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Professora Me. Maria Helena Azevedo Ferreira
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UNIDADE I....................................................................................................... 3
Imperialismo e Nacionalismo
UNIDADE II.................................................................................................... 29
A Crise do Capitalismo
UNIDADE III................................................................................................... 69
Da Guerra Fria à Queda do Muro de Berlim
UNIDADE IV................................................................................................... 83
O Neoliberalismo e a Globalização
UNIDADE I
Imperialismo e
Nacionalismo
Professora Me. Maria Helena Azevedo Ferreira
Plano de Estudo:
● Conceituando Imperialismos;
● A partilha da África;
● Imperialismo na Ásia e no Pacífico;
● Nacionalismo.
.
Objetivos da Aprendizagem:
● Conceituar e contextualizar imperialismo;
● Compreender o processo de partilha da África
e colonização na Ásia;
● Investigar o nascimento do nacionalismo.
3
INTRODUÇÃO
1
Produtos que são essencialmente matéria-prima
2
Grandes Extensões de terra com apenas um insumo. A história do Brasil viu a era da cana-de-açucar, do
café, da soja, dentre outros.
Diferente do que o imaginário popular legítima, não foi a livre iniciativa que
fizeram dos EUA uma grande potência, mas sim a sistemática intervenção do Estado na
economia. Poderíamos citar vários exemplos de corporações, como Carnegie Steel, que
tiveram altos lucros, pois seus produtos estavam protegidos da concorrência de produtos
de outros países, como a Inglaterra a qual eram impostas tarifas elevadas de importação.
Nesse sentido, o imperialismo estadunidense mostra-se como compromisso entre a elite
capitalista e o Estado. (MUNHOZ, 2009).
O imperialismo como fenômeno histórico deixou as suas marcas até os dias
atuais. Enquanto elemento multifatorial, que envolve economia, política, cultura e
sociedade, subjugou inúmeros povos entendidos como inferiores e modelou a sociedade
contemporânea a que assistimos hoje. Esse fenômeno, também tomado como conceito – já
que sua aplicabilidade é viável em diferentes contextos – foi objeto de estudo de alguns
teóricos, como veremos a seguir.
Isso quer dizer que para Schumpeter o imperialismo é resultado de fatores pré-
capitalistas. Não haveria, portanto, um interesse econômico direto na expansão imperialista,
mas sim um fator político de manutenção de poder e prestígios. Essa concepção teve
bastante êxito, sobretudo, entre os liberais-conservadores estadunidenses, que tendiam a
ver inclinações imperialistas clássicas apenas na União Soviética.
Ao apresentarmos algumas das concepções teóricas acerca do imperialismo,
podemos ver que não apenas a historiografia, mas também outros campos do conhecimento
tendiam a ver a complexidade do fenômeno. Este capítulo na história contemporânea
inaugura uma nova configuração no globo, no qual mercadorias, pessoas e ideias foram
trocadas. Esse processo também evidenciou a visão de mundo européia e estadunidense
e a submissão que impuseram a outros povos.
A África foi palco de bruscas mudanças entre os anos de 1880 e 1910, que coincide
com as investidas imperialistas de países europeus sobre o vasto continente. Até 1880
algumas poucas áreas estavam sob o regime colonial europeu, e havia uma imensa área
cujo o governo estava nas mãos de seus próprios reis, rainhas, impérios, chefes de clã, e
toda sorte de governos.
Em toda a África ocidental, essa dominação limitava-se às zonas costeiras e
ilhas do Senegal, à cidade de Freetown e seus arredores (que hoje fazem parte
de Serra Leoa), às regiões meridionais da Costa do Ouro (atual Gana), ao litoral
de Abidjan, na Costa do Marfim, e de Porto Novo, no Daomé (atual Benin), e à
ilha de Lagos (no que consiste atualmente a Nigéria). Na África setentrional, em
1880, os franceses tinham colonizado apenas a Argélia. Da África oriental, nem
um só palmo de terra havia tombado em mãos de qualquer potência europeia,
enquanto, na África central, o poder exercido pelos portugueses restringia -se
a algumas faixas costeiras de Moçambique e Angola. Só na África meridional
é que a dominação estrangeira se achava firmemente implantada, estendendo
-se largamente pelo interior da região. (BOAHEN, 2010, p. 1)
Isso quer dizer que os europeus já não queriam apenas trocar produtos, mas sim
exercer um controle político sobre o continente, assim naquela altura, o armamento europeu
superava tecnologicamente as armas na África. Mas como explicar o porquê de naquele
dado momento histórico a África ter sido tomada de assalto, repartida, dominada e ocupada?
Por que os africanos não foram capazes de proteger sua soberania e afastar o colonialismo
europeu? São questões amplas e multifatoriais, as quais iremos explorar a seguir.
Alguns acontecimentos importantes estimularam a corrida pela partilha da África.
O primeiro deles foi o interesse, até então inaudito, de Leopoldo I, rei dos belgas, em 1876.
Neste ano na Conferência de Geográfica de Bruxelas, a realeza, fundamentou a exploração
do Congo e a criação do Estado Livre do Congo. No mesmo ano, outro aspecto salutar,
Portugal deu início a uma série de expedições, que levaram o país a anexar propriedades
rurais moçambicanas. Um terceiro aspecto, que impulsionou a corrida, foi a política
expansionista francesa entre 1879 e 1880, dividindo o controle do Egito com o Reino Unido,
bem como “pelo envio de Savorgnan de Brazza ao Congo, pela ratificação de tratados com
Makoko, chefe dos Bateke, [e] pelo restabelecimento da iniciativa colonial francesa tanto na
Tunísia como em Madagáscar.” (UZOIGWE, 2010, p. 32).
A partir daí a África foi recortada de acordo com os interesses dos países euro-
peus, seja através de tratados unilaterais ou bilaterais, o que fez com que o mapa do
continente ficasse dividido não conforme a divisão étnica do continente. Segue abaixo um
mapa, meramente ilustrativo, da divisão étnica do continente africano, que evidencia como
provavelmente seria a divisão da África se não houvesse a repartição europeia.
Fonte:https://overdosedeteorias.files.wordpress.com/2017/03/partilha.jpg
Você pode observar que cerca de 30% das fronteiras são linhas retas, cortando ao
meio, muitas vezes, fronteiras étnicas e linguísticas. Antes dessa partilha, como pudemos
contemplar na imagem 2, a África era subdivida em etnias, porém essas fronteiras, segundo
Uzoigwe (2010) eram móveis, por conta de relações internas. A partilha da África fixou
fronteiras, seja de maneira imposta ou seguindo alguns contornos pré-definidos.
Vimos que a partilha da África se deu por meio de tratados unilaterais ou bilaterais
por parte dos europeus, mas em que medida esses tratados eram válidos? Como e porque
os africanos os “aceitaram”?
Seu estudo leva à conclusão de que alguns deles são juridicamente
indefensáveis, outros moralmente condenáveis, enquanto outros ainda foram
obtidos de forma legal. No entanto, trata‑ se aí de atos essencialmente políticos,
defensáveis somente no contexto do direito positivo europeu, segundo o qual
a força é a fonte de todo o direito. Mesmo quando os africanos procuravam
abertamente celebrar tratados com os europeus, a decisão era sempre ditada
pela força que eles sentiam no lado europeu. Em certos casos, os africanos,
por suspeitarem das razões apresentadas pelos europeus para a conclusão
desses tratados, recusavam‑se a participar deles, mas, submetidos a pressões
intoleráveis, acabavam por aceitá‑las. Muitas vezes, africanos e europeus
divergiam sobre o verdadeiro sentido do acordo a que haviam chegado. Fosse
como fosse, os governantes africanos consideravam, por sua parte, que esses
tratados políticos não os despojavam de sua soberania. Viam neles, antes,
acordos de cooperação, impostos ou não, que deveriam ser vantajosos para
as partes interessadas. (UZOIGWE, 2010, p. 39, grifo nosso).
A Ásia tomou uma nova composição geográfica e por onde quer que se olhasse
via-se povos divididos, isolados de sua maioria, isso por conta dos interesses econômicos
na região. Uma das práticas econômicas típicas do imperialismo na Ásia era a imposição de
monopólios, como era o caso dos monopólios de sal e ópio, no qual os países produtores
só poderiam vender para o país que o dominava. Esses monopólios eram tão lucrativos
que dobraram a receita vinda das colônias na primeira década de vigência.
A prática econômica imperialista representou um duro golpe para o desenvolvimento
de vários países asiáticos. Os imperialistas consumiam as matérias-primas e desestimulavam a
industrialização, para não competir com seus próprios mercados. Um exemplo disso foi a Índia,
A Índia, antes da era colonial a maior fornecedora de tecidos de algodão do
mundo, perdeu essa posição no século XIX para a massiva indústria têxtil
que se desenvolveu nas Midlands inglesas. Efetivamente, a porção asiática
do PIB mundial caiu de mais de 60% em 1800 para menos de 20% em 1940.
Esse enorme declínio não foi acidental. Enquanto a indústria e as economias
dos dominadores prosperavam, as das colônias estavam deliberadamente
restritas. (MASON, 2017, p. 113)
Como pudemos ver, o período que compreende o último quartel do século XIX
até 1914 foi marcado pela expansão dos países da Europa sobre quase todo o globo. Um
sentimento comum que os unia era o sentimento de nacionalidade. A historiografia tem
poucas dúvidas que no final do século XIX se formava caldo do nacionalismo, que vinha se
formando desde a “primavera dos povos” de 1948.
Para Hobsbawm (1979) a Primavera dos Povos de 1848 – série de manifestações
populares em toda a Europa – foi uma afirmação de nacionalidade. Por toda parte via-se
a construção de Estado-Nações, não apenas na Europa, mas nos Estados Unidos, onde a
Guerra Civil expressou a tentativa de manter a unidade dos EUA , bem como no Japão com
a Restauração Meiji.
Mas do que se tratava esse nacionalismo? Certamente era algo difícil de definir, já
que a “nação” era um dado natural.
Certamente os ingleses sabiam o que era ser inglês, os franceses, alemães
ou russos certamente não tinham dúvidas do que fosse sua identidade
coletiva. Talvez não, mas na era da construção de nações acreditava-se que
isso implicava a lógica necessária assim como a desejada transformação de
“nações” em Estados-Nações soberanos, com um território coerente, definido
pela área ocupada pelos membros da “nação”, que por sua vez era definida
por sua história, cultura em comum, composição étnica e, com crescente
importância, língua. (HOBSBAWM, 1979, p. 127-128)
Nos EUA do século XIX se expandia para oeste, essa expansão estava apoiada na
crença de que o país tinha uma missão, designada por Deus, de conquistar o continente.
Sendo assim, a doutrina do Destino Manifesto estava ancorada em preceitos calvinistas,
no qual acreditava-se que Deus escolhia os seus eleitos, tendo como missão principal
levar valores morais e iluminar povos considerados inferiores. Este quadro, ainda que
contestável pelos próprios contemporâneos, foi importante elemento para a criação de
um sentimento nacional.
REFLITA
LIVRO
Título: A Era dos Impérios: 1875 -1914
Autor: Eric Hobsbawm.
Editora: Paz e Terra.
Sinopse: Este livro faz parte da trilogia das “Eras” do importante
historiador Eric Hobsbawm. As obras de Hobsbawm são leituras
quase que obrigatórias para estudantes e pesquisadores de
História Contemporânea. No livro em questão, o autor traz uma
análise sobre os acontecimentos desde a crise de 1875, a expansão
europeia, o imperialismo até os acontecimentos que deram origem
à Primeira Guerra Mundial.
FILME/VÍDEO
Título: O Homem que Queria ser Rei
Ano: 1975.
Sinopse: Enquanto a Índia era dominada pelos colonizadores
ingleses, dois ex-soldados britânicos decidem explorar os países
ao redor. Os destemidos Peachy Carnahan (Michael Caine) e
Daniel Dravot (Sean Connery) viajam para o Kafiristão, onde
pretendem conquistar o sucesso e viver como reis.
Plano de Estudo:
● Primeira Guerra e Revolução Russa;
● A tentação totalitária: a ascensão dos Fascismos;
● O Nazismo na Alemanha;
● Segunda Guerra Mundial;
● A Guerra Fria.
Objetivos da Aprendizagem:
● Compreender as causas e consequências da
Grande Guerra e da Revolução Russa;
● Analisar o surgimento e a anatomia do Fascismo;
● Entender a ascensão do Nazismo na Alemanha;
● Refletir sobre as causas da Segunda Guerra Mundial;
● Analisar os principais eventos da Guerra Fria.
29
INTRODUÇÃO
Prezado (a) estudante, ao longo desta unidade veremos o desenrolar do breve século
XX. Nas palavras de Hobsbawm este foi um momento de profunda crise do capitalismo,
correlacionado com a derrocada dos sistemas democráticos; liberais e a ascensão de regimes
totalitários. Com isso, esperamos que nesta unidade você possa ter domínio dos fatos e
interpretações históricas que marcaram o mundo, especialmente a Europa e os EUA.
