ameaça
para segurança russa que estava atrás da maneira de Stalin abordar o problema alemão e
pouco depois da Segunda Guerra mundial”.
Após uma conversa entre o chanceler da Alemanha ocidental (Helmut Kohl) e o
Soviético Mikhail Gorbachev, foi feito um acordo em que a União Soviética concordou
retirar as tropas da Alemanha depois de 45 anos de ocupação. Junho de 1990 foi realizada
a união monetária entre as duas Alemanhas e no dia 3 de outubro foi feito definidamente a
reunificação do país.

UNIDADE III Da Guerra Fria à Queda do Muro de Berlim 78


4. O MUNDO APÓS 1990

Após os anos 1990 o mundo não sentia mais tanto o impacto da segunda guerra
mundial. O fim da Guerra Fria estava próximo, ainda mais com a reunificação da Alemanha
depois da queda do muro de Berlim, a retirada de tropas soviéticas da Alemanha feita pelo
líder soviético Gorbachev e o uso de uma moeda para a Alemanha.
O colapso da própria União Soviética em 1991, produto de forças ativadas
pelas reformas de Gorbachev que ele se mostrou incapaz de controlar,
representa um marco histórico crucialmente importante por seus próprios
méritos. Na época em que a União Soviética desapareceu a própria Guerra
Fria já era história (MCMAHON, 2012, p.190).

Pouco tempo depois, a União Soviética viria a cair no dia 29 de agosto de 1991,
sendo assim o governo soviético teve seu fim e as políticas russas foram passadas para
Boris Iéltsin em 1992. Com isso, os Estados Unidos da América se tornaram a maior
superpotência mundial, tornando-se uma referência para vários países, influenciando em
até mesmo no que diz respeito à cultura do cinema, música e livros.
Muitos filmes foram feitos sobre o período da Guerra Fria, a maioria deles usando
o lado soviético como vilão de toda a história, alguns se tornando famosos como o clássico
Rocky IV em que o personagem principal é um americano e o vilão do filme é um lutador
russo da União Soviética.
Com os anos, após 1991, dava-se início a uma nova era, que viria a ser conhecida
por ter multipolaridade. Sendo assim, os governos não seriam reféns apenas dos EUA, mas
sim do próprio sistema que adotavam para governar, em sua maioria a democracia.

UNIDADE III Da Guerra Fria à Queda do Muro de Berlim 79


No ano de 2001, que marcou a virada do século XX para o século XXI, deixou
os Estados Unidos marcado com uma nova ameaça, que mais uma vez mexeria com o
cenário americano. Mesmo sendo uma referência de armamento militar, os Estados Unidos
foi quem sofreu um ataque terrorista em 11 de setembro de 2001.
Agora o medo não era mais a Guerra Fria e sim ataques terroristas que poderiam
acontecer a qualquer momento em qualquer país do mundo, como no caso dos EUA onde
teve um impacto bastante grande e mundial.
Durante a presidência de George W Bush, após os ataques terroristas de
11 de setembro, o presidente emitiu o que ficou conhecido como a Doutrina
Bush. Nele ele dedicou o país a encontrar e destruir o terrorismo onde quer
que ele exista. (MCMAHON, 2012, p. 190).

Com este ato o mundo viu que um novo mundo surgia e que o século XXI seria
marcado por novos medos e também novos avanços na economia e tecnologia. Fazendo
com que mais uma vez a História tivesse novos rumos.

REFLITA
Estamos no início de uma nova era, caracterizada por grande insegurança,
crise permanente e ausência de qualquer tipo de status quo [...] Devemos
compreender que nos encontramos numa daquelas crises da história mundial
que Jakob Burckhardt descreveu. Não é menos significativa que a de depois de
1945, embora as condições iniciais para superá-la pareçam melhores hoje. Não
há potências vitoriosas nem derrotadas hoje, nem mesmo na Europa Oriental.
(M. STÜRMER, in BERGEDORF, 1993, p. 59).