O primeiro tópico traz dois assuntos, a Primeira Guerra Mundial e a Revolução
Russa, que são fenômenos contemporâneos. Veremos que a Grande Guerra, como também
é chamada, foi fruto de um crescente nacionalismo e imperialismo dos países beligerantes
logo no início do século. Abordaremos também a queda do czar na Rússia e a subsequente
implantação de um sistema político e econômico inspirado nas acepções socialista.
O próximo tópico traz uma discussão importante sobre a ascensão do Fascismo.
Nos debruçaremos, em especial, no caso italiano, que inspirou outras formas de fascismo
em outros lugares do mundo. Procuraremos situar o fenômeno como consequência do
conflito para as nações derrotadas, que viram o crescimento vertiginoso de movimentos
ultranacionalistas, de extrema direita e de teor totalitário.
Inerente ao fascismo temos o Nazismo na Alemanha que, como é de conhecimento
geral, promoveu o holocausto gerando a morte de milhões de pessoas. É fundamental
compreender que esse movimento na Alemanha também foi um desdobramento da Grande
Guerra, da Grande Depressão de 1929, bem como de ideias eugenistas, racistas e do
darwinismo social. Tais elementos, conforme veremos, vêm acompanhados da ideia de
superioridade racial dos germânicos em detrimento de outros povos, como os judeus. Você
verá com mais detalhes como aconteceu a escalada ao poder de Hitler.
Além disso, a Alemanha de Hitler apregoava a necessidade de um “espaço vital”,
justificando a política expansionista da Alemanha. Conforme abordaremos mais adiante,
essa foi uma das causas do estopim da Segunda Guerra Mundial. Esse conflito teve como
característica central o conceito de guerra total, quando todas as forças produtivas do país
estão a serviço da guerra e também mobiliza não apenas militares, mas também civis.
Por fim, discutiremos os principais eventos da Guerra Fria e seus desdobramentos. Dessa
forma, procuraremos explorar os principais acontecimentos do século XX.
Bons estudos!
UNIDADE III A
Imperialismo
Crise do Capitalismo
e Nacionalismo 30
1. PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL E REVOLUÇÃO RUSSA
UNIDADE III A
Imperialismo
Crise do Capitalismo
e Nacionalismo 31
Desta citação, podemos retirar três perspectivas: 1) As razões primárias que
fizeram com que o conflito se deflagrasse 2) Os motivos que se sustentaram durante o
conflito e 3) As consequências inesperadas da guerra. A primeira perspectiva diz respeito
às razões pelas quais a Guerra se iniciou, portanto, comecemos por elas.
Uma guerra generalizada na Europa já era prevista desde o último quartel do século
XIX, pelo menos em nível intelectual. Enquanto Friedrich Engels em 1880 examinava as
possibilidades de um conflito em nível mundial, Nietzsche observou a crescente militarização
dos países da Europa. A preocupação foi suficiente para que fosse realizado o Congresso
Mundial da Paz em 1890, o primeiro Nobel da Paz em 1897 e a primeira das Conferências
de Paz de Haia em 1899. Apesar disso, “nos anos 1900, a guerra ficou visivelmente mais
próxima e nos anos 1910 podia ser considerada iminente.” (HOBSBAWM, 1995, p. 419).
Antes de tudo é preciso entender a corrida armamentista que precedeu a
guerra. Os exércitos, cada vez maiores e mais militarizados, serviam, sobretudo, para as
guerras nas colônias, que eram extremamente inóspitas pelo alto índice de mortalidade,
contudo, raramente os soldados atuavam no próprio continente. Tendo isso em vista que os
governantes passaram a investir em tecnologia bélica, que cresceu notavelmente a partir
de 1880. Essa “tecnologia da morte” cresceu não apenas no âmbito militar, mas também no
campo civil com a invenção das cadeiras elétricas, por exemplo. Essa corrida armamentista
foi extremamente cara, pois os países competiam um com outro em termos de poder bélico,
movimentando a indústria da morte. Um exemplo de capitalista que enriqueceu no ramo de
explosivos, foi Alfred Nobel, que tentando compensar sua atividade, destinou parte de sua
riqueza à causa da Paz. Assim, foi criada uma economia da morte:
Os bens que essa indústria produzia eram determinados não pelo mercado, mas
pela interminável concorrência dos governos, que os fazia procurar garantir para
si um fornecimento satisfatório das armas mais avançadas e, portanto, mais
eficientes. E mais, o que os governos precisavam não era tanto da produção real
de armas, mas sim da capacidade de produzi-las numa escala compatível com
uma época de guerra, se fosse o caso; isso quer dizer que ele tinham que zelar
para que suas indústrias mantivessem uma capacidade de produção altamente
excedente para tempos de paz. (HOBSBAWM, 1995, p. 425)
A partir disso, fica claro que os governos para além de uma concorrência com outros
Estados-Nação, tinham que manter a indústria nacional funcionando, ou seja, adotaram
medidas protecionistas contra o livre-mercado e a imprevisível livre concorrência, por
isso, os governos preferiram se aliar aos capitalistas nacionais. Ainda que os fabricantes
de armas tenham feito acordo com os governos, não é possível explicar a guerra nesses
termos. (HOBSBAWM, 1995).
UNIDADE III A
Imperialismo
Crise do Capitalismo
e Nacionalismo 32
De maneira gradual, formaram-se dois blocos de países e essa divisão foi
originária da unificação da Alemanha, ocorrida entre 1864 e 1871, que buscava aliados
para se defender do principal perdedor, a França, que perdeu a região da Alsácia-Lorena.
Fruto, em partes, deste episódio foi a aliança entre Alemanha e a Áustria-Hungria para
assegurar a integridade do frágil Império Alemão. Desse modo, juntou-se a aliança à
Itália1 para formar a Tríplice Aliança. (HOBSBAWM, 1995)
A Áustria-Hungria enfrentava problemas na região dos Bálcãs – região disputada
por vários países –, que se aprofundaram com a conquista da Bósnia-Herzegovina, gerando
oposição da Rússia. Ficou claro que a Alemanha, apesar de Bismarck ter tentado ter boas
relações com a Rússia, teria que ficar ao lado da Áustria-Hungria. Dada à oposição entre
Alemanha e França, era óbvio que a França buscasse como aliada à Rússia, que foi deixada
de lado pelos alemães. (HOBSBAWM, 1995).
Veja, são duas zonas de tensão, a primeira, entre a França e a Alemanha, devido
à anexação da Alsácia-Lorena e, a segunda, entre Áustria e Rússia, devido à região dos
Bálcãs. Mas como o conflito se generalizou a ponto de se tornar um conflito de grandes
proporções? Os problemas entre França e Alemanha não eram de interesse da Áustria,
bem como a questão dos Bálcãs não era relevante para a França. Sobre a nossa questão,
Hobsbawm explica:
Três problemas transformaram o sistema de aliança numa bomba-relógio:
a situação do fluxo internacional, desestabilizado por novos problemas e
ambições mútuas entre as nações, a lógica do planejamento militar conjunto
que congelou os blocos que se confrontavam, ornando-os permanentes, e a
integração de uma quinta grande nação, a Grã-Bretanha, a um dos blocos.
(HOBSBAWM, 1995, p. 433)
Entre 1903 e 1907, a Grã-Bretanha se uniu ao lado anti alemão, mas quais foram os
motivos dessa oposição? Em um primeiro momento a Grã-Bretanha não tinha atritos com
a Alemanha, nem mesmo antes da unificação e construção do Império Alemão, tampouco
tinha razões para estar ao lado da França, já que foram antagonistas em inúmeras guerras
desde o século XVII, bem como concorrentes imperialistas. No que se refere à Rússia,
o Império Britânico também foi seu oponente na conquista de territórios do oriente e em
terras mal definidas que ficavam entre a Índia e as terras czaristas. As alianças entre Grã-
Bretanha, França e Rússia aconteceram desafiando todas as probabilidades.
Aconteceu porque até então o mapa de rivalidades estava restrito à Europa e agora
tinha ficado bem maior com a entrada dos EUA e do Japão, bem como fatores inerentes à
nova configuração econômica mundial que mudaram a posição da Grã-Bretanha.
1
A Italia se afastou em 1915 para se unir ao campo anti alemão
UNIDADE III A
Imperialismo
Crise do Capitalismo
e Nacionalismo 33
Diferentemente de meados do século XIX, a Grã-Bretanha já não era a “oficina do
mundo”, nem o principal mercado importar, pelo contrário a centralidade britânica agora era
posta em questão. Com isso, o poderio econômico, ligado ao contexto de concorrência,
esteve também ligada ao poder militar e a sua demonstração. (HOBSBAWM, 1995)
No contexto imperialista, a penetração da Alemanha no Império Otomano gerou
preocupação nos britânicos, que tinham claras intenções de continuar e expandir sua
influência ao redor do globo. Cada vez mais ser um grande Estado passou a ser sinônimo
de ser uma grande economia e capitalismo, cujo núcleo é a busca por lucro, não possui
limites. Sendo assim, um conflito de grandes proporções entre Alemanha e Grã-Bretanha
por territórios coloniais parecia impensável, mas não era igualmente imprevisto que os
britânicos se unissem ao lado anti-alemão. Assim foi formado o bloco anglo-franco-russo,
ou mais conhecido por Tríplice Entente.
A Alemanha, pós-unificação, adotava um tom cada vez mais expansionista e
nacionalista, expressa pela frase: “Heute Deutschland, margen die ganze” (Hoje a Alemanha,
amanhã o mundo inteiro).
O perigo residia antes que um poder global exigia uma marinha global, e a
Alemanha empreendeu (1897), portanto, a construção de uma grande es-
quadra de guerra, que tinha a vantagem incidental de representar não os
velhos estados alemães, mas exclusivamente a nova Alemanha unificada [...]
(HOBSBAWM, 1995, p. 440)
Isso era um sinal de alerta para a Grã-Bretanha, a senhora dos mares, que entendeu
essa posição da Alemanha como extremamente preocupante, já que ameaça seus domínios.
Por isso, os britânicos se aliaram aos EUA, um país amigo, para proteger as águas america-
nas, e as águas do extremo oriente ficaram a cargo dos EUA e Japão, que na época estavam
envolvidos em conflitos regionais e não pareciam representar uma ameaça ao Império Bri-
tânico. Diante do perigo que se avizinhava, na visão dos britânicos, era lógico que estes se
aproximassem dos franceses e dos russos contra a Alemanha. (HOBSBAWM, 1995).
Essa divisão em blocos, entre Tríplice Aliança e Tríplice Entente levou um pouco
mais de duas décadas, demonstrando o atrito internacional que foi instalado. Foram várias
as tentativas de reaproximar os países de cada bloco, mas falharam tornando-os ainda
mais inflexíveis. Houve algumas questões internacionais como 1) a revolução da Rússia
de 1905 (que antecedeu a revolução de 1917), que deixou o poder czarista enfraquecido
e abriu espaço para a Alemanha em suas investidas no Marrocos. 2) em 1907 houve a
Revolução Turca que destruiu acordos pré-firmados e permitiu que a Áustria se apoderasse
de uma vez por todas da Bósnia-Herzegovina, 3) A Alemanha enviou um canhão para o
porto de Agadir no Marrocos – à época estava sob o protetorado dos franceses – a fim de
obter alguma compensação, mas desistiu porque a Grã-Bretanha estava ao lado da França.
UNIDADE III A
Imperialismo
Crise do Capitalismo
e Nacionalismo 34
Diante da desintegração do Império Otomano por revolucionários turcos, as
potências europeias assistiram desesperadas a região ficar fora do controle da Europa:
O máximo que as potências europeias conseguiram foi criar um Estado inde-
pendente na Albânia (1913) [...] A crise balcânica seguinte foi precipitada em 28
de junho de 1914, quando o herdeiro do trono austríaco, arquiduque Francisco
Fernando, visitou a capital da Bósnia, Sarajevo. (HOBSBAWM, 1995, p.444)
Quando um jovem terrorista, o ativista sérvio Gavrilo Princip, decidiu pelo assassinato
do arquiduque não se esperava que tal ato deflagrasse a primeira grande guerra. Foi então
que a Áustria entrou em guerra com a Sérvia em 1914, a Alemanha ficou ao lado dos
austríacos e não tentou acalmar a situação, enquanto que a Rússia e a França ficaram ao
lado dos Sérvios. (THOMSON, 1976; HOBSBAWM, 1995).
UNIDADE III A
Imperialismo
Crise do Capitalismo
e Nacionalismo 35
Para entender a configuração dos motivos que levaram o Império Austro-húngaro
a declarar guerra à Sérvia, é preciso entender a região dos bálcãs como um caldeirão
multicultural, cujo o crescimento da Sérvia era vista como ameaça aos austríacos, no
sentido de desintegrar os seus tão frágeis componentes nacionais. Já a Rússia, de
acordo com Thomson (1976, p. 55) “não podia tolerar a Expansão Austríaca nos Bálcãs
sem perder a simpatia dos povos eslavos da Europa Oriental”. No momento a Alemanha
ficou ao lado da Áustria e a França ao lado da Rússia e da Sérvia era porque temiam
perder suas alianças. A partir daí o jogo de alianças passará a ser perigoso. Depois
disso, a Alemanha invadiu a Bélgica – que fica ao norte da Europa e faz divisa com a
França – para atentar contra Paris “antes que os russos pudessem a atacar e antes que
um possível apoio britânico pudesse se tornar efetivo” (THOMSON, 1976, p.55).
Logo em seguida, a Grã-Bretanha declarou guerra à Alemanha, temendo o poder
naval do país. O Japão também declarou guerra à Alemanha com intenção de se apoderar
de concessões na China e de ilhas no Pacífico. Depois de um certo tempo, o Império Turco
Otomano e a Bulgária se aliaram à Alemanha, porque um era inimigo da Rússia e outro nutria
desavenças com a Sérvia. A Itália se uniu à Tríplice Entente porque lhe foram prometidos ganhos
territoriais, por meio do Tratado de Londres. De todo modo, a entrada de cada uma das nações
foi guiada por avaliações acerca da segurança e poder nacional. (THOMSON, 1976).
Thomson (1976) entende que uma vez começada a guerra, no final de junho de
1914, os motivos que levaram à eclosão se modificaram. A França continuava lutando por
uma questão de sobrevivência, porque havia sido invadida, na mesma situação estavam
a Sérvia e a Rússia. A Alemanha lutava em duas frentes, a leste e a oeste, e tentava não
sucumbir à invasão dos inimigos. Os Impérios Austro-húngaro e Turco viam a guerra como
alternativa única ao colapso interno. Apenas Grã-Bretanha e mais tarde os EUA tinham
alternativa, pois ainda não corriam o risco de serem invadidas.
Até 1917 não podemos definir uma posição ideológica dos blocos. Os britânicos,
russos e franceses, diziam lutar contra o imperialismo e militarização da Alemanha, mas eles
próprios eram imperialistas e altamente militarizados. O ponto central de 1917, consistiu na
saída da Rússia da guerra, que enfrentava os próprios conflitos internos – como veremos
mais adiante – e na entrada definitiva dos EUA.
A partir daí, tornou-se principalmente uma guerra entre as potências
marítimas ocidentais, que também eram coloniais, e de idéias democráticas,
e as potências dinásticas centrais e orientais, que eram impérios continentais
hostis aos ideais da democracia. (THOMSON, 1976, p. 58)
UNIDADE III A
Imperialismo
Crise do Capitalismo
e Nacionalismo 36
Houve uma transformação da natureza do conflito em seu terceiro ano, que
influenciou o resultado, uma vez que a participação dos EUA foi fundamental para a vitória
da Tríplice Entente. A entrada dos EUA e a saída da Rússia fez com que fosse desenhado
um conflito de ideologias entre nações “democráticas” e não-democráticas. Esse modelo
tendeu a se fortalecer em outros conflitos, como foi o caso da Segunda Guerra.
De uma maneira geral, a guerra não foi longa, se comparada a outros embates
europeus. A Grande Guerra durou cinquenta e dois meses e ficou mais conhecida pela sua
intensidade, pela capacidade veloz de mobilização de exércitos e suprimentos e também
pela capacidade de autodestruição. Cada potência passou a requerer maiores esforços
de sua população, como o alistamento obrigatório e o aumento/inserção de impostos. Os
apelos pela ajuda dos civis tinham uma pauta nacionalista e defendiam a justiça social após
a guerra e “cada vez mais se ouvia o argumento de que, se a organização e a determinação
humanas podiam produzir tais maravilhas na guerra, um esforço comparável na paz podia
remover todos os males sociais.” (THOMSON, 1976, p. 60)
Os discursos produzidos no contexto da guerra, essencialmente pelo bloco Entente,
versavam sobre como seria a Europa pós-guerra. O presidente W. Wilson dos EUA esboçou
14 pontos para as negociações do pós-guerra e dentre estes pontos vemos: 1) liberdade
nos mares em tempos de paz e guerra 2) retiradas das barreiras comerciais 3) reajuste
das reivindicações coloniais e novo desenho do mapa da Europa, especialmente a região
oriental 4) Criação de uma organização internacional para impedir a guerra. (THOMSON,
1976). Estava formada uma ideologia de cunho liberal, que também tocava no ponto
nevrálgico das diversas nacionalidades que estavam sob a guarida dos Impérios Alemão e
Austro-húngaro, em uma espécie de guerra psicológica, desestabilizando a unidade destes
Estados. Aos poucos a guerra foi tomada como uma cruzada moral, pela democracia e
pelos ideais liberais. Mas, é importante lembrar que esse idealismo estava sobreposto aos
velhos ideais nacionalistas que haviam guiado as nações ao conflito.
A Grande Guerra ficou conhecida como a guerra das trincheiras, compostas por
um emaranhado de arames farpados e homens munidos com metralhadoras. Isso quer
dizer que a vantagem ficou entre aqueles que escolheram um plano militar estratégico
mais defensivo, já que a ofensiva era extremamente dispendiosa. Thomson (1976, p.64)
ressalta, porém, que “Somente duas armas podiam arrebatar a vantagem de que gozava a
defensiva. Um era o tanque e a coluna motorizada.”
UNIDADE III A
Imperialismo
Crise do Capitalismo
e Nacionalismo 37
Depois que a Rússia se retirou da guerra, através de um tratado de paz com os
alemães em 1917, a Alemanha estava disponível para lutar em apenas uma frente, a
ocidental. Por outro lado, todos os aliados dos alemães estavam entrando em colapso,
pois viam as nacionalidades dentro de seus territórios se inflamarem, o que as fez ruir em
um momento posterior. Com o reforço estadunidense na frente oeste, a Alemanha não
encontrou outra saída:
Agora, no outono de 1918, com a Alemanha extenuada ao máximo, seus
aliados rendendo-se e as tropas americanas desembarcando na Europa
a uma média de 250.000 por mês, o Alto Comando Alemão notificou seu
governo de que não poderia vencer a guerra, e recomendou que a Alemanha
solicitasse armistício. (THOMSON, 1976, p.67)
UNIDADE III A
Imperialismo
Crise do Capitalismo
e Nacionalismo 38
Uma das consequências mais visíveis da guerra foi o fortalecimento das paixões
nacionais:
As mobilizações das massas e as perdas, as violentas paixões levantadas
pelo massacre de dez milhões de homens, a prolongada tensão de um
esforço de guerra demorado, a partilha das mágoas na adversidade, e do
triunfo na vitória, tudo conspirou para atormentar os espíritos dos homens
com orgulho nacionalista e fervor patriótico. Em cada país, o inimigo era
apresentado como bestial, inescrupuloso e completamente dominado pelo
ódio. (THOMSON, 1976, p. 76-77)
UNIDADE III A
Imperialismo
Crise do Capitalismo
e Nacionalismo 39
Rapidamente, a classe operária mal paga e em horríveis condições de vida e de
trabalho, tomou consciência de si, da importância da coletividade, da organização e da
possibilidade e da necessidade de uma convulsão social que desembocaram na Revolução:
Ao contrário da classe média, o proletariado russo assimilava do Ocidente
uma ideologia que ainda não esgotara a própria vitalidade. A revolução de
1848 e a Comuna de Paris de 1871, juntamente com os escritos de Marx e
Engels, mais a experiência política dos partidos da Segunda Internacional,
criaram um corpo de doutrina socialista trabalhadora. (HILL, 1977, p. 18)
Por que ideias socialistas encontraram terreno fértil em um país que sequer havia
passado pela industrialização de fato? Diferente da Inglaterra ou da França onde as demandas
dos trabalhadores eram absorvidas pelas ideias reformistas dos liberais, na Rússia não
vigorava essa tradição e muito menos havia esperança que houvesse mudanças por meio
constitucionais. Desde o início, os líderes do movimento proletário acreditavam que era
necessária uma ruptura violenta com o regime vigente e o que dizia o Manifesto Comunista,
de Marx e Engels representava uma verdade para os trabalhadores. (HILL, 1977)
Um governo como o do czar, por um período de tempo, quando a extensão
do país não permitia a comunicação pelo extenso território, serviu como elemento
centralizador. Mas, com a invenção do telégrafo e do trem a vapor, a existência desse
poder centralizador representado pelo czar começou a se mostrar obsoleto. Apesar disso,
Nicolau II continuava insistindo em seu direito divino para governar e em recusar qualquer
interferência em seu governo absolutista.
Portanto, segundo Hill (1977, p. 21), a razão fundamental para a Revolução foi
a “incompatibilidade entre o regime czarista e as exigências da civilização moderna”. A
Grande Guerra veio acelerar a crise, pois os conflitos anteriores que acabaram deflagrando
a Grande Guerra, como o embate com o Japão em 1905, trouxeram não apenas a
derrota, mas também geraram insatisfação com um governo ineficiente e corrupto. O que
se desenrolou na Revolução de 1905, que instituiu a Duma, uma espécie de assembleia
legislativa, com representantes eleitos pelo povo.
O ano de 1906 foi decisivo, na medida em que o czar prometera que nenhuma
decisão seria tomada sem antes passar pela Duma de Estado. Contudo, Nicolau II recebeu
um empréstimo voluptuoso de banqueiros franceses e a partir disso, acreditou que poderia
ignorar a Duma. (HILL, 1977).
UNIDADE III A
Imperialismo
Crise do Capitalismo
e Nacionalismo 40
A guerra criou uma situação delicada para a Rússia e para o czar, na medida
que as tropas avançavam elas ficavam sem os suprimentos básicos. O que colocava em
cheque a eficiência do imperador em prosseguir no conflito e fazia com que os aliados,
como a Inglaterra e a França apoiassem a Duma para pressionar o czar a liberar as
forças improdutivas do país. Além disso, “em 1916 os juros e reservas da dívida do
Estado ascendiam a muito mais que toda a receita, metade devia-se a bancos e governos
estrangeiros, e a dívida externa aumentava rapidamente. (HILL, 1977, p. 24).
O jovem Vladimir I. Lenin, aos vinte cinco anos, no programa do Partido Social-
Democrático, até então inexistente, advogava pela união dos trabalhadores frente ao
capitalismo. Como já dissemos, boa parte da industrialização do país era devida ao capital
estrangeiro. Para Lênin os capitalistas encontraram na Rússia um governo solicito, uma
massa de trabalhadores desorganizados e um padrão de vida reduzido, gerando ainda
mais lucros. Mas isso estava prestes a mudar, já que o investimento estrangeiro e o
desenvolvimento do capitalismo tardio, criava condições para uma revolução contra o czar.
Por outro lado, o czar e as demais potências estavam prontos para uma revolução
burguesa em território russo, de caráter parlamentarista, no entanto, não foi isso o que
aconteceu:
Mas os interesses dos capitalistas nativos e dos investidores estrangeiros coin-
cidiram tarde. Por esse tempo o movimento proletário já evoluíra a um
ponto em que estava apto a pôr de lado o frágil governo liberal, de tão
pouca base social na Rússia quanto o governo czarista em seus dias derra-
deiros; e com o advento dos bolcheviques, em novembro de 1917, saíram da
cena juntos o capitalismo russo e o estrangeiro. (HILL, 1977, p. 25, grifo nosso)
Para Lenin, a lei fundamental da revolução para a Revolução não era apenas que
as classes oprimidas tomassem consciência de sua exploração e exigissem mudanças,
mas também que os opressores não tivessem meios para viver como antes. Daí por diante
era preciso criar uma classe trabalhadora consciente e capaz de dar a própria vida pela
Revolução. (HILL, 1977)
Neste contexto, havia uma forte aliança entre o Estado e a Igreja Ortodoxa. O
governo de Nicolau II lutava para que qualquer pensamento dissidente fosse calado. A
Igreja, por sua vez, convocava confissões de clérigos e fiéis para colher informações para
o Estado, além de promover conversões forçadas, perseguições às pessoas, chegando a
afastar filhos de pais. Isso fazia com que aqueles que sofreram tais tipos de perseguições,
logo enfileiram-se pela revolução e pela liberdade de crença. (HILL, 1977).
UNIDADE III A
Imperialismo
Crise do Capitalismo
e Nacionalismo 41
Depois do estopim da guerra em 1914, em São Petersburgo, inflamou-se um
movimento grevista, que clamava por maiores salários em vista da alta de preços. O salário
subiu nos quatro anos que se seguiram, mas não acompanhou o aumento vertiginoso de
preços. A guerra começou a ser vista como mero capricho do czar em face das milhares de
vidas perdidas e da situação econômica delicada, enquanto que a Rússia somava derrotas
nos campos de batalha.
O cenário já estava crítico quando Rasputin – místico influente na família de Nicolau
II – foi assassinado por um membro da Duma. Três meses depois, o governo autocrático
foi derrubado “por um movimento de massa quase espontâneo, de operários e soldados,
Petrogrado, movimento que ninguém jamais reivindicou o mérito de tê-lo organizado.”