SAIBA MAIS

Hoje assumimos o impacto econômico da globalização na distribuição de produtos


e serviços, mas quando isso de fato foi empreendido? É fato que a globalização é
consequência do fim do mundo bipolar, entretanto as atividades econômicas já não
estavam mais circunscritas a critérios de território e Estado desde a década de 1960,
a era de ouro do capitalismo, quando começou a se fundamentar uma economia
transnacional, o que foi se fundamentando nas décadas posteriores.

Fonte: HOBSBAWM, 1995.

UNIDADE III Da Guerra Fria à Queda do Muro de Berlim 80


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Caro (a) aluno (a), nesta unidade, vimos o quanto de impacto que o fim da Segunda
Guerra Mundial trouxe ao mundo e, também, os efeitos que a Guerra Fria trouxe, deixando
o mundo em estado de tensão por mais de 40 anos.
No primeiro tópico, tivemos a ideia de como foi o surgimento de cada superpotência,
logo após a Segunda Guerra Mundial e como elas tinham modos de operar diferentes,
fazendo uma corrida armamentista que ia de armas convencionais até armas nucleares. O
que colocava o mundo em perigo, pois havia a chance de uma guerra nuclear.
Conseguimos compreender o surgimento de um movimento econômico que ajudou
as superpotências a enriquecer durante o período da Guerra Fria e, o que foi os Trinta
Gloriosos Anos, como foi formado e o tempo de duração dele na Guerra Fria, concluindo,
assim que foi possível lucrar com vendas de armas.
No terceiro tópico estudamos o fenômeno mais importante da Guerra Fria, que foi
a construção do mudo de Berlim. Vimos como os lados defendiam seu território e o que o
muro representava para União Soviética, como as pessoas precisavam de liberdade e os
sacrifícios que eles faziam para ir da Alemanha oriental para ocidental ou vice-versa.
Por fim, no último tópico vimos como a União Soviética chegou ao seu fim e como
todo o contexto histórico fez com que a história do mundo chegasse ao que estamos
vivendo atualmente.

UNIDADE III Da Guerra Fria à Queda do Muro de Berlim 81


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Guerra Fria: A história da guerra épica entre Capitalismo x
Socialismo
Autor: Saul Ramirez.
Editora: Book Brothers.
Sinopse: O livro nos mostra de maneira simples e sucinta de
como foi à disputa entre as superpotências da época os Estados
Unidos (EUA) e a União Soviética (URSS), este período que ficou
conhecido como Guerra Fria onde nenhuma das superpotências
não entravam em conflitos, pois poderia ser o estopim para uma
nova guerra mundial.

FILME/VÍDEO
Título: Adeus, Lênin
Ano: 2003.
Sinopse: Em 1989, pouco antes da queda do muro de Berlim, a Sra.
Kerner (Katrin Sab) passa mal, entra em coma e fica desacordada
durante os dias que marcaram o triunfo do regime capitalista. Quando
ela desperta, em meados de 1990, sua cidade, Berlim Oriental,
está sensivelmente modificada. Seu filho Alexander (Daniel Brühl),
temendo que a excitação causada pelas drásticas mudanças possa
lhe prejudicar a saúde, decide esconder-lhe os acontecimentos.
Enquanto a Sra. Kerner permanece acamada, Alex não tem muitos
problemas, mas quando ela deseja assistir à televisão ele precisa
contar com a ajuda de um amigo diretor de vídeos.

UNIDADE III Da Guerra Fria à Queda do Muro de Berlim 82


UNIDADE IV
O Neoliberalismo e
a Globalização
Professora Me. Maria Helena Azevedo Ferreira

Plano de Estudo:
● O que é neoliberalismo?
● A Inglaterra e a Dama de Ferro;
● Estados Unidos e o Neoliberalismo;
● Globalização no mundo contemporâneo.

Objetivos da Aprendizagem:
● Conceituar e contextualizar sobre neoliberalismo;
● Compreender sobre quem foi a dama de ferro e sua influência;
● Entender como a globalização está mudando o mundo.