(HILL, 1977, p. 33). A partir daí, foi organizado um Governo Provisório, com integrantes dos
partidos liberais, que eram maioria na Duma, que prometeu:
[...] liberdade de opinião, de imprensa, de reunião e de associação; direito
de greve; extinção de todos os privilégios nacionais e de classe; organização
de uma milícia popular com oficiais eleitos; eleição para a criação de órgãos
regionais de governo e uma Assembléia Constituinte, por sufrágio universal,
igualitário, direto e secreto. (HILL, 1977, p. 33)
Isso foi em março de 1917 e obteve a simpatia dos aliados da Rússia, que temiam
que o pior acontecesse depois da saída do país da guerra. As massas clamavam por
revolução e liberdade e para Hobsbawm (2005, p. 67) “o feito extraordinário de Lenin foi
transformar essa incontrolável anárquica popular em poder bolchevique”.
Com a notícia da abdicação do czar, os exilados que viviam na Suíça puderam
voltar, dentre eles Lenin. Mas quem foi Lenin? Lenin nasceu em 1870 em Simbirsk e era
filho de professores de classe média, intelectualmente esclarecidos. Teve uma educação
normal primária, mas ao chegar na faculdade foi expulso por participar e encabeçar motins.
Dali por diante, esteve na mira policial e teve negado diversos pedidos de ingressar em
universidades. Só conseguiu fazê-lo em anos mais tarde e em 1891 se formou como o
primeiro da classe de Direito. Depois disso, Lenin exerceu a advocacia como assistente
de um advogado liberal. (HILL, 1977)
Mais tarde, em 1887, esboçou a vontade de se tornar um revolucionário profissional
a amigos. Já realizava leituras como O Capital de Marx e fazia parte de grupos de estudos
marxistas. Em 1893 uniu-se a um grupo de marxistas que fazia contato com trabalhadores
em fábricas. A esta altura, Lenin havia construído uma reputação com teórico, ele escrevia
panfletos, que eram distribuídos aos operários. Em seguida, Lenin e seus companheiros
foram presos, o líder bolchevique ficou um ano na cadeia e foi mandado para o exílio.
Quando voltou à Rússia em 1917 foi aclamado chefe do Partido Bolchevique.
UNIDADE III A
Imperialismo
Crise do Capitalismo
e Nacionalismo 42
Quando o governo do czar caiu, além do governo provisório, surgiu uma série de
conselhos das mais variadas vertentes, os social-democratas bolcheviques e os social-
revolucionários, os mencheviques. Contudo, as massas não sabiam muito bem o que
significavam todos estes rótulos e não pretendiam estar sob o controle de qualquer tipo de
autoridade. A reivindicação das massas pobres era o pão, dos operários melhores condições
de salário e trabalho e da maioria da Rússia – 80% agrária – era a terra, assim como
desejava-se o fim da guerra. Logo o slogan “Pão, paz e terra”, dos bolcheviques, ganhou
popularidade. Vemos, portanto, que os bolcheviques se apropriaram de insatisfações
populares e as incorporaram em seu programa.
O Governo Provisório, por outro lado, não soube reconhecer o que levava a Rússia
a não obedecer as leis e os decretos. As suas pautas como tentar estabelecer uma disciplina
de trabalho, radicalizou os trabalhadores ainda mais; a sua tentativa de retornar a guerra
deu lugar a deserção dos soldados. Enquanto isso, os bolchevistas cresciam em número e
em dimensão, penetrando não apenas nas fábricas, mas também no exército, com isso, de
acordo com Hobsbawm (1995, p. 68) “o Governo Provisório tornou-se cada vez mais irreal”.
Os bolcheviques tomaram o poder, através daquela que ficou conhecida como
Revolução de Outubro em 1917. A pergunta era se o bolchevismo era capaz de governar
um país em face da anarquia, o próprio Lenin debruçou-se sobre o problema. Com a ideia
central de “Todo poder aos sovietes”, que eram conselhos operários deliberativos, os
bolcheviques continuaram no poder. (HOBSBAWM, 1995)
Hobsbawm (1995) argumenta que existem três motivos centrais, pelos quais a
Rússia Soviética teria sobrevivido: 1) A existência de um partido único, o Partido Comunista,
em caráter centralizado e organizado. 2) Se mostrou a única opção de governo viável, já
que a Rússia não tinha uma longa tradição liberal. 3) Por fim, este governo permitiu ao
campesinato tomar a terra.
Com isso, a Revolução Russa pôs em xeque as aspirações de um globo uniformemente
liberal. Representando para o mundo, um perigo e uma esperança, na medida em que
governos liberais ocidentais temem revoltas similares em seus territórios e uma esperança
para os socialistas de todo mundo. Seja por um socialismo de caráter mundial, como queria
Lenin, que morreu cedo em 1922, ou por uma URSS centralizada e forte como apregoou
Stálin, o seu sucessor, a Revolução marcou para sempre o mundo contemporâneo.
UNIDADE III A
Imperialismo
Crise do Capitalismo
e Nacionalismo 43
2. A TENTAÇÃO TOTALITÁRIA: A ASCENSÃO DOS FASCISMOS
Meses mais tarde, após este episódio, surgiu o programa fascista. Uma curiosa
mistura entre nacionalismo e experimentos radicais, numa espécie de “nacional-socialismo”.
Do lado nacionalista, o programa visava a expansão da Itália sobre a região dos Bálcãs,
mas também pregava o sufrágio feminino, o voto aos dezoito anos de idade, uma nova
constituição para a Itália, jornada de oito horas diárias, participação dos trabalhadores
na administração das fábricas, confisco de determinados bens da Igreja e a expropriação
parcial de todos os tipos de riqueza. (PAXTON, 2007)
UNIDADE III A
Imperialismo
Crise do Capitalismo
e Nacionalismo 44
O movimento comandado por Mussolini também se caracterizava pela violência e
pelo caráter anti-intelectual. Enfim, estavam articulados veteranos de guerra, sindicalistas
pró-guerra e os chamados “intelectuais futuristas”. Mas quem eram esses grupos, por que
estavam ao lado de Mussolini na agenda fascista? Primeiro, os sindicalistas estiveram
lado a lado a Mussolini para levar a Itália à Primeira Guerra em 1915, estes eram rivais
do socialistas parlamentares, pois enquanto estes últimos lutavam por reformas pontuais
que levariam a obsolescência do capitalismo, seguindo a linha marxista. Os sindicalistas,
ao contrário, acreditavam que poderiam derrubar o capitalismo pela sua força de vontade,
derrubando o capitalismo num só golpe. No contexto da entrada na Primeira Guerra
Mundial, alguns sindicalistas acreditaram, junto com Mussolini, que o ingresso da Itália
na Guerra faria com que essa se aproximasse a uma revolução social. Assim, nasceram
os chamados “sindicalistas nacionais”.
Os intelectuais futuristas, por sua vez, eram uma associação de jovens escritores
e artistas que apoiavam os “Manifestos Futuristas” de Marinetti. Os seguidores de Marinetti
se opunham ao legado histórico dos museus e bibliotecas e se voltavam para a exaltação
da velocidade e da violência, enquanto elementos libertários. Outra corrente que apoiou
Mussolini se manifestou sobre aqueles que acreditavam no segundo ressurgimento italiano e
faziam duras críticas ao parlamentarismo, que deixara a Itália numa posição subalterna. Estes
sonhavam com uma “Grande Itália” e um novo Estado, com “líderes enérgicos, cidadãos
motivados e a comunidade nacional unida como a Itália merecia”. (PAXTON, 2007, p. 19)
O fascismo irrompe na Itália não apenas com atos de violências para com jornais
socialistas, mas também contra a “legalidade burguesa”, em nome de um suposto bem
maior. Foi na Itália que o fascismo começou e recebeu o seu nome, mas ao mesmo tempo,
em outras partes do mundo, nasciam movimentos nacionalistas, anti capitalistas, anti
socialistas, que usavam de violência ativa contra os inimigos. (PAXTON, 2007).
A retórica anticapitalista, porém, não durou muito, diferentemente da perseguição
aos comunistas, que seguiu firme. Chegando ao poder, o governo fascista proibiu as
greves, acabaram com os sindicatos independentes, reduziram o poder de compra do
trabalhador e inflaram a indústria armamentista, para deleite dos patrões. A crítica do
fascismo acerca do capitalismo em nada tinha a ver com a exploração, como faziam os
comunistas. Eles criticavam a indiferença com a nação e a incapacidade de mobilizar
indivíduos em volta dela.
UNIDADE III A
Imperialismo
Crise do Capitalismo
e Nacionalismo 45
É importante salientar que no regime fascista a relação entre Estado e indivíduo
foi redemolada. Há uma tentativa de fazer com que o interesse individual inexista e este só
pode ganhar corpo à medida que corrobora com a coletividade, representada pelo Estado
e seus símbolos.
Em seu desenvolvimento máximo [o fascismo] redesenhou as fronteiras
entre o público e o privado, reduzindo aquilo que antes era intocavelmente
privado. Transformou a prática da cidadania, do gozo dos direitos e deveres
constitucionais à participação em cerimônias de massa de afirmação e
conformidade. Reformulou as relações entre indivíduo e coletividade, de
forma a que um indivíduo não tivesse qualquer direito externo ao interesse
comunitário. (PAXTON, 2007, p. 28)
UNIDADE III A
Imperialismo
Crise do Capitalismo
e Nacionalismo 46
O governo italiano não estava preparado para lidar com essa ofensiva, na verdade
este era quase que sumariamente inexistente devido à um parlamento extremamente
heterogêneo. Anteriormente, em 1921, o primeiro-ministro italiano não viu outra saída a
não ser incluir os fascistas nas eleições de maio daquele ano. (PAXTON, 2007)
Os camisas negras, apesar das tentativas em os interceptar do governo italiano,
chegaram a Roma, estavam maltrapilhos, com pouca água e comida. Nesse ínterim, Mussolini
se apresenta ao monarca Vittorio Emmanuel III com uma proposta difícil: ou o governo italiano
fazia frente aos camisas negras ao custo de considerável derramamento de sangue ou fazia
de Mussolini o Chefe de Estado. O Rei escolhe a segunda opção. Os motivos para tal são
de ordem especulativa. Dizia-se que o monarca fora aconselhado por um Marechal que caso
ordenasse que as tropas incidissem sobre os fascistas corria-se o risco de que estes se
juntassem aos camisas negras. Assim, Mussolini foi direcionado ao poder após este episódio
que ficou conhecido como Marcha sobre Roma. (PAXTON, 2007).
Diante de uma sociedade fragmentada, bipolarizada, com problemas econômicos
e políticos, os fascistas chegaram ao poder oferecendo um novo programa político, ainda
que em sua prática continuassem com o apoio dos conservadores. De acordo com Paxton
(2007), podemos destacar alguns pontos centrais acerca da retórica fascista:
1. Noção de crise catastrófica, a qual as soluções tradicionais não podem resolver.
2. Entendimento de que há uma primazia do grupo, na qual os deveres são
superiores a qualquer direito, universais ou individuais.
3. Crença de que o próprio grupo é sempre vítima, legitimando ações ilimitadas
contra os supostos inimigos.
4. Medo da decadência do grupo frente à concepções liberais individualistas, de
influências estrangeiras ou mesmo de conflitos de classe, ou seja, qualquer agente
que possa desintegrar o grupo.
5. Necessidade da figura de um líder, sempre homem, capaz de sumarizar o destino
histórico do grupo.
6. Concepção de que os instintos do líder se sobrepõem a qualquer razão abstrata
ou universal.
7. Exaltação da violência como forma de êxito do grupo
8. Visão de que o povo eleito deve dominar os demais, independente do que diga a
lei humana, entendendo que o mais “forte” deve se sobressair aos demais.
UNIDADE III A
Imperialismo
Crise do Capitalismo
e Nacionalismo 47
Tais características são próprias do fascismo, que se estendeu a outros países,
como foi o caso da Alemanha de Hitler. É importante pontuar que o Nazismo alemão,
conforme compreende Paxton (2007), faz parte do espectro Fascista, ainda que em seu
seio possua características próprias, conforme veremos mais adiante.
SAIBA MAIS
Fascismo de esquerda?
UNIDADE III A
Imperialismo
Crise do Capitalismo
e Nacionalismo 48
3. O NAZISMO DA ALEMANHA
UNIDADE III A
Imperialismo
Crise do Capitalismo
e Nacionalismo 49
Antes de compreender como Hitler chegou ao poder, precisamos nos debruçar
sobre os antecedentes históricos da Alemanha. No contexto de unificação do Estado
alemão na segunda metade do século XIX, temos a figura de Bismarck, líder considerado
forte e responsável por instaurar o Segundo Reich. Bismarck procurou germanizar as
minorias, que estavam em território alemão, seja impondo a língua alemã nas escolas ou
mesmo incentivando a ocupação destes territórios por alemães. Entretanto, os sucessores
de Bismarck viram que vários problemas não haviam sido sanados. além da persistências
de povos não-germânicos - o que era mal visto pela maioria da população germânica -
os alemães se sentiam como país de segunda classe em comparação com os ingleses
e franceses, donos das melhores tropas e melhores possessões ao redor do globo. Às
vésperas da Primeira Guerra, a Alemanha já havia se militarizado e o sentimento nacionalista
estava mais exacerbado do que nunca. (EVANS, 2010).