83
INTRODUÇÃO

Prezado (a) aluno (a), nesta unidade, vamos continuar com a história contemporânea
e encerrá-la. Nos tópicos a seguir vamos entender a ideia do neoliberalismo, o que
significa e o que ele influencia.
No primeiro tópico entenderemos a origem do Neoliberalismo e a diferença que ele
tem do liberalismo de Adam Smith, saberemos as principais diferenças entre eles.
Seguindo, no segundo tópico conheceremos Margaret Thatcher, a sua importância
para sociedade e história do mundo. Descobriremos o motivo dela ser conhecida como
Dama de Ferro e sua influência sobre o mundo.
Com isso, teremos uma noção de como os Estados Unidos do governo de Reagan
teve a influência de Margaret Thatcher e como ela ajudou a ter um controle sobre o
neoliberalismo, entendendo o motivo de também adotar o Neoliberalismo nos EUA.
E, por fim, teremos uma ideia de como a globalização teve impacto do neoliberalismo
e como as tecnologias de hoje em dia estão ajudando o mundo a ficar mais globalizado.

UNIDADE IV O Neoliberalismo e a Globalização 84


1. O QUE É NEOLIBERALISMO

1.1 Neoliberalismo: Contexto histórico


Ao longo da existência humana na história e na sociedade tivemos muitos sistemas
de economia como o mercantilismo, capitalismo, socialismo, capitalismo e liberalismo.
Como toda história tem mudanças e adaptação, alguns desses sistemas têm também
as suas adaptações para se compactuar com a nossa sociedade atual e assim continuar
“vivendo”, mesmo que não seja adotada como plano econômico de algum país, mas
continue como uma ideia.
Antes de entender sobre o que é Neoliberalismo temos que entender sobre seu
antecessor, o liberalismo. Liberalismo sempre é lembrado como seu criador Adam Smith,
principalmente em sua obra A riqueza das nações, publicada em 1776. Segundo Smith
(1983), para um mundo melhor teria que haver uma livre iniciativa, atitudes econômicas
dos indivíduos e que suas relações não fossem limitadas por regras e regulamentos que
o Estado opõe.
A livre concorrência equivale a uma recompensa que se concede àqueles que
fornecem as melhores mercadorias pelos preços mais baixos. Ela oferece
uma recompensa imediata e natural, que uma multidão de rivais alimenta a
esperança de conseguir, e atua com maior eficácia que um castigo distante,
do qual cada um talvez espere escapar. (SMITH 1983, p. 104).

Para a doutrina liberal, se houver uma procura para o lucro o ser humano terá
motivação e interesse para buscar este lucro, sendo assim a pessoa não se sentirá limitada
pelo Estado e começará a buscar o lucro que ela precisa ou até mais do que ela necessita,
sendo ela responsável pelas suas ações. Esse sistema revelaria de modo espontâneo o
que a sociedade necessita.

UNIDADE IV O Neoliberalismo e a Globalização 85


A ideia de liberalismo de Adam Smith ficou muito famosa, tanto que a sua obra mais
famosa “a riqueza das nações” foi reeditada e citada várias vezes no mundo acadêmico e
na economia. Nessa obra, Adam Smith afirma sobre os interesses privados dizendo “Sem
qualquer intervenção da lei, os interesses e os sentimentos privados das pessoas naturalmente
as levam a dividir e distribuir o capital de cada sociedade” (SMITH, 1983, p.104)
Assim como outras ideologias, o neoliberalismo também é uma forma de ver o
mundo. Ele surgiu na década de 70, tendo o objetivo de estimular o desenvolvimento
econômico, mas diferente do liberalismo sua ênfase não é sobre a interferência do estado
sobre a economia.
Para os neoliberais sua principal defesa na economia está baseada no livre mercado,
pois segundo eles isso irá garantir o crescimento econômico e também o desenvolvimento
social do país. As principais características do Neoliberalismo são:
● Privatização de empresas estatais;
● Livre circulação de capitais internacionais;
● Uma abertura econômica para empresas multinacionais;
● Medidas de protecionismo econômico;
● A redução de impostos e tributos que são cobrados indiscriminadamente.
O modelo de neoliberalismo é pensado para que influencie no mundo todo, até
mesmo, na educação, já que a escola também é vista como meio de mercado e seria
privatizada, de modo que as escolas poderiam oferecer cursos para que o aluno saia e vá
direto para o mercado de trabalho.
Harvey (2005, p.20) nos diz “O neoliberalismo como potencial antídoto para
ameaças à ordem social capitalista e como solução para as mazelas do capitalismo havia
muito se achava oculto sob as asas da política pública”. Sendo assim, esta ideologia nos
daria um fim para uma antiga guerra entre capitalismo x socialismo.