Outro ponto que merece atenção é a questão racial. Por que o sentimento an-
tissemita se instalou no seio da sociedade alemã? Certamente, Hitler e seus apoiadores
encontraram elementos históricos que permitiram que essa minoria - correspondente a
quase 1% da população - fosse perseguida e o sentimento de ódio fosse legitimado. Evans
(2010) explica que muitos judeus conseguiram certo êxito econômico ao se dedicarem a
atividades que exigiam qualificação, ligadas à modernidade e à intelectualidade. Tal êxito
fez com que muitos alemães ficassem ressentidos, já que dentre todas as minorias étnicas,
os judeus foram os únicos que alcançaram um melhor status econômico. Em 1873 houve
uma profunda crise econômica mundial que afetou muitos trabalhadores alemães que,
em sua incompreensão sobre a estrutura que os afetava e inflados por jornais católicos e
conservadores, logo culparam os judeus pela sua derrocada.
O antissemitismo tradicional enfocava a religião não cristã dos judeus e
obtinha seu poder política da sanção bíblica. O Novo Testamento culpava
os judeus pela morte de Cristo, condenando-os à desaprovação eterna ao
declarar que de bom grado haviam concordado em deixar o sangue de
Cristo ser derramado sobre eles e seus descendentes. Como uma minoria
não cristã em uma sociedade governada por crenças cristãs e instituições
cristãs, os judeus eram alvos óbvios e fáceis de ódio popular em tempos de
crise [...] (EVANS, 2010, p. 36)
UNIDADE III A
Imperialismo
Crise do Capitalismo
e Nacionalismo 50
A perseguição aos judeus passou de uma interpretação bíblica, que os considerava
assassinos de Cristo e se transformou em em uma questão racial. Via-se o povo germânico
racialmente superior ao povo judaico.
Tomando emprestadas as teorias da moda do racista francês conde Joseph
Arthur de Gobineau, Marr contrastou os judeus não com os cristãos, mas com
os alemães, insistindo que eram duas raças distintas. Os judeus, declarou ele,
haviam adquirido o controle na luta racial e estavam virtualmente comandando
o país; não era de espantar, pois, que os honestos artesãos e pequenos
empresários alemães estivessem sofrendo. Marr foi adiante, inventando a
palavra “antissemitismo” e, em 1879, fundando a Liga de Antissemitas, a
primeira organização do mundo a ter essa palavra em seu nome. Dedicava-
se, como dizia ele, a reduzir a influência judaica na vida alemã. Seu texto
desferia uma nota apocalíptica pessimista. Em seu “Testamento”, ele
proclamou: “A questão judaica é o eixo em torno do qual gira a roda da história
do mundo”, indo adiante para registrar sombriamente sua visão: “Todo nosso
desenvolvimento social, comercial e industrial é construído em cima de uma
visão de mundo judaica.” (EVANS, 2010, p. 37).
UNIDADE III A
Imperialismo
Crise do Capitalismo
e Nacionalismo 51
Entretanto, na visão dele, existiam outras raças que estavam impedindo o
crescimento dos alemães. Outro pensador que discorreu sobre a questão racial, baseado no
darwinismo social, foi Ploetz, este argumentou favoravelmente com relação à eugenia, ou
seja, à eliminação dos considerados maculados e um estímulo aos considerados “fortes”,
defendendo inclusive que uma equipe médica deveria assistir aos partos e definir se aquele
ser humano estaria apto para viver ou se seria deixado para morrer. A ideia por trás disso
era a eliminação dos mais fracos e o incentivo, até mesmo a força, para que os “fortes”
procriassem mais, a fim de garantir a eficiência do Estado. Em pouco tempo, estas ideias
foram difundidas na medicina, na assistência social e no direito (EVANS, 2010).
Evans (2010) explica que o antissemitismo e a higiene racial foram os pilares do
nazismo. Em um contexto pós Primeira Guerra, a Alemanha, derrotada, assinou o Tratado
de Versalhes, que lhe impôs perda do poderio e extensão de suas forças militares, além
dos embargos econômicos colocados pelos Aliados, perda de parte dos territórios coloniais
e a aceitação da culpa exclusiva pelo conflito. O sentimento de humilhação após estas
condições era visível em toda a Alemanha.
Tudo isso foi recebido com horror incrédulo pela maioria dos alemães. O
senso de ultraje e incredulidade que varreu as classes média e alta alemãs
como uma onda de choque foi quase geral e teve impacto maciço também
sobre muitos operários apoiadores dos social-democratas moderados. A
força e o prestígio internacionais da Alemanha vinham em curso ascendente
desde a unificação em 1871, de modo que a maioria dos alemães sentiu
de repente que a Alemanha havia sido brutalmente expulsa da categoria
das grandes potências e coberta com o que consideravam uma vergonha
indevida. O Tratado de Versalhes foi condenado como uma paz ditada,
imposta de forma unilateral sem possibilidade de negociação. O entusiasmo
que muitos alemães de classe média haviam demonstrado pela guerra em
1914 virou um ardente ressentimento quanto aos termos da paz quatro
anos depois. (EVANS, 2010, p.60)
Evans (2010) aponta que se não fosse o cenário caótico do pós-Guerra e após
assinatura do Tratado de Versalhes, a figura de Hitler jamais teria relevância política. Hitler,
que era austríaco, foi um artista frustrado, que não conseguiu ingressar na Academia
Vienense de Artes, com a justificativa de que este ficaria melhor como arquiteto. Hitler
mudou-se para a capital e passou a viver uma vida boêmia, vivendo da venda de pequenos
quadros, na maior parte réplicas, e alojado em um abrigo para homens. Envolto no espírito
de sua época, Hitler passou a ter contato com jornais antissemitas. Até esse ponto seu
antissemitismo era abastrado, contudo, ganhou formas após o fim da Primeira Guerra.
Em sua autobiografia, Minha Luta de 1925, fica claro que o seu ódio não era
direcionado apenas aos judeus, mas também aos marxistas.
UNIDADE III A
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Crise do Capitalismo
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Por vezes, Hitler associa a figura do judeu com o marxismo, colocando a
responsabilidade do caos da nação nestes indivíduos. Além disso, Hitler conservava um
desprezo pelo Estado e pela Lei, dirigindo suas críticas ao parlamentarismo, entendendo
que apenas um líder forte poderia salvar o povo germânico.
Depois de partir para a Alemanha, onde se sentia em casa, pois estava distante
da cosmopolita cidade de Viena, Hitler ficou entusiasmado com a declaração da guerra em
1914. Ainda que não fosse alemão, foi recrutado para o conflito e sentiu-se alegre com a
oportunidade de lutar pelo o que se acreditava. Atuou como mensageiro e foi promovido
a cabo até sofrer um ferimento de guerra e precisar se afastar do fronte. Enquanto se
recuperava ficou sabendo da derrota alemã e do armistício. (EVANS, 2010).
Cabe lembrar que após a derrota na guerra foi instaurada a República Weimar,
de caráter democrático e com uma nova constituição. No entanto, estes tinham que lidar
com as consequências da guerra. Já que o número de mortes por habitante ultrapassou
a marca de qualquer outro país beligerante, deixando viúvas e filhos órfãos. Além disso,
mais de dois milhões de soldados voltaram com ferimento permanentes e faziam pressão
num Estado que já estava em uma complicada situação econômica. Assim, o pagamento
de pensões, seguro-desempregos e outros custos previdenciários aumentou muito. Para
tentar sair desta situação, o Estado passou a imprimir mais dinheiro, o que fez com que a
inflação aumentasse vertiginosamente. (EVANS, 2010).
Sob a República Weimar, os judeus gozaram de certa estabilidade, podiam ocupar
cargos públicos e os jornais mais vendidos pertenciam a judeus. De fato, estes apoiavam
a República, garantindo os votos aos democratas, ainda que vissem o antissemitismo
crescer. Depois da guerra, os judeus passaram a ser responsabilizados pelas imposições
do Tratado de Versalhes, bem como acusados de se envolverem com o Partido Comunista,
implantando a República. (EVANS, 2010).
Hiperinflação, desemprego, violência urbana assolavam a Alemanha pós- guerra.
Além disso, havia a questão política, grande parte dos alemães estavam engajados
politicamente, o que pode ser verificado na alta de participações nas eleições. Havia
também a crença de que a sociedade alemã estava corrompida moralmente, isso tanto
na direita como na esquerda, os quais ficavam chocados com o hedonismo dos jovens na
capital e também com a luta das mulheres pelo sufrágio feminino - o qual foi conquistado
depois de 1918. (EVANS, 2010).
UNIDADE III A
Imperialismo
Crise do Capitalismo
e Nacionalismo 53
Considerando o contexto alemão do período pós guerra, nos debruçamos a pensar
em algumas questões, dentre elas: como Hitler e o partido nazista chegaram ao poder?
Evans (2010) aponta que Hitler foi produto das circunstâncias, entrou em contato com as
ideias de Schonerer, que considerava que o crescimento do povo germânico tinha como
obstáculo a mistura das raças. Ainda assim, Hitler não se considerava com o potencial
de liderança, pelo menos até 1914, mas um ano após a derrota em 1919, lançou-se, pela
influência do exército, em cursos de instrução política: “Os cursos que Hitler frequentou
destinavam-se a arrancar quaisquer sentimentos socialistas remanescentes nas tropas
regulares da Bavária e doutriná-las com as crenças de extrema direita.” (EVANS, 2010,
p.119). Hitler assimilou de tal forma o que era ensinado, que logo em seguida foi chamado
para ser instrutor, foi ali que descobriu sua habilidade com oratória, destacando-se por
conseguir se comunicar com homens comuns, bem como destacava-se pelo veemente
antissemitismo.
Nesta altura, Hitler era considerado agente político do exército. Assim, foi
convocado para averiguar do pequeno, até este momento, Partido dos Trabalhadores
Alemães. Seu fundador Anton Drexler era contrário ao capital indevido, atribuía os males
dos trabalhadores alemães aos judeus e se voltava contra o bolchevismo. Pouco depois,
Hitler pediu para se filiar ao partido:
Hitler, ainda encorajado pelos oficiais superiores do Exército, rapidamente
tornou-se o orador de destaque do partido. Ele usou seu sucesso como base
para instigar o partido a realizar reuniões públicas cada vez maiores, grande
parte delas em cervejarias, anunciadas com antecedência por campanhas
com cartazetes e frequentemente acompanhadas por cenas de desordem.
No final de março de 1920, agora indispensável para o partido, decidiu com
convicção que aquela seria sua futura atividade. A demagogia havia lhe
restituído a identidade perdida com a derrota alemã. Deixou o Exército e se
tornou um agitador político em turno integral. (EVANS, 2010, p.120)
Com isso, as reuniões do partido foram ficando cada vez maiores, com Hitler dizendo
às massas exatamente o que queriam ouvir e também com uma linguagem simples e direta.
O agitador político conquistava cada vez mais adeptos, reduzia os complexos problemas
econômicos da Alemanha, as maquinações dos judeus. Considerava que os comerciantes
judeus estavam jogando os preços para cima e, muito provavelmente, para enfatizar tal
posição anticapitalista, o partido mudou de nome para Partido Nacional-Socialista dos
Trabalhadores Alemães, abreviado para “Nazi”.
UNIDADE III A
Imperialismo
Crise do Capitalismo
e Nacionalismo 54
Contudo, Evans (2010) alerta que seria errôneo classificar, partindo do nome do
partido, como uma forma de socialismo:
É verdade, conforme alguns ressaltaram, que sua retórica frequentemente
era igualitária, sublinhava a necessidade de colocar as necessidades comuns
acima das necessidades do indivíduo, e muitas vezes declarava-se contrária
aos grandes negócios e ao capital financeiro internacional. Também é famoso
o fato de que o nazismo certa vez foi tachado de “socialismo dos tolos”. Mas,
já de saída, Hitler declarou-se implacavelmente contrário à social-democracia
e, de início em muito menor extensão, ao comunismo; afinal de contas, os
“traidores de novembro”, que assinaram o armistício e mais tarde o Tratado
de Versalhes, não foram absolutamente os comunistas, mas os social-demo-
cratas e seus aliados. Os “nacional-socialistas” queriam unir os dois campos
políticos de esquerda e direita pelo fato de que, argumentavam eles, os ju-
deus haviam manipulado a nação alemã. A base para tal seria a ideia de raça.