1.2 Neoliberalismo no Brasil e na América Latina


No Brasil, na época em que tivemos como presidente Fernando Henrique Cardoso,
foram implantadas reformas econômicas. Com isso, tivemos um ideal de liberalismo no
Brasil, tendo essência para modernizar o país e garantir estabilidade econômica.
O neoliberalismo no Brasil foi aceito nas décadas de 1980 e 1990, tendo mais
força com o fim do socialismo no Leste europeu. Integrantes do FMI e do Banco Mundial
reuniram- se para organizar e analisar a economia do continente, além dessas organizações
também tinham representantes dos EUA e países latinos americanos.

UNIDADE IV O Neoliberalismo e a Globalização 86


No fim dessa reunião resultou um conjunto de medidas para controlar a inflação
sendo elas:
● Ajuste fiscal: limitação dos gastos do Estado sendo de acordo com a arrecadação
e eliminação do déficit público;
● Redução do tamanho do Estado: limitar a intervenção do Estado na economia;
● Abertura comercial: redução das alíquotas na importação estimula ao intercâmbio
sendo assim impulsionar a globalização;
● Abertura financeira: Colocar um fim nas restrições de capital e permissões em
instituições financeiras internacionais, então terá que atuar com igualdade dentro
das condições do país;
● Fiscalização de gastos públicos;
● Serviços de terceirização;
● Investimento na infraestrutura básica.
No Brasil, existem críticas a algumas medidas do neoliberalismo que foram
implantadas, não resolvendo alguns casos de desigualdade e até mesmo os aumentando.
Além do Brasil, temos ideias neoliberais nos outros países da América latina com a Argentina.
Na América latina o neoliberalismo chegou pelos EUA após Washington implantar o
consenso de Washington. Os interesses dos EUA na América latina são considerados incidentes.
Os interesses dos povos latino-americanos são meramente” incidentais”
e não um problema nosso”. Ele reconheceu que “pode parecer que nos
baseamos em puro egoísmo”, mas afirmou que a doutrina não tem motivos
Mais elevados ou generosos. Os Estados Unidos lutaram para desalojar a
Inglaterra e a França, seus rivais tradicionais, e estabelecer uma aliança
regional sob controle à parte do sistema mundial, onde tais arranjos não
eram admissíveis”. (CHOMSKY, 1999, p. 10).

As funções da América latina ficaram esclarecidas nas conferências que houve


quando foi feito o consenso de Washington, sendo assim alguns ideais neoliberalistas
ficaram implantados na América latina, sendo iguais aos que temos no Brasil.
Neoliberalismo no Brasil nunca deixou de existir, sempre tem sua influência em
vários governos começando pelo governo Collor, que mesmo após sua saída do governo o
país seguiu algumas ideias neoliberais que teve durante sua gestão.