Isso estava a anos-luz de distância da ideologia do socialismo, baseada nas
classes. Em certos aspectos, o nazismo era uma contraideologia extrema ao
socialismo, tomando emprestada muito de sua retórica no processo, desde
a autoimagem como movimento em vez de partido, até o muito alardeado
desprezo pela convenção burguesa e pela timidez conservadora. (EVANS,
2010, p.121)
Ao trocar a classe, defendida pelos socialistas, por raça, assim como trocar a
ditadura do proletariado pela ditadura do líder, o Partido Nacinal-socialista afastava-se da
ideologia socialista. Ainda sim, usavam elementos do socialismo para atrair seguidores,
um exemplo disso é a bandeira escolhida por Hitler, com um vermelho vibrante, cor do
socialismo, a suástica em preto, que era o símbolo do nacionalismo racista, no centro um
círculo branco. Essas cores fazem menção à bandeira oficial do império de Bismarck.
No final de 1920 a retórica de Hitler contra o capitalismo judaico havia mudado
de figura, colocando no lugar o ódio contra o marxismo. Ainda assim, Evans (2010, p.
122) aponta que “o antibolchevismo de Hitler era produto de seu antissemitismo”. Já nesta
época, Hitler pregava que os judeus jogavam a raça germânica uns contra os outros, dessa
forma deveriam ser exterminados.
Naquele ponto, o Partido Nazista havia conquistado vários adeptos e membros que
foram peça-chave para a elaboração do programa nazista. Dentre os vinte e cinco pontos
do programa estava o desejo de tornar a Alemanha maior, a revogação do Tratado de paz e
pena de morte para especuladores, criminosos comuns e agiotas. Os judeus ficariam sem
nenhum direito político e seriam considerados estrangeiros. Por fim, o programa previa a
criação de um poder centralizado e a substituição do parlamento. (EVANS, 2010).
UNIDADE III A
Imperialismo
Crise do Capitalismo
e Nacionalismo 55
Com um programa de extrema direita e com domínio completo sobre o partido, Hitler
começou sua campanha de propaganda, que deslanchou e logo partiu para a violência.
Sob a anuência de Hitler, jovens nazistas atacavam adversários. Esses episódios eram
recorrentes e o líder nazista foi ameaçado de extradição, no entanto, Hitler acabou preso por
um mês e quando retornou estava novamente envolvido em outras brigas. Tais episódios só
foram possíveis porque a área paramilitar estava cada vez mais forte no Partido.
Com as notícias vindas da Itália acerca da Marcha sobre Roma em 1922, o Partido
Nazista teve suas esperanças renovadas:
O exemplo de Mussolini influenciou o Partido Nazista de várias maneiras,
notadamente na adoção do título de “Líder” – Duce em italiano, Führer
em alemão –, no final de 1922 e início de 1923, para denotar a autoridade
inquestionável do homem à frente do movimento. O crescente culto da
personalidade de Hitler no Partido Nazista, alimentado pelo precedente
italiano, também ajudou a convencer o próprio Hitler de que era ele, e não
algum personagem por vir, que estava destinado a liderar a Alemanha para um
futuro renascimento nacional, uma convicção confirmada de modo indelével
pelos eventos do outono de 1923. A essa altura, os nazistas também haviam
começado a tomar emprestada dos fascistas italianos a saudação com o
braço direito teso e estendido, com a qual cumprimentavam ritualmente seu
líder em uma imitação das cerimônias da Roma imperial; o líder respondia
erguendo a mão direita, com o cotovelo flexionando e a palma para cima, em
um gesto de aceitação. (EVANS, 2010, p.127-128)
Hitler passou a pensar que poderia fazer na Alemanha o mesmo que Mussolini
fez na Itália. Com uma tentativa frustada de golpe em novembro de 1923, que acabou
com cinco anos de prisão para Hitler e um pouco menos para seus companheiros, o líder
nazista aproveitou o tempo em que esteve encarcerado para ler e também para escrever
sua autobiografia, Mein Kampf ou Minha Luta. Neste livro ficou evidente que o conflito racial
era central para Hitler, bem como a conquista do espaço vital, deixando claro que este
desejava a revisão do Tratado de Versalhes. (EVANS, 2010)
Após a tentativa de golpe, tanto os nazistas como seus grupos paramilitares, foram
colocados na clandestinidade, além disso, com o seu líder na cadeia, a tendência do
partido foi se fragmentar. Mais tarde, solto graças a uma liminar, em 1925, Hitler refunda o
Partido Nazista com uma faceta mais autoritária e centralizadora em torno de sua figura.
Quando o adversário político de extrema direita saiu do jogo, Hitler ficou como um forte
proponente deste espectro político.
UNIDADE III A
Imperialismo
Crise do Capitalismo
e Nacionalismo 56
Foi neste período que Joseph Goebbels conheceu o partido nazista:
Em breve, Goebbels tornou-se um organizador do Partido na Renânia. Aprimorou-
se como orador eficiente, talvez o mais eficiente dos locutores nazistas com
exceção de Hitler, lúcido, popular e rápido nas respostas aos apartes importunos.
Começou a voltar seus talentos literários para o uso político em artigos para a
imprensa nazista, dando um efeito pseudossocialista ao credo nazista. Goebbels
enfim havia encontrado seu métier. Dentro de poucos meses, era um dos
oradores nazistas mais populares da Renânia, atraindo a atenção de lideranças
da regional do Partido e começando a desempenhar um papel significativo na
decisão de sua política. Tanto quanto Gregor Strasser, Joseph Goebbels estava
por trás do desafio do norte alemão à liderança do partido de Munique em 1925.
Mas ele também logo começou a cair sob o fascínio de Hitler, entusiasmado por
uma leitura de Minha luta. (EVANS, 2010, p. 139-140)
UNIDADE III A
Imperialismo
Crise do Capitalismo
e Nacionalismo 57
4. SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
A Segunda Guerra foi um conflito militar de caráter mundial, que durou de 1939 a
1945. A Guerra envolveu todas as principais potências divididas em duas alianças: o Eixo
e os Aliados. A seguir veremos como o conflito teve início e suas principais características,
bem como descobriremos como a guerra chegou a seu fim.
Conforme vimos na unidade anterior, a Alemanha de Hitler tinha claras pretensões
de expandir seu território, com base na teoria de espaço vital, e também procurava
fortalecer o seu poderio militar. Além disso, outros países tais como a Itália e Japão
estavam dispostos a conquistar territórios. Em 1935 a Alemanha rompeu com os tratados
de paz e começou a ressurgir como potência militar e naval, também saiu da Liga das
Nações. Nesse mesmo ano, Mussolini invadiu a Etiópia, enquanto a Alemanha anexava
a Renânia, com forte apoio da Itália. (HOBSBAWM, 1995).
Alemanha e Itália firmaram um acordo formal, ademais a Alemanha também fazia
aliança com o Japão. Este último já havia invadido parte da China, em uma frente de batalha
que durou até 1945.
Em 1938, a Alemanha também achou que chegara a hora da conquista. A
Áustria foi invadida e anexada em março, sem resistência militar, e, após várias
ameaças, o acordo de Munique em outubro despedaçou a Tchecoslováquia e
transferiu grandes partes dela para Hitler, mais uma vez pacificamente. O resto
foi ocupado em março de 1939, encorajando a Itália, que não tinha demonstrado
ambições imperiais por alguns meses, a ocupar a Albânia. Quase imediatamente
uma crise polonesa, mais uma vez resultante de mais exigências territoriais
alemãs, paralisou a Europa. Disso veio a guerra européia de 1939-41, que se
tornou a Segunda Guerra Mundial. (HOBSBAWM, 1995, p.119).
UNIDADE III A
Imperialismo
Crise do Capitalismo
e Nacionalismo 58
O que antes era um conflito Europeu transformou-se em um conflito em escala global.
Eventos de caráter regional como a invasão da Itália à Etiópia (1935), a Guerra Civil Espanhola
(1936-1939), a intervenção militar da China pelo Japão (1937) e a invasão japonesa à URSS
(1938-1939), foram essenciais para entender como a guerra escalou internacionalmente.
Neste contexto, os países pautados pela democracia liberal sofreram com a crise ideológica,
fazendo pouca ou nenhuma frente aos países fascistas, enquanto estes emergiam.
No início de setembro de 1939 a Alemanha, com o apoio da Eslováquia, invadiu
a Polônia. Enquanto que França e Reino Unido, com os seus respectivos domínios,
declararam guerra à Alemanha, bem como impuseram um bloqueio naval, que tinha como
objetivo enfraquecer a Alemanha economicamente. Este pode ser considerado o estopim
da guerra. Havia também o desejo de fazer uma frente ampla contra o fascismo, tratando
de unir todos os países que ambicionavam o fim das investidas de Alemanha, Itália e Japão.
Nesse sentido, a Liga das nações oferecia um bom suporte para que as alianças contra o
Eixo se materializassem. (HOBSBAWM, 1995)
A organização de uma frente contra o fascismo foi objeto de discussão, já que os
países liberais e democráticos tinham várias reticências em se aliar ao regime comunista
da URSS. Por um lado, entendia-se como fundamental a participação da URSS na guerra,
por outro lado os soviéticos tinham ciência que não conseguiriam lidar com o Eixo sozinhos.
Por isso, Stálin foi favorável, posteriormente, à aliança com as potências ocidentais. Além
de que, conforme o nazismo avançava, tornou-se urgente o pacto dos demais países.
(HOBSBAWM, 1995)
As democracias ocidentais não desejavam ingressar na Guerra, visto que para
muitos, como a Grã-Bretanha, manter os status quo vigente desde o conflito de 1914 era
virtualmente impossível. A Grã-Bretanha não tinha mais a força naval de outrora e também
ficava claro que a Segunda Guerra destruiria a economia e seu império.
Contudo, acordo e negociação eram impossíveis com a Alemanha de Hitler,
porque os objetivos políticos do nacional-socialismo eram irracionais e ilimi-
tados. Expansão e agressão faziam parte do sistema, e, a menos que se
aceitasse de antemão a dominação alemã, ou seja se preferisse não resistir
ao avanço nazista, a guerra era inevitável, provavelmente mais cedo do que
mais tarde. (HOBSBAWM, 1995, p.125)
Ainda, nesta época, alguns países ocidentais prezavam por uma política de
apaziguamento. Porém, ela se mostrou ineficaz, pois o nazi-fascismo não estava disposto a
ceder ou fazer qualquer tipo de acordo. A partir disso, podemos entender o desenvolvimento
da guerra em três fases distintas.
UNIDADE III A
Imperialismo
Crise do Capitalismo
e Nacionalismo 59
A primeira é o poderio alemão, juntamente com as forças do Eixo, conquistaram
partes da Tchecoslováquia - logo em seguida todo o território. Mais tarde, em maio de 1940
a Alemanha invadiu a França, Luxemburgo, os Países Baixos e a Bélgica. Logo depois, em
junho, a Itália também invadiu a França, dessa maneira o país Aliado não teve outra escolha
se não se render, logo o país foi dividido em zonas de influência pelos alemães e italianos.
Paralelamente, contingentes britânicos no país foram cercados pelas forças
alemãs no porto de Dunquerque. Estes seriam em grande parte socorridos por
um bem-sucedido programa de resgate capitaneado por Winston Churchill, o
qual assumira o poder alguns dias antes, vindo a se tornar símbolo da última
resistência liberal em luta aberta contra os nazistas após a débacle francesa.
(SCHUSTER, 2015, p. 263)
UNIDADE III A
Imperialismo
Crise do Capitalismo
e Nacionalismo 60
Na terceira fase do conflito, a derrocada do Eixo começa a ficar evidente e o fim
da guerra avizinhava-se. O dia D, como ficou conhecido, se caracterizou pela Operação
Fortitude, a qual pegou os nazistas de surpresa na Normandia. Esse episódio debilitou
muito as forças armadas hitleristas, no entanto, Hitler fez mais uma ofensiva, porém as
tropas anglo-americanas já estavam em território parisiense.
Reunidos em Potsdam (julho de 1945), os Aliados confirmaram as diretrizes
em torno da vitória total. Logo em seguida, a execução de Mussolini (28 de
abril), seguida do suicídio de Hitler, dois dias mais tarde, colocou um termo em
qualquer possibilidade de reação nazifascista. Em 8 de maio, a capitulação
alemã encerrou definitivamente a campanha do Oeste. Enquanto a guerra
continuava no Pacífico sem sinais de encerramento breve, tal o ímpeto da
resistência japonesa, o Presidente Harry Truman decidiu utilizar a bomba
atômica em Hiroshima (6 de agosto) e Nagasaki (9 de agosto). No dia 2
de setembro, o General MacArthur recebeu a capitulação incondicional dos
japoneses, encerrando seis anos de conflito. (SCHUSTER, 2015, p. 265)
UNIDADE III A
Imperialismo
Crise do Capitalismo
e Nacionalismo 61
5. GUERRA FRIA
Conforme vimos no tópico anterior, a URSS lutou ao lado dos Aliados, ainda que
nesta aliança, as posições ideológicas fossem diametralmente opostas. Após o fim do
conflito, a Europa, em especial, estava em frangalhos. A Grã-Bretanha, a senhora dos
mares, já não tinha capacidade de organizar e liderar as nações democráticas e liberais.
Logo, o foco seguiria para os EUA, que já implementavam políticas imperialistas e saiu da
Guerra quase ileso. Assim, começaria um embate ideológico entre as potências ocidentais
e o socialismo da União Soviética.