UNIDADE IV O Neoliberalismo e a Globalização 87


2. A INGLATERRA E A DAMA DE FERRO

Margaret Thatcher teve uma grande influência na história da humanidade e, também,


na Inglaterra ficando conhecida como a mulher com mais influência em toda história. Ela
nasceu no dia 13 de outubro de 1925 em Grantham, Lincolnshire no Reino Unido e ainda
quando criança Thatcher e sua irmã mais velha reuniam dinheiro para uma viagem em que
conheceriam Alfred Roberts que era um vereador e pregador da igreja metodista, dando
assim início aos primeiros passos na carreira política de Thatcher.
Em 1950 Thatcher com seus 25 anos entrava no meio político pelo partido
conservador. Mesmo não estando entre os aprovados do partido ela conseguiu chamar
atenção da mídia na época. Em 1955 ela sofreria uma derrota em uma eleição, mas em
1959 conseguiria ser eleita como deputada.
Thatcher teve muita influência pelo seu modo e por conquistar apoio na política muito
rápido, sendo convidada em 1970 pelo partido conservador a ser secretária da Educação, as-
sumindo o cargo no dia 20 de junho de 1970. Também, nessa época, foi quando Thatcher teve
um episódio famoso em que ela tirou o fornecimento gratuito de leite para crianças nas escolas,
visando fazer economia nos gastos da educação que ganhou o apelido “Margaret Thatcher,
Milk Snatcher” (em tradução livre seria algo Margaret Thatcher sequestradora de leite).
A decisão, que provocou uma onda de protestos no Partido Trabalhista e na
mídia inglesa, gerou reflexão da ex-primeira-ministra na sua autobiografia,
frase que melhor resumiria seus 11 anos de poder: “Provoquei o ódio político
máximo por um benefício mínimo”. Ela se tornou amada e odiada em igual ao
subjugar sindicatos, privatizar vastos setores da indústria britânica, brigar com
a União Europeia e travar uma guerra com a Argentina pelas Ilhas Malvinas.
(O GLOBO, Thatcher: de vilã do leite ao embate com sindicatos. 08/04/2013).

UNIDADE IV O Neoliberalismo e a Globalização 88


Esta não seria a última vez que Thatcher chamaria a atenção da mídia e provocou
protestos, ela também ficou conhecida por ter pulso firme em seus discursos e opiniões
políticas.
No ano de 1976, Thatcher fez um discurso político em que ela criticava a União
Soviética por buscar o “domínio mundial”. O episódio ficou conhecido como “Britain Awake”,
que no português seria Alerta do Reino Unido, seu discurso fez com que o jornal soviético
Estrela Vermelha refutasse a postura de Thatcher dando-a o título de Dama de Ferro, que
ela abraçou e que a acompanhou por toda sua carreira política.
Em 4 de maio de 1979 tornou-se a Primeira-ministra do Reino Unido, sendo
um dos cargos mais altos na política do país. Foi reeleita nas eleições gerais de 1983,
ficando quase toda a década de 80 no poder, sendo considerada uma das mulheres mais
influentes do mundo.

2.1 A Dama de Ferro e o Neoliberalismo


hatcher teve influência no pensamento de economia e monetarista por economistas
como Milton Friedman e Alan Walters. Ela teve seu plano de governo econômico com base
em aumentar as taxas de juros para o crescimento da oferta monetária. Sendo exemplo
para todos os outros países.
A “Grã-Bretanha de Thatcher” é, na verdade um exemplo igualmente bom
“evangelho do livre mercado”. (...) a primeira-ministra Margaret Thatcher
“interveio pessoalmente para garantir a transferência de 22 milhões de
libras do orçamento da ajuda britânica para construção do metro de Ancara.
(CHOMSKY, 1999, p. 35).

Seu sistema de política ficou conhecido como “política thatcheriana”, que provocou
mudanças nas importantes instituições e na sociedade britânica. Ela fez o uso de uma ideia
do liberalismo que é a privatização de empresas que eram estatais. Reginaldo C. Moraes
(2001, p.71) cita que “essa privatização fundamental não foi motivada pela doutrina e sim
pela lógica dos acontecimentos. Esse era setor que necessitava urgentemente de capital”.
Margaret Thatcher teve pouca influência para a esquerda política, sendo até impopular
pelas pessoas que têm o ideal político da esquerda, muito disso aconteceu devido ao pouco
investimento de Thatcher em sociedade de classes baixas. O governo de Thatcher não era
popular entre a esquerda, isso porque tinha como base o “egoísmo social”.