Logo após a Segunda Guerra, o globo se dividiu em duas zonas de influência, uma
sobre o controle dos EUA na parte ocidental e a URSS com uma parte oriental. Ainda assim
os países não estavam dispostos a entrar num embate direto pelas possessões ao redor
globo, mas sim incitavam e financiavam conflitos regionais. O fato de que as duas potências
não estavam dispostas a se enfrentar diretamente constituiu-se em uma característica
peculiar da chamada Guerra Fria. (HOBSBAWM, 1995).
O mundo vivia sob a tensão de uma nova guerra eclodir. Mesmo após a Segunda
Guerra, o ocidental considerava que não estava assegurado capitalismo mundial e o
liberalismo. Isso porque a Europa estava destruída e o perigo de uma revolução social
se aproximava. Os países, não apenas da Europa, como do chamado terceiro mundo,
obstinavam pelo apoio econômico das duas grandes potências.
UNIDADE III A
Imperialismo
Crise do Capitalismo
e Nacionalismo 62
Ainda que a URSS também estivesse destruída economicamente, além de
enfrentar convulsões sociais nas suas zonas de influência, o país se via na defensiva frente
aos EUA que prosperavam e estavam dispostos a ter sob seu domínio regiões que até
então estavam nas mãos da URSS. Na maioria dos casos, o país que buscava ajuda nas
grandes potências, não eram necessariamente fiéis ao programa ideológico da URSS ou
dos EUA, fazendo com que estes ora estavam sob a influência soviética, ora sob o domínio
estadunidense. (HOBSBAWM, 1995).
Contudo, dessa situação surgiu uma política de confronto dos dois lados.
A URSS, consciente da precariedade e insegurança de sua posição, via-
se diante do poder mundial dos EUA, conscientes da precariedade e
insegurança da Europa Central e Ocidental e do futuro incerto de grande
parte da Ásia. O confronto provavelmente teria surgido mesmo sem
ideologia. (HOBSBAWM, 1995, p. 183)
De todo modo, os EUA temiam para o futuro uma escalada soviética e a URSS
receava a hegemonia dos estadunidenses. O conflito ideológico, a criação de um inimigo
comum - comunismo - eram de certa forma muito úteis para os EUA no que diz respeito a
sua política eleitoral, pois fomentava as massas, já que “o anticomunismo era genuína e
visceralmente popular num país construído sobre o individualismo e a empresa privada”
(HOBSBAWM, 1995, p.185)
Ademais, construiu-se uma visão de que os EUA, dito defensor da liberdade, se
defendia de uma URSS agressiva. Essa visão é ortodoxa, construída logo no início do
conflito, que entendia que era uma luta do bem contra o mal, na qual o propósito dos EUA
seria garantir a vitalidade da sociedade livre, enquanto a URSS pretendia abraçar o mundo
todo, ao difundir o comunismo.
Uma das características mais marcantes da Guerra Fria foi a corrida armamentista
de ambos os lados, mesmo em tempos de paz. Ainda que os EUA saíssem na frente neste
quesito, já que a URSS estava dizimada no pós- guerra. Noam Chomsky (2003) esclarece
que a política de armamento dos EUA, cujo orçamento era o dobro da URSS, tinha como
objetivo também defender-se de uma série de inimigos criados após a segunda guerra
mundial. Os altos gastos com orçamento militar deveria encontrar na opinião pública uma
justificativa, assim o instrumento da propaganda foi extremamente útil para os Estados
Unidos, para assim mobilizar as massas em torno do propósito do país.
Depois da Grande Depressão de 1929, o sistema capitalista foi colocado à prova,
de modo que depois da Guerra ficava claro que o braço do Estado era extremamente
importante. Além disso, no pós-segunda guerra, ficava claro para os EUA, que eles deveriam
liderar o mundo e dominar as partes mais remotas do globo.
UNIDADE III A
Imperialismo
Crise do Capitalismo
e Nacionalismo 63
A dominação política e militar no chamado Terceiro Mundo foi manifestada tanto por
URSS como por parte dos EUA:
O apoio soviético a alvos da subversão norte-americana e de seus ataques
granjeou um certo grau de influência para a URSS em boa parte do Terceiro
Mundo, ainda que sua natureza fosse tênue. Quanto aos Estados Unidos,
sua intervenção no Terceiro Mundo, sobretudo nos primeiros anos, foi im-
pulsionada, em parte, pela meta de assegurar uma região atrasada para as
economias capitalistas de Estado que o país esperava reconstruir na Europa
Ocidental e no Japão. Ao mesmo tempo, o conflito da Guerra Fria ajudou a
manter a influência dos EUA sobre seus aliados industrializados e a refrear a
política independente, os movimentos trabalhistas e outras formas de ativis-
mo popular nessas nações. (CHOMSKY, 2003, p. 39)
UNIDADE III A
Imperialismo
Crise do Capitalismo
e Nacionalismo 64
FIGURA 2 - DIVISÃO DA ALEMANHA
Fonte: Toda Matéria. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/alemanha-oriental/. Acesso em: 09 dez. 2021.
UNIDADE III A
Imperialismo
Crise do Capitalismo
e Nacionalismo 65
Temendo a vitória dos socialistas, os EUA interferiram no pleito e decidiram apoiar
o golpe direitista. Isso causou uma série de conflitos entre o sul e o norte, foi quando os
EUA entrou definitivamente na guerra, mas retirou-se em 1973 por conta da pressão da
opinião pública.
Na terceira e última fase da Guerra Fria, vemos uma disputa por zonas de influência
na Ásia e na África. Tanto Estados Unidos como a União Soviética aproveitavam de
instabilidades políticas nestas regiões para poder exercer seu domínio em tais regiões. É
importante dizer que, já na década de 1980 o regime soviético, apesar dos avanços militares
e espaciais, sofriam de um desgaste junto à população, ou seja, já não tinham a legitimidade
de outrora. Foi quando Mikhail Gorbatchev assumiu o poder em 1985 e deu entrada em
dois planos: glasnost e a perestroika. A glasnost significava transparência e instituiu a
liberdade de imprensa, implementação do voto secreto e autonomia dos países sob a sua
influência. Já a perestroika, também chamada de reestruturação, visava a modernização da
economia, estabelecendo relações internacionais, de abertura da economia.
Outro evento importante foi a queda do muro de Berlim, que dividiu a cidade por
décadas. Enquanto o lado ocidental de Berlim deslanchou, graças ao Plano Marshall
e o ao apoio da Otan, o lado oriental permaneceu obsoleto e atrasado, logo surgiram
manifestações que clamavam por liberdade de ir e vir, gerando pressão no governo local,
que a pouco tinha decidido por liberar as restrições de viagem. Foi quando, em 1989,
um grande número de pessoas decidiu derrubar o muro, sendo um marco para o fim
da divisão do país. Logo depois, em 1991, eclodiram protestos na URSS pedindo o fim
do monopólio do Partido Comunista, assim como países do leste europeu pediam por
autonomia, assim o inevitável aconteceu e a URSS foi desintegrada.
REFLITA
UNIDADE III A
Imperialismo
Crise do Capitalismo
e Nacionalismo 66
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Durante esta unidade, vimos que o século XX foi marcado por eventos notáveis
e que refletem em nossa realidade contemporânea. O capitalismo foi colocado à prova
enquanto sistema econômico e social. Esperamos que você possa ter compreendido as
principais chaves de explicação para este período.
No primeiro tópico vimos a Primeira Guerra e a Revolução Russa e suas principais
características. Vimos que a Primeira Guerra foi fruto de um crescente nacionalismo e
imperialismo por parte dos países que ingressaram no conflito. Já na Rússia, contemporânea
à Guerra, observamos como se deu a queda do czar e a implantação de um sistema socialista.
Em seguida, no contexto Pós-Primeira Guerra, veremos a ascensão do Fascismo,
em especial no caso italiano. Situamos o fenômeno como resultado da derrota de países
como a Itália e Alemanha no conflito. Assim, vemos o crescimento vertiginoso da extrema
direita e de movimentos nacionalistas, que deram origem ao fascismo italiano e o nazismo
alemão. O caso alemão, conforme analisamos, também foi fruto de uma crise econômica,
que posteriormente gerou uma crise social, de perseguição aos judeus e posteriormente
levou ao holocausto. Desse modo, vimos como se deu a escalada de Hitler ao poder.
Inerente a isso, no nosso quarto tópico, observamos como a doutrina hitlerista de
“espaço vital”, dentre outros aspectos, foram o estopim para a Segunda Guerra Mundial.
Essa guerra teve como característica a guerra total, na qual forças civis e militares são
dispostas para o propósito de guerra. Por fim, no último tópico discutimos acerca da Guerra
Fria e seus desdobramentos que até hoje interferem na geopolítica do globo.
UNIDADE III A
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Crise do Capitalismo
e Nacionalismo 67
MATERIAL COMPLEMENTAR
LIVRO
Título: O Terceiro Reich no poder
Autor: Richard J. Evans.
Editora Planeta.
Sinopse: Como foi que os nazistas conquistaram o coração e a
mente dos cidadãos alemães, distorceram a ciência e a cultura
e colocaram o país no caminho de outra terrível guerra? Neste
segundo volume da trilogia que conta a história do Terceiro Reich,
o renomado historiador Richard J. Evans traz o relato definitivo do
desenvolvimento da ditadura de Hitler entre 1933 e 1939, e mostra
a impressionante nuvem de terror que se aproximou da Alemanha
depois de os nazistas tomarem o poder.
FILME/VÍDEO
Título: Adeus Lênin
Ano: 2003.
Sinopse: Esse filme retrata os momentos finais da Guerra Fria
na Alemanha. O desmantelamento da União Soviética, a queda
do muro de Berlim e a reintegração das Alemanhas Oriental e
Ocidental. O filme ganha pontos ao retratar esse período de tensão
de uma maneira mais leve e ao focar no cotidiano das pessoas
que viveram nesse período.
UNIDADE III A
Imperialismo
Crise do Capitalismo
e Nacionalismo 68
UNIDADE III
Da Guerra Fria à Queda
do Muro de Berlim
Professora Me. Maria Helena Azevedo Ferreira
Plano de Estudo:
● Capitalismo x socialismo: A Guerra fria e a ameaça nuclear;
● Os trintas gloriosos;
● A queda do Muro e além;
● O mundo pós 1990.
Objetivos da Aprendizagem:
● Conceituar e contextualizar acerca da Guerra Fria;
● Compreender os conceitos de capitalismo e socialismo;
● Entender como a Guerra Fria transformou o mundo.
69
INTRODUÇÃO
Havia algo que preocupava muito os EUA, e que os preocupou por muitos anos.
Foi o país de Cuba, que em sua época tinha um revolucionário que possuía muito carisma,
Fidel Castro. Ele lutou até chegar ao poder de Havana, derrubando a histórica dependência
de Cuba da economia americana.
Em parte para se opuser à hostilidade americana, e em parte por causa de suas
próprias afinidades ideológicas, Fidel Castro voltou-se para a União Soviética,
acolhendo o seu apoio diplomático e econômico. (MCMAHON, 2012, p. 104).
Um dos maiores marco histórico durante a Guerra Fria foi o Muro de Berlim,
sendo o mais importante de toda a história entre o capitalismo e o socialismo. O muro foi
construído em 13 de agosto de 1961, pela Alemanha Oriental (soviética) e derrubado em 9
de novembro de 1989, depois de 28 anos. Ele dividia a cidade de Berlim em duas, sendo a
parte Ocidental e a Oriental, fazendo com que as pessoas tivessem suas vidas totalmente
modificadas. Seu objetivo era impedir que as pessoas da parte capitalista (ocidental) se
mudassem para o lado comunista (oriental). Desse modo, com a proibição da passagem
de um lado para o outro, muitas famílias ficaram divididas. Ramirez (2021) diz que “em
um momento embaraçoso, o primeiro-ministro soviético Khrushchev ordenou que o infame
Muro de Berlim fosse construído entre Berlim Oriental e Ocidental”.
A Alemanha após o rendimento na segunda guerra mundial se tornou o maior
símbolo de polarização na Guerra Fria, isso quer dizer que as duas superpotências tinham
um objetivo em comum de dominá-la para mostrar como exemplo para o resto do mundo.
Como a derrota do nazismo foi feita com a união da URSS e os EUA, houve um entendimento
para dividir a Alemanha para as duas superpotências na época, mas o estopim para a
construção do muro pelo lado Oriental estava ligado ao Plano Marshall que consistia na
ajuda dos EUA para aqueles que se aliassem com eles.
Isolando o enclave ocidental nessa cidade dividida localizada 201
quilômetros dentro da Alemanha oriental ocupados pelos soviéticos, Stalin
visava a expor a vulnerabilidade de seus adversários, desarranjando com
isso a criação do Estado separado da Alemanha Ocidental que ele tanto
temia. (MCMAHON, 2012, p. 43).