UNIDADE IV O Neoliberalismo e a Globalização 89


FIGURA 1: MANIFESTANTE CONTRÁRIO AO GOVERNO THATCHER

Margaret Thatcher faleceu em 8 de abril de 2013 e sua carreira política influenciou


várias pessoas e políticos, entretanto quando veio seu falecimento, houve um protesto em
comemoração à sua morte, pois sua política conservadora e direitista acabou destruindo
empregos e gerando problemas raciais.
Embora as controvérsias que Margaret teve durante sua vida, ela é até hoje
uma das mulheres que mais teve influência no mundo, e causando sempre polêmicas
por pessoas que apoiam seu modo de governo e pessoas que são contra seu modelo
de governo, sendo influência para outros governantes que seguem sua ideologia para
governar. Margareth ganhou um filme biográfico “a dama de ferro” que foi interpretada por
Meryl Streep oem que conseguiu um Oscar de melhor atriz.

UNIDADE IV O Neoliberalismo e a Globalização 90


3. ESTADOS UNIDOS E O NEOLIBERALISMO

Os Estados Unidos é uma das principais potências econômicas no mundo e isso


sempre atraiu atenção de novas formas de políticas econômicas, mesmo o país sendo
capitalista. Entre um governo e outro sempre trazem ideais novos para os Estados Unidos,
sendo assim o país também flertou com ideais neoliberalistas.
A Escola de Chicago foi uma das responsáveis por colocar o liberalismo nos EUA,
sendo assim, logo o país teve um encontro com o Neoliberalismo, mas antes de algum
governo ter tendências neoliberais a Escola de Chicago levou, na época do presidente
Roosevelt, o New Deal, um plano econômico que tiraria o país da depressão econômica
que ocorreu em 1929, salvando-o país.
Com o liberalismo já no governo estadunidense, a chegada do neoliberalismo ficou
mais fácil, principalmente com a eleição de Ronald Reagan nos anos de 1981 e 1989. Na
mesma época em que o governo britânico tinha Margaret Thatcher, ambos governantes
tinham ideais Neoliberalistas. O governo de Ronald Reagan ficou conhecido em sua época
de governo como reaganistas.
Governos de todo mundo abraçam o ‘evangelho do livre mercado’, pregado
na década de 1980 pelo presidente Reagan e pela primeira-ministra Margaret
Thatcher, da Grã Bretanha. (CHOMSKY, 1999, p. 34).

A política neoliberalista auxiliava os países na movimentação de capital. O estilo de


vida americano, junto do neoliberalismo, fez com que o plano do governo de Reagan tivesse
boas impressões, ainda mais com a política de paz armada que resultou no aumento de
gastos significativos na área militar.

UNIDADE IV O Neoliberalismo e a Globalização 91


Entretanto, o que mais atraia atenção era o conservadorismo crescente em meio ao
medo da cultura de esquerda da União Soviética.
Mesmo isolados e na defensiva, os neoliberais preservaram suas crenças orto-
doxas. E voltaram à cena, na ocasião propícia no fim dos Trintas Gloriosos, os
anos de reconstrução e desenvolvimento do capitalismo. (MORAES, 2001, p.15).

A inicialização do neoliberalismo envolveu muita “destruição criativa”, que foi a


mudança que a cultura teve, que diminuiu um pouco do controle total que o estado tinha
sobre o mercado econômico do país. Porém essas mudanças foram necessárias para que
o Neoliberalismo começasse a ser executado nos Estados Unidos.
Junto com o Neoliberalismo nos Estados Unidos temos também o Consenso de
Washington que é o conjunto de ideias neoliberais onde o país têm princípios orientados
pelas instituições financeiras internacionais. Chomsky (1999, p. 98) cita que “Ele (Estados
Unidos) controla e por eles mesmo implementam de formas diversas – geralmente, nas
sociedades mais vulneráveis, como rígidos programas de ajuste estrutural”. Com isso temos
a ideia que o Consenso Washington tem em sua base um modo de controlar os países da
América Latina já que a liberação de mercado e o uso de privatização são possíveis se o
país adquirir tal ideia.
Algumas ideias neoliberais ainda existem no governo estadunidense, podendo
influenciar muito em outros países que usam o país como exemplo para crescimento
econômico, como o Brasil, por exemplo.

UNIDADE IV O Neoliberalismo e a Globalização 92


4. GLOBALIZAÇÃO NO MUNDO CONTEMPORÂNEO

Globalização é um termo que entrou em uso na época de 1980, período de processo


de integração econômica, política e social internacional, fazendo com que o mundo se
tornasse mais conectado. Na verdade, podemos entender que o mundo começou a ser
globalizado muito antes da década de 80, na época em que os europeus iniciaram as
navegações, em que deixavam seus países e iam para outros, ocasionando em um choque
cultural. Atualmente não é mais necessário viajar para um país para termos acesso à sua
cultura, pois com a tecnologia isso torna-se possível.
Essas técnicas da informação são apropriadas por alguns Estados e por algumas
empresas, aprofundando assim os processos de criação de desigualdades. É
desse modo que a periferia do sistema capitalista acaba se tornando ainda mais
periférica, seja porque não dispõe totalmente dos novos meios de produção, seja
porque escapa a possibilidade de controle. (SANTOS, 2003, p. 39).

Com a globalização, temos acesso a outras culturas em tempo real, o que torna
o conhecimento bastante acessível a quem tem acesso à internet. Entretanto, apesar de
todos os prós, existem também os contras. Como para alguns pensadores, que criticam o
estilo de vida ultra conectado, além de pensarem sobre como este acesso não é democrá-
tico, estando mais disponível para as classes sociais mais altas. Como podemos ver nas
ideias do pensador Zygmunt Bauman.
A informação agora flui independente dos seus portadores; a mudança e
a rearrumação dos corpos no espaço físico é menos que necessária para
reordenar significados e relações. Para algumas pessoas – para elite móvel,
a elite da mobilidade - isso significa, literalmente, a libertação ao” físico”, uma
nova imponderabilidade do poder. (BAUMAN 1999, p. 25).

UNIDADE IV O Neoliberalismo e a Globalização 93


Portanto, a globalização no mundo contemporâneo é caracterizada pelo avanço da
ciência e da tecnologia. Com isso, faz-se necessário que questionemos se estamos utilizando
essas ferramentas de modo benéfico para nós e para toda a humanidade e natureza, ou não.

REFLITA

“Antigamente as grandes nações mandavam seus exércitos conquistar territórios e


o nome disto era colonização. Hoje as grandes nações mandam suas multinacionais
conquistar mercados e o nome disto é globalização.” (SANTOS, Milton, 1997).

UNIDADE IV O Neoliberalismo e a Globalização 94


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Caro (a) aluno (a), nesta unidade, abordamos a história contemporânea, seguindo
de modo a compreendermos melhor, no primeiro tópico, o que é o neoliberalismo, suas
características e como ele influencia na política econômica dos países. Desse modo,
conseguimos ter uma noção se esse é benéfico para a economia e, também, para a população.
No segundo tópico, vimos sobre a vida e a importância de Margaret Thatcher, sobre
como ela teve influência na mídia e economia da Inglaterra e do mundo e, como ficou
conhecida como a Dama de Ferro.
Seguimos compreendendo melhor o neoliberalismo nos Estados Unidos, a forma
como Ronald Reagan adotou políticas econômicas neoliberais e, o que é o Consenso de
Washington, importante, inclusive, para a economia brasileira.
Por fim, compreendemos um pouco sobre a Globalização no mundo contemporâneo,
com o questionamento se esta é somente benéfica para a sociedade como um todo, ou se
seus benefícios são melhor vistos nas classes sociais mais altas.