Desse modo, nem o comunismo e nem o estado soviético eram uma ameaça para
o governo dos Estados Unidos. A maior ameaça que eles tinham era a Alemanha oriental,
para muitos historiadores marca o ano de 1989 como o fim da Guerra Fria, pois a grande
tensão que havia entre essas superpotências havia se quebrado.
A Alemanha ocidental, durante o governo do chanceler Helmut Kohl, para que
houvesse uma reunificação do país o mais rápido possível assim a Alemanha deixaria de
oriental ou ocidental e viraria apenas uma como é atualmente, mesmo com o muro derru-
bado demorou algum tempo para que a Alemanha se reunificasse devidos a problemas do
passado com as Guerras Mundiais que o país passou.
No livro Guerra Fria de McMahon (2012, p.189), o autor fala que o maior medo da
Alemanha reunificada era se tornar uma ameaça para segurança russa “O maior temor de
Gorbachev era uma Alemanha incontrolada e recém-habitada torna-se uma futura ameaça
para segurança russa que estava atrás da maneira de Stalin abordar o problema alemão e
pouco depois da Segunda Guerra mundial”.
Após uma conversa entre o chanceler da Alemanha ocidental (Helmut Kohl) e o
Soviético Mikhail Gorbachev, foi feito um acordo em que a União Soviética concordou
retirar as tropas da Alemanha depois de 45 anos de ocupação. Junho de 1990 foi realizada
a união monetária entre as duas Alemanhas e no dia 3 de outubro foi feito definidamente a
reunificação do país.
Após os anos 1990 o mundo não sentia mais tanto o impacto da segunda guerra
mundial. O fim da Guerra Fria estava próximo, ainda mais com a reunificação da Alemanha
depois da queda do muro de Berlim, a retirada de tropas soviéticas da Alemanha feita pelo
líder soviético Gorbachev e o uso de uma moeda para a Alemanha.
O colapso da própria União Soviética em 1991, produto de forças ativadas
pelas reformas de Gorbachev que ele se mostrou incapaz de controlar,
representa um marco histórico crucialmente importante por seus próprios
méritos. Na época em que a União Soviética desapareceu a própria Guerra
Fria já era história (MCMAHON, 2012, p.190).
Pouco tempo depois, a União Soviética viria a cair no dia 29 de agosto de 1991,
sendo assim o governo soviético teve seu fim e as políticas russas foram passadas para
Boris Iéltsin em 1992. Com isso, os Estados Unidos da América se tornaram a maior
superpotência mundial, tornando-se uma referência para vários países, influenciando em
até mesmo no que diz respeito à cultura do cinema, música e livros.
Muitos filmes foram feitos sobre o período da Guerra Fria, a maioria deles usando
o lado soviético como vilão de toda a história, alguns se tornando famosos como o clássico
Rocky IV em que o personagem principal é um americano e o vilão do filme é um lutador
russo da União Soviética.
Com os anos, após 1991, dava-se início a uma nova era, que viria a ser conhecida
por ter multipolaridade. Sendo assim, os governos não seriam reféns apenas dos EUA, mas
sim do próprio sistema que adotavam para governar, em sua maioria a democracia.
Com este ato o mundo viu que um novo mundo surgia e que o século XXI seria
marcado por novos medos e também novos avanços na economia e tecnologia. Fazendo
com que mais uma vez a História tivesse novos rumos.
REFLITA
Estamos no início de uma nova era, caracterizada por grande insegurança,
crise permanente e ausência de qualquer tipo de status quo [...] Devemos
compreender que nos encontramos numa daquelas crises da história mundial
que Jakob Burckhardt descreveu. Não é menos significativa que a de depois de
1945, embora as condições iniciais para superá-la pareçam melhores hoje. Não
há potências vitoriosas nem derrotadas hoje, nem mesmo na Europa Oriental.
(M. STÜRMER, in BERGEDORF, 1993, p. 59).
SAIBA MAIS
Caro (a) aluno (a), nesta unidade, vimos o quanto de impacto que o fim da Segunda
Guerra Mundial trouxe ao mundo e, também, os efeitos que a Guerra Fria trouxe, deixando
o mundo em estado de tensão por mais de 40 anos.
No primeiro tópico, tivemos a ideia de como foi o surgimento de cada superpotência,
logo após a Segunda Guerra Mundial e como elas tinham modos de operar diferentes,
fazendo uma corrida armamentista que ia de armas convencionais até armas nucleares. O
que colocava o mundo em perigo, pois havia a chance de uma guerra nuclear.
Conseguimos compreender o surgimento de um movimento econômico que ajudou
as superpotências a enriquecer durante o período da Guerra Fria e, o que foi os Trinta
Gloriosos Anos, como foi formado e o tempo de duração dele na Guerra Fria, concluindo,
assim que foi possível lucrar com vendas de armas.
No terceiro tópico estudamos o fenômeno mais importante da Guerra Fria, que foi
a construção do mudo de Berlim. Vimos como os lados defendiam seu território e o que o
muro representava para União Soviética, como as pessoas precisavam de liberdade e os
sacrifícios que eles faziam para ir da Alemanha oriental para ocidental ou vice-versa.
Por fim, no último tópico vimos como a União Soviética chegou ao seu fim e como
todo o contexto histórico fez com que a história do mundo chegasse ao que estamos
vivendo atualmente.
LIVRO
Título: Guerra Fria: A história da guerra épica entre Capitalismo x
Socialismo
Autor: Saul Ramirez.
Editora: Book Brothers.
Sinopse: O livro nos mostra de maneira simples e sucinta de
como foi à disputa entre as superpotências da época os Estados
Unidos (EUA) e a União Soviética (URSS), este período que ficou
conhecido como Guerra Fria onde nenhuma das superpotências
não entravam em conflitos, pois poderia ser o estopim para uma
nova guerra mundial.
FILME/VÍDEO
Título: Adeus, Lênin
Ano: 2003.
Sinopse: Em 1989, pouco antes da queda do muro de Berlim, a Sra.
Kerner (Katrin Sab) passa mal, entra em coma e fica desacordada
durante os dias que marcaram o triunfo do regime capitalista. Quando
ela desperta, em meados de 1990, sua cidade, Berlim Oriental,
está sensivelmente modificada. Seu filho Alexander (Daniel Brühl),
temendo que a excitação causada pelas drásticas mudanças possa
lhe prejudicar a saúde, decide esconder-lhe os acontecimentos.
Enquanto a Sra. Kerner permanece acamada, Alex não tem muitos
problemas, mas quando ela deseja assistir à televisão ele precisa
contar com a ajuda de um amigo diretor de vídeos.
Plano de Estudo:
● O que é neoliberalismo?
● A Inglaterra e a Dama de Ferro;
● Estados Unidos e o Neoliberalismo;
● Globalização no mundo contemporâneo.
Objetivos da Aprendizagem:
● Conceituar e contextualizar sobre neoliberalismo;
● Compreender sobre quem foi a dama de ferro e sua influência;
● Entender como a globalização está mudando o mundo.
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INTRODUÇÃO
Prezado (a) aluno (a), nesta unidade, vamos continuar com a história contemporânea
e encerrá-la. Nos tópicos a seguir vamos entender a ideia do neoliberalismo, o que
significa e o que ele influencia.
No primeiro tópico entenderemos a origem do Neoliberalismo e a diferença que ele
tem do liberalismo de Adam Smith, saberemos as principais diferenças entre eles.
Seguindo, no segundo tópico conheceremos Margaret Thatcher, a sua importância
para sociedade e história do mundo. Descobriremos o motivo dela ser conhecida como
Dama de Ferro e sua influência sobre o mundo.
Com isso, teremos uma noção de como os Estados Unidos do governo de Reagan
teve a influência de Margaret Thatcher e como ela ajudou a ter um controle sobre o
neoliberalismo, entendendo o motivo de também adotar o Neoliberalismo nos EUA.
E, por fim, teremos uma ideia de como a globalização teve impacto do neoliberalismo
e como as tecnologias de hoje em dia estão ajudando o mundo a ficar mais globalizado.
Para a doutrina liberal, se houver uma procura para o lucro o ser humano terá
motivação e interesse para buscar este lucro, sendo assim a pessoa não se sentirá limitada
pelo Estado e começará a buscar o lucro que ela precisa ou até mais do que ela necessita,
sendo ela responsável pelas suas ações. Esse sistema revelaria de modo espontâneo o
que a sociedade necessita.
Seu sistema de política ficou conhecido como “política thatcheriana”, que provocou
mudanças nas importantes instituições e na sociedade britânica. Ela fez o uso de uma ideia
do liberalismo que é a privatização de empresas que eram estatais. Reginaldo C. Moraes
(2001, p.71) cita que “essa privatização fundamental não foi motivada pela doutrina e sim
pela lógica dos acontecimentos. Esse era setor que necessitava urgentemente de capital”.
Margaret Thatcher teve pouca influência para a esquerda política, sendo até impopular
pelas pessoas que têm o ideal político da esquerda, muito disso aconteceu devido ao pouco
investimento de Thatcher em sociedade de classes baixas. O governo de Thatcher não era
popular entre a esquerda, isso porque tinha como base o “egoísmo social”.
Com a globalização, temos acesso a outras culturas em tempo real, o que torna
o conhecimento bastante acessível a quem tem acesso à internet. Entretanto, apesar de
todos os prós, existem também os contras. Como para alguns pensadores, que criticam o
estilo de vida ultra conectado, além de pensarem sobre como este acesso não é democrá-
tico, estando mais disponível para as classes sociais mais altas. Como podemos ver nas
ideias do pensador Zygmunt Bauman.
A informação agora flui independente dos seus portadores; a mudança e
a rearrumação dos corpos no espaço físico é menos que necessária para
reordenar significados e relações. Para algumas pessoas – para elite móvel,
a elite da mobilidade - isso significa, literalmente, a libertação ao” físico”, uma
nova imponderabilidade do poder. (BAUMAN 1999, p. 25).
REFLITA
Caro (a) aluno (a), nesta unidade, abordamos a história contemporânea, seguindo
de modo a compreendermos melhor, no primeiro tópico, o que é o neoliberalismo, suas
características e como ele influencia na política econômica dos países. Desse modo,
conseguimos ter uma noção se esse é benéfico para a economia e, também, para a população.
No segundo tópico, vimos sobre a vida e a importância de Margaret Thatcher, sobre
como ela teve influência na mídia e economia da Inglaterra e do mundo e, como ficou
conhecida como a Dama de Ferro.
Seguimos compreendendo melhor o neoliberalismo nos Estados Unidos, a forma
como Ronald Reagan adotou políticas econômicas neoliberais e, o que é o Consenso de
Washington, importante, inclusive, para a economia brasileira.
Por fim, compreendemos um pouco sobre a Globalização no mundo contemporâneo,
com o questionamento se esta é somente benéfica para a sociedade como um todo, ou se
seus benefícios são melhor vistos nas classes sociais mais altas.
LIVRO
Título: O lucro ou as pessoas?
Autor: Noam Chomsky
Editora: Bertrand Brasil
Sinopse: O livro de Chomsky virou destaque na década de 90 por
questionar sobre o Neoliberalismo e a ordem global, falando sobre
crises políticas e como alguns planos econômicos falham quando
é posto em prática.
FILME/VÍDEO
Título: A Dama de Ferro
Ano: 2012.
Sinopse: Antes de se posicionar e adquirir o status de verdadeira
dama de ferro na mais alta esfera do poder britânico, Margaret
Thatcher (Meryl Streep) teve que enfrentar vários preconceitos na
função de primeira-ministra do Reino Unido em um mundo até então
dominado por homens. Durante a recessão econômica causada
pela crise do petróleo no fim da década de 70, a líder política tomou
medidas impopulares, visando à recuperação do país. Seu grande
teste, entretanto, foi quando o Reino Unido entrou em conflito com
a Argentina na conhecida e polêmica Guerra das Malvinas.
BOAHEN, A. A. A África diante do desafio colonial. In: BOAHEN, A. A. (ed.). História Geral
da África, VII: África sob dominação colonial 1880-1935. 2 ed. rev. Brasília: UNESCO
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Rio de Janeiro: Editora Zahar, 1997.
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HOBSBAWM, E. A Era do Capital 1848-1875. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.
HOBSBAWM, E. A Era dos extremos 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras,
1995.
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HOBSBAWM, Eric J. Era dos extremos: o breve século XX: 1914-1991. trad. Marcos
Santarrita. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
MASON, C. Uma breve história da Ásia. Trad. Ceasar Souza. Petrópolis, RJ: Vozes, 2017.
MITCHELL, Greg. Os túneis: a história jamais contada das espetaculares fugas sob muro
de Berlim. Belo Horizonte: Vestigo, 2017.
MORAES, Reginaldo C. Neoliberalismo – de onde vem, para onde vai? São Paulo:
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PAXTON, Robert O. A anatomia do fascismo. trad. Patrícia Zimbres e Paula Zimbres. São
Paulo: Paz e Terra, 2007.
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Universidade de Brasília, 1998.
RAMIREZ, Saulo. Guerra Fria: A história da guerra épica entre Capitalismo x Socialismo.
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99
CONCLUSÃO GERAL
100
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