UNIDADE IV O Neoliberalismo e a Globalização 95


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: O lucro ou as pessoas?
Autor: Noam Chomsky
Editora: Bertrand Brasil
Sinopse: O livro de Chomsky virou destaque na década de 90 por
questionar sobre o Neoliberalismo e a ordem global, falando sobre
crises políticas e como alguns planos econômicos falham quando
é posto em prática.

FILME/VÍDEO
Título: A Dama de Ferro
Ano: 2012.
Sinopse: Antes de se posicionar e adquirir o status de verdadeira
dama de ferro na mais alta esfera do poder britânico, Margaret
Thatcher (Meryl Streep) teve que enfrentar vários preconceitos na
função de primeira-ministra do Reino Unido em um mundo até então
dominado por homens. Durante a recessão econômica causada
pela crise do petróleo no fim da década de 70, a líder política tomou
medidas impopulares, visando à recuperação do país. Seu grande
teste, entretanto, foi quando o Reino Unido entrou em conflito com
a Argentina na conhecida e polêmica Guerra das Malvinas.

UNIDADE IV O Neoliberalismo e a Globalização 96


REFERÊNCIAS

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Elementos Delineadores do Sentimento Religioso Voltado à Expansão Territorial.
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VINCENT, A. Ideologias políticas modernas. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 1995.

99
CONCLUSÃO GERAL

Caro(a) estudante, em nossa disciplina vimos os principais aspectos que marcaram


a História Contemporânea. Foi um momento, que se desenrola até os dias atuais, de
interação entre as nações do mundo. Seja uma relação de troca, de dominação e, por vezes,
conflituosa. Esperamos que a discussão que apresentamos aqui possa abrir caminhos para
que você se aprofunde ainda mais em seus estudos.
Na primeira unidade, você viu o conceito de imperialismo e como este foi usado como
ferramenta de política externa, especialmente em países da europa, bem como dos Estados
Unidos. O mundo, neste contexto, foi repartido e subjugado, principalmente, na África e na
Ásia. Abordamos como se deu a partilha da África e ocupação da Ásia, que só foi possível pela
ideia que os europeus tinham que se tratavam de povos inferiores. Investigamos como essa
perspectiva se mostra presente até os dias atuais. Bem como, vimos que é no século XIX que
se desenvolvem os nacionalismos, cujo teor irá se desenvolver no início do século XX.
Na segunda unidade, você entendeu como o crescente nacionalismo, a corrida
armamentista e a disputa por território ocasionaram a Primeira Guerra Mundial, também
chamada de a Grande Guerra. No começo do século, discutimos também como a Revolução
Russa de 1917 se desenvolveu, gerando uma ordem política, econômica e social nunca
antes vista. Falamos também sobre a ascensão dos Fascismos, focando no caso italiano, e
também no movimento correlato na Alemanha, denominado nazismo. Inerente a isso, está
a Segunda Guerra Mundial, a qual mudou o rumo das potências e fez emergir os EUA como
líderes mundiais. Os EUA tiveram como adversário a URSS, que no contexto da Guerra
Fria, se envolveram mutuamente na disputa por zonas de influência.
Na terceira unidade, você viu com mais detalhes a Guerra Fria e o embate entre
socialismo e capitalismo. Nesta unidade, abordamos também o que foram os “trinta
gloriosos”, que representou o crescimento e fortalecimento dos países desenvolvidos.
Após a queda do muro de Berlim e a desintegração da URSS, o mundo passou por outra
mudança drástica, já que o mundo bipolar havia deixado de existir, pelo menos em tese.
O fim do mundo dividido entre os interesses da URSS e dos EUA possibilitou a
emergência do neoliberalismo. Vimos, portanto, na última unidade do que se trata esse
conceito e a sua aplicação. Aliado a isso, temos o fortalecimento dos ideais neoliberais na
Inglaterra de Thatcher, bem como nos Estados Unidos. Concluímos a unidade, abordando a
globalização e seus impactos. Por fim, esperamos que este material forneça as bases, para
que você possa conhecer melhor os eventos que marcaram a História Contemporânea.

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